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Guia de Avaliação do Debate

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Sumário

Alterações de Cada Versão .............................................................................................................. 3

Introdução ....................................................................................................................................... 4

Adjudicador ..................................................................................................................................... 5

Debate ............................................................................................................................................. 7

Papéis Especiais do Debate ............................................................................................................. 8

Definição ..................................................................................................................................... 8

Desafio à Definição ..................................................................................................................... 9

Extensão ................................................................................................................................... 12

Whip.......................................................................................................................................... 12

Discurso ......................................................................................................................................... 14

Tempo de Discurso ................................................................................................................... 14

Avaliando o Uso do Tempo ....................................................................................................... 14

Pontos de Informação ................................................................................................................... 16

Argumentação e Refutação ........................................................................................................... 16

Formas de Expressão ..................................................................................................................... 19

Avaliando o Debate ....................................................................................................................... 20

Resolução de Impasses ............................................................................................................. 21

Decisão da Mesa Adjudicadora ................................................................................................ 21

Adjudicação Oral - Feedback aos Debatedores ............................................................................ 23

Ficha de Acompanhamento .......................................................................................................... 24

Considerações Finais ..................................................................................................................... 24

Anexo – Quadro de Interpretação para atribuição das Notas Finais da Dupla ............................ 26

Anexo – Quadro de Interpretação para atribuição das Notas Finais do Debatedor .................... 26

Anexo – Ficha de Acompanhamento ............................................................................................ 27

Anexo – Ficha de Resolução de Impasses ..................................................................................... 28

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Alterações de Cada Versão

Versão Data Alterações

2017/01 03/05/2017

Alteração das partes “O discurso”, “Argumentação e Refutação”, “Avaliando o Debate” e “Ficha de Acompanhamento”; Alteração da parte “O Desafio à Definição” – o tempo não é mais reiniciado nem quando o desafio passa; Atualização da parte “A Adjudicação Oral”; Correção ortográfica e alteração de termos para remoção de ambiguidades; Alteração do “Anexo – Ficha de Acompanhamento”; Inclusão de “Anexo – Ficha de Resolução de Impasses”;

2016/02 01/07/2016

Alteração das partes referentes ao “desafio à definição” para acompanhar atualização da regra expressa no Manual de Regras do Modelo ParliBrasil de Debates; Atualização das partes “Avaliando o Debate” e “A Adjudicação Oral”; Correção ortográfica e alteração de termos para remoção de ambiguidades;

2016/01 09/04/2016 Inclusão do sumário; Inclusão da “Adjudicação Oral”; Inclusão da “Ficha de Acompanhamento”; Inclusão dos “Anexos”; Correção ortográfica;

2015/02 15/06/2015 Criado a partir do Manual de Regras do Modelo ParliBrasil de Debates;

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Introdução

Um debate, seja qual for, possui considerável carga de questões subjetivas que dificultam sua avaliação. Compreendendo essa característica, os debates competitivos possuem uma série de papéis e funções, que precisam ser realizadas durante o debate e que buscam reduzir a subjetividade das avaliações, cientes de que nunca é possível eliminá-las por completo.

Observa-se, ainda, que o debate competitivo busca em seus participantes, mais do que o simples domínio das técnicas de retórica, a capacidade de compreender e expor ideias, avaliando suas causas, impactos e necessidades em contextos diversificados, além do respeito mútuo e sincero às opiniões divergentes. Nesse sentido, este guia de avaliação foi elaborado para, junto com o manual de regras e o guia de estudos do modelo de debates, auxiliar os juízes a compreender melhor o modelo e suas características, bem como a realizar avaliações mais assertivas e que colaborem para o aperfeiçoamento constante dos participantes dos debates. Sugere-se que sua leitura seja realizada após a do Manual de Regras e do Guia de Estudos.

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Adjudicador

O adjudicador (juiz ou avaliador) de um debate deve sempre ter em mente que os debates são realizados também para contemplar “o cidadão médio/comum”, ou seja, os debatedores não irão discursar para um público alvo de especialistas, mas também não o farão para leigos completos. Portanto, os discursos devem partir da perspectiva de que o ouvinte é um conhecedor médio dos assuntos em pauta, que desconhecerá termos técnicos ou aspectos muito específicos de determinados assuntos, mas que é capaz de compreender as relações lógicas quando bem expostas e assimilar os discursos quando expressos em uma linguagem simples e contextualizada.

É por essa razão que o adjudicador deve despir-se de seus conhecimentos técnicos e eruditos, e buscar avaliar o debate colocando-se como alguém que possuísse apenas conhecimentos básicos sobre o assunto e que necessita ser esclarecido e convencido sobre uma ou outra posição, mas que, ao mesmo tempo, seja questionador, não se convencendo por ideias falhas e mal explicadas. O avaliador deve portar-se como alguém que não se deixa levar por discursos vazios, por mais eloquentes e carismáticos que estes sejam, estando sempre atento aos argumentos, construções lógicas e ideias apresentadas pelos debatedores.

Nota-se que, como cidadão médio, o juiz não deve antecipar linhas argumentativas obrigatórias ou listar de antemão pontos que devem ser cobertos pelos debatedores durante o debate. Ele deve manter-se aberto ao que for apresentado pelos debatedores em seus discursos e não se frustrar com a ausência deste ou daquele assunto. O potencial abstrato da moção é um parâmetro válido que também pode ser explorado pelos debatedores. Cabe ao juiz diferenciar, pelo foco argumentativo, essa escolha estratégica (em tratar a moção de forma mais ampla), ou a preferência por uma determinada perspectiva da moção, da falta de domínio sobre a temática da moção. Em regra, a argumentação pobre de alguns debates se deve à não exploração do potencial abstrato da moção, mas o debate pode ser rico mesmo sem explorar argumentos que o juiz imaginava serem imprescindíveis.

Uma vez que o adjudicador se coloca no papel do “cidadão médio”, ele não deve avaliar os argumentos com base em conhecimentos técnicos que apenas especialistas conheçam bem. Ele deve considerar os argumentos pela construção lógica e explicação que os debatedores fazem em seus discursos, buscando identificar se os argumentos apresentaram, de maneira acessível, os conhecimentos mínimos necessários para compreensão das ideias defendidas.

Por outro lado, os adjudicadores não podem se furtar de, identificando um argumento claramente inverídico ou falacioso, avaliá-lo como tal, ainda que o conhecedor médio não fosse capaz de identificar esta diferença. O debatedor deve procurar convencer e informar a audiência, não podendo, para isso, distorcer conhecimentos ou utilizar-se de subterfúgios e inverdades que prejudiquem o bom andamento das discussões. Um debatedor pode explicar, por exemplo, os prejuízos de uma deflação para a sociedade sem adentrar em fórmulas ou conceitos avançados de economia, mas não poderia tentar convencer a plateia, valendo-se de seu provável desconhecimento econômico, de que uma deflação extrema seria um indicador positivo da economia do país.

É imprescindível, na avaliação, que os adjudicadores considerem apenas aquilo que efetivamente foi dito pelos debatedores (nunca o que “se quis dizer”) e se aquilo seria compreendido satisfatoriamente pelos ouvintes, sem deixar que o conhecimento pessoal do avaliador pese positiva ou negativamente. Durante o debate, o adjudicador deve ficar atento a

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saltos lógicos e linhas argumentativas incompletas nos discursos apresentados. É importante que os debatedores construam suas ideias e argumentos através de um raciocínio lógico completo, que deixe explícito para a plateia como e por quais razões as premissas apontadas levam às conclusões argumentativas. Dessa forma nem os espectadores, nem os adjudicadores, precisaram, por conta própria, completar lacunas ou assumir alguma condicionante para reconhecer a validade dos argumentos apresentados.

