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Anais eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 2173 GINÁSIO AGRÍCOLA DE URUTAÍ: ÚLTIMOS ANOS ANTES DA COORDENAÇÃO NACIONAL DO ENSINO AGROPECUÁRIO (COAGRI) - 1970-1974 Silvia Aparecida Caixeta Issa 1 Histórico do ensino agrícola até o Decreto nº 76.436/75 O marco inicial do ensino agrícola no Brasil é o período colonial. A Carta Régia de 25 de junho de 1812 explica sobre a importância da agricultura como fonte de riqueza para a nação, mas precisa ser bem tratada. Sendo assim, necessita de conhecimentos e por isso estabeleceu “um Curso de Agricultura da Cidade da Bahia para instrução pública dos habitantes dessa Capitania, e que servirá de norma aos que me proponho estabelecer em todas as outras Capitanias dos meus Estados” (BRASIL, 1812). O objetivo era criar o primeiro curso na Bahia e continuar fundando novos cursos de agricultura no Brasil, porém a ideia não concretizou. O Decreto nº 7.566, de 23 setembro de 1909, criou as 19 escolas de aprendizes artífices, que ministravam ensino profissional primário gratuito, pois a República desejava criar cidadãos úteis à nação. Em Goiás, a escola de aprendizes artífices foi instalada na antiga capital Vila Boa, atualmente cidade de Goiás, com o objetivo de capacitar alunos em cursos e oficinas de forjas e serralheria, sapataria, alfaiataria, marcenaria e empalhação, selaria e correaria. As políticas de ensino técnico no Brasil na Primeira República foram: Escolas de Aprendizes Artífices (EAAs, 1909); Aprendizados Agrícolas (AAs) e Patronatos Agrícolas (PAs, 1918). Os AAs e os PAs eram voltados à formação de trabalhadores agrícolas para atuarem nos diversos serviços agropecuários, e as EAAs direcionavam a formação de mão de obra para a indústria. Além da formação de mão de obra, essas políticas possuíam uma feição assistencial, e Goiás não foi favorecido com essa política. Nos anos de 1920, Goiás foi beneficiado com a Fazenda Modelo de Criação, instalada no sul do Estado para promover o desenvolvimento de raças de gado. Nesta fazenda, a estrada de ferro já tinha chegado para facilitar o transporte e também a arrecadação de 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-Mail: <[email protected]>.

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Anais eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 2173

GINÁSIO AGRÍCOLA DE URUTAÍ: ÚLTIMOS ANOS ANTES DA COORDENAÇÃO NACIONAL

DO ENSINO AGROPECUÁRIO (COAGRI) - 1970-1974

Silvia Aparecida Caixeta Issa1

Histórico do ensino agrícola até o Decreto nº 76.436/75

O marco inicial do ensino agrícola no Brasil é o período colonial. A Carta Régia de 25 de

junho de 1812 explica sobre a importância da agricultura como fonte de riqueza para a nação,

mas precisa ser bem tratada. Sendo assim, necessita de conhecimentos e por isso estabeleceu

“um Curso de Agricultura da Cidade da Bahia para instrução pública dos habitantes dessa

Capitania, e que servirá de norma aos que me proponho estabelecer em todas as outras

Capitanias dos meus Estados” (BRASIL, 1812).

O objetivo era criar o primeiro curso na Bahia e continuar fundando novos cursos de

agricultura no Brasil, porém a ideia não concretizou. O Decreto nº 7.566, de 23 setembro de

1909, criou as 19 escolas de aprendizes artífices, que ministravam ensino profissional

primário gratuito, pois a República desejava criar cidadãos úteis à nação. Em Goiás, a escola

de aprendizes artífices foi instalada na antiga capital Vila Boa, atualmente cidade de Goiás,

com o objetivo de capacitar alunos em cursos e oficinas de forjas e serralheria, sapataria,

alfaiataria, marcenaria e empalhação, selaria e correaria.

As políticas de ensino técnico no Brasil na Primeira República foram: Escolas de

Aprendizes Artífices (EAAs, 1909); Aprendizados Agrícolas (AAs) e Patronatos Agrícolas

(PAs, 1918). Os AAs e os PAs eram voltados à formação de trabalhadores agrícolas para

atuarem nos diversos serviços agropecuários, e as EAAs direcionavam a formação de mão de

obra para a indústria. Além da formação de mão de obra, essas políticas possuíam uma feição

assistencial, e Goiás não foi favorecido com essa política.

