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45º Encontro Anual da ANPOCS GT 30- Pensamento Social no Brasil Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão, família e modernidade na sociologia global. Pedro de Castro Picelli - Departamento de Sociologia/ Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

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Page 1: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

45º Encontro Anual da ANPOCS

GT 30- Pensamento Social no Brasil

Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão, família e modernidade na

sociologia global.

Pedro de Castro Picelli - Departamento de Sociologia/ Programa de Pós

Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Page 2: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

1. Resumo

O que pode haver de novo em um debate tão revisitado quanto o do escravismo

na obra de Gilberto Freyre? Propomos retornar à temática da escravidão em Freyre

mas, desta vez, agarrando-a enquanto categoria analítica, mobilizada

sociologicamente de maneira mais ampla. Partiremos, então, do desenvolvimento

teórico-metodológico da noção de escravidão no capítulo “O escravo negro e a vida

sexual e de família do brasileiro”, de Casa Grande & Senzala. Nos interessa pensar

maneiras pelas quais o sociólogo pernambucano reorganizou teoricamente horizontes

políticos da modernidade na periferia do capitalismo através de seus argumentos. E,

sobretudo, como estes produziram um terreno fértil para a imaginação de um Brasil

patriarcal mais que moderno de nascença. Para isso, mostraremos as referências de

nosso autor a um debate pouquíssimo mencionado nas críticas à sua obra: o do

escravismo nos Estados Unidos e os encaminhamentos teóricos desta questão no pós-

abolição. Este interesse parte da necessidade de continuar situando autores de nosso

pensamento social à sociologia global, tendo no horizonte as ideias como forças

sociais.

2. A escravidão patriarcal em Casa-Grande & Senzala: críticas, desdobramentos

e uma outra proposta.

Se olharmos para a constelação de ideias a respeito de nossa formação nacional,

uma das mais destacadas será a da escravidão benevolente. Ao consolidar-se,

organizou simbolicamente noções de um regime de sujeição menos intransponível e

mais plástico que teria permitido à sociedade patriarcal organizar-se equilibrando

antagonismos; afinando os contrários em compasso à brutalidade intrínseca ao próprio

modo de produção escravista. Não há dúvidas também de que ao mirarmos para este

corpo luminoso, encontraremos Gilberto Freyre e Casa Grande & Senzala. No

entanto, assim como a luminosidade dos astros, suas ideias só se realizaram no

movimento de encontro com seus portadores – e com as ferramentas de observação

disponíveis, em tempos e espaços diferentes.

Se do lançamento da obra, em 1933, até a década de 1950, este tipo de tese

sobre a escravidão encontrou boa recepção em parte importante da teoria social

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brasileira, ela foi amplamente questionada pela “escola paulista de sociologia” e, mais

a frente, pela historiografia social dos anos 1980/1990.1 Estas “matrizes” teórico-

metodológicas de pesquisa produziram uma vasta bibliografia sobre o escravismo no

Brasil, apontando ambas para a necessidade de superação do modo freyreano de

caracterização do sistema e de seus desdobramentos; a novidade da segunda foi a

retomada desse elemento destacando também os problemas no argumento sobre a

anomia da população escravizada elaborada nos anos 1960, principalmente em A

integração do negro na sociedade de classe (1964) de Florestan Fernandes. Uma

terceira forma de contra-argumento ao modelo historiográfico de Freyre está

localizada em trabalhos que buscaram justificá-la recorrendo à origem do autor por

meio de uma “política da memória”.2

É possível destacar duas críticas recorrentes nos trabalhos de releitura de Casa

Grande & Senzala que optaram por retomar a obra a partir da caracterização do

escravismo patriarcal na economia interna do texto. Uma apontou para as fragilidades

historiográficas da obra Freyre – seja metodológica-teoricamente ou das

impossibilidades de generalização da experiência dos engenhos de açúcar nordestinos.

A outra explicou sua anterior como decorrência imediata da origem social do autor,

pressupondo seus interesses políticos no manejo das fontes para a construção

argumentativa. Entretanto, não é difícil notarmos nessas críticas uma oposição

involuntária entre aspectos internos e externos do trabalho, pouco atenta para o caráter

reflexivo que os compõe. Isto é, convencionou-se fazer a crítica agarrando-se na

ausência de “rigor científico” da obra, para também justificá-las a partir dos interesses

políticos de seu autor. Não explicitando, contudo, quais mediações analíticas são

1 Não é objetivo deste artigo desdobrar estas críticas, com as quais concordamos em grande medida.

Em período próximo ao da “escola paulista, por exemplo, temos os trabalhos da historiadora Emilia

Viotti da Costa e de outros/as historiadores que apontaram a dimensão violenta da escravidão no Brasil. Sugere-se como referência para acompanhar este debate uma breve entrevista com Jacob Gorender,

onde ele pontua autores que se debruçaram sobre a escravidão no Brasil. Liberalismo escravidão:

entrevista com Jacob Gorender; Estudos Avançados 16 (46); São Paulo; 2002. Não obstante, há

outros/outras importantes autores/autoras que se debruçaram sobre o tema e não foram citados/as aqui

por mera escolha de que o texto não se alongue em demasia.

2 Um exemplo de texto muito instigante sobre o tema é: Melo, Alfredo César; Saudosismo e crítica

social em Casa Grande & Senzala: a articulação de uma política da memória e de uma utopia; Estudos

Avançados; 23 (67); São Paulo; 2009.

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possíveis de serem feitas entre elas, para não se perder de vista as possibilidades de

realização destas ideias enquanto forças sociais.3 Como nos esforçaremos em

demonstrar, a escravidão patriarcal é mobilizada interessadamente por Freyre

enquanto categoria sociológica e, portanto, política. E não porque política. Elaborada

na própria luta social empreendida pelo autor, como ele mesmo sugere em alguns de

seus textos. É este “portanto” que julgamos ser necessário compreender para

organizarmos novos horizontes críticos à obra.4

Gilberto Freyre nos oferece ao menos três pistas que nos instigam a desdobrar

esta hipótese. Duas estão colocadas imediatamente, uma após a outra, no Prefácio à

1ª edição do texto de 1933; a última, está no Prefácio à 3ª edição de Sociologia:

Introdução ao estudo dos seus princípios, texto de 1969. Apesar dos mais de trinta

anos que separam os escritos, é a preocupação do autor com a recepção de sua obra –

vejamos, por exemplo, os inúmeros novos prefácios a cada edição – que nos permite

considerarmos uma tentativa de controle argumentativo não linear entre esses

indícios. Se Casa-Grande & Senzala5 é definido pelo autor como um “ensaio de

sociologia genética e de história social” em que “pretende fixar e às vezes interpretar

alguns dos aspectos mais significativos da formação da família brasileira. (FREYRE,

2013, p.50)”, é em “Sobrados e Mucambos (1936)” e “Ordem e Progresso (1957)”

que desdobrará uma questão já presente em 1933: o pós-abolição criou “um

proletariado de condições menos favoráveis de vida do que a massa escrava”. Esta

preocupação, nitidamente de ordem política, é para Freyre também sociológica, pois

a Sociologia seria uma ferramenta fundamental para “substituir a abstração jurídica e

política por uma orientação mais ligada ao funcionamento da sociedade. (MEUCCI in

3 É importante ressaltarmos que não estamos julgando ou nos opondo a estas leituras – com as quais

concordamos. Estamos sugerindo, na verdade, uma outra forma de agarrarmos o problema e

realizarmos a crítica a Freyre pensando sempre nas consequências de suas ideias.

