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Globalização sob a ótica de Milton Santos

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Artigo elabora para obtenção da 3ª nota da disciplina de computadores, sociedade e ética. Este artigo mostra como Milton Santos enxergava a Globalização.

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A Globalização sob a ótica de Milton Santos

Carlos Ronaldo do Nascimento Filho*

São Luís - MA, 2015

Resumo

Milton Santos abordou sobre globalização em seus últimos trabalhoscomo escritor. Ele discutiu sobre seus aspectos econômicos, analisandoa função das empresas na internacionalização do capital, mas tambémo escoamento financeiro e suas implicações na cultura local. O geógrafobrasileiro teorizou e fez criticas sobre as perspectivas do mundo atual,mostrando os três viés da globalização: como fábula, como perversidadee como possibilidade. Propôs, uma globalização solidária, baseada emoutros valores que se engaje a todas as pessoas, um processo globalizadomais humano. Estas idéias são tratadas e expostas neste artigo, em tornodestes aspectos citados por Milton Santos.

Palavras-chaves: globalização. Milton Santos. fábula. perversidade. pos-sibilidade.

IntroduçãoMilton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como

o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores domundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como aepistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros.Conquistou, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud, o Nobel de Geografia, sendo oúnico brasileiro a conquistar esse prêmio e o primeiro geógrafo fora do mundoAnglo-Saxão a realizar tal feito. Além dessa premiação, destaca-se tambémo prêmio Jabuti de 1997 para o melhor livro de ciências humanas, com “ANatureza do Espaço”. Foi professor da Universidade de São Paulo, mas lecionoutambém em inúmeros países, com destaque para a França.

*[email protected]

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A obra de Milton Santos caracterizou-se por apresentar um posiciona-mento crítico ao sistema capitalista e aos pressupostos teóricos predominantesna ciência geográfica de seu tempo. Em seu livro “Por uma Geografia Nova”,em linhas gerais, o autor criticou a corrente de pensamento Nova Geografia,marcada pela predominância do pensamento neopositivista e da utilização detécnicas estatísticas. Diante desse pensamento, propôs – fazendo eco a ou-tros pensadores de seu tempo – a concretização de uma “Geografia Nova”,marcada pela crítica ao poder e pela predominância do pensamento marxista.Nessa obra, defendia também o caráter social do espaço, que deveria ser oprincipal enfoque do geógrafo.

Um dos conceitos mais difundidos e explorados por esse geógrafo foi anoção de “meio técnico-científico informacional”, que seria a transformação doespaço natural realizada pelo homem através do uso das técnicas, que difun-diram graças ao processo de globalização e a propagação de novas tecnologias.

Sobre a globalização, Milton Santos era um de seus críticos mais ferre-nhos. Em uma de suas mais célebres frases, ele afirmava que “Essa globalizaçãonão vai durar. Primeiro, ela não é a única possível. Segundo, não vai durarcomo está porque como está é monstruosa, perversa. Não vai durar porquenão tem finalidade”(SANTOS, 2000).

Milton Santos faleceu em 24 de junho de 2001, vítima de complicaçõesproporcionadas por um câncer, aos 75 anos. Deixou uma vasta obra, com de-zenas de livros e uma infinidade de textos, artigos e capítulos. Seu pensamentoainda é considerado atual e muitas das críticas dos movimentos antiglobaliza-ção fundamentam-se em suas ideias.

O mundo em que vivemos é conflituoso devido ao sistema capitalistaque não para de crescer no mundo inteiro, especialistas descutem rotineira-mente sobre esse processo que corroe as relações contemporâneas . MiltonSantos traz em suas obras uma ótica diferenciada de globalização, a globa-lização como perversidade, como fábrica de abandono tudo em nome de umprojeto de reprodução do capital.

