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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
ANTÔNIO LODIR NEGRINI FILHO
GOVERNANÇA CORPORATIVA E ESTRUTURA DE PROPRIEDADE EM
EMPRESAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO
Balneário Camboriú 2010
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ANTÔNIO LODIR NEGRINI FILHO
GOVERNANÇA CORPORATIVA E ESTRUTURA DE PROPRIEDADE EM
EMPRESAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO
Balneário Camboriú
2010
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração – Gestão Empreendedora e Recursos Humanos, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú. Orientadora: Prof.ª. Dr.ª. Rosilene Marcon
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ANTÔNIO LODIR NEGRINI FILHO
GOVERNANÇA CORPORATIVA E ESTRUTURA DE PROPRIEDADE EM
EMPRESAS BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em
Administração e aprovada pelo Curso de Administração – ênfase em Gestão
Empreendedora e Recursos Humanos da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Educação de Balneário Camboriú.
Área de Concentração: Mercado de Capitais
Balneário Camboriú, 8 de Dezembro de 2010.
_________________________________
Prof.ª. Drª. Rosilene Marcon
Orientadora
___________________________________
Prof. Msc. Ricardo Titericz
Avaliador
___________________________________
Prof. Msc. Manuel Carlos Pinheiro da Gama
Avaliador
4
EQUIPE TÉCNICA
Estagiário(a): Antônio Lodir Negrini Filho
Área de Estágio: Administrativo.
Professor Responsável pelos Estágios: Lorena Schröder.
Supervisor da Empresa: Ivone de Freitas
Professor(a) orientador(a): Dra. Rosilene Marcon
5
DADOS DA EMPRESA
Razão Social: Negrini Artesanatos.
Endereço: Av. Leopoldo Zarling, nº 1848, Bairro Bombas, Cidade Bombinhas, Santa
Catarina, CEP: 88215-000, Brasil.
Setor de Desenvolvimento do Estágio: Administrativo.
Duração do Estágio: 240 horas.
Nome e Cargo do Supervisor da Empresa: Ivone de Freitas, Proprietária.
Carimbo do CNPJ da Empresa: 80.982.010/0001-09
6
AUTORIZAÇÃO DA EMPRESA
Balneário Camboriú, 8 de Dezembro de 2010.
A Empresa Negrini Artesanatos, pelo presente instrumento, autoriza a Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, a divulgar os dados do Relatório de Conclusão de
Estágio executado durante o Estágio Curricular Obrigatório, pelo acadêmico Antônio
Lodir Negrini Filho.
___________________________________
Ivone de Freitas
7
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus, por ter me dado a oportunidade de realizar
esse curso e essa pesquisa até o fim.
A Rosilene Marcon, de quem gostei tanto que escolhi como minha orientadora
mesmo sem nunca ter assistido sua aula, por me mostrar o caminho desse trabalho
e me conduzir com sabedoria, sempre de forma animadora e positiva, sem deixar
que eu desanimasse.
A todos os professores que tive aqui, por terem compartilhado seu conhecimento e
experiência, e por todas as discussões produtivas em sala de aula, que nos fazem
pensar de forma tão diferente.
Em especial, aos meus avaliadores: Ricardo Titericz, por lecionar de forma tão
dinâmica a matéria base para essa pesquisa, e Manuel da Gama, por me fazer
gostar de marketing como nenhum outro professor conseguiu.
A todos os meus colegas de sala, que me proporcionaram ótimas amizades, e
fizeram com que esses quatro anos passassem de forma tão rápida e divertida,
semestre após semestre, tornando essa a melhor sala de todo o meu período
estudantil.
E em especial, a quatro desses amigos que me ajudaram muito durante o curso.
Patrícia Provenzi, por todas as tardes estudando contabilidade.
Silvana de Souza, por ser a melhor parceira para trabalhos e provas que eu já tive, e
entender tão bem as minhas colocações, tornando a nossa dupla perfeita.
Diego Martins, por suas aulas particulares no primeiro ano, por suas dicas e ajuda
nas matérias, provas e trabalhos durante esses quatro anos, assim como nessa
8
pesquisa. Por me explicar muitas coisas quando eu não entendia, e me lembrar de
algo sempre que eu havia esquecido.
Fernanda Arruda, por ser a melhor caloura, e por todas as madrugadas me ajudando
a digitalizar as citações para esse trabalho.
9
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a concentração acionária das empresas brasileiras listadas nos níveis de Governança Corporativa da Bovespa BM&F de 2001 a 2009, focando no principal acionista. Também foi feita uma pesquisa sobre a identidade dos acionistas, separando a empresa por privada ou estatal, de controle brasileiro ou estrangeiro. Durante a Fundamentação Teórica, foi abordada a Teoria da Agência, a Governança Corporativa e a Estrutura de Propriedade. Na metodologia fez-se o levantamento de dados, os quais foram retirados do Economática® e no site da revista Exame. Na análise de dado, foram relacionados a concentração de propriedade do principal acionista de todas as empresas pertencentes ao Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado da Bovespa, assim como a pesquisa sobre sua identidade com relação a empresa ser privada/estatal, nacional/estrangeira. Concluiu-se que há uma grande diferença entre os Níveis 1 e 2 e o Novo Mercado. Os dois primeiros encontram-se em uma classificação de concentração “alta”, enquanto o Novo Mercado tem uma concentração “média”. Nos três grupos a grande maioria é composta por empresas brasileiras e privadas, tendo poucas exceções.
Palavras Chave: Teoria da Agência, Governança Corporativa, Concentração de Propriedade.
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ABSTRACT This paper aims to analyze the ownership concentration of Brazilian companies listed in the BM&F Bovespa's Corporate Governance Stock Index from 2001 to 2009, focusing on the main shareholder. A research on the identity of the shareholders was also made, separating the companies between privately or state owned, Brazillian or foreign controlled. During the Theoretical Foundation, the Agency Theory, Corporate Governance and Ownership Structure were addressed. The methodology addressed the data survey, which was extracted from the Economática® and the Exame magazine’s web site. In the analysis of data itself, the ownership concentration of the main shareholders was listed for all the companies belonging to Nível 1, Nível 2 and Novo Mercado of Bovespa, as well as the research about their identity regarding the company being privately/state owned and nationally/foreign controlled. The conclusion was that there is a big difference between Nívels 1 and Nível 2 and the Novo Mercado. These first two are classified as “high” concentrated, while Novo Mercado has a “medium” concentration. In all the three groups the vast majority consists of privately owned Brazilian companies, with a few exceptions. Keywords: Agency Theory, Corporate Governance, Ownership Concentration.
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Conceitos de governança corporativa: uma tentativa de
síntese................................................................................................... 31
Quadro 02 Partes interessadas e interessantes que podem estar presentes e
processos de governança corporativa de diferentes
amplitudes.............................................................................................
32
Quadro 03 Os diferentes Níveis de Governança Corporativa da Bovespa............. 37
Quadro 04 Raízes e distinções fundamentais dos modelos de governança,
quanto à abrangência dos propósitos corporativos..............................
41
Quadro 05 Categorias de Propriedade .................................................................. 59
Quadro 06 Empresas do Nível 1 por tipo e controle............................................... 71
Quadro 07 Empresas do Nível 2 por tipo e controle............................................... 73
Quadro 08 Empresas do Novo Mercado por tipo e controle.................................. 78
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Propriedade do principal acionista das empresas no Nível 1 (%) 67
Tabela 02 Propriedade do principal acionista das empresas no Nível 2 (%) 71
Tabela 03 Propriedade do principal acionista das empresas no Novo
Mercado (%) ................................................................................
73
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Exemplo de Utilização de Pirâmide no Brasil.................................... 60
14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 15
1.1 Tema ........................................................................................................ 15
1.2 Problema.................................................................................................. 15
1.3 Objetivos................................................................................................... 16
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................... 16
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................... 16
1.4 Justificativa .............................................................................................. 16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 18
2.1 Teoria da agência .................................................................................... 18
2.2 Governança corporativa .......................................................................... 25
2.3 Estrutura de propriedade ......................................................................... 45
3 METODOLOGIA ...................................................................................... 64
3.1 Coleta de dados ....................................................................................... 65
3.2 Tratamento de dados ............................................................................... 66
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ........................................... 68
4.1 Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa .................................... 68
4.2 Nível 2 de Governança Corporativa da Bovespa .................................... 72
4.3 Novo mercado de Governança Corporativa da Bovespa ........................ 74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 80
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 83
15
1. INTRODUÇÃO
Desde o momento em que uma empresa é fundada, duas coisas são certas: seus
fundadores não viverão para sempre, e não há intenção de data para que ela seja
fechada. Dessa forma, é inevitável que um dia os proprietários tenham que deixá-la
a seus herdeiros, e assim sua propriedade seja passada de mão em mão. Como
nem sempre os futuros proprietários têm interesse na administração ou no trabalho
que a corporação faz, muitas vezes a propriedade e gestão precisam se separar; os
donos são uns, os administradores são outros.
O surgimento do capitalismo e o crescimento da economia, juntamente com a
tendência de privatização de empresas que antes eram geridas pelo governo, tornou
a abertura de capital uma necessidade para as firmas, principalmente as que
precisam realizar grandes investimentos. Sendo assim, é cada vez mais comum que
uma empresa tenha centenas ou milhares de sócios, pequenos e grandes, que
estão ligados ou não à sua gestão. Esse número grande de pessoas espera que a
empresa dê resultados, e outro número menor trabalha para isso, acarretando
desentendimentos. São os chamados conflitos de agência.
Nessa pesquisa, a Teoria da Agência será abordada, assim como a Governança
Corporativa, um dos meios encontrados para a resolução. O foco, no entanto, será
na Estrutura de Propriedade.
1.1 Tema
Governança corporativa e estrutura de propriedade em empresas brasileiras de
capital aberto
1.2 Problema
Qual a concentração e a identidade do principal acionista das empresas pertencentes aos níveis de Governança Corporativa?
16
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar a concentração acionária das empresas brasileiras listadas nos níveis de
Governança Corporativa da Bovespa BM&F de 2001 a 2009.
1.3.2 Objetivos Específicos
• Elencar as empresas que desde 2001 participam dos níveis de Governança
Corporativa da Bovespa BM&F.
• Coletar os dados de participação acionária do principal acionista de cada
empresa.
• Coletar os dados sobre o tipo de empresa (estatal ou privada) e a
nacionalidade do controle.
• Verificar a diferença de participação entre os níveis.
1.4 Justificativa
A forma como a propriedade de cada empresa é composta diz muito sobre ela
mesma, sobre os interesses em jogo e sobre o seu futuro. Quando ela está
concentrada – ou seja, nas mãos de poucos – isso se torna ainda mais evidente.
A estrutura de propriedade é a raiz dos conflitos de agência, já que sua composição
definirá os interesses dos acionistas. Dessa forma, os estudos sobre o tema são
cada vez mais relevantes, a fim de entender melhor como essa composição poderá
acarretar em divergência de intenções entre eles. Estudar a estrutura de propriedade
de uma empresa é mais do que entender como ela é formada; é definir suas raízes e
interesses, evitando assim possíveis conflitos e decisões que comprometem a
Governança Corporativa.
Dessa forma, essa pesquisa foi elaborada com a intenção de analisar a formação de
propriedade das empresas brasileiras. Verificar como ela está distribuída – se na
17
está na mão do governo, de instituições, de investidores privados, de grandes ou
pequenos investidores. Essa análise permitirá entender como esse controle é
executado, e com quais interesses. Permitirá colocar uma luz sobre os conflitos que
dela surgem, e entender porque muitas vezes os interesses dos proprietários não
estão alinhados com os dos administradores. Permitirá, acima de tudo, entender as
empresas brasileiras, já que justamente a sua base (propriedade) será analisada.
Com relação a pesquisas futuras sobre a propriedade das empresas, Zolini (2008,
p.60) destacou que “merecem destaques principalmente as variáveis as questões
específicas de governança corporativa brasileiras”. Dessa forma, esse trabalho
pretende dar destaque justamente a essa questão, trazendo a relação da influência
da Governança Corporativa sobre a propriedade das empresas, e evolução das
empresas pertencentes a ela. Aldrighi e Mazzer Neto (2005, p. 136) concordam, já
que afirmam que “outra possibilidade de pesquisa seria o exame de influência de
variáveis que expressam características dos acionistas controladores [...] sobre a
performance da empresa.”
18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A teoria desse trabalho de pesquisa se dividirá em três partes. Na primeira, o tema
proposto será a Teoria da Agência, que estuda os conflitos entre acionistas e
gestores de uma empresa. A segunda parte fala da Governança Corporativa, uma
das formas encontradas para resolver o problema de agência e profissionalizar essa
relação, melhorando assim o desempenho da mesma. Na terceira e última parte
será teorizada a Estrutura de Propriedade, que estuda a composição acionária e o
controle das empresas, já que essa composição é um dos fundamentos da
governança.
2.1 Teoria da Agência
Na definição de Siffert Filho (1998, p.4), “o problema clássico provocado pela
separação de propriedade e gestão é tratado pela literatura econômica através da
Teoria da Agência”. Como referência dos problemas de agência, verifica-se que os
principais integrantes desse tipo de sociedade são os acionistas, o conselho de
administração e os altos executivos (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA,
2007). A Teoria da Agência foca a informação como uma commoditie que possui valor
e preço num mercado imperfeito, particularmente devido à existência de assimetria de
informações (MARTINEZ, 1998). Nota-se um conflito de interesses, já que os
administradores também estão interessados em sua riqueza pessoal, segurança no
emprego, estilo de vida e outras vantagens (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-
SILVA, 2007).
A teoria do agenciamento busca explicar as relações contratuais entre os membros
de uma organização, considerando que estes são motivados exclusivamente pelos
seus interesses. Consiste em uma relação contratual, na qual o principal encarrega
o outro de prestar algum serviço em seu benefício, delegando para tal certos
poderes de decisão (NOSSA; KASSAI; KASSAI, 2000).
19
Para Neves (2006, p. 1), “a Teoria da Agência é fundamental para o enquadramento
da Governança Corporativa. Procura-se por diversos meios, alinhar os interesses
dos gestores com os dos acionistas”. Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007,
p.2) esperam que “o comportamento do agente, isto é, suas decisões, visem ao
atendimento integral dos interesses do principal”. Zolini (2008, p.15) acredita que “os
problemas de agência e monitoramento estarão presentes em todos os níveis
hierárquicos da empresa”.
Os indivíduos são vistos pela teoria econômica como elementos que buscam
maximizar o seu próprio bem-estar. Uma vez que eles são diferentes entre si, com
desejos e necessidades distintos, é de se pressupor que haja conflitos entre seus
interesses (SOARES; KLOECKNER, 2006). A Teoria da Agência é um contrato sob
o qual um ou mais indivíduos, denominados principais, atribuem a outros indivíduos
denominados agentes, autoridade para desempenhar funções de tomada de decisão
(JENSEN; MECKLING, 1976 apud FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA,
2007). A teoria do agenciamento possui como sistema de referência as relações
contratuais. A firma é visualizada como uma grande teia de contratos que se
intercala e cruza em vários sentidos e entres diferentes partes da organização
(MARTINEZ, 1998).
A Teoria da Agência tem sido usada pelos acadêmicos em várias áreas do
conhecimento das ciências sociais e comportamentais, entre as quais podem se
destacar a economia, finanças, marketing, ciências políticas, psicologia, sociologia e
contabilidade, entre outros. Constitui-se num referencial e instrumento de grande
valor para o desenvolvimento do conhecimento nestas três últimas décadas, sendo
amplamente investigado e analisado. Com ela, vem surgindo várias pesquisas
empíricas no sentido de validar suas hipóteses implícitas (MARTINEZ, 1998).
O conflito da agência resulta da possibilidade de expropriação de riqueza, uma vez
que há delegação de autoridade decisória inerente às finanças coorporativas. Isso
ocorre nas tomadas de empréstimos, gerenciamentos de projetos em andamento e
futuros e relacionamento com os mercados de capitais e o financeiro (ZOLINI, 2008).
20
Já para Martinez (1998, p.3), “na perspectiva da Teoria do Agenciamento, os
sistemas de informações contábeis são vistos como sistemas de monitoramento que
produzem informações no qual o principal (proprietário) e o agente (gerente)
baseiam suas relações”.
Sobre o tema, Nossa, Kassai e Kassai (2000, p.3) afirmam:
Até o momento, sempre que se fala de principal e agente esta referindo ao proprietário/acionista e administrador/gestor (membros da equipe administrativa), respectivamente. A literatura organizacional, em sua maioria, consagra desta maneira. Entretanto, o conceito principal e agente é flexível e pode ser estendido para diferentes tipos de relações.
De acordo com Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.2), “a relação de
agência possui suas bases na delegação de poderes do principal para o agente”. O
problema de agência ocorre, para Zolini (2008, p. 7), “quando os gestores tomam
decisões com o intuito de maximizar sua atividade individual e não o lucro dos
acionistas, motivo para o qual ele é contratado”. Neves (2006, p.1) diz que um
pressuposto da Teoria da Agência é que os agentes são racionais, egocentristas e
avessos ao risco. Como parte integrante dessa relação contratual, surge a figura de
um sujeito ativo, o qual a teoria consagra com o nome de Principal e como sujeito
passivo, o Agente. Em termos uma relação do tipo Principal-Agente, presume que o
agente realizará algo pelo principal, recebendo como contraprestação uma suposta
compensação (MARTINEZ, 1998).
Com relação ao agente, Siffert Filho (1998, p.3) afirma que “novos agentes ganham
relevo enquanto articuladores estratégicos do controle de grandes empresas
nacionais, como investidores institucionais, em especial os fundos de pensão, e
investidores externos”. Sobre o surgimento do problema de Agência, Famá,
Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.3) afirmam que “os administradores podem
tornar-se relutantes em assimilar alguns riscos em prol da companhia, os quais
podem comprometer sua riqueza pessoal. Diante de tal situação, surgem os
problemas de agência entre acionistas e administradores”. A relação indica uma
busca de eficiência quando o principal não dispõe de tempo, capacitação, e
competência. Ele atribui ao agente a o gerenciamento de recursos, ou a missão de
realizar determinadas tarefas (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA, 2007).
21
Os conflitos de agência ocorrem quando o agente principal (no caso, o acionista)
delega ao agente executor (no caso, a direção executiva da corporação) as decisões
que maximizarão os resultados das operações da empresa, em benefício do
acionista; mas comportamentos oportunistas do executor podem conflitar com o
objetivo do agente principal (ANDRADE; ROSSETTI, 2004).
