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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma 28ª aula: Pregações e curas Textos complementares GEAEL Aula 28 — Entre muitas, a lição que fica: ... as trevas, como todos os sofrimentos, vêm da prática dos erros, da ausência de virtudes e que nestas existe somente claridade. O Redentor Entre os judeus em geral, naquele tempo, o sistema das pregações era muito diverso do usado hoje, quando o mestre, sacerdote, ou pastor ou orador acadêmico, expõe livremente suas idéias, sem interrupções, sendo ouvido em silêncio pelos assistentes. Nas sinagogas ou tribunais, qualquer assistente tinha o direito de interpelar o orador e era comum surgirem tumul‑ tos quando as opiniões de muitos divergiam, ou quando os oradores pregavam matérias consideradas contrárias à Tora e aos costumes nacionais. Já vimos o que havia acontecido dias atrás, com o próprio Jesus, quando se apresentou por duas vezes na sinagoga de Nazaré, fato esse que deveria repetir‑se várias vezes no decurso de suas pregações futuras, como era de esperar, em outros lugares. Nessas sinagogas do interior do país, às mar‑ gens do rio, é que Jesus iniciou suas pregações e somente mais tarde, quando o auditório aumen‑ tou enormemente, devido à sua fama de profeta, às curas que fazia e aos fenômenos — tidos como milagres — que produzia, é que passou a pregar nas praças públicas e ao ar livre. O dialeto que ele usava era o siríaco‑hebreu, um dialeto romano do tronco aramaico que, nesse tempo, era usado em toda a Palestina. Normalmente, nas sinagogas, entrava acom‑ panhado de seus discípulos (o que era costume entre os rabis). tomava da mão do servente o rolo das escrituras, na parte já marcada como o texto do dia, — a “Parascha” — e passava então a in‑ terpretar o assunto, segundo seu elevado e sábio critério. Mas, justamente por causa dessas inter‑ pretações como já o dissemos atrás, é que, desde o primeiro dia, teve de enfrentar a animosidade dos doutores da lei que, conquanto não fossem sacerdotes, consideravam‑se eruditos, teólogos, linguistas, juristas, de maior ou menor renome ou capacidade; e como, em sua maioria, pertenciam ao partido fariseu, tinham grande autoridade e, com sua presença, representavam o oficialismo religioso da capital, o que vale dizer, do sinédrio. Perceberam logo que Jesus era um pregador perigoso, diferente dos demais, porque pregava de forma heterodoxa, revolucionária; falava com autoridade própria, possuía saber profundo, e jamais reveren‑ ciava ou prestava obediência a qualquer das escolas rabínicas oficiais. Oferecendo o Reino de Deus, sobre o dos homens, reino de harmonia, paz e justiça, Jesus tinha capacidade para pro‑ mover a maior revolução social, dentre as que tinham sido tentadas. De fato: bem distanciada do espiritualismo clássi‑ co e das religiões dogmáticas, que até hoje existem, mesmo quando filiadas ao cristianismo, a doutrina que pregava exi‑ gia realizações objetivas e imediatas; exigia ação, fatos, re‑

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma

28ª aula: Pregações e curasTextos complementares

GEAEL

Aula 28 — Entre muitas, a lição que fica:... as trevas, como todos os sofrimentos, vêm da prática dos erros, da ausência de virtudes e que nestas existe somente claridade.

O Redentor

Entre os judeus em geral, naquele tempo, o sistema das pregações era muito diverso do usado hoje, quando o mestre, sacerdote, ou pastor ou orador acadêmico, expõe livremente suas idéias, sem interrupções, sendo ouvido em silêncio pelos assistentes.

Nas sinagogas ou tribunais, qualquer assistente tinha o direito de interpelar o orador e era comum surgirem tumul‑tos quando as opiniões de muitos divergiam, ou quando os oradores pregavam matérias consideradas contrárias à Tora e aos costumes nacionais. Já vimos o que havia acontecido dias atrás, com o próprio Jesus, quando se apresentou por

duas vezes na sinagoga de Nazaré, fato esse que deveria repetir‑se várias vezes no decurso de suas pregações futuras, como era de esperar, em outros lugares.

Nessas sinagogas do interior do país, às mar‑gens do rio, é que Jesus iniciou suas pregações e somente mais tarde, quando o auditório aumen‑tou enormemente, devido à sua fama de profeta, às curas que fazia e aos fenômenos — tidos como milagres — que produzia, é que passou a pregar nas praças públicas e ao ar livre.

O dialeto que ele usava era o siríaco‑hebreu, um dialeto romano do tronco aramaico que, nesse tempo, era usado em toda a Palestina.

