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7/21/2019 Guido-Antonio-de-Almeida-Consciencia-de-Si-e-Conhecimento-Objetivo.pdf
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CON SC I N C I A D E SI E CON H EC IM EN TO
O B JET I V O N A D ED U O T RAN SCEN D EN T A L
D A CR T I CA D A R A Z O P UR A
Guio Antnio de Almeida
Universidade Federal d o Rio de Janeiro
O trabalho que ora apresento prope-se investigar a questo
se
e
eni que sentido
a conscincia do sujeito que conhece constitui para Kant um princpio para o
aclaramento e a fundamentao da possibilidade do conhecimento.
Em face das declaraes expressas de Kant, sem dvida h de parecer inslita
a pergunta
se
a conscincia de si constitui semelha nte princpio. Kan t no o afirmou
textualmente? Certamente, mas se lemos com ateno os textos, vemos que esto
longe de ser to claros e d ecisivos qu anto se pod eria pensar. Sobre isso quero fazer to
somente, nesta introduo, duas observaes preliminares. Em primeiro lugar,
convm ob servar que nem sempre a conscincia de si sem ma is, mas a "unidade da
conscincia de si" que se v erigida em princpio do conhecimento. Modificao
pouco imp ortante? A penas uma qualificao do aspecto da conscincia de si que faz
dela um princpio? De modo nenhum. Por "unidade da conscincia de si" Kant
entende a unidade das intuies sintetizadas segundo conceitos de objetos,
(1 )
alis a
unidade
objetiva
que se produz quando as intuies sintetizadas so submetidas
no
juzo
a um conceito de objeto. Mas isso quer dizer que a "unid ade da conscincia de
(1) Cf. CRP, B1 36-3 7. (As referncias so sempre ao texto da I
a
e da 2
a
edies daCrtica da Razo Pura,
designadas respectivamente, como de slito, pelas letras A e B.
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CON SC I NC I A D E SI E CON HEC IM EN TO OB JE TI VO NA
, t j
TICA
s i"
n
o outra coisa seno a conformidade das intuies a conceitos de objetos no
juzo. Isto posto, fica fcil entender por que a "unidade da conscincia de si" assim
entendida pode ser declarad a o prprio princpio do conhecimen to. Com efeito, uma
proposio dizendo: "toda intuio necessariamente conforme a conceitos de
objetos" exprime d e m aneira abstrata a forma de todo juzo cognitivo particular, e
provar que essa propos io vlida provara priori,isto , em princpio, a possibilidade
de conhecer o valor de verdade de cada juzo cognitivo particular.
verdade que o p rincpio formulado, no como o m ero princpio da unidade
dasintuies (ou de sua conformida deaconceitos), mas com o o princpio da un idade
das intuies
n a
ou
para a conscincia de
si A expresso grifada indica a condio sob
a qual possvel afirmar a validade do princpio da unidade das intuies. No
significa isso, ento, que a conscincia de si a condio em que possvel o
conhecimento? E no a mesma coisa dizer que a conscincia de si a condio, o
fundamento ou o princpio ltimo do conhecimento?
Para ter clareza so bre isso preciso entender o que Ka nt se prope provarecomo
pensa poderfaz-lo.Na estratgia argumentativa da
CRP
(ou pelo menos da
An altica),
o objetivo ltimo prova r a possibilidade do conh ecimen to ob jetivo em geral, e isto
significa, podem os dizer, m ostrar, no como podem os d ecidir se tal
ou
qual proposio
particular verdadeira ou falsa, mas, sim, que podemos
em princpio
determinar o
valor de verdade d e qualqu er proposio cognitiva. Se admitimo s a anlise kantiana
do conceito de conhecimento como o conceito da necessria conformidade de
intuies dadasaconceitos d e objetos, podemos dizer tambm queoobjetivo final da
CRP provar o princpio da necessria conformidade das intuies a conceitos de
objetos.
Ora, possvel
ter intuies
sem queporisso mesm o seja preciso
pens-las
atravs
de conceitos, ou por outras, sem que seja preciso identif icar e caracterizar
conceptualmente (como tal ou qualobjeto)aquilo m esm o que intumos - e tanto isso
possvel que podem os atribuir a capacidade de perceber o mun do em sua volta aos
animais e aos seres incapazes
de
pensar e exprimir conceptualmente
o que
percebem.
A conformidade a conceitos de objetos no , pois, uma con dio de ter intuies, e
podem os dizer que nad a h nas intuies enquanto tais que as relacione porsisaum
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j i
(2) Cf.
CPR,
A 89-90 = B122-23;
Lgica
(ed. Jsche), A 40 s..
1993
conc eito de objeto
(2)
Da se segue, porm, que no possvel provar a possibilidade ANAM^IC /
do conhecimento a partir do aclaramento das meras condies em que possvel ter volume
intuies. Todaadificuldade de provarapossibilidade d o conhecimento reside nisso . nmero
Mas tampouco podemos, como propem alguns, nos eximir da necessidade de
procurar uma soluo alegando que
a
questo foi mal colocada e que o problema um
falso problema. Pois, se admitimos a anlise dada do conceito de conhecimento, a
proposio dizendo que as intuies so em princpio conformes a conceitos de
objetos uma proposio sinttica, logo uma proposio contingentemente verdad eira,
podend o ser negada sem contradio e cuja assero exige, ento, uma justificativa
que se estenda alm da simples elucidao do significado de seus termos.
O argum ento que Ka nt inventa para estabelecer o princpio da possibilidade do
conhecimentobaseia-se na hiptesedeque possvel pro var a necessria conformidade
das intuiesaconceitos de objetos para todo sujeito que no ap enas tenha intuies ,
mas saiba queas tem,isto , que tenha conscincia de si mesm o como tendo in tuies.
A conscincia de si fornece assim otertiuscapaz de fundamentar a relao entre
intuieseconceitosdeob jetos. A questo, porm,:de que modo?Nomeu entender,
de duas maneiras apenas:ou bem
a
conscincia de si uma con dio da con formida de
das intuies
a
conceitos de ob jetos, e esta
produzida pelo fato de que nos tornam os
conscientes de nossas intuies,ou bema conformidade das intuies a conceitos de
objetos uma condio d a existncia de um sujeito consc iente d e si, e a conscincia
de si a condio no da conform idad e das intuies a conceitos de objetos, ma s d o
discernimento
de sua possibilidad e. Eis por que dizia acima que preciso pergu ntar
em que sentido a conscincia de si fornece para Kant um princpio para a fundamentao
da possibilidade do conhecimento. Num sentido, ela o prprio fundamento da
possibilidade
de
conhecimento; n o outro, ela apenas a perspectiva que nos p ermite
discernir a possibilidade do conhecimento objetivo.
Em qual desses sentidos, ento, devemos compreend eraafirmao kantiana de
que a conscincia proporciona um princpio para a fundam entao da possibilidade
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D E D U O T R A N SC EN D E N T A L D A C R T I CA D A R A Z O P U R A
'A W TI C A do conhecimento? Para responder a esta questo, eu me proponho retomar o
olu
^
e ]
argumento pelo qual Kant pretende provar, nas duas verses
da
D eduo Transcendental,
nmeroi que as noss as intuies so em princpio con form e s categorias, logo a conceitos de
1993
objetos em gera l.
Minha investigao baseia-se num a hiptese que no pretendo d iscutir aqui,
mas que espero possa ser aceita como tend o algum a p lausibilidade. Essa hipteses
que o argumento da Deduo, ou seja, o argumento para provar a necessria
conformidade de nossas intuies a conceitos de objetos e, por conseguinte, s
categorias, possa ser reconstrdo como um argumento dirigido contra o cptico que
duvida da necessidade para nossas intuies de serem conformes a conceitos de
objetos, mas no duvida de que se possa ter conscincia dessas intuies como algo
que se passa em ns.
