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Naturale outubro/novembro - 2015 2 Em agosto de 2010, foi instituída a Lei nº 12.305/2010, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto 7.404/2010, que estabelece diretrizes pa- ra a gestão integrada dos resíduos sóli- dos gerados nos municípios. Esta gestão engloba o planejamen- to e a coordenação de coleta, transpor- te, tratamento e destinação final ade- quada para os resíduos sólidos. Prevê a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumen- to da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou rea- proveitado) e a destinação ambiental- mente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilha- da dos geradores de resíduos: dos fa- bricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resí- duos e embalagens pós-consumo. Cria metas para a eliminação dos lixões e ins- titui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal, metropolitano e munici- pal; além de impor que os particulares elaborem Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. A questão socioeco- nômica também é contemplada com a inclusão de catadores de materiais reci- cláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quanto na Coleta Seletiva. O fechamento de todos os lixões do país estava previsto para agosto de 2014, mas até o momento, menos da metade dos 5.564 municípios cumprem esta determinação. A Lei prevê que, os materiais passíveis de reaproveitamento, reciclagem ou tratamento por tecnolo- gias economicamente viáveis (como re- síduos recicláveis ou orgânicos) não po- dem mais ser encaminhados para a dis- posição final. O município deve possuir um bom sistema de gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo coleta seleti- va e tratamento de resíduos orgânicos, de forma a enviar o mínimo possível de rejeitos para o aterro sanitário. Deve-se ressaltar que a disposição inadequada dos resíduos sólidos – se- ja na água ou no solo – constitui crime ambiental previsto pela Lei n° 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) desde 1998 e, os municípios têm obrigação constitucional de proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas incluindo a disposição em vazadouros a céu aberto, os lixões. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) incentivou a utilização de consór- cios públicos, como forma de viabilizar a gestão integrada de resíduos sólidos, principalmente para cidades de pequeno porte, já que o volume de resíduos pro- duzidos determina a viabilidade da coleta seletiva, da reciclagem, da construção de aterros sanitários e da operacionalização e manutenção do sistema de gestão dos resíduos sólidos que é caro para as ad- ministrações dos pequenos municípios. Apenas esclarecendo, o Artigo 241 da Constituição Federal rege que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de servi- ços públicos bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continui- dade dos serviços transferidos”. Para a execução deste artigo foi criada a Lei nº 11.107/05 que dispõe sobre as normas gerais de “contratação de consórcios pú- blicos para a realização de objetivos de interesse comum dos entes federados. As normas de contratação se aplicam neste caso pelo fato do consórcio públi- co constituir pessoa jurídica própria, sob a forma de associação de direito público ou privado”. Tendo em vista muitos municípios pequenos que não possuem área ou estrutura para implantação dos aterros sanitários, quer por questão econômica, quer por estarem em Área de Proteção Ambiental ou por serem produtores de água, o consórcio para implantação da PNRS veio viabilizar a execução da Lei. Em novembro de 2014, foi realiza- da uma reunião do MMA para discutir a posibilidade de parcerias de cooperação técnica na área ambiental entre o Brasil e a República da Coreia do Sul, quando ficou definindo um Acordo de Coopera- ção Técnica em Gestão de Resíduos Só- lidos. A Coreia custeará o projeto se- lecionado, a ser executado em 12 me- ses. O “Acordo de Implementação” definiu o escopo da cooperação Gestão de Resíduos Sólidos Acordo de Cooperação Técnica Bilateral Brasil – República da Coreia do Sul Por Elaine Pereira

Gestão de Resíduos Sólidos - Diagrarte...com a redução, reutilização, reciclagem e destinação de resíduos sólidos, de maneira ambientalmente adequada e economicamente viável

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Em agosto de 2010, foi instituída a Lei nº 12.305/2010, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pelo Decreto 7.404/2010, que estabelece diretrizes pa- ra a gestão integrada dos resíduos sóli-dos gerados nos municípios.

Esta gestão engloba o planejamen- to e a coordenação de coleta, transpor- te, tratamento e destinação final ade- quada para os resíduos sólidos. Prevê a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumen-to da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou rea- proveitado) e a destinação ambiental-mente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilha- da dos geradores de resíduos: dos fa-bricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resí-duos e embalagens pós-consumo. Cria metas para a eliminação dos lixões e ins-titui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal, metropolitano e munici-pal; além de impor que os particulares elaborem Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. A questão socioeco-nômica também é contemplada com a inclusão de catadores de materiais reci-cláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quanto na Coleta Seletiva.

O fechamento de todos os lixões do país estava previsto para agosto de 2014, mas até o momento, menos da metade dos 5.564 municípios cumprem esta determinação. A Lei prevê que, os materiais passíveis de reaproveitamento, reciclagem ou tratamento por tecnolo- gias economicamente viáveis (como re- síduos recicláveis ou orgânicos) não po- dem mais ser encaminhados para a dis-posição final. O município deve possuir um bom sistema de gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo coleta seleti-va e tratamento de resíduos orgânicos, de forma a enviar o mínimo possível de rejeitos para o aterro sanitário.

