4
Tiragem: 15799 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 4 Cores: Preto e Branco Área: 26,00 x 31,17 cm² Corte: 1 de 4 ID: 60278407 23-07-2015 Governo dá 70 milhões por ano às autarquias pelas novas competências Ana Petronilho [email protected] O Governo vai transferir 70 mi- lhões de euros por ano para as au- tarquias que passam a receber no- vas competências nas áreas da educação, saúde e cultura. Para já, foram 34 as autarquias que aderi- ram aos projectos-piloto que vão durar cinco anos. Contas feitas, até 2019 serão transferidos 350 milhões para os municípios que aceitaram participar no projecto de descentralização de compe- tências. “O valor é exactamente o mesmo que o Estado Central gas- tava no exercício daquela compe- tência”, garante ao Económico o ministro Adjunto e do Desenvol- vimento Regional, Miguel Poiares Maduro, que explica que “não existe aumento da despesa” com este processo. Após quase dois anos de con- versas entre o Governo e as au- tarquias, o Executivo encerrou ontem as negociações sobre a transferências de competências para os municípios. Para já, hou- Descentralização O Executivo encerrou ontem as negociações com as autarquias para a transferência de competências nas áreas da educação, saúde e cultura. ve o acordo com 34 autarquias de várias cores políticas que abran- gem um milhão e 800 mil habi- tantes (mais de 10% da população portuguesa) e que vão assumir a gestão e manutenção de 168 edi- fícios, como escolas ou centros de saúde. O número de municípios que vai avançar no projecto-pilo- to pode subir para 38, uma vez que há quatro autarquias que chegaram a acordo com o Gover- no e aguardam agora aprovação das respectivas Assembleias Mu- nicipais. “Ilustra bem que é um projecto-piloto com significado”, diz Poiares Maduro (ver entrevis- ta na página 6). Para a Associação Nacional de Municípios a descentralização de competências “deve ser tratada EDIFÍCIOS 168 Os municípios vão passar a ser responsáveis pela gestão e manu- tenção de 168 edifícios, como es- colas ou centros de saúde. Poder local Destaque Saúde fica aquém das expectativas Inicialmente, as autarquias também iam gerir alguns dos recursos humanos da saúde. A transferência de competências da área da saúde para as autar- quias ficou aquém das expectati- vas dos municípios. No arranque das negociações estava prevista a transferência da gestão de recur- sos humanos como técnicos su- periores de saúde, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assis- tentes técnicos e assistentes ope- racionais, onde se incluem por exemplo os psicólogos, nutricio- nistas ou fisioterapeutas. Fora desta equação ficariam os médi- cos e os enfermeiros. Mas afinal, durante o projecto- -piloto as câmaras não vão assu- mir qualquer competência na gestão de pessoal, ficando apenas responsáveis pela gestão e manu- tenção dos horários e dos edifícios dos centros de saúde, pelo trans- porte dos doentes não urgentes e serviços de apoio domiciliário. Os contratos da delegação de competências da saúde - a que o Económico teve acesso - pre- vêem que a competência sobre a gestão do pessoal da saúde possa ser realizada mais tarde. Mas o facto de não ter avançado já, levou a que, pelo menos, uma das autarquias do Norte do país desistisse do protocolo e suspendesse as negociações com o Governo. “Não era de todo o que nós gostaríamos”, diz ao Económico a vereadora da autarquia do Norte, acres- centando que “sem um maior poder de decisão não fica ga- rantida a cobertura dos serviços e não nos interessa fazer só a gestão de edifícios”. Também o presidente da Câ- mara de Cascais - a única autar- quia que vai assumir competên- cias nas áreas da saúde, educa- ção e cultura - confessa que ti- nha “uma