Tenta rei dem onstra r aqui duas teses gerais. A primeira
que aDeduoconsiste
na prova que a conscincia das intuies, admitida pelo cptico que duvida da
possibilidade de determin-las segundo conceitos de objetos, tem por condio a
conscincia de si (do sujeito que tem consc incia de suas intuies) como um sujeito
num ericamente idn tico equeesta conscin cia de siimplica por sua vez a conscincia
de objetos, vale dizer, a capacidade de determinar as intuies dadas por meio de
conceitos de objetos.
A segunda tese geral que as duas verses da Deduo divergem quanto
natureza dess a imp licao. A primeira ver so tenta prova r, se minha interp retao
correta, que a possibilidade de pensar as intuies por conceitos de objeto uma
conseqncia da conscincia de si, mais precisamente, do fato que o mltiplo das
intuies sintetizado p or um sujeito conscien te de si e, por conseguinte, d o que faz.
A conscincia de si aparece aqui, pois, pode-se dizer, como uma ratio essendi do
pensamento de objetos e, por conseguinte, como a "fonte" das categorias ou o
princpio que permite explicar sua gnese. Na segunda verso, ao contrrio, a
conscincia de si (o "E u p enso " que descrito no # 16 como a "unida de analtica da
apercepo") ap arece como tendo por cond ioopoderdefazer juzos objetivam ente
vlidos (e que correspond e "unidade sinttica" que necessria para a conscincia
de si). Esta desempenha ainda o papel de uma premissa no argumento contra o
9
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cptico, mas agora no mais a ttulo de um princpio explicativo da gnese das
A N
^ T
C A
categorias, mas to somen te com o uma prem issa perm itindo explicar a necessidade volume 1
de se admitir a nece ssria con formidade de nossas intu ies a conceitos de objetos. O nmeroi
argumento , ento, em sum a, que no posso ser consciente de mim m esmo, com o
adm ite o cptico,sen o sou capaz de julgar objetivamente, vistoque opoder de julgar
uma condio necessria da conscincia de si.
1. O Argumento da Deduo: da Conscincia Conscincia de Si
1.1 O Argum ento na edio de 1781 (A)
A melhor e mais suscinta exposio do esquem a do argumento em sua primeira
verso, ns a encon tramos no pargrafo sobre a "E xplicao ProvisriadaPossibilidade
das Categorias com o Cognies a Priori .Diz a Kant:
A possibilidade, porm, e mesmo a necessidade dessas categorias repousa sobre a
relao que a sensibilidade - e com ela todas as aparies (Erscheinungen) possveis
- tm com a apercepo originria, na qual tudo tem que estar necessariamente
conforme s condies da
unidade
omnipresente (durchgngig) da conscincia de si,
isto , sob as funes gerais da sntese, a saber, da sntese segun do conceitos, como o
nico lugar onde a apercepo pode provar a priori sua identidade omnipresente e
necessria. Assim, o conceito de um a causa nada mais do que uma sntese (daquilo
que se segue na srie temporal com outras aparies) segundo conceitos, e sem
semelhante unidade, que tem sua regra a priori, no se encontraria uma unidade
omn ipresente e universal, logo necessria, da conscincia, no mltiplo das percepes
(A 111-12).
Por obscura qu e seja, esta passagem d eixa razoavelmente claro pelo menos o
ponto segundo o qual a prova da validade objetiva das categorias repousa, em sum a,
sobre duas premissas b sicas : 1) a relao de nossa s intuies, que so sensveis, com
a conscincia de si, 2) a relao da conscincia de si, ou antes, da "unidade da
conscincia de si" , com as "fun e s" da sntese das intuies segundo conceitos. A
passagem no deixa claro, verdade, a natureza exata dessas relaes e, sobretudo,
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\ M TIC A rio indica as razes que Kan t teria para fundam entar essas premissa s elas prprias.
i
^
i
Para esclarecer isso, preciso procu rar naDeduoas passagens onde K ant expe por
m e r oi extenso o seu argumento.
No que concerne primeira premissa, as razes de Kant para afirm-la esto
apenas sum ariamente indicadas em seis passagens diferentes. Em A 10 7, a " unidade
da conscincia " (identificada na frase seguinte "apercepo transcendental")
apresentada com o a condio da ocorrncia em ns de "cog ni es" (
Erkenntnisse),
(3)
bem como de sua conexo e unidade.
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T F I
1993
a "conscincia emp rica",apossibilidade de uma conscincia emprica apresentada
A N A L ^TI C A
como a cond io da existncia de represen taes e a conscincia transcen den tal, por
volume 1
sua vez, como a condio da conscincia emprica.
(7 )
Em A 120, a conscincia mero 1
apresentada com o a condio, no da apario, mas de que esta seja "um objeto de
conhec imento" e assim exista para ns - mais ainda, de que ela seja de todo alguma
coisa, "j que ela s existe na cognio".
(8 )
Finalmente, em A 123-24, o "Eu" da
"aperce po" uma condio da conscincia de nossas representaes'
9
'.
Istotudooque temos para tentar entenderoque Kant quer dizer. Conv enham os
que pouco e que as explicaes de Kant parecem querer remediar a pouca clareza
com uma maior escurido. Das passagens citadas podemos extrair, no entanto, pelo
menos duas coisas: 1) Kant no entende provar
a
relao necessria das intui es com
a
conscincia de si diretamen te, mas em dois passos, provando prim eiro a relao das
intuies com um a conscincia em prica possvel e, depois, que a conscincia d e si
uma condio da conscincia em prica, logo das prprias intuies. 2) A prova d e que
toda intuio est necessariame nte ligada auma conscincia baseia-se na alegao de
que de outro modo ela no existiria para ns, ou pura e simplesmente no existiria
como representao.
(7) "Todas as representaes tm uma relao necessria com uma conscincia em pricapossvel:pois,
seno tivessem
isso
e fosse inteiramente im possvel tor nar-se consciente delas; isto seria a mesma coisa
que dizer que elas no existiriam de todo. Toda conscincia emprica, porm, tem uma relao
necessria com uma conscincia transcendental (precedendo toda experincia particular), a saber, a
conscincia de mim mesm o, como a conscincia originria" (A 117).
(8)
"A primeira coisa que nos
dada uma apario,
a
qual, se ela
est
ligada com conscincia, se chama
percepo (sem a relao com uma conscincia ao m enos possvel, a apario jam ais po deria ser para
ns um objeto do conhecimento (
der Erkenntnis),
e portanto, nada seria para ns, e, no tendo em si
mesma nenhuma realidade objetiva e s existindo na
cogro(imErkenntnisse),
no seria nada em
parte alguma" (A 120).
(9) "Pois o Eu fixo e permanente (da apercepo pura) constitui o correlato de todas as nossas
representaes, na m edida em qu e meramente possvel tom ar-se consciente delas, e toda conscincia
pertence a uma apercepo pura omnicompreensiva, do mesmo modo que toda intuio sensvel
enquanto representao a uma intuio interna pura, a saber, o temp o" (A 12 3-34).
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,N A ^ J TIC A
Mas essas indicaes deixam ainda inmeras dvidas. verdade que a ligao
volumei entre o conceito de cons cincia e o de conscincia de si tem uma certa plausibilidade
nmeroi iniciai, que se ucVc so xto u.e que pensamos as intuies com o ocorrncias men tais
1993
ou estados subjetivos (em frases do tipo: "Eu sei que eu" onde substitui um
predicado psicolgico do tipo: "estou vendo ", "estou o uv indo " etc). Mas no basta
constatar
que
ordinariam nte exprim imos a conscincia que temos de nossas intuies
com o estados su bjetivos (isto , estados de um su jeito que se refere a si mesm o com o
algo distinto dos estados qu e tem). Importa ainda e sobretu do explicar por que deve
ser assim.
As dificuldades s o ainda maiores
no que
concerne relao entre
a
conscincia
e as intuies. Aqui, a afirma o de que, parater intuies, seria precisoterconscincia
dessas intuies no s implausvel em si mesma, como contradiz a declarao
expressa de que as representaes em geral podem ser inconscientes (A 320), e at
mesm o a doutrina da
Esttica
acerca das condies da intuio segun doaqual espao
e tempo so as nicas condies (formais) da intuio.