A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa fi-nanceira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitosintelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de novas tecnolo-gias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra ótica queinterligam pessoas por meio de computadores, entre outras, que permitiramacelerar a circulação de informações e de fluxos financeiros. Globalização pas-sou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos pelo mundoafora. Além disso, ela foi definida como um sistema cultural que homogeneíza,que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversasque se sobrepõem aos indivíduos.

Esse artigo segue a linha de uma das obras de Milton Santos maisdifundidas pelo mundo – Por uma outra globalização –, muito lida por “nãogeógrafos”, Milton Santos dividiu o mundo em globalização como fábula, como

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perversidade e como possibilidade. O primeiro seria o mundo tal como nosfazem vê-lo, o segundo seria o mundo tal como ele é, e o terceiro, um mundocomo ele pode ser.

Desenvolvimento

A globalização como Fábula - o mundo tal como nos fazem crerA globalização como fábula é imposta principalmente pelos meios de

comunicação a todos que procura enfatizar o planeta em que vivemos comoum amplo espaço e que podemos sim explorá-lo com o consumo. Como a pa-dronização cultural, onde as pessoas são atraídas pelas mesmas coisas, mesmoshábitos, mesmos costumes e que ainda disfrutam de uma mesma rede que nósconhecemos como internet que fez com que nós ficassemos presos numa gi-gante aldeia global, sem ter pra onde ir. Mas ao mesmo tempo nos dá umaimportante noção de que o mundo está dentro da nossa casa, o capitalismonos devorando e nós nem percebemos graças à globalização como fábula.

A fábula é propagada por Estados e empresas, que colocam a globali-zação como fato inevitável. A imposição desse “pensamento único” naturalizao caráter perverso do fenômeno, e constitui o que Milton chamava “violênciada informação”. Um descaso com o estado que aparentemente ficou distanci-ado das demandas sociais, pois ele o estado precisa se apequenar as grandescorporações que hoje detém o poder sobre o próprio estado. Percebemos quevivemos em um único mundo, um mundo voltado a atender as necessidadesdas grandes empresas, vivenciamos uma nova tendência mundial de mercado.

O século XX foi o século das revoluções, as revoluções tecnologicastransformam as novas conquistas em um sonho de um mundo melhor. Poucotempo depois começa o desmonte do estado de bem estar social, o humanismocomo motor do desenvolvimento e do progresso é substituido pelo modelo doconsumo voraz. “O consumo que é, hoje, o grande fundamentalismo. Esse,sim, é que é o grande fundamentalismo.” (SANTOS, 2002). Uma forma dereconhecer o nível de desenvolvimento no planeta é observar a quantidadede luz que as cidades emitem a noite. Fotos de satélites revelam o nítidocontraste entre o desenvolvimento ao norte e ao sul do planeta, diferindo domundo igualitário e perfeito que a mídia em nome das grandes corporaçõestenta fazer como verdade.

O mundo como ele realmente é – a globalização como perversidadeA globalização como uma fabrica de perversidades tais como: fome,

desabrigo, AIDS, mortalidade infantil, analfabetismo, enfim gravíssimos pro-blemas sociais, quase sem solução na globalização em que vivemos, infeliz-mente para a maior parte da humanidade, o desemprego crescente consequen-temente a pobreza aumenta e a classe media perdem em qualidade de vida,novas enfermidades se instalam e as velhas doenças retornam com força total.

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A perversidade está na raiz desta evolução negativa da humanidade e estesprocessos estão diretamente ligados com a globalização.

A perversidade da globalização se revela na medida em que seus bene-fícios não atingem sequer um quarto da população mundial, ao custo de dis-seminar a pobreza de continentes inteiros. “A mortalidade infantil permanecea despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidadeé cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais emorais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção.” (SANTOS, 1991).

Portanto esta perversidade se manifesta com muita força, pois estávinculada ao sistema, é uma perversidade sistêmica, o sistema capitalista éuma fabrica de perversidade, pois os problemas sociais deixam de ser fatosisolados e passam a ser generalizados e permanente, já considerado como algo“natural” e aparecem como algo banal e nem sequer os indivíduos lembramque estes problemas são produzidos politicamente e por interesses do capital.A ciência produz apenas aquilo que interessa ao mercado e não a humanidade,priorizando o aprimoramento técnico e não o moral.

