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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 37 | agosto de 2016 1 DIREITO, SEGURANÇA E DEMOCRACIA AGOSTO 2016 37 O TRÁFICO DE SERES HUMANOS NO ESPAÇO DE LIBERDADE, SEGURANÇA E JUSTIÇA Trafficking in human beings in the freedom, security and justice area Tatiana Maria de Oliveira Marques Mestranda em Direito e Segurança RESUMO A criação do espaço Schengen e consequente abolição de fronteiras internas permitiu a livre circulação de pessoas e bens nos Estados signatários. No entanto, esta livre circulação veio facilitar a expansão da criminalidade organizada a nível internacional, pelo que teve de ser acompanhada de medidas compensatórias de forma a conciliar a liberdade com a segurança. Neste contexto o tráfico de seres humanos passa a ser uma preocupação dos Estados e de toda a União Europeia, visto que é considerado um fenómeno global e transnacional. Este fenómeno persiste há milhares de anos sendo, por vezes, confundido com a imigração ilegal. É um crime com características próprias e de difícil detecção pelo que se torna necessário aprofundar conhecimentos para que a resposta dada no seu combate seja adequada.

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O TRÁFICO DE SERES HUMANOS NO ESPAÇO DE LIBERDADE, SEGURANÇA E JUSTIÇA Trafficking in human beings in the freedom, security and justice area Tatiana Maria de Oliveira Marques Mestranda em Direito e Segurança

RESUMO A criação do espaço Schengen e consequente abolição de fronteiras internas

permitiu a livre circulação de pessoas e bens nos Estados signatários. No entanto, esta

livre circulação veio facilitar a expansão da criminalidade organizada a nível internacional,

pelo que teve de ser acompanhada de medidas compensatórias de forma a conciliar a

liberdade com a segurança.

Neste contexto o tráfico de seres humanos passa a ser uma preocupação dos

Estados e de toda a União Europeia, visto que é considerado um fenómeno global e

transnacional. Este fenómeno persiste há milhares de anos sendo, por vezes, confundido

com a imigração ilegal. É um crime com características próprias e de difícil detecção pelo

que se torna necessário aprofundar conhecimentos para que a resposta dada no seu

combate seja adequada.

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O aumento do número de casos sinalizados de vítimas de tráfico de seres

humanos veio colocar em causa a livre circulação de pessoas e bens no espaço de

liberdade, segurança e justiça. É portanto necessário que os Estados estejam alertas para

este fenómeno e que cooperem entre si de forma a garantir o sucesso do seu combate

pois o tráfico de seres humanos não conhece fronteiras.

PALAVRAS-CHAVE Tráfico de seres humanos, Schengen, imigração ilegal, fronteiras, União europeia,

liberdade, segurança, estados membros, criminalidade, vítima, prevenção, cooperação.

ABSTRACT The creation of the Schengen area and consequent abolition of internal borders as

enabled the free movement of people and goods in the member States. However, this free

movement has favored the expansion of organized crime on an international level, which

led to mitigation measures in order to reconcile freedom with security.

In this context, trafficking in human beings is now a major concern for the States as

well as the whole European Union, as it is now considered a global and transnational

phenomenon. This phenomenon persists for thousands of years, being sometimes

confused with illegal migration. It is a crime with specific characteristics and hard to detect

and thus, it is necessary to have a deeper knowledge on the subject in order to make the

combat more adequate in terms of response.

The increase of the number of identified cases of human trafficking victims has

came to question the free movement of people and goods in the freedom, security and

justice area. It is, therefore, necessary for the States to be alert to this phenomenon and to

cooperate with each other in order to ensure success in its combat, because trafficking in

human beings knows no boundaries.

KEYWORDS Human Trafficking, Schengen, illegal immigration, borders, European Union, freedom,

security, member states, crime, victim, prevention, cooperation.

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1. Introdução

O presente trabalho foi elaborado no âmbito da disciplina “Estado, Globalização e

Segurança” leccionada no 1º semestre do Mestrado em Direito e Segurança e pretende

abordar a problemática do Tráfico de Seres Humanos num Espaço de Liberdade,

Segurança e Justiça marcado pela abolição do controlo das fronteiras internas.

O tráfico de seres humanos é expressamente proibido estando previsto no artº 5º

da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Desta forma a União criou um

quadro jurídico com o intuito de fazer face a esse fenómeno. O gradual aumento dos

casos sinalizados de vítimas de tráfico de seres humanos coloca em causa a livre

circulação de pessoas num espaço sem controlo de fronteiras internas. Assim torna-se

necessário adoptar medidas para garantir a continuidade da livre circulação num espaço

de liberdade, segurança e justiça e combater este tipo de criminalidade que afecta os

cidadãos mais vulneráveis e a própria segurança dos Estados.

Este trabalho inicia com a abordagem ao tráfico de seres humanos. Posteriormente

refere uma breve alocação sobre a criação do espaço Schengen e a sua integração na

União Europeia, sendo por fim abordado o tráfico de seres humanos na União Europeia.

Serão elencados alguns dados estatísticos referentes ao tráfico de seres humanos,

bem como a legislação que visa a sua prevenção. Será ainda abordada a estratégia para

a erradicação do tráfico de seres humanos actualmente em vigor apresentando as

prioridades nela contidas.

