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01 Guia de Campo da Ilha de Santa Catarina Guia de Campo na Ilha de Santa Catarina Curso de Capacitação SMC - Brasil Editado por Rafael Schernoveber Campanhola Ana Paula da Silva Charline Dalinghaus Antonio Henrique da Fontoura Klein Adaptado de: “Santa Catarina Island Field Trip Guide 8th International Coastal Symposium (ICS2004)“ Quarta-feira, 12 de julho de 2017

Guia de Campo - Curso Capacitação SMC Brasil · Vista do centro de Florianópolis e as baías norte e sul. ... problemas de circulação, ... através de imagens de sonar de varredura

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Guia de Campo na Ilha de Santa Catarina

Curso de Capacitação SMC - Brasil

Editado porRafael Schernoveber Campanhola

Ana Paula da SilvaCharline Dalinghaus

Antonio Henrique da Fontoura Klein

Adaptado de:“Santa Catarina Island Field Trip Guide

8th International Coastal Symposium (ICS2004)“

Quarta-feira, 12 de julho de 2017

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LITERATURA CITADAABREU DE CASTILHOS, J. J.; KLINGEBIEL, A. & GRÉ, J. C. R. - Les plages deL'Ile de Santa Catarina (Brésil): un systéme sedimentaire evolutif etprecaire. In: Coastal Zone 95/Bordomer. Resumés...Bordeaux, p.1-3, 1995.ABREU DE CASTILHOS; J.J.;GRÉ, J. C. R.& KLINGEBIEL, A. - Problèmesd'amenagement et de gestion des plages dans l'Ile de Santa Catarina- Brésil et ses environs. In: BORDOMER-97, Bordeaux, 1997. Resumés...Bordeaux, UNESCO.p562BARLETTA, R., THIESEN, S., NICOLAU, A.P.S., BONANATA, R. e NORONHA, M.A.M, No Prelo. Análise Hidrodinâmica e de Transporte de Sedimentos Para Elaboração de Alternativas de Recuperação da Praia da Armação do Pântano do Sul - Florianópolis/SCBIGARELLA, J. J. (1975a) Structures developed by dissipation of dune and beach ridge deposits. Catena. Giessen, 2(1-2):107-152.BIGARELLA, J. J. (1975b) Lagoa dune field, State of Santa Catarina, Brazil - A model of eolian and pluvial activity. Boletim Paranaense de Geociências. Curitiba, 33:133-167.CALLIARI, L.J. (coord.); Asmus, M.L.; Reis, E.G.; Tagliani, C.R. 2001. Gerenciamento costeiro integrado. Trocas e inter-relações entre os sistemas continental e oceânico adjacente. NEMAR - Núcleo de Estudos do mar/UFSC. FURG, CIRM, DOALOS/ONU V. 1 320 p. (PROGRAMA TRAIN-SEA-COAST BRASIL). CARUSO JR., F. 1993. Mapa geológico da ilha de Santa Catarina. Notas Técnicas, 6, 39-50.CRUZ, O. 1998. A Ilha de Santa Catarina e o continente próximo: um estudo de geomorfologia costeira. Florianópolis-SC: UFSC.DALBOSCO, A.L.P., 2013. Análise Histórica da Linha de Costa e dos Padrões Hidrodinâmicos e de Transporte de Sedimentos da Praia da Armação, Ilha de Santa Catarina – SC: Universidade Federal de Santa Catarinal, Dissertação de Mestrado em Engenharia Ambiental, 211p.DALINGHAUS, C., 2016. Análise da Estabilidade da Forma em Planta e Perfil das Praias da Barra da Lagoa ,Moçambique e Ingleses, Florianópolis -SC: Aplicações em Análise de Perigos Costeiros: Universidade Federal de Santa Catarina, Dissertação de Mestrado em Geografia, 200p.DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL DNPM., 1986. Mapa geológico do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, Brasil: DNPM, scale 1:500,000, 1 sheet.DIEHL, F.L. and HORN FILHO, N.O., 1996. Compartimentação geológico - geomorfológica da zona litorânea e planície costeira do estado de Santa Catarina. Notas Técnicas, 9, 39-50.DUARTE, G.M., 1981. Estratigrafia e evolução do Quaternário do plano costeiro norte da ilha de Santa Catarina: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação de Mestrado em Geociências, 279p.HORN FILHO, N.O.; LEAL, P.C.; OLIVEIRA, J.S. de. 2001. Guias das praias arenosas da ilha de Santa Catarina, Brasil. Proceendigs of the 1th Congresso do Quaternário de países de línguas ibéricas (Lisboa, Portugal, GTPEQ, AEQUA, SGP), pp.207-209.MARTIN, L.; SUGUIO, K.; FLEXOR, J.M. and AZEVEDO, A.E.G.de., 1988. Mapa geológico do Quaternário costeiro dos estados do Paraná e Santa Catarina: DNPM Série Geologia. Seção Geologia Básica, scale 1:200,000, 2 sheets.PINTO, M.W., 2015. Evolução Morfodinâmica em Escala Histórica do Campo de Dunas Santinho-Ingleses no Norte da Ilha de Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, Dissertação de Mestrado em Geografia, 169p.PORPILHO, D., 2015. Padrão Morfológico e Sonográfico da Plataforma Continental Interna Adjacente ao Setor Leste da Ilha de Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, Dissertação de Mestrado em Geografia, 137p.02 23