Nos anos de 1920, Goiás foi beneficiado com a Fazenda Modelo de Criação, instalada

no sul do Estado para promover o desenvolvimento de raças de gado. Nesta fazenda, a

estrada de ferro já tinha chegado para facilitar o transporte e também a arrecadação de

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-Mail: <[email protected]>.

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imposto no comércio do gado negociado com o sudeste do país, especialmente com os

estados de Minas Gerais e São Paulo.

O Decreto nº 982, de 23 de dezembro de 1938, criou a Superintendência do Ensino

Agrícola, em 04 de novembro de 1940, por meio do Decreto-lei nº 2.832, que passou a se

denominar Superintendência de Ensino Agrícola e Veterinário (SEAV) e administrou o

ensino agrícola até maio de 1967. A Fazenda Modelo de Criação de Urutaí foi, então,

transformada em Escola Agrícola, em 1953.

A Lei Orgânica do Ensino Agrícola, do Decreto-lei nº 9.613, de 20, de agosto de 1946,

institucionalizou o ensino agrícola de grau elementar e médio, destacando-se, dentre outras

inovações, a classificação dos estabelecimentos de ensino agrícola em: escolas de iniciação

agrícola, que ministravam as 1ªs e 2ªs séries do 1º ciclo, concedendo ao concluinte o

certificado de operário agrícola; escolas agrícolas, que ministravam as 4ªs séries do 1º ciclo,

certificando aos concluintes o título de mestres agrícolas; escolas agrotécnicas, onde se

ministravam as quatro séries do 1º ciclo e as três séries do 2º ciclo, oferecendo cursos

técnicos de Agricultura, Horticultura, Zootecnia, Práticas Veterinárias, Indústrias Agrícolas,

Laticínios e Mecânica Agrícola.

A Escola Agrícola de Urutaí, criada em 1953, iniciou suas atividades em 1957. De acordo

com a Lei Orgânica do Ensino Agrícola, a instituição devia oferecer as quatro séries do 1º

ciclo, mas ofereceu somente as duas primeiras séries do 1º ciclo, até 1963, formando

operários agrícolas. Neste mesmo ano, passou a oferecer o curso de mestre agrícola e a

denominar-se Ginásio Agrícola de Urutaí, por meio do Decreto-lei nº 53.5584, de 13 de

fevereiro de 1964.

A direção do ensino agrícola foi transferida do Ministério da Agricultura para o

Ministério da Educação, em 1967. A Diretoria do Ensino Agrícola (DEA) coordenou o ensino

agrícola até 1970 quando se criou o Departamento do Ensino Médio (DEM), que absorveu as

diretorias do Ensino Agrícola, Industrial, Comercial e Secundário.

O DEM, dado seu caráter de órgão predominantemente normativo, reconheceu a

impossibilidade de coordenar as escolas agrícolas e sugeriu então a criação de um órgão

específico para administrar as escolas agrícolas.

Em 1973, pelo Decreto nº 72.434, de 09 de julho de 1973, instaurou-se a Coordenação

Nacional do Ensino Agrícola (COAGRI), com a finalidade de prestar assistência técnica e

financeira a estabelecimentos especializados em ensino agrícola, vinculados ao MEC.

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ISSN 2236-1855 2175

O Decreto nº 76.436, de 14 de outubro de 1975, alterou a denominação para COAGRI e

passou a prestar assistência técnica e financeira a todos os estabelecimentos especializados

em ensino agrícola e aos colégios de economia doméstica rural.

O novo documento legal avançou nas competências da COAGRI.

I - a promoção do desenvolvimento e da divulgação do ensino agropecuário, e o aperfeiçoamento de técnicos e auxiliares necessários ao respectivo setor; II – a coordenação, o controle e a avaliação das atividades técnico-administrativas, educativas e financeiras desenvolvidas pelos estabelecimentos de ensino que lhe são subordinados; III - o estabelecimento, com a colaboração de órgãos específicos, de planos para a aquisição, manutenção e adequação de equipamentos e instalações, bem como para realização de obras nas unidades que lhe são subordinadas. (DECRETO Nº 76.436, 1975).

A COAGRI iniciou seu funcionamento com a responsabilidade de elaborar o regimento

interno, o organograma, o quadro de funcionários e todo o trabalho técnico-administrativo

referente às escolas. O regimento interno da COAGRI foi aprovado pela Portaria Ministerial

nº 168, de 24 de fevereiro de 1976, ano em que iniciou suas atividades como órgão autônomo

da administração direta. O Ginásio Agrícola de Urutaí foi uma das escolas administradas pelo

órgão e “na história das instituições escolares aninha-se, de fato, a filosofia educacional da

sociedade que as cria e as mantém” (BUFFA, 2002, p. 26).

