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V SEMINÁRIO DE INVERNO XI SEMINÁRIO INSTITUCIONAL PIBID UFRGS O trabalho interdisciplinar, dores e delícias Gisele Secco Departamento de Filosofia

Gisele Secco Departamento de Filosofia · (2) Articular os conteúdos da disciplina em jogo com a área de conhecimento a que pertença, estabelecendo conexões também com as demais

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Page 1: Gisele Secco Departamento de Filosofia · (2) Articular os conteúdos da disciplina em jogo com a área de conhecimento a que pertença, estabelecendo conexões também com as demais

V S E M I N Á R I O D E I N V E R N O X I S E M I N Á R I O I N S T I T U C I O N A L P I B I D U F R G S

O trabalho interdisciplinar, dores e delícias

Gisele Secco Departamento de Filosofia

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“Experimento didático”, entretanto, pode conter alguma ambiguidade:

-  “Experimento” no sentido exploratório (para descobrir algo, confirmar ou refutar uma hipótese ou teoria; para criar um personagem, uma coreografia, ou qualquer obra artística);

-  “Experimento” no sentido “didático” – como quando um professor de Química realiza um experimento com seus alunos já sabendo o resultado;

Relato de nossos primeiros passos como um

“experimento didático”, somente possível por

causa da colaboração generosa e paciente entre

colegas de toda sorte (coordenadores,

supervisores, bolsistas).

2014

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E.T.E.S. Ernesto Dornelles

Alguns resultados (trabalho da Dandara como

exemplo) e atualizações;

Leituras interdisciplinares;

Alguns desafios;

Perspectivas.

2015

Seminários integrados (Leitura, escrita, argumentação,

“Hora da ciência”)

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Colégio de Aplicação da UFRGS

2015

Disciplina eletiva “Heróis em quadrinhos – leituras interdisciplinares”

(Leitura, escrita, ciências, criação de HQs)

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Leituras interdisciplinares

•  A partir do comum acordo entre os coordenadores sobre a necessidade de trocas conceituais e teóricas sobre as noções de inter e transdisciplinaridade, e seus correlatos, iniciou-se em 2015 um grupo de leituras interdisciplinares;

•  Iniciamos com a leitura de um texto da epistemóloga portuguesa Olga Pombo, “A epistemologia da interdisciplinaridade” (2008);

•  A seguir, foram analisadas as matrizes de referência do ENEM, buscando desenhar os cruzamentos possíveis das competências e habilidades não somente intra áreas do conhecimento, mas também inter áreas;

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Leituras interdisciplinares

•  A dinâmica do grupo de leituras está sendo engendrada conforme ocorre (mesclando leituras de cunho mais teórico com leituras de documentos orientadores de práticas didáticas);

•  Ela já resultou em uma atividade de formação de professores, realizada pela Prof.ª Umbelina Barreto na E.T.E.S. Ernesto Dornelles;

•  Na tradução de dois textos fundacionais de Jean Piaget, realizada pela Prof. Sandra Louguercio, do PIBID Francês (“A epistemologia das relações interdisciplinares” e "A metodologia das relações interdisciplinares") – que serão estudados no segundo semestre de 2015;

•  Na preparação, em andamento, de outra atividade de formação de professores por parte do PIBID InterVale, a ser realizada em 2016/I.

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•  Do desafio caracterizado pela Prof.ª Teka como o de “fazer o que ninguém sabe muito bem o que é” – ou, poderíamos dizer, fazer o que muitos fazem de modo muito diferentes, mas chamando da mesma coisa;

•  Da demanda oficial (da LDB aos RCs) por ações integradas, interdisciplinares, transversais e afins, combinada com certo “desamparo conceitual”;

•  Do fato de que as licenciaturas não preparam professores aptos a suprir esta demanda e mitigar o tal desamparo;

•  Do fato de que os documentos oficiais não mostram muita clareza conceitual sobre como realizar ações interdisciplinares;

•  Da variedade de leituras que se tem sobre o assunto e da necessidade de conversar sobre elas.

De onde veio o comum acordo?

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Um exemplo do “desamparo conceitual”

(1) Explicitar claramente, no manual do professor, a perspectiva interdisciplinar explorada pela obra, bem com indicar formas individuais e coletivas de planejar, desenvolver e avaliar projetos interdisciplinares;

(2) Articular os conteúdos da disciplina em jogo com a área de conhecimento a que pertença, estabelecendo conexões também com as demais áreas e com a realidade;

(3) Propor atividades que articulem diferentes disciplinas, aprofundando as possibilidades de abordagem e compreensão de questões relevantes para o alunado do ensino médio.

(Edital PNLD 2015, pp. 41-2 )

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Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao

mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas restringe-se a ela, está a serviço dela.

