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Governo diz que obras previstas na costa desde 2000 avançarão agora i Local

Governo diz que obras previstas na costa desde 2000 ... · A visita começou em Ovar, pas-sou pela praia da Barra em ílhavo e terminou na Figueira da Foz, onde será feita, nos próximos

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Governo diz que obras previstas na costa desde 2000 avançarão agora i Local

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Governo promete obras de defesada costa previstas desde 2000Ministro do Ambiente visitou zonasafectadas esta semana pelo mau tempoe diz que obras prioritárias há anosavançarão agora. Em Ovar serão gastostrês milhões de eurosErosão costeiraRicardo Garcia,Sara Dias OliveiraO Governo prometeu avançar esteano com obras costeiras previstaslegalmente há quase uma décadae meia. Na sequência dos estragoscausados pela agitação marítimana segunda-feira em vários pontosdo litoral, o ministro do Ambiente,Ordenamento do Território e Ener-gia, Jorge Moreira da Silva, disse quejá na próxima semana terão início

acções de defesa da costa em Ovare na Figueira da Foz - em duas dasfrentes do litoral do país mais vulne-ráveis às investidas do mar.

Em Esmoriz, Maceda e Furadouro(Ovar), serão intervenções rápidas,para substituir e requalificar barrei-ras, preencher praias com areia,reabilitar dunas e proteger arribas.Deverão estar prontas até ao Verão.Em Cortegaça, também em Ovar, as

máquinas deverão permanecer mais

tempo, até ao próximo Inverno."É evidente que ninguém lan-

ça obra porque no fim-de-semanaaconteceu uma intempérie. Estaobra estava estudada, desenhada,o caderno de encargos estava feito,alguns concursos já tinham sido fei-tos e estavam em condições de ser

adjudicados", garantiu Moreira daSilva. "Trata-se de uma intervençãorápida e urgente", disse.

Apesar de rápida e urgente, taisobras têm estado previstas em su-cessivos planos e programas para o

litoral, de sucessivos governos, semnunca sair do papel. As intervençõesnaquela zona estão definidas pelomenos desde a aprovação do Plano

de Ordenamento da Orla Costeirade Ovar-Marinha Grande, publicadoem 2000, durante o segundo Gover-no de António Guterres.

As mesmas acções foram previs-tas no Programa Finisterra, lança-do em 2003 pelo Governo de DurãoBarroso (2002-2004) e recicladas noPlano de Acção para o Litoral 2007--2013, aprovado em 2007 durante o

primeiro mandato de José Sócrates

como primeiro-ministro.E agora figuram num novo Plano

de Acção de Protecção e Valorizaçãodo Litoral 2012-2015, já do actual Go-

verno, lançado em Junho de 2012.O novo plano resume, sobretudo,

as acções que já estavam previstas,acrescentando outras e revendo al-

gumas prioridades. São 303 medi-das orçadas em 417 milhões de eu-ros. Apenas 5% do investimento ti-nha sido executado quando o planofoi apresentado, há um ano e meio.Dos 149 milhões de euros para as 55

acções com prioridade máxima, 11%

estavam concretizados.0 PÚBLICO tentou obter junto do

Ministério do Ambiente um balançoactual das intervenções previstas,mas não obteve resposta até às 20hde ontem.

As acções em Ovar são considera-das de máxima prioridade, não só

pelo plano de 2012 mas também pe-los anteriores. Ali serão investidostrês milhões de euros. Outros doismilhões foram disponibilizados peloGoverno para intervenções imedia-tas noutros pontos do litoral.

A costa de Ovar foi uma das zonasafectadas pelo mau tempo visitadasontem pelo ministro Jorge Moreirada Silva. Perante as estruturas dedefesa costeira no Furadouro, Mo-reira da Silva comentou: "Esta pro-tecção aderente sofre daquilo que se

costuma designar na área da saúde

por osteoporose. Na ligação entre as

pedras há muitos espaços vazios eisso levou a que as inundações fos-

sem maiores."A visita começou em Ovar, pas-

sou pela praia da Barra em ílhavo eterminou na Figueira da Foz, ondeserá feita, nos próximos oito meses,a recuperação de 1300 metros dasdunas de Cova-Gala, Costa de Lavose Leirosa, a sul do Mondego.