2. O tráfico de seres humanos O tráfico de seres humanos não é um fenómeno recente nem se encontra

confinado às fronteiras dos países. Este fenómeno é praticado há milhares de anos, no

entanto tornou-se popular na era dos descobrimentos com a escravatura de vários

africanos. Estes eram apanhados por traficantes e comercializados como se fossem

mercadorias com vista à obtenção de mão-de-obra escrava. (Costa, 2011)

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Nos dias de hoje este fenómeno ainda persiste, sendo considerado um fenómeno

global e transnacional. É um negócio lucrativo e atractivo para grupos criminosos

organizados, e uma das atividades mais rentáveis a seguir ao tráfico de armas e de

droga. (United Nations Office of Drugs and Crime, 2011)

Presume-se que em todo o mundo cerca de 2,5 milhões de pessoas sejam vítimas

de tráfico de seres humanos, sendo que em Portugal houve cerca de 1222 sinalizações

no período compreendido entre 2008 e 2015, segundo dados do Observatório de Tráfico

de Seres Humanos. Estes dados são meramente estatísticos e ilusórios uma vez que o

crime em questão é de difícil investigação, pois o aumento da criatividade dos traficantes

em conjunto com o “vazio legal” e com as dificuldades de atuação dos Órgãos de Policia

Criminal leva a que este crime tenha um baixo grau de detecção, investigação e

penalização, comparativamente com outras atividades ilegais. (Santos, Boaventura;2008)

O combate ao tráfico de seres humanos assumiu particular expressão com a

Convenção Europeia dos Direitos Humanos, assinada em Roma em 1950. Esta

Convenção tem por objectivo a defesa dos Direito Humanos, proibindo no seu artº 4º

práticas como a escravatura e o trabalho forçado. Criou ainda o Tribunal Europeu dos

Direitos do Homem de forma a garantir uma eficaz protecção dos direitos reconhecidos

pela Convenção. Posteriormente foram aprovadas diversas recomendações relacionadas

com o tráfico de seres humanos.

Para identificar o crime de tráfico de seres humanos é necessário diversos

conhecimentos que permitam uma avaliação eficaz dos indícios e o seu consequente

diagnóstico. Uma vez que é frequente confundir o crime de tráfico de pessoas com o

crime de auxílio à imigração ilegal torna-se necessário distinguir estes dois tipos de crime,

pois os seus elementos constitutivos são diferentes e portanto as respostas que são

exigidas às autoridades dependem do crime em causa. (Costa, 2011)

A definição de tráfico de pessoas encontra-se no Protocolo Adicional à Convenção

das Nações Unidas Contra a Criminalidade Organizada Transnacional relativo à

Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e

Crianças, (Protocolo contra o Tráfico de Pessoas). Este Protocolo, bem como o Protocolo

Adicional relativo ao Tráfico Ilícito de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea,

(Protocolo relativo ao Tráfico de Migrantes) encontram-se na Convenção Contra a

Criminalidade organizada Transnacional adotada em 2000 pela Assembleia Geral das

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Nações Unidas. O seu objectivo era o de promover a cooperação entre os Estados com o

intuito de prevenir e combater de uma forma mais eficaz a criminalidade organizada

transnacional.

O Protocolo relativo ao Tráfico de Pessoas apresenta no seu artº 3º a definição de

Tráfico de Pessoas como sendo “o recrutamento, o transporte, a transferência, o

alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a

outras formas de coacção, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de

situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para

obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de

exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de

outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a

escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extracção de órgãos.”

Segundo esta definição o crime de tráfico de pessoas engloba três elementos

constitutivos, não bastando a verificação isolada de cada um deles para se poder afirmar

que estamos perante este tipo de crime. Assim é necessário que ocorra uma acção

(recrutamento, transporte, alojamento, acolhimento), através de um meio (ameaça, uso da

força, coacção, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, etc.) e com um objectivo

(exploração).

Na legislação Nacional este crime encontrava-se inicialmente previsto nos “crimes

Sexuais”. Com as posteriores alterações ao Código Penal, o Crime de Tráfico de Pessoas

encontra-se hoje na epígrafe do artº 160º relativo aos “Crimes contra a Liberdade

Pessoal”. Segundo este artigo comete o Crime de Tráfico de Pessoas:

1 - “Quem oferecer, entregar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoa

para fins de exploração sexual, exploração do trabalho ou extracção de órgãos:

a) Por meio de violência, rapto ou ameaça grave;

b) Através de ardil ou manobra fraudulenta;

c) Com abuso de autoridade resultante de uma relação de dependência

hierárquica, económica, de trabalho ou familiar;

d) Aproveitando-se de incapacidade psíquica ou de situação de especial

vulnerabilidade da vítima; ou

e) Mediante a obtenção do consentimento da pessoa que tem o controlo

sobre a vítima;

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Confrontando a definição dada pelo Protocolo relativo ao Tráfico de Pessoas e pela

tipificação do crime que nos é dado pelo Código Penal Português verifica-se que neste

último o referido crime também exige três elementos constitutivos (acção, meios e

objectivo).

Para que se consume o crime de tráfico é necessário que o agente pratique uma

das acções enumeradas e empregue para tal os meios enunciados com a intenção de a

explorar, não sendo portanto necessário a exploração efectiva. A exploração não tem

uma definição concreta, apenas são enumeradas algumas formas de exploração,

podendo ser considerado exploração qualquer uma das formas enumeradas no Protocolo,

bem como outras consideradas pertinentes. (Salt 2000 in “O tráfico de migrantes em

Portugal”)

O artº 5º do Protocolo obriga a criminalização do tráfico de pessoas, no entanto

não é exigível que a legislação de cada estado acolha os termos exatos da definição nele

constante. A legislação é elaborada de acordo com o quadro legal existente em cada

país, devendo consagrar os elementos típicos referidos na definição dada pelo Protocolo,

facto que é visível através da comparação das definições acima transcritas.

Relativamente ao auxílio à imigração ilegal a sua definição encontra-se no

Protocolo Adicional relativo ao Tráfico Ilícito de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e

Aérea, mais precisamente no seu artº 3º, segundo o qual entende-se por “Tráfico ilícito de

migrantes o facilitar da entrada ilegal de uma pessoa num Estado Parte do qual essa

pessoa não é nacional ou residente permanente com o objectivo de obter, directa ou

indirectamente, um benefício financeiro ou outro benefício material.”

Segundo esta definição verifica-se a existência de uma acção (facilitação da

entrada ilegal) e um objectivo (obter benefício financeiro ou material) não sendo portanto

visível nem relevante os meios como ocorre a facilitação da entrada no Estado de

acolhimento.

