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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 14 | outubro de 2015 1 DIREITO, SEGURANÇA E DEMOCRACIA JULHO 2015 8 GLOBALIZAÇÃO E SEGURANÇA UM MUNDO EM MUDANÇA GLOBALIZATION AND SECURITY A CHANGING WORLD Dr. RENATO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA - Mestrando Direito e Segurança - Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (Licenciado em Antropologia, pelo ISCSP-Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas Pós-Graduado em Segurança Interna, pelo ISCPSI-Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna) RESUMO O presente Working Paper resulta de um trabalho académico, apresentado no final do primeiro ano, do Mestrado em Direito e Segurança, ministrado pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Neste trabalho, pretendo abordar, o conceito de segurança, tendo como base de partida o período da Guerra Fria 1 , e as diversas transformações inerentes a este conceito, que se têm vindo a sentir desde então, fruto das mais diversas transformações sociais, culturais, políticas e económicas, não deixando de referenciar a “entrada num sistema 1 Situação de conflito entre os EUA e a URSS, bem como os respectivos aliados, que ocorreu entre 1945 e 1989. A denominação “Guerra-Fria”, surge do facto de ambas as partes, nunca chegarem a envolver-se em conflito militar.

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Nº 8

GLOBALIZAÇÃO E SEGURANÇA UM MUNDO EM MUDANÇA

GLOBALIZATION AND SECURITY A CHANGING WORLD

Dr. RENATO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA

- Mestrando Direito e Segurança - Faculdade de Direito da Universidade

Nova de Lisboa

(Licenciado em Antropologia, pelo ISCSP-Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas

Pós-Graduado em Segurança Interna, pelo ISCPSI-Instituto Superior de Ciências

Policiais e Segurança Interna)

RESUMO O presente Working Paper resulta de um trabalho académico, apresentado no final do primeiro ano, do Mestrado em Direito e Segurança, ministrado pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Neste trabalho, pretendo abordar, o conceito de segurança, tendo como base de partida o período da Guerra Fria1, e as diversas transformações inerentes a este conceito, que se têm vindo a sentir desde então, fruto das mais diversas transformações sociais, culturais, políticas e económicas, não deixando de referenciar a “entrada num sistema

1 Situação de conflito entre os EUA e a URSS, bem como os respectivos aliados, que ocorreu entre 1945 e 1989. A denominação “Guerra-Fria”, surge do facto de ambas as partes, nunca chegarem a envolver-se em conflito militar.

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global”, bem como nas vantagens e desvantagens que possam advir deste, cada vez maior canal de abertura ao mundo exterior; ou seja, uma abertura que de certa forma e através das inovações, aos mais variados níveis, tem vindo a dotar as sociedades de um cada vez maior número de informação e conhecimento, partilhados entre si.

Para além de uma abordagem a um nível global; será aqui igualmente retratado o

conceito de Segurança Interna português (definido em legislação própria), muito embora,

surjam algumas questões pertinentes, quando se fala de segurança interna de um

Estado, membro de um organismo como é o caso da EU.

Subjacente a estes factores, surge também um novo tipo de ameaça á nossa

segurança; o terrorismo, cada vez mais sofisticado, requerendo uma cada vez mais célere

e diversificada capacidade de resposta, por parte dos Estados, que entre si e através de

diversos mecanismos, têm vindo a desenvolver, visando a prevenção e o combate a este

flagelo criminal, e que, directa ou indirectamente, atinge cada um de nós.

PALAVRAS-CHAVE Segurança; Estado; Globalização; Defesa; Guerra-Fria; Terrorismo

ABSTRACT In this paper, I intend to approach the concept of security, taking as a basis the Cold

War, and the various transformations inherent in this concept, which has been

experiencing since the result of various social, cultural, political and economic

transformations, whilst referencing "entry into a global system" as well as the advantages

and disadvantages that may result from this, increasing channel opening to the outside

world; ie an opening in a way and through innovations at various levels, has been

providing societies of a growing number of information and knowledge, shared between

them. Apart from an approach to a global level; will be here also portrayed the Portuguese

Homeland Security concept (defined in legislation), although there occur some pertinent

questions when internal security speaks of a State member of a body such as the EU.

Underlying these factors, also comes a new kind of threat to our security; terrorism,

increasingly sophisticated, requiring an ever faster and more diverse response capability

on the part of States, which between them and through different mechanisms, have been

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developing to prevent and combat this criminal scourge, and which directly or indirectly

affects each one of us.

KEYWORDS Security; State; Globalization; Defense; Cold War; Terrorism.

INTRODUÇÃO

Muito embora, as mudanças que actualmente são sentidas em todo o mundo,

tenham vindo a criar alterações significativas, em termos sociais e culturais, originando

uma maior interdependência entre as diversas sociedades/estados, contrariamente ao

que se fazia sentir antigamente; desde sempre o homem, enquanto parte integrante de

um determinado grupo ou sociedade, sentiu necessidade de garantir a sua segurança.

Como tal desenvolveu mecanismos de protecção, visando não só a sua em

exclusivo, mas também a do grupo a que pertencia, como forma directa ou indirecta de

defesa dos seus interesses.

Podemos assim referir que desde os primórdios da humanidade, as relações

internacionais, embora que nesta altura, as relações entre grupos se processassem de

modo diferente, foram um aspecto sempre presente nas sociedades.

CONCEITO DE SEGURANÇA

[Our] conceptions of security depend on the particular philosophical world-view we adopt.

It is these philosophies that tell us what the world is like, and ultimately, whose security we

should be concerned with, and how their security may be achieved.

Bilgin, Booth e Jones (1998: 151)

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DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE SEGURANÇA NA UE

Fruto do fenómeno da “Globalização”, a UE enquanto um organismo, que contempla

internamente a associação de diversos Estados, os quais revestidos de interesses

comuns, teve a necessidade de estipular entre os seus diversos membros, um conceito

de segurança, que visasse a sua protecção, contra os diferentes tipos de ameaças

(internas e/ou externas) fruto da sua “abertura” ao exterior.

Será portanto, importante tentar e antes de mais, definir o conceito de segurança;

durante e após a Guerra-Fria.

CONCEITO DE SEGURANÇA DURANTE A GUERRA-FRIA

Muito embora o conceito de Segurança possa ser considerado como um conceito

relativamente recente, no campo das relações internacionais, considerando-se que a sua

origem remonta, no discurso político, bem como nos estudos académicos da escola

Norte-Americana de Relações Internacionais do Pós-II Guerra Mundial 2 ; desde os

primórdios da Guerra-Fria, que este conceito tem vindo a ser considerado.

Sendo um conceito utilizado por diversas escolas, assim como objecto de estudo e

desenvolvimento por parte de diversos autores, surgem deste modo diversos paradigmas,

divergentes entre si quanto ao seu entendimento, trata-se de um conceito, revestido de

um carácter polissémico, desprovido de sentido unívoco, face ao discurso político em

torno desta questão.

Assim sendo, e no decorrer da Guerra-Fria, fruto das diversas análises, surgem pelo

menos três dimensões relevantes:

2 A primeira referência ao conceito de Segurança surge em documentos políticos oficiais, dos EUA, em

1947, através do “National Security Act”, que consistiu na maior reestruturação ao nível do sistema militar e de informações de segurança, no decorrer da II Guerra Mundial, tendo sido nomeado, James Forrestal pela 1ª vez, como o cargo de Secretário de Defesa; sendo que em 1949, e após uma rectificação, é criado o Departamento de Defesa.

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1º - Segurança Estatal-Militar

2º - Defesa Alternativa ou Segurança Alternativa

3º - Segurança do Terceiro Mundo

A primeira concepção; Segurança Estatal-Militar, considerada como dominante, foi

construída em torno da segurança externa, através de uma única dimensão – Militar – ou

seja, tratava-se de uma concepção unidimensional.

As questões relacionadas com o armamento militar ocupavam um lugar privilegiado,

centrando-se nas então, superpotências existentes; (EUA/ex-URSS) e na divisão

Leste/Oeste (conflito bipolar).

Assim sendo, os primeiros anos da Guerra-Fria, eram marcados pelos assuntos

Militares/Nucleares.

Com a evolução da análise às questões da segurança, vem denotar-se uma

progressão, nomeadamente durante as décadas de 60 e de 70, passando os estudos

desenvolvidos sobre esta matéria, a adoptar para si influências provenientes de ciências

como a Psicologia Social e a Sociologia Politica; (Escola Behaviorista); embora que na

sua essência não fossem notórias alterações significativas, sendo os assuntos militares, a

dimensão praticamente exclusiva da segurança.

Deste modo, a Segurança e a Defesa, são conceitos próximos, dada a sua forte

conotação militar; bem como pelo modo similar, com que estes mesmos dois conceitos

são encarados, concentrando as sua atenção para a preservação do território estadual,

bem como instituições nacionais; perante o espectro de uma eventual ameaça externa.

A concepção dominante, até então (Segurança Estatal-Militar), vem a ser

confrontada, ainda no decorrer da Guerra-Fria, com um diverso número de análises a esta

temática, desenvolvidos por diversos autores, no sentido de demonstrar que as questões

relacionadas com a segurança, não eram apenas dependentes de uma esfera militar.

Por entre as diversas concepções teóricas até então desenvolvidas, vem a destaque

a escola de “Defesa Alternativa”; ou igualmente conhecida como “Segurança

Alternativa”; que defendia que a visão/conceito de Segurança Estatal-Militar, era

desadequada para a segurança, inclusive, acabaria, ele próprio por se converter numa

das principais fontes de insegurança internacional, visto que não podia apenas ser

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considerado como segurança, o facto de não haver conflito armado, (ausência de guerra)

mas igualmente o estabelecimento de condições sociais e de acordo mútuo3.