Sobre a Teoria da Agência, Siffert (1998, p.5) escreve que ela se interessa “por um
tipo de relações econômicas bastante freqüentes no sistema econômico, ou seja, as
relações bilaterais entre um indivíduo (o principal) e um outro (o agente)”. Para
Nossa, Kassai e Kassai (2000, p.4), a teoria do agenciamento “procura explicar
quais seriam as regras contratuais (entre principal e agente) e os incentivos
necessários à indução ao comportamento ótimo, mesmo na presença de conflitos de
interesses”. Sobre as linhas seguidas, Martinez (1998, p.4) afirma que “inspirada
pela economia da informação, a teoria do agenciamento desenvolveu-se em duas
principais linhas: a) positivistas e b) agente/principal”. Nas relações de agenciamento
surgem amplos desafios para o principal, no intuito de monitorar as ações do agente.
Entre os problemas fundamentais aparece a questão comportamental dos agentes,
de assimetria de informações influenciada pelo perigo moral e a seleção adversa
(NOSSA; KASSAI; KASSAI, 2000).
Assim como o principal, a agente também possui metas pessoais, que não estão
necessariamente alinhadas como os interesses do principal. Dessa forma,
dependendo de sua função e utilidade, que varia em decorrência da percepção de
esforço, preocupação com imagem e outros fatores, o agente poderá simplesmente
desenvolver suas atividades de forma que seu empenho seja mínimo, sem se
esforçar e sem aplicar o máximo de sua energia na busca da maximização da
utilidade para o principal (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA, 2007).
Os problemas de agenciamento vêm dos conflitos existentes entre o principal e o
agente. Principalmente nas políticas operacionais, financeiras e de investimentos de
uma empresa, isso pode acarretar perdas significativas para os acionistas (NOSSA,
KASSAI, KASSAI, 2000).
22
O problema central de análise na Teoria do Agenciamento é a possibilidade do
agente assumir um comportamento oportunista no que se refere as suas ações (ou
omissões), visando aumentar sua satisfação pessoal. Entre as hipóteses implícitas
no modelo, observa-se que o agente é racional, evita o risco e está primariamente
orientado para seus próprios interesses, sem necessariamente focar nos da
empresa. Em outras palavras, o agente está procurando maximizar o seu bem estar
e suas necessidades pessoais (MARTINEZ, 1998).
Os administradores podem tornar-se relutantes em assimilar riscos em prol da
companhia, que comprometem sua riqueza pessoal. Dessa situação, surgem os
problemas de agência entre acionistas e administradores (FAMÁ; MARTELANC;
MENDES-DA-SILVA, 2007). Os administradores de uma empresa (agentes) podem
adotar políticas operacionais, financeiras ou de investimentos que melhor beneficiam
a si mesmos do que os acionistas. Ou seja, podem tomar decisões que levem a
resultados diferentes daqueles que os acionistas gostariam (NOSSA; KASSAI;
KASSAI, 2000). Para Martinez (1998, p. 4), o “principal e o agente estão submetidos
a riscos distintos, e com diferentes posturas perante estes”. Sobre esses conflitos,
Suzuki da Cruz et al. (2006, p.3) garante que eles “ocorrem devido ao
desalinhamento dos interesses das partes, que pode resultar em uma série de
deficiências administrativas”. Os acionistas acabam, de acordo com Famá,
Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.1), buscando “alinhar os interesses
particulares dos executivos com os da companhia”.
Além de diagnosticar os problemas nas relações contratuais, a Teoria do
Agenciamento vai mais além, sugerindo e propondo mecanismos para assegurar a
construção de contratos que sejam o mais eficiente possível para a solução de
problemas (MARTINEZ, 1998). Sobre isso, Nossa, Kassai e Kassai (2000, p. 5)
consideram que “a firma, como um conjunto complexo de relações contratuais,
conclui-se que está sempre presente a figura do principal e a do agente, ou seja, as
duas partes de um contrato (bilateral).”
23
Uma das formas que os acionistas encontram para diminuir os conflitos de
interesses é a criação de incentivos para os administradores, aliada à atividade de
acompanhamento do comportamento deles últimos. Essa conduta gera um custo
para os acionistas. Os custos de resolução do conflito de interesses entre principais
e agentes são denominados “custos de agência” (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-
DA-SILVA, 2007). Com a convergência de interesses, os custos de agência devem
cair aumentando o desempenho da companhia. Logo, enquanto a convergência de
interesses sugere um possível beneficio da concentração de propriedade, o efeito
entrincheiramento sugere o oposto (ZOLINI, 2008).
A minimização dos custos de agência, causados pelos conflitos de interesse entre
tomadores de decisão e proprietários, depende da presença de um conjunto de
mecanismos internos e externos que alinhem os interesses dos gestores aos de
todos os acionistas. Nota-se que os efeitos alinhamento e entrincheiramento foram
identificados no caso das empresas brasileiras (ZOLINI, 2008).
A literatura coloca que a concentração acionária proporciona tanto custos (efeito
entrincheiramento), quanto benefícios (efeito alinhamento) e pode ser causada por
fatores, tais como, tamanho da empresa, instabilidade do mercado e estrutura de
capital. No efeito entrincheiramento, o aumento da parcela de votos e de
propriedade da empresa detida pelo controlador faz com que o mesmo esteja menos
dependente e sujeito às decisões do conselho de administração e ao mercado de
fusões e aquisições, permitindo a expropriação de riqueza para o benefício privado,
enquanto os custos seriam compartilhados entre todos os acionistas (DAMI et al.,
2007). De acordo com o que escreve Zolini (2008, p.22), “na hipótese de efeito
entrincheiramento, os gestores estão protegidos contra as regras do mercado e
livres para traçar seus próprios objetivos ao invés de maximizar o valor da firma”.
A magnitude dos custos de agência variará de firma para firma. Os custos de
agência dependerão das características do gestor; o quanto ele exerce suas
preferências em detrimento da maximização de valor da firma; dos custos de
monitoramento da performance do agente; dos custos de criação e aplicação de um
24
índice que compense os gestores em função da geração de valor para a firma; dos
custos de definir e controlar regras e políticas de comportamento (ZOLINI, 2008).
Na busca pela adequação de suas práticas de governança, as firmas podem incorrer
em custo de agência, os quais se destinam essencialmente a administrar potenciais
conflitos de interesses entre principais e agentes. Alguns os custos de agência são
os mecanismos de controle e de incentivo dos executivos, o qual pode induzir os
administradores decisões mais eficazes que possuam repercussões na situação
financeira da firma (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA, 2007).
Os custos de agência, definidos por Jensen e Meckling em 1976, são uma somatória
dos seguintes fatores:
• Custos de elaboração e estruturação dos contratos entre o principal e o agente;
• Despesas de monitoramento das atividades do agente pelo principal; • Despesas promovidas pelos próprios agentes, para promover a
transparência e garantir que seus atos não serão prejudiciais ao principal;
• Perdas residuais, decorrentes da redução da riqueza do principal por divergências entre as decisões do agente e as decisões que iriam maximizar a riqueza do principal (ZOLINI, 2008, p. 10).
Os gestores, auditores, credores, investidores e analistas financeiros demandam
informações que permitam entender e explicar o motivo de uma determinada prática
(ou negar seus fundamentos), derivando daí uma condição de estabelecer predições
sobre as conseqüências futuras das ações presentes (NOSSA; KASSAI; KASSAI,
2000).
Prevê (2006, p.14) observa uma “necessidade de maior transparência por parte das
companhias para reduzir o conflito de agência e garantir tratamento justo e
igualitário aos minoritários”. As empresas precisarão se preocupar cada vez mais em
encontrar um modelo de gestão em que tanto os detentores do capital quanto a
diretoria executiva trabalhem de forma alinhada para gerar valor (SUZUKI DA CRUZ
et al., 2006). Andrade e Rossetti (2004, p.53) acreditam que “os conflitos de agência
que podem ocorrer nas relações entre acionistas e diretos executivos, aos quais é
confiada a gestão das companhias, constituem uma das questões cruciais de
Governança Corporativa”. “Apesar das empresas adotarem práticas de Governança
Corporativa, é preciso que tenham maior transparência para reduzir o conflito de
25
agência e garantir tratamento justo e igualitário aos minoritários”, acredita Prevê
(2006, p.1). Justamente por isso, Andrade e Rossetti (2004, p.16) acreditam que
“uma boa governança certamente torna os negócios mais seguros e menos
expostos a riscos externos ou de gestão”. Sobre a relação da Teoria da Agência e
sua solução com a Governança Corporativa, Lethbridge (1997, p.2) escreve que
“este conjunto de questões envolvendo a relação entre propriedade e gestão pode
ser tratado no âmbito do conceito de Governança Corporativa”. “É através das boas
práticas de governança que se podem minimizar os conflitos de agência”, explicam
Andrade e Rossetti (2004, p.28).
2.2 Governança Corporativa
Para Lethbridge (1997, p.2), “a economia brasileira tem passado, sobretudo nos
últimos anos, por profundas mudanças na estrutura de propriedade e gestão de
suas principais empresas”. Justamente por isso, para Siffert Filho (1998, p.3),
“novas formas de Governança Corporativa tornam-se presentes na economia
brasileira”. Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.1) acreditam que
“atualmente tem existido algum consenso entre práticos e acadêmicos acerca da
importância das boas práticas de Governança Corporativa na gestão das
empresas”. “A Governança Corporativa tem sido um importante quesito que
fundamenta a decisão do investidor sobre qual empresa ele irá tornar-se sócio”,
insiste Prevê (2006, p.1). As boas práticas de governança foram criadas para
harmonizar conflitos e bloquear oportunismos. Tanto os praticados pela direção, em
detrimento dos proprietários, quando os praticados por acionistas majoritários, em
detrimento dos minoritários (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Prevê (2006, p.12) tem
convicção de que os “principais objetivos oriundos da adoção de boas práticas de
Governança Corporativa são: minimização dos conflitos de interesse entre os
agentes da companhia, redução do custo de capital e aumento do valor da
empresa.”
A Governança Corporativa é um conjunto de arranjos institucionais que regem as
relações entre acionistas (ou outros grupos) e as administrações das empresas. Ela
deverá se transformar numa preocupação importante no Brasil na medida em que
26
as mudanças em curso nos seus sistemas de propriedade estatal e familiar
acelerem e atraiam novos investidores, especialmente estrangeiros (LETHBRIDGE,
1997).
Para Chagas (2007 apud DI MICELI DA SILVEIRA; OKIMURA; ROCHA, 2007, p.2) a
Governança Corporativa “se originou da expressão inglesa ‘corporate governance’,
significando o sistema pelo qual os acionistas tomam conta de sua empresa.” Para
Lethbridge (1997, p.4), “uma clara atribuição para a governança das empresas é a
organização de um sistema de prestação de contas”. Segundo Andrade e Rossetti
(2004, p. 29), “os aspectos centrais das práticas de gestão são derivados diretos das
melhores práticas de Governança Corporativa”. Se uma estrutura está priorizando as
recomendações das boas práticas de governança, existe a expectativa de que os
objetivos da empresa sejam colocados à frente de quaisquer outros (FAMÁ;
MARTELANC; MENDES-DA-SILVA, 2007). A Governança Corporativa tem recebido
crescente atenção acadêmica e do ambiente dos negócios, sendo apontada como
um dos determinantes para o desempenho da firma (MENDES-DA-SILVA;
OLIVEIRA, 2006). Segundo Mallin (2003 apud MESQUITA; VIEIRA, 2005, p.2), “as
práticas de governança têm sido publicadas em inúmeros países e as
recomendações dessas práticas proporcionam um aumento da transparência nas
companhias”. Ainda é discreta a produção cientifica a respeito da influência que as
estruturas e práticas de Governança Corporativa podem exercer sobre as estrutura
de capitais (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA, 2007).
Conforme define o IBGC (2010, p.1):
Governança corporativa é o sistema que assegura aos sócios-proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e gestão se dá através do conselho de administração, a auditoria independente e o conselho fiscal, instrumentos fundamentais para o exercício do controle. A boa governança assegura aos sócios equidade, transparência, responsabilidade pelos resultados (accountability) e obediência às leis do país (compliance).
Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.1) acreditam que “a Governança Corporativa
tem sido apontada como um dos fatores determinantes do desempenho das
empresas”. Para Suzuki da Cruz et al. (2006, p.2), “as boas práticas de Governança
Corporativa visam aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e
27
contribuir para a sua perenidade”. Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.5)
concordam com essa afirmação, já que, para eles, nos últimos anos “os estudos
desenvolvidos acerca da Governança Corporativa têm focado especialmente o valor
da firma, bem como seu desempenho financeiro e seus determinantes”. Sobre ela
ser mais um modismo, como os críticos afirmam, Andrade e Rossetti (2004, p.20)
escrevem que “seguramente não”, e justificam mais tarde (2004, p. 52): “seu
desenvolvimento tem raízes firmes. E sua adoção tem razões substantivas para se
disseminar.”
Para Andrade e Rossetti (2004, p.26-27), são quatro os valores que dão
sustentação à boa Governança Corporativa:
Faieness: Senso de justiça, equidade no tratamento dos acionistas. Respeito aos direitos dos minoritários, por participação equânime com a dos majoritários, tanto no aumento da riqueza corporativa, quanto nos resultados das operações, quanto ainda na presença ativa nas assembléias gerais; Accountability: Prestação responsável de contas, fundamentada nas melhores práticas contábeis e de auditoria; Compliance: Conformidade do cumprimento de normas reguladoras, expressas nos estatutos sócias, nos regimentos internos e nas instituições legais do país.
A competição entre as empresas que almejam conquistar e reter clientes tem
evoluído, de forma que os métodos utilizados para esse propósito vêm sendo
aperfeiçoados. Nesse contexto, aparece a Governança Corporativa, que é
indispensável para o processo de desenvolvimento econômico do mercado
financeiro e o mercado de capitais. Com ela são estabelecidas regras e
procedimentos para o uso correto de práticas que garantam segurança, confiança e
liquidez para os investidores.
Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.1) garantem que “estudos recentes
têm, na maioria das oportunidades, buscando verificar associações entre
Governança Corporativa e o desempenho empresarial”. A Governança Corporativa,
que se desenvolveu pioneiramente nos EUA e no Reino Unido, enfatizava a
proteção aos acionistas contra o oportunismo dos gestores (ANDRADE; ROSSETTI,
2004). “Ao redor do mundo, nas últimas duas décadas, inclusive nos mercados
emergentes, o estudo da Governança Corporativa tem angariado significativo
28
espaço da produção científica em finanças”, escrevem Famá, Martelanc e Mendes-
da-Silva (2007, p.14).
São muitos os debates sobre à Governança Corporativa nos dias atuais. No Brasil, o
tema é o assunto do dia no mercado de capitais, por levar as empresas a
administrar os seus negócios com transparência, compromisso e equidade
(MESQUITA; VIEIRA, 2005). Mesmo assim, os autores (2005, p.1) observam apenas
“uma pequena quantidade de empresas aderindo às práticas diferenciadas de
Governança Corporativa”. Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p. 1) concordam, já
que, para eles, “no âmbito nacional, ainda é pequena a parcela de pesquisas
empíricas que discutem a Governança Corporativa.” Famá, Martelanc e Mendes-da-
Silva (2007, p.2) apontam que, nos últimos anos, “tem-se discutido amplamente a
adequação das práticas de governança adotadas pelas empresas ao redor do
mundo.”
As empresas fechadas e familiares optam por restrições; as abertas privadas
responderão a mais interesses; as estatais de capital aberto se envolvem com
interesses expandidos (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Sobre o futuro das pesquisas
sobre o tema, Famá, Martelanc e Mendes-da-Silva (2007, p.14) concluem que
“diversos aspectos relacionados ao melhor entendimento da Governança
Corporativa ainda permanecem inconclusivos, oferecendo ambiente para o
desenvolvimento das pesquisas.”
O aumento da relevância da Governança Corporativa no contexto econômico
ocorreu principalmente porque investidores buscam melhores retornos e maior
segurança de seus investimentos, já que seu risco é reduzido com a adoção de boas
práticas de governança, mais especificadamente, pela maior transparência e
confiabilidade nas informações prestadas pelas companhias listadas na bolsa.
Graças ao surgimento de conflitos e as necessidades de transparência, a
Governança Corporativa se tornou uma resolução para esses problemas, ainda que
ainda seja opcional aderir a ela.
29
Andrade e Rossetti (2004, p. 53) acreditam que o “despertar da Governança
Corporativa esteve historicamente ligado à separação entre a propriedade e a
gestão.” Segundo Silva de Souza (2004, p.9), “a questão da Governança
Corporativa no Brasil ainda carece de aprofundamento.” Siffert Filho (1998, p.20)
defende que, após o clico de desenvolvimento dos anos 80, “a economia brasileira
calcado no clássico ‘tripé’ empresas estatais/empresas privadas, empresas
nacionais/empresas estrangeiras, tem buscado outros meios de engendrar um novo
ciclo de crescimento.”
O assunto só chegou ao meio empresarial e acadêmico com ênfase, após os
escândalos financeiros ocorridos em grandes empresas. Ele já tem mais de 50 anos,
quando ainda não tinha esse nome, e vem passando por uma evolução. Na década
de 90 é que atingiu sua plenitude (SILVA DE SOUZA, 2004, p.2). Famá, Martelanc
e Mendes-da-Silva (2007, p.1) registram que “desde o final dos anos 90, a
Governança Corporativa tem recebido significativa atenção nos países de economia
emergente.” Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.1) afirmam que “a Governança
Corporativa, desde meados dos anos 80, tem sido motivo de atenção nos EUA, e na
última década, também no Brasil.” Suzuki da Cruz et al. (2006, p.1) escrevem que,
“em 2002, instituiu-se nos Estados Unidos a Lei Sarbanes-Oxley, que visa adequar
empresas com capital negociado na Bolsa de New York aos novos parâmetros de
Governança Corporativa.” Andrade e Rossetti (2004, p.20) acreditam que “a
compreensão, a internalização e o exercício da Governança Corporativa estão, há
no mínimo 15 anos, entre os mais importantes desafios da moderna gestão.”
Segundo Mallin (2003 apud MESQUITA; VIEIRA, 2005, p.2), “na última década, a
Governança Corporativa cresceu significativamente.” “Tamanha relevância da
Governança Corporativa no atual contexto do mercado financeiro faz com que a
busca por boas práticas se torne cada vez maiores por parte das empresas”,
escreve Prevê (2006, p.1). Ainda sim, Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.1) vêem
que “ainda é pequena a preocupação científica sobre a Governança Corporativa,
especialmente aquela baseada em evidências empíricas.”