ambição maior” com este processo. Mas, continua Carlos Carreiras, “dadas as es- pecificidades do sector” o pro- cesso “deve ser feito com algu- ma prudência”. O mesmo argu- mento foi usado por Poiares Ma- duro, que lembra que na saúde este é “o primeiro passo de des- centralização que é dado”. Já a Associação Nacional de Municípios frisa que a área da saúde “é especialmente sensí- vel” e que não é conhecido “nenhum dado que aponte para a virtude em pulverizar res- ponsabilidades” neste sector. Por isso, avisa Manuel Macha- do, esta é uma área onde os municípios “devem avaliar com extremo cuidado aquilo em que se vão meter” já que as autarquias “não têm condições para recrutar recursos huma- nos porque a lei o impede e não têm ‘know-how’ adaptado para este efeito”. A.P. AS COMPETÊNCIAS QUE O Educação A partir de Setembro, há 15 au- tarquias que vão passar a gerir até 25% do currículo dos alunos de todos os anos escolares, po- dendo aumentar o número de ho- ras semanais de algumas disci- plinas ou até passar a organiza- ção do ano lectivo para dois se- mestres. Podem ainda criar dis- ciplinas extra-curriculares que se adequem ao contexto regio- nal. Além disso, os municípios vão gerir todo o pessoal não do- cente e podem contratar profes- sores para as disciplinas locais, caso as escolas não tenham pro- fessores para leccionar a disci- plina. À excepção das escolas da Parque Escolar, a manutenção dos edifícios também vai ser res- ponsabilidade das câmaras. Cultura Na área da cultura serão sete as autarquias que vão poder gerir museus, bibliotecas, teatros, salas de espectáculo, galerias e edifícios, desde que não tenham a classificação nacional. Além disso, vão gerir os orçamentos dessas entidades assim como os seus trabalhadores. Também a vigilância e limpeza destes espaços passam a ser responsabilidade das autarquias. Bruno Barbosa com regras muito rigorosas, se- gundo planos de trabalho de modo a que não seja um pretexto para aliviar despesas ao Estado Central e pô-las nas costas da administra- ção municipal”, alerta o presiden- te da ANMP, Manuel Machado. Uma crítica que Poiares Ma- duro rejeita, lembrando que o processo foi feito “em consenso” com os municípios e que “há uma cláusula que prevê a revisão ao fim de um ano deste montante [70 milhões de euros]” para ga- rantir que com a “competência que é delegada nos municípios vai um pacote financeiro que corresponde ao que o Estado Central gastava” para assegurar as mesmas competências. Das três áreas que fazem parte do processo de descentralização, a educação a “mais significati- va”: tem um maior número de municípios a participar (ver in- fografia) - subiu, aliás, de 13 para 15 - e é nesta área que mais res- ponsabilidades vão ser transferi- das para as câmaras. O PS teceu várias críticas ao processo de descentralização. Mas no programa que leva a votos nas próximas legislativas, os so- cialistas defendem o reforço das competências das autarquias através da descentralização num maior número de áreas face às que vão avançar com o Governo. É o caso dos transportes, ou do emprego, por exemplo. No entanto, durante o processo de negociação que ocorreu entre os municípios e o Governo, Maria da Luz Rosinha, membro da di- recção nacional socialista, mani- festou-se contra o modelo de des- centralização seguido pelo Execu- tivo. O Diário Económico contac- tou ontem Maria da Luz Rosinha – até porque oito das câmaras que chegaram a acordo com o Gover- no são PS -, mas não conseguiu obter um comentário. Os projectos-pilotos têm a du- ração de cinco anos e anualmente será feita uma avaliação e moni- torização dos processos. O objec- tivo do Governo é alargar a trans- ferência de competências às 308 autarquias de todo o país. M.M.O.