As ideias defendidas pela “Defesa e Segurança Alternativas”, vêm a expandir-se

pelas diversas áreas de investigação, relacionadas com o tema da segurança, tendo

vindo a encontrar seguidores, originando a “investigação da paz” (peace research), que

tinha como fundamento na área dos estudos da segurança, de forma a reagir/criticar aos

estudos estratégicos militares.

Relativamente à “Segurança do Terceiro Mundo”; surge paralelamente às críticas

provenientes da escola “Defesa Alternativa”, sendo desenvolvidas por autores oriundos

de países e regiões como era o caso da América do Norte; Europa Ocidental e Japão.

Durante a Guerra Fria, os estudos de segurança até então desenvolvidos, eram de

certo modo caracterizados por serem etnocêntricos, ou seja, quando se falava de

segurança, este conceito era adaptado tendo em conta apenas aspectos estratégicos

entre o leste e o ocidente, ficando desde logo afastadas as restantes regiões do mundo.

Perante esta situação, na década de 70, com a movimentação de países “não

alinhados”, surge a reivindicação de uma nova ordem mundial (económica)4.

Esta reivindicação fundamentava-se principalmente, no facto de ser considerado que

o comércio internacional era feito de forma a privilegiar (em termos de resultados), apenas

os países desenvolvidos; ou seja, o comércio internacional encontrava-se assente num

conceito de “teoria desigual”, sendo considerado como principal responsável pelo

agravamento do subdesenvolvimento do terceiro mundo, uma vez que o sistema

3 Destacam-se ideias como a defesa não ofensiva; democracia; desarmamento e suspensão de mantimento

e fabrico de armamento nuclear. As ideias defendidas por esta corrente (Defesa Alternativa/Segurança Alternativa), coincidiu com o reavivar da tensão entre as superpotências, nos finais da de 70; princípio da década de 80, assim como o crescimento de inúmeros movimentos pacifistas e ecologistas, em proliferação um pouco por toda a Europa Ocidental; fruto do receio latente, relativamente á ameaça nuclear, a acentuada corrida ao armamento por parte dessas duas superpotências (EUA/ex-URSS), bem como a decisão da Aliança Atlântica em instalar mísseis norte-americanos (Pershing II) equipados com ogivas nucleares.

4 Na década de 70 desenvolveu-se a ideia de que a paz e a segurança internacionais, se encontravam

intimamente ligadas às questões da estabilidade económica e do desenvolvimento. De salientar que esta solicitação de uma “nova ordem mundial”; em termos teóricos, foi explicada por Bedjaoui; através da sua obra “Pour un novel orde economique internacional”.

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económico até então desenvolvido era de certa forma concebido de modo a promover a

competitividade e desenvolvimento dos países do norte, visando as economias de

mercado capitalista e a economia central planificada comunista; não restando grande

alternativa de desvio a estes dois modelos económicos.

CONCEITO DE SEGURANÇA NO PÓS GUERRA-FRIA

Com o desmembramento da antiga URSS, e o subsequente final da Guerra-Fria

(1989-1991), a questão da segurança volta a estar de novo, no centro das atenções.

Assiste-se a uma célere mudança e por sua vez, a uma determinada mutação nos

fenómenos inerentes a um mundo, novamente em mudança.

Como até então os estudos sobre segurança incidiam praticamente, numa eventual

hipótese de conflito entre as duas super potências (EUA/URSS); com o final da existência

de um destes, que culminou com o final da guerra fria, estes estudos ficam a partir de

agora direccionados para os novos fenómenos, daí provenientes.

Um exemplo prático e ilustrativo desta ideia, esta relacionado com o facto de uma

vez que um país como a ex-URSS, ser até então uma super potência e atendendo ao

facto de no decorrer da guerra fria, para alem dos interesses económicos serem um

aspecto transversal e de certa forma, o impulsionador e motivo pelo qual, era mantido o

estado de alerta entre as duas super potencias que vigoravam nesta altura; como forma

de fazer face a uma eventual ameaça externa; houve uma forte aposta na componente

militar.

Com o desmembramento da ex-URSS; as províncias, que até então constituíam

este país, transformam-se, a partir deste momento em novos estados.

Assiste-se igualmente a uma convulsão interna em outros estados, (vizinhos da ex-

URSS) como foi o caso da então Jugoslávia5.

5 Conflito armado que ocorreu no território da antiga Republica Socialista Federativa Jugoslava, entre 1991

e 2001. Este conflito armado foi considerado como um dos mais sangrentos em solo europeu desde o final da II Guerra Mundial. De salientar que este conflito envolveu, inclusive a limpeza étnica em massa.

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O mundo assiste a partir deste momento, a uma Europa de Leste em plena

transformação, que necessita de uma resposta imediata, por parte dos restantes países,

muito embora, não se encontrando em conflito directo, são sem sombra de dúvida, e á luz

do direito internacional, parte integrante em todo o processo de mediação, visando a sua

resolução, (através de um modo pacifico).

Mais uma vez a temática da segurança é posta a prova, agora com uma dimensão

mais ampla, pois como já foi referido, tratava-se da desagregação de países, logo este

fenómeno, naturalmente vem dar origem a uma migração/transformação, no quadro das

ameaças á segurança, não só ao nível da Europa, mas ao nível mundial.

Os fluxos migratórios originados pela fuga aos conflitos armados, nomeadamente

pela população civil, mas não só; “arrastam” consigo “matéria-prima”, necessária á

transformação/evolução das mais variadas formas de criminalidade.

As redes criminosas, intensificam a partir de então, a sua expansão, dando inicio a

um alicerçar de bases, um pouco por toda a Europa, transportando consigo uma nova

realidade criminal; fruto da fragilidade social, característica num estado falhado, onde

principalmente a população civil, fica desprovida de segurança básica, que permita aferir

a cada um destes, as garantias mínimas á sua segurança (física e social); mas também, e

neste caso em particular, e uma vez que se trata de um estado falhado, também

elementos das forças e serviços de segurança e forças armadas, agora desprovidos de

qualquer tipo de vinculo á nação, utilizam os meios e conhecimentos obtidos no decorrer

da sua actividade, pelos mais diversos motivos, são agora um alvo apetecível, para quem

gere estas redes criminosas, processo este que poderemos considerar como “recurso a

mão-de-obra especializada”; visto que muitos destes indivíduos, são detentores de um

considerável e apetecível “know how”, muito útil no funcionamento de redes criminosas.

Importa igualmente referir, que esta expansão de redes criminosas, não se

manifesta apenas em termos de área, mas igualmente em termos de número, visto que

para além das já existentes, outras surgem, fruto da desagregação destes países (URSS

e Jugoslávia).

Em suma, surgiu assim uma necessidade de repensar a segurança e alargar este

conceito a dimensões não-militares.

Este alargamento teve como base de recurso, alguns conceitos provenientes da

“Escola de Defesa Alternativa” e “Defesa do Terceiro Mundo”; ambos iniciados no

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decorrer da Guerra-Fria; pretendendo assim envolver diversos níveis (individual; estadual;

regional e sistémico), assim como diferentes sectores/dimensões de segurança (politica;

militar; económico, social e ambiental), todos estes de uma forma integrada, embora que

o estado continue a ser a principal referencia nas questões da segurança, sendo este a

unidade dominante e por sua vez, a segurança nacional, como nível central de análise.

SEGURANÇA HUMANA6

O conceito de Segurança Humana surge no final da Guerra Fria, tanto no debate

académico como dentro das instituições internacionais e nos Estados.

Contudo, a sua formulação é fruto do desenvolvimento teórico das últimas décadas

no campo da segurança e dos estudos sobre paz e conflitos.

Esses estudos reflectem o novo cenário internacional que se desenha a partir da

década de 70, é nesse período que se inicia o declínio do papel hegemónico da União

Soviética, e o aparecimento de novos atores na arena internacional (ONGs, empresas

transnacionais, organismos multilaterais) e de novas agendas para a política

internacional, como os direitos humanos, o meio-ambiente, a explosão demográfica e a

economia internacional, dentre outros. Assim, em consequência desse novo cenário,

dentro da Teoria das Relações Internacionais surge a Teoria da Interdependência como

uma resposta ao Realismo, abordagem hegemónica desde a década de 40.

Para os realistas clássicos, o Estado é visto como um actor racional, único e auto-

interessado, assim, em questões de segurança, só os Estados e os seus interesses

prevalecem. Além disso, o sistema internacional é comparado ao reino da anarquia

hobbesiana, assim para os realistas clássicos e estruturais, não se pode confiar em outros

Estados, nem nas instituições internacionais, pois um Estado só pode garantir a sua

segurança com a maximização do seu poder, principalmente o militar. A paz, nessa

acepção, fundamenta-se na hegemonia de um Estado ou no equilíbrio de poderes entre

as maiores potências do sistema internacional.

Dessa maneira, a guerra, na perspectiva realista, tem custos e a manutenção do

status quo é favorável a todos os membros, assim, a paz só pode ser obtida através de

6 Ainda sobre este conceito, mais adiante neste trabalho, quando for abordada a questão da Segurança

Interna em Portugal, voltarei a referir este, no caso especifico português.

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um balanço de poder entre as nações hegemónicas. Portanto, o papel das instituições

supranacionais é irrelevante, na medida em que o status quo é determinado pelo conflito

potencial derivado do balanço de poder entre as nações mais poderosas (cf.