Creio que as dificuldades derivam da qivocidade do termo "conscincia".
Com efeito, podem os tom ar o conceito de conscincia em d ois sentidos diversos. Em
sentido prprio, "ter conscincia dex eqivale a "sab er qu e uma proposiopsobre
x o caso ". Assim, dizer p. ex.: "Tenh o conscincia da presena de D eus" o mesmo
que dizer: "Sei que Deus est presen te", e dizer: "Tenh o conscincia de meu valor"
o mesmo quedizer:"S ei q ue tenho (algum) valor". Com o em todo saber proposicional,
"ter conscincia" neste sentido envolve a aplicao de conceitos a instncias desses
conceitos. Se quisermos acolher um outro sentido, no-proposicional , para
"conscincia" ser preciso defini-la como uma forma de saber que no envolva a
utilizao de conceitos e a compree nso de proposies, ma s apenas a capacidade de
realizar certas operaes, por ex emplo, a capacidade de discriminar
o
que dado, no
por caracterizaes concep tuais, mas p or sua posio no espao e no tempo.
Se tomamos "c on scin cia" no sentido proposicional, no podemos dizer que a
conscincia seja uma cond io de ter intuies (ou mesm o representaes em sentido
geral, abrangendo conceitos e proposies), pois, em sentido proposicional, "ter
conscincia" abrange a aplicao de conceitos, e "ter intuies" por definio no
9 4
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fy
i
nvo lve a aplicaodeconceitos. Eis por q ue Kant tem que adm itirapossibilidade de ANA \M TICA
existirem intuies e mesmo outras classes de representaes inconscientes'
10
'. volume 1
Se tomam os "con sci ncia " no sentido no-pro posicional, podem os dizer que a ""1993
1
conscincia uma condio de ter intuies, mas neste caso "ter conscincia" no
pode significar outra coisa seno a capacidade de discriminar o que dado, seja
externamente segundo relaes espaciais, seja internamente, segundo relaes
temporais. Dada a sinnima entre "ser consciente de" e "saber", bem como a
possib ilidade de falar de uma forma de saber no-proposiciona l, a afirmao de que
a conscincia uma condio de ter intuies sempre possvel e explica por que
pod em os atribuir aos seres bru tos algum a forma de conscincia. De fato, dos animais
e dos infantes dizemos que esto conscientes ou, ao contrrio, que perderam a
conscincia, quando tm ou perderam a capacidade de discriminar os objetos
exteriores, bem como de sentir (ter sensaes e sentimentos). Em Kant e na tradio
filosfica em geral no encontram os
a
noo
de
conscincia como sinnima
do
sentido
externo,m uito embora no haja nada que impea esse uso do termo.
(11)
Em com pensao,
encontramos a noo de sentido interno assimilada noo de conscincia.
Se, porm, tomamos a "conscincia" em sentido no-proposicional e por
conseguinte, em Kant, como sinnimo de "sentido intern o", no ser mais possvel
extrair da nenhuma das conseqncias que Kant quer extrair da tese de que ter (ou
pelo menos poderter)conscin cia de nossas intuies urnacondiode terintuies,
a saber: (1) que toda intuio est relacionada necessa riamen te com um a conscincia
possvel ; (2) que toda conscincia de uma intuio est relacionada
conscincia d e si.
(10) Para ter e aplicar um conceito, no preciso ser capaz de caracteriz-lo com o tal por meio de um
conceito de conceitos. Assim, para ter o conceito de "ho me m" e aplic-lo no juzo: "Scrates
homem"
no p reciso ter o conceito formal-semntico de "ob jeto", ou o conceito sintctioo de "pred icado", ou
qualqu er conceito superior com que eu ocaracterize como conceito.verdade que, ao dizer: "Scrates
e h o m e m "
sei
necessariamente
o
que estou fazendo, mas no (a no ser que seja filsofo ou lgico) que
estoujulgando ou aplicando um conceito.
(11) Cf., porm, em Tugendhat o uso da expresso "conscincia de esp ao "
(Vorlesungen
zur E infhrung
in ai sprachanalytische Philosophie,
Fran kfurt: Suhrkam p, 1976, p. 83).
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DEDU O TRANSCEND ENTA L DA CRT I C A DA RA Z O PURA
JA
W t I C A Vejamos, no entanto, at onde poderam os chegar interpretando as passagens
, , em cmesto com aiuda do conceito
no-proposicional
de conscincia. Diremos, ento,
vo lu m e 1 ->-
1 r r
1 - 1 1
nmero
i que
a
tese
de
Kant que
a
conscincia
no
sentido do sentido interno, ou da capacidade
1993
de discriminar no temp o, a condio de term os intuies a ttulo de represe ntae s,
isto , algo que existe em n s e s pode existir de tod o em ns. E, dado o fato de que
toda intuio externa est ligada a algo em ns (a afeco sensvel, a sensao),
podemos dizer que a conscincia tambm a condio das intuies externas na
medida em que elas tam bm so ou esto ligadas a ocorrncias internas. Isto permite
efetivamen te dar conta da primeira concluso qu e Kant deseja tirar,asaber, que todas
as intuies esto ligadas conscincia (que assimilamos ao sentido interno),
A dificuldade dessa interpretao que ela leva a uma concluso muito mais
forte do que a extrada por Kant, pois dela se segue que a condio das intuies
enquanto representaes (ocorrncias mentais) uma conscinciaactual: no pode
haver intuio externa que no sejaao mesm o tempo apreendidanotempo como uma
representao interna, portanto consciente no sentido no-proposicional. Ora, isso
quadra mal com arestrio da tese
possibilidade
de se ter conscincia. Em todoocaso,
como quem prova o mais prova o menos e dado que o que real tambm possvel,
poder-se-ia sempre argumentar que a objeo no decisiva.
Mas decisiva
a
segunda objeo,
a
sabe r, que Kan t no poderia concluir da (de
que temos uma conscincia no-proposicional, ou seja, discriminamos nossas intuies
no tempo como oco rrncias mentais) que a con scincia de si (que proposicional)
uma condio dessa conscincia (no-proposicional) das intuies.
Vejamos, ento, o que conseguimos com o conceito proposicional de
"conscincia". Seg und o esse conceito, como vim os, ter conscincia de uma intuio
x
consiste em saber que se tem a intuio
x
e, envolve, portanto, a capacidade de
empregar predicados pelos quais caracterizamos a intuio como uma representao,
vale dizer, com o algo em nspelo qual intum os algo fora de ns.
(12)
Ser que este o
1 9 6
(12) Cf. a esse respeito K.Cramer, "ber Kants Staz: Das: Ich denke, mufi alie meine Vorstellungen
begleiten knnen ,
in
K..Cram er u. a. (Hg.),
Theorie der Subjektivitt,
Frankfurt: Suhrk amp , 1990. Mu ito
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conceito de conscincia que Kant tem efetivamente em vista nas passagens citadas?
ANA | ICA
Em A 106, a conscincia
(13)
apresentada como a condio daocorrncia em ns de
volume 1
"cognies", vaie dizer de "intuies"/
14
* Em A 113, a conscincia
(1S)
apresentada
nmero
como condio de representaes, o que podemos interpretar como a condio da
existncia de algo em ns que nos apresenta algo fora de ns e, finalmente, em A 12 0,
a conscincia aprese ntada com o condio de que as aparies sejam para ns ob jeto
de conhecimento, o que podem os interpretar no sentido de que spodemos saber que
as aparies existem em ns como representaes se temos conscincia delas.