Andrade e Rossetti (2004, p.23) lembram que “sob diferentes perspectivas, há
diferentes conceitos de governança.” Um sistema de Governança Corporativa é o
30
conjunto de instituições, regulamentos e convenções culturais, que rege a relação
entre as administrações das empresas e os acionistas ou outros grupos às quais as
administrações devem prestar contas (LETHBRIDGE, 1997, p.2). Para Siffert Filho
(1998, p.2), o sistema de Governança Corporativa diz respeito ao “controle e
monitoramento estabelecidos pelos acionistas controladores de uma determinada
empresa ou corporação, de tal modo que os administradores tomem suas decisões
sobre a alocação dos recursos de acordo com o interesse dos proprietários.” A
Governança Corporativa regula as ações dos administradores (incluindo o grau de
alavancagem financeira), através dos acionistas ou parte do sistema bancário, pela
avaliação de risco (SIFFERT FILHO, 1998). Andrade e Rossetti (2004, p. 23)
acreditam que, ao menos “pela extensão e pela diversidade de seus impactos, há,
em contrapartida, também diversas tentativas de definição em torno do significativo
e do alcance da Governança Corporativa”.
Nos anos recentes, os estudos desenvolvidos sobre a Governança Corporativa têm
focado especialmente no valor da firma, bem como seu desempenho financeiro e
seus determinantes. Ainda é discreta a produção cientifica de cunho empírico, a
respeito da influência que as estruturas e práticas de Governança Corporativa
podem exercer sobre as escolhas em termos de estrutura de capitais,
destacadamente no cenário brasileiro (FAMÁ; MARTELANC; MENDES-DA-SILVA,
2007).
Um marco na evolução teórica dos estudos sobre Governança Corporativa foi a obra
clássica de Berle e Means de 1932, The Modern Corporation, na qual esses autores
descreveram os impactos da separação entre propriedade e o controle gerencial,
afirmando que os gerentes tentam proteger o trabalho deles evitando ações que
possam potencialmente ameaçá-los (CAMARGOS; HELAL, 2007). Durante muito
tempo, desde que Berle e Means, no início dos anos 30, chamaram a atenção para
a pulverização do capital das empresas e para o divórcio entre a propriedade e a
gestão, o problema central do que hoje chamamos Governança Corporativa centrou-
se no conflito de agências (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). “A Governança
Corporativa ganhou destaque com a divulgação dos escândalos financeiros
envolvendo grandes corporações, especialmente com a publicação de relatórios
31
fraudados, embora autorizados por auditores”, registram Mesquita e Vieira (2005,
p.3). Com a globalização e o interesse das economias mais modernas em investir
grandes somas de capital em países emergentes, como o Brasil, tornou-se condição
sine qua non para as empresas interessadas em atrair capitais a utilização de boas
práticas de Governança Corporativa (MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006).
Andrade e Rossetti (2004, p.52) afirmam que “pelas diversas extensões de seus
raios de ação, há diferentes conceitos de Governança Corporativa.”
Tendências e pesquisam comprovam que as práticas de Governança Corporativa
devem ganhar maior importância a cada dia no Brasil. Dessa forma, as organizações
conseguirão suprir a demanda por um ambiente que minimize os riscos para os
investidores, dando condições para que o mercado de ações nacional se
desenvolva, se tornando, assim, como já é comum para outros países de primeiro
mundo, um fator de peso para expansão econômica (SUZUKI DA CRUZ et al.,
2006).
A diversidade de conceitos de Governança Corporativa vem diretamente da
diversidade dos modelos praticados em diferentes países e, em cada um deles, de
sua evolução ao longo do tempo (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Os mesmos
autores (2004, p.25) publicaram um quadro que mostra a diversidade de conceitos
que implica com Governança Corporativa:
Abrangência
e
diversidade
DIREITOS: Sistemas de gestão que visa preservar e maximizar os direitos dos acionistas, assegurando a proteção dos minoritários.
RELAÇÕES: Práticas de relacionamento entre acionistas, conselhos e diretoria executiva, objetivando maximizar o desempenho da organização.
GOVERNO: Sistema de governo, gestão e controle das empresas, que disciplina suas relações com as partes interessadas em seu desempenho.
PODER: Sistema e estrutura de poder que envolve a definição da estratégia, as operações, a geração de valor e a destinação dos resultados.
VALORES: Sistema de valores que rege as corporações, em suas relações internas e externas.
NORMAS: Conjunto de instrumentos, derivados de estatutos legais e de regulamentos, que objetiva a excelência da gestão e a proteção dos direitos das partes interessadas em seus resultados.
Partindo de um modelo de gestão que define sua abrangência, a Governança Corporativa é um conjunto de valores, princípios,
32
Uma tentativa de síntese
propósitos, papéis regras e processos que rege o sistema de poder e os mecanismos de gestão das empresas, abrangendo:
v Propósitos dos acionistas empreendedores.
v O sistema de relações acionistas-conselho-direção.
v Maximização da riqueza dos acionistas, minimizando oportunismos conflitantes com este fim.
v Estrutura de regulação e de fiscalização das ações corporativas.
v Estrutura consultiva, deliberativa e de comando.
v Processo de formulação e execução da estratégia.
v Sistemas de gestão, de controle e de aferição de resultados.
v Sistema de informações relevantes
Quadro 01: Conceitos de governança corporativa: uma tentativa de síntese. Fonte: Andrade e Rossetti (2004).
Governança corporativa é o conjunto de práticas que tem por finalidade aperfeiçoar
o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais
como investidores, empregados e credores. Ela facilitará o acesso ao capital. A
análise das práticas de Governança Corporativa aplicada ao mercado de capitais
envolve principalmente transparência, equidade de tratamento dos acionistas e
prestação de contas (SILVA DE SOUZA, 2004).
Sobre as partes interessadas na Governança Corporativa, Andrade e Rossetti (2004,
p.22) criaram um quadro que representa muito bem essa relação:
Partes Interessadas Interesses � Acionistas/cotistas:
v Controladores. v Minoritários.
� Conselhos de Administração. � Conselhos consultivos. � Auditorias independentes. � Conselhos fiscais. � Diretoria executiva: CEO e staff. � Comitês corporativos de gestão. � Funções corporativas. � Outras partes internas interessadas:
v Empregados. v Fundações de assistência
e seguridade. � Outras partes externas interessadas:
Restritos � Cumprimento de disposições
estatuárias. � Condições estabelecidas em
acordos de acionistas. � Desempenho estratégico no
ambiente de negócios. � Maximização da riqueza dos
acionistas. � Otimização do retorno sobre ativos
tangíveis. � Preservação de ativos intangíveis. � Remuneração e benefícios da
direção executiva. � Perenidade da empresa.
33
v Fornecedores. v Clientes. v Consumidores/Usuários.
� Agências reguladoras. � Órgãos normativos do mercado
de capitais. � Comunidades.
Ampliados � Indicadores de cumprimento de
disposições legais. � Responsabilidades corporativas
quanto a: v Interesse nacional. v Interesse social.
� Balanços de alcance externos: v Social. v Ambiental.
Quadro 02: Partes interessadas e interessantes que podem estar presentes e processos de governança corporativa de diferentes amplitudes. Fonte: Andrade e Rosseti (2005, p. 25).
O conselho de administração é a essência de qualquer sistema de administração de
boa governança corporativa, tendo como suas funções zelar pela integridade,
transparência e prestação de contas da empresa e de sua gestão, incluindo a
supervisão e orientação da diretoria. O conselho tem como responsabilidade final o
funcionamento da firma. Sua função é admitir, demitir e compensar o CEO da
empresa. Um conselho bem administrado é capaz de fornecer a cultura
organizacional e manter o desenvolvimento da organização (ZOLINI, 2008).
O IBGC (2010, p.1) aponta alguns dos deveres que os conselhos das empresas tem
nessa relação:
A empresa que opta pelas boas práticas de Governança Corporativa adota como linhas mestras a transparência, a prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa. Para tanto, o conselho de administração deve exercer seu papel, estabelecendo estratégias para a empresa, elegendo e destituindo o principal executivo, fiscalizando e avaliando o desempenho da gestão e escolhendo a auditoria independente.
Os membros do conselho de administração são em sua grande maioria indicados
pelo acionista controlador. Dessa forma é reduzida a possibilidade de uma postura
ativa e independente dos conselhos, que é necessária para o cumprimento de suas
atribuições legais de fixação da orientação geral dos negócios e fiscalização da
gestão dos executivos em prol de todos os acionistas (ZOLINI, 2008).
A Governança Corporativa, como conjunto de princípios e práticas que têm sido
incorporadas aos modelos de gestão das empresas, tem atraído a atenção de
diferentes partes interessadas e o próprio interesse público (ANDRADE; ROSSETTI,
2004). Para Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.2), “a mídia impressa nacional vem
34
atribuindo destaque ao papel dos conselhos.” Um dos resultados desse crescente
interesse, para Siffert Filho (1998, p.3) é que “a empresa familiar nacional encontra-
se sob forte pressão”. As estruturas de governança somente são definidas quando
se têm claros os atributos das transações (SIFFERT FILHO, 1998).
Membros do conselho podem não possuir os mesmos interesses dos gestores. Um
membro do conselho, por exemplo, pode possuir uma posição no conselho porque
possui, ou representa alguém que possui, uma grande participação acionária da
companhia. Dessa forma, seus interesses estarão mais alinhados com os interesses
detentores do fluxo de caixa (proprietários) do que com o dos gestores (ZOLINI,
2008).
Andrade e Rossetti (2004, p.83) afirmam que “as práticas de governança deverão
estar direcionadas para otimizar o retorno dos acionistas, como objetivo corporativo
fundamental”. Do ponto de vista dos acionistas, uma gestão profissionalizada delega
autonomia aos administradores, tornando inevitáveis as assimetrias informacionais
decorrentes da nova separação de poderes, podendo levar a uma divergência de
interesses (LETHBRIGDE, 1997). Para Andrade e Rossetti (2004, p. 29), em uma
empresa que adere a Governança Corporativa, “as expectativas dos acionistas e as
políticas básicas da empresa são definidas no nível corporativo, por relações de
governo entre os acionistas e os que os representam nos conselhos de
administração.”
Com a Governança Corporativa, deverá cair por terra o mito da figura do acionista
obedecendo a uma lógica de proprietário, disposto a monitorar seus investimentos
numa perspectiva de longo prazo. Esse mito está sendo substituído pelo investidor
institucional seguindo uma lógica de administrador de recursos, preocupado em
maximizar os retornos sobre uma carteira cuja extensa diversificação tornaria
impossível uma análise mais pormenorizada das perspectivas para cada empresa
nela representada (LETHBRIDGE, 2007).
Mesquita e Vieira (2005, p.2) registram os dados de que, na bolsa brasileira, “são
383 companhias que possuem suas ações negociadas em bolsa e apenas 15, 7%
35
destas empresas se adequaram a um dos níveis de Governança Corporativa da
BOVESPA, até outubro de 2005.” Prevê (2006, p.1) lembra que “no Brasil, a adesão
e a promoção de práticas de governança ainda é uma questão de escolha – cabe à
empresa aderir ou não.” Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.3) lembram que,
“visando incentivar as empresas de capital aberto (extensivas às empresas de
capital fechado) a adotarem boas práticas de governança, a Bovespa criou em 2001
o Novo Mercado.”
Em suas pesquisas, Mesquita e Vieira (2005, p.12) conseguiram dados
interessantes quanto à opinião das empresas entrevistas sobre a política de adesão
à Governança Corporativa:
Com relação às opiniões sobre uma possível interferência da CVM no Mercado de Capitais para estimular práticas de Governança Corporativa nas Empresas Brasileiras, observou-se que a maioria das respostas defendeu a filosofia da adesão voluntária (75%), contrárias a 25% daqueles que acreditam que a CVM deveria exigir das companhias que ainda não aderiram a nenhum nível da BOVESPA, práticas diferenciadas para um maior desenvolvimento do Mercado de Capitais.
De acordo com Mesquita e Vieira (2005, p.3) o Novo Mercado é “exclusivamente
destinado à negociação de ações de companhias que se comprometem
voluntariamente com a adoção de práticas de GC adicionais em relação ao que é
exigido pela legislação.” Para desenvolver a Governança Corporativa, a BOVESPA
criou os níveis 1, 2 e Novo Mercado, que contém padrões elevados de compromisso
com os acionistas e demais grupos de interesse (MESQUITA; VIEIRA, 2005).
No Brasil hoje 29 empresas estão listadas no Novo Mercado da Bovespa, o que
significa que elas apresentam capital social composto apenas por ações ordinárias,
comprometendo-se voluntariamente com a adoção de práticas de Governança
Corporativa adicionais ao que é exigido pela legislação. Além do Novo Mercado, a
Bovespa adota outros níveis diferenciados de Governança Corporativa – Nível 1 e
Nível 2 – com o objetivo de criar alternativas para as empresas que têm ações
preferenciais na sua estrutura acionária, mas que estão dispostas a tornarem-se
mais transparentes e oferecer mais garantias para seus investidores (BOVESPA,
2006 apud PREVÊ, 2006). Para Dami et al. (2007, p.12), “os mecanismos de
36
controle podem ser internos e externos a organização: em relação a esse último cita-
se o mercado competitivo e os padrões contábeis exigidos.”
Além da criação dos níveis diferenciados de governança corporativa da Bolsa de
Valores de São Paulo, hoje Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros
(BM&FBovespa), a Nova Lei das S.A. (Lei 10.303/01), o aprimoramento da
regulamentação pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pela Secretaria de
Previdência Complementar (SPC) e outras autoridades reguladoras e iniciativas
privadas como a atuação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC),
da Associação Brasileira de Companhias Abertas (ABRASCA), da Associação
Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID) e outras entidades vêm exigindo e
criando incentivos para a introdução de melhores práticas do governança corporativa
no país (CANELLAS; LEAL, 2009).
Com o objetivo de permitir a adesão voluntária das organizações às praticas de
Governança Corporativa foram criados os Níveis 1, 2 e Novo Mercado pela
BOVESPA, que são importantes alternativas às reformas legislativas (Carvalho 2003
apud MESQUITA; VIEIRA, 2005). Mesquita e Vieira (2005, p.1) concluem que uma
empresa que “ingressa em um desses níveis [de governança] conquista melhor
imagem perante a sociedade e, principalmente, um lugar de destaque no mercado
de capitais.”
Sobre os tipos de Governança Corporativa, Lethbridge (1997 apud SIFFERT FILHO,
1998, p.5) informa:
No tocante à Governança Corporativa, a questão colocada é a seguinte: como estabelecer um sistema de monitoramento e incentivo de modo que os administradores gerenciam as empresas de acordo com o interesse dos acionistas? Em relação a esse problema, as economias desenvolvidas apresentam dois modelos estilizados: o indo-germânico, no qual o controle das corporações ocorre, principalmente, através de mecanismos internos formados por participações cruzadas, com participação do capital bancário, companhias seguradoras e mesmo outras corporações; e o anglo-saxão, caracterizado pela pulverização do controle acionário, sendo externo o mecanismo de controle através do mercado de capitais. Nesse último modelo, o preço das ações reflete um julgamento do mercado, por mais subjetivo que venha a ser, em relação às performances dos administradores e das empresas que comandam.
A Bovespa (2005 apud MESQUITA; VIEIRA, 2005, p.4) disponibiliza um quadro com os requisitos para os Níveis 1 e 2, assim como o Novo Mercado:
37
Os diferentes Níveis de Governança Corporativa da Bovespa
Nível 1
• Manutenção de uma parcela mínima de ações em circulação, representando 25% do capital (free float);
• Realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital;
• Melhoria nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a exigência de consolidação e de revisão especial de auditoria;
• Informação para negociações de ativos e derivativos de emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da empresa;
• Divulgação de acordos de acionistas e programas de stock options; • Disponibilização de um calendário anual de eventos corporativos; • Apresentação das demonstrações do fluxo de caixa.
Nível 2 • Além das obrigações exigidas no Nível 1, pede-se: • Conselho de Administração com mínimo de cinco membros e mandato unificado de um ano; • Disponibilização de balanço anual, seguindo as normas do US GAAP ou IAS; • Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das mesmas condições
obtidas pelos controladores, quando da venda do controle da companhia e de, no mínimo, 70% desse valor para os detentores de ações preferenciais (tag along);
• Direito de voto ás ações preferenciais em algumas matérias, como transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo;
• Obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro de negociação nesse Nível;
• Adesão à Câmara de Arbitragem para resolução de conflitos societários.
Novo Mercado • No que concerne ao Novo Mercado, além das obrigações nos Níveis 1 e 2, as companhias
devem emitir apenas ações ordinárias.
Quadro 03: Os diferentes Níveis de Governança Corporativa da Bovespa Fonte: Bovespa (2010, p.1).
Os princípios da Governança Corporativa não são voláteis, destituídas de interesse
geral, formalmente sofisticadas e impraticáveis. São claros e objetivos, simples,
adaptáveis as mais diversas situações corporativas e de amplo interesse
(ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Com os benefícios da Governança Corporativa,
muitos países adotam modelos específicos, os quais variam conforme as
peculiaridades e o entendimento de cada país em torno do assunto (PREVÊ, 2006).
Apesar dos diversos modelos de Governança, o sistema americano é predominante
no Brasil, segundo Silva (2002 apud PREVÊ, 2006, p.5) principalmente pela
38
“importância dos Estados Unidos no cenário mundial, com seu expressivo mercado
de capitais como fonte de recursos para empresas no mundo inteiro.” No mundo
corporativo, mais até que o domínio das melhores práticas de governança, coloca-se
como questão também fundamental a assimilação do significado histórico deste
novo desafio e de seus futuros desdobramentos (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). A
Governança Corporativa é um importante fator para o crescimento econômico de um
país, pois tem uma base sólida que gerar benefícios para empresas, investidores,
mercado de capitais e para a economia (PREVÊ, 2006). A Governança Corporativa
deverá envolver o governo e de órgãos regulatórios, bem como outras partes
interessadas, buscando soluções pela negociação, mediação ou arbitragem
(ANDRADE; ROSSETTI, 2004).
As práticas de Governança Corporativa, ao contrário de indicadores como a situação
econômica do país, atratividade do negócio, perspectiva de valorização da ação da
empresa, política de distribuição de dividendos e outros proventos em dinheiro, não
conseguem ser mensuradas com índices como taxa de retorno, risco e alavancagem
financeira (PREVÊ, 2006).
Sobre o avanço das empresas brasileiras na Governança Corporativa, Prevê (2006,
p.14) acredita que “as empresas brasileiras ainda precisam despender grande
esforço para atingir um padrão de excelência em Governança Corporativa,
objetivando maior poder de competitividade no mercado globalização.” Segundo
Charam (2005 apud MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006, p. 4), “a Governança
Corporativa ainda está em um movimento contínuo de mudanças.”
A transparência e a proteção de contas podem afastar empresas porque no Brasil os
impostos são muito altos e isso poderia intensificar o medo, por parte das
instituições, de exporem os números ao Governo (MESQUITA; VIEIRA, 2005). Para
Andrade e Rossetti (2004, p. 20-21), apesar de a Governança Corporativa ser
reconhecida na gestão de negócios e no crescimento econômico, não se pode dizer
que ela já “esteja amplamente difundida e internalizada no mundo corporativo.” Os
autores apontam três principais razões para essas barreiras:
1. Por ser ainda recente. A expressão foi empregada pela primeira vez em 1991. O primeiro código de melhores práticas de
39
Governança Corporativa foi definido em 1992. E somente em 1995 foi editado o primeiro livro com esse título – Corporate governance, de R. Monks e N. Minow.