Justino Magalhães, doutor em Educação (História da Educação), expõe sobre a

pesquisa de instituições escolares:

Educação, instituição, história da educação são [...] instâncias epistêmicas, substantivas, metodológicas e de investigação-ação, cuja representação, nos planos material e simbólico, e abordagem científica desafiam a uma multidimensionalidade e a uma mutifatorialidade, nos quadros sincrônico e diacrônico (MAGALHÃES, 2004, p.168).

A pesquisa busca construir o conhecimento sobre o Ginásio Agrícola de Urutaí, por

meio da reconstrução do plano de análises, a partir de fontes localizadas no arquivo do atual

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Goiano (IFGoiano) - Campus Urutaí.

Dificuldades enfrentadas pelo Ginásio Agrícola de Urutaí

O primeiro diretor do Ginásio Agrícola de Urutaí foi José de Souza Neves (1961-1963).

Quando foi afastado da direção, assumiu, então, como interventor, o engenheiro agrônomo

José Ludovico dos Reis (1964-1966) e, em seguida, o veterinário Júlio Brandão de

Albuquerque (1966-1967), que veio transferido do Colégio Agrícola de Pinheiral do Rio de

Janeiro, onde era professor.

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De acordo com o depoimento de Valdomiro Pereira Martins, em julho de 1966, o

Estado de Goiás havia concluído a construção de dois pavilhões (administrativo e

pedagógico) em Rio Verde e os entregara ao Ministério da Agricultura para implementar

cursos na área agropecuária. Na época, o ensino agrícola no país era administrado pela

SEAV, e a superintendente era a professora Wolga Peçanha.

Júlio era amigo da superintendente e, já estando como diretor do Ginásio Agrícola de

Urutaí, foi por ela incumbido de receber os prédios de Rio Verde e providenciar a

implementação do curso ginasial.

Tendo dado início ao curso ginasial agrícola em Rio Verde, cuja aula inaugural

aconteceu no dia 02 de maio de 1967, com 45 alunos internos e 45 semi-internos, Júlio,

usando do conhecimento com a superintendente, pressionou-a a fechar a Urutaí e a transferir

os alunos para Rio Verde, alegando que o sudoeste goiano era uma região mais promissora na

agricultura e pecuária.

O artigo 5º do Decreto nº 62.178, de 25.01.68, assinado pelo Presidente da República

Artur da Costa e Silva e pelo Ministro da Educação Tarso Dutra, afirma que: “São autorizados

a funcionar como colégios o Ginásio Agrícola de Rio Verde, em Goiás [...] e como Centro de

Formação de mão-de-obra [sic] qualificada em pecuária, o Ginásio Agrícola de Urutaí em

Goiás” (BRASIL, 1968).

Imediatamente o Dr. Júlio começou a transferir os alunos para Rio Verde. Os alunos

que cursavam o Ginásio Agrícola em Urutaí e tinham condições financeiras foram para Rio

Verde continuar o curso, e os outros foram para Uberlândia, pois a distância é menor. No

entanto, muitos desistiram do curso e passaram a frequentar o ginasial apenas propedêutico.

Domingos Antônio da Silva assumiu a direção do Ginásio Agrícola de Urutaí em 1967

quando o Dr. Júlio foi para Rio Verde. O funcionário, de acordo com sua pasta localizada nos

Recursos Humanos (RH), prestava serviço à instituição desde os anos de 1940 como artífice

de mecânica. Júlio Brandão de Albuquerque nomeou Domingos Antônio da Silva diretor: “O

Diretor do Ginásio Agrícola de Urutaí, resolve designar o Mestre nível 13 Domingos Antônio

da Silva, para substituí-lo nos seus impedimentos” (PORTARIA Nº 56, 03 de outubro de

1967). Ele ficou responsável por cuidar do patrimônio da instituição e, neste ano, a

instituição não funcionou como uma escola.