No h dvida, portanto, de que em todas essas passagens se trata do
reconhecimento das intuies como representaes - em termos cartesianos: do
conhecimento das intuies em sua
realidade formal
de representaes em ns por
oposio sua
realidade objetiva
enquanto representaes de algo fora de ns. A
dificuldade que subsiste que Kant parece estar enun ciando u ma tautologia quando
afirma que a conscinc ia um a condio de as intuies (aparies, cognies )
existirem para ns, ou serem um objeto de conhecimen to para ns. Pois, o que pode
significar "existir para n s " ou "ser um objeto de conhecimento para n s" seno "ser
algo de que temos conscincia"? Kant estaria dizendo ento que no podemos ter
conscincia
de
nossa s intuies como nossas representaes se no temos conscincia
delas. O que se espera, ao contrrio, que se estipule para a conscincia das intuies
uma condio que seja distinta do simples fato de ter conscincia das intuies.
1993
embora Cramer interprete uma passagem
da
ed. B, creio que muito do que ele a
diz
pode ser u tilizado
para a interpretao da primeira verso da Deduo.
(13) Na verdade a "unidade da conscincia", identif icada na frase seguinte "apercepo
transcendental". Mas Kant distingue posteriormente a conscincia de si, enquanto condio da
conscincia
das
intuies, e a conscincia (ou,
antes, a
possibilidade da conscincia) como con dio da
ocorrncia em ns das intuies a ttulo de representaes. Em vista disso e do fato de que se aqui se
fala da condiodas"cog ni es", p odemos dizer que se trata diretamente da conscincia aas intuies,
e da conscincia de si apen as indiretamente, na medida em que ela uma condio da primeira.
(14) Intuies
e
conceitos so d uas sub-classes
da
classe das cog nies, segundo
A 320.
Obviamente, Kant
no pod e estar falando aqui da conscincia de conceitos. Por isso, podem os substituir "cog ni es" por
"intuies".
(15) Textualmente, a conscincia de si . M as o que se diz aqui da conscincia de si s possvel dizer
porque tambm se diz da conscincia de intuies. V. n. 13 acima.
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CON SC I NC I A D E SI E CON HEC IM EN TO OB JE TI VO NA
D E D U O T R A N SC EN D EN T A L D A C R T I C A D A R A Z O P U R A
k
vol u me 1
TIC A
Voltem os nossa ateno mais uma vez para o conceito proposicional de
"conscin cia'. Este envolve, como vimos, a caracterizao das intuies em ns como
nmeroi represe ntae s, e isto quer dizer: por m eio de predicados de representa es. M as,
1993
s e
assim , pod em os dizer (para evitar a interpretao da tese de Kant como uma
tautologia) que a tese que a consc incia de ter intuies tem por condio a
possibilidade de pens-las atravs de conceitos com os quais as especificamos, no
relativam ente ao que nelas repres entad o, mas relativam ente ao fato de serem
represen taes em ns. Em suma, se a tese inicial de Kant no uma simples
taulolog ia, ela a tese de que a conscin cia de ter intuies precisamen te uma
conscin cia no sentido proposicional, e isto significa que s podem os dizer que
temos conscin cia de nossas intuies se podemos caracteriz-las com o tais, isto ,
com o representae s em ns de algo distinto de ns. Certam ente, no temos que
empregar predicados como "intu io" ou "representao" para nos tornar conscientes
de nossas intuies como representaes.
(16)
Estes so conceitos de segunda ordem
(formais) com queofilsofo explicita os con ceitos de primeira ordem (materiais), com
os quais caracterizamos prefilosoficamente nossas intuies como representaes (a
saber, predicados como "ver", "ouvir", "sentir", etc.). justamente essa classe de
predicados que preciso dominar para saber que se tem intuies. Devemos dizer
ento que s temos conscincia de nossas intuies quando podemos enunciar
proposies da forma: "estou vendo, ouvindo, sentindo etc. . ." , ou seja, quando
podem os fazer aquelas enunciaes que, nos
Prolegomena,
Kant denominou "juzos
de percepo".
M as isto no basta ainda para dar conta de tudo oque est dito nos tex tos; mais
precisam ente, no basta ainda para exp licar por que Kant afirma
{17)
que a conscincia
uma condio de existirem as representaes no apenas para ns, mas pura e
simplesmente de existirem representaes. O ra, essa afirmao incompatvel com
(16) Assim como tam pouco precisamos emp regar conceitos como "objet o" ou "fen me no " para saber
A Q o que intumos.
J LJ 0 (17) Em A 11 6, 12 0 e , implicitamente, em A1 23-2 4.
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,CTJ I
n mero 1
1993
a admisso da existncia de representaes inconscientes e no se segue da tese do
ANAM^/TIC/
carter proposicional da conscincia de ter intuies.
vo h
,
me r
Ob servem os m ais uma vez, porm, que, em A1 17n ., Kant qualifica sua afirmao:
apossibilidade de um a conscincia emprica, no uma conscincia em prica actual,
que a apresentada como condio da existncia de representaes. O que
necessrio, pois , para ter representaes (intuies) que se
possa
ter, no que se
tenha actua lmen te, conscincia de ter um a representao . Ser que esta afirmao
pode ser derivadadetese do carter proposicional da conscinciadeter representaes?
O que se pode argumentar a este proposito, a meu ver, o seguinte. Para ter
conscincia de ter representaes preciso, como vimos, saber caracteriz-las como
representaes. Suponhamos, porm, que se queira negar que as nossas intuies
possam ser conceituadas como representaes e que essa impossibilidade seja
entendida com o um a impossibilidade de princpio, portanto como algo que se deva,
no a algum impedimento fortuito, mas "lgica" do conceito de representao.
Neste caso, poderamo s alegarduas coisas: 1) oconceitoautocontraditrioedesigna
algo to impossvel em si mesmo quanto um crculo quadrado; 2) o conceito no
autocontraditrio, mas problemtico, porque no podemos indicar a que tipo de
objeto poderia se aplicar e, neste caso, no designaria nada de impossvel de pensar
em si mesm o, mas im possvel de se conhecer.
Ora, no podemos dizer quelogicamente impossvel caracterizar nossas intuies
como representaes, porque -
ateno
- no se
trata
aqui da lgica de um a teoria filosfica
da representao, mas da lgicadenossos juzos de percepo. Qualquer teoria filosfica
, sem dvida, impugnvel por razes lgicas. Mas no podemos impugnar por razes
lgicas
os juzos
que
fazemos
sobre o
que vem os, ouvimos, sentimos, percebemos
etc.
Isto
faz parte do discurso cognitivo que as teorias filosficas tm qu e explicar e, portanto,
devem
pressupor.
Pela mesm a razo no podem os dizer que so vazios ou problemticos
os conceitos co m quecaracterizamos, nos juzo s de percepo, nossas intuies. Ora,se os
conceitos com que caracterizamos nossas intuies no so nem autocontraditrios nem
vazios, segue-se da
que,
em princpio, todas
as
nossas intuies pod em
ser
pensadas por
conceitos, logo qu e de tod as elas
podemos
ter conscincia, mesmo que
de jacto
no tenhamos.
Podem os resumir agoraaparte inicial do argum ento. Kant parte do facto de que
9 9
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, i ih'
|
I 11Qfr
temos conscincia de nossas intuies,
isto , podemos d izer que temos intuies, mesm o
que por hiptese no sa ibamos se so intuies de algo objetivo. Nas verdade, dizer
que temos conscincia de noss as intuies parte da hip tese d e que nossas intuies
iuu'i no seriam intuies
de
objeto s d elas distintos. Por isso, a rigor n o correto dizer que
Kant parte da conscincia de nossas intuies como um fato, que simplesmente se
constata como um qualquer outro facto emprico. O que a chamamos de "fato" ,
antes, um pressuposto da questo, e s por isso que no podemos recus-lo.