2. Pela sua abrangência. As práticas de governança podem ser descritas a partir de diversos pontos de vistas, admitindo assim várias acepções. Desde as relacionadas a questões legais, como as dos direitos societário e sucessório, a questões financeiras, como a geração de valor, a criação de riqueza e maximização do retorno dos investimentos, e questões estratégicas, como a definição dos propósitos empresariais e das diretrizes corporativas para os negócios e das questões operacionais, como os sistemas que regem as relações entre os acionistas, os conselhos de administração e a direção executiva das empresas.
3. Pela diversidade de modelos. Para a efetiva operacionalização da Governança Corporativa não há apenas um, mas vários modelos válidos de gestão. Dependendo da abrangência e dos processos com que as empresas atendem às diferentes partes interessadas em seu desempenho e às externalidades produzidas pelas suas operações e pelos seus resultados, é que se estabelece o modelo de governança. Este pode estar voltado tanto para objetivos restritos quanto de maior amplitude. E, decorrentemente, a governança será conceituada de forma menos ou mais abrangente, reproduzindo os diferentes compromissos corporativos assumidos.
Outros motivos impedem as empresas de aderir aos níveis de Governança
Corporativa impostos pela Bovespa: estão a aversão de acionistas controladores em
dividir o poder com acionistas minoritários, o baixo nível de empreendedorismo
(especialmente nas áreas menos desenvolvidas do país), a má-formação técnica de
dirigentes empresarias (especialmente em empresas familiares), o risco de perder o
controle e as exigências dos Níveis. Entre essas exigências exigidas pela Bovespa
estão a emissão de apenas ações ordinárias, tag along, a Câmara de Arbitragem,
custos referentes à adequação aos padrões internacionais de Contabilidade (US,
GAAP ou IAS) e as ainda percebidas fragilidades do mercado de capitais nacional
(MESQUITA; VIEIRA, 2005).
O Brasil apresenta uma grande quantidade de empresas que estão iniciando os
seus processos e, dessa forma, deveriam existir mecanismos de incentivo para
estas que não possuem recursos suficientes para se adequarem a algum Nível de
governança da BOVESPA. Justamente por isso, a Bolsa demonstra interesse em
adaptar suas exigências às pequenas e médias organizações com a criação da
BOLSA MAIS (MESQUITA; VIEIRA, 2005).
Um bom sistema de governança ajuda a fortalecer as empresas, é fator de
harmonização de interesses e aumenta a confiança dos investidores, fortalece o
40
mercado de capitais e é fator coadjuvante do crescimento econômico (ANDRADE;
ROSSETTI, 2004). As discussões sobre publicação de balanço social parecem
apontar avanço dos conceitos stakeholder, nos aspectos sociais: a relação da
empresa com os empregados e a comunidade (LETHBRIDGE, 1997). A Governança
Corporativa precisa ser um valor que esteja incorporado pelos dirigentes da
companhia, cujos princípios sejam difundidos e compreendidos por todos os seus
colaboradores e stakeholders (PREVÊ, 2006). A empresa não deveria agir somente
pelos interesses dos acionistas, mas também de outros grupos (stakeholders) que
sofrem o impacto das decisões tomadas pela empresa (LETHBRIDGE, 1997).
A Governança Corporativa pode ser dividida em dois tipos. O primeiro, definido pela
tipologia de propriedade das empresas e prela forma preponderante de
financiamento das corporações, que denominaremos pelo trinômio propriedade-
gestão-retorno. O foco é o acionista (shareholder), quanto a seus interesses e
direitos. O segundo, definido pela postura do mundo corporativo quanto ao seu
envolvimento e ao seu compromisso com objetivos de maior amplitude, não
limitados aos de natureza econômico-financeira. Trata-se de modelos que vão além
do retorno do investimento e da geração de riqueza para os acionistas, assumindo
compromissos com outras partes interessadas (stakeholders) no desenvolvimento
das empresas e nos impactos de suas ações. Este segundo grupo diferencia-se por
foco ampliado, envolvendo-se com múltiplos interesses (ANDRADE; ROSSETTI,
2004).
Para Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.3), a Governança Corporativa pode ser é
uma relação entre “gestores de uma organização, seus conselhos de administração
e acionistas (shareholders), e demais interessados (stakeholders), como: credores,
governos, sociedade, fornecedores, funcionários, entre outros.” Segundo Lethbridge
(1997, p.3), “o sistema stakeholder diferencia-se do shareholder ao atribuir maior
peso aos interesses dos empregados.” Para exemplificar esse conceito, o mesmo
autor (1997, p.3) dá como exemplos práticos “as barreiras à demissão na Alemanha
e a concessão de empregos vitalícios aos funcionários de uma parcela significativa
de empresas japonesas.”
41
Andrade e Rossetti (2004, p.35) vão mais além, e descrevem no quadro abaixo
essas diferenças:
Estruturas Dimensões diferenciadoras
Shareholders
� Origem anglo-saxônica. � Objetivos mais estritamente vinculados aos interesses dos
acionistas: valor, riqueza e retorno. � Indicadores de desempenho centrados em demonstrações
patrimoniais e financeiras. � Crescimento, riscos e retornos corporativos: avaliações e
aferições como focos da governança.
Stakeholders
� Origem nipo-germânica. � Conjunto ampliado de interesses: geração abrangente de valor. � Leque mais aberto de públicos-alvo: integrados na estratégia
corporativa. � Amplo conjunto de indicadores de desempenho. � Além dos resultados patrimoniais e financeiros (que se mantêm
essenciais), olhos voltados também para sustentabilidade e função social.
� Geração de balanços ambiental e social.
Quadro 04: Raízes e distinções fundamentais dos modelos de governança, quanto à abrangência dos propósitos corporativos. Fonte: Andrade, Rossetti (2004, p.13).
No modelo anglo-saxão, o objetivo primordial das empresas tem sido
tradicionalmente a criação de valor para os acionistas, enquanto nos países que se
aproximam do modelo nipo-germânico, as empresas devem equilibrar os interesses
dos acionistas com aqueles de outros grupos que são impactados pelas suas
atividades, como os empregados, fornecedores, clientes e a comunidade. É possível
distinguir dois tipos extremos de controle corporativo: shareholder, no qual a
obrigação primordial dos administradores é agir em nome dos interesses dos
acionistas; e stakeholder, onde, além dos acionistas, um conjunto mais amplo de
interesses deve ser contemplado pela ação e pelos resultados da corporação
(LETHBRIDGE, 1997).
Resta saber se as empresas aceitarão os compromissos efetivos, incorporando-a as
estruturas de governança (como no sistema stakeholder), ou se limitará as práticas
filantrópicas ou de marketing social (LETHBRIDGE, 1997).
42
Andrade e Rossetti (2004, p. 52) acreditam que, “amplamente difundidas e
internalizadas no mundo corporativo, as práticas de governança abrangem grande
elenco de partes interessadas.” Para Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.1),
segundo as boas práticas de governança, “deve-se reservar atenção especial à
forma com a qual se formam e atuam os conselhos de administração das
companhias de capital aberto.” Os conselhos de administração tendem a ser
constituídos a partir de critérios mais rigorosos e sua eficácia tende a ser
acompanhada e avaliada sempre. Nessa avaliação, procura-se a participação ativa
dos conselheiros tanto na formulação das estratégias, como no controle da diretoria
executiva (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Silva de Souza (2004, p.2) acredita que
“as características pessoais dos conselheiros devem ficar claras em sua seleção e
avaliação”. Para Zolini (2008, p. 23), “é relevante estudar como os membros do
conselho com diferentes posições acionárias se interagem e como a distribuição de
propriedade entre eles afetaria a empresa.”
Outros autores partilham da idéia de que o conselho tem função importante nos
meios de Governança Corporativa. Para Monks e Minow (2001, apud MENDES-DA-
SILVA; OLIVEIRA, 2006, p.1) “o foco principal da governança corporativa é a
atuação e composição dos conselhos de administração.” Mendes-da-Silva e Oliveira
(2006, p.1) concordam com os autores, já que, para eles, “a atuação, e sobretudo a
composição dos conselhos, têm sido motivo de preocupação para a comunidade
acadêmica.” Essa apreensão com o conselho de administração se justifica, já que os
controles exercidos pelo conselho sobre os gestores tendem a ser amplos. Eles vão
desde os benefícios para si próprio, passam pelas ligações externas que diretores
mantenham nas cadeias de negócios da corporação, gerando conflitos de interesse,
e chegam até a avaliação rigorosa de seu desempenho (ANDRADE; ROSSETTI,
2004).
Novas regras e regulamentos têm sido notados pelos conselhos de administração
por toda a América do Norte, e é uníssono entre muitos CEO’s e diretores que esse
processo está apenas começando, apesar das recentes mudanças que os
conselhos tem enfrentado nos últimos anos (MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006).
43
Com o aparecimento da boa governança, os conselhos passaram a ser objeto de
mudanças, até porque a legislação em praticamente todos os países sempre lhes
conferiu amplos poderes para dirigir os assuntos das organizações, A alternância
dos membros tornou-se regra. Criaram-se critérios tecnicamente mais rigorosos para
decidir sua composição e seus membros passaram a ser cobrados e até avaliados
quanto ao seu comprometimento com os objetivos e os resultados corporativos
(ANDRADE; ROSSETI, 2004).
Os conselheiros devem ser descomprometidos com a administração da empresa,
não tendo nenhum vínculo, laços de parentesco, tampouco sofrer influência do
grupo controlador (quando por ele indicado, por exemplo). Também não deve ter
anteriormente exercido algum cargo executivo na companhia (LODI, 2000 apud
MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006). De acordo com Andrade e Rossetti (2004,
p.83), “as práticas de governança deverão incluir a atenção do conselho de
administração para otimização constante do desempenho operacional das
corporações.”
Já que os conselheiros, durante o processo de tomada de decisão, necessitam de
conhecimentos relativamente abrangentes, principalmente acerca de contabilidade e
de finanças da empresa, é de se esperar que detenham habilidades que possibilitem
o desempenho de suas funções satisfatórias, e assim sejam acompanhados mais de
perto quando o assunto é Governança (MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006).
Como compromisso mínimo, a Governança Corporativa definirá diretrizes de
cumprimento de todas as leis aplicáveis das jurisdições em que atuam.
Complementarmente, ela também deverá estar voltada para objetivos sociais e
ambientais. Os conselhos de administração que buscam estes três objetivos
corporativos terão maior probabilidade de criar riquezas, oportunidades de emprego
e sustentabilidade para as economias em que mentem seus negócios (ANDRADE;
ROSSETTI, 2004). Um aspecto que tem sido freqüentemente discutido, tanto no
âmbito acadêmico quanto no âmbito dos profissionais de finanças e de estratégia
empresarial, é a quantidade de firmas nas quais um conselheiro atua. Esse é outro
44
ponto importante que deve ser observado com atenção (MENDES-DA-SILVA;
OLIVEIRA, 2006).
Os conselhos de administração estão tomando a dianteira nos processos
sucessórios, o que não implica o alijamento do CEO em sua condução. Contudo,
sua contribuição para um final satisfatório, através de um planejamento cuidadoso,
passa a ser avaliada ao lado do desempenho de suas outras funções, e, em alguns
casos, incentivada através de opções de compra das ações da empresa
(LETHBRIDGE, 1997).
Diante da demanda do mercado por maior profissionalização de administração das
companhias e também para aderir os Níveis da Bovespa, as empresas têm buscado
atender aos requisitos de composição do conselho de administração sugeridos pelas
boas práticas de governança (MENDES-DA-SILVA; OLIVEIRA, 2006). A
harmonização dos conflitos de agência é entregue, nos modelos de governança
mais eficazes, aos conselhos de administração, constituídos para atuar como
guardiões dos acionistas majoritários e minoritários, que disponibilizaram seus
recursos para as companhias. Essa síntese talvez explique porque ele é tão
importante quando o assunto é a resolução de conflitos de agência (ANDRADE;
ROSSETTI, 2004). Segundo Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.12), no contexto
das boas práticas de governança, “o papel e a composição do conselho de
administração é o motivo de diversas pesquisas, nos âmbito brasileiro e
internacional.”
No que se refere às questões de governança corporativa clássica, vários fatores
parecem estar conduzindo a formas de monitoramento mais diretas. Entre eles as
características do mercado acionário, o grande número de empresas de capital
fechado e as estratégias de investimentos dos investidores institucionais,
principalmente os fundos de pensão (LETHBRIDGE, 1997).
De acordo com Dami et al. (2007, p.12), “em relação aos mecanismos internos de
controle de governança corporativa, identifica-se a estrutura de propriedade como o
principal, especialmente em países com alta concentração de propriedade.” A
45
estrutura da maioria das modernas empresas está baseada na separação entre
propriedade e controle. Os processos de decisão dessas empresas baseiam-se no
desenho subjacente a essa estrutura, e todo este conjunto constitui o modelo de
Governança Corporativa da empresa (ZOLINI, 2008). Conforme afirmam Di Miceli da
Silveira, Okimura e Rocha (2007, p.2), “em economias emergentes, a concentração
da propriedade é mais acentuada, conforme mostram outros estudos e seus
evidencias empíricas.” A estrutura de controle e propriedade e a proteção legal
podem ser apontadas como determinantes da qualidade das práticas de governança
corporativa (SHLEIFER; VISHNY,1997 apud CANELLAS; LEAL, 2009). Para Dami et
al. (2007, p.6) “a estrutura de propriedade apresenta-se como o principal e mais
estudado mecanismo interno de governança corporativa no Brasil.” Então, ela talvez
seja a fonte de tantos conflitos e da crescente busca pela Governança Corporativa.
2.3 Estrutura de Propriedade
A maior parte das empresas nasce de fundadores-proprietários, que inicialmente
acumulam as funções de proprietários e gestores. À medida que as empresas
crescem e seus fundadores morrem com o passar do tempo, nem sempre os
descendentes têm condições ou interesses em substituí-los, mas herdam a
propriedade. O processo inevitável é então o de separação entre a propriedade e a
gestão – um processo que avança e se desdobra com o correr do tempo, tornando a
propriedade ainda mais dispersa entre milhares de acionistas não organizados, cada
vez mais afastados da administração diária dos negócios. Junto com este processo,
há outros de conseqüências iguais, mas de origens diversas. Entre estes, a abertura
do capital de empresas até então fechadas; ou a emissão de capital para expansão
de empresas abertas. Ou ainda a diversificação das carteiras de dispersão,
buscando a compatibilização ótima entre retornos e riscos. Todos esses movimentos
levam à crescente dispersão da propriedade, que se tornou algo problemático. Isso
ocorreu de fato, tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, países berços da
moderna governança. E a maior parte dos problemas tem a ver com as
desconfortáveis questões corporativas que se acumularam nestes países e em
todos os demais que os seguiram no estabelecimento de melhores práticas de
governança (ANDRADE; ROSSETTI, 2004).
46
Zolini (2008, p.40) afirma que “novas formas de governança corporativa tornam-se
presentes, pois a natureza e o perfil da propriedade têm efeitos sobre as estruturas
de governança das empresas e, conseqüentemente, sobre suas performances.”
Justamente por isso, a Teoria da Agência se tornou um problema decorrente da
concentração de propriedade, onde uma das soluções é a Governança Corporativa.
Esse três pontos estão fortemente ligados. A base de tudo, no entanto, é mesmo a
composição de propriedade. Segundo Lethbridge (1997, p.3), “os tipos de
propriedade e formas de monitoramento refletem visões diferentes dos objetivos
finais das empresas.”
De acordo com Solini (2008, p.1) “o ambiente das organizações tem se tornando um
dos principais fatores nas tomadas de decisão pelas organizações.” Justamente por
isso, o controle de propriedade vem se tornando um ponto essencial para a
resolução de grandes conflitos, e a tomada de decisão precisa ser providenciada
para evitar problemas. A estrutura de propriedade é a origem da empresa, e também
de diversos desentendimentos. Segundo Siqueira (1998 apud DAMI et al., 2007), “a
instabilidade do mercado exerce influência sobre a concentração da propriedade em
função do conflito de interesses entre administradores e proprietários”. Dami et al.
(2007, p.1) acredita que “em mercados instáveis há maior concentração de
propriedade e pela relação de dependência entre performance e concentração de
propriedade.” A estrutura de propriedade e controle da firma contribuem para
determinar o comportamento esperado dos acionistas e dos gerentes, uma vez que
variações nas estruturas de propriedade tendem a produzir diferentes incentivos
(SOARES; KLOECKNER, 2006).
Delimitando a estrutura de propriedade como importante mecanismo interno de
governança corporativa, e que práticas de governança corporativa superiores
proporcionam melhor desempenho e maior valor das empresas, questiona-se se há
relação de dependência entre o grau de concentração acionária e o valor e
desempenho das empresas não-financeiras de capital aberto no Brasil (DAMI et al.,
2007). Sobre essa questão, Zolini (2008, p.59) conclui que “não há uma forte
evidencia para rejeitar a hipótese de que o desempenho e a estrutura de
47
propriedade não estão relacionados”. Estudando os determinantes das práticas de
governança corporativa no Brasil, conclui-se que o principal fator determinante é a
concentração de controle. Quanto maior a concentração de controle de determinada
empresa, menor a qualidade das práticas de governança corporativa medidas
segundo um índice por ele desenvolvido (SILVEIRA, 2004 apud CANELLAS; LEAL,
2009). As conseqüências do grau de concentração estão associadas aos custos e
benefícios para o desempenho e valor das empresas, e as causas relacionam-se
com os fatores que determinam o grau de concentração, como instabilidade do
mercado, tamanho da empresa e estrutura de capital (DAMI et al., 2007). Zolini
(2008, p.60) acredita que “no Brasil, assim como em países como a França e a Itália,
a falta de proteção cria uma alta concentração de propriedade e controle,
acarretando em um baixo desenvolvimento do mercado de capitais.”
A relação entre estrutura de propriedade e controle e valor é diferente daquela entre
estrutura de propriedade e controle e desempenho, sendo a relação mais evidente
com o valor da empresa. Ou seja, a percepção do mercado e dos investidores
parece ser mais evidente (DI MICELI DA SILVEIRA; OKIMURA; ROCHA, 2007). Não
há diferença significativa entre o valor de mercado, estrutura de capital, tamanho do
ativo e rentabilidade do patrimônio líquido em relação ao grau de concentração
acionária. Entretanto constataram-se diferenças estatísticas significativas entre
crescimento da receita e instabilidade do mercado com o grau de concentração
acionária (DAMI et al., 2007).