A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a parte e o todo, entre o todo e a parte (...) O desenvolvimento da capacidade de articular diferentes referências de dimensões da pessoa humana, de seus direitos, e do mundo é

fundamento básico da transdisciplinaridade (...) A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de métodos de uma disciplina para

outra. Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar.

(DCN, p. 28, grifos meus)

Outro exemplo do “desamparo conceitual”

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Leituras interdisciplinares – algumas distinções

“Interdisciplinaridade”

Expressão gasta e “multifuncional”, que ocorre em ao menos três contextos:

-  Epistemológico-  Pedagógico-  Mediático-  Empresarial ou tecnológico

“Disciplina”

•  Como ramo do saber•  Como componente curricular•  Como conjunto de normas

Algumas críticas à fragmentação do conhecimento, que acabam sugerindo a

interdisciplinaridade como fusão das disciplinas em ambiente escolar, se apoiam

em uma confusão entre estes sentidos da expressão – que certamente se associam,

embora não diretamente.A nosso ver, não se pode subestimar a

importância das disciplinas, seus conteúdos e habilidades próprias.

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Leituras interdisciplinares – algumas distinções

Importação – quando, para dar conta de um fenômeno que pretende estudar, uma disciplina incorpora recursos linguísticos e metodológicos de outras; [O que as DCNEM chamam de “transferência de métodos”, bastante improvável no currículo da escola básica e

fonte de insegurança docente.]

Cruzamento – quando, no interior de uma disciplina, surgem problemas que só podem ser resolvidos desde a perspectiva de outra(s);

[O que Ronai Rocha chama de “transversalidade pedestre”, quando se trata de cruzamentos disciplinares no currículo escolar.]

Convergência – quando da análise de um objeto comum surge a necessidade de muitas disciplinas coordenadas;

[Nosso tratamento da fotografia, relatado pela Dandara, é um exemplo.]

Descentração – exigida quando se trata de analisar um fenômeno muito complexo qualitativa e quantitativamente, como o funcionamento de florestas, através da formação de redes de pesquisa “policentradas”;

(POMBO, 2008, p. 28)

Sobre as “práticas de cruzamento interdisciplinar”:

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Leituras interdisciplinares – algumas distinções

Algumas imagens (POMBO, 2008)

Ainda que existam muitas outras compreensões para cada um dos termos (pluri, inter, trans…), entendemos que a abordagem de Pombo oferece um amparo conceitual minimamente claro para que

pensemos nossas práticas didáticas cotidianas, buscando novas interações, mais ou menos rizomáticas, entre nossas disciplinas (no sentido de componente curricular).

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As possíveis conexões entre temas, conceitos e problemas de diferentes disciplinas escolares/componentes curriculares.

As possíveis conexões entre objetos e métodos de

diferentes disciplinas em seu ambiente de investigação extra-escolar, pesquisas de ponta etc..

Leituras interdisciplinares – algumas distinções

Contexto epistemológico

Contexto pedagógico

Práticas de cruzamento e convergência

Práticas de importação, cruzamento, convergência e descentração

Paralelismo e perspectivismo Paralelismo, perspectivismo e unificação

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Alguns desafios das práticas interdisciplinares

Na universidade

•  Mais do que o problema da fragmentação dos saberes, parece que o desafio central é estabelecer boas relações de diálogo entre unidades e pessoas, de modo a alcançar maior organicidade na formação de professores;•  Nem sempre conseguimos articular as diferentes perspectivas de leitura (da conjuntura e mesmo teóricas), o que é normal em grande medida, mas pode ser melhorado;•  Com as mudanças previstas pelo PNE, aumentando as horas “práticas” das licenciaturas, um tal diálogo se torna ainda mais necessário, sob pena de fracasso ou desperdício das iniciativas de qualificação docente realizadas nos últimos anos no Brasil.

Na escola •  Há problemas similares aos da universidade, mas a sensação de desamparo conceitual e pragmático* é maior, pois as iniciativas de formação continuada nem sempre suprem as necessidades formacionais dos professores em atividade – principalmente por não haver diálogo efetivo entre o professorado da escola básica e as instâncias responsáveis pelas ações de formação;

•  Nem sempre há disposição para mudanças em antigas práticas;

•  Por outro lado, programas como o PIBID, o FORPROF e demais, tem sido um estímulo bastante sudável na direção de melhoramentos significativos na formação dos docentes de hoje e de amanhã.