Outro ponto que não deve ser considerado na avaliação é a opinião pessoal do juiz. Assim como os debatedores não defendem suas convicções pessoais no debate, mas lados definidos por sorteio, é imprescindível que os avaliadores deixem de lado suas posições pessoais e se permitam serem alcançados pelos diferentes discursos, para assim definirem qual dupla melhor expôs ideias e construiu linhas argumentativas que convençam a audiência.

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Debate

Duas perguntas devem estar na mente dos adjudicadores ao final do debate: “Esse foi um bom debate?” e “Qual dupla melhor contribuiu para a qualidade do debate?”. A primeira pergunta auxilia a perceber se os participantes conseguiram conquistar a atenção da plateia, se apresentaram um discurso de qualidade, se cumpriram bem os papéis do debate e se as duplas de fato apresentaram e refutaram ideias e argumentos de maneira lógica e coerente. A segunda busca identificar qual dupla trabalhou melhor suas linhas argumentativas, levantando e elucidando aspectos importantes da moção debatida, conseguindo refutar sem contradições ou desvios os argumentos da posição contrária e apresentando à audiência motivos e raciocínios que elevassem seus conhecimentos sobre o tema e lhes permitisse chegar a conclusões lógicas.

Repare que o principal é a qualidade do debate apresentado pelas duplas e o quanto cada dupla consegue alcançar e convencer a plateia com sua apresentação. É um erro comum acreditar que o único ponto relevante de um debate são os discursos. Ainda que a maior parte do tempo de atuação de cada participante seja gasta com o discurso e ele seja o principal objeto de avaliação do debate (um membro que realiza um bom discurso provavelmente faz parte de uma dupla bem preparada e que terá uma boa atuação), ele não é o único elemento da avaliação.

A atenção dos membros aos discursos dos outros competidores, a formulação de pontos de informação relevantes e a capacidade de identificar os principais aspectos das linhas argumentativas expostas ao longo do debate e retomá-las em seus discursos, seja para usá-las de suporte a suas próprias linhas argumentativas ou para refutá-las com objetividade, são quesitos importantes que devem ser avaliados durante o debate. Além da atuação individual, o desempenho da dupla deve receber especial atenção dos avaliadores. É preciso identificar se os discursos dos membros da dupla se complementaram e criaram um único grande raciocínio acerca do tema, se nenhum dos membros ficou sobrecarregado em seu discurso enquanto o outro teve pouco sobre o que falar, se as duas apresentações conseguiram manter a atenção da audiência e se esta percebeu a relação entre os dois discursos da dupla e foi convencida por seus argumentos.

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Papéis Especiais do Debate

A grosso modo, todos os participantes devem apresentar argumentos que suportem suas posições e raciocínios, refutar os argumentos das posições contrárias e apresentar e responder pontos de informação. Contudo, no debate, cada participante assume uma função específica (descritas com detalhes no Guia de Estudos) a qual deve pautar a organização dos discursos. Dentro dessas funções existem alguns papéis especiais que precisam ser representados e que conferem dinâmica e variedade ao debate. Esses papéis têm dois objetivos principais: o primeiro é auxiliar na construção de um debate de conteúdo, direcionando os participantes a construir linhas argumentativas coerentes e de qualidade para que não caiam em embates puros de habilidades retóricas deixando o conteúdo em segundo plano; o segundo é trazer dinamismo, diversidade e interação ao debate, propiciando um debate fluido e uma narrativa rica que possibilita que diferentes linhas argumentativas sejam confrontadas na progressão dos discursos.

Definição

Antes de qualquer outra coisa, é preciso deixar claro que a definição não é o discurso do Primeiro Membro da Defesa. A definição é um papel que deve ser cumprido durante o discurso. Um debatedor que se limite a “definir” a moção no primeiro discurso, não cumpriu corretamente sua função. O mesmo vale com relação à Extensão e ao Whip e seus respectivos responsáveis.

A definição, que compete ao Primeiro Membro da Defesa realizar, deve esclarecer e definir termos necessários ao debate da moção, estabelecer os problemas aos quais a moção se refere e apresentar, quando for o caso, a proposta da defesa para abordar o problema. Peguemos por exemplo a seguinte moção: “Esta Casa acredita que nenhum cidadão deva ser obrigado a lutar e morrer por seu país”. Existem diferentes debates que podem ser realizados sobre a moção. Podemos debater o compromisso do Estado de não envolver seus cidadãos em conflitos desnecessários ou o direito dos cidadãos de se recusarem a lutar nos conflitos em que o país se envolva. O debate pode versar mais sobre princípios e valores (se é certo ou não pedir que as pessoas se enfrentem em guerras) ou focar em medidas mais práticas (a extinção de forças militares regulares ou criação de leis que impeçam os governantes de iniciarem ou envolverem o país em guerras). É a definição que determina qual rumo, entre os diversos possíveis, o debate seguirá.

Uma vez que a definição determina o contexto do debate e que todos os participantes devem respeitar esse contexto, os avaliadores devem estar atentos para identificar com clareza quando uma ou outra linha argumentativa foge à definição. Retomando o exemplo anterior, se a definição esclarece que a moção estabelece um debate sobre o fim do alistamento militar obrigatório, um debatedor que fale sobre o fim das forças armadas pode estar fugindo à definição apresentada. Obviamente, espera-se que os debatedores percebam essas situações e as contra argumentem em seus discursos, mas o avaliador precisa reconhecer e pontuar devidamente esses casos (principalmente elucidando essas questões na adjudicação oral e feedback aos competidores).

Além de delimitar o debate, é importante que a definição indique a relevância do mesmo para a audiência. Em outras palavras, é preciso mostrar por que a moção em pauta é importante e por que as pessoas (plateia) deveriam se posicionar sobre o assunto. Normalmente nesse ponto o Primeiro Membro da Defesa deve apontar quais problemas a moção proposta busca resolver e por que esses problemas demandam atenção nesse momento. Se pensarmos novamente na moção utilizada como exemplo anteriormente, podemos ter diferentes motivações ao debate. Uma delas poderia ser solucionar um conflito de valor entre a liberdade e uma obrigação imposta aos cidadãos

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de se colocarem em situações de risco. Outra poderia ser a ineficiência das forças armadas causada pelo alistamento de pessoas contra suas vontades.

Uma forma interessante de analisar a definição é observar se ela responde as seguintes questões: “Por que este debate deve ocorrer? (Quais os problemas ou valores importantes a serem debatidos e por que eles merecem nossa atenção neste momento?)” e “O que especificamente será debatido? (Qual o contexto e para quais situações esse debate se aplicará? O que se quer ao trazer a moção para debate?)”. Nas vezes em que a moção ou a definição requererem alguma medida ou ação a ser posta em prática (aprovação de uma lei, execução de uma obra, alteração em um procedimento atual, entre outros exemplos), a definição também precisará responder uma terceira pergunta: “Como essa medida ou ação será realizada? (Em quanto tempo e com qual vigência? Quais os pré-requisito para colocá-la em prática? Quem serão os envolvidos, afetados e beneficiados?)”. Se a definição conseguir sanar essas dúvidas ela cumpriu bem o seu papel.

Desafio à Definição

Até o momento se falou sobre os aspectos que tornam uma definição boa ou ruim. Contudo, haverá momentos em que a definição se mostrará não razoável, ou seja, será uma definição que inviabilizará o debate de conteúdo. Quando, por qualquer razão, uma definição não razoável for apresentada ela se tornará passível de desafio pelas próximas duplas do debate (conforme indicado nas regras do modelo).