Moreira da Silva disse que a pro-tecção do litoral é uma das princi-pais prioridades do seu ministérioe aquela que levará a maior quantiado seu orçamento.

0 ministro alertou para os efeitosdas alterações climáticas. "Quan-do, muitas vezes, algumas pessoasolham com uma certa sobranceria,até com algum cinismo, para o dis-

curso a favor das energias renová-veis, da eficiência energética, da mo-bilidade sustentável, da redução das

emissões, é importante que tenhama noção de que a mudança climáti-ca, infelizmente, não é ficção cientí-fica, não é matéria para daqui a 20,30 anos. Está a ocorrer", disse.

"Não podemos ter uma políticade ordenamento do território comPDM [Planos Directores Municipais]desenhados para 40 milhões de ha-bitantes quando somos dez milhões,com construções feitas em leito decheia, em cima da praia", alertou. 0ministro disse ainda que está a serfeita uma reavaliação da estratégiade protecção da zona costeira, comuma nova ponderação de riscos.

Em Dezembro, o Conselho Nacio-nal do Ambiente e Desenvolvimen-to Sustentável (CNADS) - um órgãoconsultivo do Governo - criticou o

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facto de não haver coordenação en-tre os espaços marítimo e terrestrenas actuais políticas de ordenamen-to. Num parecer sobre a propostade lei de bases do solos e do orde-namento do território - apresenta-da recentemente pelo Governo -,o CNADS diz que não há qualquerarticulação deste documento es-

tratégico com outra proposta go-

vernamental para as bases do Or-denamento e da Gestão do EspaçoMarítimo Nacional.

"Uma está feita para o mar e outraestá para a terra", lamenta João Fer-rão, conselheiro do CNADS e ex-se-cretário de Estado do Ordenamentodo Território no primeiro Governode José Sócrates.

Ferrão diz que é preciso um pla-

neamento do litoral mais flexível,menos voltado para obras de de-fesa costeira e preparado para umfuturo com um clima diferente doactual. "Não é uma questão ideoló-gica, é algo que tem de ser feito",diz. "Hoje sabemos mais e ter maisconhecimento responsabiliza-nosmais", completa.

O ministro Jorge Moreira da Silva esteve ontem em Ovar e noutros concelhos do litoral para ver estragos

Prejuízos em bares e apoios de praia

Empresários "sem capacidade" para as obras

opresidente0

presidente da FederaçãoPortuguesa dosConcessionários de Praia,João Carreira, anunciou

ontem que vai pedir a ajudado Governo para "minimizaros prejuízos" provocados pelomau tempo nos apoios de praiadas zonas costeiras de todo opaís. "A forte ondulação dosúltimos dias provocou milhõesde euros de prejuízos nos apoiosde praia um pouco por todo o

país, pelo que decidimos pediruma reunião, com carácterde urgência, ao ministro doAmbiente e ao secretário deEstado do Turismo", disse João

Carreira. A federação vai pediro acesso a linhas de crédito"para ajudar a repor todos osequipamentos [que foramdestruídos pelo mar]". Casocontrário, afirmou, "haverámuitos empresários que nãoterão capacidade financeira parareabrir os estabelecimentos,pondo em risco a assistênciaàs praias em muitas zonas dopaís". Segundo João Carreira,há concessionários que estãodescapitalizados, porquefizeram, recentemente, grandesinvestimentos nas adaptaçõesao Plano de Ordenamento daOrla Costeira.

5milhões de Euros é o valor doinvestimento urgente previstopelo Governo para várias zonascosteiras dos concelhos de Ovare da Figueira da Foz

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COSTA PORTUGUESA TEM TODOS OS INGREDIENTES DE RISCO

Nalinguagem técnica, o risco

é produto de três factores:vulnerabilidade, exposiçãoe perigosidade. Todos estão

presentes em dose elevada nacosta portuguesa, mas muitasvezes são negligenciados.

