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1 GLICOSÍDEOS ANTRACÊNICOS - ANTRAQUINONAS As antraquinonas são compostos orgânicos derivados do antraceno, formados a partir da oxidação de fenóis. Fazem parte, juntamente com as benzoquinonas e naftoquinonas, do grupo das quinonas. Sua principal característica é a presença de dois grupos carboxílicos que formam um sistema conjugado com pelo menos duas duplas ligações C-C. Encontram-se na literatura também outras denominações para as antraquinonas, como antranóides, derivados antracênicos ou hidroxiantracênicos. As antronas e os antranóis são os primeiros derivados antranóides que se formam nas plantas, e possuem função oxigenada apenas em C-9. Se uma antrona sofrer oxidação irá formar antraquinona e se sofrer redução irá produzir um antranol (figura abaixo). Quanto maior o grau de redução mais potente é o composto quanto à sua atividade, por isso podemos dizer, quanto à potência, que: antranol > antrona > antraquinona. Os derivados contidos nas drogas vegetais secas apresentam-se geralmente num estado mais oxidado do que as substâncias desse grupo presentes originalmente na planta fresca. Por este motivo deve-se usar o chá da planta seca, para não sofrer com efeitos indesejados dos componentes da planta fresca, como diarréia e cólicas intensas. Após a formação do núcleo fundamental da antraquinona, ocorre a conjugação do resíduo sacarídico à aglicona, formando o glicosídeo antraquinônico. Tais como os demais glicosídeos, os antraquinônicos podem apresentar-se como O-glicosídeos ou como C-glicosídeos, dependendo do local da ligação às moléculas de açúcar. Propriedades físico-químicas Como visto anteriormente, as antraquinonas podem estar ligadas a glicídios (na forma de glicosídeos antraquinônicos) ou livres (agliconas ou geninas). As geninas dos derivados antracênicos possuem algumas particularidades em suas moléculas, sendo característico: Hidroxilas em C-1 e C-8 (responsáveis pela ação laxante); Grupos cetônicos em C-9 e C-10; Substituintes metila, hidroximetila ou carboxila em C-3 (R2) e em C-6 (R1); Gliconas (açúcares) em C-1, C-8 ou C-6.

GLICOSÍDE

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GLICOSÍDEOS ANTRACÊNICOS - ANTRAQUINONAS

As antraquinonas são compostos orgânicos derivados do antraceno, formados a partir da oxidação de fenóis. Fazem parte, juntamente com as benzoquinonas e naftoquinonas, do grupo das quinonas. Sua principal característica é a presença de dois grupos carboxílicos que formam um sistema conjugado com pelo menos duas duplas ligações C-C. Encontram-se na literatura também outras denominações para as antraquinonas, como antranóides, derivados antracênicos ou hidroxiantracênicos.

As antronas e os antranóis são os primeiros derivados antranóides que se formam

nas plantas, e possuem função oxigenada apenas em C-9. Se uma antrona sofrer oxidação irá formar antraquinona e se sofrer redução irá produzir um antranol (figura abaixo). Quanto maior o grau de redução mais potente é o composto quanto à sua atividade, por isso podemos dizer, quanto à potência, que: antranol > antrona > antraquinona.

Os derivados contidos nas drogas vegetais secas apresentam-se geralmente num

estado mais oxidado do que as substâncias desse grupo presentes originalmente na planta fresca. Por este motivo deve-se usar o chá da planta seca, para não sofrer com efeitos indesejados dos componentes da planta fresca, como diarréia e cólicas intensas.

Após a formação do núcleo fundamental da antraquinona, ocorre a conjugação do resíduo sacarídico à aglicona, formando o glicosídeo antraquinônico. Tais como os demais glicosídeos, os antraquinônicos podem apresentar-se como O-glicosídeos ou como C-glicosídeos, dependendo do local da ligação às moléculas de açúcar. Propriedades físico-químicas

Como visto anteriormente, as antraquinonas podem estar ligadas a glicídios (na forma de glicosídeos antraquinônicos) ou livres (agliconas ou geninas). As geninas dos derivados antracênicos possuem algumas particularidades em suas moléculas, sendo característico:

• Hidroxilas em C-1 e C-8 (responsáveis pela ação laxante); • Grupos cetônicos em C-9 e C-10; • Substituintes metila, hidroximetila ou carboxila em C-3 (R2) e em C-6 (R1); • Gliconas (açúcares) em C-1, C-8 ou C-6.