A comunidade procurou o deputado Benedito Ferreira, que foi ao MEC e comunicou a

situação. Vicente de Paula Freitas Nascimento (1968-1970), desta maneira, assumiu a direção

da instituição, que estava funcionando como Centro de Formação de Mão de Obra em

Pecuária (CEMOP). Nos anos de 1968 e 1969, a instituição ofereceu apenas curso técnico de

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curta duração. Ao sair da direção do Ginásio Agrícola de Urutaí, em 1970, esta já funcionava

como Ginásio Agrícola de Urutaí, pois o diretor Vicente de Paula Freitas Nascimento abriu a

primeira turma do curso ginasial novamente e agradeceu a Domingos Antônio da Silva pelo

apoio recebido.

Ao sairmos da Direção do Ginásio Agrícola de Urutaí, queremos agradecer a V. Sa, pelos bons serviços prestados. Se essa diretoria conseguiu realizar algo de proveitoso para o engrandecimento deste Ginásio V.sa tem parcela relevante. A execução de nossos trabalhos não seria possível, se não contássemos com sua boa vontade e alto senso de responsabilidade (OFÍCIO DE AGRADECIMENTO, S/Nº, 24 de novembro de 1970).

Divino Ribeiro do Prado acentua que o Dr. Júlio Brandão de Albuquerque transferiu

todos os alunos para Rio Verde e, junto com os alunos, toda a documentação da secretaria,

daí a dificuldade em recuperar este período da história. Estes documentos não voltaram de

Rio Verde, e a instituição recuperou sua condição de Ginásio Agrícola, em 1970. José Leal de

Fontes (1970-1971), farmacêutico com registro para trabalhar como professor de Biologia,

dirigiu o Ginásio Agrícola de Urutaí até a chegada da professora Sônia Xavier de Carvalho

(1972-1974), que ficou na instituição por dois anos e, em seguida, pediu transferência.

Assumiu a direção o professor licenciado em Ciências Agrárias e com formação em Direito,

Emanuel Medeiros Costa (1974-1975) e, neste mesmo ano, tomou posse o professor Fausto

Teixeira (1975) e Júlio Marcos de Araújo, do DDEM do MEC, como responsável pela direção.

Francisco Aldivino Gonçalves (1975-1980) foi convidado a assumir a direção do Ginásio

Agrícola de Urutaí pelo então delegado do MEC em Goiás, Sr. Roberto Kafuri, que apresentou

ao diretor geral do DEM do MEC o coronel Sérgio Pasquali, que explicou a situação do

Ginásio Agrícola de Urutaí de forma breve:

Perguntou se eu “toparia” dirigir um Ginásio Agrícola perto de Goiânia, em Urutaí. Disse-me que em apenas um ano (1974), já havia dirigido o Ginásio, 04 diretores, mas que não deram certo. O Ginásio era problemático, com desvio de materiais e mesmo de gado, que a maioria dos servidores eram parentes, etc. Perguntou se eu aceitaria o desafio, respondi que sim desde que tivesse o apoio do MEC. O coronel disse que teria todo apoio, para colocar a instituição nos devidos “trilhos” (GONÇALVES, 2015).

Gonçalves enfrentou os problemas com austeridade, mas conseguiu superar os

problemas da instituição com o apoio do MEC. No período compreendido entre 1970 a 1974,

o ensino agrícola federal atravessou séria crise, tendo sido reduzido a um grupo de trabalho

de Dinamização do Ensino Agrícola (GT- DEA), composto por aproximadamente 13

membros.

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A atuação do DEA orientou-se no sentido de reformular a filosofia do ensino agrícola,

sendo implantada, então, a metodologia do sistema Escola-Fazenda, um sistema que se

fundamentava principalmente no desenvolvimento das habilidades, destrezas e experiências

indispensáveis para que houvesse a fixação dos conhecimentos adquiridos nas aulas teóricas.

Além disso, o sistema Escola-Fazenda era uma escola dinâmica que educava integralmente,

porque familiarizava o educando por meio de atividades que o preparassem para a realidade,

vivenciando os problemas da agropecuária e conscientizando-o, ainda, de suas

responsabilidades e possibilidades. Assim, o sistema aplicava o princípio: “aprender a fazer e

fazer para aprender”.

O curso de mestre agrícola

O Ginásio Agrícola de Urutaí ofereceu, no período em estudo, o curso de mestre

agrícola. A análise do curso foi feita pelo livro de registro de diplomas, pelos diários e pelas

pastas dos alunos localizados no arquivo do atual IFGoiano - Câmpus Urutaí.

