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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
ISBN - 978-65-86753-02-8
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EIXO TEMÁTICO: ( ) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos ( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação ( ) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis ( ) Cidade, Arquitetura e Sustentabilidade ( ) Educação Ambiental (X ) Gestão dos Resíduos Sólidos ( ) Gestão e Preservação do Patrimônio Arquitetônico, Cultural e Paisagístico ( ) Novas Tecnologias Sustentáveis ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente
Gestão de resíduos sólidos urbanos no município de Campinas/SP: Um breve estudo da organização das operações
Urban solid waste management in the city of Campinas / SP:
A brief study of the organization of operations
Gestión de residuos sólidos urbanos en la ciudad de Campinas / SP: un breve estudio de la organización de operaciones
Sabrina Santana Rodrigues Vieira Mestre em Sustentabilidade PUC CAMPINAS/SP
Celeste Aída Sirotheau Corrêa Jannuzzi
Professora Doutora em Ciências da Comunicação, USP, Brasil Professora e Pesquisadora do Programa Stricto Sensu em Sustentabilidade PUC CAMPINAS/SP
Cibele Roberta Sugahara
Professora Doutora em Ciência da Informação, USP, Brasil (Calibre 9) Professora e Pesquisadora do Programa Stricto Sensu em Sustentabilidade PUC CAMPINAS/SP
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RESUMO O comportamento de consumo da sociedade associada ao crescimento populacional e a sua concentração nas áreas urbanas resultam na geração exponencial de resíduos sólidos nos centros urbanos. A Administração Pública, em especial no âmbito municipal, deve equacionar políticas públicas para a gestão dos resíduos sólidos urbanos. A este propósito, a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina a obrigatoriedade de os municípios apresentarem Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. No entanto, observa-se que a complexidade do processo tem dificultado os municípios de cumprirem as exigências. Assim, neste contexto, a presente pesquisa tem por objetivo identificar características da estrutura do processo de gestão de resíduos sólidos do município de Campinas/SP, no intuito de assinalar aspectos importantes da sua organização, no cumprimento das exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Por este estudo se propor a realizar, em profundidade, a investigação de um fenômeno contemporâneo em seu contexto, opta-se como método o estudo de caso de um município cuja experiência na gestão de resíduos sólidos e o seu atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos justificam a aplicação desta pesquisa. A partir da estrutura e organização das operações, conclui-se que a gestão integrada adotada pela administração municipal de Campinas/SP caracteriza-se como um serviço bem sistematizado, no que tange à disposição e destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbano. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sustentabilidade. ABSTRACT The consumption behavior of society associated with population growth and its concentration in urban areas results in the exponential generation of solid waste in urban centers. The Public Administration, especially at the municipal level, is supposed to ponder upon public policies for the management of urban solid waste. In this regard, the National Solid Waste Policy determines the obligation for municipalities to present Municipal Plans for Integrated Solid Waste Management. However, it is observed that the complexity of the process has made it difficult for municipalities to comply with the requirements. Thus, in this context, the present research aims to identify characteristics of the structure of the solid waste management process in the city of Campinas / SP, in order to highlight important aspects of its organization, in complying with the requirements of the National Solid Waste Policy. As this study is proposed to carry out an in-depth investigation of a contemporary phenomenon in its context, the method chosen is the case study of a municipality whose experience in solid waste management and its compliance with the National Solid Waste Policy justify the application of this research. From the structure and organization of operations, this study concludes that the integrated management adopted by the municipal administration of Campinas / SP is characterized as well systematized service, with regard to the disposal and final destination of urban solid waste.
Keywords: Urban Solid Waste. National Solid Waste Policy. Sustainability.
RESUMEN
El comportamiento de consumo de la sociedad asociado con el crecimiento de la población y su concentración en áreas
urbanas resulta en la generación exponencial de desechos sólidos en los centros urbanos. La Administración Pública,
especialmente por parte de lo municipio, debería considerar políticas públicas para el manejo de los residuos sólidos
urbanos. En este sentido, la Política Nacional de Residuos Sólidos determina la obligación de los municipios de presen-
tar Planes Municipales para la Gestión Integrada de Residuos Sólidos. Sin embargo, parece que la complejidad del
proceso ha dificultado que los municipios cumplan con los requisitos. En este sentido, la presente investigación tiene
como objetivo identificar las características de la estructura del proceso de gestión de residuos sólidos en la ciudad de
Campinas / SP, a fin de resaltar aspectos importantes de su organización, en cumplimiento de los requisitos de la
Política Nacional de Residuos Sólidos. Es una investigación en profundidad de un fenómeno contemporáneo en su
contexto, cuyo método elegido es el estudio de caso de un municipio que tiene experiencia en el manejo de residuos
sólidos. Pero también, el cumplimiento con la Política Nacional de Residuos Sólidos justifica a importancia de esta
investigación. A partir de la estructura y organización de las operaciones, se concluye que es muy notable en la gestión
integrada adoptada por la administración municipal de Campinas / SP el servicio sistematizado, con respecto a la
disposición y destino final de los residuos sólidos urbanos.