Normalmente, nas sinagogas, entrava acom‑panhado de seus discípulos (o que era costume entre os rabis). tomava da mão do servente o rolo das escrituras, na parte já marcada como o texto do dia, — a “Parascha” — e passava então a in‑terpretar o assunto, segundo seu elevado e sábio critério. Mas, justamente por causa dessas inter‑pretações como já o dissemos atrás, é que, desde o primeiro dia, teve de enfrentar a animosidade dos doutores da lei que, conquanto não fossem sacerdotes, consideravam‑se eruditos, teólogos, linguistas, juristas, de maior ou menor renome ou capacidade; e como, em sua maioria, pertenciam ao partido fariseu, tinham grande autoridade e, com sua presença, representavam o oficialismo religioso da capital, o que vale dizer, do sinédrio.

Perceberam logo que Jesus era um pregador perigoso, diferente dos demais, porque pregava de forma heterodoxa, revolucionária; falava com

autoridade própria, possuía saber profundo, e jamais reveren‑ciava ou prestava obediência a qualquer das escolas rabínicas oficiais.

Oferecendo o Reino de Deus, sobre o dos homens, reino de harmonia, paz e justiça, Jesus tinha capacidade para pro‑mover a maior revolução social, dentre as que tinham sido tentadas. De fato: bem distanciada do espiritualismo clássi‑co e das religiões dogmáticas, que até hoje existem, mesmo quando filiadas ao cristianismo, a doutrina que pregava exi‑gia realizações objetivas e imediatas; exigia ação, fatos, re‑

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sultados; não concepções teóricas, filosóficas, cerebrais, mas decisões e transformações íntimas e ações no plano coletivo, exatamente como o espiritismo deve exigir hoje na evangelização de seus adeptos. Por isso Jesus dizia sempre: “pelos frutos conhecereis as árvores e aquela que não der bom fruto deve ser cortada e lançada fora”.

Num país onde a maioria do povo era escravo do salário do dia. Ele pregava a libertação e a igualda‑de espiritual em relação aos pode‑rosos, como irmãos que todos eram, filhos do mesmo Pai, assim devendo proceder uns com os outros. frater‑nalmente. As mesmas idéias que acenderam no mundo terríveis re‑voluções, hoje configuradas em ide‑ologias igualitárias de caráter polí‑tico que levam, entretanto, à eterna dominação do mais forte! Por isso, todos os miseráveis e desvalidos o seguiam e o amavam e seu prestígio aumentava diariamente, baseado na esperança de que sendo Ele o Messias nacional, traria a libertação de Israel do jugo estrangeiro e acabaria com a miséria, a doença e a escravidão.

E os próprios discípulos pensavam assim, tendo sido, portanto, terrível a decepção da quase totalidade deles, quan‑do ouviram‑no dizer que “seu reino não era deste mundo”. E dentre os decepcionados, o maior de todos foi Judas de Kerioth.

A doutrina pregada por Jesus enraivecia o clero judaico, porque ensinava uma religião sem sacerdotes e sem ritos ex‑teriores, que não aceitava nenhum intermediário entre a cria‑tura e o Criador. E dava testemunho disso, porque nem sem‑pre usava os templos para suas preces e pregações; retirava‑se para lugares solitários e ensinava quase sempre a céu aberto. Por isso, tornava‑se odiado pelo clero e por todos aqueles que viviam à custa dos templos.

Além disso, os sacerdotes ensinavam que somente os fi‑lhos de Abraão mereciam as graças do céu, enquanto Ele dizia que todos os homens são filhos de Abraão e que Deus criaria seus filhos até das próprias pedras. De um lado, o privilégio de poucos e o egoísmo de uma raça e de outra, a fraternidade universal! Não a religião dominadora de um pequeno grupo ou de um pequeno povo, que se julgava superior aos demais, mas a religião do homem terreno, universal e eterna. Como aceitar semelhantes heresias e ilusões?

Em sua primeira visita à sinagoga de Cafarnaum sua atitude impressionou fortemente a assistência (como, aliás, sucedia em toda parte onde chegava pela primeira vez). Era praxe que o visitante, convidado a fazer a leitura ou a pre‑gação do dia, se escusasse, só aceitando quando o diretor do culto reiterasse o convite; mas Jesus desprezava formalidades

e, naquele dia, logo que convidado. dirigiu‑se para a tribuna e formulou a prece nos seguintes termos: “Ben‑dito sejas, Senhor, dono do Universo, criador da luz e das trevas, da paz e do amor”; e a situação tomou‑se verdadeiramente dramática quando um dos presentes, tomado pelo espí‑rito, apontando para Ele gritou: “Eu sei quem tu és, rabi de Nazaré: és o Santo de Deus”. E o espanto culmi‑nou quando Jesus, sereno e seguro de si mesmo, ordenou ao espírito que se afastasse do homem, sendo imediatamente obedecido.

Todos perceberam, então, cla‑ramente, que ali estava um profeta legítimo, não de palavras, somente, mas de atos concretos e poderes es‑pirituais fora do comum.