O Ginásio Agrícola de Urutaí voltou a oferecer o curso de mestre agrícola no ano de

1970, sob a direção de Vicente de Paula Freitas Nascimento. Em 1970, iniciou-se a primeira

turma do curso de mestre agrícola, após a reabertura do Ginásio Agrícola de Urutaí. No ano

de 1973, houve a formatura de 14 mestres agrícolas e, em 1974, esse número aumentou para

36, e assim sucessivamente, até 1978, quando a última turma do curso de mestre agrícola da

instituição concluiu o curso. Neste mesmo ano, se iniciou a primeira turma do curso de

Técnico em Agropecuária e, em 1979, a instituição passou a funcionar como Escola

Agrotécnica Federal de Urutaí, de acordo com o Decreto nº 83.9352, de 04 de setembro de

1979.

A instituição em estudo, ao longo de sua história, passou por diferentes fases, devido às

reformas do ensino técnico empreendidas no Brasil.

En las reformas empreendidas em los dos últimos decênios, las inevitables alusiones a la necesidad de adecuar el sistema educativo a las exigências de la Ilamada sociedade del conocimiento y de la información, al igual que hasta no hace mucho se aludía – y se sigue aludiendo – a la necesidad de adecuar dicho sistema a las demandas del mundo laboral y productivo. Todo esto, junto com la relación existente entre câmbios sociales y reformas educativas, forma parte del ritual y de la retórica de las mismas (VIÑAO FRAGO, 2006, p. 84).

2 As escolas agrícolas passaram a ter a denominação de escolas agrotécnicas federais, acompanhadas do nome do município onde se encontravam localizadas.

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As reformas no ensino técnico proporcionaram diferentes formatos de cursos na

instituição, mas com um ponto de convergência: o ensino voltado para a agropecuária

desenvolveu, assim, uma cultura escolar agrícola.

Figura 1 – Histórico do Curso de mestre agrícola. Fonte: Arquivo do IFGoiano - Campus Urutaí.

O exame de admissão aparece na parte superior do histórico com as respectivas notas

nas disciplinas de Português, Matemática e Conhecimentos Gerais, sendo a média das três

disciplinas avaliadas no exame. Por meio do Decreto nº 19.890/31, como parte da Reforma

Campos, os exames de admissão ao ginásio tornaram-se obrigatórios em todas as escolas

secundárias oficiais do Brasil, sendo extintos somente com a Lei nº 5692/71. Esses exames

marcaram um período histórico de ampliação do acesso ao ensino primário e restrição ao

ensino secundário.

O aluno iniciou e concluiu o curso ginasial no Ginásio Agrícola de Urutaí, mas

encontrei alunos que não cursaram todo o curso na instituição. Os alunos que vieram

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transferidos de outros ginásios realizavam exames de adaptação para se adequarem ao

currículo da instituição.

Figura 2 – Histórico do Ginásio Agrícola de Urutaí. Fonte: IFGoiano - Câmpus Urutaí.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases de Educação (LDB) de 1961, era permitida aos

educandos a transferência de um curso de ensino médio para outro mediante adaptação. O

Ginásio Agrícola de Urutaí organizava as bancas de provas referentes às disciplinas que os

alunos não haviam cursado nos ginásios que frequentaram anteriormente e registrava-as em

ata.

No dia 02 de outubro de 1973, foram organizadas duas bancas para exame de

adaptação à primeira, referente às disciplinas de Educação Artística e Vocacional Agrícola,

tendo como membros os professores Renato Borgman (presidente), José de Oliveira Campos

e Geraldo Silva Nascimento (membros). Nesta banca, 39 alunos realizaram as provas com o

seguinte resultado:

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TABELA 1 FREQUÊNCIA DE NOTAS NO EXAME DE ADAPTAÇÃO

DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA

NOTAS FREQUÊNCIA

50 ├── 60 5

60 ├── 70 2

70 ├── 80 4

80 ├── 90 12

90 ├── 100 16

Fonte: Dados coletados pela autora no livro de Ata de Exame de Adaptação Arquivo do IFGoiano - Câmpus Urutaí.

TABELA 2 FREQUÊNCIA DE NOTAS NO EXAME DE ADAPTAÇÃO

DA DISCIPLINA DE VOCACIONAL AGRÍCOLA

NOTAS FREQUÊNCIA

50 ├── 60 8

60 ├── 70 4

70 ├── 80 10

80 ├── 90 11

90 ├── 100 6

Fonte: Dados coletados pela autora no livro de Ata de Exame de Adaptação Arquivo do IFGoiano - Campus Urutaí.