4 Neste sentido, partir do pressuposto de que para Freyre sua descrição do escravismo é,

simultaneamente, um exercício sociológico quanto político, nos faz sair da crítica que se contenta em

apresentar as evidentes incongruências históricas do autor. Nos obriga a pensar quais os impactos e

qual retórica argumentativa é constantemente reiterada nas tradições intelectuais conservadoras no país.

5 Neste artigo trabalhamos com o texto da 52ª edição, publicada no ano de 2013 pela Editora Global.

Freyre, Gilberto; Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime patriarcal;

São Paulo: Global, 2013 [52ª edição].

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FREYRE, 2009, p.20)”. Assim, interessa ao sociólogo pernambucano observar “em

que direção vem a Sociologia se tornando especificamente sociológica? (FREYRE,

2009, p.35)”

Nosso objetivo, a partir dos elementos expostos anteriormente, é apresentar

outra possibilidade analítica para o modo como problema do escravismo patriarcal é

construído no livro de 1933; menos retomando as críticas já realizadas, mas,

sobretudo, as colocando a partir de interesses teóricos pouco observados na obra do

próprio autor. Se tivéssemos que defini-los objetivamente: como o argumento de

Freyre bebe de uma tradição intelectual que procurou reorganizar horizontes teórico-

políticos da modernidade através da herança colonial? Ou seja, como ele pensa, de

maneira global, a organização de um Brasil moderno sem que para isso seja necessário

alterar os horizontes de participação social pós 1888? Dialogaremos com trabalhos

mais recentes na área de pensamento social, buscando os aportes teóricos e

metodológicos que eles possam nos oferecer para respondermos estas questões.

João Marcelo Maia (2011, p.71) sustenta a importância de inserirmos os

trabalhos da área pensamento social brasileiro “em uma história transnacional mais

ampla do pensamento periférico”, recuperando a “sociologia global” como recurso

analítico. Isto, pois, “se a teoria social refere-se a enunciados gerais, que visam

explicar os fundamentos da ação e da ordem, não faria sentido imaginar que ela se

pulverize em tradições nacionais, circunscritas a um vocabulário idiossincrático e/ou

paroquial.” (MAIA, 2011, p. 72) Assim, um passo adiante no diálogo com nossa

linhagem intelectual seria articular a “história do pensamento social” à “história global

da sociologia”, sem rivalizar texto e contexto. É desta maneira que sugerimos nos

apropriar de partes do argumento de Casa-Grande & Senzala. Como bússola para uma

revisitação da sociologia global, estaremos dialogando implicitamente com o trabalho

de Raewyn Connell, “O Império e a criação de uma ciência social”. A partir dele,

delimitamos os horizontes de temas e autores caros à reflexão das ciências sociais na

virada do XIX para o XX- e que foram extremamente mobilizados por Freyre ao longo

de todo o livro.

Por esta perspectiva é que nos parece fundamental engajarmos o pensamento

no “movimento reflexivo entre as ideias e a empiria do mundo social (CHAGURI,

Page 6: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

2020, p.335). E neste sentido, tomar “o processo de avanço do capitalismo, a

consequente liberalização e o predomínio do público sobre o privado (BASTOS,

2006, p.96)” como planos de fundo da imaginação social de Freyre – mesmo que não

tenham sido sua preocupação central. Por esta razão, Casa-Grande & Senzala pode

ser lido, como nos sugere Brasil Pinheiro-Machado, enquanto um livro de crise:

material, epistemológica e cognitiva. Uma obra na qual o avanço do capitalismo não

passa despercebido.

*

Este artigo se estrutura da seguinte forma. Na próxima seção, retomaremos

brevemente o modo como Gilberto Freyre constrói seus argumentos pelas páginas de

“O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”, o quarto de Casa-Grande

& Senzala. Nosso principal interesse está na elaboração teórica sobre o escravismo na

economia interna do texto, observando recurso às fontes interpretativas teóricas e as

“evidências” historiográficas levantadas por Freyre. Delimitado nosso objeto,

argumentaremos que a relação sociológica entre escravismo e patriarcalismo não está

colocada nesse capítulo de barato – seja na dimensão macro do encadeamento de

capítulos, como em suas escolhas teóricas da seção. É neste momento que Freyre

indica a escravidão enquanto uma categoria sociológica e, portanto, política. Nos

interessa mostrar como o debate estabelecido pelo autor com uma tradição liberal do

pensamento estadunidense sobre a família e sobre a abolição escravocrata no “deep

South” se constrói no encadeamento lógico do texto. É neste momento que o autor

mobiliza outros referenciais, até então pouco explorados no livro.

Nosso objetivo é mostrar que o elemento que permite mobilizar estas ideias na

obra freyreana é exatamente sua concepção de sociologia genética ou histórica social.

E isso nos possibilita retornar as consequências sociológicas e políticas produzidas

pelas ideias de Casa-Grande & Senzala; sem que para isso seja necessário apartarmos

as ideias – e nem a política- da sociedade.

3. A escravidão em “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”.

Page 7: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

É possível acentuar uma questão que orienta o percurso analítico de Gilberto

Freyre no capítulo dedicado ao escravizado na vida íntima do brasileiro- e que aparece

de maneira tangencial nos anteriores: qual a forma de socialização possível no Brasil?

Nos parece interessante observar que ela se consolida mais na discussão sobre o

escravismo patriarcal do que no debate sobre a plasticidade do colonizador, por

exemplo. E se estamos corretos, não é a experiência histórica da escravidão que Freyre

alça ao primeiro plano do argumento, mas a forma de socialização mais duradoura

entre os atores sociais que ela permite captar sociologicamente. Em qual direção essa

escolha impacta o desdobramento da argumentação? Retomando Élide Rugai Bastos,

é – em nossa leitura- assim que o autor pode consolidar teoricamente a família

patriarcal como núcleo central da explicação sociológica, sem ter de apartá-la

politicamente da ideia de propriedade (BASTOS, 2006, p. 185). Por meio deste

enquadramento teórico-metodológico, Freyre transita a todo momento entre a crítica

da escravidão e a sua elegia, sem criar dissonâncias entre estes aspectos; sem que fosse

necessário, assim, dissociar teoria e política, amalgamando-as na ideia de

patriarcalismo como nosso índice moderno.