ITINERÁRIO DA SAÍDA DE CAMPO

Durante a saída de campo é planejado a visita a seis pontos abrangendo desde o sul até o norte da ilha de Santa Catarina, são eles: (1) Morro da Cruz, (2) Via Expressa Sul, (3) Praia da Armação, (4) Praia da Barra da Lagoa, (5) Praia dos Ingleses e (6) Centro de Florianópolis (Figura 1).

Figura 1. Localização das paradas durante a saída de campo (Adaptado de Imagens Google, 2017).

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PARADA 1- MORRO DA CRUZ

Vista Oeste Desta vista do Morro da Cruz, é possível ter uma ampla visualização dos setores noroeste, oeste e sudoeste, que são a frente da cidade. Parte da baía norte pode ser vista contendo diversas ilhas. Uma pequena parte da baía sul também aparece. O estreito ponto de conexão entre as duas baías é conhecido como Estreito, onde as pontes estão localizadas, as quais também podem ser vistas (Figura 2).

Figura 2. Vista do centro de Florianópolis e as baías norte e sul. Foto: Charline Dalinghaus (2017).

Três pontes conectam a ilha ao continente (uma, atualmente desativada - a ponte Hercílio Luz). Nesta vista urbana a falta de espaço livre é notória. O rápido crescimento da população trouxe sérios problemas de circulação, o qual está sendo contornado através da constante expansão e construção de prédios, aterros e rodovias. Tais obras de engenharia também objetivam melhorar a infraestrutura da cidade representada pela adição de terminais de transporte, estações de tratamento de esgotos, centro de convenções e estacionamentos.

Figura 3. Centro Sul, Centro de Convenções de Florianópolis. Na imagem destaca-se a inundação desta região devido a maré alta amplificada pela ação do vento sul. Foto: Fernando Mendes (2016).

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Vista Leste

Da vista leste do alto do Morro da Cruz (232m) para o norte é observado o embaiamento onde o manguezal do Itacorubi (Figura 4) e sua bacia hidrográfica estão localizados. Por causa da baixa energia de onda e ventos fracos, águas calmas permitem o desenvolvimento de marismas nas suas margens onde predomina a Gramineae Spartina alterniflora. Tais condições são também favoráveis ao desenvolvimento da vegetação do manguezal, que, por causa da sua relativa altura, constitui uma cobertura continua e densa ocupando toda a parte estuarina da bacia hidrográfica (CALLIARI et al., 2001). Embora seu aspecto geral lembra uma continua e bem estruturada floresta, é visível que o ecossistema é altamente impactado pelas atividades relacionadas ao homem, sendo notada uma área desenvolvida de residências com ruas pavimentadas que claramente invadem o espaço do manguezal. Desta vista, a grande avenida (Avenida da Saudade), que conecta as praias da porção norte à porção leste da ilha também pode ser observada. Ao dividir o manguezal em duas partes, a avenida afeta a circulação de água, causando eutrofização do manguezal e de alguma forma impactando a vegetação, como pode ser visto na fronteira oeste do manguezal.

Figura 4. Vista leste do Morro da Cruz. Foto: Charline Dalinghaus (2017).