MORGENTHAU, 2003). Assim, o plano internacional é visto pelos realistas como um

estado permanente de conflitos entre os Estados, que dentro da Teoria dos Jogos, é

denominado de jogo de soma zero, assim quando um Estado ganha, o outro

necessariamente, perde. Hans Morgenthau, fundador da escola realista, afirma que a

natureza humana sempre aspira por poder e esta característica invariante está enraizada

nas relações entre os Estados, dominadas exclusivamente pelo interesse e acumulação

de poder.

Dada esta disposição internacional, os arranjos jurídicos apenas reflectem os

interesses instáveis e transitórios entre as potências. E os conflitos, no melhor dos casos,

são controlados racionalmente por meio das reflexões proporcionadas pela “teoria dos

jogos”. Logo, para os realistas, a segurança é compreendida como a maneira pela qual os

Estados recorrem ao uso da força para fazer frente às ameaças dos outros Estados, que

possam interferir no seu território, autonomia ou soberania estatal.

Como resposta ao realismo e ao neo-realismo, na década de 70, são desenvolvidas

outras explicações, entre as quais a teoria da interdependência, que afirma que o Estado,

não é o único actor das relações internacionais, sendo que os actores internacionais,

adquirem destaque nesta perspectiva.

Assim sendo o uso da força, deixa de ser considerado como o instrumento político

de maior importância, dando lugar á manipulação económica e ao recurso a organizações

internacionais, na resolução de conflitos internacionais; factor pelo qual a segurança, na

sua vertente militar deixa de ser o objectivo principal da política internacional, dando lugar

ao bem-estar social e ao desenvolvimento sustentável.

Igualmente na década de 70 destacam-se os estudos de paz, principalmente, as

proposições de Johan Galtung, que desenvolveu novos conceitos para a paz, para a

segurança e para a violência.

Para que a segurança seja durável, ela deve ser equiparada a uma estrutura de paz

estável ou positiva, que é muito mais do que somente a ausência de guerra.

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A paz positiva implica a redução da violência estrutural, ou seja, das condições que

impedem o desenvolvimento das capacidades dos indivíduos, como a pobreza, a

desigualdade social, os regimes autoritários, etc.

Na década de 80, torna-se a intensificar o conflito Leste-Oeste, uma vez que o então

presidente dos Estados Unidos (Ronald Reagan), renuncia a política de apaziguamento

com a União Soviética e aumenta consideravelmente os investimentos militares

americanos. Isto originou que na Europa houvesse um movimento em busca de uma

política de segurança genuinamente europeia.

Nesse contexto, é criado em 1985 o Copenhaguen Peace Research Institute

(COPRI), conhecido também como a Escola de Copenhague.

Este instituto de pesquisa possui o objectivo de promover os estudos de paz e,

sendo actualmente, uma referência na área de segurança internacional7.

Na década de 90 ocorre o fim da Guerra-Fria e a intensificação da globalização, ambos

alteram profundamente a ordem internacional e contribuem de forma decisiva para a

reformulação do conceito de segurança internacional.

Com o fim da Guerra Fria consolida-se uma nova agenda internacional, o que dá luz

às ameaças (não-estatais) à segurança internacional.

Nesta nova conjuntura internacional, emerge o conceito de Segurança Humana que

possui dois aspectos principais: manter as pessoas a salvo de ameaças crónicas como a

fome, as doenças, a repressão (freedom from want) e protegê-las de mudanças súbitas e

nocivas nos padrões da vida quotidiana, por exemplo, das guerras, dos genocídios e das

limpezas étnicas (freedom from fear). O Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), em 1994, centrou o seu relatório nesse conceito, o que

promoveu uma ampla divulgação em nível internacional.

Dentro da concepção de Segurança Humana, questões que antes eram encobertas

pelo conflito Leste-Oeste, tornam-se, a partir da década de 90, as novas pautas da

agenda internacional; (problemas ambientais, epidemias, o desemprego, o narcotráfico, a

fome, os conflitos étnicos e religiosos, o terrorismo, os refugiados, a violação dos direitos

humanos, entre outros).

7 Um dos expoentes desta Escola é Barry Buzan. Ele afirma que os estudos de segurança “devem

incorporar tanto as ameaças militares quanto aquelas advindas das áreas política, económica, ambiental e social”

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E como estes problemas afectam directamente os indivíduos, principalmente as

populações mais vulneráveis, o conceito de segurança internacional estritamente

relacionado às questões militares; torna-se cada vez mais insuficiente para explicar essas

novas questões internacionais.

Em 1994, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) lança em

seu relatório anual o conceito de Segurança Humana; este relatório recomenda uma

transição conceptual profunda da denominada “segurança nuclear”, ou seja, militar, para

a Segurança Humana.

De acordo com o PNUD, para a maioria das pessoas, a insegurança resulta muito

mais de preocupações da vida quotidiana do que da possibilidade de um evento

cataclísmico. O relatório afirma que serão exploradas as novas fronteiras da Segurança

Humana da vida quotidiana das pessoas, pois é necessário descobrir atempadamente, os

sinais de alerta de uma possível crise, para que dessa maneira seja possível colocar em

prática acções de diplomacia preventiva.

Para além do que já foi acima indicado, como sendo os aspectos principais do

conceito de Segurança Humana; importa ainda referir, de acordo com o mesmo relatório

as seguintes dimensões da Segurança:

- Segurança económica: garantir o ingresso básico em um trabalho produtivo e

remunerado; os recursos mínimos e a necessidade de se resolver os problemas

estruturais, entre eles, o desemprego, a desigualdade socioeconómica e o trabalho

precário.

- Segurança alimentar: todas as pessoas devem ter acesso aos alimentos básicos.

(este relatório enfatiza que a fome não é causada apenas pela ausência, mas pela má

distribuição dos alimentos).

- Segurança sanitária: as epidemias; a falta de água potável, entre outros

problemas.

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- Segurança ambiental: a desflorestação, a poluição do ar e da água, ou seja, a

degradação de ecossistemas; (este relatório atribui particular importância ao facto de que

a escassez de água pode-se tornar um elemento gerador de conflitos).

- Segurança pessoal: Fazer face à violência física, seja do Estado (através da

tortura), ou de outros Estados (através da guerra), de outros indivíduos (violência urbana,

crimes, tráfico de drogas).

- Segurança comunitária: as pessoas necessitam ter segurança e de manifestar a

sua identidade cultural e conjunto de valores em conjunto com a sua família, comunidade,

organização, grupo étnico (conflitos de natureza étnica).

- Segurança política: direitos humanos dos cidadãos num Estado, como os

elementos que impedem a sua efectivação: a repressão política por parte do Estado, a

tortura, os desaparecimentos, as detenções ilegais, etc.

Desta forma, a interdependência é assumida como uma “nova natureza”, em temas

relacionados com a segurança, é indicado neste relatório que os sete elementos de

Segurança Humana; acima indicados, se encontram ligados entre si, sendo que, a

ameaça contra um destes elementos/dimensões, certamente se propagará a todos os

outros. Portanto, para a Segurança Humana, as ameaças provêem tanto de outros

Estados, como de outros atores não-estatais ou das relações estruturais de poder, nos

seus mais diferentes níveis. Para essa abordagem, as ameaças são transnacionais, não

há fronteiras nacionais para problemas como desequilíbrios ecológicos, terrorismo,

epidemias, etc.

Como forma de prevenção, face a este quadro de ameaças, (que podem pôr em

perigo os indivíduos, os grupos e as sociedades) os Estados devem estabelecer uma

cooperação, de preferência uma cooperação a longo prazo, o que reflecte a existência de

um mundo interdependente. E já que as ameaças não se circunscrevem às fronteiras

nacionais, a solução dos problemas também não pode ficar restrita ao plano estatal.

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Depois da proposta do PNUD, ao longo da década de 90, vários foram os debates

acerca do conceito de Segurança Humana, no entanto destacaram-se duas grandes

interpretações; (“concepção ampla” e “concepção restrita”).

A “concepção ampla”centra-se na definição do PNUD, que está associado à

satisfação do desenvolvimento humano e de um mínimo de bem-estar nas dimensões

alimentar, sanitária, ambiental, etc.

No que concerne á “concepção restrita”, esta define a Segurança Humana como a

protecção diante da violência física em contextos de conflitos. Esta concepção, foi

apresentada pelo governo do Canadá 8 e depois adoptada pela Rede de Segurança

Humana9, que surgiu de um acordo bilateral entre Canadá e Noruega em 1998, cujo

objectivo era formar uma associação de países com o propósito de promover um novo

conceito de segurança centrado nas pessoas.

Os apoiantes da concepção restrita criticam a concepção ampla, por esta ser

excessivamente abrangente, o que geraria uma ambiguidade e ineficácia da Segurança

Humana. Assim, os defensores da concepção restrita baseiam-se em quatro argumentos

principais:

1) Dispor de uma definição clara e concisa

2) Possibilitar a elaboração de indicadores para medir a Segurança Humana

8 O governo do Canadá define a Segurança Humana como “safety for people from both violent and non-

violent threats”; enfatizando que o aumento da segurança dos indivíduos está na prevenção das diversas formas de violência. O Canadá especificou as cinco grandes prioridades da política externa: 1) Protecção de civis e redução do custo humano nos conflitos armados. 2) Suporte em operações de paz. 3) Prevenção de conflitos e reforço da comunidade internacional para prevenir e resolver os conflitos. 4) Governabilidade e responsabilidade dos sectores públicos e privados, de forma a estabelecer as normas de democracia e direitos humanos. 5) Segurança pública, responsável pela construção de capacidades e instrumentos internacionais para conter o crescimento das ameaças produzidas pelo crime organizado transnacional. 9 Criada em 1999, a Rede de Segurança Humana é constituída por um grupo de Estados; liderados pelo

Canadá, Noruega e Suíça, e que inclui outros estados como o Chile, a Jordânia, a Áustria, a Irlanda, o Malí, a Grécia, a Eslováquia, a Tailândia, a Holanda e a África do Sul (observador). O objectivo desta visa a promoção de políticas comuns de Segurança Humana numa série de instituições internacionais e regionais.