Governo dá 70 milhões por ano às autarquias pelas novas ... · emprego,porexemplo. ... 60278407 23-07-2015 Corte: 3 de 4 ... de transferência de competências universal . ENTREVISTA

  • Upload
    haxuyen

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Tiragem: 15799

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 4

Cores: Preto e Branco

Área: 26,00 x 31,17 cm²

Corte: 1 de 4ID: 60278407 23-07-2015

Governo dá 70 milhõespor ano às autarquiaspelas novas competênciasAna [email protected]

O Governo vai transferir 70 mi-lhões de euros por ano para as au-tarquias que passam a receber no-vas competências nas áreas daeducação, saúde e cultura. Para já,foram 34 as autarquias que aderi-ram aos projectos-piloto que vãodurar cinco anos. Contas feitas,até 2019 serão transferidos 350milhões para os municípios queaceitaram participar no projectode descentralização de compe-tências. “O valor é exactamente omesmo que o Estado Central gas-tava no exercício daquela compe-tência”, garante ao Económico oministro Adjunto e do Desenvol-vimento Regional, Miguel PoiaresMaduro, que explica que “nãoexiste aumento da despesa” comeste processo.

Após quase dois anos de con-versas entre o Governo e as au-tarquias, o Executivo encerrouontem as negociações sobre atransferências de competênciaspara os municípios. Para já, hou-

Descentralização O Executivo encerrou ontem as negociações com as autarquiaspara a transferência de competências nas áreas da educação, saúde e cultura.

ve o acordo com 34 autarquias devárias cores políticas que abran-gem um milhão e 800 mil habi-tantes (mais de 10% da populaçãoportuguesa) e que vão assumir agestão e manutenção de 168 edi-fícios, como escolas ou centros desaúde. O número de municípiosque vai avançar no projecto-pilo-to pode subir para 38, uma vezque há quatro autarquias quechegaram a acordo com o Gover-no e aguardam agora aprovaçãodas respectivas Assembleias Mu-nicipais. “Ilustra bem que é umprojecto-piloto com significado”,diz Poiares Maduro (ver entrevis-ta na página 6).

Para a Associação Nacional deMunicípios a descentralização decompetências “deve ser tratada

EDIFÍCIOS

168Os municípios vão passar a serresponsáveis pela gestão e manu-tenção de 168 edifícios, como es-colas ou centros de saúde.

Poder localDestaque

Saúde fica aquém das expectativasInicialmente, as autarquiastambém iam gerir alguns dosrecursos humanos da saúde.

A transferência de competênciasda área da saúde para as autar-quias ficou aquém das expectati-vas dos municípios. No arranquedas negociações estava prevista atransferência da gestão de recur-sos humanos como técnicos su-periores de saúde, técnicos dediagnóstico e terapêutica, assis-tentes técnicos e assistentes ope-racionais, onde se incluem porexemplo os psicólogos, nutricio-nistas ou fisioterapeutas. Foradesta equação ficariam os médi-cos e os enfermeiros.

Mas afinal, durante o projecto-

-piloto as câmaras não vão assu-mir qualquer competência nagestão de pessoal, ficando apenasresponsáveis pela gestão e manu-tenção dos horários e dos edifíciosdos centros de saúde, pelo trans-porte dos doentes não urgentes eserviços de apoio domiciliário.

Os contratos da delegação decompetências da saúde - a que oEconómico teve acesso - pre-vêem que a competência sobrea gestão do pessoal da saúdepossa ser realizada mais tarde.Mas o facto de não ter avançadojá, levou a que, pelo menos,uma das autarquias do Norte dopaís desistisse do protocolo esuspendesse as negociaçõescom o Governo. “Não era de

todo o que nós gostaríamos”,diz ao Económico a vereadorada autarquia do Norte, acres-centando que “sem um maiorpoder de decisão não fica ga-rantida a cobertura dos serviçose não nos interessa fazer só agestão de edifícios”.

Também o presidente da Câ-mara de Cascais - a única autar-quia que vai assumir competên-cias nas áreas da saúde, educa-ção e cultura - confessa que ti-nha “uma ambição maior” comeste processo. Mas, continuaCarlos Carreiras, “dadas as es-pecificidades do sector” o pro-cesso “deve ser feito com algu-ma prudência”. O mesmo argu-mento foi usado por Poiares Ma-

duro, que lembra que na saúdeeste é “o primeiro passo de des-centralização que é dado”.