Isso posto, Kant prova primeiro que a conscincia de nossas intuies tem um
carter proposicional e depende da possibilidade de caracterizar conceitualmente
nossas intuies, no quanto quilo que nelas intuido, mas quanto quilo que elas
so em ns, ou seja, como u ma representao. Finalmente, baseando-se nesta anlise,
segundo a qual "ter Conscincia" o mesmo que "sab er d izer que intuies tem os",
Kant prova em seguida que nenhum a intuio pode haver em n s que
seja
imp ossvel
de se tornar conscien te, porqu e afirmar isto eqivaleria alegao inadmissvel de
que no podemos nos referir s nossas intuies, seja por razes lgicas (suas
caracterizaes conceptuais seriam contraditrias), seja por razes epistemolgicas
(ascaracterizaes co ncep tuais no teriam instncias). Para resum ir numa palavra: se
temos conscincia de nossa s intuies, podemos pens -las por conceitos, ese podemos
pens-las por conceitos, nenhum a intuio em ns pode enquan to tal ser impensvel.
Com isto descrevemos apenas o primeiro passo para a fundamentao da
primeira premissa da Deduo. O segundo passo consiste em provar a relao
necessria entre "ter conscincia de uma intuio" e "ter con scincia de si me sm o".
A necessidade de provar a existncia dessa relao fica obscurecida pelo fato de que
desde o incio caracterizamos a conscincia como um juizo de forma: "sei que eu
",
onde"" o que chamamos de "predicado de representaes" (como os "juzos de
percepo", d que fala Kant nos Prolegomena.) Mas, a rigor, no temos ainda
nenhum a razo para dizer que o sujeito dessas predicaes um sujeito capaz de se
referir a si mesmo pelo pronome "eu" e, tanto quanto se pode saber, os juzos de
percep o pod eriam ser da for m a: "e u sei que eu
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fy i
ara ns, antes de toda reconstruo filosfica, que os predicados de representao A NA L^TIC A
se aplicam, a um sujeito capaz, de se referir a si m esm o. M as a questo filosfica ,
volume 1
precisamente, saber por que mesm o tem que ser assim. nmero
Vejamos, mais uma vez, o que Kant tem a dizer nas passagens em questo.
Dessas passagens apenas duas contm algo que ainda no encontrou explicao, e
qu erazovel supor que sirva de argumento para prov ararelao entreaconscincia
das intuies e a conscincia de si. Refiro-me a A 107, onde a "apercepo
transcendental" apresentada com o condio da "unidad e e conex o" das cognies
que ocorrem em n s, e a A1 16 , onde a tese de Kant expressamente fundam entada
co m aalegao de que "a s representaessrepresentam algo em mim "sepertencem
a e "podem ser conectadas em um a nica e a mesma conscincia". Tudo o m ais so
afirmaes
no
fundamentadas (A117n.
e
A1 23-24 ), ou pode ser explicado em termos
da relao entre a intui o e um a conscincia possvel.
A conscincia de si apresentada, pois, em suma, como necessria para a
unidade e conexo das cognies enquanto representaes de algo em m im. O ra, no
argum ento anterior p ara m ostrar a relao entre as intuies. e a possibilidade de se
ter conscincia d elas no foi preciso mencionar a "co nex o
e a
unidade das intu ies".
Assim , se Kant qu er provar que a conscincia d e si necessria para se ter intuies
alegando que ela uma condio de sua "unidad e e con exo", preciso antes de m ais
nad a admitir que a conscincia das intuies inclui uma conscincia de sua "un idad e
e conexo". M as isso est longe de ser bvio. Em p rimeiro lugar, muito embora Kant
fale das intuies (co gnies, aparies) no plura l, nada indica que ele tenha em vista
as intuies consideradas coletivamente, quando diz que a conscincia de si uma
condio de possibilidade da conscincia emprica de ter intuies. Ao contrrio,
razovel supor que as intuies sejam tomadas a divisivamente, pois o que Kant
afirma que de nenhu ma intuio (e no: de nenhum mltiplo de intuies) se pode
dizer que impo ssvel ter conscincia dela
(18)
.
(18) Ver a esse respeito, K. Cram er,
op. cit.
(n. 12 acima), p. 168.
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iA ^ ju C A Mais, uma vez mais, aqui tambm o carter propo sicional, logo conceituai, da
vo
,
um e
1
conscincia das intuies que indica o que preciso consid erar para entender o
nmero
i pens am ento de Kan t. A primeira vista, antes de analisar o conce ito de conscincia,
1993
parece que pod em os falar de um a conscincia de intuies isoladas. Ma s, essa
suposio, vemos que preciso descart-la, to logo atribumos um contedo
proposicional a essa conscincia e a identificamos capacidade de caracterizar
conceitualmente aquilo de que se tem conscincia. Com efeito, conceitos so, na
terminologia de Kant, "representaes por notas comu ns" servindo para comparar e
distinguir as intuies entre si.
(19)
Por isso, sempre que um con ceito aplicado a uma
intuio, com o algo de singular, essa intuio se v ao mesmo tempo comparada a e
distinguida de outras intuies possveis.
razovel supor, pois, que a "unidade e conexo" das intuies enquanto
represen taes em ns sejaaunidad e conceituai das intuies quand o caracterizadas
como rep resen taes. E assim fica claro por que a conscinciade si uma condio da
unidade das representaes em ns. De fato, a aplicao de conceitos envolve a
comparao e a distino das intuies entre si, e essa comparao e distino no
seria pos svel se quem faz a com para o (o sujeito que se designa p or "e u " ao dizer:
"eu sei que")n o fosse o mesmo relativamenteacada uma das intuies comparadas
e distinguidas. Por conseguinte, preciso ter uma conscincia das intuies
consideradas coletivamente com o existindo para um nico e o mesm o sujeitoafim de
que seja possvel pensar cada intuio. Eis por que Kant caracteriza, em A 123-24, a
conscincia de si como durchgangig, ou seja, perpassando, ou presente em, toda
conscincia de intuies como um a condio d esta, e faz da identidade do "E u" que
sabe ter tais e tais intuies um "co rrela to de todas as nossas repr esen tae s", isto ,
de todas as nossas intuies na medida em que temos conscincia delas. E no mesmo
sentido tamb m que Kantserefere indiferentem enteseja "unid ade (transcendental)
da apercepo" ou da "conscincia de si", seja conscincia da identidade de si
mesm o, como cond io da conscincia de intuies.
2 2
(19) Cf.
Lgica
(ed. Jsche), 1 e 6.
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T F I
.2. O argumento na edio de 1787 (B) A NA I^TIC /
Term inada a exposio do argumento em A. preciso investigar agora qual o
alcance das mudanas a que o texto foi submetido na segunda edio de 1787. O nmero
essencial da nova verso, ns o encontramos no #16. Nessa nova verso, a premissa
inicial consiste ainda em mostrar a relao entre o mltiplo das intuies e a
conscincia d e si. N o que diz respeito a essa prim eira premissa, o argum ento de Kan t
est apresentado logo nas primeiras frases do #16. Diz a Kant o seguinte:
O: Eu penso tem que poder acompanhar todas as minhas representaes; pois de
outro modo seria representado algo em mim quede modonenhum poderia ser pensado,
o que eqivale
a
dizer que a representao ou bem seria impossvel, ou bem nada seria
para mim. A representao que pode ser dada antes de todo pensamento chama-se
intuio. Portanto,
todo o
mltiplo da intuio tem
uma
relao necessria com o: Eu
penso, no mesmo sujeito em que esse mltiplo encontrado. (B 131-32)
Se estivssemos comeando nossa interpretao pelo texto da ed. B., teramos
que refazer todas as consideraes que fizemos, a propsito da ed. A, acerca do
sentido em que se pode dizer que a conscincia uma condio da existncia de
representaes em n s. Dou por pressuposto tudo isso e, com base nas explicaes
dadas, propon ho que se reconstrua o argum ento da seguinte ma neira.
O ponto de partida , como em A, a constatao de que tenho conscincia de
representaes em mim, e, em particular, das intuies. Numa palavra: sei que
existem intuies a ttulo de representaes em mim , mesmo que no possa saber se
a elas corresp ond em algum objeto. Isso posto, a cond io para que eu saiba ou tenha
conscincia de representaesque eu possa p ens-las, isto , que eu possa caracteriz-
las com o represen taes (atravs de predicad os co mo ver, ouvir, sentir etc.). neste
sentido que o "e u pe ns o" deve poder acompanh ar todas as minhas representaes:
eu devo ser capaz de pens-las como tais.