* * *

As curas e “milagres” feitos pelo Mestre em Cafarnaum e em outros lugares, eram aparentemente de processos dife‑rentes: ora impunha as mãos sobre os doentes, ora apelava para sua fé, ora utilizava seu imenso poder de Verbo Divino, dizendo simplesmente: “estás curado”, ou “tua fé te curou”, ou “vai e não peques mais”. Às vezes, por compaixão, curava vários doentes ou um grupo deles, estendendo os braços em sua direção, dizendo: “se tiverdes fé, pensem nos vossos entes queridos, para que eles sejam também beneficiados”; ou ain‑da, operava curas à distância, usando da palavra, como há vários exemplos citados no Evangelho.

É claro que somente Ele poderia fazer tal coisa visto que, em certos casos, libertava o doente ou o obsedado de seus compromissos cármicos, o que não é da alçada de qualquer espírito, por elevado que seja, pelo fato de que nestas curas há interferência nas próprias leis divinas que regulam esses casos.

Por isso, sua fama crescia dia a dia e de toda parte corria gente à sua procura. E quando Ele passava pelas ruas ou pe‑las estradas empoeiradas, o povo saía às portas e as mulheres levantavam nos braços, bem alto, seus filhos pequenos, para que o olhar do Rabi sobre eles pousasse; e muitos atiravam‑se ao chão de olhos postos n’Ele para que, ao passar, sua sombra os cobrisse.

E onde quer que Ele estivesse ou chegasse, rodeava‑o logo a miséria e o sofrimento humanos, suplicando, aos gritos e lamentos tristes, que lhes desse alívio. Por isso, por onde Ele passasse, permanecia, por muito tempo, um halo de luz e de felicidade a iluminar os olhos de todos os que viam e uma esperança nova no peito, sacudindo os corações, sem saberem mesmo muito bem de onde provinham.

Naqueles tempos imperavam as doenças de toda espécie, no seio das famílias pobres, principalmente derivadas da ig‑

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norância e da imundície.Na Palestina as mudanças bruscas

de temperatura, as secas implacáveis, o pó dos desertos e dos terrenos fortemente calcários, como os da Judéia, a ignorân‑cia e a promiscuidade (tão comuns entre os povos orientais), a indolência natural do povo e sua arraigada superstição re‑ligiosa, tudo concorria para que as mo‑léstias se alastrassem e dominassem por toda parte.

A ciência ainda estava na infância; não havia médicos profissionais à dispo‑sição dos pobres e os tratamentos e curas ainda eram mais da alçada de sacerdotes, rabis e curandeiros ou magos, que pulu‑lavam por toda parte, juntamente com as febres, as disenterias, as moléstias de olhos e a lepra.

Quando vemos, nos dias de hoje, so‑bretudo nos ambientes ainda retardados, quando a medicina já conquistou maiores conhecimentos não só sobre a etiolo‑gia como na terapêutica, que a tendência do povo é procurar confiadamente a curandeiros e charlatões, aglomerando‑se à volta deles, esperançados em curas às vezes impossíveis, nada há de estranhável que naqueles dias remotos corressem deses‑peradamente para junto de Jesus que, realmente, tinha pode‑rosos meios de cura e de auxilio.

Nunca se negava, e em todas as oportunidades procura‑va edificar as almas e redimi‑las de si mesmas; e se, agindo,

transgredia as normas, os hábitos e os costumes como, por exemplo, efetuando curas aos sábados, desprezando os exa‑geros das regras sobre a pureza etc., era para demonstrar, ao mesmo tempo em que fazia o bem, que a caridade estava acima dos formalismos estéreis e que, como costumava responder aos fariseus, Ele, como homem, era o senhor do sába‑do e não seu escravo.

Quando limpava os leprosos e man‑dava que se apresentassem aos sacerdo‑tes, era para que o beneficio fosse com‑pleto, porque os sacerdotes eram obriga‑dos a fornecer ao doente atestado de sua cura, cessando seu isolamento em lugares solitários, podendo eles, daí por diante, reintegrar‑se no convívio da família e da sociedade; com isso também demons‑trava que a misericórdia divina, quando

concedida, purificava o corpo e o espírito; e quando devolvia a vista aos cegos, desligando os doentes de suas provações cárrnicas, dizendo‑lhes: “ide e não pequeis mais”, queria ex‑plicar ao povo que as trevas, como todos os sofrimentos, vêm da prática dos erros, da ausência de virtudes e que nestas existe somente claridade.

E até mesmo não levantou de seus esquifes os que se ti‑nham como mortos? Isso foi para provar que a vida é eterna e que os corpos humanos são meras contingências das reencar‑nações punitivas, nos primeiros degraus da escada evolutiva.

Você sabia que...

Benjamin Franklin (Boston 1706 ‑ Filadélfia 1790), estadista e cientista, inventor do pára‑raio, também fazia uma espécie de caderneta pessoal? Ele registrava, diariamente, erros e qualidades para poder ter uma avaliação precisa do seu comportamento e, conseqüentemente, da sua melhora.