Já a Associação Nacional deMunicípios frisa que a área dasaúde “é especialmente sensí-vel” e que não é conhecido“nenhum dado que aponte paraa virtude em pulverizar res-ponsabilidades” neste sector.Por isso, avisa Manuel Macha-do, esta é uma área onde osmunicípios “devem avaliarcom extremo cuidado aquiloem que se vão meter” já que asautarquias “não têm condiçõespara recrutar recursos huma-nos porque a lei o impede e nãotêm ‘know-how’ adaptadopara este efeito”. ■ A.P.

AS COMPETÊNCIAS QUE O

EducaçãoA partir de Setembro, há 15 au-tarquias que vão passar a geriraté 25% do currículo dos alunosde todos os anos escolares, po-dendo aumentar o número de ho-ras semanais de algumas disci-plinas ou até passar a organiza-ção do ano lectivo para dois se-mestres. Podem ainda criar dis-ciplinas extra-curriculares quese adequem ao contexto regio-nal. Além disso, os municípiosvão gerir todo o pessoal não do-cente e podem contratar profes-sores para as disciplinas locais,caso as escolas não tenham pro-fessores para leccionar a disci-plina. À excepção das escolas daParque Escolar, a manutençãodos edifícios também vai ser res-ponsabilidade das câmaras.

CulturaNa área da culturaserão sete as autarquiasque vão poder gerirmuseus, bibliotecas, teatros,salas de espectáculo,galerias e edifícios,desde que não tenhama classificaçãonacional. Além disso,vão gerir os orçamentosdessas entidades assimcomo os seus trabalhadores.Também a vigilânciae limpeza destes espaçospassam a ser responsabilidadedas autarquias.

Bru

no

Bar

bosa

com regras muito rigorosas, se-gundo planos de trabalho de modoa que não seja um pretexto paraaliviar despesas ao Estado Centrale pô-las nas costas da administra-ção municipal”, alerta o presiden-te da ANMP, Manuel Machado.

Uma crítica que Poiares Ma-duro rejeita, lembrando que oprocesso foi feito “em consenso”com os municípios e que “háuma cláusula que prevê a revisãoao fim de um ano deste montante[70 milhões de euros]” para ga-rantir que com a “competênciaque é delegada nos municípiosvai um pacote financeiro quecorresponde ao que o EstadoCentral gastava” para asseguraras mesmas competências.

Das três áreas que fazem partedo processo de descentralização,a educação a “mais significati-va”: tem um maior número demunicípios a participar (ver in-fografia) - subiu, aliás, de 13 para15 - e é nesta área que mais res-ponsabilidades vão ser transferi-das para as câmaras.

O PS teceu várias críticas ao

processo de descentralização.Mas no programa que leva a votosnas próximas legislativas, os so-cialistas defendem o reforço dascompetências das autarquiasatravés da descentralização nummaior número de áreas face àsque vão avançar com o Governo.É o caso dos transportes, ou doemprego, por exemplo.

No entanto, durante o processode negociação que ocorreu entreos municípios e o Governo, Mariada Luz Rosinha, membro da di-recção nacional socialista, mani-festou-se contra o modelo de des-centralização seguido pelo Execu-tivo. O Diário Económico contac-tou ontem Maria da Luz Rosinha –até porque oito das câmaras quechegaram a acordo com o Gover-no são PS -, mas não conseguiuobter um comentário.

Os projectos-pilotos têm a du-ração de cinco anos e anualmenteserá feita uma avaliação e moni-torização dos processos. O objec-tivo do Governo é alargar a trans-ferência de competências às 308autarquias de todo o país. ■M.M.O.

Tiragem: 15799

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 5

Cores: Cor

Área: 26,00 x 31,60 cm²

Corte: 2 de 4ID: 60278407 23-07-2015ESTUDOA versão final do estudo sobrea evolução das despesas e receitasdas autarquias foi ontem divulgada.Conheça as principais conclusões:

● Extinção faseada do IMT deveser mantida. O Parlamento votouo adiamento deste plano por um ano.O imposto deverá agora ser extintoem 2018 e não em 2017 .