A definição será considerada não razoável em quatro situações:

- Quando não possuir ligação clara e lógica com a moção: A definição, como já dito, pode limitar o escopo do debate e até mesmo direcioná-lo ao dar significado claro a termos ambíguos, mas não pode, nesse processo, alterar o debate proposto pela moção, afastando-se do tema central sugerido pelo texto da moção ou, por vezes, invertendo os papéis esperados (pelo cidadão médio) de defesa e oposição. Para exemplificar, imaginemos que a moção seja “Esta Casa legalizaria o aborto no Brasil”. A definição pode estabelecer que o debate tratará apenas de aborto até o terceiro mês de gestão, ou que o aborto legal seria apenas aquele realizado em clínicas especializadas e com acompanhamento psicológico das pacientes. É fácil observar que, ainda que delimitem o debate, elas não perdem a relação direta com a moção, nem subvertem o debate por ela proposto. Por sua vez, caso a definição pretenda limitar a legalização do aborto apenas quando esse fosse realizado por “pílulas do dia seguinte” ou aos casos de estupro da mulher, a definição não será razoável. No primeiro caso de definição não razoável, esta perde sua ligação lógica com a moção ao retirar do debate o que se entende comumente como aborto. Essa definição restringe o debate a favor de uma específica dupla, deturpando os conceitos e o propósito da moção e voltando-a para uma discussão conceitual sobre se a “pílula do dia seguinte” é abortiva ou não, e perde relação com o tema central da moção. O segundo caso apontado, não é razoável porque, uma vez que o aborto em casos de estupro já é legal no Brasil, a definição vai de encontro ao sentido semântico da moção ao propor legalizar aquilo já é legal. Mencionamos casos difíceis, mas em várias situações a relação lógica com a moção se perde totalmente por falta de domínio do assunto. Moções que saem completamente da temática são tradicionalmente apelidadas de “squirrels”.

- Quando for auto evidente: A definição é auto evidente quando não for possível refutá-la ou quando ela for baseada na existência ou não de algo que não possa ser refutado. Ao impedir a refutação, a definição auto evidente impede todo o debate de ocorrer, já que ele pressupõe o confronto de ideias e opiniões divergentes. Moções auto evidentes são conhecidas como truísmos,

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que são constatações empíricas irrefutáveis, como seria o caso de uma definição que limitasse a moção da legalização do aborto somente aos abortos naturais. Outro tipo de definição não razoável por auto evidência é a moção fundada em absolutos transcendentais, como, por exemplo, definir uma moção contrária à legalização do aborto com base em leis espirituais e divinas.

- Quando remeter a outro contexto temporal que não o atual: A definição, assim como todo o debate, deve ter em consideração a sociedade atual, seus costumes e características. Dessa forma, se a definição tenta pautar o debate nas características da sociedade de gerações passadas, ou especular sobre as das gerações futuras ela compromete o debate argumentativo de qualidade. Nesse ponto, é importante lembrar que é possível que um evento ou competição traga moções e estimule debates em contextos históricos diferentes do atual, mas, nesses casos, deve existir disposição expressa na moção a esse respeito. De qualquer forma, a definição deve respeitar o contexto temporal previsto no texto da moção, a contextualização provida pelas regras do torneio ou, na falta desses, o presente.

- Quando limitar espacialmente de forma injusta o debate: A definição pode limitar o contexto do debate, e muitas vezes é importante que o faça. Contudo, ela não pode restringir o debate a uma localidade geográfica ou política a qual não se espera que os competidores tenham considerável conhecimento a respeito. Podemos pensar na moção “Esta casa acredita que medidas de isenção fiscal são benéficas à economia” aplicada em diferentes eventos. Em um torneio nacional, com competidores de diferentes localidades do país, uma definição a essa moção não pode querer restringir o debate às isenções aplicadas no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, justamente pelo fato de que muitos dos competidores podem não conhecer as condições e características desse local específico. Por outro lado, se essa moção está sendo apresentada em um evento com temática específica sobre essa região ou em um debate na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), é de se esperar que os participantes tenham conhecimentos suficientes para que essa definição seja razoável.

Os adjudicadores devem reconhecer as definições não razoáveis para:

- Pontuar o impacto negativo da definição no debate: Uma definição não razoável sempre representará um aspecto negativo na apresentação da dupla. Compete aos avaliadores verificar o quanto essa definição afetou o debate, a apresentação das demais duplas e se ela ocorreu por despreparo ou má fé dos competidores (mensurando adequadamente cada caso na avaliação final).

- Deliberar sobre o desafio à definição: Espera-se que os próprios competidores identifiquem uma definição não razoável e que aspectos a tornam não razoável. Ainda assim, caberá aos adjudicadores decidirem se o desafio procede ou não.

Explicando em detalhes como se dá o desafio à definição: O primeiro membro da defesa apresenta em seu discurso uma definição que pode ser considerada não razoável. O primeiro membro da oposição – caso tenha identificado a provável falha grave na definição – no início do seu discurso (e não durante o discurso da defesa), se dirigirá a mesa indicando que solicita o desafio a definição e apresentará brevemente as razões, por ele identificadas, que tornam a definição não razoável. Após ouvir as razões do primeiro membro da oposição, a mesa congelará o tempo de discurso do orador e deliberará se acata ou não o desafio. Acate a mesa ou não o desafio, o tempo do orador continua de onde parou e ele agora deve apresentar uma definição nova para pautar o debate. Caso o desafio não seja acatado, o orador deve continuar seu debate sem alterar a definição. A mesa somente pode avaliar a não razoabilidade da definição fundamentando-se nas

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razões apontadas pelo desafiante. Não é necessário que ele saiba citar a regra na qual se encaixa a não razoabilidade, mas é sim necessário que identifique o ponto correto pelo qual a definição não é razoável. Em outras palavras a mesa só acata o desafio se as razões apresentadas pelo desafiante forem de fato aquelas que tornaram a definição não razoável. Quando o desafiante apresenta razões erradas ou não relevantes o desafio não é acatado.

Esses procedimentos se replicam para os demais membros do debate caso eles precisem realizar um desafio no momento de seus discursos. A regra sobre oportunidade para desafiar uma definição é a seguinte: Cada dupla tem a oportunidade de desafiar cada definição proposta apenas no discurso de seu membro que discursar primeiro após a definição ser apresentada. Por exemplo, caso o primeiro membro da oposição desafie a definição apresentada pelo primeiro membro da defesa e, após ter seu desafio acatado, substitua-a por outra definição não razoável, o segundo membro da primeira dupla de defesa também poderá desafiar essa nova definição seguindo os mesmos passos descritos acima. Em uma outra situação, caso o primeiro membro da oposição não desafie uma definição não razoável, o terceiro membro da defesa (primeiro membro da segunda dupla de defesa) poderá solicitar o desafio, mesmo que a definição não razoável tenha sido proposta pela sua própria bancada. Por outro lado, se o primeiro membro da primeira dupla de oposição perde a oportunidade de desafiar a definição apresentada pelo primeiro membro da defesa, sua dupla, o segundo membro da oposição, não poderá mais fazê-lo.

Observem o seguinte exemplo:

Moção: “Esta casa legalizaria o aborto”

Definição: “Devido ao crescente número de agressões sexuais na periferia das cidades do interior do Acre e, consequentemente, ao assustador aumento de mulheres, vítimas de estupro, que morrem ao se submeterem a procedimentos clandestinos de aborto, esta casa deve se posicionar a favor da legalização do aborto em casos de estupro ocorridos nos municípios do Acre.”.