Pois é, Franklin definiu como meta ‘chegar à perfeição moral’. Queria eliminar to‑dos os erros que a inclinação natural, o costume ou a convivência com outras pessoas pudessem induzi‑lo a cometer.

Convencido de que quem não consegue mudar a si mesmo, não pode mudar o mun‑do ou alcançar uma vida feliz, resolveu elaborar a sua própria lista e trabalhar com todo o seu espírito prático. Entre as virtudes que selecionou estão as seguintes:

Moderação no comer e beber, silêncio, ordem, economia, simplicidade, decisão fir‑me, trabalho intenso, sinceridade, tranqüilidade.

Como Franklin queria adquirir o hábito das virtudes que havia selecionado, decidiu priorizar, a cada semana, uma delas. A qualidade de ser despretensioso chegou a figurar, com outra denominação entre as virtudes de Franklin. Ele acrescentou mais um item em

sua lista de objetivos: ‘humildade’.Pode‑se dizer que o método de auto‑aperfeiçoamento de Franklin resume‑se em escolher algumas qualidades que deseja‑

mos desenvolver para acelerar a formação do nosso próprio caráter, alcançando mais felicidade e gerando menos desencontro nas relações humanas.

Fonte: revista Planeta

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EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 4

Quando o assunto é assistência espiritual, logo nos lem‑bramos dos passes. Por isso vamos fazer uma reflexão a res‑peito, para que possamos verificar se, às vezes, não estamos nos aprofundando na forma esquecendo a essência.

Utilizamos o método padronizado de passes, ou seja, uma forma racionalizada de se transmitir energias e ema‑nações que possam beneficiar os espíritos encarnados e de‑sencarnados, alvo de nossas intenções, e que visava quando de sua implantação o atendimento de crescente número de assistidos que buscavam consolo nas casas espiritas.

Antes da padronização, o passe era ministrado de forma individualizada, normalmente com o assistido assentado à mesa da reunião e, via de regra, por médium incorporado, o que permitia somente o atendimento de pequeno número de pessoas por sessão.

Com o estudo e orientação dos espíritos responsáveis, como Caibar Schutel e Pasteur, a padronização permitiu preparar todos os médiuns para ministrarem os passes.

Ainda pela padronização, racionalizou‑se a aplicação dos passes, dividindo‑os por categorias que visam facilitar aos médiuns a mentalização e canalização das energias e, até mesmo, destacar para alguns deles os passes com os quais mais se afinam.

Tudo isto, na realidade, serve para substituir a nós mes‑mos, que temos ainda muita limitação em nossas doações e emanações de amor em beneficio do encarnado que pre‑tendemos assistir e expandi‑las aos espíritos vinculados ao mesmo. Senão, bastaria a simples e tradicional imposição de mãos ensinada por Jesus.

Portanto, a evolução na aplicação dos passes está em sua simplificação. Após este período de aprendizado e adap‑tações pelo qual passamos, complexando na forma para aprendermos a praticar o simples.

Resumindo: procurar ampliar a forma, diversificando cada vez mais os passes, mormente para cobrir nossas defici‑ências constatadas nos resultados obtidos é, além de grande equivoco, um retrocesso.

Esperamos iniciar assim uma reflexão sobre forma e conteúdo, meios e fins, procurando imitar nosso Mestre Jesus que proporcionou vários ensinamentos a respeito, es‑candalizando os religiosos de sua época, mas procurando extirpar a chaga da ritualidade e superficialidade, que nos faz perder a essência e nos afasta dos reais objetivos, trans‑formando os meios mais importantes que o fim. O fim, neste caso, é direcionar o ser para a conquista de si mesmo, atra‑vés de sua transformação em um homem de bem.

Hélio Caruzo é trabalhador do FE. Renascer ‑ Regional ABCO Trevo, maio 2009

O PAPEL DO DISCÍPULOValentim Lorenzetti

Segundo mensagem do espírito Simão, no livro A Hora do Apocalipse, da Editora Aliança, estamos na hora de defi‑nições.

Por ser hora de definições, o mau é tão mau e o bom vai se acrisolando em bondade; o impuro mais se chafurda e o puro se purifica; o perverso requinta a própria perversidade e o evangelizado mais se evangeliza, cristifica‑se.

Todos terão de se definir, queiram ou não. A época não comporta os mornos. Hão de ser quentes ou frios. Não há neutralidade em termos cristãos: ou fazemos o bem ou o mal; ou deixamos de fazer o bem, e o mal instala‑se.

O discípulo de Jesus tem de ser o calor das transformações.Ser discípulo, membro da FDJ‑Fraternidade dos Discípu‑

los de Jesus, é opção pessoal, não do dirigente da turma de aprendizes. Isto precisa ficar tem entendido. É opção pessoal. Ao dirigente cabe informar o servidor qual o campo de traba‑lho e testemunhações do discípulo.

Não é a turma que ingressa na FRJ é o servidor que as‑sim o desejou livremente e foi aceito pelo Plano Espiritual.