Conforme escrevem Thomsen e Pedersen (1997 apud ZOLINI, 2008, p.16), “a
estrutura de propriedade é um dos principais determinantes da governança
corporativa”. Existem seis razões para tal afirmação:
• A concentração da propriedade por parte de grandes acionistas irá incentivá-los a tornar uma posição ativa, com interesse no desempenho da firma e na implementação de mecanismos de monitoramento dos administradores, isto é, farão valer sua voice, ao invés de possuírem estratégias de saída;
• O fato de os administradores deterem ações irá afetar os incentivos que estes possuem para maximizar o valor para os acionistas, ao invés de desenvolverem objetivos próprios;
• A identidade dos proprietários é um indicativo de suas propriedades, como, por exemplo, as empresas estatais que seguem, em boa medida, diretrizes políticas;
• Segundo a teoria de finanças, os acionistas/proprietários que possuem portfólios diversificados não serão aversos a uma postura de maior risco
48
por parte da firma, ao passo que proprietários como uma parcela significativa de baixo risco;
• Liquidez da propriedade irá afetar a preferência temporal dos proprietários e o comportamento de investimentos das corporações; e
• As estruturas de propriedade integrada (hierarquias) podem reduzir os custos de coordenar transações com alto grau de especialidade dos ativos (WILLIAMSON, 1996 apud SIFFERT FILHO, 1998).
Nesse contexto, a estrutura de propriedade varia entre os países em conseqüência
de vários fatores, como regime político, sistema legal, estrutura de mercado de
capitais, experiência histórica de industrialização, condições geográficas e cultura
(SIFFERT FILHO, 1998). Dami et al. (2007, p.1) acreditam que a “discussão sobre
as causas e conseqüências da estrutura de propriedade surgiu inicialmente com o
debate sobre separação entre propriedade e controle das empresas modernas.”
Zolini (2008, p.4) afirma que “o desenvolvimento dos mercados de capitais propiciou
um ambiente no qual o papel de gestor da empresa passou a ser exercido não
necessariamente pelo proprietário.” Sendo assim, a estrutura de propriedade das
empresas é formada em sua maioria por acionistas que não tem nenhuma ligação
direta com a administração da empresa, tornando o número de proprietários
realmente extenso. Dessa forma, ela pode se tornar muito dispersa, ou seja, ter
muitos proprietários diferentes, ou concentrada, tendo poucos acionistas. No Brasil,
ambos os casos são comuns para empresas listadas na Bolsa de Valores.
A presença de acionistas controladores aumenta a relação benefícios/custos do
monitoramento, implicando soluções otimizadas para a questão dos conflitos de
agência, aumentando o valor e desempenho das empresas (ZOLINI, 2008). A
redução do grau de instabilidade de mercado (associada com mudanças de preços,
tecnologia e market-share) provoca a redução da concentração da propriedade,
podendo inclusive aumentar a liberdade de monitoramento dos gestores (DAMI et
al.; 2007). Zolini (2008, p.57) concorda, pois escreve que “a concentração de
propriedade pode estar ligada à possibilidade de os proprietários monitorarem a
administração com a provável redução de conflitos e custos de agência.”
De acordo com Camargos e Leal (2007, p.2) “a relação dirigente x acionistas é
bastante delicada e tem inspirado estudos em diversas correntes teóricas. A questão
49
crucial nesta relação reside na separação potencial entre controle e propriedade”.
Dessa forma, o problema central da estrutura de propriedade é a forma como ela é
composta, sendo concentrada ou pulverizada.
Não há na literatura acadêmica unanimidade sobre a escolha de medidas de
estrutura de propriedade e controle para a análise do desempenho e valor das
empresas. A escolha da medida apropriada, de acordo com o autor, depende da
disponibilidade dos dados e de sua adequação à aplicabilidade da mesma
(OKIMURA, 2003 apud DAMI et al. 2007). As vantagens mais discutidas com relação
à concentração de propriedade estão ligadas à possibilidade dos proprietários
melhor monitorar a administração com a provável redução de conflitos e custos de
agências (DAMI et al., 2007). Para Siffert Filho (1998, p.4), “numerosos estudos têm
analisado as implicações (custos) de estruturas de propriedade alternativas.
Diferentes arranjos em termos de estrutura de propriedade são parte da organização
institucional da produção.”
A relação entre governança corporativa e o valor da empresa tem atraído atenção
particular dos estudiosos de mercado de capitais. Um aspecto de governança
corporativa que tem sido analisado largamente é a relação entre a estrutura de
propriedade/controle e o valor da empresa (ZOLINI, 2008). O estudo de diferentes
empresas listadas permite concluir que as empresas que aderiram ao Novo Mercado
apresentam maior dispersão de controle e propriedade. As empresas que abriram
seu capital depois de 2001 também apresentam maior dispersão de seu controle
direto (CANELLAS; LEAL, 2009). O entendimento da estrutura de governança
corporativa passa pelo entendimento da estrutura de propriedade da empresa, que
por sua vez afeta as relações de agência, o envio de informações e a relação e
composição do Conselho de Administração (ZOLINI, 2008). Desse modo, as
empresas que aderiram ao Novo Mercado, ou seja, as práticas de Governança
Corporativa, se mostraram mais dispersas quanto a concentração de propriedade.
Isso mostra que é verídico os relatos do capítulo anterior, que analisava o quanto a
Governança Corporativa é importante nesse ponto. Canellas e Leal (2009, p.21)
concordam com essa afirmação, já que para eles, “as empresas que negociam no
50
Novo Mercado apresentam o controle mais disperso do que as que negociam em
outros segmentos da bolsa.”
De acordo com as observações de Camargos e Helal em seus estudos (2007, p.1),
“os acionistas estão sujeitos a um modelo de concentração de propriedade no qual
se vêem obrigados a conviver com problemas de incentivos, que asseguram um
nível de desempenho desejado (cumprimento de contrato).” Dessa forma, percebe-
se que a concentração de propriedade força a empresa a conviver com algumas
táticas na tentativa de assegurar o prometido em contrato. Ainda assim, de acordo
com a observação de Dami et al. (2007, p.13), “grandes empresas tendem a
apresentar uma baixa concentração da propriedade e os conflitos de interesses são
menores ou maiores dependendo da instabilidade dos mercados.”
Os trabalhos e pesquisas sobre estrutura de controle realizados no Brasil mostram
que, em termos de controle e propriedade, o mercado brasileiro se aproxima mais
dos mercados do Japão e da Europa Continental do que dos mercados dos EUA e
do Reino Unido (CANELLAS; LEAL, 2009). Várias pesquisas e estudos a partir dos
anos 80, com base em companhias européias, norte-americanas e asiáticas, têm
testado as hipóteses de que forças como o tamanho da firma, instabilidade dos
mercados de atuação e estrutura de capital da empresa exercem papel relevante
sobre o grau de concentração da propriedade (SIQUEIRA, 1998 apud DAMI et al.,
2007). Estudos recentes apontam que as empresas com o modelo de propriedade
dispersa idealizado por Berle e Means em 1932 são pouco comuns na realidade,
mesmo considerando os países desenvolvidos, exceto os Estados Unidos e Reino
Unido (DI MICELI DA SILVEIRA; OKIMURA; ROCHA, 2007). De acordo com La
Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer (1999 apud CANELLAS; LEAL, 2009), “Na maior
parte dos países o controle das empresas é concentrado, muitas vezes em um único
acionista, família ou instituição.” Como escrevem Di Miceli da Silveira, Okimura e
Rocha (2007, p.120), “em economias emergentes a concentração da propriedade é
mais acentuada, conforme mostram outros estudos e suas evidências empíricas.”
Dada a alta concentração da estrutura de propriedade e controle no Brasil, os
conflitos de interesses nas firmas brasileiras são primeiramente associados e
51
acionistas controladores e acionistas minoritários, e não entre gestores e acionistas,
como no caso norte-americano e europeu (BRUNI et al., 2009). “As vantagens mais
importantes direcionadas à concentração de propriedade estão ligadas à
possibilidade dos proprietários monitorarem a administração com a provável redução
de conflitos e custos de agência”, acredita Zolini (2008, p.23).
Zolini (2008, p.4) acredita que “não ha um consenso a respeito da estrutura de
propriedade ótima que maximize o valor da empresa.” Já que grande parte do
desenvolvimento teórico e empírico em finanças corporativas e mercado de capitais
baseiam-se na premissa de que a estrutura de propriedade das empresas é
pulverizada. A característica de concentração de propriedade no Brasil proporciona
importantes oportunidades de estudos (SOARES; KLOECKNER, 2006). A literatura
que inicialmente estudou o problema da separação entre propriedade e controle
realizou as analises em um ambiente onde a propriedade era dispersa (pulverizada),
ou seja, existiam inúmeros acionistas minoritários, cada um com uma parcela
pequena do capital (ZOLINI, 2008). Para Dami et al. (2007, p.6), no Brasil, a
estrutura da propriedade acionária “é predominantemente concentrada, contribuindo
sobremaneira para o principal conflito de agência existente no país: entre acionistas
minoritários e acionistas majoritários.”
“As evidências direcionam pela existência de relação entre concentração de
propriedade e crescimento da receita líquida e instabilidade do mercado”, acreditam
Dami et al. (2007, p.13). Espera-se que no Brasil, à medida que tenhamos uma
concentração maior da estrutura de propriedade e controle, ocorram maiores
incentivos a prática de gerenciamento de resultados, e mais especificamente de
alisamentos de lucros (ZOLINI, 2008).
A estrutura de capital pode afetar negativamente ou positivamente a concentração
de propriedade. O efeito negativo é devido ação dos acionistas controladores
compartilhando os riscos, e o efeito positivo é devido aos ativos específicos (DAMI et
al., 2007). Zolini (2008, p. 24) afirma que “a presença de grandes acionistas
controladores possui efeitos positivos e negativos esperados para a firma.”
52
Outro aspecto positivo que pode ser levantado com relação às estruturas de
propriedade são os incentivos quanto à monitoração da gestão da empresa. Uma
vez que a monitoração dos atos da gerência é onerosa para o acionista que não faz
parte da gestão da empresa, pode-se argumentar que apenas aqueles com um
investimento relevante na empresa terão incentivos para monitorar. Assim, tudo o
mais permanecendo constante, em empresas com estrutura de propriedade
dispersa, a monitoração tende a ser mais fraca do que em empresas em que há
concentração acionária, o que faz com que a presença de um grande acionista
atenue os conflitos de agência entre acionistas e a gerência (SOARES;
KLOECKNER, 2006).
Os grandes acionistas possuem maior incentivo para coletar informações e
monitorar os gestores, evitando o problema de free rider. Chama-se Fre Rider
quando os executivos detém o controle efetivo devido ao reduzido poder individual
dos acionistas em decorrência da pequena parcela de propriedade. Eles são
incentivados a arcar com os custos de monitoramento que proporcionam maiores
ganhos que os custos associados a sua aplicação. Os grandes acionistas podem
contornar, então, o problema de agência, pois possuem tanto o interesse na
maximização do valor quanto o poder suficiente para terem seus interesses
respeitados, pressionando os gestores em determinadas situações e às vezes
podendo inclusive iniciar uma aquisição. As aquisições hostis são evidências da
existência de um potencial próprio de controle para cada empresa, que podem ser
observados através dos prêmios de mercado nas ofertas para o controle corporativo.
Sendo assim, quanto maior o potencial de controle de uma empresa, maior será o
incentivo para a concentração de propriedade. Além disso, estudos mostram que
firmas com grandes acionistas possuem maior facilidade de demitir gestores em
função do seu mau desempenho, gerando uma maior rotatividade dos cargos de
diretoria (ZOLINI, 2008).
Essas diferenças levam a conclusão, conforme apontam Bruni et al. (2009, p.3) de
que, “no Brasil, quando um acionista controla uma empresa, este também controla a
definição das escolhas contábeis”. Os mesmos autores (2009, p.14-15) ainda
completam que “no Brasil, a estrutura concentrada de propriedade e controle
53
proporciona incentivos perversos para os gestores reduzirem a qualidade da
informação contábil, promovendo práticas de gerenciamento de resultados”. Sobre
isso, Di Micheli da Silveira. Okimura e Rocha (2007, p.120) escrevem que “o poder
de controle que um acionista controlador pode ter possibilita o uso dos recursos da
empresa em benefício próprio, enquanto outros acionistas da empresa arcam
parcialmente com os custos.” Sendo assim, Soares e Kloeckner (2006, p.9)
acreditam que “diferentes estruturas de propriedade e controle podem proporcionar
diferentes incentivos para a ação dos indivíduos envolvidos com a empresa.”
Para Siffert Filho (1998, p.8), “as categorias de propriedade diferenciam-se quanto à
concentração da propriedade e origem do capital (estrangeiro, estatal, familiar e
etc).” Com a empresa moderna, nascem assim dois tipos diferentes de propriedade:
(1) a propriedade passiva, conferida aos acionistas que, apesar de serem os
proprietários legais e os receptores do lucro líquido da firma, não desejam ou não
podem exercer isoladamente os seus direitos, por atribuir o poder da tomada de
decisão a terceiros (administradores); (2) a propriedade ativa, detida pelo(s)
administrador(es), a quem os acionistas confiam sua riqueza e têm a
responsabilidade de sua administração (KLOECKNER, 1994 apud CAMARGOS;
HELAL, 2007).
A concentração acionária ou concentração dos direitos de controle foi categorizada
em três classes segundo o grau de propriedade: Dispersa, quando o maior acionista
detém menos de 20% do controle; Dominante, quando o maior acionista detém entre
20% e 50% do controle; Majoritária, quando o maior acionista detém mais de 50%
do controle (DAMI et al., 2007).
Existe mais de uma forma de separação entre propriedade e controle. A forma
clássica é baseada no trabalho pioneiro escrito em 1932 por Berle e Means, que
apregoam a pulverização da propriedade das grandes corporações, com seu
controle sendo centralizado nas mãos de um profissional. Nas empresas existe a
separação entre propriedade e controle, provocada pela pulverização do capital.
Assim, enquanto os direitos residuais relacionados à propriedade do capital
permanecem com os acionistas, a tomada de decisão e, portanto o controle fica a
54
cargo dos gestores da empresa. Nos casos onde existem acionistas majoritários,
detentores de 50% das ações com direito a voto, a propriedade e o controle também
passam a se confundir, já que os acionistas controladores têm o direito de eleger o
conselho de administração da companhia e, indiretamente (ou diretamente se o
próprio acionista for membro do Conselho) indicar a composição da diretoria.
(SOARES; KLOECKNER, 2006).
Sobre o poder de controle dos acionistas majoritários, Zolini (2008, p.24-25) escreve:
Quando o maior acionista detém mais de 51% da participação, ele não encontra obstáculos para agir de acordo com suas preferências na empresa. Neste caso, o acionista possui interesse na maximização de lucro, mas também possui controle suficiente dos ativos da empresa para que seus interesses sejam respeitados. Quando o maior acionista detém, por exemplo, 20% da participação, será preciso fazer alianças com outros acionistas para exercer o controle. Porém, os gestores possuem poderes para interferir nesta aliança e podem agir contra, através de uma variedade de técnicas para prejudicar o direito dos acionistas. Os grandes acionistas que detém menos de 51% da participação só serão efetivos em países com sistemas legais sofisticados.
Além da dispersão (pulverização) ou concentração de controle, existem casos onde
há diferenças entre o percentual de participação no capital total da empresa (direitos
de propriedade ou ao fluxo de caixa) e o percentual de controle ou direito de
controle. Nesses casos, quanto maior a concentração de controle e quanto mais ela
desviar do percentual do capital total que os controladores tiverem, maiores serão as
possibilidades dos controladores obterem benefícios privados da companhia, em
prejuízo dos acionistas minoritários que, sem poder de controle, dependem
unicamente do desempenho da empresa para ter benefícios (CANELLAS; LEAL,
2009).
É importante acrescentar que os conflitos entre gerentes e acionistas tende a ocorrer
principalmente em empresas onde há a separação entre propriedade e o controle
através da pulverização do capital. Neste caso a propriedade é dispersa, e o
controle é concentrado nas mãos de um gestor, dando origem ao conflito entre estas
duas categorias (SOARES; KLOECKNER, 2006).
Em países com baixa proteção legal para os investidores (como o Brasil), a
concentração da propriedade parece ser uma resposta do mercado para minimizar a
55
probabilidade de expropriação por parte dos administradores em detrimento dos
acionistas (DI MICELI DA SILVEIRA; OKIMURA; ROCHA, 2007). No caso da
existência de um acionista majoritário que detenha o controle da companhia, é
preciso um sistema legal que proteja os acionistas minoritários da expropriação e, no
caso de uma empresa com capital pulverizado, são necessárias regras que
garantam que os executivos da companhia trabalhem pela maximização do valor
para os acionistas (CANELLAS; LEAL, 2009). Zolini (2008, p.57) concorda e afirma
que “uma maior concentração dos direitos de voto pelos acionistas controladores
estaria associada à maior expropriação dos acionistas minoritários e, assim ao
menor valor e desempenho das empresas (efeito entrincheiramento)”. A estrutura de
propriedade das empresas e a proteção legal aos acionistas têm sido pesquisadas
por estudiosos do campo de finanças. No Brasil este tema também vem sendo
analisado, dadas as condições propícias proporcionadas pelo ambiente existente no
país (SOARES; KLOECKNER, 2006).
A estrutura de capital das empresas tem sido um dos principais temas de pesquisas
na área de finanças corporativas. Diversos estudos têm tentado explicar as decisões
de financiamento da empresa e os impactos gerados por tais decisões (SOARES;
KLOECKNER, 2006). A literatura que trata da separação entre propriedade e
controle possui diversos e variados trabalhos que relatam tanto as vantagens e
benefícios quanto as desvantagens e custos relacionados à concentração de
propriedade nas empresas (ZOLINI, 2008). As companhias de grande porte podem
ser associadas com elevados custos de capital e com alto risco de manutenção do
grau de concentração do controle acionário – em função da aversão ao risco, as
grandes empresas tenderiam a apresentar uma baixa concentração da propriedade
(SIQUEIRA, 1998 apud DAMI et al., 2007).
A estrutura de controle das empresas se forma de modo a maximizar seu valor. São
determinantes para a estrutura de controle de uma empresa:
• Seu tamanho, influenciando diretamente a dispersão de controle, ou seja, empresas maiores tendem a ter o capital mais disperso;
• O potencial de interferência do controlador sobre os resultados da empresa, medido pela instabilidade do ambiente onde a firma opera, uma vez que os autores consideram que, quanto maior a instabilidade do ambiente, maior o número de mudanças de rumo necessárias e, portanto, maiores serão as consequências das ações dos controladores que afetam inversamente a dispersão do controle da empresa;
56
• A regulação que afeta diretamente a dispersão de controle já que oferece garantias para os acionistas minoritários (DEMSETZ; LEHN, 1985 apud CANELLAS; LEAL, 2009).