Palabras clave: Residuos sólidos urbanos. Política nacional de residuos sólidos. Sostenibilidad.
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1 INTRODUÇÃO
Com o adensamento urbano e com o comportamento de consumo da sociedade surgem
diversos problemas que influenciam na qualidade de vida nas cidades, dentre eles a geração de
resíduos sólidos urbanos. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são provenientes das atividades
domésticas e de limpeza pública e sua gestão e gerenciamento são de responsabilidade do
Poder Público. A Administração Pública tem o dever de gerir, zelar e supervisionar o interesse
público, executado por meio da prestação de serviços públicos, organização interna, ou pela
intervenção no campo privado, como às questões relacionadas a resíduos sólidos (CARVALHO
FILHO, 2014).
No Brasil, pode-se dizer que a gestão de resíduos sólidos está respaldada por um arcabouço
jurídico capaz de estimular e amparar ações dos atores sociais que objetivem a sustentabilidade.
Conforme preconiza o artigo 225 da Constituição Federal Brasileira (CFB), o Poder Público e a
coletividade são responsáveis pela garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado e
pela preservação para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).
A CFB coloca a pauta ambiental como responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, com repartição de competências administrativas e legislativas entre
os entes federativos conforme prescreve o artigo 23, inciso VI, o artigo 24 incisos VI, VII e VIII e
o artigo 30 e incisos (BRASIL, 1988). O artigo 30 da CFB indica que compete aos municípios
organizar e prestar serviços públicos de interesse local, dentre os quais se enquadra o de coleta
e destinação adequada dos resíduos gerados, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão (BRASIL, 1988).
Para o exercício de suas atribuições constitucionais, os municípios se valem de suas
competências para editar e executar política públicas conforme os interesses locais, como, por
exemplo, os de gestão de resíduos sólidos. As políticas públicas, entre outras definições, são
ferramentas que o gestor público, nas suas esferas, federal, estadual ou municipal, tem ao seu
dispor para a aplicabilidade de ações de governo que consideram prioritárias (BUCCI, 1997).
O Poder Público pode atuar por meio de políticas públicas que se muitas das vezes se traduz em
um planejamento que produz resultados ou mudanças no mundo real a partir de um processo
de elaboração – o ciclo das políticas públicas (SOUZA, 2006). O sucesso da política pública está
relacionado com a qualidade do processo administrativo que precede a sua realização e que a
implementa (BUCCI, 1997). Para que uma política pública tenha sucesso ou ao menos um
resultado satisfatório, seus executores devem seguir um caminho caracterizado por algumas
etapas essenciais, que podem ser: construção da agenda, formulação, implementação e
avaliação (VIANNA, 1996).
O conceito de políticas pública é amplo e transcende os instrumentos normativos de um plano,
apresentando-se como programas de ações que se exprime por meio de normas infralegais,
como decretos, portarias, resoluções (BUCCI, 1997) ou leis, como a Lei nº 11.445/2007 que
institui a Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB) regulamentada pelo Decreto nº
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7217/2010 e a Lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
regulamentada pelo Decreto nº 7404/2010 – no propósito de estabelecer o correto manejo do
resíduos sólidos e diretrizes sobre o papel da administração pública com participação da
sociedade e do setor privado em relação a sustentabilidade.
A PNRS dispõe de instrumentos que podem atrelar a gestão de resíduos sólidos aos preceitos
de sustentabilidade em todas as esferas governamentais por meio de diretrizes, estratégias e
metas relacionadas ao gerenciamento integrado dos resíduos sólidos.
De acordo com o artigo 18 da Lei nº 12.305/2010, o plano municipal se apresenta como um
instrumento importante para a gestão de resíduos sólidos urbanos, já que a não elaboração do
plano pelo município impede o acesso aos recursos federais destinados a esse fim. Entretanto,
atender essa exigência não se configura como algo simples de ser realizado. Esta complexidade
provavelmente tem dificultado a adesão ao Plano por muitos município. A partir dessa
afirmação, apresenta-se a seguinte questão: quais as características da gestão de resíduos
sólidos urbano do município de Campinas/SP, tendo em vista a regras estabelecidas pela PNRS?