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3) Converter o conceito numa ferramenta clara de análise para os investigadores

4) Favorecer a sua aplicação prática em agendas políticas.

Para atingir estes objectivos, a concepção restrita de Segurança Humana centra-se

fundamentalmente na segurança contra a violência física, particularmente em contextos

de conflitos armados e crises humanitárias nos “Estados Falhados”.

AMEAÇAS À SEGURANÇA

“Estados Falhados/Desagregação” vs “Estados em Formação”

Do ponto de vista estratégico-militar; a ameaça visa sempre por em causa a

segurança e defesa de uma determinada sociedade e ou grupo; (em termos territoriais;

valores físicos; éticos e morais) através do recurso a medidas de coação, de forma a

modificar/transformar a sua posição; ou seja, compelir estes a adaptar posições contrárias

á sua natureza.

Os factores de conflito abrangem três categorias:

- Factores Estruturais

- Factores Sociais e Psicológicos

- Factores Tecnológicos, Recursos, Comércio e Migrações

Relativamente aos Estados Falhados/Desagregados; a ex-URSS e á semelhança do

que ocorreu em outros Impérios em declínio originaram, pelo menos duas causas de

tensão internacional;

- Tentativas, (por parte de outros Estados) em obterem uma posição vantajosa, face

ao declínio do Império (URSS).

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- Esforços dispendidos, (pelo próprio império) na tentativa de recuperar a sua

autoridade/influência, nomeadamente junto dos Estados e/ou Impérios periféricos10.

No entanto, é de salientar, a posição tomada pela Rússia, no sentido de exercer

controlo todos os territórios, que anteriormente, eram controlados a partir de Moscovo.

Embora que, numa primeira fase a Rússia (após a desagregação da ex-URSS)

tenha adoptado pela prática de uma politica externa, de acordo com o modelo

Ocidentalista, (iniciado na fase final da URSS, por Gorbatchev, através da implementação

da Perestroika/Glasnost11), que viria a ser abandonado em 1993, uma vez que, com a

desagregação da URSS, os antigos problemas internos soviéticos passam, a partir de

10

Tendo em conta o exemplo encontrado para ilustrar de uma forma mais concreta; os factores estruturais (ex-URSS), após a desagregação deste Estado/Império, surgem tentativas levadas a cabo por parte de Estados, como a Turquia e o Irão, em acentuar o seu desempenho/posição, nas repúblicas Centro-Asiáticas, onde a grande maioria da população é Muçulmana. 11

Em 11 de Março de 1985, Mikhail Gorbatchov (“discípulo” de Iuri Andropov), vem suceder Constantin Chernenko, na liderança do PCUS – Partido Comunista da União Soviética. A ascensão de Gorbatchov á liderança do partido, vem de certo modo traduzir-se numa esperança de rejuvenescimento da direcção deste, através de uma política de relançamento e de reestruturação, assente num triplo objectivo: - Reduzir as despesas militares, através de uma nova forma de pensamento/execução de política externa. - Aumento da produtividade, através de uma política económica de aceleração (mobilizando intensivamente recursos materiais e tecnológicos). - Revivificar a sociedade, a partir de um projecto de justiça social, alicerçado num discurso de verdade e de transparência (Glasnost). A política externa de Gorbathov, apesar de marcada por uma concepção humanista das relações internacionais, consubstanciou-se no novo pensamento político, com repercussões na esfera militar, visto renunciar á guerra nuclear pela corrida aos armamentos. Esta nova concepção de politica externa, visava de certa forma, uma reorganização/reestruturação da então URSS, contudo e apesar da “boa imagem” e “aceitação” por parte do mundo exterior; uma vez que, dada a sua transparência, o clima de desconfiança, por parte de outros Estados, contribuía para a consolidação da segurança mutua, valendo-lhe diversos apoios externos; contudo esta estratégia, apenas viria a adiar por mais algum tempo, o desmoronamento do comunismo, que era a base deste império, (URSS). Este novo pensamento político viria a marcar o fim da Guerra-Fria, entre o Leste e o Ocidente, as negociações sobre o desarmamento; a retirada das tropas Soviéticas do Afeganistão; a redução dos apoios aos regimes “progressistas” do mundo árabe; o abandono a doutrina brejneviana de “soberania limitada” e o fim do apoio militar á Europa de Leste.

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então, a ser os principais problemas da política externa Russa, (outrora, uma província da

URSS).

Esta situação originou o surgimento de dois conceitos; Um estrangeiro próximo

(referente aos Estados que faziam parte do perímetro da ex-URSS) e Um estrangeiro

longínquo (restantes Estados, fora do primeiro conceito) no sentido de “travar” a

desagregação Russa, em termos de política externa.

Foram igualmente desenvolvidos esforços, no sentido de por um fim, a tentativas de

Estados próximos, em desenvolverem relações externas entre si, bem como o

estabelecimento de alianças com eventuais “potências”, consideradas “estrangeiro

longínquo”.

Importa salientar, a repressão violenta exercida, face às reivindicações, para a

formação de novos Estados (Chechénia ou no caso dos conflitos entre a Arménia e o

Azerbaijão – enclave de Nagorno/Karabach e na Geórgia entre Georgianos e Abcazes).

Também fora do espaço geográfico da ex-URSS, (e apesar da influência exercida

por este Estado; agora desagregado), na zona dos Balcãs, (Jugoslávia) em 1991,

desencadeia-se um conflito armado, que colocaria este Estado numa situação de Estado

em Desagregação, e que posteriormente, dadas as convulsões internas, acabaria por se

tornar num Estado Falhado.

Este Estado Falhado era, agora reclamado, como sua herança natural, pela Sérvia;

originando a formação de três novos Estados, (Croácia; Eslovénia e a antiga Republica

Jugoslava da Macedónia).

Toda esta conflitualidade existente, na formação de novos estados, encontra-se

associada a processos de afirmação dos poderes estaduais, sobre um determinado

território/população.

Tendo em conta os exemplos aqui retratados (ex-URSS/ex-Jugoslávia), podemos

considerar que a emergência de novos estados, encontra-se naturalmente ligada ao

colapso de Impérios ou de Estados Falhados, e que não sua grande maioria, essa mesma

emergência, não se consegue sem ser, pela via do conflito armado, o que origina

naturalmente, para além da desagregação de uma nação, em termos territoriais, perdem-

se e/ou desconsideram-se igualmente, aspectos de natureza cultural; social e até mesmo

religiosa; muito embora e sendo de conhecimento comum, que a origem da grande

maioria destes conflitos armados, são originados pelo descontentamento social, face às

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adversidades sentidas, em tempo de crise, que originam o surgimento de pequenas

bolsas em convulsão, sendo estas mesmas que através de um apelo aos valores acima

referidos, vão encontram apoio para a sua campanha de autodeterminação; e que em

grande maioria dos casos, obviamente aliados a interesses puramente económicos, são

igualmente “palco”, para verdadeiros actos criminosos (genocídios, de cariz étnico).

Importa igualmente referir que muito embora, após a consolidação de um novo

Estado, através do seu reconhecimento como tal, por parte da comunidade internacional,

o(s) restante(s) Estados em seu redor; e que outrora constituíam um único Estado,

passam a partir de então, a ser encarado(s) em termos de ameaça, como ameaça

externa, e que até então eram uma ameaça interna.

Esta actual ameaça externa passa na sua grande maioria a permanecer, através de

manifestações de cariz económico, pondo de lado o espectro da ameaça de cariz bélico;

contudo igualmente nocivas, ao processo de sobrevivência, colocando igualmente em

causa, determinados direitos, liberdades e garantias, inerentes a cada um de nós,

enquanto membros de determinada sociedade.

OS “NOVOS ESTADOS” NA EUROPA

Com a desagregação de Estados/Impérios, até então existentes na Europa,

culminando com o final da Guerra-Fria, surgem no novo cenário político, novos Estados,

provenientes dessa mesma desagregação; e como tal, é inevitável o aparecimento de

novos fenómenos que colocam em cima da mesa, novas questões relativamente á

segurança.

È de censo comum, que quando surge um novo Estado, este mesmo, e numa fase

inicial, carece do apoio de outros Estados e/ou organizações, uma vez que dada a sua

criação ser ainda, relativamente recente, diria mesmo embrionária, torna-se assim mais

vulnerável a novas ameaças, que surgem fruto de alguma instabilidade, natural da ainda

falta de consistência de todo o aparelho político, que constituem esse novo Estado, e uma

vez não acautelados, colocaram rapidamente em causa, a sua soberania.

Importa igualmente relembrar, que esta instabilidade, característica nestes novos

Estados, uma vez não acautelada, por parte dos restantes Estados, (vizinhos, ou até

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mesmo distantes, mas que por variados motivos, manifestam o seus interesses), poderá

por em causa o desenvolvimento desse Estado, como igualmente o mantimento das

relações externas entre os restantes, criando desta forma uma situação de instabilidade.