Neste sentido, o percurso de caracterizações do “negro” e do “escravo” que

ocupam as primeiras páginas do capítulo IV não se torna despropositado. É no intuito

de objetivar nossa forma de socialização que o sociólogo pernambucano investe nestas

definições. A partir delas, enfatiza-se a passagem do “indíviduo” à “pessoa”

(FREYRE, 2009) através das fontes documentais de cultura popular coligidas neste

momento da obra. Seu esforço está, então, em qualificar as maneiras pelas quais o

“negro” e o “escravizado” atuaram sobre o tipo de sociabilidade do brasileiro – e como

foram afetados pelo mesmo processo; e isto se dá, sobretudo, diferenciando-os, seja

pela contraposição às explicações racialistas da virada do XIX ou pela definição dos

“estoques mais adiantados” das populações africanas que foram majoritariamente

traficadas ao Brasil. A primeira conclusão da seção é que “a formação brasileira foi

beneficiada pelo melhor da cultura negra da África [...]” (FREYRE, 2013, p.382).

Possibilitando definir, assim, uma função “civilizadora” e “criativa” para o

escravizado na colonização brasileira.

Page 8: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

No entanto, a consideração deste papel civilizador está intrinsicamente

relacionada à “degradação” sofrida pelo africano no escravismo. Analiticamente, a

constatação sobre o aspecto violento do cativeiro faz com que Freyre abandone o

signo do “negro degradado” de sua leitura sociológica sobre nossa formação. “Sempre

que consideramos a influência do negro sobre a vida íntima do brasileiro, é a ação

do escravo, e não a do negro por si, que apreciamos. (FREYRE, 2013)” A partir de

então, não é mais a experiência histórica da escravidão que importa descrever, mas

sim a forma assumida pelo “sistema social da escravidão”. Um sistema que rebaixou

moralmente senhores e cativos, desenraizou e deformou o negro em nossa primeira

fase de vida independente, promoveu a depravação sexual e, no entanto, reuniu “duas

metades confraternizantes”; marcando, assim, a ascensão do indivíduo a “lugares de

família”, passando da condição de escravo à pessoa de casa (ibid, p. 435).

Como – e por que- a passagem do “negro” e do “escravo” aos “lugares de

família” se dá especificamente neste capítulo?

3.1 Referenciais teóricos do capítulo.

Élide Rugai Bastos (2003; 2006) observou que, a despeito dívida intelectual de

Gilberto Freyre com o culturalismo de Franz Boas, muitas das referências mobilizadas

em Casa-Grande & Senzala – em suas distintas edições e escritos posteriores-

passaram despercebidas por seus leitores. Entre elas, a influência de autores do

pensamento ibérico- como Ortega y Gasset, Unamuno, Ganivet, etc- que foram

fundamentais para Freyre ancorar suas exposições sobre o iberismo, o

lusotropicalismo e a democracia no Brasil. Também há ao longo do capítulo quatro,

infindáveis 235 notas – bibliográficas e documentais- que foram pouco exploradas

como ferramenta de leitura da obra de 1933. Nelas, a maioria dos referenciais

mobilizados por Freyre nos capítulos anteriores se dissolve. Se olhadas de maneira

mais aproximada, elas podem indicar uma mudança de caminho analítico e uma

combinação teórica interessante para o modo como o problema do livro é deixado em

aberto para Sobrados e Mucambos (1936) e Ordem e Progresso (1957).

Page 9: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

A tradição ibérica dá espaço ao culturalismo de Boas, mas também a uma

diversidade de autores do pensamento social e político estadunidense (de maioria

liberal) que pensaram os impactos da abolição nos Estados Unidos através da família

patriarcal e do trabalho livre. No capítulo IV, esta “linhagem” é retomada através de

A social history of the American Family from colonial times to present6 obra do

sociólogo Arthur W. Calhoum; bisneto do filósofo, ex-presidente e liberal-

escravocrata John C. Calhoun. É no diálogo com a reflexão liberal que Freyre articula

as três pistas apresentadas em sua concepção sobre a prática sociológica; partindo de

Casa-Grande & Senzala como um ensaio de sociologia genética para definir a forma

de socialização brasileira, realizada pelo patriarcado e realizadora de nossa

modernidade política.

Começamos por Sociologia: introdução ao estudo de seus princípios, livro em

que Gilberto Freyre sistematiza sua “artesania de ideias sociológicas” (MEUCCI,

2009, p.12). Esta sistematização, como observa Simone Meucci (ibid, p.14), reclamou

“um esforço de conversão da “prática” interpretativa num “sistema conceitual”

passível de ser transmitido a especialistas e futuros especialistas no ramo de

conhecimento em questão.” Em nossa leitura, é no prefácio à 2ª edição, escrito entre

1955 e 1972, que o sociólogo sintetiza sua interpretação da prática sociológica. Ela

seria o “estudo principalmente de formas, de processos, de funções de convivência humana

[...]” (FREYRE, 2009, p. 66- grifo nosso). Assim, a Sociologia pôde ser apresentada como

uma “ciência mista, híbrida ou anfíbia, em parte natural, em parte cultural” (ibid, p.77) que

deve observar a “diversidade de situações humanas” (ibid, p.83).

Esta definição é desdobrada no capítulo introdutório da obra, onde seu

argumento mais geral aponta a própria disciplina como objeto e instrumento analítico

de compreensão dos contrários em convivência – subjetiva, política & teoricamente:

Não opomos, no estudo sociológico, as muitas sociologias à Sociologia única,

nem a natureza à cultura, nem diversidade à universalidade, nem a objetividade

à subjetividade como inimigos inconciliáveis, mas como antagonismo que

podem, a nosso ver, ser harmonizados; e que, de qualquer modo, possam ou não

ser harmonizados, existem. Não traímos à Sociologia geral pelas sociologias

especiais, nem a cultura pela natureza, nem a universalidade pela diversidade,

nem a objetividade pela subjetividade por inconstância ou versatilidade

6 No capítulo IV de Casa-Grande & Senzala, a obra de A.W. Calhoun é a nota de abertura e de

fechamento da seção.

Page 10: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

intelectual: apenas reconhecemos que, em Sociologia, são inevitáveis as

especialidades e a subjetividade. O objeto de estudo sociológico nos parece ser

a Sociologia assim complexamente compreendida; e classificada como ciência ainda imatura. (FREYRE, 2009, p.84)

Assim, se as sociologias oferecem as ferramentas analíticas de conhecimento

das formas constitutivas da convivência humana, elas também o são seu objeto.