Vulnerabilidade: o factorAtlânticoA costa portuguesa é altamentesusceptível a eventos comoo que causou novamenteprejuízos em vários pontos dolitoral nos últimos dias. A razãoé essencialmente geográfica:o país está voltado para oAtlântico, por onde passamsucessivas vagas de mau tempono Inverno, no sentido oeste-leste. O efeito sobre o estadodo mar é triplo. O mau tempoestá associado a baixas pressõesatmosféricas, que fazem omar subir. Além disso, o ventoempurra a água sobre a costa,acumulando-a e acentuandoa subida do nível do mar. Emterceiro lugar, os ventos fortestransferem enormes quantidadesde energia para o mar, formandoas ondas que depois darão à

costa. Em terra, há um factoradicional: dois terços dalinha de costa em Portugalsão susceptíveis de erosão -fenómeno causado tanto pelaconfiguração geológica do litoral

como por factores humanos,como a retenção de sedimentospelas barragens. Ou seja, o paístem todos os ingredientes paraepisódios de forte agitaçãomarítima e avanço do mar sobrea terra.

Exposição: cada vez mais juntoao marBasta olhar para a ocupaçãourbana do litoral para se concluiro que significa estar exposto aoselementos. Durante décadas,as construções avançaram parazonas nitidamente vulneráveis- como falésias instáveis, ilhasde barreira, dunas e leitos decheia. E mesmo com sucessivasleis a condicionar a ocupaçãode zonas de risco no litoral

nas décadas mais recentes, onúmero de pessoas junto ao marcontinuou a aumentar. Entre2001 e 2011, a população das

freguesias do país que confinamcom o mar aumentou 10%,segundo o estudo Change -Mudanças Climáticas, Costeirase Sociais, de investigadores doInstituto de Ciências Sociaise da Faculdade de Ciênciasda Universidade de Lisboa.Entre 1970 e 2011, o número dehabitantes junto ao mar subiude 738 mil para 1,2 milhões. NaCova do Vapor, em Almada,explodiu o número de habitantes(94%), de edifícios (44%) e dealojamentos sazonais (60%) nasúltimas duas décadas, apesardos 26 metros de costa comidospor ano pelo mar. Em Quarteira,no Algarve, a populaçãoduplicou e os alojamentosaumentaram 74%, mas todos osanos perdem-se seis metros deterra para o mar, em média. Há

um outro tipo de exposição: odas pessoas individualmente.Um exemplo cabal é dado pelasimagens de dezenas de pessoasa fotografar e a filmar as ondasna foz do Douro na segunda-feira, junto à orla e à mercê devagas maiores, que sempreacabam por aparecer. Resultado:vinte carros varridos pela águae quatro feridos. Nos últimossete anos, pelo menos 40pessoas morreram em Portugalarrastadas por ondas, sobretudono Inverno.

Perigosidade: pior num futuromais quenteA perigosidade é a combinaçãoda intensidade de um fenómeno

com a sua probabilidade deocorrência. Ambos os factoresnão só já se reflectem emeventos como o desta semanacomo poderão agravar-seno futuro, em função das

alterações climáticas. Umdado importante é a previsívelsubida do nível do mar, devidosobretudo à expansão térmicados oceanos. O último relatório

do Painel Intergovernamentalpara as Alterações Climáticas,divulgado pela ONU emSetembro, fala numa subidade 28 a 82 centímetros até aofinal do século, numa médiaglobal. Aumentará, comisso, a intensidade da erosãocosteira. Localmente, osvalores podem ser diferentes.Segundo o projecto Siam II

- Alterações Climáticas emPortugal, Cenários, Impactose Medidas de Adaptação, queenvolveu cientistas de váriasuniversidades nacionais,num futuro mais quente, asondas poderão chegar à costaportuguesa com uma orientaçãoligeiramente diferente,agravando a erosão, em 15% a

25% até ao final do século. Ofuturo das vagas de mau tempo émais incerto, sendo que o estadodo mar em Portugal dependedo que acontece ao longo demilhares de quilómetros doAtlântico. Os modelos climáticosapontam, de qualquer forma,para uma maior probabilidadede ocorrência de fenómenosmeteorológicos extremos.

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Asconsequências

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Governo investe 300 milhõesde euros na protecção da costaClima Moreira da Silva promete 313 intervenções ao longo

da costa e revisão da estratégia nacional para o litoral.