Deve-se ressaltar que a disposição inadequada dos resíduos sólidos – se-ja na água ou no solo – constitui crime ambiental previsto pela Lei n° 9.605 (Lei de Crimes Ambientais) desde 1998 e, os municípios têm obrigação constitucional de proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas incluindo a disposição em vazadouros a céu aberto, os lixões.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) incentivou a utilização de consór-cios públicos, como forma de viabilizar a gestão integrada de resíduos sólidos, principalmente para cidades de pequeno porte, já que o volume de resíduos pro-duzidos determina a viabilidade da coleta seletiva, da reciclagem, da construção de aterros sanitários e da operacionalização e manutenção do sistema de gestão dos resíduos sólidos que é caro para as ad-ministrações dos pequenos municípios.

Apenas esclarecendo, o Artigo 241

da Constituição Federal rege que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de servi-ços públicos bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continui-dade dos serviços transferidos”. Para a execução deste artigo foi criada a Lei nº 11.107/05 que dispõe sobre as normas gerais de “contratação de consórcios pú-blicos para a realização de objetivos de interesse comum dos entes federados. As normas de contratação se aplicam neste caso pelo fato do consórcio públi-co constituir pessoa jurídica própria, sob a forma de associação de direito público ou privado”.

Tendo em vista muitos municípios pequenos que não possuem área ou estrutura para implantação dos aterros sanitários, quer por questão econômica, quer por estarem em Área de Proteção Ambiental ou por serem produtores de água, o consórcio para implantação da PNRS veio viabilizar a execução da Lei.

Em novembro de 2014, foi realiza-da uma reunião do MMA para discutir a posibilidade de parcerias de cooperação técnica na área ambiental entre o Brasil e a República da Coreia do Sul, quando ficou definindo um Acordo de Coopera- ção Técnica em Gestão de Resíduos Só- lidos. A Coreia custeará o projeto se- lecionado, a ser executado em 12 me- ses. O “Acordo de Implementação” definiu o escopo da cooperação

Gestão de Resíduos SólidosAcordo de Cooperação Técnica Bilateral Brasil – República da Coreia do Sul

Por Elaine Pereira

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técnica, as intenções do projeto, sua vi- gência, cronograma, atividades a serem desenvolvidas, bem como as responsa-bilidades dos atores envolvidos.

O MMA abriu então edital de cha-mamento público para selecionar um consórcio público intermunicipal que atuasse na gestão de resíduos sólidos para sediar o projeto, valorizando as-sim as boas práticas que já estavam em andamento no país. Para participar do processo seletivo, os consórcios for-neceram informações de acordo com o Texto Orientativo para Manifestação de Interesse, demonstrando a qualificação para prover o suporte necessário para a execução dos trabalhos e das ações previstas no projeto. Para concorrer, a população dos municípios consorciados deveriam somar, no mínimo, 200 mil ha-bitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2014). Segundo Caroline Alvarenga, Analista de Infraestrutura do MMA, os critérios de pontuação levaram em conta:

ª Lei de aprovação do consórcio pú-blico no âmbito do poder legislativo de cada município.

ª Estatuto Social assinado pelos repre-sentantes dos municípios consorciados, abrangendo o tema manejo de resíduos sólidos no escopo de serviços prestados pela entidade.

ª Contrato de Rateio do exercício finan-ceiro de 2014.

ª Contrato de Programa.

ª Outras ações em tipologias de resí- duos além dos resíduos sólidos urbanos, como por exemplo, pneus e eletroele-trônicos.

Os documentos apresentados de-veriam estar de acordo com a Lei Nº 11.107, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, bem como seu decreto regulamentador.

Foram inscritos 25 consórcios e

após avaliação do MMA e MCidades, o vencedor, localizado no Estado de São Paulo, foi o CISBRA (Consórcio Intermunicipal de Saneamento Básico da Região do Circuito das Águas Paulista), que abrange 305 mil pessoas (IBGE-2014). Composto por 12 municípios: Amparo, Águas de Lindóia, Itapira, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Mo-rungaba, Pinhalzinho, Pedra Bela, Santo Antônio de Posse, Serra Negra, Socorro e Tuiuti, sendo seis deles estâncias hidrominerais e todos estão localizados em Área de Preservação Permanente.

Segundo Cássio Araújo, Analista Ambiental da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do MMA, “faz parte da cooperação valorizar as boas práticas brasileiras, criando condições para que o consórcio possa se consolidar, ampliar e qualificar a gestão dos resíduos sólidos em seu território, com o engajamento do po-der público e da sociedade. Esperamos que os estudos, diagnósticos e projetos realizados durante estes 12 meses pos-sam ser implantados e sirvam de modelo para todo o Brasil”.

O acordo de Cooperação Técnica Bilateral assinado pelo MMA e a Re-pública da Coreia do Sul, por meio do Instituto de Tecnologia e Indústria Am-biental da República (Keiti), é de US$ 600 mil, e segundo Cássio Araújo "não ha-verá transferência de valores, os custos serão pagos diretamente pela Repúbli-

Mapa das 12 cidades que compõem o CISBRA e localização de seus equipamentos

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ca da Coreia do Sul. Os recursos serão aplicados para desenvolver estudos, projetos e programas que contribuam com a redução, reutilização, reciclagem e destinação de resíduos sólidos, de maneira ambientalmente adequada e economicamente viável. O projeto inclui a participação de empresas coreanas pa- ra mostrar como a gestão de resíduos sólidos é executada na prática".