Zolini (2008, p. 36) afirma que “em economias com leis fortes que protegem os
acionistas minoritários, esta relação negativa entre o desempenho da empresa e a
dispersão da estrutura de propriedade deixa de ser muito evidenciada.” Sobre a
presença dos acionistas no desempenho das empresas, Di Miceli da Silveira,
Okimura e Rocha (2007, p.120) observam:
A presença de acionistas controladores está associada duplamente a custos e benefícios para a empresa, com o efeito “liquido” sobre o valor e desempenho das empresas, colocando-se como assunto essencialmente empíricos na atualidade. Nos últimos anos, vasto número de estudos foi publicando nesse sentindo, porém conclusões definitivas e completas em relação ao efeito de controlares sobre valor e desempenho de empresas ainda não puderam ser estabelecidas, uma vez que muitos estudos diferem na amostragem e na abordagem.
Com o processo de privatização brasileiro também veio uma nova forma de controle
societário, o controle compartilhado, que se constitui pela presença de mais de um
acionista controlador. Nenhum sócio de forma isolada é majoritário. Dessa forma, a
gestão das empresas depende de acordos entre os sócios controladores, sendo
necessário o desenvolvimento de mecanismos que promovam o alinhamento de
interesses entre as partes contratantes, afetando diretamente os sistemas de
governança corporativa a serem empregados (ZOLINI, 2008).
Um dos possíveis enfoques ao examinar as transformações que vêm ocorrendo na
economia brasileira nos anos 90 com relação ao mercado de capitais é deter-se
sobre as mudanças da natureza societária que experimentam as maiores empresas.
Uma nova forma de controle societário das corporações – controle compartilhado –
tem despontado como modelo em parcela significativa das grandes empresas, tendo
como acionistas principalmente investidores institucionais, tanto nacionais como
estrangeiros. A natureza da propriedade e a identidade dos controladores têm
efeitos sobre o desempenho das empresas, uma vez que os posicionamentos
estratégicos são dependentes dos alinhamentos de interesses entre as partes
contratantes (SIFFERT FILHO, 1998).
57
Grandes firmas empregam um maior número de gestores, o que sugere também um
alto nível de concentração de propriedade nas mãos destes mesmos gestores.
Grandes companhias conseguem economias de escala para monitorar os gestores,
através das agências de ratings e rankings externos, por exemplo. Com isso, o nível
ótimo de concentração da propriedade é reduzido (ZOLINI, 2008).
Para Jenses e Mecking (1976 apud Zolini, 2008, p. 5-6) “a estrutura concentrada é
benéfica para o valor da companhia, pois grandes investidores são mais eficazes no
monitoramento dos gestores”. Para Zolini (2008, p. 23), “entre outros problemas, a
propriedade difusa torna difícil aos proprietários a coordenação de suas ações de
forma eficiente”. Soares e Kloeckner (2006, p.3) não concordam nesse ponto, pois
apontam desvantagens e acreditam que “em empresas onde existe definição de
controle, os conflitos entre majoritários e minoritários tende a se manifestar,
influenciando a decisão de endividamento”. A eficiência da corporação é alcançada
mais facilmente quando a propriedade não está concentrada nas mãos do
administrador, apoiando a separação do controle e da propriedade. A principal razão
para esse argumento está no fato de que estruturas com pouca participação
acionária do administrador requerem menos custos de informação (FERREIRA;
ORNELAS, 2006 apud ZOLINI, 2008). Zolini (2008, p.6) define que “a presença de
acionistas controladores e o nível da concentração de direitos e controle estão
associados a custos e benefícios para a empresa”.
O tamanho das empresas varia dentro do setor e entre os vários setores, de forma
que quanto maior o tamanho viável da empresa, dependendo assim de sua posição
e competitividade em seu mercado, maior a disponibilidade de recursos, e maior o
valor de mercado de uma parcela de sua propriedade (DEMSETZ; LEHN, 1985 apud
DAMI et al., 2007).
Em diversas empresas o gerente também possui parte da propriedade, ou seja,
possui ações das mesmas. Nesses casos, a propriedade e o controle passam a se
confundir, pelo menos parcialmente. Isso traz conseqüências importantes para o
quadro que se cria em termos de governança das empresas, pois influencia
58
sobremaneira os incentivos para determinadas ações gerenciais, alterando a relação
de agência (SOARES; KLOECKNER, 2006).
Sobre os custos da concentração de propriedade, Dami et al. (2007, p.12) afirmam:
Em relação aos custos provenientes da concentração acionária, ressalta-se que acionistas controladores podem expropriar a riqueza dos outros acionistas de várias formas, tais como, pagamentos de salários excessivos para si, autonomeação em cargos executivos privilegiados e posições no conselho para si ou familiares e parentes (nepotismo) e pagar ou receber preços de transferências altos para empresas das quais são proprietários. Nesse caso, os benefícios privados do controle podem levar investidores a se assegurarem de retornos através de mecanismos que lhes confiram o controle corporativo.
“O tamanho da empresa influencia de forma inversa a concentração de propriedade,
pois quanto maior o seu tamanho, menor a possibilidade de uma parcela maior da
propriedade ser detida por um acionista controlador”, acredita Zolini (2008, p.27).
Há evidências de que os fatores como tamanho da empresa e desempenho são
determinantes de grau de concentração é motivada, entre outros fatores, pelo nível
de ativos e pelos resultados históricos gerados, de forma que casa empresa teria um
nível ótimo próprio de concentração de ações, tornando assim a estrutura de
propriedade uma variável endógena (DEMSETZ; LEHN, 1985 apud DI MICELI DA
SILVEIRA; OKIMURA; ROCHA, 2007). Sendo assim, a estrutura de propriedade
endógena é escolhida de forma a maximizar o desempenho da empresa e a
presença de uma estrutura de propriedade mais pulverizada. Apesar de tornar os
conflitos de agência mais severos, pode levar a outras vantagens compensatórias
(ZOLINI, 2008).
As variáveis de concentração de propriedade são endógenas ao invés de exógenas,
ou seja, a concentração de propriedade é determinada por características de cada
empresa sendo que algumas exigiriam maior controle através da concentração de
propriedade e outras não. Estudos mostram que o nível de concentração de ações
em posse dos gestores é determinado pelo grau de risco da firma, medido pela
volatilidade do preço da ação. Eles argumentam que gestores devem ter mais direito
a propriedade em empresas mais arriscadas, para que os incentivos estejam
alinhados (DEMSETZ; LEHN, 1985 apud ZOLINI, 2008).
59
Em relação à divisão por tipo de controlador, a literatura costuma classificar cinco
tipos de acionistas controladores como comuns: um indivíduo ou família controlador,
investidor institucional (como fundos de pensão), instituição financeira (como
bancos, segurados etc.), o governo e a categoria de grupo de investidores (como
holdings corporativas, empresas detentoras de participações em outras empresas,
tanto nacionais com estrangeiras). A idéia por trás dessa classificação é a de que os
efeitos do acionista controlador no desempenho das empresas podem varias de
acordo com a classificação do controlador (DI MICELO DA SILVEIRA; OKIMURA;
ROCHA, 2007).
Pertersen e Thomsen (1995 apud SIFFER FILHO, 1998, p.7-8) criaram um quadro
definindo as categorias de propriedades e sua concentração (baixa, média ou alta),
conforme abaixo:
Tipo Concentração da Propriedade
Propriedade Dispersa: quando nenhuma entidade ou pessoa possui mais do que 20% das ações com direito a voto.
Baixa
Propriedade Minoritária Dominante: quando apenas um proprietário, seja ele uma pessoa, uma família ou uma companhia, detém entre 20% e 50% das ações com direito a voto.
Média
Propriedade Familiar: quando uma pessoa ou família detém a maioria (ou seja, mais que 50%) das ações com direito a voto. Também incluem-se nessa categoria as fundações, pois estas refletem o desejo pessoal do fundador de transferir para a família algum grau de controle
Alta
Propriedade Governamental: quando o governo (local ou nacional) possui a maioria das ações com direito a voto.
Alta
Propriedade Estrangeira: quando uma multinacional estrangeira detém a maioria das ações com direito a voto
Alta
Cooperativas: quando a companhia está registrada como uma cooperativa ou, em alguns casos, a maioria das ações com direito a voto pertence a um grupo de cooperativas.
Baixa
Quadro: Categorias de Propriedade Fonte: Pertersen e Thomsen (1998)
De acordo com Andrade e Rosseti (2004, p. 126), os benefícios privados do controle
podem levar investidores a se assegurarem de retornos através de mecanismos que
lhes confiram o controle corporativo. Segundo os autores, os mais comuns são:
• Emissões de ações com direitos de voto limitados (ações preferenciais); • Propriedade cruzada de ações de duas ou mais empresas, dificultando a perda de controle;
60
• Estrutura piramidal, através de holding que, por sua vez, detêm a propriedade de empresas-alvo objeto de controle.
À medida que a parcela de ações detida pelo controlador aumenta, crescem os
incentivos para monitoramento ao mesmo tempo em que aumentam os custos de
expropriação. Nesse ponto, a posse de uma grande parcela das ações traz o
comprometimento do controlador em não desvalorizar os papéis da empresa, pois
reduziria substancialmente sua riqueza. Isso seria um alto custo e comparável com
os possíveis benefícios privados de expropriação da empresa (DAMI et al.., 2007).
Embora tradicionalmente um acionista seja controlador quando possuir 50% mais
uma ação do capital da companhia, existem situações em que um indivíduo ou
empresa que detenha um percentual menor que a metade das ações mais uma,
também pode deter o controle de uma companhia, tendo o poder de eleger o gestor
(SOARES; KLOECKNER, 2006).
Canellas e Leal (2009, p.21) afirmam que “o tamanho da empresa não parece ser
um fator que determinante de diferenciação entre as empresas no que se refira ao
grau de concentração de controle e propriedade direto e indireto”. Por exemplo, na
figura abaixo, existem dois acionistas principais, uma empresa multinacional e uma
holding instituída pela família controladora da empresa. Como podemos ver, a
holding da família não possui um acionista majoritário. Se, nesse caso, ao invés de
utilizar a holding como controladora da Firma A, cada um dos familiares possuísse
diretamente ações da companhia, caso qualquer um dos acionistas decidisse se
aliar à multinacional, esse grupo passaria automaticamente a controlar a empresa e,
essa situação, por si só, enfraqueceria o bloco de controle familiar (CANELLAS;
LEAL, 2009).
61
Figura 01: Exemplo de Utilização de Pirâmide no Brasil Fonte: Canellas; Leal (2009).
O principal interesse na formação de pirâmides para exercer o controle indireto de
empresas é a separação entre o direito de controle e o direito de propriedade. Um
acionista controlador de uma empresa A, por exemplo, que possua 51% de suas
ações, pode também passar a controlar uma segunda empresa B, que é controlada
por A. Nesse caso, supondo que A possui também 51% de B, o acionista em
questão possuirá o controle de ambas as empresas, no entanto será proprietário de
51% de A e de apenas 26% de B (LA PORTA; LOPEZ-DE SILANES; SHLEIFER,
1999 apud CANELLAS; LEAL, 2009). Di Miceli da Silveira, Okimura e Rocha (2007,
p.121-122) acreditam que “mecanismos de propriedade como estrutura piramidal [...]
permitem aos acionistas controladores aumentar o direito de voto nas empresas em
relação ao direito sobre fluxo de caixa.”
As chamadas estruturas em pirâmide consistem de uma empresa que possui
participação no controle de outras empresas, que podem ou não possuir ações de
outras empresas e assim sucessivamente. No caso dessas estruturas, os
controladores de uma determinada empresa também exerceriam, ainda que
indiretamente, o controle de todas as outras companhias, por ela controladas
(CANELLAS; LEAL, 2009). Segundo acredita Zolini (2008, p.39), “as estruturas de
propriedade piramidais permitem que a tomada do controle aconteça de forma
indireta através da utilização de terceiras empresas nas quais o controlador mantêm
participação.”
62
A existência no Brasil de estruturas piramidais e ações com direitos diferenciados
quanto ao voto proporcionam condições para que exista controle nas empresas com
um percentual de capital menor que 50%. Tende-se então a potencializar ainda mais
os incentivos causados pela detenção do controle acionário no país, tornando a
estrutura de propriedade um importante aspecto a ser considerado nos estudos
realizados no mercado brasileiro (SOARES; KLOECKNER, 2006).
Um levantamento feito com as 100 maiores empresas por receita operacional líquida
os anos de 1990, 1995 e 1997, levando-se em consideração a classificação de
propriedade de Thomsen e Pedersen, concluiu que a estrutura de propriedade está
concentrada nas mãos de famílias ou de multinacionais estrangeiras (SIFFERT
FILHO, 1998). Vem ocorrendo maior dispersão do controle das empresas com ações
negociadas em bolsa, mas os percentuais médios de participação do maior acionista
no capital votante, tanto direta como indiretamente, continuam acima de 50%
(CANELLAS; LEAL, 2009). Conforme escreve Zolini (2008, p.40), “os investidores
institucionais também fazem parte da estrutura de propriedade das empresas
brasileiras.”
Deve-se observar que a alta participação das famílias na estrutura de propriedade
das empresas não significa que as mesmas sejam controladas por famílias, mas sim
que, ao contrário, existe uma grande pulverização da propriedade das grandes
corporações, havendo parcela expressiva da população que detêm pequenos lotes
de ações (SIFFERT FILHO, 1998). A separação da propriedade e gestão e a
pulverização acionária fazem surgir conflitos de interesses entre os acionistas e
gestores e em países com baixa proteção legal, entre acionistas minoritários e
majoritários (DAMI et al., 2007).
Quando uma empresa cresce, diminui a probabilidade de o controle acionário
permanecer familiar, porque os administradores são financeiramente incapazes de
suportar o risco da propriedade, ou porque os proprietários não possuem o
conhecimento e/ou as habilidades requeridas para administrar a empresa. Como
63
resultado, há separação entre propriedade e controle administrativo (SIFFERT
FILHO, 1998).
Sobre a participação das famílias e a tendência para o futuro, Suzuki da Cruz et al.
(2006, p.8) escrevem:
O modelo empresarial brasileiro se encontra em um período de transição. É cada vez mais claro que o controle e administração das empresas está gradativamente menos familiar e com controle acionário definido e altamente concentrado, caminhando para uma estrutura de empresa marcada pela participação de investidores institucionais, fragmentação do controle acionário e pelo foco da eficiência econômica e transparência de gestão.
Verifica-se que uma relação negativa entre valor da empresa e dispersão do controle
é menos pronunciada em economias onde os controladores possuem características
distintas (famílias, instituições financeiras, estado, outra empresa). Dessa forma,
sugere-se que quando a estrutura de propriedade é bastante concentrada, mas os
acionistas majoritários são de diferentes tipos, esses não cooperam com facilidade e
acabam formando colisões dominantes (LUC LAEVEN; ROSS LEVINEM, 2006 apud
ZOLINI, 2008).
Siffer Filho (1998, p.14) acredita que “as empresas privatizadas passaram, em sua
grande maioria, a deter um controle compartilhado, onde se fazem presentes fundos
de pensão, empresas nacionais e investidores estrangeiros.” O modelo de
governança brasileiro caracteriza-se pela concentração do controle das empresas
nacionais nas mãos de famílias, grupos econômicos familiares, subsidiárias de
empresas estrangeiras e do próprio Estado, que vem transferindo sua propriedade,
desde o processo de privatização iniciado na década de 90, aos fundos de pensão
locais, empresas e fundos de investimentos internacionais. Apesar do processo de
redução da participação do Estado na economia local, o controle e propriedade das
empresas continuam concentrados, impedindo a aplicação dos efeitos disciplinares
de mercado, como por exemplo, a tomada de controle pelos acionistas (RABELO,
1999 apud ZOLINI, 2008). De acordo com Zolini (2008, p.60), “considerando a
importância de grupos familiares no controle das companhias brasileiras, é também
relevante entender as mudanças de gestão dentro das famílias.
64
3. METODOLOGIA
A metodologia é o estudo ou a ciência do caminho, se pretendendo que este seja
uma trilha racional para facilitar o conhecimento, além de trazer implícita a
possibilidade de, como caminho, servir para que diversas pessoas o percorram, isto
é, que possa ser repetidamente seguido (MAGALHÃES, 2005).
Esta pesquisa tem o tipo quantitativo como forma de abordagem. É uma pesquisa
descritiva, já que para Matar (1996, p. 23), a pesquisa descritiva “é agrupada uma
série de pesquisas cujos processos apresentam importantes características em
comum.” Matar (1996, p. 23) ainda alerta que “o pesquisador precisa saber
exatamente o que pretende com a pesquisa, ou seja, quem (ou) o que deseja medir,
quando e onde o fará e por que deverá fazê-lo.”
Ainda segundo Gil (2002, p.45): A pesquisa documental assemelha-se muito á pesquisa bibliográfica. A diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentos das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.
Sendo assim, essa pesquisa é de natureza documental, já que trabalha com as
fontes sendo em sua maioria documentos, sem análise inicial.
Os documentos serão os instrumentos de coleta de dados, que segundo Lima
“podem ser utilizados como provas daquilo que está sendo afirmado pelo
pesquisador ou podem ser interpretados à luz de referencias teóricas compatíveis
com as exigências do tema norteados pela investigação”.
Como as fontes são documentos, os dados serão todos secundários, que segundo
Mattar (1996, p.48):
São aqueles que já foram coletados, tabulados, ordenados e, às vezes, até analisados e que estão catalogados à disposição dos interessados. As fontes básicas dos dados secundários são: a própria empresa, publicações, governo, instituições não governamentais e serviços padronizados de informações de marketing.
65
A lista de empresas pertencentes à Governança Corporativa foi tirada do site oficial
da Bovespa. Os dados desta pesquisa relacionados a concentração de propriedade
são secundários e foram coletados frente ao Software de base de dados
Economatica®. Nessa parte, trinta e cinco empresas foram pesquisas no Nível 1,
dezenove no Nível 2 e cento e uma no Novo Mercado.
Os dados sobre a identidade dos proprietários foram coletados da ferramenta
“Melhores e Maiores”, no site da revista Exame. Nessa parte da pesquisa, foram
pesquisadas vinte empresas no Nível 1, onze no Nível 2 e sessenta e uma no Novo
Mercado.
Foi utilizado o nome fantasia de todas as empresas pesquisadas, e os Níveis 1 e 2
de Governança Corporativa da Bovespa BM&F tiveram todas as suas ações
incluídas na pesquisa (incluindo ordinárias e preferenciais), enquanto o Novo
Mercado apenas emite ações ordinárias.