Entretanto, não se trataria de afirmar qualquer experiência empírica como alvo de

interesse do sociólogo. O limiar da investigação propriamente sociológica se

assentaria na diferenciação entre o “difusamente social” e o “propriamente

sociológico”; na separação analítica entre o “fato histórico singular” e as “formas e

processos”. Estes últimos seriam, então, os elementos de interesse da “sociologia

genética ou histórica” para o estudo da articulação dos “aspectos dinâmicos e

recorrentes” de instituições e grupos (FREYRE, 2009). Recuperando o título da obra

que nos interessa, casa-grande e senzala são sociologicamente interessantes se

observadas formalmente enquanto dinâmica & recorrência. Como o autor as mobiliza

em termos sociológicos para a explicação de nossa formação social?

O primeiro passo de Freyre é definir o ensaio enquanto um esforço de

Sociologia Genética ou Histórica, entendida como

aquela sociologia cuja história de grupos, instituições e pessoas, sendo quanto

possível história natural, torna-se, de certa altura em diante, peculiarmente humana, social e cultural através não da simples descrição mas também da

compreensão pelo sociólogo, dos fenômenos sociais, pessoais e de cultura. (FREYRE, 2009, p.356)

Há dois interesses explicitados por essa definição. Primeiro, as instituições, grupos e

pessoas só podem ser de interesse da Sociologia se iluminarem o fenômeno

sociológico enquanto “processos de socialização” (MEUCCI, 2009) – ou seja, a

passagem do “indivíduo” à “pessoa”. Assim, se iluminar não é apenas descrever, mas

interpretar e compreender a realidade, pressupõe-se a capacidade do sociólogo em

produzi-la na busca pelos sentidos das ações históricas dos agentes em horizontes

determinados anteriormente.

Freyre discorre, então, sobre possibilidades metodológicas de apreensão

metodológica da “condição híbrida da realidade social” (FREYRE, 2009, p.356). Em

determinado momento, o alvo da crítica torna-se o materialismo histórico por,

Page 11: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

segundo o autor, ter limitado a importância dos fatores físicos, culturais e pessoais

para explicação das transformações econômicas. Como exemplo, Freyre recorre à

transformação da “técnica de produção, de escravocrata em livre [...]” (ibid, p.359); a

síntese de seu argumento é que esta passagem não foi “apenas ou sempre

soberanamente econômica”, mas “antes política que econômica” (ibid). Portanto,

sociologicamente multifacetada. E em quais instituições ele ancora essa percepção

sociológica dos fatores políticos da mudança social? Na família, no casamento e em

suas “expressões naturais” (como o “sexo e a infância”). Está armado teoricamente o

problema que lhe permite construir uma sofisticada argumentação sociológica sob o

caráter político de reiteração das formas sociais. Em síntese,

[...] os aspectos jurídico e político das instituições e dos processos sociais são

especializações de formas sociais que tendem a repetir-se em espaços e épocas

diversas como formas, mas como substâncias desiguais, com conteúdos

diferentes, com significados éticos, religiosos, ideológicos, econômicos vários.

(FREYRE, 2009, p.225)

Eis o problema teórico e, portanto, político. Neste sentido, a escravidão

iluminaria tanto eventos históricos, quanto a forma de socialização brasileira

politicamente mais duradoura. Passível de ser observada enquanto um fenômeno

sociológico, de acordo com as considerações de Freyre. Então, a quem o autor recorre

para construí-la teórico-metodologicamente o capítulo IV?

O caminho argumentativo do capítulo é construído deliberadamente sob a

tensão entre o escravismo enquanto experiência histórica rebaixadora e expressão

formal de estruturas mais profundas da sociabilidade brasileira. Esta, por sua vez,

realizada na força social do patriarcalismo, teoricamente construído através do

processo social que fez do “negro”, “escravo” no complexo casa grande & senzala.

Se por um lado, a escravidão torna-se condenável ao “rebaixar moralmente”

“indivíduos”, o branco e o negro; por outro, ela é fundamental na sociabilização em

países de herança colonial, produzindo nossos processos de existência no mundo

senhorial & escravocrata.

Estes dois debates estão fundamentalmente informados pela segunda pista que

trouxemos algumas páginas atrás. No argumento do autor, o processo iniciado em

1808, e acentuado no golpe final do pós-abolição, teria criado “um proletariado de

Page 12: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

condições menos favoráveis de vida do que a massa escrava” (FREYRE, 2013, p. 51).

Assim, do processo concluído em 1889 emergiram embates entre os agentes sociais e

forma de socialização apontada por Freyre, que complexificaram os sentidos de

ajustamento das relações vigentes. Se é neste caldo histórico em que a crise do poder

patriarcal se desenrola, é no capítulo IV da obra de 1933 da trilogia freyreana que a

família patriarcal, o escravismo e o embate político se conectam sociologicamente,

sem que para isso fosse necessário explicitar seus pressupostos.7 De onde emerge e

como localizar esse modo de colocar o problema através da economia interna do

texto? Sugiro atentarmos para as notas 1, 35 e 231 para não nos alongarmos em

demasia.

Figura 1: Tabela de notas (grifos nossos)

Nota Obras

referenciadas

Autoria Onde está a nota?

1 “A social history of

the American

family from

colonial times to

the present” (1918)

Arthur W. Calhoun No seguinte

parágrafo escrito por

Freyre:

“ Já houve quem

insinuasse a

possibilidade de se

desenvolver das

relações íntimas da

criança branca com a

ama de leite negra

muito do pendor

sexual que se nota

pelas mulheres de cor

no filho-família dos

países escravocratas.

A importância

psíquica do ato de

mamar, dos seus

efeitos sobre a

criança, é na verdade

7 Como apontamos anteriormente, as consequências da crise do patriarcalismo são melhores

trabalhadas em “Sobrados e Mucambos” (1936). No entanto, em nossa leitura, é no capítulo IV obra

de 1933 que o modo de colocar o problema se apresenta e reverbera nos trabalhos seguintes; o método

sociológico é apresentado sustentando a lógica política do embate entre as ideias sobre o escravismo,

o pós-abolição e a democracia no país.

Page 13: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

considerada enorme

pelos psicólogos

modernos; e talvez

tenha alguma razão

Calhoun para supo

esses efeitos de

grande significação

no caso de brancos

criados por amas

negras.”

35 “The Negro in

American

Civilization”

(1930) e “Shadow

of

plantation”(1934)

Charles S. Johnson Esta nota se localiza

no momento em que

Freyre traz para o

argumento as

diferenças de Q.I

entre os “negros do

norte e do sul dos

Estados Unidos.”

No entanto, o que nos

interessa é a

justificativa que o

autor dá para seu uso

no desenrolar da

própria nota: “Todos

estes estudos

oferecem páginas de

considerável

interesse para efeitos

de comparação com a

influência do negro

na vida e na cultura

do Brasil,

particularmente sob a

influência do regime

de trabalho escravo.”