Assim, diante dessa questão, este trabalho tem por objetivo identificar características da estrutura do processo de gestão de resíduos sólidos do município de Campinas/SP, no intuito de assinalar aspectos importantes da sua organização, no cumprimento das exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Embora o tema sobre gestão de resíduos sólidos seja bastante explorado na literatura em geral,
observa-se que ainda assim existem questões que a carecem de maiores estudos e discussões.
É neste contexto que se considera que a trajetória percorrida pelo município de Campinas/SP,
nos seus desafios e decisões, pode trazer contribuições significativas para esse debate. A partir
dessa perspectiva é que se opta em desenvolver a presente pesquisa como um estudo de caso
exploratório, com abordagem qualitativa, construído a partir de um levantamento documental,
cuja estrutura é fundamentada por material já elaborado, mas que ainda não passaram por um
tratamento analítico, tais como documentos oficiais, jornais, sites etc. (Gil, 2008). A opção pelo
estudo de caso como método de pesquisa se dá pelo fato deste permitir o mapeamento das
razões e da forma como um dado fenômeno social acontece, favorecendo um conhecimento
mais aprofundado deste (YIN, 2015).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Geração de resíduos sólidos urbanos no município de Campinas/SP
De acordo com os dados do Censo 2010, último levantamento do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a população total do município era de 1.080.113 habitantes e a
população urbana de 1.061.540 habitantes, delineando um cenário o qual aproximadamente
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98% desta população vive na área urbana (CAMPINAS-PMGIRS, 2012). Atualmente, o município
de Campinas/SP possui uma população estimada de 1.194.094 (IBGE, 2018).
Ressalta-se que a cidade é considerada um centro econômico, industrial, científico e tecnológico
do Estado de São Paulo (CAMPINAS-PMGIRS, 2012). De acordo com o panorama dos municípios
apresentado no site do IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) de Campinas é o maior da Região
Metropolitana de Campinas/SP, o terceiro maior do Estado de São Paulo e o 11º maior no país.
No ano de 2016, o município possuía um PIB a preços corrente de R$ 58.523.732,73 (x1000) e
um PIB per capita de R$ 49.876,62. O município também apresenta Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) de 0.805 (IBGE, 2016).
Tendo em vista a população e as características socioeconômicas culturais de Campinas/SP, o
município apresenta um volume heterogêneo de resíduos sólidos, isto é, de origem variada e de
atividades diversas do setor produtivo e de consumo. Segundo o Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), produz-se diariamente 4.410 toneladas de resíduos
sólidos em diversificadas fontes (vide Figura 1), podendo destacar as seguintes classes de
resíduos gerados pelo município: Resíduos Domiciliares; Resíduos Comerciais; Resíduos Industriais; Resíduos de Serviços de Saúde; Resíduos de Posto Combustível; Resíduos da Construção Civil (RCC); Resíduos de Lodo de Estação de Tratamento de Água (ETA) e Estação de Tratamento de Esgoto (ETE); Resíduos de Limpeza Urbana; Resíduos tecnológicos; Resíduos Verdes; Resíduos de Aeroportos; e Resíduos Agrícolas (CAMPINAS-PMGIRS, 2012).
A Figura 1 apresenta dados sobre a fração de cada tipo dos resíduos sólidos gerados no
município de Campinas/SP, independente da fonte e da responsabilidade de gestão e
gerenciamento.
Figura 1: Quantidade dos resíduos sólidos gerados no Município de Campinas/SP
Fonte: CAMPINAS-PMGIRS, 2012
Tendo em vista a gestão municipal de resíduos sólidos urbanos, nota-se que, a Prefeitura coleta
aproximadamente 1.350 toneladas por dia de resíduos sólidos urbanos (vide Figura 2), sendo
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1.000 toneladas provenientes de resíduos domiciliar, isto é, resíduos domésticos e comerciais
dos pequenos geradores – considerado até 120 litros por dia (CAMPINAS-PMGIRS, 2012).
Figura 2: Total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no município de Campinas/SP
Fonte: CAMPINAS, 2018c.
Assim, com base na população estimada no município e a média de resíduos sólidos urbanos,
verifica-se que o volume per capita de resíduos resulta em uma média de aproximadamente 1,2
kg diários.