3.1 Coleta de Dados
O site da Bovespa na internet foi acessado, e de lá foram tirados três classificações
em que a Governança Corporativa se divide – Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. Do
site também foi levantada a lista de empresas pertencentes a cada um desses
Níveis.
Os dados referentes à concentração dos acionistas principais foram retirados do
Software Economatica® durante o ano de 2010. No programa, foi acessada a
ferramenta “acionistas”, e depois as informações das empresas foram procuradas
uma a uma. No campo de cada empresa, os principais acionistas estão listados com
a quantidade de ações de cada um e a porcentagem que ela representa na
propriedade da empresa, durante todo o período em que o acionista esteve
presente. Há um campo intitulado “outros”, onde há uma lista com a porcentagem
geral dos acionistas minoritários (pequenos investidores). A porcentagem de
propriedade do principal acionista foi a informação utilizada, no período de 2001 até
2009.
66
Com dos dados obtidos no Software, três tabelas foram criadas, uma para cada
nível de Governança Corporativa (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado). Em casa tabela,
todas as empresas pertencentes a esse nível foram descriminadas, com a relação
do período definido para pesquisa (2001 a 2009).
Além dos dados sobre a concentração do principal acionista, outra pesquisa foi feita.
Com a mesma lista de empresas (pertencentes aos três Níveis de Governança
Corporativa), foram procuradas informações sobre o controle da empresa, na
intenção de identificar a nacionalidade do controlar e o tipo da empresa (privada ou
estatal).
Os dados sobre o tipo de empresa (privado ou estatal) e a definição do controle por
nacionalidade (brasileiro, americano, etc.) foram obtidos através da ferramenta
“Melhores e Maiores” no site da revista Exame, que se baseia na pesquisa da
própria publicação para os anuários “Melhores e Maiores”, que são lançados todos
os anos com a atualização dessas e de outras informações. Entre várias
informações sobre a empresa (nome, razão social, categoria, etc.) havia a definição
da nacionalidade (apresentada como brasileira, americana, etc.) e o tipo da empresa
(privada ou estatal). Para essa pesquisa, foram utilizados os dados presentes no
último ano (2009).
Em todas as pesquisas, foi utilizado o nome fantasia para se referir a todas as
empresas.
Nesse momento, a pesquisa obteve algumas limitações. Na coleta de dados
referente à identidade dos acionistas na ferramenta “Melhores e Maiores” da revista
Exame, havia a escassez de dados de algumas empresas. Sendo assim, dezesseis
empresas ficaram de fora da pesquisa no Nível 1, oito no Nível 2 e trinta e oito no
Novo Mercado.
3.2 Tratamento de Dados
67
Os dados obtidos das fontes foram distribuídos em tabelas e quadros. Três tabelas
relacionando a concentração de propriedade de cada um dos níveis (Nível 1, Nível 2
e Novo Mercado), e três quadros relacionando a identidade dos proprietários para os
mesmos três níveis.
68
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
Nesse capítulo serão apresentados os dados obtidos pelo autor para a pesquisa, e
sua análise. A concentração de propriedade do principal acionista majoritário do
Nível 1, Nível 2 e do Novo Mercado será verificada, assim como a definição do
controle da empresa quanto a nacionalidade, e a questão privada/estatal.
4.1 Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa
Na Tabela 01 estão listadas as empresas pertencentes ao Nível 1 de Governança
Corporativa da Bovespa durante os anos de 2001 a 2009 e a concentração do
principal acionista de cada uma delas.
Tabela 01: Propriedade do principal acionista das empresas no Nível 1 (%) Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Bradesco - - - - - - - - 43,2 Cruzeiro do
Sul - - - - - - 70,0 70,0 70,0
Daycoval - - - - - - 100,0 100,0 100,0 Banrisul - 99,4 99,4 99,4 99,4 99,4 99,6 99,6 99,6 BicBanco - - - - - - 46,5 46,5 46,5 Indusval - - - - - - 21,0 21,0 21,0
Panamericano - - - - - - - 50,7 53,1 Pine - - - - - - - - 100,0
Bradespar 36,6 36,6 36,6 - 36,6 36,6 36,6 - - Braskem 58,4 - 34,6 - 28,1 49,8 59,4 59,4 62,3 Eletrobrás 58,4 58,4 58,4 58,4 58,4 54,0 54,0 54,0 54,0 Cesp - - 60,5 60,5 - 94,1 94,1 - 94,1
P.Acuçar-Cbd 60,4 60,4 - 60,4 - 65,6 65,6 65,6 65,6 Cemig 51,0 51,0 - 51,0 51,0 51,0 51,0 51,0 51,0 Cedro 63,3 64,3 - 64,4 64,9 64,9 64,1 60,6 18,6 Copel - - - - - - 58,6 58,6 58,6 Confab 99,2 99,2 99,2 99,2 - 99,2 99,2 99,2 99,2
Tran Paulist 60,5 53,0 53,0 53,0 61,2 89,4 89,4 89,4 89,4 Eucatex 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 34,3 34,3 - 34,3 Fras-Le 53,1 53,1 53,1 53,1 53,1 53,1 53,1 53,1 53,1 Gerdau 83,0 83,0 83,3 75,7 75,7 75,7 75,7 76,2 76,2
ItauUnibanco 85,9 86,1 86,8 87,7 88,2 85,3 85,6 51,0 51,0 Itaúsa 16,0 16,0 16,1 16,1 11,7 11,8 11,8 11,8 11,8
Klabin S/A 57,7 51,7 51,7 51,7 51,7 51,7 51,7 51,7 51,7 Mangels Indl 99,9 99,9 - 99,9 99,9 99,9 99,9 99,9 99,9 Gerdau Met 32,3 32,3 32,3 29,3 29,3 29,3 29,3 39,0 39,0 Paraná - - - - - - 72,4 - 72,4
Paranapanema 55,5 55,5 55,5 53,6 53,6 53,6 49,8 24,4 24,1 Randon Part 77,4 77,4 77,4 77,4 77,4 78,2 78,2 78,2 78,6 Alpargatas - 38,5 61,3 61,3 61,3 - 66,9 67,0 67,0
69
Tabela 01: Propriedade do principal acionista das empresas no Nível 1 (%) Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Suzano Papel 50,0 - - - - 87,5 87,5 87,5 87,5
Ultrapar 100,0 100,0 100,0 92,2 92,2 87,5 87,5 66,0 66,0 Unipar 52,0 57,3 - 57,3 57,3 57,3 57,3 57,3 57,3
Usiminas 23,0 23,0 23,0 23,0 23,0 21,6 21,6 21,6 23,7 Vale 42,2 42,2 52,3 52,3 56,0 52,3 52,3 52,7 53,7 Soma 1352,9 1375,4 1171,6 1414,0 1267,1 1583,1 2024,0 1763,0 2073,5
Média 58,8 59,8 58,5 61,4 57,5 63,3 63,2 60,7 60,9 Desvio Padrão
23,3 25,2 25,3 23,4 24,3 25,5 24,8 24,1 25,6
Fonte: o autor
Conforme os dados obtidos na Tabela 01, se pode perceber uma crescente na
concentração de propriedade dos principais acionistas das empresas listadas nesse
nível até o ano de 2006. Em 2001 ela era de 58,8%, um número elevado, mas
continuou crescendo por cinco anos, até que em 2006 chegou a uma média de
63,3%. Depois disso, ela teve uma pequena queda, chegando a 60,9% no final de
2009, mas ainda maior do que no início da pesquisa.
Dessa forma, nota-se que durante todo o período analisado, a propriedade das
empresas ficou altamente concentrada, já que segundo a classificação de Pertersen
e Thomsen (1995 apud SIFFER FILHO, 1998, p.7-8), a concentração é considerada
alta quando as ações passam de 50% nas mãos de uma família ou um único
indivíduo, como é o caso descrito acima.
Segundo a classificação de Dami et al. (2007, p.12), que é semelhante a dos outros
autores, o Nível 1 teria sua concentração de propriedade classificada como
“Majoritária”, já que o principal acionista ficou acima dos 50%.
Deve se levar em consideração o desvio padrão, que varia entre 23,3% no primeiro
ano até 25,6% no último, não é pequeno. Isso significa que, apesar de a média em
2009 ser de 60,9%, o desvio padrão pode chegar ao seu mínimo de 35,3% e o
máximo de 86,5%.
Dessa forma, pode-se analisar que a concentração de propriedade do principal
acionista do Nível 1 de Governança Corporativa da Bovespa varia entre média e
alta, segundo a classificação dos mesmos autores descritos acima. A média, no
70
entanto, é mesmo alta, já que está com cerca de 60% de ações na mão de um único
controlador durante todo o período. Isso mostra a evolução que as empresas de
Governança obtêm no desenvolvimento de sua concentração acionária, já que
Mendes-da-Silva e Oliveira (2006, p.1) acreditam que “a Governança Corporativa
tem sido apontada como um dos fatores determinantes do desempenho das
empresas”.
Para alguns autores, no entanto, a concentração de propriedade não é algo sempre
ruim. A presença de acionistas controladores aumenta a relação benefícios/custos
do monitoramento, implicando soluções otimizadas para a questão dos conflitos de
agência, aumentando o valor e desempenho das empresas (ZOLINI, 2008).
Pode-se perceber que algumas empresas puxaram essa média, por apresentarem
em todo período uma média muito alta. É o caso da Confab (99,2% de média no
período), Banrisul (99,47%), Mangels (99,9%) e Ultrapar (87,9%). Por terem uma
concentração muito alta do principal acionista, elas devem ter direcionado a média
de todo o Nível 1.
Para Siffert Filho (1998, p.8), “as categorias de propriedade diferenciam-se quanto à
concentração da propriedade e origem do capital (estrangeiro, estatal, familiar e
etc).”
Desse modo, no Quadro 06 estão listadas as empresas também do nível 1 por tipo
(estatal ou privada) e controle (nacionalidade) no final de 2009.
71
No Quadro 06 pode-se notar a presença em massa das empresas privadas nesse
nível. Das vinte empresas analisadas, quinze são privadas, enquanto apenas cinco
são estatais. Ou seja, 75% no Nível 1 de Governança Corporativa é composto por
empresas privadas, a grande maioria.
Também é notável a grande maioria de empresas com controle brasileiro, como era
de se esperar. Das mesmas vinte empresas, dezessete tem a maioria dos acionistas
brasileiros, enquanto uma empresa tem o controlador argentino e outro colombiano.
Uma empresa possui o controlador franco-brasileiro, ou seja, o controle está dividido
entre a França e o Brasil, provavelmente porque veio da França e se estalou no
país. Considerando essas informações, temos um total de 90% de empresas com
controle brasileiro no Nível, e apenas 10% de controle estrangeiro.
De acordo com a análise de Pertersen e Thomsen (1995 apud SIFFER FILHO,
1998), não há grande concentração, já que para eles, a concentração só pode ser
considerada “alta” quando o controle principal está nas mãos do governo ou de
investidores estrangeiros, o que não é o caso nesse Nível.
Empresa Tipo Controle Braskem Privada Brasileiro Eletrobrás Estatal Brasileiro Cesp Estatal Brasileiro
Pão de Açúcar Privada Franco-Brasileiro Cemig Estatal Brasileiro Cedro Estatal Brasileiro Copel Estatal Brasileiro Confab Privada Argentino
Tran Paulist Privada Colombiano Eucatex Privada Brasileiro Gerdau Privada Brasileiro Klabin Privada Brasileiro Mangels Privada Brasileiro
Paranapanema Privada Brasileiro Randon Privada Brasileiro
Alpargatas Privada Brasileiro Suzano Papel Privada Brasileiro
Unipar Privada Brasileiro Usiminas Privada Brasileiro Vale Privada Brasileiro
Empresa Tipo Controle Braskem Privada Brasileiro Eletrobrás Estatal Brasileiro Cesp Estatal Brasileiro
Pão de Açúcar Privada Franco-Brasileiro Cemig Estatal Brasileiro Cedro Estatal Brasileiro Copel Estatal Brasileiro Confab Privada Argentino
Tran Paulist Privada Colombiano Eucatex Privada Brasileiro Gerdau Privada Brasileiro Klabin Privada Brasileiro Mangels Privada Brasileiro
Paranapanema Privada Brasileiro Randon Privada Brasileiro
Alpargatas Privada Brasileiro Suzano Papel Privada Brasileiro
Unipar Privada Brasileiro Usiminas Privada Brasileiro Vale Privada Brasileiro
Quadro 06: Empresas do Nível 1 por tipo e controle Fonte: o autor
72
4.2 Nível 2 de Governança Corporativa da Bovespa
No Nível 2 de Governança Corporativa da Bovespa, temos uma lista com um
número parecido de empresas listadas: dezenove até 2010.
A seguir, na Tabela 02 serão apresentados a propriedade do principal acionista de
cada empresa pertencente ao Nível 2.
Tabela 02: Propriedade do principal acionista das empresas no Nível 2 (%) Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Anhanguera 100,0 - - - - - 78,1 74,9 79,6 ABC Brasil - - - - - - 85,6 85,6 85,6 Santander Br - - - - - 99,2 99,3 56,8 46,8
Sofisa - - - - - - 83,3 83,3 83,3 Celesc 50,2 50,2 50,2 50,2 50,2 50,2 50,2 50,2 50,2
Eletropaulo - - - - - - 77,8 77,8 77,8 Gol - - - 100,0 100,0 - 100,0 100,0 100,0
Kroton - - 40,0 - - - 87,6 - 88,3 Marcopolo - - - - 28,8 28,8 41,4 48,2 42,6 Multiplan - - - - - - - 47,2 34,7
Net 46,3 - 36,2 42,4 12,2 51,0 51,0 51,0 51,0 Seb - - - - - - 88,8 - 88,8
Renova - - - - - - - - - Santos Brp - - 96,0 - - - 32,8 32,8 32,8 Saraiva Livr 37,8 37,8 37,8 33,7 47,0 47,0 47,0 47,0 47,0 Sul America - - - - - - 59,4 - 59,4 Tam S/A 99,9 - 97,3 - 97,3 84,6 - 89,3 - Terna Part - - - - - 85,3 85,3 85,3 85,3
UOL - - - - 61,7 - 61,7 61,7 61,7 Soma 334,2 88,0 357,5 226,3 397,2 446,1 1.129,3 991,1 1.114,9 Média 66.84 44,0 59,6 56,6 56,7 63,7 70,6 66,0 65,6 Desvio Padrão
30,5 8,8 29,1 29,7 32,8 25,8 21,4 20,1 21,6
Fonte: o autor
Dessa forma, podemos perceber que o Nível 2 de Governança Corporativa da
Bovespa não traz muita diferença com relação ao Nível 1. A média teve uma
oscilação entre os 44% e 70% em seu ano mais concentrado. Aqui, a concentração
do principal acionista continua alta em todo o período (exceto 2002). Nos outros
anos, ela ultrapassa os 50%, que segundo a teoria de Pertersen e Thomsen (1995
apud SIFFER FILHO, 1998), é classificada como “alta”.
O desvio padrão continua preocupando, mesmo que tenha diminuído em
comparação com o Nível anterior. Em 2009, por exemplo, ele chegou a 21,6%,
73
colocando a concentração do ano entre 44% (baixa) e 87,2% (muito alta). Com base
nos outros anos, no entanto, considera-se que a concentração dos principais
acionistas, em média, é mesmo alta.
Algumas empresas altamente concentradas também direcionaram todo o Nível 2,
fato que teve maior importância aqui, já que esse grupo contém menos empresas do
que os outros (Nível 1 e Novo Mercado). Foi o caso da Gol (100% em média de
concentração), Tam (93,7%) e Terna Part (85,3%).
Dessa forma, conclui-se que, apesar de aderirem a Governança Corporativa da
Bovespa, estas empresas não melhoraram com relação à concentração de
propriedade, já que continuam altamente concentradas, na faixa dos 60% no período
analisado.
Segue abaixo o Quadro 07, com a relação de controle e tipo das empresas do Nível
2.
Empresa Tipo Controle Anhanguera Privada Brasileiro
Celesc Estatal Brasileiro Eletropaulo Estatal Amer./Brasileiro. Marcopolo Privada Brasileiro Multiplan Privada Brasileiro
Net Privada Brasileiro Santos Brp Privada Brasileiro Saraiva Privada Brasileiro
Sul America Privada Brasileiro Tam Privada Brasileiro UOL Privada Brasileiro
Quadro 07: Empresas do Nível 2 por tipo e controle Fonte: o autor
No Quadro 07, podemos perceber novamente a tendência do Nível 1 acontecer ao
Nível 2. A maioria das empresas é privada. Das onze empresas analisadas, apenas
duas são estatais. Essas informações mostram que 81,8% das empresas são
privadas.
74
Quanto à nacionalidade, a concentração de empresas brasileiras chega a ser maior
ainda. Das onze empresas, dez são brasileiras e uma única tem o controle dividido
entre brasileiros e americanos, totalizando então quase 100% de controle brasileiro.
Dessa modo, pela análises dos autores Pertersen e Thomsen, o Nível 2 não é
concentrado, já que tem poucas empresas estatais e quase nenhuma empresa com
controle estrangeiro.
4.3 Novo Mercado de Governança Corporativa
O Novo Mercado é o principal nível de Governança Corporativa da Bovespa, e isso
pode ser notado pelo número de empresas que aderem a ele. Também se pode
perceber a diferença desse nível com relação aos anteriores pelos resultados que
ele apresenta com relação a concentração de propriedade, como se vê a seguir.
Na Tabela 03, segue as empresas que aderem ao Novo Mercado e a concentração
do principal acionista.