O Sr. Hilário Piffer Júnior, Superin-tendente do CISBRA, complementa que “após este período, poderemos ter o pro-jeto total do CISBRA implantado nas 12 cidades e a construção do ECOPARQUE na cidade de Amparo/SP, que receberá todo tipo de tecnologia para beneficia-mento de resíduos gerados nas cidades. Esta nova etapa será o início do sonho de todos nós do CISBRA e por que não dizer do Brasil, afinal teremos 12 meses de estudos para elaborarmos projetos no que há de melhor para beneficiamento de resíduos sólidos com apoio de quem já realiza 90% de reciclagem de resíduos. Teremos a partir deste acordo um avanço no conceito de reciclagem, aproveita-

mento energético, educação ambiental, para darmos um salto em termos de pre-servação. Estamos construindo nossa sede própria no município de Amparo, que contará com a área administrativa e dois laboratórios para análise de água e de efluentes das cidades, recursos estes provenientes do Governo Fede-ral, através de convênio firmado com a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), ainda com o mesmo órgão, firmamos um convênio para obtermos uma unidade móvel de saneamento UMCQA (Unidade Móvel de Controle e Qualidade da Água) que contará com veículo equipado com equipamentos para controle de poluição e controle da qualidade da água que fará análises periódicas em todas as cidades, dando maior segurança aos moradores e turistas que visitam nossas cidades. Estaremos nos adaptando a uma nova realidade ao longo deste projeto e serão, sem dúvida, exemplos de boas práticas ambientais para todo o país. O Presiden-te do CISBRA é o atual prefeito da cidade de Amparo, Luiz Oscar Vitale Jacob, in-centivador e apoiador deste projeto.”

O CISBRA foi criado em 2011, ela-borou o Plano “Cidades Limpas” com a participação de integrantes de cada muni- cípio, que dá diretrizes às cidades consor- ciadas de como executar a gestão dos resí-duos sólidos. Segundo o Superintendente, Sr. Hilário Piffer Júnior, o consórcio realiza também:

ª palestras sobre coleta seletiva nas es-colas e entidades de classes e clubes de serviços;

ª cursos de compostagem residencial; ª capacitação técnica de servidores; ª coleta de embalagens de agrotóxicos; ª coleta de resíduos de eletroeletrônicos; ª coleta de pneus através de convênio

com a Reciclanip;

Conhecendo o CISBRA

ª coleta seletiva instituída em 4 cida-des: Itapira, Santo Antônio de Posse, Morungaba e Socorro;

ª beneficiamento de resíduos de cons-trução civil (RCC), em projeto, para as cidades aproveitarem tudo aquilo que geram na própria cidade;

ª coleta de resíduos de serviço de saú-de (RSS) realizado por uma só empresa, fazendo o descarte e o tratamento cor-reto destes resíduos;

ª aterro sanitário localizado em Pau- línia/SP e gerenciado pela ESTRE Am- biental que recebe os resíduos de nove municípios, com exceção de Itapira, Pe-dra Bela e Socorro, que possuem locais próprios licenciados.

Para o Sr. Felipe Feliciani, Presi-dente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Amparo, “o CISBRA ter si- do escolhido como o consórcio para o desenvolvimento deste programa de cooperação, veio coroar as atividades que o consórcio já desenvolve com o Plano Cidades Limpas e implementar os trabalhos para preservação e para a edu-cação ambiental. Este é o futuro para gestão de cidades pequenas”.

Desejamos sucesso ao CISBRA e ao MMA nesta empreitada junto à Repúbli-ca da Coreia do Sul, mas temos que ter presente que um projeto deste porte só poderá dar certo se toda a população estiver engajada, consciente e atuante, pois estamos falando do bem-estar do local onde vivemos, da preservação do patrimônio natural, da preservação e do uso correto da água e do solo, do enca-minhamento correto de todos os tipos de resíduos que geramos. Precisamos tomar consciência que atitudes básicas como guardar o papel de bala para jogar no lixo correto e não na rua é importante, que reciclar o que utilizamos de forma corre-ta é imprescindível, e termos a liberdade de criar formas positivas de reaproveita-mento. Não vivemos apenas dentro de nossas casas, a qual zelamos, vivemos dentro do planeta Terra e do ponto de vista planetário não existe fora, tudo es-tá dentro dele e terá que encontrar um caminho menos danoso ao próprio pla-neta. Então cuidemos para que dentro de nossa casa maior – o planeta – tudo seja tão bem conduzido como dentro de nossas residências. Nossa passagem é curta, a vida segue por gerações e o planeta tem buscado harmonizar os de-sequilíbrios causados por nós, caso não arregacemos as mangas e coloquemos mãos à obra com nossas atitudes, as próximas gerações sofrerão com nos- sas escolhas. Pense nisso! Colabore! Fa-ça sua parte!