A FDJ, como fraternidade espiritual, é a fonte de calor e de luz dos discípulos. Seu calor vem da Fraternidade do Trevo e da união dos discípulos encarnados e desencarnados.

Se os discípulos insistirem em isolar‑se, a FDJ perde calor e não terá o que transferir.

Por isso a necessidade de nos unirmos, de trabalharmos até isolados, mas periodicamente nos encontrarmos para nos reabas‑tecer no grande reservatório da FDJ e, ao mesmo tempo, contri‑buir para a manutenção desse reservatório de forças espirituais.

Temos de reativar as seções dependentes da FDJ em cada grupo integrado, para um ponto de encontro periódico dos discípulos originados no centro. E, pelo menos uma vez por ano, nos encontrarmos numa grande reunião regional, para um grande momento de permuta e resbastecirnento.

Dispersos, nos vergamos ao peso das tempestades; jun‑tos, resistiremos e formaremos o grande exército das trans‑tormações que o Cristo comanda.

O discípulo é de Jesus, não da doutrina espírita. A doutri‑na é o grande farol orientador, e o centro espírita nos fornece o ambiente de refazimento.

O discípulo não tem necessariamente de trabalhar no centro ou na obra espírita. Tem de trabalhar para Jesus, onde o seu trabalho se fizer mais necessário. Importa apenas que o trabalho seja disciplinado, continuado, não esporádico.

Hoje, a carência do trabalho fraterno é tão gritante que, diz Bezerra de Menezes, cada semente lançada rende mil por um; há 2.000 anos. Jesus falava em cem por um.

O discípulo não pode esquecer que tem de atuar em duas frentes: 1º) o trabalho continuado consigo mesmo, de reforma íntima, de crescimento em virtudes; 2º) o trabalho em favor do próximo, da sociedade.

Se desenvolvermos apenas uma dessas frentes, nosso tra‑balho terá baixa qualidade. O trabalho em favor do próximo

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EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(8ªturma/GEAEL) 5

As virtudes (X)Ney Pietro Peres — Manual Prático do Espírita

GEAEL

VIGILÂNCIA, ABNEGAÇÃO

Abnegação

A piedade, quando bem sentida, é amor; o amor devotamen‑to; devotamento é esquecimento, esquecimento de si mesmo, e este esquecimento e a abnegação em favor da criatura menos feliz, é a virtude por excelencia, praticada pelo Divino Mestre e ensinada em sua doutrina tão santa e sublime; quando essa doutrina for restabelecida em sua pureza pri‑mitiva, quando for admitida por todos os povos, fará a Terra feliz, fazendo reinar em sua face a concordia, a paz e o amor.Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XIII. “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita” Item 17: A piedade ‑ Michel.

A abnegação é indicativa daquilo que fazemos em favor de alguém, ou de alguma causa, sem interesse próprio, com esquecimento de nós mesmos, ou até com sacrifício do que possa nos pertencer.

Há alguns exemplos na história das civilizações de cria‑turas abnegadas, que se dedicaram ao bem‑estar do próximo, trabalhando de alguma forma para deixar aos homens uma contribuição marcante nas áreas do conhecimento, das desco‑bertas cientificas, das investigações, das religiões, dos direitos humanos, da moral, da caridade etc. Por esse espírito de sa‑crifício próprio deixaram seus nomes aureolados de respeito e admiração.

Na propria história do Brasil rendemos homenagens aos personagens cívicos que colocaram o interesse da nação bra‑sileira acima dos seus e dos das elites da época.

É o que muito nos falta hoje: pureza de intenções, abne‑gação, sacrifício de interesses, renúncia a proveitos pessoais, amor às causas nobres, dedicação às criaturas na miséria, desprendimento dos valores materiais.

Devemos reconhecer, também, que há imúmeros cora‑ções vivendo em silêncio dando extraordinários exemplos de abnegação, sem fazer qualquer menção ao que realizam, ou sem serem identificados publicamente.

Todos temos, no entanto, possibilidades de praticar a ab‑negação, se não integralmente dedicados a uma obra mas, em nosso tempo disponível, procurando algo realizar sem remu‑neração, com desprendimento, dedicados a certas benemerên‑cias ao próximo, de qualquer natureza.

A pratica da abnegação concretiza o exercício da cari‑dade, dever humano que não podemos dispensar de nossas obrigações.

O benefício desinteressado é o único agradavel a Deus. Quem presta sua ajuda aos pequeninos que nada tem, sabe de antemão que não receberá deles agradecimentos ou retribui‑ções. Por essa razão os serviços dedicados aos mais carentes

devem caracterizar a caridade autêntica.Admitimos que também pode‑

mos treinar a abnegação nas peque‑nas coisas, todas as vezes que vo‑luntariamente renunciamos a algo nosso em favor do próximo.

A abnegação é o oposto do egoísmo. Praticando‑a, o comba‑temos naturalmente.