Insta salientar, conforme estudo apresentado no plano municipal, a população cresce em taxa
média de 1,2% ao ano, enquanto a quantidade de resíduos domiciliares cresce numa média de
3,3% ao ano (CAMPINAS-PMGIRS, 2012). A Figura 3 estabelece a relação da taxa de crescimento
média dos resíduos sólidos por ano em estudo realizado até 2010 (CAMPINAS-PMGIRS, 2012).
Figura 3: Série histórica de resíduos sólidos domiciliares
Fonte: CAMPINAS-PMGIRS, 2012
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Percebe-se que a geração dos resíduos sólidos se dá em taxas maiores que o aumento da
população, o que está intimamente condicionado ao aumento de consumo da população do
município (CAMPINAS-PMGIRS, 2012). Por isso, um dos grandes desafios enfrentados por
grande parte dos municípios brasileiros, consiste na disposição dos resíduos gerados em
quantidades exponenciais a partir das atividades humanas de forma que cause o mínimo
impacto negativo ao meio ambiente e a saúde pública (MUCELIN; BELLINI, 2008).
Na administração atual do município, a gestão dos resíduos sólidos urbanos é de
responsabilidade do Departamento de Limpeza Urbana (DLU), departamento ligado a Secretaria
de Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de Campinas/SP. O departamento público é
setorizado nas seguintes áreas: Coordenadoria Setorial de Administração
(COAD) Coordenadoria Setorial de Limpeza Urbana (COLUR) Coordenadoria Setorial de Coleta
Seletiva (COSEL) Coordenadoria Setorial de Tratamento de Resíduos (COTRARES) (CAMPINAS-
DLU, 2019). Devido a permissão legal em se firmar consórcios de prestação de serviços,
atualmente a execução dos serviços pertinentes aos resíduos sólidos urbanos no município é
realizada pelo Consórcio Tecam Tecnologia Ambiental por meio do contrato de prestação de
serviço nº 325/06 (CAMPINAS-PMGIRS, 2012).
3.2 Gestão de resíduos sólidos no município de Campinas/SP
A coleta convencional dos resíduos sólidos domiciliares abrange 100% da área urbana do
município e a área rural possui uma coleta em cerca de 50% em sua totalidade, que atualmente
são destinados ao Aterro Sanitário Estre em Paulínia/SP. Enquanto a coleta seletiva porta a porta
alcança 75% da área urbana, com vista a ampliação gradativa até atingir 100% da malha urbana.
Além disso, existe os pontos de entrega voluntária e a coleta regular em escolas, prédios públi-
cos municipais e em estabelecimentos considerados grandes geradores.
Insta salientar que, todo o material coletado pelo serviço de coleta seletiva é encaminhado para
cooperativas de materiais recicláveis, que ficam responsáveis pela separação do material, de
acordo com a composição e pela venda para diversas empresas que reutilizam esses materiais.
O município de Campinas/SP tem parcerias com duas cooperativas que prestam o serviço de
coleta com caminhões próprios e a triagem dos materiais recicláveis, a saber: a “Antônio da
Costa Santo” da rede Reciclamp e a “Nossa Senhora Aparecida” com o projeto Reciclar.
Nesse sentido, é importante ressaltar a composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos
coletados no município, haja vista a potencial reciclabilidade dos materiais recicláveis e a
potencial reciclabilidade da compostagem da matéria orgânica. A Figura 4 traz a composição
física dos resíduos sólidos urbanos numa perspectiva de porcentagem dos materiais recicláveis,
matérias descartáveis e matéria orgânica passível de compostagem.
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Figura 4: Composição física dos resíduos sólidos urbanos de Campinas/SP – 1.350 t/d
Fonte: Campinas, 2018c
O estudo demonstra que o município produz aproximadamente 25% de materiais
potencialmente recicláveis, isto é, ao menos 250 toneladas ao dia, considerando 1000 toneladas
diárias de resíduos domiciliares. Contudo, de acordo com o site da Prefeitura, são coletadas
apenas 20 toneladas diárias no sistema de coleta seletiva e destinadas às cooperativas,
quantidade muito aquém do potencialmente reciclável (CAMPINAS, 2018b). Verifica-se também
que, a média de matéria orgânica é quase 40% e tem potencialidade para compostagem
biológica, porém ainda, é disposta em aterro sanitário.