O artº 3º entende por “entrada ilegal a passagem de fronteiras sem preencher as

condições necessárias para a entrada legal no Estado de acolhimento”.

O artº 6º do referido Protocolo requer a criminalização da introdução clandestina de

migrantes nos casos em que esta ocorra de forma intencional, ou seja, para que seja

imputado a alguém o crime de auxílio à imigração ilegal é necessário que o agente atue

de forma dolosa e que obtenha lucro com o seu ato.

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O crime de auxílio à imigração ilegal encontra-se previsto nº artº 183º da lei

23/2007 que aprova o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de

estrangeiros do território nacional. Segundo este artigo comete o referido crime “quem

favorecer ou facilitar, de qualquer forma, a entrada ou o trânsito ilegais de cidadãos

estrangeiros em território nacional” bem como “quem favorecer ou facilitar por qualquer

forma, a entrada, a permanência ou o trânsito ilegais de cidadão estrangeiro em território

nacional, com intenção lucrativa.”

Verifica-se segundo esta definição que o auxílio à imigração ilegal tem a finalidade

de obter lucro para facilitar a passagem de fronteiras através de meios ilegais.

(Engle,2004)

Quem se dedica a este tipo de ilícitos consegue obter documentos de uma forma

ilegal, nomeadamente através da falsificação ou suborno dos agentes de imigração,

permitindo desta forma a entrada legal no país de destino. (Engle,2004)

Verifica-se ainda que não é definido “facilitação”, subentende-se que esta refere-se

ao ato que leva a determinado fim, sendo neste caso a entrada ilegal num país do qual

não é nacional.

Comparando os pressupostos de cada uma das definições podemos apurar que

ambos são fenómenos de migração irregular com vista à obtenção de lucro, no entanto é

importante estabelecer as diferenças entre estes dois crimes. Segundo Aronowitz, citado

por Boaventura de Sousa Santos in “Tráfico de mulheres em Portugal para fins de

exploração sexual”, existem algumas diferenças importantes a apontar:

O auxílio à imigração ilegal recai sobre uma situação de irregularidade no território

nacional, não tendo relevância a finalidade da entrada irregular, pois após chegar ao país

de destino o indivíduo é livre para fazer o que quiser. O tráfico de seres humanos

pressupõe diversas acções e meios para obter um fim que é a exploração de outrem.

Quem recorre à imigração ilegal fá-lo de uma forma voluntária, enquanto no caso

do tráfico não há o consentimento da vítima, ou caso haja num momento inicial este torna-

se irrelevante devido aos meios utilizados pelos traficantes.

No auxílio à imigração ilegal a pessoa paga a outra para que lhe seja facilitado a

passagem de fronteiras de uma forma ilegal. Este pagamento geralmente ocorre antes do

início da viagem, deixando o individuo de ser uma preocupação para quem o auxiliou,

quer durante a viagem quer após a chegada ao destino. No caso do tráfico o traficante

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tem o intuito de explorar a vítima pelo maior tempo possível, pois esta fica dependente

dos traficantes.

O Departamento das Nações Unidas Contra Drogas e Crime menciona ainda a

transnacionalidade como sendo outro aspeto importante na distinção entre estes dois

tipos de crime. A introdução ilegal de uma pessoa implica o atravessamento de fronteiras,

enquanto o tráfico ocorre independentemente se as vítimas são levadas para outro país

ou para um outro local dentro do mesmo país.

Alguns autores defendem que o auxílio à imigração ilegal pode converter-se em

tráfico após a chegada ao país de destino. Algumas vítimas de tráfico iniciam a sua

viagem com o intuito de serem introduzidas ilegalmente num determinado país, contudo

acabam por constatar que foram enganadas ficando sujeitas a situações de exploração.

Por vezes os agentes do crime tem a intenção inicial de introdução clandestina de

migrantes, mas quando confrontados com a possibilidade de obter lucro com a sua acção

convergem para a prática do tráfico explorando as vítimas. Outro exemplo em que uma

situação de introdução ilegal de migrantes pode convergir para tráfico está relacionado

com o pagamento do ilícito, ou seja, o indivíduo paga apenas uma parte do montante no

início da viagem ficando em falta outra parte que será liquidada aquando da chegada ao

destino. Nestes casos eles são forçados a trabalhar auferindo salários demasiado baixos

para pagarem o montante em dívida. (Peixoto, João 2005 in “O tráfico de migrantes em

Portugal: perspectivas sociológicas, jurídicas e políticas”)

Pelo exposto podemos afirmar que apenas após a chegada ao país de destino, é

que é possível verificar se estamos perante um crime de auxílio à imigração ilegal ou

tráfico de seres humanos. (Van Impe, 2005 in “O tráfico de migrantes em Portugal:

perspectivas sociológicas, jurídicas e políticas”)

O tráfico de seres humanos pode envolver outros crimes, tais como extorsão,

tortura, ofensas à integridade física, injurias, homicídio, rapto, entre outros, pelo que a sua

identificação é importante nomeadamente nos casos em que as provas existentes não

são suficientes para desencadear um procedimento criminal por tráfico de pessoas, mas

podem ser suficientes para prosseguir criminalmente estes tipos de crime, tal como

recomenda o Manual das Nações Unidas contra o Tráfico de Pessoas.