Como tal, torna-se imperativo, que todo este processo de consolidação, seja

adoptado, ainda quando esse novo Estado, de certa forma e enquanto ainda mero

movimento de autodeterminação, se manifesta; falo claro está, das acções levadas a

efeito por Estados vizinhos/ou não; na persecução não só da estabilidade nesse território

em convulsão, mas igualmente, numa estabilidade alargada a um nível externo, ou até

mesmo mundial, mantendo assim um espaço onde possa imperar a Liberdade; a

Segurança e a Justiça, elementos estes, que considero como fundamentais para que,

cada um de nós, enquanto membros de uma determinada sociedade – cada vez mais

global – possamos realmente viver; ao invés de nos limitarmos, simplesmente a

sobreviver; pois essa mesma sobrevivência, se levada ao extremo, poderá certamente

nos conduzir, a um estado de anomia social.

Afastando-me agora de um conceito de segurança a uma escala “mais global”; de

seguida, passar-me-ei a concentrar numa visão mais interna, desse mesmo conceito, a

análise seguinte centrar-se-á na área geográfica de Portugal; enquanto estado membro,

da UE.

CRIMINALIDADE “ADAPTADA Á NOVA EUROPA”

Na década de 90, na Europa, fruto da desagregação de Estado/Impérios até então

existentes (ex-URSS/ex-Jugoslávia), e com o fim da Guerra-Fria, a Europa vê-se a braços

com o surgimento de novos Estados, logo e agregado a este mesmo surgimento,

igualmente novas; ou pelo menos mais elaboradas, formas de criminalidade, que fruto de

políticas de abertura12 a um mundo cada vez mais globalizado, encontra agora, novos

canais de circulação e expansão.

12

A livre circulação de pessoas, pela Europa, com a abolição das fronteiras (acordo de Schengen), que embora tenha a sua origem em 1985, no entanto e ao longo dos anos, este acordo de cooperação, viria a

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No caso concreto da Europa, o conflito armado nos Balcãs, constituiu de certa

forma, motivo de embaraço para os europeus, dada a amplitude que este mesmo conflito,

atingiu em termos de mortalidade 13 bem como num total desrespeito pelos direitos;

liberdades e garantias, sobre aqueles que sobreviveram e que se julgavam, de certa

forma invioláveis - pelo menos á dimensão atingida - trazendo para a agenda mundial,

algo que muitos de nós poderíamos considerar com extinto, após o fim e os anos que se

seguiram á II Guerra Mundial.

A SEGURANÇA INTERNA PORTUGUESA

Este capítulo tem como principal objetivo – embora aqui apresentado de forma

sucinta – o estabelecimento das relações entre o Estado e a Sociedade, no que respeita à

questão da SI, sendo esta uma matéria que nos últimos anos, nomeadamente após 25 de

Abril de 1974, tem vindo a ser objeto de significativas transformações, com especial

atenção e interesse para este trabalho, o incremento de novos atores, que em conjunto

com os já existentes cooperam entre si com o objetivo geral de garantir a segurança do

Estado, à luz das normas de um verdadeiro Estado de Direito Democrático, no qual

Portugal ancorou as suas características sociais, económicas e políticas.

O ESTADO - PERSPECTIVA SOCIOLOGICA/ POLITICA

Numa perspectiva da sociologia política, o Estado é por diversas vezes associado a

uma estrutura, composta por um sistema integrado onde atuam diversas instituições, cujo

principal objetivo é a garantia da coerência de uma identidade de conjunto; ou seja, de se

manter a si próprio, que se pauta por dois princípios básicos e fundamentais:

ser alargado, com a adesão de novos Estados. A cooperação Schengen, surge no Direito da União Europeia, através do Tratado de Amesterdão em 1997. 13

Importa referir que no decorrer deste conflito armado (1991-2001), foram mortas mais de cem mil pessoas perderam a vida neste conflito; para além dos muitos que em virtude do mesmo ficaram feridos de forma permanente, o que caracterizou este conflito, como de extrema violência.

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Mecanismos de defesa e garantia dos direitos liberdades e garantias, que

abrangem toda a sociedade - Aparelho Repressivo

O conjunto de organizações/instituições, embora que em alguns casos

não sejam pertença exclusiva do Estado, que em conjunto com o ponto anterior e

todo o seu mecanismo, visam funcionar em prol de um objetivo muito semelhante

embora que estes optem por uma via de atuação de cariz mais ideológica.

Desta forma, ambas as organizações, em conjunto, caminham em consonância para

a obtenção de um bem comum; a afirmação e manutenção de uma sociedade livre, mais

justa e, sobretudo, onde cada um de nós e pelos mais diversificados aspectos se poderá

sentir inserido num ambiente social igualitário, embora que, e como forma do seu garante,

sejam condicionados por determinadas regras e códigos de conduta.

LIBERDADE vs LIBERDADES E SEGURANÇA HUMANA

Embora a liberdade seja um dos princípios basilares da nossa Constituição, este

conceito surge desfragmentado, no sentido em que a liberdade no seu sentido amplo è

composta por várias categorias, que de certo modo irão permitir ao Estado estabelecer

determinadas fronteiras a fim de criar mecanismos de defesa contra um conceito de

liberdade que infelizmente, muitos tendem a entender como ausência de regras; algo

repressivas, que ao se apoderarem de uma sociedade, trariam obviamente

consequências devastadoras para o mesmo.

Desta forma torna-se imperativo que o Estado, à luz da Constituição, tenha como

uma das suas principais prioridades, garantir os direitos, liberdades e garantias de todos

aqueles que constituem a sociedade.

Estamos assim perante um exemplo do que podemos denominar de

Constitucionalismo Moderno que vem legitimar o surgimento da Constituição Moderna,

radicando desta forma duas ideias básicas:

Ordenar, fundar e limitar o poder político.

Reconhecimento e garantia dos direitos, liberdades e garantias do

indivíduo.

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Em suma, esta tipologia de constitucionalismo pretende, principalmente, a

fundamentação e legitimação do poder político, e a constitucionalização das liberdades.

Como forma de simplificar o que foi anteriormente referido, no que respeita a esses

mesmos direitos, liberdades e garantias, podemos ter em consideração – e em meu

entendimento – a seguinte expressão:

“A minha Liberdade termina, onde começa a Liberdade do outro”

O que pretendo demonstrar com esta afirmação está relacionado com o fato de

atualmente se viver num Estado livre e tolerante, baseado na soberania popular, bem

como no pluralismo de expressão, e restantes fatores que nos permitem, enquanto tal,

sermos considerados como um verdadeiro Estado de Direito Democrático; sendo

naturalmente composto por regras tipificadas nos diversos diplomas jurídicos, de acordo

com as normas plasmadas na CRP, exercendo assim, um papel preponderante no

equilíbrio e racionalidade.

Por sua vez, o Estado – no que respeita à aplicação desses diplomas - exerce uma

ação de controlo e fiscalização, de forma que, tanto os cidadãos, assim como as diversas

organizações/instituições (públicas e privadas), não violem estes em prol de um eventual

benefício próprio, ou benefícios de terceiros.

Porem, o Estado não se limita apenas a orientar a sociedade através da aplicação

de diplomas e normas jurídicas; existem de igual forma diversos mecanismos ao seu

dispor (igualmente de natureza publica e/ou privada) e que prestam os seus “serviços” em

prol da uma sociedade coletiva, sendo que ao longo de toda a vida, um individuo vê-se de

certa forma orientado, face a aquisição de determinado acervo de “princípios e valores

morais”, vigentes na sociedade.

Em matéria de segurança humana, obviamente que o fenómeno Globalização,

acarretou inúmeras alterações em todos os contextos sociais e políticos; sendo que para

além das transformações que poderão ser consideradas como benéficas para uma

sociedade dita global; de igual forma, e juntamente com toda esta panóplia de inovações

e oportunidades características desta Globalização, outras realidades surgem nesta Nova

Ordem Global, acarretando para o cenário da segurança, novas ameaças e riscos,

originando deste modo uma crise em termos de conceitos tradicionais.

Deste modo o Estado poderá assim garantir em termos práticos, que ao exercer este

controlo/orientação, sobre cada um de nós, estará mais apto para garantir a dignidade

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humana, que por sua vez levará à construção de uma sociedade cada vez mais livre,

justa e solidária.

Só assim poderemos realmente afirmar que vivemos numa sociedade

verdadeiramente livre, ao invés de uma liberdade que muitos tendem em invocar quando,

de alguma forma, os seus comportamentos são penalizados/censurados, face à sua

postura na sociedade, e que se traduz - no meu entender - única e exclusivamente, numa

anomia social.

SEGURANÇA INTERNA

SEGURANÇA INTERNA – UM CONCEITO (DES) ACTUALIZADO?

Num dos diversos seminários, aos quais tive o prazer de assistir, onde muito se

falou sobre a atualização deste conceito; houve uma expressão que retive no meu

pensamento, e que decidi aplicar neste trabalho; servindo assim, de “rampa de

lançamento”, para o tema que se segue.

“…a segurança é um tema transnacional, que afeta todas as sociedades civis,

e que não consente numa distinção operacional entre segurança interna e

externa…”

Esta citação leva-nos a refletir sobre as transformações que a SI tem vindo a ser

objeto ao longo dos últimos anos.