Desafio ‘a’: “Solicito o desafio à definição por ser esta, tal como apresentada, auto evidente uma vez que não se pode refutar o aborto em casos de estupro”

Desafio ‘b’: “Solicito o desafio à definição por ser esta, tal como apresentada, limitada espacialmente uma vez que não se pode esperar que todos presentes, nesse debate da Universidade do Rio Grande do Sul, estejam aptos a debater sobre as condições e caraterísticas particulares das cidades do interior do Acre e não possuir ligação lógica com a moção, já que não se pode legalizar o aborto em uma circunstância em que ele já é legal”

A definição não é razoável, mas o desafio ‘a’ não consegue identificar corretamente os aspectos que tiram a razoabilidade da definição. Dessa forma o desafio ‘a’ não seria aceito, enquanto o desafio ‘b’ seria.

Ressaltando uma vez mais: é preciso ter bem clara as diferenças entre uma definição não razoável (passível de desafio) e uma definição ruim (não passível de desafio). Ambas comprometem a qualidade do debate, mas a primeira indica uma falha mais grave que impede o debate de conteúdo, enquanto a segunda “apenas” dificulta o debate.

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Extensão

A extensão deve ser realizada pelo Terceiro Membro da Defesa e Terceiro Membro da Oposição. Quando se encontrar em uma dessas posições, o debatedor deve apresentar um novo contexto ou uma nova perspectiva para o debate, distintos daqueles apresentados pelas duplas de abertura.

Contudo, a extensão é mais do que apresentar uma nova linha argumentativa, ela deve mostrar a abrangência do debate, ressaltando uma vez mais sua importância e dando uma noção complementar ao impacto que terá em vários cenários distintos. A extensão tem por objetivo oferecer dinamismo ao debate, evitando que os debatedores fiquem “dando voltas” em um mesmo aspecto do debate.

Para elucidar melhor, podemos analisar a moção: “Esta casa acredita que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 foi benéfica para o Brasil”. Digamos que a abertura da defesa tenha falado sobre os benefícios econômicos gerados durante a copa: mais turistas, aquecimento das vendas de televisores, renovação do setor hoteleiro no país. A extensão do Terceiro Membro da Defesa poderia, então, falar sobre os benefícios a longo e médio prazo: maior divulgação do país no exterior que acarretaria mais investimentos no futuro, o Brasil passando a figurar como local adequado para futuros eventos esportivos ou culturais, a forma como a Copa modificou positivamente a indústria do turismo tornando-a mais atrativa para futuros visitantes. Caso a definição permita, a extensão pode falar de benefícios para o esporte ou para as relações diplomáticas do país, uma vez que a dupla de abertura focou os benefícios econômicos.

Identificar o cenário dos principais argumentos apresentados pelas duplas é uma boa maneira de avaliar se a extensão foi bem realizada. Uma dupla foca seus argumentos nos problemas e efeitos a curto prazo, enquanto outra foca nas consequências a longo e médio prazo. Identificar as “pessoas envolvidas” (stakeholders) que pautam os argumentos de cada dupla, é outra forma de perceber a realização da extensão. Enquanto uma dupla, retomando a moção exemplo, fala dos benefícios às empresas brasileiras, a outra procura apontar os benefícios à sociedade ou ao governo. Por último, identificar os problemas, valores ou questões centrais das apresentações das duplas auxilia na identificação da extensão. Uma dupla apresenta os benefícios econômicos, e a outra apresenta os benefícios políticos.

Whip

O whip é um momento de elucidação do debate para o espectador. Compete ao Quarto Membro da Defesa e ao Quarto Membro da Oposição, após mais de 40 (quarenta) minutos de debate, retomar criticamente aquilo que foi apresentado ao longo do debate. O whip não deve repetir os argumentos e explicações dos discursos anteriores, mas exibir à plateia quais os pontos centrais apresentados por cada parte (e onde e como se deu o conflito entre esses pontos), como as refutações foram eficazes ou não ao descontruir as ideias levantadas e por quais razões um ou outro lado se saiu melhor ao defender sua posição. O termo chave para avaliar o whip é “confronto de ideias”. Os debatedores devem, no whip, expor de forma clara à plateia quais foram as ideias principais que nortearam o debate, como elas se enfrentaram e porque os argumentos de uma bancada prevaleceram sobre os argumentos da outra.

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Os debatedores que realizam o whip não podem trazer ao debate novos argumentos, contudo é importante destacar que isso não o impede de apresentar informações ou elementos não mencionados anteriormente no debate. A vedação é exclusivamente a argumentos positivos (propositivos) – premissas inteiramente novas. É indispensável, na verdade, que ele complemente e reforce argumentos apresentados por sua dupla e por sua bancada, muitas vezes, inclusive, adicionando dados novos que foram questionados pelo adversário anterior e que ficariam fora do debate se não pudessem ser apontados pelo último debatedor da bancada. Veja-se, porém, que se trata sempre de complementação, especificação, aprofundamento, reinterpretação, fundamentação ou ilustração de argumentos já postos. Contar um caso e dar nova referência a um argumento da bancada é não só permitido como instigado.

O orador que fará o whip deve estar atento a todos os discursos, identificar os pontos principais, as falhas e os equívocos das linhas argumentativas, reconhecer os conflitos de linhas argumentativas entre os lados do debate e analisar de que forma as apresentações da sua posição foram mais relevantes no convencimento racional da plateia. Em outras palavras, os quartos membros fazem, no whip, uma “avaliação” tendenciosa do debate. Por essas razões, os juízes precisam reconhecer no debate todos os aspectos que os quartos membros devem explorar no whip, tanto para avaliar a qualidade do whip quanto para avaliar o debate em si.

O whip não deve ser, no entanto, uma mera síntese esquemática do debate. Ele deve conter também as razões finais e determinantes pelas quais os argumentos e propostas da bancada devem ser apoiadas por todos os presentes e porque os problemas inerentes à moção são mais bem resolvidos por eles. O whip deve focar-se mais nas ideias e valores que nortearam os argumentos de cada bancada do que nos argumentos em si, além concluir o debate e não apenas “transcrevê-lo”.

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Discurso

O discurso é a principal forma de apresentação dos participantes do debate. É nele que os membros realizarão os papéis que lhe competem, responderão pontos de informação e estruturarão seus argumentos e suas refutações.

Os juízes devem observar se os discursos foram bem organizados e estruturados. É comum imaginar o discurso como uma listagem de argumentos e refutações que deve ser percorrida dentro do tempo estabelecido. Contudo, o bom discurso funciona como um pequeno texto, com início, meio e fim bem delimitados, e onde consegue-se construir uma relação lógica entre os sucessivos pontos abordados. Deve-se considerar também que, além de possuírem uma boa organização individual, os discursos dos dois membros da dupla devem ser complementares um ao outro e coerentes com o da bancada.

Tempo de Discurso

Cada orador terá a sua disposição 7 (sete) minutos para realizar seu discurso, com o tempo sendo contabilizado a partir do momento em que ele iniciar sua fala. Uma vez iniciada, a contagem do tempo só será interrompida caso a mesa precise deliberar sobre um desafio à definição ou caso algum acidente ou imprevisto incontornável ocorra no local do debate. A mesa avaliadora é responsável por controlar o tempo de discurso dos participantes, realizando as sinalizações sonoras necessárias.

São, a princípio, 3 (três) sinalizações ao longo do discurso. A primeira é dada quando discurso completa 1 (um) minuto de duração e indica que a partir daquele momento os demais participantes podem propor pontos de informação ao orador. A segunda sinalização é dada ao final do sexto minuto de discurso, indicando que não podem mais ser solicitados pontos de informação. A terceira indica o fim dos 7 (sete) minutos regulares do discurso.