Após verificarmos estas diferenças podemos afirmar que é difícil identificar se

estamos perante um crime de auxílio de imigração ilegal ou um crime de tráfico de seres

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humanos pois a fronteira entre estes dois tipos de criminalidade é ténue e ambos

apresentam pontos coincidentes. (Costa; 2011) Esta dificuldade prende-se ainda pelo

facto dos traficantes serem astutos nas suas estratégias e as vítimas terem receio em

denunciar a sua situação de exploração. Um incidente pode dar uma clara indicação da

ocorrência do referido crime, no entanto em muitos casos a informação é escassa e

pouco óbvia. Assim torna-se necessário adquirir sólidos conhecimentos sobre o crime em

questão para o saber identificar com rigor. (Costa, 2011)

Alguns casos de tráfico podem ser denunciados por pessoas externas ao meio e a

quem a vítima confidenciou a sua situação de exploração. Um exemplo desta situação

são os casos de prostituição em que a vítima confidencia ao cliente que se encontra a ser

explorada por alguém, e esta denúncia o caso às autoridades. No entanto estas

denúncias ocorrem com pouca frequência pois como foi enunciado anteriormente as

vítimas tem receio de represálias caso denunciem a situação. (Costa, 2011)

O Manual das Nações Unidas contra o Tráfico de Pessoas menciona que outra

forma de identificar casos de tráfico é através do policiamento efectuado pelas

autoridades, nomeadamente no controlo fronteiriço, e nas acções de fiscalização de

estabelecimentos de diversão nocturna, fábricas ou explorações agrícolas, onde poderá

ser provável encontrar pessoas que possam estar a ser exploradas. Contudo é importante

verificar a veracidade das informações recolhidas pois pode-se correr o risco da atuação

não surtir resultados. Existem diversos factores que nos indicam se uma pessoa poderá

estar a ser vítima de tráfico, no entanto diferem de acordo com o tipo de tráfico. Desta

forma é importante saber identificar esses factores e conjugá-los com as informações

recolhidas para se poder actuar de uma forma mais célere. Esses factores estão

relacionados com a faixa etária, o género, local de origem, local onde a vítima é

encontrada e o transporte. Relativamente à faixa etária esta pode indicar se uma pessoa

está a ser vítima de tráfico. Segundo o Manual das Nações Unidas, quanto mais velha for

a pessoa menor é a probabilidade de ser vítima de tráfico. Este fator é importante nos

casos de exploração sexual pois os “clientes” por norma procuram mulheres mais jovens.

O mesmo acontece nos casos de exploração laboral pois quanto mais velha for a pessoa

menos produtiva se torna. No entanto verifica-se algumas excepções, pois os idosos por

norma são utilizados na mendicidade. O tráfico sexual afecta sobretudo as mulheres,

contudo para o tráfico laboral são recrutados tanto homens como mulheres.

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Segundo o mesmo manual o local de origem é um factor de relevo em matéria de

tráfico de seres humanos. Por norma as vítimas são provenientes de países pouco

desenvolvidos e com poucos recursos onde reina um ambiente de pobreza e poucas

oportunidades.

Aquando da passagem das fronteiras as vítimas de tráfico exibem documentos de

viagem falsos ou pertencentes a outra pessoa o que poderá ser um indício de que

estamos perante uma situação de tráfico de seres humanos. Verifica-se ainda que as

vítimas estão permanentemente acompanhadas ou controladas pelos traficantes. Isto

acontece porque os traficantes receiam que as vítimas se apercebem que vão ser

exploradas à medida que se aproximam do local de destino.

Pelo exposto, até ao momento, verificámos as diferenças entre tráfico de seres

humanos e auxílio à imigração ilegal e a dificuldade em identificar os casos de tráfico de

seres humanos pelo que se torna importante permanecer alerta aos factores que nos

podem indicar esses casos, bem como adoptar medidas para o prevenir.

A criação do espaço Schengen e a consequente abolição do controlo de fronteiras

internas teve consequências na luta contra a criminalidade transfronteiriça. Iremos agora

abordar como foi ciado o espaço Schengen e a sua integração na União Europeia.

2.1 Criação do Espaço Schengen

Em 1958 foi assinado o tratado instaurando a União Económica Benelux cujos

objectivos principais eram a livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços;

coordenação das políticas económicas, financeiras e locais; e politica comercial entre

os três países. Com este tratado os Países de Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Países

Baixos) foram os pioneiros na abolição das suas fronteiras internas.

Durante os anos 80 debateu-se sobre o significado da livre circulação de

pessoas. Alguns Estados Membros eram da opinião que a livre circulação de pessoas

deveria aplicar-se apenas a cidadãos da União Europeia, o que implicava que iria

manter-se os controlos nas fronteiras de forma a distinguir os cidadãos Europeus dos

nacionais de países terceiros; enquanto outros Estados Membros desejavam

estabelecer a livre circulação para todos, abolindo desta forma os controlos fronteiriços.

Como os Estados Membros não conseguiram chegar a um acordo, em 1985, a França

e a Alemanha juntaram-se aos Países de Benelux e decidiram criar entre si um

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território sem fronteiras que ficou conhecido como o “Espaço Schengen”, nome de uma

pequena localidade situada nas margens do rio Mosela a sul de Luxemburgo, junto da

tríplice fronteira entre Alemanha, França e Luxemburgo, onde foram assinados os

primeiros acordos.

Assim o Espaço Schengen representa um território no qual é garantido a livre

circulação de pessoas devido à abolição dos controlos das fronteiras internas por parte

dos Estados signatários, e a manutenção de uma fronteira externa comum.

De forma a materializar o referido espaço, em 1990 foi assinada uma

Convenção que entraria em vigor em 1995 e que permitiu abolir o controlo das

fronteiras internas entre os Estados signatários e criar uma fronteira externa única.

Para conciliar liberdade e segurança no espaço Schengen esta livre circulação

foi acompanhada de medidas “compensatórias” cuja adopção é obrigatória. De entre

essas medidas podem ser apontadas como as mais significativas a livre circulação de

todas as pessoas no espaço Schengen, as condições para a entrada de cidadãos

estrangeiros no espaço, a obrigatoriedade de adopção de um sistema comum de vistos

e de um visto comum, o estabelecimento de regras de controlo fronteiriço e de

circulação de estrangeiros, o aumento da cooperação policial e judiciária em matéria

penal, o estabelecimento de regras relativas à protecção de dados pessoais

informatizados e a criação de um sistema de informação Schengen (SIS) que se

encontra-se a funcionar desde 1995, data em que entrou em vigor a convenção e é um

instrumento eficaz na cooperação entre todas as polícias e entidades que o utilizam. A

cooperação e coordenação entre os serviços policiais e as autoridades judiciárias

permitem preservar a segurança e lutar contra a criminalidade organizada.