As questões relacionadas com a Segurança – independentemente de se tratar de

Segurança Interna ou Externa - face a uma realidade social, caracterizada por uma cada

vez maior dinâmica e plasticidade, tem vindo a ser alvo de inúmeras transformações,

onde, e devido a diversos fenómenos, têm surtido importantes transformações nas

sociedades, tendo por esta forma vindo a levantar algumas questões, relativamente à

posição do conceito de Segurança Interna, face a uma realidade mundial cada vez mais

aberta às transformações, e influências, oriundas um pouco de toda a parte, que

abrangem todas as áreas da nossa sociedade, da qual a criminalidade não é obviamente

alheia.

Gradualmente, temos vindo a assistir a uma transformação na realidade criminal,

verificando-se um significativo “upgrade” relativamente aos diversos “modus vivendi /

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operandi”, o que tem constituído uma considerável dificuldade na monitorização aliada à

capacidade de resposta à eventual ameaça, por parte das FSS que o Estado tem ao seu

dispor como garante da sua soberania e proteção de pessoas e bens.

Assim sendo, devemos tomar em consideração, que de algum tempo a esta data, e

fruto de uma maior abertura no que respeita à livre circulação de pessoas e bens, sendo

que esta constitui terreno fértil para um novo conceito de diáspora criminal, muito útil para

a implementação de novas realidades criminais, funcionando em redes bem organizadas,

dificultando assim, o rastreio por parte das FSS dada a sua complexidade.

Face a esta nova realidade em termos de SI, vejo-me intentado à colocação da

seguinte questão:

Será a Segurança Interna, um conceito atual face às novas ameaças e

riscos?

Quanto a esta questão, em primeira instância, devemos tentar estabelecer uma

relação entre os conceitos de ameaça tradicional e novas ameaças.

Ao falarmos de novas ameaças, não nos referimos a algo que possamos considerar

como contemporâneo, no que concerne à sua génese, mas sim de algo que

gradualmente tem vindo a mudar, uma vez que este novo conceito engloba a passagem

de algumas determinantes classificativas do fenómeno de ameaça e de risco; ou seja

assistimos a uma transição de um nível pessoal e local para um nível

global/transnacional, o que leva a um acréscimo na dificuldade de identificação e

antecipação como resposta às ameaças e riscos.

Em termos gerais, estamos neste momento a assistir a uma mutação do conceito de

SI, que se vê a braços, com uma nova magnitude, relativamente aos novos desafios

provenientes desta (desafios estes que não se colocam apenas ao Estado, mas também

a toda a sociedade civil).

Assim sendo, gerou-se de certa forma uma crise relativamente ao conceito

tradicional de Segurança, bem como as fronteiras entre várias categorias conceptuais.

Portanto, podemos considerar que o conceito de SI continua um conceito atual,

contudo sujeito a alterações derivadas dos acontecimentos que nos últimos anos têm

vindo a obrigar a uma reformulação das políticas inerentes à questão da Segurança, dada

a emergência de novos tipos de conflitos, ameaças e riscos, o que levou os Estados a

alterar os paradigmas das matérias relacionadas com as políticas de segurança e de

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defesa; sejam estas de caráter interno e/ou externo, de forma a dotar as FSS e as FA, de

condições de resposta face aos novos desafios e oportunidades que se deparam perante

todos nós, enquanto membros de uma sociedade global.

Para além da sua atualidade em termos conceptuais, atualmente a SI, constitui-se

por um conceito que se expandiu, abrangendo novos palcos de atuação, bem como

adquiriu novos agentes, que em consonância com as suas características especificas,

contribuindo sem sombra de dúvida, para a manutenção em termos práticos desta,

constituindo assim, uma co-produção de segurança entre as FSS e o sector privado, ou

seja, a Governança da Segurança.

SEGURANÇA INTERNA – “O PAPEL DO ESTADO”

Tendo em conta, que o conceito de SI se encontra devidamente tipificado em lei

própria14, proponho apresentar - embora que em traços gerais - uma comparação entre as

duas últimas realidades políticas em termos de regime vigoraram em Portugal, (Estado

Novo e Estado de Direito Democrático).

Após a revolução de 25 de Abril de 1974, que culminou na queda do regime político

liderado por António Oliveira Salazar – Estado Novo - e que vigorou em Portugal “um

pouco mais” de quatro décadas (1933-1974).

Em matéria de SI, foi necessária a realização de toda uma reformulação, face às

características políticas e modos de atuação, característicos de um Estado Ditatorial

Fascista, semelhantes a outros estados europeus - onde também vigorava nesta época –

este tipo de regime.

O Estado Novo consistia assim, num regime que dado o seu cariz autoritário, ainda

se encontrava muito pouco receptivo às constantes mudanças, principalmente externas,

logo e dada a dificuldade de entrada na sociedade portuguesa, nessa época, de qualquer

tipo de influências políticas, económicas, sociais, culturais e até mesmo tecnológicas, que

atentassem contra a ordem e soberania do Estado.

14

Lei nº 53/2008 de 29 de Agosto.

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No caso do atual regime político em vigor em Portugal, (Estado de Direito

Democrático), e de acordo com o que se encontra plasmado na CRP que teve inicio com

a queda do regime Estado Novo, a 25 de Abril de 1974, ocorre a partir de então uma

maior abertura e tolerância aos fatores externos e internos, “condicionados” até então,

pelo sistema de censura.

Esta abertura eventualmente leva Portugal a um acréscimo/desenvolvimento

enquanto sociedade, mas também e inevitavelmente a vários e novos tipos de ameaça(s)

e riscos em matéria de Segurança, tornando-se imperativa, nestas matérias, uma maior

preocupação por parte das FSS e FA, que foram sendo adaptados e em alguns casos

criados, face às diversas fases evolutivas da realidade social não só Portuguesa como

também mundial fruto do fenómeno da globalização, que em meu entendimento, começa

neste momento a dar os primeiros passos.

Em linhas gerais e fazendo uma comparação antes/depois da mudança de regime

político em Portugal, podemos de certa forma elaborar a seguinte comparação em termos

de políticas de SI:

No período sob o domínio do anterior regime, (Estado Novo), as questões

de SI encontravam-se claramente direcionadas para o Estado, onde o primordial

aspecto consistia da defesa incondicional, contra qualquer influência interna e até

mesmo externa, (quando essas mesmas ameaças eram oriundas do exterior) que

pudesse de alguma forma colocar em causa as políticas defendidas pelo regime

então vigente; mesmo que para tal, a opinião pública (através do povo), pudesse

vir a ser prejudicada em termos de desenvolvimento das mais diversificadas

matérias.

No período posterior à queda do antigo regime, (período pós 25 de Abril

de 1974), apesar de alguma instabilidade política própria de um Estado que havia

sido recentemente alvo de profundas alterações em termos de regime político, as

questões relacionadas com SI, vão abranger também a defesa da população, ou

seja, essa mesma segurança passa a ser mais direcionada para a população.

Deste modo, com a alteração de regime político em 1974, podemos afirmar que o

até então, Estado Autoritário/Totalitário, veio dar lugar a um Estado de Direito

Democrático, sendo que no primeiro conceito, na relação entre o Estado e o cidadão,

havia um considerável desequilíbrio entre estes dois, encontrando-se o cidadão em clara

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desvantagem, tendo em conta que de acordo com a constituição de 1933, o objeto central

era o estado. No segundo conceito, (Estado de Direito Democrático), assiste-se a um

equilibrar da balança, que equaciona o protagonismo a atribuir à relação Cidadão/Estado,

sendo que com a CRP de 1976 – atualmente em vigor – o objeto central, é o ser humano.

O papel do Estado em matéria de SI pode ser definido como um dos recursos, que

este tem ao seu dispor, para que de forma preventiva ou repressiva, salvaguardar

eventuais comportamentos oriundos de terceiros, que coloquem em causa direitos

fundamentais dos cidadãos; e num sentido mais amplo, a segurança do próprio Estado.

A questão da SI pode ser atualmente considerada, e à luz da visão defendida por

alguns autores como Ernest Gellner, onde este defendia e à semelhança de outros como

Max Weber, que o conceito de Estado passava pela defesa da ideia de que este era a

instituição que detém o monopólio da violência legítima na sociedade, e onde a violência

privada ou setorial é ilegítima.

Com base neste conceito, e ao falar em “violência legítima”, podemos concluir que

este tipo de comportamento só é admitido ao Estado e única e exclusivamente como

forma de repelir qualquer ameaça que atente contra a sua segurança, que ao ser posta

em causa, produzirá obviamente efeitos negativos para a população, pondo em questão

os tão aclamados e defendidos direitos, liberdades e garantias que esse mesmo Estado

promove para a sua população. O conceito de “violência legítima”, mencionado por estes

autores, encontra-se claramente tipificado na atual CRP, em especial com o disposto no

art.º 17º deste mesmo Diploma, (Regime dos direitos, liberdades e garantias), que

conjugada com o artigo 18º respeitante à Força Jurídica, e que vem tipificar a forma como

essa “violência legítima” pode ser exercida, que por sua vez, culminará no art. 272º, onde

se encontram definidas as atribuições de Polícia, funções estas, exercidas pelos mais

variados órgãos do Estado, para além da competência para manter a ordem pública, no

caso de estarem em causa esses mesmos direitos liberdades e garantias, no que

concerne a aspectos relacionados com a SI.

Em suma o papel do Estado em matéria de SI consiste na defesa de todos os

órgãos que o constituem, e sociedade civil, a fim de garantir fatores como a segurança de

pessoas e bens, através da promoção e efetivação dessa mesma segurança e

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tranquilidade pública e ordem democrática, contra qualquer tipo de ameaça que possa

colocar em causa algum destes fatores, sendo que para o efeito, o Estado detém o direito

exclusivo de através dos organismos designados para o efeito, o recurso a medidas e

formas de atuação de cariz repressivo, e que se encontram previstos e condicionados em

diversos diplomas legais e sempre em consonância com a CRP.