Desta forma estamos inseridos em um sistema social cruel, de exclusãosocial, baseado em valores e regras de mercado, que produz de produtos devalor monetário e em contrapartida destrói os valores humanos e as relaçõeshumanas baseadas no companheirismo e na benevolência. E ainda, ultrapassaos limites geográficos e cria riquezas mas não elimina a pobreza e a fome demilhões de pessoas que sobrevivem a margem da sociedade.

O mundo como pode ser – uma outra globalizaçãoPodemos pensar na construção de um outro mundo, uma globalização

que volte seus olhares a esses problemas citados, uma globalização que seengaje sistematicamente a todas as pessoas, ou seja, um processo globalizadomais humano. Que em vez de apoiar sempre o grande capital internacional quepossam servir a outros interesses sociais e políticos e não apenas econômicos.

Ela passaria a empregar os novos progressos técnicos de forma maissolidária, por exemplo produzir mais alimentos para a população, aplicar àmedicina reduzindo assim as doenças e a mortalidade, de modo a derrubaro globalitarismo — termo cunhado por Milton que agrega ao conceito deglobalização a noção de totalitarismo.

Um mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um in-tercâmbio pacífico entre os povos e eliminando a belicosidade do processocompetitivo, que todos os dias reduz a mão-de-obra. É possível pensar narealização de um mundo de bem-estar, onde os homens serão mais felizes.

Alguns são os fatores que poderiam colaborar pra isso: a miscigenaçãode povos, culturas, valores, gostos, credos em todos os quatro cantos do globopossibilitaria uma outra globalização, um outro discurso é possível, uma novavisão de mundo, devemos urgentemente reaprender a ver o mundo.

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Considerações finaisA Mudança ocorrerá em todos os aspectos em todos os níveis, mas

o principal responsável por ela ocorrer de verdade, somos nós que estamosdiretamente engajados nesse contexto. Pois temos que fazer uma reflexão sobrea essência do capitalismo, pois este é à base da atual fase da Globalização. Poisnenhuma barreira será erguida, nada irá mudar se a reprodução do capital eo lucro continuarem fortes como estão.

O capitalismo jamais na sua história conseguiu reproduzir o capitale o lucro consequentemente sem gerar crises, para tanto é preciso fazer essarelação, precisamos mudar o sistema em vigor e desenvolver uma nova globa-lização.

É preciso urgentemente avançar no sentido que o ser humano possaatribuir um novo sentido à sua existência no planeta, de uma forma siste-mática frear um pouco as tecnologias quanto à ciência e ou as suas técnicasutilizadas, para sim se preocupar um pouco mais na essência do ser humanoe seu verdadeiro papel aqui no globo.

Nosso excelentíssimo geógrafo Milton Santos, nos faz pensar: nos diasde hoje essa facilidade de acesso e de disseminação da informação pode serum grande veículo para um mundo mais solidário. Só o que precisamos é quenossa consciência desperte o que ainda há de solidário em cada um de nós.É sim possível lutar por uma globalização menos perversa, “ampliando umintercâmbio pacífico entre os povos e eliminando a belicosidade do processocompetitivo, que todos os dias reduz a mão-de-obra, e amenizando a pobreza.É possível pensar na realização de um mundo de bem-estar, onde os homensserão mais felizes.”(SANTOS, 1978)

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Referências

SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1978. Citado napágina 5.

SANTOS, M. A revolução tecnológica e o território: realidades e perspectivas.São Paulo: Terra Livre, 1991. Citado na página 4.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciênciauniversal. São Paulo: Record, 2000. Citado na página 2.

SANTOS, M. O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. SãoPaulo, 2002. Citado na página 3.

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