O espaço Schengen foi gradualmente alargando incluindo quase todos os

Estados Membros e países terceiros.

2.2 Integração do Acervo de Schengen no âmbito da

União Europeia

Os acordos relativos à supressão gradual dos controlos nas fronteiras comuns,

bem como os acordos conexos e as disposições adotadas com base nesses acordos

tinham como objectivo reforçar a integração Europeia e acelerar a transformação da

União Europeia num Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça. Desta forma houve a

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intenção de incorporar referidos acordos e disposições no âmbito da União Europeia,

sendo no entanto aplicáveis se forem compatíveis com a legislação da União Europeia.

O acervo de Schengen (tal como são colectivamente conhecidos os acordos e

as regras) foi integrado na União Europeia pelo Tratado de Amesterdão em 1999.

No 10º considerando do Tratado de Amesterdão verifica-se que a União se

encontra decidida a criar um Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça de forma a

facilitar a livre circulação de pessoas garantindo a segurança dos seus povos.

De entre os objectivos a que a União se propõe, o 4º travessão do Artº B

enuncia: “a manutenção e o desenvolvimento da União enquanto espaço de liberdade,

de segurança e de justiça, em que seja assegurada a livre circulação de pessoas, em

conjugação com medidas adequadas em matéria de controlos na fronteira externa,

asilo e imigração, bem como de prevenção e combate à criminalidade.”

O Título VI do referido tratado, relativo à cooperação policial e judiciária em

matéria penal, prevê que será objectivo da União facultar protecção aos cidadãos num

Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça, sendo que, para alcançar este objectivo é

necessário prevenir e combater a criminalidade, o tráfico de seres humanos, os crimes

contra as crianças, o tráfico de drogas, armas, a fraude e a corrupção. Para atingir

esse objectivo é necessário cooperação policial e judiciária.

A cooperação policial é diligenciada pela Europol e abrange a cooperação

operacional entre as autoridades competentes na prevenção e detecção de infrações

penais; a recolha, armazenamento, tratamento, análise e intercâmbio de informações;

as iniciativas conjuntas em matéria de formação, intercâmbio de agentes de ligação,

utilização de equipamento e investigação forense e a avaliação em comum de técnicas

de investigação específicas relacionadas com a detecção de formas graves de

criminalidade organizada.

A cooperação judiciária em matéria penal tinha com objectivos facilitar e acelerar

a cooperação entre os ministérios e as autoridades judiciárias no que respeita à

tramitação dos processos e à execução das decisões; facilitar a extradição entre

Estados Membros; assegurar a compatibilidade das normas aplicáveis nos Estados

Membros e prevenir os conflitos de jurisdição entre Estados Membros.

Os objectivos para a implementação do Espaço de Liberdade, Segurança e

Justiça foram aprovados no Conselho Europeu de Tampere que se realizou em outubro

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de 1999. No seu parágrafo 23 verifica-se que o Conselho considera necessário

combater o tráfico de seres humanos através da aprovação de legislação que previsse

“severas sanções contra este grave crime”. Os Estados Membros e a Europol deveriam

desenvolver esforços para detectar e desmantelar as redes envolvidas, bem como

garantir os direitos das vítimas.

A abolição dos controlos das fronteiras internas facilitou a expansão da

criminalidade organizada a nível internacional. (Kellen, 2006)

2.3 A União Europeia e o Tráfico de Seres

Humanos

A livre circulação no espaço Schengen é um direito para os cidadãos Europeus

mas também para os nacionais de países terceiros que se encontrem legalmente no

espaço Schengen. A liberdade de circulação implica a abolição do controlo de fronteiras

internas, no entanto os países podem efectuar controlo de pessoas em qualquer ponto do

seu território nacional, no âmbito do policiamento de rotina ou serviços de controlo de

imigração, sendo esta uma das medidas para fazer face à criminalidade organizada.

(Conselho da União Europeia, 2015)

Relativamente às fronteiras externas cada Estado Membro é responsável pelo

controlo das suas fronteiras externas. O “Código de Fronteiras Schengen” estabelece

regras comuns a aplicar nos pontos de passagem das fronteiras externas. A criação da

FRONTEX veio complementar o sistema de gestão das fronteiras, promovendo a

cooperação operacional a nível da União Europeia, com o intuito de reforçar a segurança

nas fronteiras externas do Espaço Schengen. (Conselho da União Europeia, 2015)

A criação do Sistema de Informação Schengen (SIS) foi uma das medidas

adotadas para compensar a abolição do controlo de fronteiras. O SIS é uma base de

dados comum a todos os países participantes que possui diversa informação sobre

pessoas e objectos. Este sistema de informação foi melhorado dando origem ao SIS II

que entrou em funcionamento em 2013, apresentando melhores funcionalidades e novas

informações como é o caso dos dados biométricos, a possibilidade de diferentes ligações,

como por exemplo, relacionar uma pessoa a um veículo, bem como um reforço da

protecção de dados. Este sistema de informação torna-se essencial para o bom

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funcionamento do Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça. (Conselho da União

Europeia, 2015)

O tráfico de seres humanos passa a ser uma preocupação dos Estados, bem como

de toda a União Europeia. Até à data foram elaborados alguns estudos sobre esta

temática. No 1º relatório publicado pela Comissão Europeia sobre tráfico de seres

humanos verifica-se que no período entre 2008 a 2010 foram identificadas cerca de

23632 vítimas de Tráfico. No ano de 2008 foram identificadas 6309 vítimas, tendo esse

valor aumentado para 9528 no ano de 2010, o que reflecte um aumento de 18%. Destas

vítimas 80% são mulheres, das quais 12% raparigas, e 20% homens, dos quais 3% são

rapazes. O objectivo deste tráfico é maioritariamente para exploração sexual, sendo que

25% são utilizados em trabalhos forçados e uma menor percentagem, cerca de 14%,

utilizada em atividades como a remoção de órgãos, atividades criminosas ou venda de

crianças.