Vejamos, em nossas ativi‑dades corriqueiras, algumas das muitas oportunidades que temos de praticar a abnegação:

a) Dedicando algumas horas do nosso lazer numa atividade assistencial;b) Ministrando esclarecimentos evangélicos as criaturas em aprendizagem;c) Oferecendo graciosamente os próprios serviços profissio‑nais, onde possam ser mais úteis, aos que não os possam pagar;d) Ensinando, sem interesse financeiro, os conhecimentos que detemos em quaisquer áreas;e) Trabalhando no próprio lar, em algumas horas livres, na confecção de roupas e agasalhos para famílias carentes;f) Contribuindo, com trabalho pessoal, no plantão vigilante a familiares ou amigos em convalescença;g) Procurando conduzir o que realizarmos na esfera política ou social em beneficio da maioria desprivilegiada, mesmo sacrificando interesses próprios;h) Indagando sempre, em nossas deliberações administrati‑vas, se estamos atendendo aos princípios de justica, toleran‑cia e bondade para com o próximo;i) Pautando tudo que fizermos nas produções diárias dentro do ideal de perfeição, aprimorando sempre para o melhor ao nosso alcance.

A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crenca ou do mesmo partido? — Não, é imperioso sobretudo abolir o espírito de seita e de partido, pois todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado não busca saber a sua crenca, a sua opinião, seja ela qual for. (Id., ibid. Item 20. Luis.)

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6 28ªaula:Pregaçõesecuras

É natural que, nos dias atuais, muitas criaturas busquem o centro espírita para libertar‑se de determinadas situações que estão obstaculando sua felicidade, como por exemplo, as enfermidades físicas e as perturbações de natureza espiritu‑al. Como célula difusora da misericórdia divina orientada pelos princípios do cristianismo redivivo, o centro espírita não pode desconsiderar esses pedidos de socorro, entretanto alguns cuidados se fazem necessários, para que a instituição não caia no equívoco de desviar‑se de sua real finalidade que é a erradicação das enfermidades que adoecem a alma da criatura humana.

Um ponto importante a ser observado, nos trabalhos que envolvam curas de enfermidades físicas, é que a inter‑venção espiritual não deve ser usada para afrontar a ciência médica convencional, nem tampouco para com ela concor‑rer, mas sim para auxiliá‑la, quando assim for necessário. Em situações especiais, quando a medicina oficial ainda não tenha avançado no conhecimento, tratamento e cura de cer‑tas doenças, ela pode ser utilizada como alternativa viável, sempre com a maior discrição e responsabilidade. Por outro lado não devemos esquecer que as enfermidades guardam estreita relação com os desalinhos de conduta dos pacien‑tes, vivenciados no presente ou em reencarnações passadas. Seu aparecimento é uma reação em resposta às agressões praticadas contra as energias perispirituais inerentes ao(s) órgão(s) afetado(s) e faz parte de um processo, infelizmen‑te doloroso, de reajustamento dessas energias. Entretanto, Deus, no Seu infinito amor às criaturas, inspira o próprio homem, agente dessas agressões, a desenvolver recursos fa‑voráveis à reorganização energética das áreas afetadas, o que favorece a extinção das dores e sofrimentos existentes. A medicina, portanto, deve ser considerada pelos médicos e por todos nós, como uma das maravilhosas expressões da bondade e da misericórdia divina, daí nosso respeito às suas mais variadas formas de atuação nos dois planos da vida.

No que se refere à prática da assistência médica espiri‑tual e aos procedimentos de cura daí decorrentes, é impres‑cindível a discrição e o respeito as recomendações médicas convencionais e aos imperativos legais do exercício da Me‑dicina oficial, principalmente quando a atuação espiritual nessa área guardar similaridade com a prática médica con‑vencional, como as que envolvem o uso de medicamentos alo‑páticos ou intervenção cirúrgica com incisões no corpo físico do paciente.

Em todos os casos não devemos esquecer que as curas decorrentes da intervenção direta dos espíritos só serão pos‑síveis caso os pacientes assistidos possuam, em seu organismo espiritual, as condições necessárias para o restabelecimento