Ao sinal do sétimo minuto, o debatedor deve prontamente concluir o seu raciocínio e não iniciar um novo argumento. O tempo adicional para que o debatedor conclua seu pensamento é de 15 (quinze) segundos. A partir dos 7’15” (sete minutos e quinze segundos) o presidente da mesa dará início à quarta sinalização sonora, para indicar ao orador que daquele momento em diante nada do que for apresentado será considerado na avaliação. Assim, tudo o que for dito a partir desse momento deverá ser desconsiderado pela mesa e o orador deverá ser “penalizado” por descumprimento das regras.

Normalmente utiliza-se um sinal sonoro simples para a primeira e segunda sinalização, um sinal duplo para a terceira e um sinal constante ou persistente para a quarta. O importante é que as sinalizações sejam audíveis, para que todos os participantes as identifiquem claramente durante os discursos, mas que não desconcentrem o orador ou roubem a atenção da plateia.

Avaliando o Uso do Tempo

O debate busca avaliar e desenvolver nos participantes suas capacidades de síntese e de análise. Deseja-se que eles consigam expor pontos importantes do tema debatido de forma clara, concisa e com o devido aprofundamento.

O que caracteriza o bom uso do tempo de discurso e, portanto, deve ser considerado na avaliação dos juízes é se, no tempo em que discursou, o participante:

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• Explorou bem os argumentos apresentados, sem deixar dúvidas ou pontas soltas em seu raciocínio;

• Deu início, desenvolveu e concluiu satisfatoriamente as ideias a que apresentou;

• Refutou os argumentos apresentados pela bancada oposta;

• Cumpriu corretamente os papéis que lhe cabiam;

• Disponibilizou tempo hábil para que ao menos dois pontos de informação lhe fossem solicitados, aceitos e respondidos.

Como se pode imaginar, é improvável que algum debatedor consiga realizar todos esses pontos em “3 (três) minutos de discurso”. Contudo, é importante ter em mente que o tempo gasto, não é, por si só, a métrica utilizada para avaliar o bom uso do tempo. O ideal é verificar o quanto orador contribuiu para o debate dentro do tempo utilizado, realizando o descrito acima. Dessa forma, não é raro, por exemplo, ter debatedores que em 5 (cinco) ou 6 (seis) minutos façam uso melhor e mais eficiente do tempo do que oradores que falam 7'15" (sete minutos e quinze segundos). Isso é: um debatedor pode ser melhor em 5 (cinco) minutos do que outro em 7 (sete), o que não significa que não haja espaço para melhora em ambos.

A leitura dos juízes deve levar em consideração o que o debate requereu/possibilitou, o que o debatedor fez no tempo utilizado e se a sobra de tempo comprometeu sua participação no debate. Justamente para instigar os debatedores a se aperfeiçoarem e a alcançarem o máximo de seu potencial, recomenda-se que todos cumpram ao menos 6 (cinco) minutos de discurso. Qualquer debatedor que não alcance nem mesmo essa marca, deverá ser punido na proporção com que a má utilização do tempo prejudicou sua participação no debate. O caso mencionado acima, em que um orador contribuiu muito para o debate em 5 (cinco) minutos, até mais do que outros que utilizaram o máximo de tempo disponível, é justamente um exemplo de uma punição por mau uso do tempo que deveria ser leve ou levíssima, a depender do caso.

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Pontos de Informação

Os pontos de informação são intervenções diretas na apresentação de quem está discursando. Normalmente, aparecem na forma de questionamentos ao orador sobre algum ponto de seu discurso. Não precisam ser necessariamente perguntas, podendo aparecer como pedidos de esclarecimento ou especificação a cerca de referência, fonte ou dado, aprofundamento de um determinado ponto ou cobertura de outro que foi deixado de lado, ou ainda trazer um questionamento implícito, sendo propostos na forma de uma correção ou alerta. O que não se permite é que os pontos de informação se tornem interferências no discurso alheio para que o proponente discurse, esclareça ou reinterprete um ponto do debate. Na dúvida, o juiz deve se perguntar: “quem está utilizando o tempo de discurso?”. O ponto de informação correto é aquele que demanda com mais ênfase que esse papel seja representado por aquele que está discursando, mesmo que a pergunta ou interjeição agregue informação ao debate.

Os pontos de informação só podem ser solicitados entre o primeiro e sexto minuto dos discursos, respeitando-se a sinalização da mesa. Eles só podem ser solicitados ao lado oposto do debate, ou seja, um debatedor da defesa só deve solicitar pontos de informação durante os discursos da oposição e vice-versa. Solicitar ou aceitar pontos de informação fora do período apropriado ou de membros da mesma bancada deve ser entendido pelo juiz como descumprimento / desconhecimento das regras e dos papéis no debate.

Os pontos de informação devem ser analisados quanto a sua objetividade e relevância para o debate. Ao avaliar um ponto de informação, os juízes devem questionar o quanto o ponto de informação contribuiu para o debate, qual o efeito que produziu na argumentação do debatedor e da bancada oposta e qual o efeito que produziu para a argumentação da própria bancada. Pontos de informação com decisiva influência no debate devem ser recompensados, enquanto pontos de informação prejudiciais ou que ajudem o lado oposto impactam negativamente a avaliação da dupla.

As duplas não são obrigadas a solicitarem pontos de informação em todos os discursos da bancada oposta, assim como os debatedores não precisam aceitar e responder todos os pontos de informação solicitados, mas é importante que nenhum deles se omita a essa função. Portanto, é importante estar atento para avaliar de maneira correspondente aqueles debatedores que, mesmo tendo sido solicitados, não aceitam pontos de informação, assim como aquelas duplas que, ao longo do debate, se omitem de solicitar pontos de informação.

Argumentação e Refutação

No debate competitivo, o debatedor possui 7 (sete) minutos de discurso para cumprir os papéis que competem a sua função, responder pontos de informação, refutar os argumentos do lado oposto e apresentar seus próprios argumentos. Não se pode esperar, portanto, que o participante apresente um número “sem fim” de argumentos que suportem sua posição. O principal que se espera de um debate são argumentos bem trabalhados e elucidados para o público e não a enumeração de argumentos não explicados que buscam apenas “apresentar a maior quantidade possível de argumentos”. Feita essa ressalva, os adjudicadores devem levar em consideração:

• A qualidade da argumentação apresentada – importância, centralidade, poder de persuasão, solidez, embasamento, aprofundamento, força e coerência;

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• A quantidade e diversidade dos argumentos;

• O potencial abstrato da moção e as nuances argumentativas que requer/possibilita;

• A função que cabe a cada debatedor e seu potencial argumentativo;

• O rumo concreto tomado pelo debate e as necessidades ou impossibilidades enfrentadas pelos debatedores.

Deve-se levar em consideração principalmente a importância que o argumento teve para o debate, ou seja, se o argumento: foi decisivo para o debate; pautou o discurso dos demais debatedores; influenciou opiniões favoráveis à bancada ou suscitou dúvida nas opiniões desfavoráveis; e se foi ou não refutado. Além disso, devem ser considerados melhores argumentos que trazem referências teóricas, estatísticas ou até mesmo “pessoais”, por meio de casos e ilustrações que aproximem o debatedor da plateia.

Quando falamos em argumento no debate competitivo, na verdade, estamos nos referindo à linha argumentativa como um todo. A simples citação de um fato, ideia ou valor não são considerados argumentos dentro do debate competitivo.

O argumento no debate deve identificar os problemas e os contextos aos quais ele se aplica. Além disso precisa identificar as pessoas envolvidas com o tema da moção que estão contemplas e/ou são “afetadas” pelo argumento. É importante ainda que os argumentos sejam ilustrados por exemplos, uma vez que estes auxiliam os ouvintes a contextualizar melhor as ideias defendidas pelo orador.