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Os glicosídeos antraquinônicos se apresentam como cristais amarelos, de sabor

amargo, solúveis em solventes polares e insolúveis em solventes orgânicos apolares. Quando dissolvidos em meio básico formam soluções laranja-avermelhadas (Reação de Bornträger).

As geninas apresentam-se como cristais amarelados, solúveis em solventes

orgânicos apolares e insolúveis em polares (como a água). A presença de glicídios garante uma melhor solubilidade em água devido a grande quantidade de hidroxilas. Métodos extrativos

Para extração dos glicosídeos antraquinônicos devem ser utilizados solventes polares, como a água, ou soluções hidroalcoólicas. Os métodos recomendados são: maceração e percolação. Utilização industrial

Algumas antraquinonas são utilizadas industrialmente como pigmentos ou indicadores de pH, como a naftoquinona (pigmento vermelho). Propriedades terapêuticas A atividade laxativa é a principal responsável pela utilização terapêutica da maioria dos vegetais que contêm antraquinonas, apesar de que muitas plantas têm sua utilização limitada pelos efeitos adversos provocados.

Atualmente, no Brasil, a maioria das especialidades farmacêuticas contendo compostos antraquinônicos, com indicação de laxante, consiste de associações de vários extratos vegetais.

A ação laxativa das antraquinonas é dose-dependente. Após a administração oral, os glicosídeos antraquinônicos, no cólon, são hidrolisados por enzimas produzidas pela flora intestinal, convertendo-se em geninas. Daí então, as geninas produzem o efeito laxativo de três maneiras: (1) estimulam os gânglios parassimpáticos pélvicos, que por sua vez, causam o aumento da peristalse, ou seja, aceleram o trânsito intestinal; (2) promovem a liberação de histamina nas células da mucosa intestinal, o que também incrementa a atividade da musculatura lisa intestinal (ação irritativa) e (3) reduzem a absorção de água e eletrólitos, devido à inibição da bomba Na+/K+ ATPase, fluidificando as fezes, além de estimularem a secreção de muco.

A latência do efeito varia entre 4 e 8 horas após a administração.

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Algumas pesquisas têm revelado que as antraquinonas possuem atividade contra Leishmania sp. e Trypanosoma cruzi, no entanto, devido aos efeitos tóxicos e indesejados ainda não se conseguiu produzir medicamentos antileishmania e antiprotozoário à base de derivados antracênicos. Orientações farmacêuticas Recomendações quanto à utilização de medicamentos contendo extratos vegetais ricos em antraquinonas:

• Não utilizar por períodos prolongados (mais de 10 dias), pois pode ocorrer, diarréias, cólicas, náuseas, vômitos, melanose reto-cólica (escurecimento da mucosa intestinal – reversível com a suspensão do uso), alterações da mucosa e morfologia do reto e cólon (fissuras anais, prolapsos hemorroidais), carcinoma colorretal, distúrbios hidroeletrolíticos, como hipocalemia;

• O uso crônico e abusivo pode causar redução severa do peristaltismo, o que leva,

frequentemente, a um ciclo vicioso; • Evitar o uso concomitante com cardiotônicos digitálicos e diuréticos

hipocalemiantes;

• Não utilizar durante a gravidez e lactação (excretado através do leite materno), nem em crianças.

Drogas vegetais contendo glicosídeos antraquinônicos:

• Babosa - Aloe vera • Cáscara-sagrada - Rhamnus purshiana • Ruibarbo - Rheum palmatum • Sene - Cassia angustifolia

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SENE Nome científico: Cassia angustifolia (Senna alexandrina) Parte utilizada: Folíolos e frutos (vagens) Antraquinona responsável pela atividade farmacológica: Senosídeos (genina = senidina) * Segundo a Farmacopéia Brasileira IV os frutos dessecados devem conter no mínimo, 4% de derivados antracênicos e os folíolos dessecados devem conter, no mínimo, 2,5% de glicosídeos

Atividade farmacológica: Laxante e carminativo

Indicações: constipação intestinal * Embora o sene não tenha ação laxativa tão suave quanto a cáscara-sagrada, provocando cólicas, seu uso é difundido por se tratar de uma matéria-prima vegetal mais barata.

CÁSCARA-SAGRADA Nome científico: Rhamnus purshiana Parte utilizada: Cascas do caule Antraquinona responsável pela atividade farmacológica: Cascarosídeos A, B, C e D. *Os fragmentos das cascas dessecadas dos caules devem ser estocados por no mínimo 1 ano antes de serem liberados para uso. Isto porque a droga vegetal recém coletada contém antronas, podendo provocar fortes vômitos e cólicas intensas nos usuários. Este período de envelhecimento faz com que os compostos sejam oxidados à formas menos irritantes.