O município de Campinas/SP apresenta um volume heterogêneo de resíduos sólidos, com
potencialidade de reciclagem e compostagem. Assim, para se mostrar um trabalho mais
didático, faz-se necessária a construção de um quadro (vide Quadro 1) a partir do conteúdo do
PMGIRS. Apresenta-se, por fim, uma síntese das características de gerenciamento dos resíduos
sólidos produzidos no município de Campinas/SP, independente da responsabilidade.
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Quadro 1 – Estrutra e organização do processo de gestão dos resíduos sólidos
no município de Campinas/SP
Resíduos Sólidos Caracterização Tratamento/Destinação Responsabilidade
Coleta
convencional de
resíduos sólidos
domiciliares e
comerciais
Resíduos sólidos proveniente
das residências e comércios
que geram até 120 litros por
dia
Estação de Transferência e
Transbordo no Aterro
Sanitário Delta A, e
posteriormente ao Aterro
Estre em Paulínia/SP
Prefeitura por meio do
DLU e do Consórcio
TECAM.
Coleta seletiva
porta a porta Materiais recicláveis
provenientes das residências
e dos comércios
Cooperativas de
reciclagem cadastradas no
município
Prefeitura em parceria
com cooperativas e
participação da
população na separação
dos materiais
Locais de
Entrega
Voluntária (LEV)
Pontos verdes e
Ecopontos
Materiais recicláveis, de
construção civil, resíduos
especiais, massa verde
proveniente de podas e
objetos inservíveis
Os resíduos são tratados e
destinados conforme sua
especificidade
Prefeitura por meio do
DLU
Resíduos
Volumosos (Cata
Treco)
Grandes objetos inservíveis,
como restos de móveis,
colchões, apresentados pelos
domicílios e/ou existentes
nas vias e logradouros
públicos
Os resíduos coletados são
dispostos no Aterro
Sanitário Delta A
Prefeitura por meio do
DLU
Óleos vegetais
comestíveis Óleos mistos gerados em
cozinhas domiciliares e
industriais por coleta regular
em domicílio ou entrega
voluntária nos ecopontos
O óleo coletado é doado à
Cooperativa Remodela,
que realiza a
transformação em
biodiesel, para posterior
comercialização como
energia renovável
Prefeitura em parceria
com cooperativas
Resíduos de
Limpeza Urbana Varrição manual, limpeza de
boca de lobo e limpeza e
lavagem de feiras livres
Os resíduos são destinados
ao Aterro Sanitário Delta A
para a usina de
compostagem
Prefeitura por meio do
DLU
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Resíduos Verdes Aparas de gramados, galhos
e troncos, provenientes dos
serviços de jardinagem/poda
e entrega nos LEVs
Os resíduos são destinados
ao Aterro Sanitário Delta A
e neste local é procedida a
trituração dos galhos e
troncos maiores para
posterior compostagem
Prefeitura por meio do
Departamento de Parque
Jardins (DPJ)
Serviços Públicos de Saneamento
Básico
Lodos provenientes das ETAs e ETEs do município
Os resíduos são destinados ao Aterro Sanitário Estre
Prefeitura por meio da SANASA.
Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSS)
Materiais provenientes de atividades de
estabelecimentos prestadores de serviços de
saúde e congêneres
Os resíduos provenientes dos estabelecimentos de saúde são tratados por
micro-ondas instalados no Aterro Sanitário Delta A
Prefeitura, e quando provenientes de
estabelecimentos públicos também é
responsável pela coleta e transporte
Resíduos da Construção Civil
(RCC)
Pontos de transbordo públicos e particulares, das
caçambas instaladas nos LEVs e das entregas diretas
por caçambeiros
Os resíduos são destinados a URM implantada na envoltória I do Aterro
Sanitário Delta A
Desde 2003 a Prefeitura passou a receber, sem
ônus ao gerador, os RCCs gerados no município
Resíduos Tecnológicos
Pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, materiais
eletroeletrônicos
A coleta dos resíduos tecnológicos no município se dá nos ecopontos e no ponto de coleta no DLU
Prefeitura não tem a responsabilidade no
tratamento dos resíduos tecnológicos
Pneus Inservíveis Pneus coletados através de entrega voluntária nos ecopontos e pontos de
coleta no DLU
Os resíduos coletados são destinados à Associação
Reciclanip, para posterior reciclagem
Prefeitura não tem a responsabilidade no
tratamento dos resíduos pneumáticos
Resíduos de Postos de
Combustíveis, Aeroportos, Industriais e
Agrícolas
Rejeitos e embalagens provenientes dessas
atividades
Coleta, armazenamento, transporte, tratamento e a
destinação final destes resíduos cabe aos seus
geradores
A fiscalização destes serviços compete ao
órgão público Estadual
Fonte: Elaboração própria a partir das informações do PMGIRS (CAMPINAS, 2012)
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No ano de 2018, voltou-se à discussão do PMGIRS em audiência pública realizada em 27 de
agosto, a qual se apresentou o novo modelo de gestão dos resíduos sólidos no município de
Campinas/SP. O próximo passo da Prefeitura é realizar uma licitação para a primeira PPP no
município, no qual o parceiro privado será o responsável pelos investimentos na infraestrutura
e na tecnologia para coleta, separação e reaproveitamento do lixo (CAMPINAS, 2018b).