O argum ento para essa tese , ento, o seguinte. Negar que eu possa pen sar as
representaes de que, por hiptese, tenho conscincia eqivale a dizer que os
conceitos pelos qua is eu as penso so ou autocontraditrios (isto
,
que logicamente
impossvel dizer que v ejo, ouoetc.)ou problemticos (isto , que no posso saber se ^ Q ^
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^ A W t IC A algo corresponde a eles). M as, visto que por hiptese posso dizer que tenho
volu
^
e1
represen taes (que estou ven do isto, ouvindo aquilo etc.), impo ssvel negar que eu
nmero 1 possa pens-las. Em sum a, no possvel negar que eu possa
pensar
minhas
1993
represen taes, se admiti de antem o que tenho con scinc ia, isto , sei que tenh o
representaes.
Se minha interpretao correta, dizer queo"eu pen so" deve poder acompanhar
todas as minhas representaes eq ivale, pois,adizer que n o posso saber que ten ho
representaes, se no posso pens-las como tais. Podemos dizer ento que, na
concepo de Kant, essa conscincia conceituai das representaes se exprime
linguisticamente em frases da forma : "eu sei que ", onde um predicado de
representaes.
Com isso ainda no est demon strado que
a
conscinc ia de representaes , ao
mesmo tempo,
a
conscincia
de
si mesm o como um sujeito distinto das representaes
das quais tem conscincia e num ericamen te idntico relativam ente a elas. Tan to
quanto sepossa saberaesta alturadaargumentao,o"eu p ens o" pode ser a condio
de cada representao considera da isolada men te, de tal sorte quearefernciaao" e u "
poderia ser diversa em cada caso. A concluso do argumen to de Kant, no entanto,
a de que o mltiplo das intuies tem uma relao necessria com o "eu p enso" em
um mes mo sujeito
(20)
e da se segue que o "eu p enso " que acom panha o mltiplo d as
representaes "um e o mesmo", como diz Kant ainda na mesma alnea.
(21)
Essa
concluso deve se seguir, por conseguinte, do fato de que possvel em princpio
pens ar por conceitos todas as representaes de que tenho con scincia. Por que ela se
segue o que podemos entender se levamos em conta ( o mesm o argumento da ed.
(20) "Logo, todo m ltiplo da intuio tem um a relao necessria com o : Eu penso no mesmo sujeito
em qu e este mltiplo e encontrad o" (B 132).
(21) "Denomino -a [a saber: a espontaneidade, a que devemos o "E u p ens o" - GAA] apercepo pura,
para d istingu-la da emprica, ou tambm apercepo originria,por que ela aquela conscincia de si
que, ao produzir a representao
Eu penso,
q ue tem que poder acompanh ar todas as demais e em
toda conscincia uma e a mesma, no pod e ser acompanhada de nenhu ma m ais" (B 132).
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, u -
) que o que pensam os por um con ceito a unidade de um m ltiplo dado, e isso no
A NA VY TIC A
possvel se o "eu penso" for diverso para cada elemento do mltiplo. volume 1
O argum ento de Kant em
B
no , pois, substancialmente div erso do argumen to
n
^o
r
1
em A , no que tangeprimeira premissa: aqui comoltrata-se de prova ranecessidade
da conscincia de si relativamente ao mltiplo das intuies do qual temos, por
hiptese, conscincia, e o fundamento da prova a necessidade de reconhecer que,
para ter conscincia, devemos ser capazes de pensar a unidade do mltiplo das
intuies mediante conceitos de representaes
(22)
.
2. Da conscincia de si ao conhecimento objetivo
2.1. O argum ento na edio de 1781 A)
Passem os agora segunda prem issa da Deduo, que , com o vimos, a tese da
relao necessria da conscincia de si com a sntese das intuies segund o conceitos
de objetos, vale dizer, com a condio de possibilidade do conhecimento objetivo.
Como a conscincia de si foi afirmada na primeira premissa como a condio da
conscincia das intuies, de se esperar que unidade sinttica das intuies seja
agora apresen tada co mo a cond io da conscincia de si. Se for assim, a doutrina de
Kan t pod er ser exposta como um a cadeia de inferncias que, partindo da conscincia
das intuies como premissa inicial, estabelece sucessivamente por um argumento
regressivo as condies e as condies das condies dessa premissa. Poderamos
dizer, ento, que o argumento de Kant se desdobra dando resposta seguinte
questo: que condies d evem ser satisfeitas para que um sujeito tenha concincia de
(22) Cf. a recapitulao da primeira premissa da D eduo em B: "O m ltiplo dado em uma intuio
sensvel est necessariamente submetido unidade sinttica originria da apercepo, porque s
atravs desta possvel aunidadeda intuio (B143),b em como o comen trio acrescentado em nota de
rodap: "O fundamento da prova baseia-se naunidade representada da intuio pela qual um objeto
dado,
a
qual inclui um sntese
do
mltiplo dado a u ma intuio e j contm
a
relao deste ltimo com
a unidade da apercepo" (B144 n.).
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k[/MJICA si mesm o e das intuies com o intuies suas? O que se espera ento que se possa
provar que a conformidade da sntese das intuies a conceitos de objetos seja
precisamente essa condio.
Essa expectativa parece encontrar uma con firma o que no se poderia d esejar
mais satisfatria na seguinte pa ssagem : "De acor do com este (a saber: o"p rinc pio da
unidade da apercep o" -
GAA)
todas
as
aparies devem entrar na mente, ou devem
ser apreendidas, de tal sorte que concordem p ara a unidade d a apercepo, o que sem
unidade sinttica em sua conexo - que,
por conseguinte, tambm
necessariamente
objetiva- seria impo ssv el" (A 122, grifo meu).
(23)
A formu lao de Kant deixa, porm,
em aberto de que precisamente a unidade objetiva das intuies uma condio, se
da unidade da apercepo com o um todo, abrangend o conscincia de si econscincia
das intuies como suas , ou se apenas desta ltima (a conscincia de si dep end endo
de outras condies, ou sendo dada de alguma outra maneira qualquer).
verdade que, em outras passagens, a unidade da conscinciaexpressamente
identificada
conscincia de si e considerada im possve l sem a unidade sinttica das
intuies. Assim, em A 10 8,a"identidadedaconscincia"expressamente iden tificada
"conscincia da identidade de si mesmo", e esta Kant diz ser impossvel "se no
tivesse diante dos olhos a identidade de seu ato (de sntese - GAA)". Contudo, a
explicao que se dar posteriormente da necessidade de subsumir as intuies
sintetizadas a categorias parece se basear numa outra doutrina, segundo a qual a
sntese , junto com a conscincia de si, condio da conscincia das intuies como
minhas, e a conscincia de si condio da conformidade a conceitos das intuies
sintetizadas.
Deixemos essa questo em aberto, por enquanto, e vejamos como Kan t entende
provar sua
lese.
Qualquer que seja
a
resposta questo acima,
a
tese
de
Kan t s estar
provada se duas coisas estiverem provadas: 1) que a condio indicada para a
"unidade da apercepo" seja uma condio suficiente; logo, pela indicao daquilo
que, na sntese das intuies segundo conceitos de objetos, torna possvel a unidade
2 6
(23) A mesma tese repetida em formulaes diferentes em A 10 8, A 111-12, A 11 3 e A 117n.
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nsro 1
1993
da apercepo. Provar isso , em outros termos, mostrar por que a capacidade de
a n a
M
^ t c /
efetuar snteses segund o conce itos acarreta para o sujeito o poder de se aperceber de volume 1
si mes mo e de suas repres enta es. 2) Que a cond io indicada uma cond io nume
necessria, logo, que a "unidade da apercepo" s possvel sob essa condio.
Provar isto , em outros termos, provar que no h alternativa possvel.