SEGURANÇA INTERNA – O PAPEL DA SOCIEDADE

Em 2001, nomeadamente no período após 11 de Setembro, a questão da segurança

passa para o plano mediático, de uma forma que em meu entendimento nunca antes

havia sido verificada, arriscando a ir ainda mais longe às minhas afirmações, ao

considerar que este período, em termos de transformações no nosso “modus vivendi”,

representou para toda a humanidade aquilo a que poderemos denominar de “ano zero”,

nas mais variadas matérias e, sobretudo, na realidade criminal, sendo esta uma das

principais preocupações dos Estados e diversas organizações que na persecução das

suas competências tem como principal função a garantia da segurança (externa e/ou

interna) de cada um é parte integrante.

Com todos estes acontecimentos, bem como os restantes que precederam ao

famigerado dia 11 de Setembro de 2001, nas questões de SI, já era notória uma

participação ativa por parte de entidades públicas e privadas, o que de certa forma veio

contrariar o cenário que até há alguns anos a essa parte, constituía uma competência

exclusiva do Estado, através das suas FSS e FA, ou seja a componente security, vem

assim constatar-se uma coligação em matéria de SI entre o Security e o Safety.Em

conclusão ao que è exposto ao longo deste trabalho resta-me salientar a importância que

para todos nós significa a abertura por parte do Estado relativamente às questões de SI

com a Sociedade Civil, dada a emergência de uma nova ordem global, permitindo e

sujeitando Portugal - bem como aos restantes países que até então se encontravam de

certo modo estanques - às inúmeras transformações sociais e políticas e que ao

concederem uma maior“abertura” face ao mundo exterior se vê a braços com uma

necessidade imperativa de mudança, assente na reformulação e criação de novas

políticas de atuação, face aos fatores exógenos, provenientes dessa mesma “abertura”.

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Assistimos neste momento a uma mutação da SI, de tal modo que por inúmeras

vezes se tem levantado a questão quanto à diferenciação em termos conceptuais e

operacionais face ao que até então era matéria constituinte do conceito de Segurança

Externa e que neste momento e à semelhança do que anteriormente foi referido como

sendo neste momento a “face externa da Segurança Interna”, quando neste preciso

momento e por diversos locais do globo, homens e mulheres pertencentes a

instituições/organizações, que até então, viam a sua atuação restringida apenas ao

território nacional português, desenvolvem agora as suas atividades por vários locais

diferentes de Portugal, não apenas em termos territoriais, mas também e sobretudo, que

em muito diferem em termos sociais e culturais, catapultando - neste caso em concreto o

nome de Portugal - para um palco de atuação a uma escala cada vez mais globalizante, e

cujo seu papel tem vindo a demonstrar ser preponderante, na persecução do conceito

Global, sendo para tal necessária a colaboração de todos nós, enquanto atores sociais,

nas questões da SI, de forma que com o nosso contributo – por mais insignificante que

nos possa parecer – possamos participar na “construção” e “solidificação” de uma

sociedade cada vez mais Safety e Security, pois só deste modo poderemos realmente

tirar proveito das inúmeras potencialidades que esta globalização, tem para nos oferecer,

pois só assim, nos poderemos “galvanizar” face a todos os restantes fenómenos

negativos agregados ao conceito da globalização.

“A nossa Segurança Interna, cada vez mais depende da cooperação

Internacional”

TERRORISMO

Muito embora seja um tema propicio a inúmeras considerações; dada a considerável

amplitude, enquanto fenómeno; associado a uma diversidade de formas de atuação.

Neste capítulo pretendo demonstrar; muito embora, e de uma forma algo sucinta, no

que consiste basicamente o Terrorismo com especial incidência no fenómeno do

Terrorismo Suicida, sem em meu entendimento é sem sombra de duvida, a forma mais vil,

de colocar em prática este fenómeno, denotando-se desde logo, uma determinação

extremista, por parte de quem se dispõe a colocar termo á sua própria existência, em prol

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de algo que considera como “uma causa maior” e/ou aquilo em que muitos tendem em

definir, para justificar tal acto; “causa divina”.

TERRORISMO vs SUICÍDIO Antes de mais devemos começar por definir em primeiro lugar o que significa o

Terrorismo e posteriormente, demonstrar um dos métodos utilizados por aqueles que

através do fenómeno do terrorismo, recorrem, ao que na minha opinião demonstra uma

das formas mais bizarras de perpetuar um acto de terrorismo; o Terrorismo Suicida.

Basicamente, o Terrorismo consiste num método onde através da adopção de

medidas violentas, sejam estas de carácter físico ou psicológico, praticada por indivíduos

provenientes de grupos políticos, ou ideológicos, que visa por em causa a ordem

estabelecida, e que estes mesmos actos se podem manifestar através de ataques a

indivíduos, a grupos de indivíduos, ou ainda e numa escala mais abrangente, a um

governo ou uma população.

Existem no entanto vários conceitos e definições de terrorismo, de

entre estas escolhi aquela definição que no meu entender me parece a mais

adequada para ilustrar este fenómeno e que consiste na definição adoptada

pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, onde defende que o

terrorismo consiste num tipo específico de violência, embora que, este termo

seja igualmente utilizado para definir outros tipos de violência considerados

inaceitáveis, as acções terroristas típicas incluem; assassinatos, sequestros,

atentados bombistas; linchamentos, entre outros.

Relativamente ao Suicídio, entende-se que este acto está associado a uma vontade

de por termo à própria vida, e que a este mesmo acto estão subjacentes factores de

carácter psicológicos e também ideológicos.

Mas associado a este acto; o suicídio, existem também aspectos culturais e até

mesmo religiosos, e para ilustrar esta afirmação podemos referir no caso da cultura

Japonesa o caso do Seppuku e que consistia no por termo à própria vida como acto de

“limpar” o nome da família a que se pertencia, perante essa mesma sociedade, em

contrapartida em sociedades como a Ocidental e à visão da religião – neste caso a

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Religião Católica – o suicídio é algo que não é aceite, uma vez que um dos mandamentos

explícitos na Bíblia refere a seguinte expressão, “…não mataras…”, logo entende-se que

é proibido e censurável – tanto pela religião assim como pela sociedade – o acto de tirar a

vida a alguém, bem como o por termo à própria vida.

Durkiem, através da sua obra denominada “O Suicídio”, datada de 1897, tece uma

análise a este fenómeno e após essa mesma análise, viria a titulo conclusivo utilizar a

seguinte expressão; “…o suicídio varia na razão inversa do grau de integração da

sociedade religiosa, doméstica e politica…”

TERRORISMO SUICIDA

Como referi no início deste capítulo; o Terrorismo Suicida, consiste na minha opinião

numa das formas mais impressionantes e mortíferas de terrorismo, uma vez que nos leva

a pensar ao ponto a que pode chegar a dedicação/ devoção a uma causa ou ideologia,

quando alguém decide por termo à própria vida em prol de uma determinada causa.

Apesar de constituir uma pequena parte de todos os incidentes terroristas, é contudo

a forma mais mortífera, dada a percentagem elevada das vítimas que acarretam este acto

de terrorismo15.

O principal objectivo de um atentado terrorista, levado a cabo através de um acto

suicida, consiste na tentativa de causar o maior dano possível no alvo a que se destina,

pelo que esta forma de terrorismo tem um grau de precisão mais elevado do que qualquer

outro, pelo simples facto de que o suicida poder movimentar-se com maior facilidade no

meio onde se pretende efectuar o atentado.

No entanto há uma questão que se coloca – Será que em todos os atentados

terroristas, o suposto suicida saberia ao que realmente iria?

Não, uma vez que em alguns dos casos os indivíduos que recebem instruções

relativas à eventual preparação de um atentado sabem que se têm de deslocar a

15

Representam cerca de 3% da globalidade dos actos terroristas, no entanto são a causa de cerca de 48% das fatalidades relacionadas com o terrorismo no período de tempo compreendido entre 1980 e 2003.

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determinado espaço, sem que no entanto estejam cientes de que essa deslocação será

uma viagem sem retorno.

Note-se que neste caso não estamos perante um suicídio, no entanto a intenção

dessas organizações terroristas é a de dar a entender ao mundo que aquele acto em

questão se tratou na realidade de um acto de suicídio, o que de certo modo vai criar um

maior impacto perante a opinião pública, (apoiante ou não deste tipo de comportamento),

deixando assim bem claro até que ponto essa mesma organização terrorista esta,

disposta a ir em prol da causa que defende.

Nos casos que realmente se tratam de atentados suicidas, o elemento suicida, (e

falamos nos casos de fundamentalismo islâmico) é visto não apenas pelos membros da

organização a que pertence, mas também pelos familiares que defendem e apoiam essa

mesma causa, como um mártir, valorizando assim o seu acto como necessário em nome

de uma causa supostamente superior, ficando desde logo a este mártir atribuído uma

conotação comportamental, como alguém de índole nobre, valoroso, heróico e até mesmo

de ser o executante de uma missão divina, e que em virtude do seu acto, encontrará

certamente a merecida compensação, (compensação divina), sem descurar também a

compensação em termos monetários que a família do suicida receberá após a morte

deste, uma vez que na grande maioria dos casos o suicida provem de famílias pobres

com poucos recursos monetários.