Na mesma data, realizou-se outra banca com os mesmos membros da banca das

disciplinas de Educação Artística e Vocacional Agrícola para cinco alunos referente às

disciplinas de Mecanização Agrícola, Zootecnia e Agricultura. Dos alunos da disciplina de

Mecanização Agrícola, um obteve nota 75, um atingiu nota 80 e três alcançaram nota 90. Na

disciplina de Zootecnia, um conseguiu nota 50, dois nota 60, um nota 80 e um nota 85. Na

disciplina de Agricultura, dois atingiram nota 60 e três obtiveram nota 65.

No ano de 1974, houve nova banca para exames de adaptação das disciplinas de

Educação Artística e Vocacional Agrícola. Dos alunos, dezesseis fizeram provas de Educação

Artística e 14 fizeram provas de Vocacional Agrícola.

O número elevado de exames de adaptação na disciplina de Educação Artística

despertou certa curiosidade, pois a disciplina é referente à cultura geral, ou seja, os outros

ginásios também ofereciam a disciplina. Os diários possibilitaram a compreensão, e os

professores trabalhavam conteúdos referentes à agricultura e à pecuária, como revela o

diário.

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Distância das árvores frutíferas, cálculos de figuras geométricas, espaçamento para hortaliças, processos de alinhamentos para canteiro de alface, solos indicados para hortaliças, sementes indicadas, sementeiras, transplante, plantio direto, desbaste, rotação de culturas, pintura simples, pintura em madeira, metal e parede, preparo de superfície para pintura, processo para curtir couro de animais de grande porte (DIÁRIO DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA, 2ª SÉRIE DO CURSO GINASIAL AGRÍCOLA, 1972).

Os exames de adaptação permitiam a entrada de alunos na instituição em qualquer

série do curso, oferecendo oportunidade àqueles que não tiveram a chance de frequentar a

instituição desde o inicio do curso ginasial. Porém, considero que apenas uma avaliação não

preenche a falta da disciplina, especialmente as disciplinas técnicas, e o discente, ao concluir

o ginásio, recebia o diploma de mestre agrícola, podendo exercer a profissão.

Os exames de adaptação foram mantidos na instituição em todo o curso ginasial. A

última ata de exame de adaptação é de 07 de novembro de 1977 e, no ano seguinte, iniciou-se

a primeira turma do curso Técnico em Agropecuária, sendo que, para esse curso de 2º grau,

não eram permitidos os exames de adaptação.

As disciplinas do Ginásio Agrícola de Urutaí: sua capacidade de produzir cultura escolar

No arquivo da instituição, foram localizados os diários de classe que permitiram

analisar o conteúdo estudado na instituição. As disciplinas de cultura geral trabalhadas no

Ginásio Agrícola de Urutaí foram: Português, Inglês, Matemática, Ciências, História,

Geografia, Moral e Cívica, Desenho e Educação Artística. Estas foram as disciplinas de

cultura especial: Vocacional Agrícola, Mecânica Agrícola, Agricultura, Zootecnia e Indústrias

Rurais.

As disciplinas estudadas no Ginásio Agrícola atendiam às exigências da sociedade da

época, dentre elas Moral e Cívica. Com sua obrigatoriedade, a partir de 1969, a educação

Moral e Cívica passou a ser uma disciplina escolar presente nos currículos escolares. Para

Filgueiras (2006):

Os militares utilizaram a educação de forma estratégica, controlando-a política e ideologicamente. A concepção de educação do regime militar estava centrada na formação de capital humano, em atendimento às necessidades do mercado e da produção. A escola era considerada uma das grandes difusoras da nova mentalidade a ser inculcada - da formação de um espírito nacional. A reforma do ensino propôs um modelo de socialização, que tinha como estratégia educar as crianças e os jovens nos valores e no universo moral conformando os comportamentos do homem, da mulher e o vínculo familiar (FILGUEIRAS, 2006, p. 3397).

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Sob a égide da Doutrina da Segurança nacional, o estado militar baseava-se no

desenvolvimento econômico do país. Para isso, houve a necessidade de se investir na escola,

que seria uma das instituições responsáveis por doutrinar os cidadãos de acordo com os

objetivos do governo. Para a disciplina Moral e Cívica, no Ginásio Agrícola de Urutaí, de

acordo com os diários, foram trabalhados temas como: “símbolos nacionais, a dependência

do homem, direitos e deveres, civismo, cidadania, relações humanas, família, nacionalidade,

recuperação de nacionalidade” (DIÁRIO DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO MORAL E

CÍVICA, 1ª SÉRIE DO GINASIAL AGRÍCOLA).