Figura 22. Píer na década de 50, antes da realização do aterro. Foto: Banco de imagens Casa da Memória

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Figura 20. Mercado Público na década de 50, antes da realização do aterro. (Fonte: florianopolisantiga.wordpress.com)

Figura 21. Praça Fernando Machado, ao fundo, antigo trapiche Miramar (1939). Foto: Banco de imagens Casa da Memória

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PARADA 9 - CENTRO DE FLORIANÓPOLIS

A figura 19 mostra a baía sul depois da realização do aterro. Esta obra foi realizada na década de 70 e hoje em dia desempenha um excelente papel melhorando o sistema viário da ilha, assim como abrigando diferentes obras de infraestrutura da cidade como: terminais urbanos, estações de tratamento de esgoto, centro de convenção e estacionamentos.

Figura 19. Vista da área aterrada da baía sul, centro de Florianópolis. Foto: Helio Cabral (2010).

O centro da cidade ainda abriga edificações de séculos passados. Em 1896, o antigo Mercado Público foi demolido após décadas de funcionamento e, apenas dois anos mais tarde, em 1898, o Mercado Público que conhecemos atualmente foi inaugurado em Florianópolis (Figura 20). Na praça Fernando Machado que ficava o Miramar (Figuras 21 e 22), famoso trapiche municipal, que desapareceu com o aterro da Baía Sul. O Píer foi inaugurado em 1928 com o objetivo de melhorar as travessias de barco entre a Ilha e o continente.

PARADA 2 - VIA EXPRESSA SUL

A rodovia expressa “Via Expressa Sul“ foi construída próxima ao manguezal do Rio Tavares e na fronteira do embaiamento “Saco dos Limões” e “Pirajubaé”. Na intenção de conectar a rodovia ao centro de Florianópolis, a construção de dois túneis, dois aterros e diversos viadutos foram planejados. A primeira parte do aterro hidráulico (construído de setembro de 1996 a maio de 1999) que atinge até a desembocadura do Rio Tavares tem uma extensão de 4,5km e uma

3 largura de 250m. Para aterrar, 7.780.000m de areia do banco Tipitinga localizado a 2,2km da costa foi dragado (Figura 5).

Figura 5. Vista aérea do buraco deixado no banco Tipitinga (Adaptado de Imagens Google, 2017).

O aterro hidráulico foi construído sobre um banco de moluscos bivalves - Anomalocardia brasiliana - que durante muitos anos foi explorado por pescadores. Depois do aterro hidráulico, a população desses moluscos bivalves foi reduzida. A importância do trabalho de engenharia é inquestionável, visto que tornou viável a já caótica conexão entre a área urbana de Florianópolis e a parte sul da ilha. Porém, sendo que a intenção foi aumentar o fluxo de veículos, uma possível questão é se o problema poderia ter sido resolvido apenas através de viadutos, que teria sido o mais ecologicamente correto. Um pouco mais ao sul se situa o aeroporto, que foi construído sobre uma ampla área da planície do Quaternário. As pistas foram construídas sobre áreas de manguezal e barreiras arenosas.

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Figura 6. Vista do pier na Via Expressa Sul, com destaque para os espigões que, ao aprisionarem sedimento, tornaram possível a recuperação do manguezal nessa área. Foto: Charline Dalinghaus (2017).

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Porpilho (2015) por sua vez analisou a Ponta dos Ingleses através de imagens de sonar de varredura lateral e observou a presença de megaondulações tanto na parte central quanto norte. O perfil dessas megaondulações indicou que estas migram em sentidos opostos devido às suas inclinações, sendo assim possível notar também presença de correntes em sentidos opostos, as quais acabaram por gerar estas feições e acumular sedimento entre elas.

Figura 18. Transporte de sedimento ocorrendo através da ponta dos Ingleses. (Porpilho, 2015).

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LESESPARADA 3- PRAIA DA ARMAÇÃO

Em abril e maio de 2010 a Praia da Armação do Pântano do Sul sofreu um acelerado processo de erosão devido aos eventos seguidos de ressaca, ocasionados por ciclones extratropicais que se formaram entre o Uruguai e o sul do Brasil. Estes eventos ocasionaram chuvas e ventos intensos, forte agitação marítima caracterizada por estados de mar que persistiram por mais de duas semanas com alturas significativas de onda de até 4 m. O resultado para a orla da Armação foi a erosão, fragilização de encostas, movimentação de massas de terra e destruição de patrimônio privado e público (Figura 7) (Barletta et al., no prelo).