A nica coisa que Kant faz no sentido de provar que a unidade sinttica das
intuies uma condio da unidade da apercepo consiste em chamar a ateno
paraofatoque esteconceito envolveoconceitodeidentidade e que nenhuma intuio
emprica pode nos dar aquilo que deve ser pensado como idntico. "Aqu ilo que deve
ser necessariamente represen tado com o numericamente idntico no pode enquanto
tal ser pensado mediante dados em pricos" (A 107)
(24)
. Mas da se segue apenas que
o sujeito (alis do mesmo modo que o objeto das intuies) s pode ser pensado, e a
questo : quando, ou em que condies, ns nos pensamos como sujeitos, mais
precisamente, como o sujeito que sabe que tem um mltiplo de intuies?
Se fazemos abstrao do sujeito prtico e nos restringimos ao sujeito que
conh ece, e se exclumos o rec urso intuio, a nica base p ossvel para a conscincia
de si deve se encontrar na efetua o de operaes cognitivas. Se exclumos mais u ma
vez as operaes cognitivas complexas (por dependerem das elementares), a nica
base possvel para a "unida de da apercepo" deve ser buscada, na anlise de Kant,
na funo de sntese de um mltiplo dado esua subs un o a conceitos de objetos. Eis
por que Kant afirma, num a passag em j citada, que a "sntese segundo co nceitos"
o lugar "n o qual apenas a apercepo pode provar sua omnipresente (durchgngige)
e necessria identidade a priori." (A112)
Isto posto, nossa questo passa a ser: o que, na efetuao de atos de sntese
segundo conceitos de objetos, possibilita a quem faz isso tornar-se consciente de si
(24) Em outras passagens, Kant qualifica de duas maneiras sua afirmao. Em A10 8, a
identidade
da
funo ou do ato de sntese que apresentada como condio da "identidade da conscincia de si
me sm o". Kant quer dizer com isso, parece-me, que as representaes devem ser apreendidas por u m
mesm o ato para que elas possam ser pensadas
e
ligadas
na
"unidade da apercep o' .
Cf. a
esse respeito
f%
A F f
B 137. Na segunda edio, no a efetuao actual de uma sntese, mas a conscincia de poder ligar / 1 1 /
representaes que a condio da unidade da apercepo. m \J i
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A l/M TICA mesmo e das intuies dadas como representaessuas?A que precisamente se deve
volumei
a
"
, j r i
idade da apercepo"? realizao de um
ato,
que acontece ser um ato de
nmeroi sntese, ma s pod eria ser outro? Ou realizao de um atodesntese? O u, antes, ao fato
1993
de que a sntese subsumida a conceitos?
A primeira hiptese sofre de dificuldades to bvias que mal vale a pena
consider-la. Pois est claro que, ainda qu e todo agir suponh a um ag ente, da no se
segue que todo agir seja o agir de um sujeito consciente de si mesm o - pelo menos
no sentido proposicional de conscincia, que , como vimos, o nico relevante para
nossa discusso. Os argumentos expostos acima para mostrar que, em sentido
proposicional, a conscincia no uma condio de ter representaes, valem
tambm para n ossas aes. Do mesmo mo do que um sujeito no precisa ser capaz de
dizer o que intui, para ter intuies, tampouco precisa ser capaz de dizer o que faz,
para agir
(25)
. No percamos tempo, pois, com esta primeira hiptese.
primeira vista, a segunda hiptese no poderia sair-se melhor do que a
primeira, pois o que vale paraoagir em g eral de ve valer para esta espcie de atividade
que se chama "snte se". Assim, se possvel agir sem p or isso mesm o ter conscincia
(proposicional) de agir, do mesmo modo deve ser tambm possvel efetuar snteses
sem ter conscincia de faz-lo. Eis por que podemos atribuir aos seres incapazes de
pensar a capa cidad e de efetuar snteses. poss vel, porm, que, por seuresultado (a
conexo das representaes),asntese seja relevante paraaconscincia das intuies.
Kant entende por " sn tese " a operao (que, de resto, atribui imag inao)
(26)
pela
qual discrim inam os o que dado segu ndo rela es de exterioridade e su cessividade.
Sem a sntese, o dado mltiplo no tem a conexo que necessria para que seja
possvel apreender um m ltiplo enquanto tal. Ora, vimos que s podem os atribuir a
(25) No, porm , o agir intencional e imputvel, que sup e a conscincia proposicional do ato.
(26) Cf.
CRP,
A 77 s. =B 1 0 3s.e B130s., que noprecisa ser interpretado como uma m udana da teoria
da sntese, uma vez que fica preservada a distino entre a operao do entendimento (que Kant
denomina ligao e define como a "representao da unidade sinttica do mltiplo") e a sntese
propriamente dita, que continua a ser pensada com o um a opera o anterior
do
entendimento. Sobre
este ltimo ponto, cf. tambm B 150, que trata da
sntese figurada
como operao da imaginao.
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conscincia (proposicional) das intuies a quem capaz de caracteriz-las A N A M TI C A
conceptuaimente e podemos argumentar agora que essa caracterizao conceptual
volume 1
pressupe a possibilidade de combinar os dados de tal maneira que possamos mero 1
discrimin-los, antes de ompar-los e distingui-los segundo conceitos. Assim, diz
Kant em A118:
"Esta unidade sinttica pressupe, porm, ou inclui,uma sntese e se aquela
deve ser necessariamente a priori, ento esta deve tambm ser uma sntese a
priori. Portan to, a unidade transcendental da apercepo relaciona-se sntese
pura da imaginao como uma condio a priori da possibilidade de toda
composio do mltiplo num conhecim ento."
Podemos, ento, interpretar da seguinte maneira a afirmao inicial de que a
"conscincia da identidade de si mesmo" tem por condio a "identidade" ou a
"unidade da sntese das aparies segundo conceitos" (em A 108). S podemos ter
conscincia de ns m esmos, se, de antemo, podemos dar s nossas intuies, num
nico e o mesmo ato de sntese, a conexo que necessria para que elas possa m ser
apreendidas
em conjunto
com o intuies de um nico e o mesm o sujeito. Neste
sentido, a efetuao (ou a capacidade de efetuar snteses) apenas um a cond io
negativa, uma
conditio sine qua non
(necessria, embora no suficiente) da unidade
da apercepo. Ela diz apenas que a capacidade de se aperceber de si mesmo
permaneceria uma potencialidade apenas virtual, uma "faculdade morta e de ns
desconhecida no interior da m ente", (para extrapolar um a expresso que u sada por
Kant para caracterizar uma outra),
(27)
se no pudssemos efetuar snteses.
Essa explicao d um a resposta parcialque sto inicial sobreoque precisamente,
na efetuao de snteses segundo conceitos, tom a p ossvel a unidade da apercepo.
Ela deixa em aberto dois pontos:
primeiro,
naturalmente, a questo em que se baseia
a conscincia d e si, pois m esm o que
a
sntese seja um a condionecessria,sem a qual
no possvel a conscincia de si, ela no uma condio
suficiente.
preciso
determinar de man eira po sitiva o que preciso para que haja conscincia de si: por
(27) Cf.
CRP,
A 100. Trata-se a da imaginao.
: 9
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IC A
assim dizer, o que o sujeito deve fazer para que possa por isso mesm o tornar-se
consciente de si. Em segundo lugar, fica em aberto tambm a questo acerca da
possibilidade da
unidade objetiva
das intuies. A funo da sntese por si s, sem o
i
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o que essa pa ssage m parece afirmar que a conform idade da sntese s categorias ANAM fTICw
uma conseqncia do fato de que a sntese efetuada de uma maneira consciente. volume 1
Encontramos uma formulao mais clara do mesmo argumento, na chamada
"Exposio Definitiva" (3
a
Seco da Deduo). Em A 119, o entendimento e,
portanto, os conceitos pelos quais se pensa a unidade da sntese, so apresentados
como o fruto da relaodaapercepo com asntesedaimaginao
(28)
. Em A 124, Kant
explica que, sendo a sntese em si mesma "sensvel", ela incapaz de assegurar por
si a unida de d as intuies segundo conceitos de objetos. Para isso, preciso que ela
seja"intelectua lizada ", o que acontece justam ente quand o a apercepo "se acrescenta"
imaginao, e a esse "acrscimo" da apercepo ao mltiplo sintetizado pela
imaginao que devemos o surgimento d os conceitos de objetos.
