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Gráficos de Controle CUSUM: Uma forma eficaz para detectar pequenos desajustes na média de um processo Evelyn Souza Chagas, Programa de Pós Graduação em Biometria e Estatística Aplicada, PGBEA, 52171-900, Recife, PE E-mail: [email protected], Dra. Suzana Leitão Russo, Departamento de Estatística e Ciências Atuariais, DECAT, UFS, 49100-000, São Cristóvão, SE E-mail: [email protected], Msc. Vitor Hugo Simon PETROBRAS, 49075-020, Aracaju, SE E-mail: [email protected]. Palavras-chave: Controle Estatístico de Qualidade, normalidade e CUSUM Resumo: Num mundo tão competitivo, onde a disputa entre corporações tem sido cada vez mais acirrada, o controle estatístico de qualidade torna-se uma peça fundamental na tomada de decisões com relação a produtos e serviços. A sua aplicabilidade faz com que medidas preventivas venham a ser tomadas antes mesmo que um possível problema venha a surgir e compromissos sejam firmados com maior segurança. Este trabalho tem como finalidade apresentar os Gráficos de Controle das Somas Acumuladas (CUSUM) como uma forma eficaz para o controle de pequenos desajustes. Para isto, foi estudada a aplicação dessa ferramenta na avaliação da qualidade da variável de medição do arrombamento e do reboco da parede de um poço de petróleo. Nesta análise utilizou-se a estatística descritiva. Através da assimetria, verificou-se que os dados seguem uma distribuição normal, não havendo necessidade de transformação na variável usada para a aplicação do Gráfico de Controle. Os resultados obtidos confirmaram que o Gráfico de Controle CUSUM é eficaz para detectar pequenas e persistentes mudanças na média do processo. O software utilizado para o cálculo das medidas estatísticas e a construção dos gráficos foi o STATISTICA7. 1. Introdução Com a crescente concorrência no mercado consumidor, o controle de qualidade tem sido encarado como uma ferramenta fundamental na tomada de decisões das empresas na seleção de produtos e serviços. Compreender e melhorar a qualidade é um fator-chave que conduz ao sucesso, crescimento e uma melhor posição de competitividade de um negócio. Os Gráficos de Controle Estatístico de Processos mais conhecidos e amplamente aplicados no setor industrial são ainda, sem dúvida, os tradicionais Gráficos de Shewhart. No entanto, estes gráficos se baseiam apenas no exame do último ponto analisado, ignorando qualquer informação passada dada pela sequência anterior de pontos. Como alternativa, tem-se o Gráfico de Controle das Somas Acumuladas (CUSUM), indicado para o monitoramento de processos sujeitos a pequenas e persistentes alterações. Neste gráfico, a decisão sobre o estado do processo é baseada na informação acumulada das diversas amostras anteriores, não somente na última delas, sendo possível sinalizar com maior rapidez os pequenos desajustes, assim como identificar no tempo o momento em que ocorre uma mudança (CRUZ et al, 2009; MONTGOMERY, 2004; HENNING, 2009). Portanto, organizações que usam medidas são capazes de entender melhor seus problemas e suas capacidades reais, manter compromissos firmados, prever tendências, antecipar problemas e finalmente melhorar o processo de desenvolvimento de um produto ou serviço (FLORAC, 1999). 281 ISSN 2317-3297

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Gráficos de Controle CUSUM: Uma forma eficaz para detectar

pequenos desajustes na média de um processo

Evelyn Souza Chagas, Programa de Pós Graduação em Biometria e Estatística Aplicada, PGBEA,

52171-900, Recife, PE

E-mail: [email protected],

Dra. Suzana Leitão Russo, Departamento de Estatística e Ciências Atuariais, DECAT, UFS,

49100-000, São Cristóvão, SE

E-mail: [email protected],

Msc. Vitor Hugo Simon PETROBRAS,

49075-020, Aracaju, SE

E-mail: [email protected].