As disciplinas da área especial tinham como objetivo formar mão de obra qualificada

para que o país pudesse crescer. Nos diários é possível constatar:

Raças e melhoramento, cabeça, tronco, membros anteriores, gado zebu, tolerância do gado zebu ao calor, resistência do zebu aos parasitas, influência do zebu no melhoramento da pecuária nacional, cruzamento com gado mateiro, cruzamento com raças europeias, explanação sobre o Sistema Escola Fazenda, registro e fundação da cooperativa, profilaxia animal, cuidados e técnicas para aplicação de vacinas contra febre aftosa, fatores que influenciam na profilaxia animal (clima e salubridade), manejo, higiene e alimentação, combate parasitas, vitaminas e forragens na alimentação, aula prática sobre retenção de placenta e tratamento, silo e sua classificação, técnicas para construção de silo, cuidados com recém-nascidos, injeções (intramuscular, subcutânea, endovenosa e intradérmica) manejo da seringa, aula prática de vacinação de bezerros contra carbúnculo, noções de hereditariedade, fenótipo e genótipo, aula prática sobre rações balanceadas (DIÁRIO DA DISCIPLINA DE ZOOTECNIA, 3ª SÉRIE DO GINASIAL AGRÍCOLA, 1972).

Principais propriedades físicas (textura, estrutura) do solo, matéria orgânica, produtividade dos solos, fertilidade dos solos, condições de fertilidade e produtividade, erosão do solo agrícola, agricultura extensiva e intensiva, medidas para manter e melhorar a capacidade produtiva do solo, eliminação e controle das queimadas, rotação de culturas, adubação verde, métodos vegetativos, curvas de nível, terraceamento, elementos nutritivos ao solo, aula prática de retirar amostras de solo (DIÁRIO DA DISCIPLINA DE AGRICULTURA, 3ª SÉRIE DO GINASIAL AGRÍCOLA, 1972).

Tempos do motor, máquinas agrícolas, conservação das máquinas agrícolas, vantagens das máquinas agrícolas, máquinas de semeadura, trator na agricultura, como escolher um trator de acordo com área, condições para aração, barragens, terraços com métodos mecânicos (DIÁRIO DA DISCIPLINA DE MECÂNICA AGRÍCOLA, 3ª SÉRIE DO GINASIAL AGRÍCOLA, 1972).

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Alimentos, calorias, leite, cuidados com o leite, histórico composição dos alimentos, formação de fungos, processo apertt de conservação de alimentos, conserva, agentes de alterações de alimentos, conservação pelo calor, banho maria, operações para industrialização de legumes, conservação de feijão verde, conservação de tomates, fermentos, toxinas, geleias, goiabada, marmelada, conservação pelo sol e vento, secagem de alimentos em estufas, secagem da carne (DIÁRIO DA DISCIPLINA INDÚSTRIAS RURAIS, 4ª SÉRIE DO GINASIAL AGRÍCOLA, 1973).

As disciplinas e os conteúdos estudados no Ginásio Agrícola de Urutaí produziram uma

cultura escolar própria com os atores e a estrutura física, que foi única e fez parte de sua

história.

Las disciplinas, matérias o asignaturas son una de las creaciones más genuínas de la cultura escolar. Muestran su poder creativo. Poseen, además, su propia historia. No son, pues, entidades abstractas com uma esencia universal y estática. Nacen y evolucionan. Se tranforman o desaparecen, se desgajan y se unen, se rechazan y se absorben (VIÑAO FRAGO, 2006, p. 75).

Pensando nas relações entre sociedade e escola, é preciso considerar as necessidades

sociais da época. O Ginásio Agrícola de Urutaí atendeu de acordo com as condições que

possuía, pois, quanto à historiografia da educação, é necessário “fazer esse movimento

permanente e rigoroso entre o particular e o geral” (NORONHA, 2007, p. 172).

Funcionários do Ginásio Agrícola de Urutaí

Localizei, no arquivo de Recursos Humanos do IFGoiano - Câmpus Urutaí, um livro

com os contratos de trabalhos dos funcionários da instituição. Os professores e funcionários

administrativos eram contratados de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O Ginásio Agrícola de Urutaí, até 1975, possuía oito professores.