A proveniência das vítimas de tráfico de seres humanos é maioritariamente dos

Estados Membros, (cerca de 61%), nomeadamente da Roménia e Bulgária. Contudo

foram contabilizadas cerca de 14% de vítimas provenientes de países Africanos,

nomeadamente da Nigéria, 6% da Ásia e 5% de países da América Latina.

Relativamente aos traficantes o referido relatório menciona que 75% dos suspeitos

são do sexo masculino e no período em causa o número de traficantes condenados

diminuiu 13%.

Para contrariar estes valores os Estados Membros terão de transpor na íntegra a

legislação e as medidas em vigor para combater o tráfico de seres humanos.

A Directiva 2011/36/EU adotada pela União Europeia e publicada no Jornal Oficial

a 15 de abril de 2011, visa a prevenção e luta contra o tráfico de seres humanos, tendo

substituído a Decisão-Quadro nº 2002/629/JAI, apresentando um conceito mais amplo do

tráfico de seres humanos e passando ainda a incluir novas formas de exploração. Visa

também a prevenção da criminalidade e assegura que as vítimas tenham a possibilidade

de recuperar e reintegrar-se na sociedade. Um dos seus principais objetivos é a

prevenção e repressão rigorosas bem como a protecção dos direitos das vítimas, como é

possível verificar pelo seu artº 1º “A presente directiva estabelece as regras mínimas

relativas à definição das infrações penais e das sanções no domínio do tráfico de seres

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humanos. Introduz igualmente disposições comuns tendo em conta uma perspectiva do

género, para reforçar a prevenção destes crimes e a protecção das suas vítimas.”

Prevê ainda que sejam desenvolvidas medidas em países terceiros que sejam

pontos de origem e transferência de vítimas de forma a sensibilizar, apoiar e dar

assistências às vítimas e ainda auxiliar esses países a desenvolver legislação adequada

ao combate contra o tráfico. Mostra uma especial consideração pelas vítimas mais

vulneráveis, nomeadamente crianças, grávidas e pessoas com deficiência, prevendo

sanções agravadas para este grupo de vítimas.

Os produtos do crime deverão ser apreendidos e declarados perdidos a favor do

Estado, devendo ser utilizados para a assistência e protecção das vítimas,

nomeadamente para a sua indeminização ou utilizado nas acções policiais

transfronteiriças de combate ao tráfico de seres humanos.

No seu artº 8º a directiva menciona que não devem ser instauradas acções penais

ou aplicadas sanções às vítimas de tráfico de seres humanos pela sua participação

forçada em atividades criminosas. Esta medida tem como objectivo encorajá-las a ser

testemunhas nos processos penais contra os traficantes.

Os Estados Membros deverão ainda disponibilizar recursos para a assistência,

apoio e protecção destas vítimas, bem como reforçar a prevenção, adaptando medidas

para reduzir o risco das pessoas se tornarem vítimas de tráfico, nomeadamente através

de campanhas de informação, sensibilização, e educação. As pessoas susceptíveis de

estarem em contato com vítimas devem ter formação adequada para saber identificar e

lidar com essas vítimas.

As medidas impostas pela directiva 2011/36/UE deveriam ter sido adotadas pelos

Estados Membros até abril de 2013, (com exceção do Reino Unido e Dinamarca) pois

considerava-se que teriam um impacto na vitimização e iriam contribuir para uma

diminuição do número de vítimas de tráfico de seres humanos.

Em 2013 o Eurostat publicou um documento de trabalho sobre tráfico de seres

humanos na União Europeia. Este documento incide sobre dados recolhidos sobre o

tráfico de seres humanos e são provenientes de fontes oficiais dos Estados Membros

correspondendo ao período compreendido entre 2010 e 2012. No entanto, este

documento não avalia toda a amplitude do tráfico de seres humanos pois é baseado em

dados sobre vítimas e traficantes que tenham estado em contacto com as autoridades.

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Segundo este documento de trabalho verifica-se que, no período que o abarca,

foram identificadas/registadas cerca de 30146 vítimas de tráfico de seres humanos. De

entre estas vítimas 80% eram mulheres e 20% homens. A maioria eram vítima de tráfico

para exploração sexual (69%), 19% vítimas para exploração laboral e 12% utilizada em

atividades como a remoção de órgãos, atividades criminosas ou venda de crianças. A

maioria das vítimas do sexo feminino são traficadas para exploração sexual e os

indivíduos do sexo masculino são maioritariamente traficados para exploração laboral.

Relativamente a outros tipos de exploração como o caso da mendicidade forçada ou

venda de crianças a percentagem entre elementos de ambos os sexos difere pouco, ou

seja, segundo as estatísticas, as vítimas do género feminino utilizadas para este tipo de

exploração ronda os 52% enquanto as do género masculino os 38%, desconhecendo-se

o género de cerca de 10% das vítimas.

Cerca de 65% das vítimas são cidadãos da União Europeia sendo que a maioria

desses cidadãos são mulheres. Os principais países da União Europeia de proveniência

das vítimas são Roménia, Bulgária, Holanda, Hungria e Polónia. Dos países não

pertencentes à União Europeia verifica-se que as vítimas são provenientes da Nigéria,

Brasil, China, Vietname e Rússia. As vítimas provenientes de Países terceiros são

registadas em diversos Países na União Europeia, contudo as vítimas oriundas de países

da União Europeia são registadas em poucos países da União, não sendo portanto

possível retirar uma conclusão sobre a distribuição da cidadania.

Em relação aos traficantes verifica-se que cerca de 70% dos suspeitos são homens

e dois terços são cidadãos da União Europeia.

Os Estados Membros informaram que foram instaurados cerca de 8805 processos

por tráfico de seres humanos e proferidas cerca de 3855 condenações.