Figura 7. Casa desabando durante a ressaca. Foto: Lucas Sampaio (2010).

Como medida emergencial, em junho de 2010 a Prefeitura de Florianópolis executou uma obra de contenção de erosão no trecho sul da Praia da Armação. Tal obra foi construída na forma de um enrocamento longitudinal que se estende ao longo da área onde a erosão foi mais crítica, trecho de aproximadamente 1.600 m (Barletta et al., no prelo)(Figura 8).

Figura 8. (a) Orla da Praia da Armação após enrocamento. Foto: Edu Cavalcanti.(b) Extensão da obra de enrocamento. (Adaptado de Barletta et al. (no prelo)).

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Abreu de Castilhos (1997) quantificou o transporte sedimentar na praia e concluiu que as ondulações médias de sudeste transportam 5 vezes mais sedimentos para o norte do que as de nordeste transportam para sul. Dessa forma Abreu de Castilhos et al. (2005) relacionaram igualmente os processos erosivos no setor sul da praia à atuação de transporte longitudinal com a configuração deste setor como área fonte de sedimentos para os setores centro e norte da praia. Intensificados também pelo forte processo de urbanização existente no setor sul, onde as dunas frontais já foram totalmente suprimidas por residências e estabelecimentos comerciais. Outro condicionante antrópico muito citado quando se fala dos processos erosivos da praia da Armação é o molhe que liga o extremo sul da praia a Ilha das Campanhas (Figura 9). Pereira (2010) realizou uma vasta análise sobre os processos erosivos ocorrentes na praia e associou a ampliação do molhe, ocorrida entre os anos 50 e 70, fechando por completo a conexão entre o rio Quincas D'água e praia do Matadeiro com a praia da Armação, à erosão observada na praia desde a década de 90. Segundo o autor, o molhe fortaleceu a forma de arco praial da praia, intensificando sua fragilidade natural frente aos eventos de alta energia (Figura 10). Krueger (2011) e Rudorff (2005) realizaram um levantamento das ressacas ocorridas no estado de Santa Catarina. Apesar de analisarem períodos e metodologias distintas, Florianópolis se destacou em ambos trabalhos como uma das cidades mais afetadas por estes eventos. Com grande parte da sua orla intensamente urbanizada, a cidade se torna vulnerável a processos erosivos decorrentes de eventos extremos.

Figura 9. Praia da Armação durante a ressaca de 2010. Ao fundo o molhe que liga a praia à Ilha das Campanhas. Foto: Lucas Sampaio (2010).

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Figura 16. MDT gerado a partir de dados topográficos (Adaptado de Pinto,2015).

O comportamento morfológico dos perfis praiais no setor centro- sudeste da praia, apresenta três situações caracterizadas por acresção, intermédio e erosão. Cruz (1998) observou que situações de erosão ocorrem durante maré de sizígia associadas com ventos do quadrante norte. Perfis praiais monitorados desde 1990 indicam taxas de erosão da ordem de 2m/ano para o terraço costeiro coberto por vegetação. Também foi observado a instabilidade temporal das fases de erosão, algumas vezes caracterizadas por fases anuais (2 a 3 anos) e outras por períodos de meses a dias . Nem sempre um episódio erosivo é associado a passagem de frentes frias. De acordo com Abreu de Castilhos (1998) o progressivo bloqueio dos sedimentos eólicos, a urbanização e diversos tipos de muros no setor sudeste da praia tem aumentado a erosão e atingindo taxas de 0,95m/ano. No setor norte, as taxas de retração chegam a 0,5m/ano, apesar deste ser o setor mais exposto a incidência de ondas se comparado ao setor sul.

Figura 17. Campo de dunas entre as praias do Moçambique, Santinho e Ingleses. (Fonte: Imagens Google).

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Figura 10. Desenho esquemático demonstrando a definição da equação parabólica nas praias de enseada (Adaptado de Hsu e Evans (1989)).