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QUADRO 1 PROFESSORES DO GINÁSIO AGRÍCOLA DE URUTAÍ

PROFESSORES DATA DE

CONTRATAÇÃO DISCIPLINA SALÁRIO

Ana Cardoso da Silva 01/10/1973 Moral e Cívica e Desenho Cr$ 1.087,00

Anatália Mesquita 01/10/1973 História e Geografia Cr$ 1.334,00

Divino Ribeiro do Prado 01/10/1973 Inglês Cr$ 1.235,00

Geraldo Silva Nascimento 01/10/1973 Agricultura/Educação Física –

Resp. Setor Agricultura Cr$ 4.446,00

José Bernardino da Costa 01/10/1973 Português Cr$ 2.223,00

José de Oliveira Campos 01/10/1973 Zootecnia e Vocacional Agrícola-

Resp. Setor Zootecnia Cr$ 4.446,00

Nelson Marra de Oliveira 01/09/1974 Matemática Cr$ 2.223,00

Renato Borgmann 01/10/1973 Mecânica Agrícola/Indústrias

Rurais/ Educ. Artística Cr$ 4.446,00

Simone Chaveiro Maseti 01/10/1973 Ciências Cr$ 1.334,00

Fonte: Dados coletados pela autora no livro de Registro de Empregados Arquivo de Recursos Humanos do IFGoiano - Câmpus Urutaí.

No livro não consta formação dos referidos docentes, porém é visível a diferença

salarial entre homens e mulheres. Para o cargo de colaborador de ensino, foi contratado

Natal de Jesus Medeiros dos Santos, em 1973, com um salário de C$ 10,00 a hora trabalhada.

Como trabalhava 40 horas semanais, seu salário era de C$ 1.600,00; para o mesmo cargo,

contratou-se Maria José Sá de Mesquita, em 1974, por C$ 800,00 mensais.

Os professores responsáveis pelos setores da cultura técnica da instituição recebiam o

dobro do salário dos professores da cultura geral da instituição. Todavia, tendo os setores

como responsabilidade, eles tinham que promover meios para produzir alimentos na

instituição e, deste modo, abastecer o economato3. Contudo, todos os professores tinham

tarefas que se caracterizavam por:

La presión y obligaciones derivadas de las responsabilidades que le vienen fijadas, em plazos temporalmente prescritos, desde el exterior; por ejemplo, em relación com el cumplimiento de unos objetivos curriculares o la enseñanza de unos programas determinados. Uma presión y unas obligaciones intensificadas, em el caso de las reformas organizativas y curriculares, por los câmbios, incertidumbres y exigências adicionales que llevan consigo (VIÑAO FRAGO, 2006, p. 91-92).

No ano de 1975, o Ginásio Agrícola de Urutaí possuía 20 funcionários de apoio com

situação definida pela CLT e sete com situação não definida pela CLT. Havia cinco

3 Os alunos do Ginásio Agrícola de Urutaí residiam na instituição e o Ginásio tinha que fornecer alimento e moradia para os discentes.

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professores de Cultura Geral e três de cultura técnica, com situação definida pela CLT, e um

professor com contrato provisório, totalizando 36 funcionários no ano de 1975.

Segundo Magalhães (1996), compreender e explicar a existência de uma instituição

educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade mais ampla, que é o sistema educativo,

contextualizá-la, implicando-a no quadro de evolução de uma comunidade e de uma região.

Por fim, é sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua multidimensionalidade,

conferindo um sentido histórico.

Algumas considerações

Esse estudo permitiu compreender as dificuldades enfrentadas pela instituição no

período em análise. Porém, os membros da escola, juntamente com a comunidade local,

empenharam e enfrentaram o que foi necessário, fazendo com que a instituição vencesse as

dificuldades e continuasse sua trajetória.

Os exames de adaptação marcaram a política educacional da época, que permitiu a

muitos educandos a possibilidade de cursar o curso de mestre agrícola. Mesmo após

iniciarem o curso ginasial em outro ginásio não profissionalizante, pois na época a

informação não era acessível, muitos alunos tomaram conhecimento sobre a instituição, que

fica na zona rural sem acesso aos meios de transporte, após iniciarem seus estudos em outras

instituições. Considero o acesso à instituição por meio dos exames de adaptação uma política

a todos.

A cultura escolar agrícola é visível por meio das práticas desenvolvidas nas aulas

teóricas e práticas da instituição, o que vincula à educação profissional do Ginásio Agrícola a

política de educação agrícola no Brasil no início dos anos de 1970.

Referências

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