energético dos órgãos perispirituais afetados. Essa predispo‑sição espiritual positiva está intimamente relacionada com as necessidades evolutivas reencarnatórias do paciente, com a sua conduta, o mais íntegra possível, com seu padrão mental (pensamento) e com a adequada compatibilidade entre o ní‑vel de desorganização energético do(s) órgão(s) espiritual(is) afetado(s) e os recursos espirituais que serão empregados no procedimento socorrista . A conjugação dessas condições re‑sulta no surgimento de uma força restauradora de excepcio‑nal magnitude a se irradiar na corrente energética do corpo perispiritual do enfermo, favorecendo a assimilação dos ele‑mentos utilizados pelos benfeitores médicos do outro lado da vida, no procedimento de cura. A falta dessas condições res‑ponde pela ausência de êxito em algumas intervenções dessa natureza. Nesses casos geralmente diz‑se que houve falta de merecimento. Quando Jesus associou as curas que operava fora dos padrões convencionais da medicina de sua época à fé, Ele na realidade deixava subentendido que o restabeleci‑mento da saúde dos que O buscavam só foi possível porque o enfermo, ao direcionar seu pensamento e sua vontade no sentido das energias restauradoras que Ele irradiada, propi‑ciou um ajuste na frequência dessas energias com a do seu organismo enfermo, promovendo assim a restauração do(s) órgão(s) doente(s). Daí Sua recomendação aos curados para que não voltassem a pecar, ou seja, a vincularem‑se às forças desorganizadoras da energética responsável pela saúde da alma e do corpo. Essa é a grande diferença que deve exis‑tir entre o serviço de atendimento espiritual aos enfermos desenvolvido pela casa espírita e aqueles que ocorrem nos ambulatórios e consultórios médicos convencionais. Nestes o foco é o corpo físico, na casa espírita orientada pelas reco‑mendações do genuíno espiritismo, o foco é o espírito.

Vivemos um tempo em que a intercomunicação ente os dois planos da vida cada vez mais se intensifica. Diante dessa realidade cabe ao centro espírita, como célula de difusão e vivência do espiritismo, cumprir com sua tarefa de educar a humanidade para conviver com esse advento. A negligência no seu desempenho resultará em danos consideráveis à cre‑dibilidade do espiritismo na sociedade.

Os tempos são chegados. Façamos corretamente nos‑sa parte para que, ao nos apresentarmos diante do Senhor, no santuário de nossa consciência, possamos dizer: Missão cumprida!

Xerxes LunaFederação Espírita Pernambucana

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É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona‑se esta divina obra;faz‑se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega‑se este admirável código moral ao esquecimento.

Instruções dos espírItos

A fé, mãe dA esperAnçA e dA cAridAde

11. Para ser proveitosa, a fé precisa ser ativa; não deve esmorecer. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, deve zelar atentamen‑te pelo desenvolvimento das filhas que gera.

A esperança e a caridade são uma decorrência da fé. Essas três virtudes formam uma trindade inseparável. Não é a fé que dá a espe‑rança de ver cumprirem‑se as promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, o que esperais? Não é a fé que dá o amor? Que reconhecimento sentireis se não tiverdes fé, e, consequentemente, que amor tereis?

A fé, sagrada inspiração de Deus, desperta os nobres sentimentos que conduzem o homem ao bem. Ela é a base da regeneração. É pre‑ciso, então, que essa base seja forte e duradoura, porque, se a menor dúvida puder abalá‑la, o que acontecerá com o edifício que estiverdes construindo sobre ela? Erguei, pois, esse edifício sobre alicerces inaba‑láveis. Que vossa fé seja mais forte do que a sagacidade e o deboche dos incrédulos, pois a fé que não enfrenta a zombaria dos homens não é a verdadeira fé.

A fé sincera é arrebatadora e contagiante: transmite‑se aos que não a possuíam, ou mesmo a quem não faz questão de possuí‑la. Ela encontra palavras persuasivas que penetram na alma. Ao passo que a fé aparente usa apenas palavras sonoras que nada produzem além de indiferença. Mostrai vossa fé pelo exemplo, a fim de transmiti‑la aos homens. Mostrai, pelo exemplo, vossas obras, para que eles vejam o merecimento da fé. Pregai, com vossa esperança inabalável, para que vejam a confiança que fortalece e dá condições de enfrentar todas as contrariedades da vida.

Tende fé, com tudo o que ela encerra de belo e de bom: com sua pureza, com sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprova‑ção, essa filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo por que o amais. Acreditai em Suas promes‑sas, mas sabendo por que acredi‑tais. Segui nossos conselhos, mas conscientes da meta que vos apon‑tamos e dos meios que vos fornece‑mos para atingi‑la. Crede e esperai, sem jamais esmorecer: os milagres são o resultado da fé. (José, espíri‑to protetor, Bordéus, 1862).

O Evangelho Segundo o EspiritismoCapítulo 19 ‑ “A fé transporta montanhas”.

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O Livro das Revelações

Outras dimensões, outras formas de cons‑ciência: o que parecia imaginação virou re‑alidade.

Um ateu é Deus brincando de esconder consigo mesmo.Sri Aurobindo

A caixa de música sem fio não tem nenhum valor co‑mercial imaginável. Quem pagaria para ouvir uma mensagem enviada a ninguém em particular?

Sócios do industrial norte‑americano David Sarnoff em resposta à sua consulta sobre investimentos num aparelho recém‑inventado, chamado “rádio”, na década de 1920.

Uma nova biologia, uma nova química, uma nova neuro‑logia, uma nova astronomia, uma nova física — uma série de novas ciências nos vai sendo revelada neste inicio de milênio, prometendo para a primeira década do novo século um espe‑táculo de realidades jamais imaginadas.