Tabela 03: Propriedade do principal acionista das empresas do Novo Mercado (%)
Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Aliansce - - - - - - 49 - 49
All Amer Lat 17,5 - 18,3 18,3 - 12,9 18,9 18,9 19,2 Amil - - - - - - 63,9 - 63,9
B2W Varejo - - - - - - 54,3 - 55 Brasil 73,2 71,8 - 72,1 72,1 70,9 67,1 65,3 65,3
Bematech - - - - - - 10,1 - 10,7 BHG - - - - - - 7,6 48,4 50,9
BMFBovespa - - - - - - - 92,0 98,0 BR Malls Par - - - - - 98,7 16,1 14,4 12,1 BR Propreties - - - - - 27,9 19,8 19,7 19,3 BR Brokers - - - - - - 19 18,5 18,4 Ecodiesel - - - - - 19,8 - 19,8 14,2 Brasilagro - - - - - 11 - 22,4 22,9 BRF Foods 18,5 18,5 18,5 18,5 18,5 12,8 14,1 14,2 13,6 Brookfield - - - - - 59,9 - 50,2 42,6
CC Des Imob - - - - - - 66,1 - 66,1 Cetip - - - - - - - - 18,1
CCR Rodovias 20,0 17,0 - 17,9 - 17,9 17,9 17,91 16,3 CIA Hering - - 22,8 22,8 22,8 22,8 19,5 - 18,4 Providencia - - - - - - 16,3 - 16,9 Sabesp 85,3 72,1 71,5 50,3 50,3 50,3 50,3 50,3 50,3 Copasa 89,0 - - 85,7 - 59,8 53,1 - 53,1 Cielo - - - - - - - - 26,6 Cosan - - - - - - 56,1 69,0 62,4
CPFL Energia - 45,3 - 37,7 31,1 - 31,1 31,1 31,1
75
Tabela 03: Propriedade do principal acionista das empresas do Novo Mercado (%) Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
CR2 - - - - - - 22 - 20,6 Cremer 16,1 - 67,7 - - 100 10,6 24,3 29,4
CSU Cardsyst - - - - - - 45,9 45,9 45,3 Cyrela Realty 50,0 50,0 50,0 - 39,9 33,5 30,7 30,2 29,1 Cyre Com-
CCP - - - - - - 31,1 - 31,9
Dasa - - - 57,4 - 37,5 16,0 - 22,1 Direcional - - - - - - - 61,5 60,7 Drogasil 25,1 25,1 46,8 46,8 47,2 - 47,6 26,2 26,2 Duratex 62,4 63,4 63,4 - 64,3 - 59,8 61,5 24,7
Ecorodovias - 65,0 65,0 65,0 - - - - - Energias BR - - - - 25,0 - 25,0 Embraer - - - - - - 31,1 27,9 22,9 Equatorial - - - - - - 35,5 55,5 55,4 Estácio Part - - - - - - 52,2 - 52,2
Eternit 22,8 22,8 14,3 - 11,2 8,7 7,8 15,3 16,8 Even - - - - - 41.2 37,5 40,1 40,1 Ezte - - - - - - - 31,6 31,6
Fer Heringer - - - - - - 51,4 51,2 51,5 Fibria 89,0 89,0 89,0 89,0 - 89,0 100,0 100,0 33,6 Gafisa 50,0 - 61,0 - 59,5 24,2 13,8 18,7 9,0
Generalshopp - - - - - - 59,4 59,4 59,4 Grendene - - - 30,0 - 30,0 30,0 30,0 30,0 Helbor - - - - - - 43,6 43,6 43,6
Hypermarcas - - - - - - - 47,0 33,5 Ideiasnet 37,8 30,9 - - 27,5 9,7 9,7 9,2 13,7 Iguatemi - - - - - - 68,8 64,7 52,9 Inds Romi 60,6 61,0 68,5 68,5 68,6 - 34,6 - 36,3 Inpar S/A - - - - - - 41,4 49,4 49,7
Iochp-Maxion 45,6 45,6 - - 50,0 19,6 - 24,3 24,4 Jbs - - - - - - 55,4 44,0 59,1
Jhsf Part - - - - - - - 63,7 63,7 Light S/A - - - - - 75,2 49,5 49,4 49,4 Llx Log - - - - - - - 49,8 30,3 Localiza - - - - - 15,0 20,0 13,1 - Log-In - - - - - - 31,3 - 31,3
Lojas Renner 98,6 98,6 98,6 98,6 5,7 5,5 5,7 17,1 14,7 Lopes Brasil - - - - - 39,6 - 37,2 37,2 Lupatech - - - - - 24,7 - 22,9 25,1
M. Diasbranco - - - - - 67,2 - 69,2 70,5 Magnesita AS - - 50,5 50,5 50,5 50,5 77,9 35,5 34,1
Marfrig - - - - - - 65,7 65,7 50,4 Metalfrio - - - - - - - 14,0 14,0 Minerva - - - - - - 68,0 68,0 68,0
MMX Miner - - - - - 65,2 60,1 58,6 58,4 MPX Energia - - - - - - - 70,4 70,1
MRV - - - - - - 44,2 43,4 36,8 Natura - - - 28,3 - - 28,2 28,2 22,3
OHL Brasil - - - - - 52,1 60,0 60,0 60,0 Odontoprev - - - - - 13,1 - 14,3 43,5 OGX Petróleo - - - - - - 100,0 60,7 62,1 OSX Brasil - - - - - - 74,3 - - PDG Realt - - - - - - - 44,1 29,6 Porto Seguro - - - - - - 40,8 40,8 69,9 Portobello - - - - - 88,0 17,2 17,2 21,0
76
Tabela 03: Propriedade do principal acionista das empresas do Novo Mercado (%) Empresa/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Positivo Inf - - - - - 14,1 14,1 14,1 14,1 Profarma - - - - - 38,1 - 50,9 55,6 Redecard - - - - - - 24,0 23,2 23,2 Renar - - - - - - 45,9 44,6 34,1
Le Lis Blanc - - - - - - - 21,2 21,2 Rodobensimob - - - - - - - 25,3 25,3 Rossi Resid - - 89,5 80,9 37,1 37,1 37,1 25,1 18,1 São Carlos - 69,0 71,8 72,4 72,4 - 15,7 16,2 16,2 São Martinho - - - - - - 25,2 25,2 25,2 SLC Agrícola - - - - - - 36,8 29,3 29,3
Springs - - - - - - 55,9 68,4 68,4 Tarpon Inv - - - - - - - - 51,0 Tecnisa - - - - - - 55,0 55,0 55,0 Tegma - - - - - - 38,4 39,9 39,9
Tempo Part - - - - - 98,7 19,6 19,7 19,6 Tivit - - - - - - - - 35,1 Totvs - - - - - 30,1 20,1 17,2 17,2
Triunfo Part - 100,0 100,0 - - - 53,7 55,4 62,2 Tractebel 80,4 - - - 68,7 68,7 68,7 68,7 68,7 Trisul - - - - - - 55,8 57,9 57,9 Abnote - - - - - 32,8 - 32,8 8,5 Weg 96,9 96,9 96,9 96,9 97,0 97,0 51,0 51,1 51,1 Soma 1.038,8 1.042,0 1.164,1 1.107,6 919,4 1.729,6 2.946,1 3.198,1 3.704,4 Média 54,7 57,9 61,3 55,4 45,6 43,2 39,8 40,0 37,8 Desvio Padrão 29,6 27,8 27,7 27,3 23,9 29,3 21,8 20,3 19,1
Fonte: o autor
Conforme nota-se na Tabela 03, o Novo Mercado tem o melhor resultado de todos
os três níveis. Provavelmente por isso ele é o que tem a maior adesão de empresas,
e é justamente o mais importante dentre os níveis da Bovespa. Deve levar em conta
que, para pertencer ao Novo Mercado, as empresas devem emitir apenas ações
ordinárias, ou seja, com direito a voto. Essa medida facilita muito para que a
concentração de capital seja baixa, já que para se tornar acionista, o investidor
também deverá ter direito a voto, e dessa maneira não sejam emitidas muitas ações.
Os dados da Tabela 03 mostram que em todo o período analisado do Novo Mercado
(2001 a 2009) a média de concentração do principal acionista oscilou de diferentes
modos. Até 2003, a tendência foi de crescimento, mas logo depois diminuiu a cada
ano, chegando aos 37,8% no último ano analisado, 2009.
77
Foi uma boa evolução. No primeiro ano, em 2001, a média era de 54,7%, que para
Pertersen e Thomsen (1995 apud SIFFER FILHO, 1998, p.7-8) é considerada uma
concentração “alta”, já que significa mais da metade da propriedade das empresas.
Depois de subir um pouco, a média desceu e chegou a um número aceitável, 37,8%,
que para os autores é uma concentração considerada “média”, ou, como eles
chamam, “Propriedade Minoritária Dominante”. Dami et al. (2007, p.12) classifica
esse valor como “Dominante”. É um número aceitável porque, ao não deter mais da
metade da companhia, um único acionista, instituição ou grupo familiar não pode
tomar decisões sozinho e fundamentadas em interesses pessoais, fatos esses que
geram os conflitos de agência, conforme estudado anteriormente. Por ter o melhor
desempenho referente a concentração de propriedade de toda a Governança
Corporativa, as empresas do Novo Mercado devem ser as que menos enfrentam
esse tipo de problema, já que, conforme o quadro acima, não tem muito poder em
poucas mãos, e não corre então o risco de que os interesses pessoais sejam
colocados acima dos da empresa. Canellas e Leal (2009, p.21) concluíram o mesmo
que essa análise, já que, para eles, “as empresas que negociam no Novo Mercado
apresentam o controle mais disperso do que as que negociam em outros segmentos
da bolsa.”
O Novo Mercado não apresentou nenhuma empresa que direcionou a média das
outras. Não teve nenhuma empresa que apresentou uma concentração muito alta, e
teve várias que tiveram uma concentração muito baixa. Dessa forma, não se pode
dizer que uma dela ou um grupo puxou as demais, e sim que foi um resultado de
todo o grupo do Novo Mercado.
A evolução através dos anos para o Novo Mercado reflete como a adesão das
empresas a ele pode trazer bons resultados. Com a concentração acionária
diminuindo, pode-se perceber que essa adesão foi uma boa decisão, e as empresas
são beneficiadas por ela. Além de todas as vantagens já obtidas por precisar seguir
as exigências dos Níveis 1 e 2, as empresas do Novo Mercado só podem emitir
ações ordinárias, o que de imediato tende a diminuir o número de acionistas, mas
78
torna as decisões mais transparentes e claras, já que menos interessados estão
envolvidos.
A Quadro 08 mostra os dados referentes ao Novo Mercado por tipo de empresa e
controle.
Empresa Tipo Controle All Amer Lat Privada Brasileiro
Amil Privada Brasileiro B2W Privada Brasileiro
Bematech Privada Brasileiro BMF Bovespa Privada Brasileiro EcoDiesel Privada Brasileiro Brasil Foods Privada Brasileiro Brookfield Privada Canadense
Camargos Corrêa Privada Brasileiro Cia Hering Privada Brasileiro Providencia Privada Brasileiro Sabesp Estatal Brasileiro Copasa Estatal Brasileiro Cielo Privada Brasileiro Cosan Privada Brasileiro
CPFL Energia Privada Brasileiro Cremer Privada Brasileiro Csu Privada Brasileiro Dasa Privada Brasileiro
Drogasil Privada Brasileiro Duratex Privada Brasileiro Embraer Privada Brasileiro Estácio Privada Brasileiro Enternit Privada Brasileiro Heringer Privada Brasileiro Fibria Privada Brasileiro Fleury Privada Brasileiro Gafisa Privada Brasileiro
Grendene Privada Brasileiro Hypermarcas Privada Brasileiro
Romi Privada Brasileiro Maxion Privada Brasileiro Jbs Privada Brasileiro
Julio Simões Privada Brasileiro Light Privada Brasileiro
Localiza Privada Brasileiro Log-In Privada Brasileiro Renner Privada Pulverizado
M. Dias Branco Privada Brasileiro Magnesita Privada Brasileiro Marfrig Privada Brasileiro
Marisa Lojas Privada Brasileiro Metalfrio Privada Brasileiro Mills Privada Brasileiro
Minerva Privada Brasileiro Natura Privada Brasileiro
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Empresa Tipo Controle Odontoprev Privada Pulverizado Portobello Privada Brasileiro Positivo Privada Brasileiro Profarma Privada Brasileiro Redecard Privada Brasileiro
Le Lis Branc Privada Brasileiro Rodobens Privada Brasileiro Rossi Privada Brasileiro Tegma Privada Brasileiro Tivit Privada Brasileiro Totvs Privada Brasileiro Triunfo Privada Brasileiro Tractebel Privada Franco-Belga Abnote Privada Brasileiro Weg Privada Brasileiro
Quadro 08: Empresas do Novo Mercado por tipo e controle Fonte: o autor
Percebe-se que o Novo Mercado é composto altamente por empresas privadas, com
uma partição quase nula do governo. Das 61 empresas pertencentes ao Novo
Mercado analisadas nessa pesquisa, apenas duas são estatais. Ou seja, apenas
3.3% de empresas estatais aderem ao Novo Mercado, um número extremamente
baixo. Pode-se dizer então que o Novo Mercado é praticamente composto por
empresas privadas, e que são elas as que estão se beneficiando das exigências do
nível.
Também é notável, de acordo com o Quadro 08, que o Novo Mercado é composto
em sua grande maioria por empresas brasileiras. Das empresas pesquisadas,
exatas 93,4% tem o controle brasileiro, ou seja, tem a maior parte de sua
propriedade pertencente a investidores nacionais. Apenas duas empresas, ou 3,3%,
são classificadas como “pulverizadas”, ou seja, tem um controle tão misto entre
diversas nações que não há como dizer que um único país tem o seu maior controle.
Deve-se lembrar que nesse termo “pulverizado” obviamente também está incluído o
Brasil. Nas empresas restantes, apenas duas (3,3%) são controladas por outros
países (uma canadense e uma franco-belga). Sendo assim, o controle das empresas
do Novo Mercado é brasileiro, tornando o número de empresas estrangeiras
insignificante.
80
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Níveis de Governança Corporativa foram criados pela Bovespa com o intuito de
assegurar aos acionistas melhores investimentos, trazendo mais segurança e
confiança ao mercado financeiro. Desde que foram criados, em 2001, os Níveis
trouxeram uma lista de empresas selecionadas, que cumprem uma série de
exigências e regras imposta por eles, tornando-se assim um seleto grupo de
companhias confiáveis, transparentes e que seguramente devem ser as primeiras
opções para os investidores. Dessa forma, o resultado obtido com essa pesquisa é
de extrema importância para as empresas que participam dos Níveis e do mercado
financeiro em si.
Sendo assim, uma das resoluções esperadas com a criação dos Níveis era o
problema de agência, que trata da divergência dos interesses entre os acionistas
majoritários e minoritários. Desse modo, uma forma de medir qual a real influência
da Governança Corporativa nessa questão é analisar o tamanho da diferença e
poder existente entre esses dois tipos de acionistas. A concentração do maior
acionista é um fator crucial. A análise do controle da empresa, tanto quanto a
nacionalidade quanto a questão privatização/estatização, eram fundamentais para
tirar tais conclusões.
Apesar de trazer como um dos seus objetivos a diminuição da concentração de
propriedade, percebe-se que a Governança Corporativa não alcançou tal meta nos
Níveis 1 e 2. Os acionistas majoritários desses níveis apresentaram uma média de
concentração de propriedade de 60,9% e 65,6% em 2009, respectivamente. Esses
números não são bons o suficiente, pois apresentam uma concentração considerada
“alta” ou “majoritária”. Ainda que esses dois Níveis tenham demonstrado uma
pequena melhora com relação aos anos anteriores, ainda há muito para se
melhorar. A concentração ainda deve diminuir cerca de 15% em média para ser
aceitável, e isso ainda deve levar alguns anos para acontecer, e só então a Bovespa
alcançará sua meta com esses Níveis.
81
O Novo Mercado, no entanto, foi a surpresa da pesquisa. Seu desempenho ao longo
do mesmo período foi totalmente diferente dos Níveis que o antecedem. Quando a
Governança Corporativa foi criada, em 2001, o Novo Mercado apresentou uma
concentração média de 54,7% dos seus principais acionistas – um número alto, mas
já bem menor que os dos outros dois Níveis. A média foi diminuindo ano após ano, e
desde 2005, se encontra abaixo dos 50%, que o coloca em um padrão aceitável de
concentração de propriedade pelos mesmos autores. Em 2009, o Novo Mercado
apresentou um bom número – apenas 37,8%. Com essa média, ele se enquadra
como “Propriedade Majoritária Dominante”, “média” ou “dominante”, como
classificam os autores. É um bom resultado, mais ainda poderá melhorar nos
próximos anos. Se chegar a ficar abaixo dos 20%, será enquadrado como
concentração “baixa”, ou “Propriedade Dispersa”.
Apesar disso, deve-se levar em conta que o Novo Mercado é o único Nível em que
apenas ações ordinárias são permitidas aos acionistas. Desse modo, apesar de a
propriedade dos principais acionistas ser menor como porcentagem do total, ela é
formada apenas por ações com direito a voto. Ou seja, os acionistas têm menos
ações, mas essas ações têm presença mais ativa e significativa no controle da
empresa, por sempre dar a eles o poder de influencia sobre a administração.
Sobre a questão empresas estatais/privadas, a pesquisa mostrou que há pouca
presença de empresas estatais nos três Níveis. O Nível com mais empresas
estatais, o Nível 1 – que também é o que faz menos exigências as empresas –
apresenta apenas 25% de empresas estatais. No Nível 2, apenas 18,2% e no Novo
Mercado um baixíssimo numero – 3,3% de estatais.
Esses números levantados pela atual pesquisa levam a concluir que quanto mais
transparência e segurança nos investimentos são exigidos das empresas brasileiras,
menos estatais resolvem aderir a essas normas. Isso pode ser notado pela evolução
do número de estatais comparando os três Níveis.
A BOVESPA criou os níveis 1, 2 e Novo Mercado, que contém padrões elevados de
compromisso com os acionistas e demais grupos de interesse. Dessa forma, era de
82
se esperar que as empresas pertencentes a esses níveis tivessem um desempenho
melhor com relação a concentração de propriedade, mas esse não é o caso. Quanto
ao comprometimento das empresas brasileiras com a segurança no mercado
financeiro, a transparência com os investidores e a diminuição de conflitos entre
eles, as empresas privadas estão definitivamente mais participativas do que as
estatais.
Por fim, pode-se concluir com este trabalho que, além de as empresas da
Governança Corporativa ser em sua maioria privadas, elas são em grande parte
nacionais. Os três Níveis apresentaram alto grau de empresas brasileiras. O Nível
tem 90% de empresas com controle brasileiro, enquanto o Nível 2 tem quase 100%
(apenas uma não é controlada por brasileiros) e o Novo Mercado chega a 93,4%,
um número também alto.
Esses valores mostram que o mercado financeiro brasileiro está forte, ao menos em
relação às empresas que aderem as normas da Governança Corporativa, e que não
precisa de controle estrangeiro para se sustentar. Era de se esperar que, como a
Governança Corporativa já existem em outros países a muito mais tempo do que no
Brasil, as empresas estrangeiras fossem figurar em maior número nessa primeira
década das normas no país. No entanto, ao final de 2009, não foi esse o resultado
obtido. As empresas brasileiras são a maioria, e demonstram o porquê de o
mercado financeiro no Brasil está mais forte e confiável a cada ano, trazendo cada
vez mais investidores estrangeiros e colocando a Bolsa brasileira entre as cinco
maiores do mundo.
Para pesquisas futuras, sugere-se uma continuação do que foi abordado nesse
trabalho, como a análise da concentração de todos os acionistas das empresas de
Governança Corporativa, e não apenas do principal acionista. Também é
interessante uma pesquisa visando a identificação dos proprietários das empresas,
classificando por bancos, fundos de pensão, instituições, famílias e investidores
individuais, além de fazê-lo em outros anos, e não só no de 2009, como nessa
pesquisa.
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