Palavras-chave: Controle Estatístico de Qualidade, normalidade e CUSUM

Resumo: Num mundo tão competitivo, onde a disputa entre corporações tem sido cada vez mais

acirrada, o controle estatístico de qualidade torna-se uma peça fundamental na tomada de decisões

com relação a produtos e serviços. A sua aplicabilidade faz com que medidas preventivas venham a

ser tomadas antes mesmo que um possível problema venha a surgir e compromissos sejam firmados

com maior segurança. Este trabalho tem como finalidade apresentar os Gráficos de Controle das

Somas Acumuladas (CUSUM) como uma forma eficaz para o controle de pequenos desajustes. Para

isto, foi estudada a aplicação dessa ferramenta na avaliação da qualidade da variável de medição do

arrombamento e do reboco da parede de um poço de petróleo. Nesta análise utilizou-se a estatística

descritiva. Através da assimetria, verificou-se que os dados seguem uma distribuição normal, não

havendo necessidade de transformação na variável usada para a aplicação do Gráfico de Controle.

Os resultados obtidos confirmaram que o Gráfico de Controle CUSUM é eficaz para detectar

pequenas e persistentes mudanças na média do processo. O software utilizado para o cálculo das

medidas estatísticas e a construção dos gráficos foi o STATISTICA7.

1. Introdução

Com a crescente concorrência no mercado consumidor, o controle de qualidade tem sido

encarado como uma ferramenta fundamental na tomada de decisões das empresas na seleção de

produtos e serviços. Compreender e melhorar a qualidade é um fator-chave que conduz ao sucesso,

crescimento e uma melhor posição de competitividade de um negócio.

Os Gráficos de Controle Estatístico de Processos mais conhecidos e amplamente aplicados no

setor industrial são ainda, sem dúvida, os tradicionais Gráficos de Shewhart. No entanto, estes gráficos

se baseiam apenas no exame do último ponto analisado, ignorando qualquer informação passada dada

pela sequência anterior de pontos. Como alternativa, tem-se o Gráfico de Controle das Somas

Acumuladas (CUSUM), indicado para o monitoramento de processos sujeitos a pequenas e

persistentes alterações. Neste gráfico, a decisão sobre o estado do processo é baseada na informação

acumulada das diversas amostras anteriores, não somente na última delas, sendo possível sinalizar

com maior rapidez os pequenos desajustes, assim como identificar no tempo o momento em que

ocorre uma mudança (CRUZ et al, 2009; MONTGOMERY, 2004; HENNING, 2009).

Portanto, organizações que usam medidas são capazes de entender melhor seus problemas e

suas capacidades reais, manter compromissos firmados, prever tendências, antecipar problemas e

finalmente melhorar o processo de desenvolvimento de um produto ou serviço (FLORAC, 1999).

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Este trabalho tem como objetivo avaliar a qualidade da variável de medição do arrombamento

e do reboco da parede de um poço de petróleo através do gráfico de controle de Soma Acumulada

(CUSUM).

2. Revisão Teórica

2.1. Gráfico de Controle de Soma Acumulada (CUSUM)

Os gráficos CUSUM foram introduzidos pela primeira vez por Page em 1954 na Inglaterra,

tendo como finalidade o monitoramento da variabilidade de um processo. A principal vantagem dessa

ferramenta estatística é que esta acumula informações das amostras de um processo ponderando-as

igualmente, fazendo com que as amostras tenham o mesmo peso. Por este motivo, estes gráficos são

capazes de detectar pequenas e persistentes mudanças na média de um processo (CRUZ et al., 2009;

ALVES, 2003).

O método da Soma Acumulada pode ser representado pelo CUSUM Tabular e pela Máscara

V. De acordo com Montgomery (2004), o cusum tabular trabalha acumulando desvios de 0 que estão

acima do valor alvo, com uma estatística C+, e acumulando desvios de 0 que estão abaixo do valor

alvo, com outra estatística C-. As estatísticas C

+ e C

- são chamadas cusums unilaterais superior e

inferior, respectivamente. Elas são calculadas através das equações:

[ ( )

] (1)

[ ( )

] (2)

onde os valores iniciais são

.