“The American

negro” (1901)

William H. Thomas

“The Negro”

(1915)

W. E. B. Dubois

“The mobility of the

negro: A Study in

the American Labor

Supply” (1932)

E. W. Lewis

“The negro as

capitalist” (1936)

A.L Harris

“The free negro

family”(1932)

E. Franklin Frazier

Page 14: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

“Up from

slavery”(1901)

Booker T.

Washington

231 “A social history of

the American

family from

colonial times to

the present” (1918)

Arthur W. Calhoun Parágrafo de Freyre,

onde os itálicos são

frases literais de

Calhoum:

“No sul dos Estados

Unidos, como em

Cuba, a criança e a

mulher sofreram

passivamente, nas

casas-grandes, as

mesmas influências,

não tanto de “clima”,

nem da “simiesca

lubricidade

africana”, como do

sistema de produção

econômica e de

organização

patriarcal da família,

sofridos pelo menino

e pela sihá-dona, nos

engenhos e nas

fazendas do Brasil.

No Brasil, os

meninos de engenho

anteciparam-se aos

do sertão em

experiências de

mulher, os do sul dos

Estados Unidos

anteciparam-se aos

do norte. Refere

Calhoun que um

negociante do sul em

visita a amigos de

Nova York

informou-os de que

estivera há pouco na

fazenda de um seu

irmão; e que aí todos

os escravos

domésticos estavam

sofrendo de doença

venérea; e no meio

deles, não tardando a

Page 15: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

se infeccionarem, os

filhos do fazendeiro.

Era o mesmo que

crescessem e

educassem num

bordel. (“I told him

he might as well have

them educated in a

brothel at once”).

Interessante é

também este

depoimento do velho

escravocrata de

Alabama recolhido

por Calhoun: que na

sua fazenda, “every

young man [...]

became addicted to

fornication at na

early age”. O mesmo

que nos engenhos do

Brasil.

As referências teóricas de autores lidos por Freyre e indicados na nota 35 são,

de fato, muito interessantes para se tentar apreender certas nuances do argumento do

sociólogo. Ainda mais se contrastadas com o “objetivo” do capítulo IV, que não é o

de pensar as consequências do pós-abolição na relação entre ex-senhores e ex-

escravizados amplamente; mas, antes, delimitar a forma de socialização organizada

no modo de produção escravista nos engenhos de açúcar desde a colonização

portuguesa, com interesse na influência do “escravo” na “vida íntima do brasileiro”.

Essa nota, em específico, chama a atenção pelo trânsito entre autores negros muito

influentes no debate político estadunidense sobre as consequências do escravismo e

de sua abolição. E, se para estes, o processo abolicionista ainda não havia atingido

três gerações completas da sociedade, a situação na qual Gilberto pensava o seu Brasil

era semelhante. Os debates vão de estudos sobre as famílias libertas estadunidenses-

E. Franklin Frazier-, a mobilidade das populações negras no Estados Unidos pós-

abolicionista- Charles S. Johnson e William H. Thomas-, passando pelos debates

originados pelo “Compromisso de Atlanta” (1895) de B.T Washington e sua crítica

Page 16: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

por W.E.B Dubois até chegar na reflexão do “negro como capitalista” - do economista

e antropólogo Abraham L. Harris.

Se tomadas apenas como notas, elas parecem pouco dialogar com o objetivo do

capítulo. Aparentemente, funcionariam mais como sugestões de leitura ou mostra de

eruditismo do que como componente fundamental do próprio texto. Contudo, é

através destes materiais que Freyre parece sedimentar teoricamente – para si e para

quem o lê- as consequências políticas e sociológicas do pós-abolição; organizando-as

através da leitura de autores negros do debate público estadunidense com os quais

tomou contato, muito provavelmente, em sua passagem pelas Universidades de

Baylor e Colúmbia. Obras cujo incômodo central ou de plano de fundo estava na

preocupação com os novos modos de convivência entre “brancos” e “negros” nas mais

diversas dimensões da vida social após a 13ª Emenda. Dito de outra maneira, nos

modos como a realização da sociedade burguesa – e de seus ideais- se tornaria possível

em uma sociedade de herança colonial. O mais provocativo, em nossa opinião, é

Gilberto Freyre cruzar comparativamente o período escravista no Brasil recorrendo às

experiências de liberdade de ex-escravizados no país norte-americano.

E esta comparação concorreria na economia interna do texto para amenizar as

brutais relações escravistas brasileiras quando contrastadas com a dos Estados Unidos,

como parte da crítica a Freyre sugeriu em relação ao trabalho de 1933? Não nos parece

ser a intenção argumentativa do autor. Sobretudo, porque ela é sociologicamente

mobilizada para posicionar o problema visando suas consequências políticas; isto é,

não se trataria de afirmar a suavidade do escravismo no Brasil – embora também se

preste a isso- mas apontar de maneira interessada8 a seleção de possíveis similitudes

políticas duradouras dos eventos históricos em países de matriz colonial. Assim, os

fenômenos sociológicos – objetos da Sociologia Genética/Histórica – de localidades

atravessadas pelo colonialismo patriarcal escravista – como por exemplo, o “deep

South” e os engenhos de açúcar brasileiros – poderiam ser tomados por sua matriz

8 Ressaltamos o termo “interessada” para sublinhar que o modo como Freyre mobiliza estes autores

parte de um interesse muito pontual do autor, sem necessariamente coincidir com a lógica

argumentativa das obras originais.

Page 17: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

política. Se sua argumentação se constrói, então, na passagem do “negro” ao

“escravo” (do indivíduo a pessoa), ele também se arma simultaneamente no

enfraquecimento de nossa forma de socialização; que é tomado como exemplo

heurístico em Sobrados e Mocambos no problema do “mulato”.

Se - como estamos tentando demonstrar- esta preocupação já ocupa um espaço

importante na reflexão de 1933, a pergunta a ser feita, então, é qual elemento permite

a comparação sociológica esboçada por Freyre entre estas duas experiências

escravistas? Nossa hipótese está no modo de construção teórica da família patriarcal

que Gilberto Freyre encontra no trabalho de Arthur W. Calhoun.9

“A social history of the American family from colonial times to the present”

(1917) é uma obra em três volumes do professor Calhoun, cujo desenvolvimento é

an attempt to develop an understanding of the forces that have been

operative in the evolution of family instutions in the United States. They

set forth the nature of the influences that have shaped marriage,

controlled fecundity, determined the respective status of the father,

mother, child, attached relative, and servant, influenced sexul morality,

and governed the function of the family as na educational, economic,

moral and espiritual institution as also its relation to state, industry, and

society in general in the matter of social control. The work is

primarily a contribution to genetic sociology. (CALHOUN, 1917, p.9,

grifos nossos)10

Esta proposta buscou compreender e sistematizar, segundo o próprio autor (ibid), a

família estadunidense enquanto instituição social e uma das forças operativas no

desenvolvimento material da sociedade estadunidense.