Filipe Garcia

[email protected]

"A grande prioridade do Minis-tério é precisamente a protecçãode pessoas e bens no litoral" ,

confirmou ontem Jorge Moreirada Silva, ministro do Ambiente,que anunciou o investimento de300 milhões de euros para a pro-tecção da"costa nacional em cer-ca de 313 intervenções distintas.

Nos últimos dias, as margi-nais de Lisboa e Porto foram en-cerradas, o porto da Ericeira foidanificado e em Peniche várias

embarcações não resistiram à

ondulação da tempestade Hér-cules que, um pouco por todo o

país, engoliu bares e restauran-tes de praia. Em Ovar os prejuí-zos deverão chegar aos três mi-lhões de euros - na Agência Por-tuguesa de Seguradoras, só no

início da próxima semana seterá o valor dos prejuízos a nívelnacional - mas para já no Go-verno as perspectivas são opti-mistas.

António Leitão Amaro, se-cretário de Estado do Poder Lo-cal, destaca que em Aveiro, onde

esteve com Moreira da Silva, os

danos registados são sobretudoem apoios de praia e na suamaioria "relativamente fáceis e

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rápidos de recuperar", diz aoEconómico. Um cenário dife-rente encontrou o responsávelpelo poder local em Paredes."Visualmente agressivo, masregistei a resposta positiva da

população", diz. "Ainda não é

claro que seja necessário accio-nar o fundo de emergência mu-nicipal. A autarquia vai listar to-dos os estragos e depois avalia-mos", disse.

Moreira da Silva promete re-ver a estratégia nacional de Pro-tecção da Zona Costeira. "Mui-tas vezes os estudos são um bom

pretexto para não agir, mas nes-te caso estamos a fazer as duas

coisas", disse o ministro queestá a "ponderar opções, à luz deuma nova avaliação de riscos" .

Com as costas do Atlântico a

serem fustigadas por climas ex-tremos, nesta altura as altera-ções climáticas voltaram à agen-da. "No século XVIII o nível domar estava 20 centímetros abai-xo do actual e as tempestades es-

tão a acontecer a um nível mais

alto", diz Filipe Duarte Santos,professor na faculdade de ciên-cias da Universidade de Lisboa.Para o especialista em alteraçõesclimáticas, no futuro o melhor é

estar preparado para "tempesta-des mais intensas e com ventosmais fortes". "É consequênciadas alterações climáticas. A

temperatura média global au-mentou um grau, se subir dois outrês será mais grave", conclui o

especialista para quem o facto doclima estar a mudar é, nesta al-tura, "inegável".»

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FILIPE DUARTE SANTOS Investigador e professor na Universi-dade de Lisboa sobre risco de erosão em 67% do litoral

"Perda de areal chegaaos sete metros"Correio da ManhãUma das conclusõesdo projeto SIAM, so-bre o impacto das al-terações climáticasem Portugal, refereque 67% da costa temum risco significativode erosão. Quais as re-giões mais afetadas?Filipe Duarte Santos - A perdade terreno, ou seja, avanço do

mar, acontece sobretudo entrea foz do Douro e a praia da Corte-

gaça [Ovar]. No Algarve, da praiado Ancão (Loulé) até à foz doGuadiana. A perda de terreno éde vários metros. Chega aos setemetros no caso da Cortegaça.- A que se deve este fenómenode erosão?- Resulta de menos sedimentostransportados pelos rios e que

depois chegam às

praias. As barragenssão necessárias, mas

grande parte dos sedi-mentos ficam lá reti-dos. Por outro lado,há o aumento do nível

médio do mar. No sé-

culoXXasubidafoide15 centímetros. Prevê-

se que no final do século XXI o au-mento seja de 50 centímetros.- Este processo é irreversível?- Quando há uma tempestade,há praias de ganham areia e ou-tras que perdem. É um processodinâmico. 0 mais preocupanteé a observação de um recuo dalinha de costa. Na Costa da Capa-rica, por exemplo, no passado o

mar estava meio quilómetro maislonge do que está hoje (mais in-

formação na página 19). ¦d.e.