● Maior flexibilização na gestão doquadro de pessoal dos municípios,que permita uma progressiva dimi-nuição do peso das despesas compessoal.

● A continuação da política de trans-ferências de competências específi-cas adicionais da administração cen-tral para os municípios através decontratos voluntários.

GOVERNO VAI PASSAR PARA AS AUTARQUIAS

SaúdeA transferência dascompetências na saúdefoi o último processoa estar concluído. Nesta área,ao contrário do que estavainicialmente previsto, asautarquias não vão gerirrecursos humanos. No totalserão 19 municípios que vãoassumir a gestão e manutençãodos edifícios dos centrose extensões de saúde. Alémdisso, as câmaras passama ter liberdade para alargaros horários dos centrosde saúde, assumir o transportede doentes não urgentese serviços de apoiodomiciliário dos doentes.

Pau

loFigu

eiredoN

evesA

ntónio

Infografia: Mário Malhão | [email protected]

Tiragem: 15799

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 6

Cores: Cor

Área: 26,00 x 31,31 cm²

Corte: 3 de 4ID: 60278407 23-07-2015

Destaque Poder local

Ana [email protected]

Poiares Maduro diz que os doisobjectivos do projecto-piloto fo-ram cumpridos: conseguir umnúmero de municípios que des-sem massa crítica ao processo eque representassem diversidadesocio-demográfica e geográfica.

Trinta e quatro autarquias já fe-charam acordo para avançar,mas o número ainda pode subir?Sim. O processo é progressivo epode ir avançando. O nosso ob-jectivo é ter um conjunto de mu-nicípios nas diferentes áreas quepermitissem ter projectos-pilotoe depois, numa segunda fase,avançar e generalizar o modelo.É uma reforma profunda e porisso tem de gerar credibilidade econfiança para ser generalizada.Há décadas que se ouve falar dedescentralização e finalmenteestamos a avançar.É um número ideal para come-çar?Não tínhamos um número emmente. Tínhamos dois objecti-

“Uma reformaprofunda tem degerar confiança”Projecto-piloto O Governo quer generalizar adescentralização a todo o país e fazer “um processode transferência de competências universal”.

ENTREVISTA MIGUEL POIARES MADUROMinistro adjunto do Desenvolvimento Regional

A descentralização está muitolonge da regionalizaçãoA regionalização é uma soluçãomais ampla que é precisodecidir e definir.

Paula Cravina de [email protected]

A descentralização é uma ini-ciativa positiva, mas há um lon-go caminho a fazer até à regio-nalização. Assim o entendem osespecialistas ouvidos pelo Diá-rio Económico. E há autarcasinteressados em voltar a discu-tir a regionalização, tema polé-mico que foi a referendo em1998, mas que mereceu o ‘Não’dos portugueses.

O ex-secretário de Estado doOrdenamento do Território einvestigador coordenador doInstituto de Ciências Sociais daUniversidade de Lisboa, JoãoFerrão, explica que a regionali-zação é “uma solução mais am-pla”, em que a descentralizaçãode competências é apenas umaparte. “Tem de se definir o quefazer com o nível regional - sese valoriza ou não - e como”,considera. “A partir daí tem dedefinir-se um modelo de regio-nalização, isto é, falta um siste-ma que tem de ter um modelocoerente”, acrescenta. A des-centralização é “uma compo-nente solta”, sendo que “pode

Paulo Figueiredo

O ex-secretáriode Estado doOrdenado doTerritório, JoãoFerrão, diz que“tem de se definiro que fazer como nível regional –se se valorizaou não – e como”.

haver descentralização de com-petências sem regionalização”.

No mesmo sentido, o coor-denador do Observatório dosPoderes Locais ligado à Univer-sidade de Coimbra, FernandoRuivo, afirma que “o chapéunão está lá; falta uma coisa quedê unidade”. Para o especialista“é preciso definir o caminho eter vontade política”. A regio-nalização traria “racionalizaçãode meios e de recursos finan-ceiros”, defende.