9 Arthur Wallace Calhoun iniciou seus estudos na Universidade de Pittsburgh, passando ainda pelas

Universidade de Wisconsin (1913), Clark Univesity (1916) e completando-os na Universidade de

Columbia. Lecionou disciplinas de Língua Inglesa, Alemã e Latim, além de História e Sociologia, no New Windsor College, St.Petersburgh High School, Florida State College, etc. É no retorno a Clark

University (1916) que Calhoun se torna membro de um seleto grupo de pesquisas e professor assistente

de economia. O currículo universitário do autor é marcado pelas passagens por inúmeras instituições

(dentre elas, como professor assistente da cadeira de Sociologia na Universidade de Kentucky). No

entanto, são os seus trabalhos na educação de trabalhadores no Brookwood Labor College que o torna

reconhecido

10 Optamos por conservar a citação no idioma oficial para que uma tradução nossa não provocasse

alterações significativas no texto original.

Page 18: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

O primeiro volume da trilogia nos parece explicitar as ferramentas teóricas e

metodológicas que Gilberto Freyre mobiliza intensamente, embora sem explicitá-las,

em Casa-Grande & Senzala. A escrita do livro I por Calhoun cobre o período colonial,

apresentando o desenvolvimento da família nos Estados Unidos como um produto: a)

dos folkways europeus; b) da transição econômica para o capitalismo moderno; c) e

do distintivo meio ambiente, ainda virgem (CALHOUN, 1917, p. 10). Calhoun esboça

um ponto de partida de pesquisa que nos sugere ter sido retomado por Freyre como

linha guia de sua obra- seja no método, como na escolha teórica.11 Isto é, ambos

definem a família como complexo social resultante de três fatores fundamentais: da

influência de tradições colonizadoras, da transição econômica e do meio ambiente

(entendidos em termos culturais e/ou raciais). E, no limite, como instituição que existe

como produto das experiências humanas e as condicionam.

Se estes elementos parecem inspirar o ensaio sobre a formação da família

patriarcal brasileira, é na defesa de Calhoun do abolicionismo como uma das formas

de modernização do sul escravocrata – pela superação do patriarcalismo- que se dá o

distanciamento de Freyre. Principalmente, pois aquele o coloca sob a chave do

controle social; enquanto um problema que viria a ser superado na evolução histórica

– e não na dinâmica sociológica - das instituições que foram pilares da sociedade

colonial: o casamento, a casa e a família.12 Ou sintetizando através da questão

levantada por Calhoun (CALHOUN, 1919 apud HOWARD): "free, democratic

society care to exercise such rigorous social control as to produce the externals of

conformity to any particular marriage type?” Assim, a reflexão de Calhoun se

sustenta predominantemente na explicação histórica da vida social, o que para Freyre

11 Freyre, em Sociologia (2009, p.350) reconhece que esta obra de Calhoun é um dos poucos trabalhos

da sociologia norte-americana que se apresentaram como importantes obras de Sociologia Genética ou

Histórica.

12 Há uma interessante resenha deste trabalho de Calhoun publicada na seção “Reviews” da “The

American Journal of Sociology”, de autoria de George Elliot Howard (presidente da American

Sociological Society em 1917). Embora tenhamos encontrado o texto em formato digital, não localizamos suas referências catalográficas e nem o anos de escrita. Entretanto deixamos o link para

consulta (https://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/213002) e faremos referência apenas

pelo sobrenome do autor. Segundo Howard, Calhoun define o “household” (doméstico/domesticidade)

como resultado da influência de uma “trindade”: o lar, o casamento e a família.

Page 19: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

– como estamos apontando- não seria suficiente, posto que deixaria de articular os

“aspectos dinâmicos e recorrentes” próprios dos desenvolvimentos históricos. Não

apreendendo a forma de socialização que informaria os próprios processos históricos

(a própria família patriarcal).

Para Calhoun “in general, the colonial family is presented as a property

institution dominated by middle class standards, and operating as an agency of social

control in the midst of a social order governed by the interests of a forceful aristocracy

which shaped religion, education, politics, and all else to its own profit.”

(CALHOUN, 1917, p.10). Se este autor aponta para as “patologias familiares”13 como

consequências do modo de formação patriarcal no sul dos Estados Unidos, Freyre o

contrapõe em Casa-Grande & Senzala afirmando que elas são constitutivas da própria

formação destas sociedades14; pois não existiria escravidão – e, portanto, a

socialização colonial, que transforma indivíduos em pessoas- sem “depravação

sexual” (Freyre, 2013) e violência. Não haveria, portanto, incompatibilidade teórica

e, muito menos, política em afirmar caracterizar a escravidão como Freyre o faz; ela

seria um fenômeno histórico e sociológico. É com este horizonte que o autor

encaminha seus argumentos; não enxergando problema algum na violência de nossa

sociabilidade.

Historicamente – em sua “substância” - possível de ser condenada, mas

sociologicamente – em sua “forma” - condição de existência do patriarcalismo. O que

permite com que o autor faça as passagens de uma para outra é o modo como constrói

a categoria de escravidão informada pela disputa política constitutiva do exercício

sociológico, como já expusemos. “[...] Os aspectos jurídico e político das instituições

e dos processos sociais são especializações de formas sociais que tendem a repetir-se

em espaços e épocas diversas como formas, mas como substâncias desiguais, com

13 O capítulo XIII de Calhoun é intitulado “Family pathology and social censorship in the colonial

South” e é aberto com a seguinte frase: “The colonial South had its share of irregularities in the relations

between husbands and wives, parents and children.” (Calhoun, 1917, p.300). É a partir desta seção que

Calhoun desdobra o problema da servidão e da sexualidade no sul escravocrata.

14 Esta contraposição é explicitada nas notas 88 e 89 do capítulo IV de Casa Grande & Senzala, quando

Freyre retoma passagens da obra de Calhoun em relação a sexualidade no sul escravocrata.

Page 20: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

conteúdos diferentes, com significados éticos, religiosos, ideológicos, econômicos

vários.” (FREYRE, 2009, p. 225) No entanto, qual o aparato que sustenta a reflexão

e os elementos desdobrados em 1936 e 1957?

3.2- Referenciais políticos do capítulo: hipóteses para uma agenda de pesquisa.