Estas estatísticas elaboradas em torno do Crime de tráfico de seres humanos são

importantes e encontram-se previstas no artº 19º da Diretiva nº 2011/36/UE que menciona

que “Os Estados Membros devem tomar as medidas necessárias para criar relatores

nacionais ou mecanismos equivalentes. A estes mecanismos cabe, nomeadamente,

avaliar as tendências do tráfico de seres humanos, avaliar os resultados das medidas de

luta contra este tráfico incluindo a recolha de estatísticas em estreita cooperação com as

organizações relevantes da sociedade civil activas neste domínio, e apresentar relatórios

sobre esta matéria.”

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Comparando os valores de vitimização verificou-se que o número de vítimas

aumentou de 2010 até 2012, contudo continuam a ser as mulheres as mais afectadas e

grande parte das vítimas provêm dos Estados Membros. No entanto é importante

salientar que nem todos os Estados Membros enviaram dados para a elaboração deste

documento de trabalho pelo que não é possível fazer uma comparação fidedigna dos

dados apresentados. Os súbitos aumentos ou diminuições podem reflectir apenas

mudanças legislativas.

Até à data da elaboração deste documento de trabalho as medidas impostas pela

Diretiva 2011/36/UE não tinham sido aplicadas por todos os Estados Membros. Apenas

seis Estados Membros tinham transposto na íntegra a Diretiva para a sua legislação

nacional e três Estados Membros tinham efectuado a transposição parcial. Este

documento de trabalho reafirma a necessidade de obtenção de dados mais completos e

comparáveis que permitirão uma avaliação mais precisa do problema de forma a obter

conclusões mais precisas ao nível da União Europeia.

Em 2012 a Comissão Europeia adoptou a Estratégia para a erradicação do tráfico

de seres humanos (2012-2016), com o intuito de estabelecer prioridades, corrigir lacunas

e complementar a directiva 2011/36/EU. Foi nomeado um coordenador da luta contra o

tráfico da União Europeia cuja função seria supervisionar a aplicação da referida

estratégia.

Esta estratégia identifica cinco prioridades no combate ao tráfico de seres

humanos. Em primeiro a identificação, protecção e assistência às vítimas de tráfico

através da criação de mecanismos nacionais e transnacionais de referência. A segunda

prioridade diz respeito à intensificação da prevenção do tráfico através da implementação

de atividades de sensibilização e programas de prevenção. Seguidamente, e como

terceira prioridade está definido o aumento da perseguição aos traficantes através da

criação de unidades policiais multidisciplinares, o aumento de investigações e

policiamento transfronteiriço. Esta prioridade incentiva à aplicação da lei para melhorar a

investigação e repressão dos traficantes. Como quarta prioridade é indicado o reforço da

coordenação e cooperação entre os principais intervenientes na política externa da União

Europeia. Como quinta e última prioridade temos o aumento do conhecimento e a

resposta eficaz a todas as formas de tráfico de seres humanos através do

desenvolvimento de um sistema europeu de recolha de dados.

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Em 2014 foi elaborado um relatório intercalar referente a essa estratégia com a

finalidade de fazer um balanço de como estaria a ser implementada na União Europeia.

Refere que foram alcançados progressos na identificação, protecção e assistência às

vítimas, tendo-se intensificado a prevenção do tráfico, aumentado a repressão aos

traficantes, bem como melhorado a coordenação, cooperação e coerência política.

Menciona ainda que os Estados Membros deverão continuar a trabalhar em conjunto e de

uma forma coordenada.

No entanto verifica-se que o tráfico de seres humanos continua a registar uma

expansão global. Para compreender as suas causas e os obstáculos inerentes ao seu

combate é importante articular três dimensões, sendo elas as migrações internacionais, a

segurança e os direitos humanos.

As migrações aumentaram com o processo da globalização e tem-se intensificado

com a redução de obstáculos à livre circulação das pessoas. O tráfico de seres humanos

encontra-se estritamente relacionado com as migrações transnacionais. A intensificação

dos fluxos migratórios abriu oportunidades para o desenvolvimento do negócio do tráfico

de seres humanos. A maioria das vítimas são migrantes à procura de melhores condições

de vida sendo aliciados em grande parte dos casos por falsas promessas de emprego.

Este tipo de criminalidade apresenta uma crescente atractividade no crime organizado

transnacional pois é considerada uma atividade criminosa de baixo nível de risco, pois as

vítimas são dissimuladas no meio do aumento dos fluxos migratórios o que dificulta a

atividade das autoridades dos países de destino na sua detecção, o que leva ainda a um

diminuto risco para os traficantes.

Com já foi mencionado no presente trabalho, a linha que separa as vítimas de

tráfico de seres humanos e os imigrantes ilegais é muito ténue. Na maioria dos países as

leis de imigração e as leis de tráfico de seres humanos foram desenvolvidas de forma

separada e não articulada existindo portanto algumas contradições, que segundo alguns

autores, reduzem a eficácia do combate ao tráfico de seres humanos. Certos autores

defendem ainda que as vítimas de tráfico são muitas vezes classificadas como imigrantes

ilegais, sendo expulsas em vez de receberem a protecção que lhes é devida. Esta

situação funciona como uma forma dos Estados se furtarem às suas responsabilidades de

apoio e protecção das vítimas, sendo portanto uma grave violação às suas obrigações

internacionais. Contudo tal não acontece sempre pois os Estados concedem o direito de

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permanências, através da emissão de autorizações de residência às vítimas de tráfico de

seres humanos que tenham sido identificadas como tal, passando assim a serem vistos

como imigrantes legais.