Atividade farmacológica: Laxante

Indicações: constipação intestinal

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BABOSA Nome científico: Aloe vera Parte utilizada: Látex dessecado das folhas Antraquinona responsável pela atividade farmacológica: Aloína (Barbaloína) * Para a extração dos glicosídeos antranquinônicos da babosa suas folhas são cortadas e colocadas com a extremidade cortada em recipientes na forma de V para facilitar o escoamento. Em seguida o látex é desidratado. Esse extrato forma uma massa opaca, de cor preto-avermelhada ou marrom escura, de gosto nauseante e amargo. O extrato contendo antraquinonas é totalmente diferente do gel mucilaginoso, obtido por expressão das folhas, utilizado como cicatrizante.

Atividade farmacológica: Laxante

Indicações: constipação intestinal

RUIBARBO Nome científico: Rheum palmatum Parte utilizada: Rizomas Antraquinona responsável pela atividade farmacológica: Emodina, reína, aloe-emodina, crisofanol e fisciona. *Entre outros, contém taninos, que podem induzir à prisão de ventre após a ação laxativa. **Pode ser falsificado por ruibarbo rapôntico (principalmente R. rhaponticum L.) que, além de apresentar teores bem menores de antraquinonas, pode causar problemas renais relatados em casos de intoxicação por folhas de ruibarbo (alto conteúdo de ácido oxálico).

Atividade farmacológica: Laxante

Indicações: constipação intestinal

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Caracterização e identificação

A reação de caracterização – reação de Bornträger – exige certas condições para os compostos testados, como a presença de hidroxilas nas posições 1 e 8 do núcleo antraquinônico. Caso as hidroxilas não estejam “livres” um tratamento hidrolítico se faz necessário. São assim reconhecidos os O-glicosídeos. Além disso, é relativamente comum serem encontrados neste grupo de princípios ativos os C-glicosídeos, que exigem condições mais drásticas para que seja efetuada a hidrólise (deve ser realizada com oxidantes fortes, como solução de cloreto férrico e aquecimento). 1. Reação de Bornträger direta Técnica empregada para detectar a presença de agliconas antraquinônicas, sendo negativa para seus glicosídeos, devido à sua insolubilidade nos solventes apolares, que são o meio da reação. - Pesar 1g da droga vegetal seca pulverizada e colocar em um tubo de ensaio; - Adicionar 4mL de éter etílico; - Agitar suavemente por 2 minutos; - Filtrar por algodão para um tubo de ensaio; - NÃO DESPREZAR A DROGA VEGETAL – ela será utilizada nas próximas reações - Adicionar 1mL de solução de hidróxido de amônio (NH4OH) 10%; - Verificar a coloração. Resultado positivo: coloração rósea ou avermelhada 2. Reação de Bornträger indireta, com hidrólise 2.1. Detecção de O-glicosídeos - Adicionar 20 mL de água destilada à droga vegetal extraída previamente;

- Ferver por 2 minutos; - Acrescentar 5,0 mL de ácido clorídrico (HCl) a 10% e ferver por mais 1 minuto; - Esfriar e filtrar para um funil de separação; - Adicionar 5 mL de clorofórmio (CHCl3);

- Homogeneizar, cuidadosamente, por cerca de 3 min; (ATENÇÃO: abrir frequentemente a válvula para evitar acidente!!!)

- Deixar em repouso até a separação das fases;

- Transferir a camada orgânica para um tubo de ensaio;

- NÃO DESPREZAR A CAMADA AQUOSA ÁCIDA

- Adicionar 3 mL de solução de hidróxido de amônio (NH4OH) 10%;

- Agitar e deixar em repouso;

- Observar a coloração.

Resultado positivo: coloração rósea ou avermelhada

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2.1. Detecção de C-glicosídeos

- Passar a fase aquosa ácida que ficou no funil para um béquer e acrescentar 2 mL de cloreto férrico 5 %;

- Ferver por 3 minutos; resfriar; - Filtrar para funil de separação; - Adicionar 5 mL de clorofórmio; - Homogeneizar, cuidadosamente, por cerca de 3 min; (ATENÇÃO: abrir

frequentemente a válvula para evitar acidente!!!);

- Decantar a camada orgânica para um tubo de ensaio; - Adicionar 3 mL de solução de hidróxido de amônio (NH4OH) 10%;

- Agitar e deixar em repouso;

- Observar a coloração.

Resultado positivo: coloração rósea ou avermelhada