ANOTAÇÃO

No final da porção sul da praia dos Ingleses, campos de dunas formados por depósitos holocênicos eólicos são formados entre as praias do Moçambique (ao sul) e Ingleses (ao norte), sendo contíguo a maciços rochosos constituídos por granitos, granodioritos, gnaisses e anfibolitos, ambos cobertos por uma densa vegetação com floresta ombrófila secundária em diferentes estágios de regeneração. Pinto (2015) quantificou as taxas de migração das cristas de dunas do sistema dunar entre os anos de 2013/2014 (Figura 15).

Figura 15. Migração das feições eólicas (Adaptado de Pinto, 2015).

A taxa de migração das cristas variou de 5-40m/ano e apresentou uma média de 18m/ano em direção ao norte. A partir desses dados Pinto (2015) criou um modelo digital de terreno (Figura 16) para analisar o volume sedimentar do campo de dunas e estimar a quantidade de sedimento que chega à Praia dos Ingleses. Analisando duas feições A (cerca de 51.000m³ de sedimento) e a B (cerca de 87,000m³) e associando à taxa média de migração, concluiu que o volume sedimentar aportado para a praia varia entre 3.000-5.000m³/ano.

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PARADA 5 - PRAIA DOS INGLESES

A praia dos Ingleses tem uma orientação noroeste - sudeste, sendo respectivamente delimitada pela Pontas da Feiticeira e Ponta dos Ingleses. Na planície costeira adjacente da praia, dunas mais antigas e estabilizadas cobertas por dunas recentes menores e ativas são observadas. Características geomorfológicas gerais da região costeira assim como o padrão relacionado ao transporte eólico e por deriva litoral podem ser observados na Figura 14 de Abreu de Castilhos et al. (1997). Do ponto de vista de impacto antropogênico negativo, a praia dos Ingleses pode ser considerada um dos piores exemplos de expansão urbana da ilha de Santa Catarina. Em 1938, na porção oeste do campo de dunas, existiam basicamente planícies vegetadas, bastante preservadas, sem grandes casas, ruas, resorts, turistas e caminhos para passagens. A partir de 1978 houve uma grande e constante urbanização, observada até os dias de hoje (Pinto, 2015). Apesar desse crescimento urbano o sistema viário continua deficiente e os problemas sociais são evidentes com as pequenas construções formando ocupações irregulares sobre os campos de dunas e terraços marinhos holocênicos e lagunares.

Figura 14. Praia dos Ingleses: Geomorfologia e diagrama geral dos transporte eólico e da deriva litoral. Adaptado de Abreu de Castilhos et al. (1997).

PARADA 4 - PRAIA DA BARRA DA LAGOA

Dos 12,1km de extensão do Sistema Praial Moçambique - Barra da Lagoa, apenas 5% são afetados pela ação antrópica, correspondendo a 0,6km localizados no setor Sul da praia da Barra da Lagoa. Devido a presença do promontório da Ponta da Galheta, o setor sul recebe ondulações com o menor índice energético do sistema praial, desse modo, o setor está protegido do ataque direto das ondulações do quadrante sul (Figura 11), sendo atingido mais violentamente apenas nas manifestações de ressacas, que normalmente acontecem poucas vezes no decorrer do ano. Tais fatores favoreceram sua ocupação, que começou com ranchos de pesca, evoluindo para bares, restaurantes e outros atrativos turísticos como em muitas praias do litoral catarinense.

Figura 11. Rosas direcionais das séries de ondas para diferentes setores do sistema praial Moçambique - Barra da Lagoa. No detalhe a rosa de ondas de um ponto offshore. (Dalinghaus, 2016)

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A Lagoa da Conceição mantém comunicação constante com o mar através do canal da Barra. Um canal natural e meândrico, com 2 km de extensão e largura aproximada de 40 m (Figura 12). A conexão se tornou perene em 1982, com a retilinização, dragagem e construção do molhes na sua desembocadura. Antes da retilinização, era natural que o canal fechasse por períodos indefinidos, devido a deposição de areia do mar. As retificações foram feitas principalmente para atender aos pescadores, que tinham suas atividades prejudicadas pela impossibilidade de saírem da lagoa com suas embarcações e contribui para entrada de espécies marinhas de peixes e crustáceos. (CECA/FNMA, 1986).

Figura 12. Canal da Barra da Lagoa em 1975, antes da construção do molhe. Foto: Desterro Hoje

Figura 13. Praia da Barra da Lagoa sendo atingida por ressaca em 2010. (Fonte: acaoecontexto.wordpress.com)

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