A nova neurologia, principalmente a partir dos estudos de Carl Pribham, começa a mostrar que o cérebro não fun‑ciona como se pensava, e não passa de um instrumento da consciência.

A nova biologia, com as propostas do inglês Rupert Shel‑drake, começa a mostrar novas realidades sobre a vida, as espécies e suas capacidades de aprendizado.

A medicina avança como nunca na genética e recupera, com acréscimos de modernidade, antigos conhecimentos so‑bre o corpo humano e novas teorias sobre a saúde.

A astronomia observa os limites do Universo e descobre novas fontes para a formação física da vida.

Mas é a física quem lidera essa corrida pelas novas verda‑des e pela busca de um novo conhecimento sobre o Universo e nós mesmos. Entre os pioneiros do novo pensamento da física, destaca‑se o inglês David Bohm, que passou a vida em busca de uma nova cartografia do Universo e de novas reali‑dades.

Bohm está entre os principais teóricos da física moderna. Seu primeiro livro Causalidade e acaso na física moderna (1957) tornou‑se um clássico no campo da mecânica quânti‑ca, sendo utilizado em larga escala nas universidades de todo o mundo, assim como suas outras obras, sobre relatividade e teoria quântica.

Com doutorado em física pela Universidade da Califór‑nia, Berkeley, foi aluno de Robert Oppenheimer, o pai da bomba atômica norte‑americana. Deu aulas em Princeton, na Universidade de São Paulo e no Technon, de Haifa, Israel, antes de se tornar professor de física teórica na Universidade de Londres.

Sua principal teoria é a da Ordem Implicada, desenvolvi‑da e descrita no livro A totalidade e a ordem implicado, em que refuta as afirmações de alguns físicos quânticos, segundo as quais por baixo da realidade visível existe apenas o caos e a falta de continuidade das partículas. Para Bohm o que

existe, na verdade, é uma grande ordem oculta, a Ordem Im‑plicada, fonte de toda a matéria visível no Universo a que ele chama de Ordem Explícita.

Em termos práticos, Bohm sugere que o Universo é mul‑tidimensional. O nível mais visível e superficial desse comple‑xo sistema é o mundo tridimensional dos objetos, espaço e tempo, que Bohm chama de Ordem Explícita. Sua matéria é densa e, para ele, não é fácil entendê‑la com clareza. Infeliz‑mente, diz, é nesse nível que muitos físicos trabalham hoje em dia, apresentando suas descobertas na forma de equações de significado obscuro.

Além de clara e profunda, a teoria de Bohm tem o mérito de poder ser considerada a primeira, em todos os tempos, a revelar e provar, no plano científico, algumas verdades secula‑res que até então podiam apenas ser aceitas e compreendidas pela fé.

A obra de Bohm, é muito extensa e, em grande parte, de difícil acesso para leigos, em virtude dos complexos cálculos matemáticos e conceitos quânticos.

O que você vai ler a seguir são respostas de Bohm, extra‑ídas de várias de suas obras, a perguntas que permitem uma compreensão razoável da nova visão da realidade mostrada em seus trabalhos. Em nenhum momento houve a pretensão de resumir a obra de Bohm, mas apenas oferecer uma vi‑são panorâmica para que, aqueles que tiverem seu interesse despertado pelo assunto, possam ampliar seus conhecimentos com novas leituras em livros ou na Internet. Foi disposta em forma de entrevista imaginária apenas para facilitar a leitu‑ra e a compreensão do pensamento de Bohm. Mesmo sendo a forma uma licença empregada por mim, as “respostas” são transcrições exatas de trechos de seus trabalhos e discursos.*

Pergunta: Seu trabalho é muito vasto e vai desde estudos de física avançada, até filosofia profunda. Como o senhor resumiria o objetivo de seus esforços?

Resposta: Em meu trabalho científico e filosófico, minha principal preocupação foi com a compreensão da realidade, da natureza em geral e da consciência em particular como um todo coerente, o qual nunca é estático ou completo, mas, sim, um infindável processo de movimento e desdobramento.

Pergunta: A realidade da natureza e da consciência formando um todo?

RESPOSTA: Edste relação do pensamento com a rea‑lidade. Como uma obser‑vação cuidadosa pode mosfrar, o pensamento é na verdade um processo de movimento. Isto é, podemos perceber uma fluência no fluxo da consciência semelhante à fluência no movimento da matéria em geral. Portanto, por que o pensamento não faria parte da realidade como um todo?

PERGUNTA: Isso tem implicações profundas em nosso modo de pensar... RESPOSTA: Se alguém pensa na totali‑dade, na realidade, constituída de fragmentos independentes, então é desse modo que sua mente tende

* As “respostas” aqui transcritas foram extraídas das se‑guintes obras: Krishnamurti, J. & D. Bohm, Truth and actuali‑ty, Londres, Victor Gollancz Ltd. 1981; David Bohm & David Peat, Science, Order, and Creativity, Londres, Ark, 1987; e