Veja-se o exemplo a seguir:

Moção: “Esta Casa defende a redução dos impostos sobre produtos importados”

Argumento da defesa: “Reduzir impostos sobre importações incentiva as indústrias nacionais a melhorarem a qualidade de seus produtos”

Para que a dupla consiga fazer dessa ideia um argumento válido e completo dentro do debate competitivo ela deve:

- Apontar o problema ao qual o argumento se relaciona: “Devido à alta carga tributária, os produtos importados, ainda que melhores, não oferecem concorrência aos nacionais. Dessa forma, a indústria nacional fica em posição confortável no mercado, perdendo ou reduzindo seu interesse em melhorar a qualidade de seus produtos.”;

- Mostrar quem são os principais envolvidos e interessados (stakeholders) em relação ao argumento: “O consumidor, que busca preço e qualidade, acaba sendo obrigado a escolher baixo preço (optando pelo produto nacional) ou qualidade (adquirindo o importando), mas nunca os dois ao mesmo tempo. A própria economia nacional perde com essa situação, já que, satisfeitos com o mercado interno, as empresas brasileiras não investem em expandir seus negócios para o exterior, o que contribuiria para a melhora dos índices econômicos do país.”;

- Explicar o cerne de sua ideia (o argumento em si): “Ao reduzirmos os impostos sobre produtos importados estes se tornam competitivos frente aos nacionais, tornando-se de fato uma opção de consumo para a sociedade. Para manter seus rendimentos e se manter viva no mercado, a indústria nacional deverá se tornar mais eficiente e produzir bens com elevados padrões de

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qualidade. Isso levará a produtos nacionais com preços menores e qualidade maior, atendendo o anseio dos consumidores. Por sua vez, com mercado interno mais competitivo, as indústrias nacionais vão procurar expandir seu nicho de consumidores, investir no mercado externo e aumentar, por fim, a participação nacional na economia global.”;

- Apresentar exemplos que tragam o argumento do plano das ideias para o plano terreno, facilitando a assimilação dele pelo público: “No Chile, antes da implementação das medidas de abertura econômica e redução da carga tributária sobre importações ocorridas nos anos 80 e 90, as indústrias de bens de consumo, em especial a indústria têxtil, investiam menos de 0,5% de suas receitas em renovação das fábricas e aperfeiçoamento da produção. Hoje, a média de investimento na melhoria da qualidade dos produtos chilenos é de 7% do faturamento”.

Trabalhar bem um argumento demanda, além da organização das ideias, tempo para explicar cada aspecto relevante. Por isso, não podemos esperar dos participantes 10 (dez) ou 15 (quinze) argumentos por discurso. Na verdade, contribui mais para a qualidade do debate a dupla que apresenta 3 (três) ou 4 (quatro) argumentos aprofundados e bem explicados do que aquela que meramente cita 10 (dez). Note-se ainda que é possível apresentar vários argumentos complementares ao argumento principal, à premissa: “Reduzir impostos sobre importações incentiva as indústrias nacionais a melhorarem a qualidade de seus produtos”. Fazer referências a exemplos em que isso é comprovado não é um argumento novo e autônomo, mas um argumento vinculado e dependente do principal. Deve-se ter isso em mente principalmente quando da avaliação do whip, pois lhe é proibido a apresentação de novos argumentos positivos (propositivos), mas não complementares.

Assim como a argumentação, a refutação deve ser bem explicada para o público. É importante que ela aponte sob quais aspectos o raciocínio proposto pela outra parte é falho, como os opositores desconsideraram efeitos negativos importantes das ideias por eles suportadas ou como o argumento proposto não soluciona os problemas principais relacionados à moção.

São inúmeras as formas de refutação, havendo aquelas mais adequadas para cada tipo de argumento. Os raciocínios dedutivos, por exemplo, podem ser refutados por argumentos lógicos capazes de identificar falácias ou sofismas. Os argumentos empíricos podem ser refutados, entre outros, por novos argumentos empíricos ou por questionamentos relativos à fonte, à base de dados ou ao modelo estatístico. Da mesma forma, argumentos de valor podem ser refutados por novos argumentos de valor, fundamentados ou complementados por quaisquer dos tipos de argumentos mencionados acima.

Para avaliar a refutação, é importante distinguir três tipos básicos de contraposição a um argumento: (a) mera contra argumentação; (b) refutação propriamente dita; (c) inversão do argumento. Na mera contra argumentação, que é a mais fraca forma de refutação em sentido amplo, apenas se oferecem argumentos contrários que reduzem a importância e o poder de persuasão daquele argumento. Na refutação propriamente dita, descontroem-se os fundamentos do argumento apresentado, demonstrando-se um erro lógico na construção argumentativa ou a impropriedade de uma das premissas que embasam o argumento. A inversão do argumento, por sua vez, é a demonstração de como, na verdade, o argumento não carece de força, fundamentação ou validade, mas, sim, é na verdade um argumento contrário à tese defendida pela bancada que o propôs e até mesmo favorável à tese da bancada que refuta.

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Formas de Expressão

Tão importante quanto os argumentos explorados pelos debatedores é a forma como tais argumentos são apresentados para o público – uma apresentação ineficiente é tão ruim quanto uma argumentação vazia. A oratória e a postura dos debatedores durante seus discursos são grandes instrumentos para impactar o auditório.

Quando avaliarem as formas de expressão, os juízes devem estar atentos tanto para a estrutura com que a matéria é organizada quanto ao estilo adotado na exposição, ou seja, a forma da oratória com que esse discurso é transmitido à audiência. Contato visual, gestos, pausas durante o discurso, alterações no tom e no volume da voz são alguns elementos de estilo que devem ser utilizados pelo debatedor, fornecendo ênfase aos argumentos mais importantes e cativando a atenção da plateia. Contudo, se usados em demasia ou nos momentos errados podem surtir efeito contrário, tornando o discurso cansativo e desinteressante. Da mesma forma, a linguagem utilizada no discurso merece atenção. Termos que fujam ao conhecimento geral ou que pertençam a uma área muito específica do conhecimento podem tornar o discurso, apesar de correto, confuso, devendo ser avaliados negativamente, posto que o ideal é utilizar sempre uma linguagem mais simples, clara e objetiva.

Assim, é papel do adjudicador avaliar se a postura e oratória do debatedor contribuíram para o desenvolvimento de sua participação no debate. É preciso observar, contudo, que não existe uma “Fórmula Padrão” a ser seguida, devendo ser respeitadas as diferenças de estilo, sotaques, pequenos regionalismos, entre outros, que não atrapalhem a apresentação do debatedor.

Por fim, pequenas anotações podem ser utilizadas durante os discursos para auxiliar o debatedor a lembrar partes importantes da matéria a ser apresentada, preservando a estrutura do discurso e evitando que o participante se perca durante sua apresentação. Sua utilização excessiva (quando o debatedor fica “preso” às anotações levadas à frente) é desencorajada, pois prejudica o bom andamento do debate – que se torna mera “leitura de texto”. Os adjudicadores precisam ser capazes de identificar se o uso de tais notas favoreceu ou não a apresentação do debatedor, avaliando tal quesito positiva ou negativamente, dependendo do caso.

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Avaliando o Debate

Para avaliar o debate, o juiz deve se perguntar se o auditório (e o cidadão médio) recebeu informações de elevada qualidade que lhe proporcionaram melhor entendimento sobre o tema em debate e lhe capacitaram a decidir sobre uma ou outra posição. A dupla que melhor contribui para o resultado citado é a que deve vencer a disputa.