Seja a i-ésima observação do processo. Quando o processo está sobcontrole, supõe-se,

como premissa básica, que tem uma distribuição normal com média 0 e desvio padrão σ (FACCIO

e WERNER, 2010).

Nas equações 5 e 6, é um valor de referência (também denominado valor de tolerância ou

de folga), e é aproximadamente a metade do valor que se tem interesse em detectar rapidamente,

determinado valores entre o valor pretendido 0 e o valor da média fora de controle 1.

Assim, se a mudança é expressa em unidades de desvio padrão como

, então é

a metade da magnitude dessa mudança, ou seja:

| |

(3)

onde é o valor da mudança que se deseja detectar em unidades de desvios padrão, σ o desvio

padrão, o valor pretendido e

o valor da média fora de controle. Quanto menor o valor obtido da

equação 7, menor será a faixa de variação que o gráfico será capaz de detectar e maior será a

sensibilidade do gráfico.

É importante ressaltar que e

acumulam desvios a partir do valor alvo que são

maiores do que , com ambas as quantidades recolocadas em zero ao se tornarem negativas. Se tanto

ou

excederem o intervalo de decisão H, o processo é considerado fora de controle. Um valor

razoável para H é quatro ou cinco vezes o valor do desvio padrão σ, isto é, H =4σ ou 5σ.

3. Metodologia

O conjunto de dados analisados trata-se de informações das variáveis de perfis de poços que

medem propriedades das rochas atravessadas por esses poços, pertencentes a unidades geológicas de

um campo de petróleo da Bacia Sedimentar Sergipe-Alagoas.

Neste estudo foi aplicado o gráfico de controle de soma acumulada (CUSUM) para verificar a

qualidade do perfil Caliper no nível estratigráfico 6B do poço 2. Para esta análise foram utilizou-se a

estatística descritiva. O software utilizado para o cálculo das medidas estatísticas e a construção dos

gráficos foi o STATISTICA 7.

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4. Resultados e Discussão

4.1. Análise Descritiva

O diâmetro da broca utilizado na perfuração do nível estratigráfico 6B equivale a 8,625

polegadas. A característica da qualidade monitorada nesse processo são os registros das variações

correspondentes a desabamentos ou a formação de rebocos na parede do poço. Esses registros são

medidos pela ferramenta Caliper a cada 25 centímetros de comprimento.

A Figura 1 ilustra o comportamento da variável Caliper no nível estratigráfico 6B do poço 02.

Observando-a percebe-se que ao longo da profundidade o Caliper está variando em torno de 8.8 a 9.0

polegadas. Outro fato notório é a presença de picos, sendo mais acentuada nas profundidades

2636,75m e 2637m. Essa baixa detecta que ocorreram rebocos no poço. Verifica-se também que a

partir do ponto 100 (profundidade 2659,75m), o Caliper tende a se afastar do diâmetro da broca,

indicando desmoronamentos na parede do poço.

Figura 1 – Representação da variável Caliper no nível estratigráfico 6B

Através da estatística descritiva, representada na Tabela 1, observa-se que em média o Caliper

possui 8,91 polegadas ao longo do nível estratigráfico 6B. O menor valor assumido por esta variável

foi 8,52 pol. na profundidade 2636,75m. Enquanto o maior valor apresentado pela variável ocorreu na

profundidade 2661,25 e 2661,50 com 9,11pol. Pode-se observar também, através da mediana que

50% dos registros das medidas desta variável encontram-se acima de 8,92 polegadas.

O coeficiente de variação mostra como os dados estão variando em relação à média, quanto

menor o coeficiente de variação mais homogêneo é o conjunto de dados. Segundo Doane e Seward

(2008), uma distribuição é considerada homogênea quando o coeficiente de variação for menor ou

igual a 25%.