Por outro lado, o estudo so-bre a monitorização da evolu-ção das receitas e das despesas

dos municípios, pedido peloGoverno à Universidade do Mi-nho, revela que há autarcas queestão interessados em voltar adiscutir a regionalização. O es-tudo entrevistou dez presiden-tes de câmara, entre as quaisAlmada, Felgueiras, Montale-gre, Elvas. Entre estes dez au-tarcas há quem defenda (o es-tudo não refere quais) que pe-dem o regresso do tema ao de-bate político.

“A existência das Comuni-dades Intermunicipais (CIM)não deve excluir da agenda po-lítica o debate sobre a reorgani-zação administrativa do paísem geral e sobre a regionaliza-ção em particular”, pode ler-seno estudo. “A definição clara deuma matriz de competênciasdeve ser uma prioridade nospróximos anos”, sendo que“existe uma opinião favorávelgeneralizada à criação de umnível administrativo intermé-dio que assuma competênciassupramunicipais”.

Sobre a descentralização emconcreto, tanto João Ferrão comoFernando Ruivo consideram ainiciativa positiva, mas advertemque a transferência de competên-cias para as autarquias e os meiosque serão disponibilizados nãosão totalmente claros. ■

O projecto que defendia a divisão do país em oito regiõesadministrativas foi a referendo no dia 8 de Novembro de 1998.O ‘Não’ à regionalização venceu, com 60% dos votos.

Nas diferentesáreas da delegaçãode competênciashá indicadoresde manutenção e deprestação de serviçosque estão previstos etambém da melhoriade qualidade dosserviços públicos.

vos e conseguimos: ter um con-junto de municípios que nos for-necessem projectos-piloto emassa crítica suficiente para po-dermos depois tirar conclusões,para dar segurança e credibili-dade na generalização do mode-lo a todo o país. Isto foi conse-guido com o número de municí-pios [que aderiram] e com ummilhão e 800 mil portuguesesenvolvidos. O segundo objectivoera a diversidade, ao nível depopulação socio-demográfica,geográfica e também diversida-de ao nível da cor política dasautarquias que participassemneste processo. Conseguimosisso também.No processo da saúde, inicial-mente, estava prevista a trans-ferência da gestão de pessoal nãoclínico. Porque não avançou?Por acordo com os municípios eo Ministério da Saúde entendeu--se, nesta primeira fase, nãoavançar já com uma delegaçãoao nível dos recursos humanos.Mas vários dos contratos pre-vêem que isso possa vir a acon-tecer numa fase subsequente, e éum dos aspectos que ao longodesta primeira fase será discuti-do e analisado.Há algum tipo de metas estabe-lecidas com os municípios?Em relação às diferentes áreas dadelegação de competências, emtodos os contratos, há indicado-res de manutenção e de presta-ção de serviços que estão previs-tos e também da melhoria dequalidade dos serviços públicos.Qual é a vossa expectativa para ofuturo deste processo?A nossa expectativa é que comessa avaliação seja afinado o quetem de ser afinado no sentido demelhorar a descentralização. E,a partir daí, generalizar a todo opaís e fazer um processo detransferência de competênciasuniversal. Acreditamos queuma reforma estrutural tão pro-funda e tão necessária para opaís é viável e é implementávelno terreno. ■

O coordenador do Ob-servatório dos Pode-res Locais, FernandoRuivo, considera que“o chapéu não estálá; falta uma coisaque dê unidade.É preciso definiro caminho e tervontade política”.

Tiragem: 15799

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 18,91 x 7,59 cm²

Corte: 4 de 4ID: 60278407 23-07-2015

Governo dá 70 milhõesa 34 câmaras comnovas competênciasConjunto de autarquias vai ganhar competências própriasnas áreas da Saúde, Cultura e Educação, e receberão do Estado350 milhões de euros durante os próximos cinco anos.Número de câmaras aderentes pode ainda vir a subir. ➥ P4 A 6

Dois terçosdas adesões sãode municípios PSD