A multiplicação de conflitos que levaram a violações dos direitos humanos, as

novas ameaças transnacionais à segurança, tais como o terrorismo, a criminalidade

transnacional organizada, o tráfico de armas, droga e pessoas, entre outras, forma

factores que contribuíram para alterar a percepção sobre segurança. A segurança

humana surge como um conceito que engloba a segurança alimentar, económica,

ambiental, a segurança na saúde, a segurança pessoal e a segurança política. O novo

paradigma de segurança coloca a segurança do individuo ao mesmo nível da segurança

do Estado, que engloba a segurança das suas fronteiras e da integridade territorial, pois

considera-se que não é possível a existência de um Estado seguro com pessoas

inseguras. Alguns autores consideram que esta visão encara a segurança humana como

uma alternativa à segurança do Estado o que levanta algumas controvérsias. Eles

consideram que ambas se devem complementar para que a segurança humana seja um

dos objectivos da segurança do Estado. Este paradigma tem um impacto no tráfico de

seres humanos em três aspectos fundamentais.

Em primeiro lugar o tráfico constitui uma ameaça à segurança humana que atinge

qualquer individuo independentemente da idade, sexo, classe social e nacionalidade. Pelo

exposto verifica-se que o tráfico de seres humanos não incide apenas em mulheres

jovens, pobres e vulneráveis provenientes de países menos desenvolvidos mas abrange

qualquer indivíduo que apresente vulnerabilidades. O tráfico de seres humanos é um

factor de insegurança estando entre as suas causas outros factores tais como a pobreza,

a insegurança económica e a insegurança pessoal, as quais propiciam condições

favoráveis ao tráfico.

Em segundo lugar o combate ao tráfico encontra-se condicionado pela própria

definição de segurança do Estado e segurança humana. A difícil relação entre estes dois

conceitos gera dificuldades na forma como o tráfico de seres humanos é encarado pelos

Estados, bem como na protecção e apoio às vítimas. Verifica-se que apesar da

complementaridade destes dois tipos de segurança ainda predomina a ideia de que a

segurança do Estado se encontra ligada ao combate contra a criminalidade transnacional

e a segurança humana diz respeito à protecção da vítima e aos direitos humanos. Esta

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distinção acarreta problemas no combate ao tráfico de seres humanos na medida em que

dificulta a cooperação entre os diferentes atores envolvidos em tal luta.

O terceiro mas não menos importante aspeto a salientar é que o tráfico de seres

humanos constitui uma ameaça à segurança relativamente à qual os Estados não se

encontravam preparados para enfrentar, o que desencadeou um processo de reforma e

cooperação entre os Estados.

É portanto importante incorporar a segurança humana no próprio conceito de

segurança contribuindo desta forma para a redução do tráfico de seres humanos.

Relativamente aos direitos humanos verifica-se que o tráfico de seres humanos

põe em causa os direitos fundamentais bem como a dignidade do ser humano. No

entanto, o facto das vítimas de tráfico serem resgatadas da sua condição de exploração,

não quer dizer que tenha terminado a violação dos seus direitos humanos. Alguns autores

defendem que esta violação continua quando as vítimas passam para a esfera dos

Estados ou das organizações que as vão proteger. Tal acontece porque a sua protecção

inclui a integração em casas de abrigo o que poderá reforçar o estigma sobre elas bem

como suscitar questões relacionadas com a violação dos seus direitos devido à

permanente necessidade de lhes assegurar segurança privando-as da sua liberdade.

Entende-se que não devem ser impostas medidas restritivas dos seus direitos de forma a

não originar processos de re-vitimização. O desrespeito dos direitos humanos propicia o

risco de tráfico, no entanto o seu acolhimento no país de destino pode gerar novas

violações aos seus direitos.

3. Conclusão As políticas adotadas para combater o tráfico de seres humanos estão

relacionadas com a forma como se entende o tráfico. Assim todos os contributos dados

pelos estudos académicos sobre esta temática são importantes, pois permitem a

formulação de medidas políticas adequadas ao combate deste fenómeno.

Segundo Aronowitz a adopção da Convenção sobre o Crime Organizado e os

protocolos sobre o tráfico e a imigração ilegal foram passos importantes para a resolução

deste problema, na medida em que estabelecem uma definição para ambos os casos.

No entanto, e segundo Peixoto J. Soares in “O tráfico de migrantes em Portugal:

perspectivas sociológicas, jurídicas e políticas”, os casos reais identificados situam-se nos

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extremos entre o tráfico de seres humanos e o auxílio à imigração ilegal, existindo

diversos critérios que permitem a caracterização de cada um dos casos. O conhecimento

sobre a atuação dos traficantes, nomeadamente a sua organização e envolvimento em

grupos de crime organizado, é importantes para a compreensão deste fenómeno.

Nenhum país se deve considerar livre deste fenómeno, sendo necessário adequar

as respostas políticas, económicas e sociais, o que constitui por si só um grande desafio.

É necessário que a União Europeia reforce as políticas de prevenção e incentive a

cooperação entre os Estados Membros pois o tráfico de seres humanos é um fenómeno

que não conhece fronteiras e só com uma intervenção coordenada se poderá obter o

sucesso no seu combate.

4. Bibliografia

Livros

- Albano, M. 2010. O Combate ao Tráfico de Seres Humanos em Portugal

2007-2010. In Fogaça, C. (Coord.), Tráfico Desumano. Edição Cadernos da

Administração Interna. Colecção de Direitos Humanos e Cidadania.

- Ministério da Administração interna. 1995. Acordo de Schengen.

- Pedroso, Arménio. 2015. “O Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça da

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Segurança” Vol I, Coimbra, Almedina.

- Piçarra, Nuno. 2015. “A União Europeia enquanto Espaço de Liberdade,

Segurança e Justiça: alguns desenvolvimentos recentes” in Jorge Bacelar Gouveia,

(coord.), “Estudos de Direito e Segurança” Vol I, Coimbra, Almedina.

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Documentos da internet

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- Comissão Europeia. “O espaço Schengen” Retirado de:

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Legislação e outros documentos

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- Diretiva 2011/36/UE, Jornal Oficial da União Europeia de 15 abril 2011

- III plano nacional contra o tráfico de seres humanos, Diário da república, 1ª

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- Lei nº 23/2007

- Manual das Nações Unidas contra o tráfico de Pessoas;

- Protocolo contra o tráfico de pessoas;

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- http://www.sef.pt

- http://www.sg.mai.gov.pt/