De acordo com a assimetria, não se pode rejeitar a hipótese de normalidade dos dados, visto

que, o valor da estatística -0,75 encontra-se dentro dos limites (-1,96; 1,96), considerando um nível de

significância de 5%.

Média Mediana Mínimo Máximo Amplitude Variância Desvio

Padrão Assimetria

8,91 8,92 8,52 9,11 0,59 0,01 0,09 -0,75

Tabela 1 - Resumo da Estatística Descritiva da Variável Caliper no Nível Estratigráfico 2M

do poço de petróleo 02

4.2. Gráfico de Controle

Como se pode verificar na Figura 2, o Gráfico de Controle CUSUM é capaz de captar

rapidamente pequenas e contínuas mudanças no processo.

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Figura 2 – Gráfico de Controle CUSUM

Nota-se uma sequência de pontos fora do limite de controle inferior, o que é equivalente a

36,11%, sendo 4,63% acima do limite superior e 40,74% ao todo. Esse fato é justificado porque os

Gráficos CUSUM levam em consideração a informação acumulada das diversas amostras anteriores,

sendo possível sinalizar com maior rapidez pequenos desajustes. Percebe-se também que

aproximadamente as 5 últimas observações apresentam uma tendência crescente, levantando suspeitas

da ocorrência de um aumento no valor médio do Caliper, e consequentemente no nível médio do

processo.

5. Conclusões

A importância do Controle Estatístico de Processos nas empresas é de vital importância para

que melhores níveis de qualidade em processos produtivos sejam alcançados.

Os resultados obtidos mostraram que os Gráficos CUSUM conseguem detectar rapidamente

mudanças na média da característica de qualidade do processo estudado. Do ponto de vista econômico

a aplicação do Gráfico CUSUM é mais vantajosa, visto que será necessário um menor número de

amostras para a detecção de mudança na média do processo.

Sugere-se para trabalhos futuros, a inclusão da análise da autocorrelação dos dados, pelo fato

de ter ocorrido um grande número de pontos fora dos limites de controle. Geralmente, na existência

de autocorrelação, os gráficos de controle costumam gerar alarmes falsos, gerando viés na

interpretação dos seus resultados e, consequentemente ocasionando um grande número de

intervenções desnecessárias no processo.

6. Referências

[1] ALVES, C. C. da. Gráficos de Controle CUSUM: um enfoque dinâmico para a análise estatística

de processos. 24/02/2003. 1v. 134p. Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina –

Engenharia de Produção. Orientador(es): Robert Wayne Samohyl, Ph.D. Biblioteca Depositária:

Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFSC.

[2] CRUZ , A. C. da.; et al.. A aplicação de gráficos de controle de Soma Acumulada (CUSUM) para

monitoramento de um processo de usinagem. Bauru-SP: 16a Simpósio de Engenharia de

Produção, 2009.

[3] DOANE, D. P., SEWARD, L. E. Estatística Aplicada à Administração e Economia, São Paulo:

McGraw-Hill, 2008.

[4] FACCIO, K.; WERNER, L. Comparando gráfico CUSUM e Redes Neurais Artificiais no contexto

do Controle Estatístico de Qualidade. Revista INGEPRO. v. 02, n. 11, novembro, 2010. ISSN

1984-6193

[5] FLORAC, A. W., C.; Barnard, A. D. Measuring the Software Process: Statistical Process Control

for Software Process Improvement. Addison Wesley, 1999.

[6] HENNING, E.; et. al.. Análise de um Projeto de Ensino Utilizando Gráfico de Controle de Soma

Cumulativa. Recife-PE. COBENGE, 2009.

[7] MONTGOMERY, D. C. Introdução ao controle estatístico da qualidade/ Douglas C.

Montgomery; tradução Ana Maria Lima de Farias, Vera Regina Lima de Farias e Flores; revisão

técnica Luiz da Costa Laurencel. 4. ed.reimpr. – Rio de Janeiro: LTC, 2004.

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