A mesa adjudicadora, ao final do debate, retira-se para a sala designada ou permanece na sala pedindo a todos os presentes para se retirarem. Aos adjudicadores é reservado o tempo de 15 (quinze) a 25 (vinte e cinco) minutos, dependendo da situação (evento ou torneio), após o debate para deliberação e avaliação do debate. É importante que esse tempo não seja extrapolado. Adjudicações muito longas tendem a se desviar das questões principais tornando-se mais suscetíveis a erros. Além disso é preciso disponibilizar tempo para realizar a adjudicação oral (feedback) com os debatedores. Para garantir que a avaliação seja realizada no tempo disponível e sem o comprometimento da qualidade, é imprescindível que os juízes estejam atentos a todo o debate e tomem nota dos principais aspectos, positivos e negativos, identificados ao longo dos discursos.

Com privacidade, a mesa adjudicadora avalia em conjunto, por meio de deliberação bem fundamentada, a participação de cada uma das duplas no debate. O objetivo primeiro dessa avaliação é comparar o desempenho das duplas ao longo do debate, identificando uma vencedora e, quando for o caso, determinando a colocação de cada uma delas. Usualmente, nas fases classificatórias determina-se a colocação de cada uma das duplas no debate e dessa colocação se extrai a pontuação das duplas no torneio.

Para chegar a esse resultado, a mesa deve considerar mais do que a avaliação independente dos discursos de cada membro e deve evitar reduzir o desempenho da dupla como uma simples média de desempenhos individuais isolados. Não é possível, porém, separar a avaliação das duplas da participação individual de cada um de seus membros. Na verdade, a fonte principal dos elementos avaliados é justamente o discurso de cada um dos debatedores, ainda que a avaliação não possa ser reduzida a eles.

Estabelecer um procedimento deliberativo que permita balancear a avaliação do debate, da dupla e de cada debatedor individualmente é uma missão complicada e para a qual há diversas estratégias possíveis que melhor se adequam à história de cada debate concreto. Quanto mais experiente o adjudicador, mais tende ele a ser capaz de adequar o melhor procedimento deliberativo a cada caso concreto. Todas essas estratégias, porém, podem se adequar a uma estrutura geral recomendada para a deliberação, a qual deve ser realizada por meio dos passos abaixo na seguinte ordem:

• Visão Geral: Como foi o debate? Qualidade geral do debate, visão geral da história do debate e identificação das participações mais importantes: argumentos, refutações e sínteses.

• Avaliação Geral das Duplas: Avaliação comparativa das duplas visando a estabelecer suas colocações. Separar imediatamente as duplas nitidamente discrepantes positiva ou negativamente. Ao final desta análise é comum restarem 1 ou 2 impasses ou empates aparentes.

• Resolução de impasses: Desempate entre duplas muito equiparadas. Deliberação detalhada e comparativa da participação das duplas recorrendo às anotações e observações de cada

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adjudicador quanto ao cumprimento de cada um dos critérios avaliados. Se permanecer o empate ficto entre as duplas, deve-se desempatá-las.

Resolução de Impasses

Cada debate tem uma história concreta própria segundo a qual se tornam mais importantes: argumentos e refutações centrais, disputas diretas entre uma dupla e outra, pontos de informação, a ordem das duplas ou uma série de outros fatores pertinentes aos debates competitivos. Recomenda-se reconhecer tais fatores e identificar se influenciaram consideravelmente o debate para tentar resolver o impasse.

Recomenda-se também uma análise comparativa da participação individual de cada debatedor. A organização dos eventos pode oferecer fichas para a solução de impasses. Em qualquer caso, a decisão deve ser tomada com base nas impressões da mesa adjudicadora e segundo a história concreta de cada debate. As fichas de solução de impasse, mesmo que não vinculem a decisão final, são um bom medidor concreto da diferença na qualidade das participações de cada debatedor e também uma boa ferramenta para reduzir a subjetividade da adjudicação.

Decisão da Mesa Adjudicadora

Espera-se que a decisão final sobre o resultado do debate seja tomada por consenso entre os juízes da mesa. Atingir uma decisão consensual é sempre possível se os avaliadores se mantiverem abertos tanto ao diálogo quanto a reavaliar suas impressões sobre o debate. Contudo, não havendo consenso, a decisão pode ser tomada pela maioria dos juízes, tendo o presidente da mesa o voto de qualidade em casos de empate. Vale aqui ressaltar que decisões consensuais não são melhores ou piores daquelas decidias por votação, ela apenas indica uma menor divergência de opiniões com relação ao debate. Ressalta-se também que mesmo que seja possível decidir por maioria contra o presidente da mesa, deve-se considerar que a organização costuma escolher os presidentes de mesa com base em sua experiência e qualidade. Recomenda-se, portanto, que os adjudicadores respeitem o presidente e considerem suas observações, especialmente quando julgarem inevitável discordar dele.

Pode-se dizer, de forma a facilitar a avaliação do debate, que adjudicação deve estar atenta a 5 (cinco) aspectos nas apresentações das duplas.

O primeiro deles é a argumentação. Nesse aspecto considera-se tanto os argumentos a favor da posição (argumentos positivos) quanto os argumentos construídos como forma de refutação. Avalia-se aqui o quanto os argumentos foram bem explorados, o quanto foram saturados (aprofundados) e o quão relevante eles se mostraram para o debate.

O segundo aspecto pelo qual passa a avaliação é o embasamento dos argumentos (referência). Aqui avalia-se o conteúdo que é apresentado para fundamentar ou contextualizar os argumentos: a qualidade e a pertinência dos exemplos utilizados, a origem e a confiabilidade dos dados apresentados, a indicação das referências, autores, pensamentos e filosofias que endossam os argumentos.

O terceiro é o raciocínio, aspecto da avaliação que se preocupa com a estrutura do discurso, com a compreensão do debate e da atuação estratégica do debatedor. Avalia-se aqui se o discurso é bem organizado ou se apresentasse como ideias segmentadas e difusas. Nesse ponto a coerência e vínculo entre os argumentos são avaliados, assim como o poder de refutação da dupla. Avalia-se aqui também a refutação aos argumentos da bancada oposta. Nesse aspecto também se

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consideram os pontos de informação solicitados e a resposta dada aos pontos de interrogação aceitos. Quando essas respostas são apropriadas pelo restante do discurso a ponto de se transformarem em um argumento positivo próprio, esse argumento advindo da resposta deve ser avaliado no quesito argumentação.

O quarto aspecto é a oratória, que se ocupa da forma como os discursos são apresentados. Com relação a avaliação da forma de expressão dos debatedores, chamados sinteticamente de oratória, os adjudicadores devem estar atentos para considerarem em suas avaliações apenas os aspectos realmente relevantes para o debate relacionados à postura e apresentação do debatedor. O uso de regionalismos ou expressões típicas, quando fizerem parte da maneira natural de expressão do debatedor não devem impactar na sua avaliação, enquanto o uso de termos cuja finalidade é claramente uma representação para melhor compreensão do discurso ou para causar algum impacto no discurso devem ser analisados. A forma como a postura e a gesticulação do debatedor é utilizada para dar mais ênfase aos argumentos ou como esses mesmos elementos podem distrair a atenção da plateia enquanto o debatedor discursa devem ser foco da atenção dos adjudicadores. Por outro lado, as formas como os debatedores naturalmente andam, sentam ou se posicionam para acompanhar os demais debates não devem ter lugar na avaliação, excetuando-se os casos em que estes são claramente expressão descaso, desinteresse e, principalmente, desrespeito para com os demais participantes do debate, adjudicadores e plateia.