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Alguns desafios das práticas interdisciplinares

De nossa parte (PIBID InterVale), estamos elaborando uma ação de formação mais ou menos nos moldes daquela proposta da coordenação institucional (os grandes projetos interdisciplinares);

A ideia desta ação surgiu em conversa com alguns professores da escola (ED);

A partir da constatação da necessidade de antecipar os conteúdos de Biologia vinculados ao tema da reprodução humana (do terceiro para o primeiro ano do EM) – necessidade derivada da cada vez mais precoce sexualização dos adolescentes – pensamos em articular nossas experiências didáticas com o arcabouço conceitual que estamos adquirindo com nossas leituras;

O que temos até agora são as seguintes ideias, que lhes apresento a título de ensaio, de tentativa, para submete-las a seu escrutínio crítico/construtivo nos seguintes “rascunhos”:

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Áreas e disciplinas do currículo do EM

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Perguntas orientadoras:

•  Como o conceito de atração é introduzido e abordado por cada componente?

•  Quais são os conteúdos e habilidades de cada componente que se relacionam mais diretamente com este conceito?

•  Como tais conteúdos podem ser articulados de maneira perspectivista (tanto entre componentes da mesma área como entre componentes de áreas distintas)?

•  Quais são as semelhanças e diferenças conceituais mais significativas que podemos mapear entre as diferentes perspectivas disciplinares?

•  Como relacionar esta abordgem perspectivista com o mundo vivido dos adolescentes?

Conceito transversal: atração Práticas: cruzamento e convergência Relações: paralelismo e perspectivismo

Componetes curriculares envolvidos (até o momento): Biologia, Ciências Sociais, Filosofia, Física, Letras, Matemática, Química

Tema: Sexualidade

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RASCUNHO I

Apesar de haverem quatro “forças fundamentais” na natureza, focaremos em apenas duas: a gravitacional (sempre atrativa) e eletrostática (que pode ser atrativa ou repulsiva).

Outra abordagem possível se relaciona com a História da ciência, pois parece que Era comum na época de Newton utilizar os termos “simpatia” e “antipatia” para se referir às forças da natureza, o que pode permitir um gancho com estas noções no universo humano…

Que tipo de conhecimento simbólico ou matemático está em jogo nos cálculos destas forças naturais?O que precisamos saber de matemática paraentender as relações em questão na explicação destas forças? Como se construiu (histórica

e socialmente) o tipo de conhecimento expresso pelas leis da física em questão?

O que é “estar atraído” por alguém ou alguma coisa?

É diferente ser atraído por pessoas, coisas,

lugares eações (comportamentos)?Podemos escolher por quem

ou o que nos atrair?

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RASCUNHO II

O que acontce com nosso corpo (do ponto de vista químico e biológico) quando nos atraímos fortemente por alguém? Criações artísticas e o tema da

atração (em suas variantes): um campo riquíssimo.

As ciências naturais e asas atividades físicas: relações de explicação e intereção.

Como diferentes sociedades lidam com os “mecanismos” de atração e repulsa entre seres humanos, entre humanos e animais não-humanos, entre humanos e seus espaços vitais?

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Dores e delícias?

Em um texto de 1957, “A crise na educação”, a filósofa Hannah Arendt afirma que o essencial do problema de que trata seu artigo é o fato de que os seres humanos nascem no mundo:* “O que nos diz respeito a todos e, consequentemente, não pode ser confiado à pedagogia enquanto

ciência especializada, é a relação entre adultos e crianças em geral ou, em termos ainda mais gerais e exatos, a nossa relação com o facto da natalidade: o facto de que todos chegamos ao mundo pelo

nascimento e que é pelo nascimento que este mundo constantemente se renova. A educação é assim o ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir responsabilidade por ele e, mais ainda, para o salvar da ruína que seria inevitável sem a renovação, sem a chegada dos novos e dos jovens. A educação é também o lugar em que se decide se se amam suficientemente as nossas

crianças para não as expulsar do nosso mundo deixando-as entregues a si próprias, para não lhes retirar a possibilidade de realizar qualquer coisa de novo, qualquer coisa que não tínhamos previsto, para, ao invés, antecipadamente as preparar para a tarefa de renovação de um mundo comum.”

A interdisciplinaridade, tarefa que se impõe a todos nós, também está nascendo, em cada ação

didática que ensaiamos articular com os colegas de outras áreas. Que hajam dores e delícias, não deve ser motivo de espanto.

Afinal, estamos concebendo e partejando novidades.

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REFERÊNCIAS

ARENDT, H. “A crise na educação”. Entre o passado e o futuro. Tradução Mauro W. Barbosa. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. – Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. ______. Edital 01/2013 PNLD 2015. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Secretaria da Educação Básica. PIAGET, J. “A metodologia das relações interdisciplinares”. -------------. "A metodologia das relações interdisciplinares". POMBO, O. “Epistemologia da interdisciplinaridade”. Revista do Centro de Educação de Letras da Unioeste – Campus de Foz do Iguaçu, vol. 10, n. 1, pp. 9-40. ROCHA, R.P. da. Ensino de filosofia e currículo. 2ª Ed. Santa Maria: Editora da UFSM, 2015.