Até aqui buscamos revisitar o problema da escravidão em Gilberto Freyre

argumentando que ela seria melhor enfrentada na economia interna do texto se tomada

em uma leitura que privilegiasse a reflexividade social do próprio texto. Nosso

pressuposto era de que esta escolha implicaria no esforço de, em um primeiro

momento, abstrairmos as qualificações possíveis ao esforço descritivo de Freyre. Isto,

porque, não se trataria de opor a leitura textual à contextual da obra, mas mostrar como

estas dimensões são constitutivas uma da outra dentro da própria intencionalidade do

argumento do autor. Logo, nossa hipótese é a de que objeto da Sociologia é

sociológico à medida que também é político nas reflexões de Freyre; e entre elas não

haveria relação de anterioridade ou causalidade, mas de mútua implicância. É esta

compreensão que permite interpelar as ideias como forças sociais, mas também

imaginar formas de confrontá-las em seus desdobramentos.

Para isso, retornamos a Sociologia (2009) a fim de entender a proposta de Freyre

em seu “ensaio de sociologia genética ou histórica” - escrito revisitado pelo autor

sempre que possível. Não retomaremos ponto a ponto o que já foi escrito, no entanto

gostaríamos de ressaltar elementos que nos parecem fundamentais para

encaminharmos o fechamento deste texto. O primeiro deles é a necessidade de

inserção de Gilberto Freyre em um debate sociológico transnacional mais amplo; o

segundo é a sua construção metodológica a respeito do objeto da sociologia levando

em conta as especificidades dos problemas de interesse sociológico em países

colonizados serem antes de ordem política do que econômica; e por fim, a inspiração

de Freyre no trabalho de Calhoun sobre a formação da família patriarcal no sul dos

Estados Unidos. Defendemos que estes elementos se combinariam de maneira

particular no capítulo IV ao caracterizar a forma de socialização possível e duradoura

no país. Curiosamente é através da escravidão que Freyre a define mais enfaticamente,

pois permitiria captar os traços históricos e sociológicos de nossa formação íntima –

definida de maneira próxima ao do “deep South”, e não em sua contraposição.

Page 21: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

O desenrolar da argumentação, no entanto, se afasta substancialmente dos

desdobramentos presentes em sua obra de referência teórico-metodológica, “A social

history of the American family from colonial times to the present”. E este movimento,

como já dissemos anteriormente, não se realiza no sentido de marcar a particularidade

da formação brasileira. Mas antes, na direção de apontar as consequências políticas

transnacionais da decadência patriarcal em sociedades de formação colonial escravista

- basicamente o que é feito nas obras 1936 e 1957. Ou seja, a suposta formação de

uma massa trabalhadora em piores condições de existência que os escravizados-

problema ainda apontado no Prefácio à 1ª edição de 1933. A trilogia de Freyre oferece

poucas evidências bibliográficas para mapearmos as origens desta tese e com quais

obras ele a compartilhava. Contudo, é evidente que este debate é profundamente

influenciado pela passagem de Gilberto pelos Estados Unidos, como o próprio autor

revela no mesmo prefácio ao citar suas companhias de viagem pelo sul dos Estados

Unidos. Entre elas está o historiador Francis Butler Simkins e seus estudos sobre a

Carolina do Sul e a “Era de Reconstrução”, no pós guerra de secessão estadunidense.

Assim, nos parece evidente que o sociólogo brasileiro teve, em alguma medida,

contato com as reflexões políticas estadunidense a respeito das consequências

imediatas do fim do escravismo e das relações estabelecidas a partir de então.

Contudo, as referências bibliográficas apontadas em Casa Grande & Senzala

tendem a considerar o processo de decadência do patriarcalismo escravista sem muitas

ressalvas. O que difere frontalmente do desdobramento argumentativo de Freyre. Mas

com qual literatura ele estaria dialogando, então? Nossa hipótese, acidentalmente

formulada através de leituras paralelas, está no debate liberal do sul escravocrata da

primeira metade do século XIX.

Abrimos um rápido parênteses. Sempre nos interessou, a partir de leituras dos

trabalhos do pensamento social, as maneiras pelas quais a escravidão se consolidou

enquanto um imaginário capaz de orientar as descrições e os possíveis rumos da

sociedade brasileira. Mesmo enquanto um evento de concretude histórica das

sociedades coloniais, nos chamava atenção como sua caracterização sempre foi alvo

de intensas disputas da reflexão sobre a mudança social. Um objeto em que se investiu

profundamente nossa memória coletiva; a despeito, inclusive, dos estudos

Page 22: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

historiográficos contemporâneos que nos permitem iluminar o passado de outros

modos.

Em determinado momento das leituras a respeito desse tema, cruzamos com o

problema clássico de nosso pensamento social sobre o liberalismo em um país

escravocrata. Demos um passo atrás, buscando compreender em quais medidas o

pensamento liberal em países que haviam passado por “revoluções liberais” havia se

preocupado com esta questão. Chegamos em “Contra-História do Liberalismo”, obra

de Domenico Losurdo. Nela tínhamos como interesse principal, investigar as

maneiras pelas quais os “clássicos” do pensamento liberal abordavam o problema da

escravidão. Neste livro, há dois interessantes capítulos – “Liberalismo e escravidão

racial: um singular parto gêmeo” e “Os servos brancos entre metrópole e colônias: a

sociedade protoliberal”-, em que Losurdo retoma autores consagrados nesta matriz

teórica para demonstrar as articulações do repertório liberal de “igualdade” às

questões do escravismo.

Nestes textos, Losurdo vai de Grotius a Locke, recuperando Monstesquieu, na

tentativa de situar as “bandeiras de liberdade” e o desenvolvimento da escravidão

como “duas faces” de uma mesma moeda – paridas em um mesmo parto. No entanto,

as relações estabelecidas entre elas seriam cheias de “tensões e contradições”

(LOSURDO, 2006, P.58-9). Tentando apreendê-las a partir do próprio movimento

histórico, o autor chega aos debates prévios a Guerra de Secessão (1861-1865). Surge,

então, referências sucessivas a John C. Calhoun, ex-vice presidente dos Estados

Unidos durante as presidências de John Quincy Adams (1825-1829) e Andrew

Jackson (1829-1832). Estávamos lendo Freyre e Losurdo simultaneamente. E,

portanto, convivendo com dois Calhouns; os dois da mesma família- Arthur bisneto

de John.15 O mais novo não faz referências ao bisavô no livro que Freyre usa como

15 A partir da repetição de sobrenomes, consultamos dois historiadores para saber a possibilidade de

descobrirmos se existiu algum tipo de parentesco entre os autores e, se sim, qual o grau. Entre as sugestões, surgiu a possibilidade de investigarmos as árvores genealógicas através da plataforma

internacional Family Search (https://www.familysearch.org/pt/). Por meio delas, descobrimos esse

grau de parentesco. Agradecemos, então, a Talison Pichel e Vitor Menini pela contribuição de enorme

valia.

Page 23: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

referência no quarto capítulo de Casa-Grande & Senzala. No entanto, o argumento

do mais velho ressoa no texto do sociólogo pernambucano eloquentemente.