Por fim, as regras, o quinto aspecto, por meio do qual se avalia, o cumprimento dos papéis pertencentes a cada uma das funções do debate, o uso do tempo, a aceitação e a solicitação de pontos de informação e, eventualmente, conforme for o caso, as ofensas a outros debatedores, nos termos do Manual de Regras.

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Adjudicação Oral - Feedback aos Debatedores

Após a avaliação, os juízes apresentam os resultados aos debatedores, indicando a colocação de cada uma das duplas e apresentando um breve feedback, onde explicarão as razões principais que os levaram a tal decisão. Nota-se que os debates competitivos são mais do que uma mera competição, posto que servem como verdadeira ferramenta de aprendizado e valorização do debate de conteúdo e da construção do raciocínio lógico.

Mesmo que não sejam anunciadas as colocações de cada dupla no debate, a adjudicação oral deve apresentar as razões que embasaram as colocações das duplas (mostrando onde uma dupla se sobressaiu às demais), as principais observações sobre cada debatedor ou dupla (pontos fortes e fracos) e de que forma eles podem melhorar suas atuações individuais e em dupla.

É importante que a adjudicação oral aponte como se apresentaram as argumentações de cada dupla dentro do debate, se foram bem fundamentadas e exploradas, como elas se relacionaram e como foi o desempenho de cada dupla nesse aspecto. Ainda que as argumentações tenham sido parelhas e outros aspectos tenham se mostrado mais determinantes para a decisão dos adjudicadores, tecer comentários sobre esse aspecto do debate contribui para o crescimento crítico e a valorização da argumentação crítica, embasada, aprofundada e bem transmitida (que é um dos objetivos principais dos debates competitivos).

O adjudicador, além de avaliador da performance alheia, é também um auxiliar na formação dos debatedores enquanto cidadãos críticos e futuros formadores de opinião.

Por vezes, dada a limitações de tempo, é impraticável que os adjudicadores exponham todos os pontos e observações que gostariam. Nessas situações deve-se priorizar, além da argumentação do debate, como já exposto, as falhas mais graves e as melhores qualidades (que servem de referência positiva para todos). Deve-se ainda dar preferência para sugestões e dicas que contribuam para uma melhora dos debatedores a curto prazo, possibilitando que se aperfeiçoem no curso do próprio torneio.

Dentro das sociedades ou grupos de debates, ou mesmo em eventos de formação e treinamento, onde o tempo não seja um limitador tão grande, os adjudicadores podem se permitir comentários mais minuciosos. Sugerir alternativas ou mesmo fontes para estudo e treinamento são ações indicadas e que contribuem bastante para o crescimento dos debatedores.

É importante que os feedbacks não se limitem a considerações sobre a retórica e oratória dos debatedores. Os adjudicadores devem auxiliar os debatedores a construir bons argumentos, identificar falhas de argumentação e mostrar melhores formas de abordar ideias e construir o pensamento lógico. Na busca pelo aprimoramento do debate de conteúdo, comentários sobre a construção argumentativa dos debatedores mostram-se mais interessantes do que aqueles direcionados ao refinamento da oratória.

Por fim, ainda que os conhecimentos técnicos específicos dos juízes não possam ser considerados durante a avaliação do debate, eles são mais que bem-vindos durante o feedback, auxiliando os debatedores a entenderem melhor assuntos que são, muitas vezes, complexos.

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Ficha de Acompanhamento

Para realizar uma boa avaliação, os adjudicadores precisam ser capazes de retornar, com segurança e clareza, aos pontos principais do debate, tendo sido eles proferidos no primeiro ou no último discurso. Para tanto, cada juiz utiliza as ferramentas que melhor lhe facilitem o trabalho, como anotações ou esquemas visuais.

Nos eventos do IBD, sugere-se aos adjudicadores a utilização da "Ficha de Acompanhamento" (anexo), desenvolvida para auxiliar os juízes a fazerem anotações mais assertivas sobre os principais aspectos de avaliação do debate e para que novos adjudicadores se familiarizem mais facilmente com função de avaliador.

A ficha está dividida em cinco grandes áreas que correspondem aos cinco principais aspectos da avaliação do discurso:

Argumentação:

Nesse espaço sugere-se aos adjudicadores a fazerem anotações sobre os argumentos apresentados nos discursos e, principalmente, sobre a qualidade e aprofundamento dos mesmos;

Referência:

Para anotações sobre os dados, exemplos, fontes, histórias e citações utilizadas para reforçar, embasar e contextualizar os argumentos apresentados;

Raciocínio:

Anotações sobre as refutações apresentadas a argumentos da bancada oposta, a estrutura de cada discurso, suas contradições e coerência com a dupla e com a bancada, a clareza e estrutura lógica dos argumentos, pontos de informação oferecidos (aceitos ou não) e respostas a pontos de informação;

Oratória:

Para considerações sobre o bom uso da voz, gestos, base e movimentação, olhar, expressões, linguagem e empatia com público (envolvimento com o público, discurso acessível à plateia e que converse diretamente com seus anseios);

Regras:

Para avaliar o cumprimento dos papéis do debate, o respeito ou desvios às regras do modelo.

Considerações Finais

Assim como os debatedores aperfeiçoaram suas habilidades a medida que praticam e participam de mais e mais debates, os adjudicadores também melhorarão e refinarão suas capacidades de análise do debate competitivo conforme conheçam melhor o modelo de debates e se dedicam a essa delicada e importante função. Contudo, independente da experiência prévia, é importante que os adjudicadores se perguntem, na avaliação do debate, como e quanto cada um contribuiu para a construção de um debate de ideias e conteúdo, valendo-se de argumentos bem fundamentados e sem apelar para simples técnicas de retórica.

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O adjudicador deve ter sempre em consideração que as colocações e conceitos (e notas) que ele atribui a cada participante é um pequeno detalhe do seu papel, mesmo em competições e torneios. Mais importante que isso, o feedback que ele fornece aos debatedores é o que torna a experiência do debate competitivo diferenciada, por permitir que, ganhando ou perdendo, todos possam aperfeiçoar suas habilidades, além de conhecer e aprender a contornar seus pontos fracos (seja como oradores, formadores de opinião ou, simplesmente, cidadãos críticos). Essa característica é ainda mais significativa dentro das atividades das sociedades e grupos de debates.

O adjudicador deve ver-se não como um crítico ou especialista a procura do melhor discurso, mas sim como um professor ou treinador em busca de tornar melhor cada um dos seus alunos e colegas. O debate competitivo não busca a identificação dos melhores, nem a separação dos mais qualificados. Ele se propõe a construir um ambiente de aceitação das diferenças e de aprimoramento das virtudes. É imbuindo-se desse espírito de diversidade e aprendizado que devem encontrar-se debatedores, adjudicadores e todos os envolvidos no debate.

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Anexo – Quadro de Interpretação para atribuição das Notas Finais da Dupla

Conceitos e Notas finais das duplas atribuídos após adjudicação conjunta

Anexo – Quadro de Interpretação para atribuição das Notas Finais do Debatedor

Conceitos e Notas finais individuais atribuídos após adjudicação conjunta

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Anexo – Ficha de Acompanhamento

Nome do Debatedor:

Argumentação Referência

Raciocínio Pontos de Informação:

Função: □1D □1O □2D □2O □ED □EO □WD □WO

Oratória Regras

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Anexo – Ficha de Resolução de Impasses

1 - 1a Defesa 2 - 1a Oposição

Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

3 - 2a Defesa 4 - 2a Oposição

Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

5 - Extensão Defesa 6 - Extensão Oposição

Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

7 - Whip Defesa 8 - Whip Oposição

Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Argumentação: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Referência: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Raciocínio: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Oratória: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim

Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim Regras: ( ) Bom ( ) Médio ( ) Ruim