Nesse projeto, se prevê a construção de três usinas para separar, tratar e reaproveitar os
resíduos. Do total de lixo da cidade, 40% são materiais orgânicos, que passarão, em sua
totalidade, pela reciclagem biológica e compostagem. Outros 20% serão reciclados na forma de
CDR (combustível derivados dos resíduos), na modalidade reciclagem energética. Os 30%
restantes serão encaminhados para reciclagem mecânica com seletiva, restando apenas 10%
para rejeito em aterro (CAMPINAS, 2018b).
O investimento, a ser feito pelo parceiro privado, de acordo com o projeto da PPP do lixo
apresentada em audiência pública e disponibilizado no site da Prefeitura, está sendo estimado
entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões. Esse contrato de PPP deve vigorar por um período de
até 30 anos com um novo modelo de gestão que trará ganhos ambientais e proporcionará maior
capacidade na gestão dos resíduos sólidos no município. O documento salientar que, não haverá
custo adicional para a população, isto é, não haverá diferença na cobrança no valor da taxa do
lixo, atualmente cobrada junto com o IPTU (CAMPINAS, 2018b).
A usina de compostagem, de acordo com a Prefeitura Municipal de Campinas, tem o início de
suas operações previsto para o 1º. Semestre de 2020. A usina de compostagem é constituída
por meio de uma aliança entre Prefeitura de Campinas, Centrais de Abastecimento de Campinas
S.A – Ceasa Campinas, Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento - Sanasa Campinas
e Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e se configura em sua estrutura e operações da
seguinte forma:
(a) Prefeitura de Campinas - assume o fornecimento do lixo verde (galhos, troncos etc.);
(b) Ceasa Campinas - responsável pelo fornecimento de frutas e legumes descartados, além da
comercialização junto aos agricultores do fertilizante produzido na usina;
(c) Sanasa Campinas - responsável pelo fornecimento do lodo resultante do tratamento do
esgoto. Responsável também pela compra dos equipamentos e cessão deles para a
Prefeitura; e
(d) IAC – responsável pelo teste e qualificação do produto final da usina – o adubo orgânico. A
instituição cedeu a área para a implantação da usina.
A proposta visa em encaminhar para compostagem cerca de ¼ de todo o lixo que atualmente
vai para os aterros sanitários.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A destinação e disposição final dos resíduos sólidos urbanos nos aterros sanitários se
apresentam como uma realidade preocupante ao meio ambiente. O acondicionamento e
descarte incorreto de materiais potencialmente recicláveis e o alto teor de matéria orgânica,
que é altamente contaminante, são elementos pontencialiadores de danos ambientais.
Os resíduos sólidos urbanos devem se tornar, para os municípios e para a Administração Pública,
uma preocupação constante, que culmine em políticas públicas efetivas para a busca de
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soluções desses problemas. É sob esse enfoque que a gestão integrada dos resíduos sólidos,
apregoada na Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, como premissa para cidades
sustentáveis, mostra-se como ferramenta essencial para a promoção da sustentabilidade
urbana.
O estudo sobre os resíduos sólidos no município de Campinas demonstrou pela caracterização
do tipo de resíduos, pela definição do tratamento e destinação e pela atribuição da
responsabilidade, a configuração dada em sua estrutura e organização das operações. Sob esse
prisma, nota-se que a gestão integrada adotada pela administração municipal caracteriza-se
como um serviço controlado, no que tange à disposição e destinação final desses resíduos.
Um outro aspecto importante na gestão de resíduos sólidos urbanos no município de Campinas
é o modelo de gestão por meio de Parceria-Público-Privada (PPP). Esta revela-se como um
caminho importante para municípios que visam institucionalizar uma gestão de resíduos sólidos
capaz de promover os vieses da sustentabilidade apregoada na PNRS.
AGRADECIMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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