John C. Calhoun também foi um filósofo político estadunidense e passou maior

parte de sua vida na Carolina do Sul. A principal tese defendida por ele, ainda na

metade do século XIX, foi a da escravidão enquanto um “bem positivo” (Calhoun

apud Losurdo, 2006, p.83). Isto porque, para o autor, foi o Norte responsável pela

“traição dos princípios liberais da Revolução Americanas” (Losurdo, 2006, p.83).

Losurdo recupera Calhoun em um ponto fundamental: “a defesa da liberdade humana

contra as agressões de um poder despótico foi sempre particularmente eficaz nos

estados nos quais a escravidão doméstica se firmou” (Calhoun apud Losurdo, 2006,

p.183). Isto pois, por exemplo, as próprias condições dos “escravos americanos”

seriam mais positivas que às “dos detentos da Inglaterra nas casas de trabalho ou nos

abrigos paras pobres: os primeiros cercados de cuidados [...] os segundo reduzidos a

uma condição ‘desumana e ‘abjeta’” (Calhoun apud Losurdo, 2006, p.91). Os textos

de J. Calhoun recuperados por Losurdo foram compilados em Union and Liberty: the

political philosophy of John C. Calhoun em 1992 por Ross M. Lence. Nos parece que

um deles antecipa uma série de questões colocadas por Freyre em sua trilogia. É de

“Speech of the reception of abolition petitions” (Calhoun, 1992) que traremos

algumas questões.

Este “discurso” – de 6 de fevereiro de 1937- realizado por Calhoun é

consequência das inúmeras petições recebidas por ele no Congresso que pediam a

restrição da abolição da escravatura, em especial no distrito de Columbia. O filósofo

e político argumentava que, no limite, estas questões não estavam na competência

desta instância legislativa, posto que a própria constituição deixava sob

responsabilidade dos estados decidirem sobre esta questão (Lence apud Calhoun,

1992, 461). De acordo com Lence (1992), é nesta reflexão que Calhoun articula a

ideia de que a escravidão poderia ser visto como um “bem positivo”; neste sentido, as

petições tornavam-se hostis não à escravidão mas a todo modo de vida e cultura do

Sul. E esse modo de vida escravista, segundo Calhoun, não poderia ser tomado em

sua abstração- entendida, por exemplo, através do horror produzido por ela- mas pela

“justaposição” entre “duas raças de homens, de diferentes cores, em notáveis

Page 24: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

diferenças de formações, hábitos, e milhares de outras particularidades [...]” (Calhoun,

1992, p.467). Here the existence of slavery as good to both. (ibid)

E ela só se tornaria um bem pois as condições de vida no sul escravocrata seriam

mais “confortáveis, respeitáveis e civilizadas” do que aquelas encontradas pela “raça

da África Central” (ibid). O desdobramento do argumento se dá na observação das

condições de vida no sul- o reproduziremos integralmente, já nos desculpando pela

extensão. É este tipo de lógica argumentativa que acreditamos informar a dimensão

política da retórica teórica freyriana no capítulo IV de Casa Grande & Senzala.

Obviamente, esta hipótese carece de ser desdobrada – ou descartada- em futuras

agendas de pesquisa que investiguem as aproximações de Freyre com o pensamento

“liberal” pré-abolicionista dos Estados Unidos. No entanto, ele nos parece bastante

provocativo para consolidar o argumento explorado neste paper.

The population doubled in the same ratio with that of the whites--a proof

of ease and plenty; while, with respect to civilization, it nearly kept pace

with that of the owners; and as to the effect upon the whites, would it be

affirmed that they were inferior to others, that they were less patriotic,

less intelligent, less humane, less brave, than where slavery did not exist?

He was not aware that any inferiority was pretended. Both races,

therefore, appeared to thrive under the practical operation of this

institution. The experiment was in progress, but had not been completed.

The world had not seen modem society go through the entire process, and he claimed that its judgment should be postponed for another ten years.

The social experiment was going on both at the North and the South--in

the one with almost pure and unlimited democracy, and in the other with

a mixed race. Thus far, the results of the experiment had been in favor of

the South. Southern society had been far less agitated, and he would

venture to predict that its condition would prove by far the most secure,

and by far the most favorable to the preservation of liberty. (CALHOUN,

1992, 467-8)

4. Conclusões.

Este paper buscou apresentar uma outra possibilidade de leitura da escravidão

na obra de Gilberto Freyre; especificamente, a partir do capítulo “O escravo negro

na vida sexual e de família do brasileiro”, quarto capítulo de Casa-Grande &

Senzala. Procuramos nos distanciar teórica e metodologicamente das críticas

anteriores. Isto é, acreditamos que o paradoxo da escravidão em Freyre é melhor

tomado se entendido enquanto uma categoria teórica, portanto, política. Isto é,

demonstrando como texto e contexto vão se implicando mutuamente na economia

Page 25: Gilberto Freyre e a força social das ideias: escravidão

interna do argumento, sem que para explicá-la seja necessário separar a explicação

contextualista da textualista.

Aproximando-se da filosofia política e do pensamento sociológico

estadunidense do século XIX e início do século XX, Freyre organiza seu raciocínio

tomando a Sociologia enquanto uma prática teórica reflexivamente política. Ela,

pois, seria uma das ferramentas capazes de orientar – ou melhor compreender- as

formas sociológicas que alicerçariam o desenvolvimento histórico das sociedades.

É no emaranhado sociologia/política que Freyre pode afirmar o patriarcalismo

enquanto a força inescapável a que as dinâmicas sociais brasileiras – mas também

as de herança colonial- estariam submetidas. Ele seria o responsável por nossa

condição moderna, a despeito dos efeitos do escravismo que Freyre aponta. O que

se impõe, em nossa percepção, é repensar leituras críticas do escravismo em

Gilberto Freyre, sabendo que é fundamental encará-lo em sua sofisticada

amarração sociológica. Nos valendo teórica & politicamente da Sociologia como

uma ferramenta de luta social para a ampliação dos horizontes de participação

democrática. Solapando, assim, nossas “noções de modernidade” como oposição a

cultura de direitos, ideia politicamente acentuada por Gilberto Freyre.

Bibliografia:

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Paulo: É Realizações, 2009.

Nota Bibliográfica:

Howard, George E.; Neste paper utilizamos uma resenha da obra de A.W. Calhoun

publicada na seção “Reviews” da “The American Journal of Sociology”, de autoria

de George Elliot Howard (presidente da American Sociological Society em 1917).

Embora tenhamos encontrado o texto em formato digital, não localizamos suas

referências catalográficas e nem o ano de publicação. Entretanto deixamos o link para

consulta (https://www.journals.uchicago.edu/doi/pdf/10.1086/213002).

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