Contudo, os ataques suicidas aumentaram de uma média de três por ano, (durante

os anos 80) para cerca de 50% no ano de 2005, tendo ocorrido mais de 300 atentados

suicidas em mais de 16 países (Afeganistão, Chechénia/Rússia, China, Indonésia, Iraque,

Caxemira; Quénia, Marrocos, Paquistão, Palestina/Israel, Arábia Saudita, Sri-Lanka,

Tunísia, Turquia, Estados Unidos e Iémen), os quais resultaram na morte de mais de

5.300 pessoas e mais de 10.000 feridos, sendo que 75% destes atentados ocorreram

após os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América.

Aliado à quantidade de baixas humanas, resultantes destes actos, estão também

subjacentes importantes consequências económicas e ambientais.16

16

Em Outubro de 2002, uma pequena embarcação que transportava terroristas suicidas abalroou com

sucesso o super-petroleiro Limburg ao largo da costa do Iémen, derramando 90.000 barris de petróleo no

Golfo de Aden, causando uma breve subida no preço do petróleo.

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Na década de 80, assistimos a vários ataques terroristas com o recurso ao suicídio

em países como; Líbano, Kuwait e Sri Lanka, e em meados da década de 90 este

fenómeno já se havia alastrado a países como Israel; Índia, Panamá, Argélia, Paquistão

entre outros.

As motivações dos terroristas suicidas, geralmente estão ligadas a factores

religiosos ou de etno-nacionalismo.

Como forma ilustrativa desta afirmação, vou tentar fundamentar-me em alguns

casos de organizações terroristas, que encontram no suicídio terrorista uma das formas

de demonstrar até que ponto estão determinados a ir em prol da causa que defendem e

querem impor.

Relacionado com questões religiosas, temos organizações como a Al-Quaeda, a

celebre organização terrorista que atingiu o seu auge de protagonismo no mundo

terrorista através do fatídico atentado às torres gémeas de Nova Iorque, nos Estados

Unidos da América a 11 de Setembro de 2001, e que chocou toda comunidade mundial,

tendo a partir dai, lançado a questão do terrorismo para um plano mais global e dando a

entender pelo facto de neste atentado terem sido vitimas, milhares de cidadãos inocentes

e que apenas estavam como se costuma dizer; “ no sitio errado à hora errada”, também

no atentado ao edifício do Pentágono, bem como em relação a um terceiro avião que se

viria a despenhar sem que no entanto tivesse atingido nenhum local especifico,

culminando apenas na morte de todos os passageiros que nele seguiam viagem.

No caso do Hezbollah, que traduzindo para a nossa língua significa “Partido de

Deus”, trata-se de uma organização política e militar dos muçulmanos Xiitas do Líbano,

criada no contexto da invasão de Israel ao sul do Líbano, e que no entanto, apesar de, e

de acordo com a politica defendida pelos Estados Unidos e Israel, esta organização ser

considerada como terrorista, para a grande maioria dos habitantes do Líbano e em

especial do mundo islâmico, é apenas uma organização de resistência a Israel, mas que

no entanto e com o recurso a mártires, recorre com alguma frequência a atentados

suicidas.

Uma outra organização considerada como terrorista é o Hammas, cujo nome

significa; “Movimento de Resistência Islâmica” e que tem como base da sua luta armada

com a finalidade da criação do estado palestiniano.

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Apesar de se tratar de organizações de base ideológica religiosa, existem nestas

fortes motivos etno-nacionalistas.

Mas como exemplo de organizações igualmente designadas como terroristas, mas

que têm como objectivo da sua luta aspectos apenas relacionados com questões etno-

nacionalistas, temos o PKK – Partido dos Trabalhadores do Curdistão17, e que luta pela

autonomia no sudoeste da Turquia, e o LTTE – Tigres de Libertação do Tamil Eelam, que

lutam pela autodeterminação do povo Tamil, através da criação de um estado

denominado de Tamil Eelam.

Voltando às motivações supostamente de carácter religioso, que servem de motivo

de actuação a estas organizações terroristas, venho deste modo abordar o caso do

fundamentalismo islâmico e os fundamentos desta corrente religiosa como forma de

justificação/legitimação, para os seus actos.

Segundo interpretações do Alcorão, livro sagrado, pelo qual se rege a religião

islâmica, e que também estas organizações terroristas se baseiam, (embora e segundo

muitos dos seus seguidores não concordem com esta interpretação), esta atuação deve-

se ao facto neste mesmo livro sagrado serem mencionados aspectos que no entender

dos líderes destas organizações, consideram a sua actuação como uma guerra santa,

legitima e que tem de ser defendida ou travada para corrigir um mal; “…combatei pela

causa de Deus, aqueles que vos combatem, porem, não pratiqueis agressão, porque

Deus não ama os agressores…”.

Como resultado final desta motivação, estamos perante uma Jihad, e que consiste

num conceito muçulmano de guerra santa onde os mártires provenientes desta mesma

guerra têm o paraíso assegurado.

Importa, considerar que actualmente o terrorismo, constitui um fenómeno que directa

ou indirectamente atinge cada um de nós, onde errado será pensar que, onde quer que

estejamos estaremos seguros e a salvo de atentados deste género, tendo em conta, que

cada vez mais por todo o globo e devido às politicas económicas e sociais, que originam

17 - O PKK tem por objectivo a criação de um estado curdo independente socialista no território que alega

como Curdistão. Fundado em 1978 na Turquia, inicia a sua guerra de guerrilha em 1984.Esta organização reivindica uma região curda autónoma no sudeste da Turquia, onde vivem cerca de 12 milhões de curdos.

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uma maior movimentação de pessoas e bens de uma forma transnacional, em virtude das

movimentações migratórias, menor controlo de fronteiras em alguma regiões do globo,

bem como ao papel cada vez mais aberto na circulação de informação, seja esta

transmitida pelos órgãos de comunicação social, assim como através de meios como a

Internet, ou seja toda uma panóplia de meios, que embora tragam muitos benefícios para

a população mundial, acarretam naturalmente factores negativos para a segurança e

bem-estar dessas mesmas populações, dos quais o terrorismo faz parte, assim como

outros aspectos de igual forma negativos como é o caso do comercio de armamento,

narcotráfico e tráfico de seres humanos (para as mais variadas finalidades ilícitas), alguns

destes aspectos poderão ser o resultado do desmembrar de antigos estados como o

antigo bloco Soviético, onde e uma vez que se tratava de uma super-potência em vários

campos, ficando esses meios agora mais acessíveis a outros estados e por sua vez a

determinadas organizações terroristas, o que consistiu uma maior ameaça para todos

aqueles que de alguma forma se tentam opor à proliferação dos ideais dessas mesas

organizações.

Outro aspecto que considero ser muito importante, no que concerne ao combate ao

terrorismo, esta relacionado com o entender das motivações (culturais, religiosas, politicas

e nacionalistas), motivações pelas quais todas estas organizações se regem,

considerando este o ponto de partida para uma maior eficácia na resposta a esta ameaça.

TERRORISMO – QUE RESPOSTA?

Como resposta a este tipo de fenómeno, as autoridades de vários países tem vindo

a desenvolver mecanismos cada vez mais eficazes com o intuito de ter uma maior

capacidade de resposta face a ameaça do terrorismo, que e nomeadamente após os

atentados de 11 de Setembro de 2001, trouxe para a opinião publica, de uma forma mais

acentuada a questão do terrorismo.

Todo este trabalho de prevenção e combate ao terrorismo por parte destes estados,

resultou de certa forma dada uma maior cooperação entre alguns estados, visto

actualmente o fenómeno do terrorismo se encontrar num plano mais global do que local

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ou até mesmo regional, e que devido a esta proliferação, tem aumentado o sentimento de

insegurança igualmente ao nível global.

Como forma de uma maior capacidade de resposta, é aqui que entra o trabalho de

Intelligence, através dos diversos serviços de informações e de segurança que cada um

dos estados possui, de forma a prevenir ameaças internas ou externas e que ponham em

causa a segurança de cada um destes estados.

O principal objectivo destes serviços de Intelligence e nomeadamente no que

concerne ao combate ao terrorismo, consiste na identificação de presumíveis alvos,

identificação e localização de indivíduos bem como motivações que possam levar à

preparação de um atentado terrorista.

Para isto, muitas das vezes exerce-se uma tentativa de infiltração dentro destas

organizações terroristas de forma a poder entender os seus motivos e antecipar e anular

as suas acções, falamos claro está de todo um trabalho de “inside job”, com o recurso em

muitos dos casos a agentes infiltrados ou então através de elementos dessa mesma

organização terrorista, que por algum motivo decidem colaborar com as autoridades,

constituindo assim uma importante fonte de informação que culminara com o resultado

final e que é a intelligence.

Torna-se desta forma imperativo, que os Estados, através dos recursos ao seu

dispor, tomem as medidas preventivas necessárias, de forma a controlar a proliferação,

principalmente dos ideais de que se servem as organizações terroristas e que tem nos

últimos anos assolado o mundo inteiro, através das mais diversas formas, com a

finalidade de atingir um ponto de equilíbrio e também de viragem no que respeita à

tolerância principalmente cultural entre povos e nações.

Só desta forma poderemos realmente sentir um verdadeiro sentimento de

segurança.

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LISTA DE ABERVIATURAS CP – CÓDIGO PENAL

CRP – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

FA – FORÇAS ARMADAS

FSS – FORÇAS E SERVIÇOS DE SEGURANÇA

LSI – LEI DE SEGURANÇA INTERNA

SSI – SISTEMA DE SEGURANÇA INTERNA

UE – UNIÃO EUROPEIA

PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

ONG – ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL

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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | Nº 8 | julho de 2015

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