A doutrina que emerge dessas explicaes relativamente clara. Pelo menos
est razoavelmente claro o que Kant
quer dizer.
O poder de fazer snteses e a
conscincia de si aparecem como poderes independentes mas correlacionados. do
relacionam ento desses poderes, i.e., do fato que as snteses sejam realizada s por um
sujeito consciente de si, que resultam duas coisas: por um lado, a possibilidade de
apreender om ltiplodasintuies como tend oaunidade subjetiva que tm enquan to
representaes minhas;por outro lado, a possibilidade de apreender o mltiplo das
intuies como tendo a unidade objetiva que tm como intuies de objetos delas
distintos. No primeiro caso, a sntese que torna possvel a unidade subjetiva das
intuies com o representaes m inhas, pois sem a possibilidade de ligar as intuies
entre si, a aperce po, o poder de se tornar conscien te de si me sm o, existiria de uma
maneira a pena s virtual no sujeito. No s egun do cas o, a conscincia de si, despertada
no sujeito pela sntese, que torna possv el pensa r o que apresentad o pelas intuies
sintetizadas.
(28) A unidade da apercepo em relao com a sntese da imagina o oentendimento, e precisamente a
mesma unidade,
relativamente sntese transcendental da imaginao,
o
entendimento puro.
Portan to, esto
contidas no entendimento cognies puras a priori, as quais contm a unidade necessria da sntese
pura da imagina o, com respeito a todas as aparies possveis. Estas, porm, so ascategorias, isto
, conceitos puros do entend imento" (A 119).
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Essa doutrina deixa em aberto duas questes. A primeira , que j mencionam os
acima, a questo: o que torna possvel a conscincia de si (e no apenas a auto-
atribuio das representaes)? A segunda :por que afinal as categorias,e,com elas,
conceitos de objetos, podem surgir do "acrscim o" da conscincia de si sntese?
Que a primeira questo fique em aberto no parece grave para a teoria. Pois
podemos tomaraconscincia sim plesmente com o um facto, cuja possibilidade talvez
possa,m as em todo caso noprecisaser investigada para cum prir a tarefa da Dedu o,
a saber, provar a conformidade das intuies a categorias. O nico cuidado que se
precisa tero de reformular as passagens em que Kan t fala da sntese como condio
da (identidade
da)
conscincia de
si.
Ser preciso reescre v-las n a interpretao com o
a afirmaode que asntese acondiodaunidade das representaesnaconscincia
de si.
Mas a segunda questo no pode ficar em aberto, porque dela depende a
plausibilidade da doutrina. essencial, pois, que se esclarea por que, afinal de
contas, a "intelectualizao" da sntese, ou a subordinao das intuies sintetizadas
a conceitos de objetos, decorreria do "acrscimo" da conscincia de si ao poder de
efetuar snteses.
Essa maneira de dizer (que a conscincia de si se "acr esce nta " ou se "relacion a"
ao poder de efetuar snteses) deve manifestamente ser entendida no sentido de que
o poder
de
sintetizar
e
as snteses efetuadas
se
tornam con scientes elas
prprias.
O que
Kan t quer dizer ento o seguinte: quando as snteses, que em si mesmas podem ser
efetuadas de maneira inconsciente ou impensada, passam a ser efetuadas por um
sujeito consciente de si m esm o, elas se tomam
ipsofacto
conscien tes para o sujeito que
as efetua. Mas da no decorre ainda que as categorias sejam engendradas quando o
sujeito se torna consciente e passa a pensar as snteses que efetua - a no ser que
estejamos dispostos a identificar as categorias a formulaes abstratas das regras de
sntese. Mas essa identificao no lcita. Categorias so regras para a identificao
dos
objetos
de nossas intuies
(29)
. As regras da sntese, ao contrrio, so regras para
adiscriminao espcio-temporal das intuies.
(29) Reg ras de identificao s o, a rigor, apenas os conceitos de objetos particu lares, que cham aramo s
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Por isso, s poderemos dar o passo das regras de sntese para as regras
A N A M ^ / T C
conceituais, se pudermos su por que um sujeito consciente desij dispe de antemo volume 1
do conceito de objeto
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NAM l
TI C A
A objeo primeira alternativa que ela no explica por que as intuies
, , sintetizadas devem ser referidas
a
um objeto
rfzsmo
do
sujeito.
C om efeito, admitamos
olum e 1 , j r t '
nmeroi que o sujeito consc iente ue si se pense a si m esm o com ouniobjeto. Dai nao se segue
1993
ainda que haja outros objetos (concebidos segundo o seu original "sub jetivo") aos
quais seria precis o referir as intuies. N o de estranha r, pois, que essa alternativa
no tenha sido explorada por Kant. A segunda alternativa exige que se reabra a
questo quan to s condies de possibilidade d a conscincia de si. M as, se fizermos
isso, estaremos abandonand o
a
suposio inicial de que podemos tom ar
a
conscincia
de si como um dado que no precisa ma is ser explicado.
Na nova verso de 1786, uma das modificaes mais salientes do argumento
kantiano o pap el conferido aojuzo, em lu gar da sntese, na elucidao d o conceito
da "unidade objetiva da apercepo". O ra, o juzo justamente a operao pela qual
as intuies so subsumidas a conceitos de objetos. Minha hiptese que, no
argumento reformulado da segunda edio, o dom nio da capacidade de julgar a
condio, no apenas da auto-atribuio das representaes (ou da unidade das
representaes num sujeito consciente de si mesmo), mas da prpria conscincia de
si. Ou seja, m inha h iptese que Kant exp erim ente, na segunda edio , a terceira das
alternativas que distinguimos mais acima.
(32)
2.2. Conscincia de Si e Conhecimento Objetivo na edio de 1786 (B).
Vejamos, ento, que novidades o novo texto de 1786 contm n o que concerne
relao entre
a
conscincia de
si
e
a
possibilidade
do
conhecimento ob jetivo. Uma das
novidades m ais salientes, como j indicamos,o destaque dad o ao juzo na explicao
da conscincia d a unidad e objetiva que necess ria para a conscincia d e si. N o se
pode dizer, verdade, que a noo do juzo esteja ausente, mesmo que no seja
mencionada pelo nome, da Deduo em A, uma vez que o resul tado da
2 1 4
(32)
A
saber,
qu e
a
"unidad e da apercepo" se explique pela subsuno
da
sntese a conc eitos.
V.
acima
p. 208.
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intelectu aliza o" da s ntese precisamen te o juzo . O que preciso saber ag ora se
ANA TICA
o juzo continua a ser pensado da mesma maneira em B, ou se, ao contrrio, ele
introduzido como uma condio da conscincia de si. nmero 1
1993
O novo argum ento comea com consideraes que j nos so familiares sobre
a relao da conscincia que tem os de nossas intuies (e que muda sempre com as
intuies) com a conscincia de si mesmo enquanto sujeito dessas intuies (e que
permanece sempre a mesma). O que preciso explicar, ento, a identidade da
conscincia de si, isto , o facto de que, na conscincia de cada uma de minhas
intuies, eu me relaciono comigo m esmo enquanto o mesm o sujeito de um mltiplo
de intuies.
O primeiro passo paraaexplicao aconsiderao que, nosebaseando numa
intuio intelectual de si m esm o, a conscincia de si s pode se fundar no ato que liga
uma outra as intuies de uma mesma conscincia, ou seja, a conscincia ou a
representao de seu ob jeto. , pois, a unidade sinttica das intuies (ou antes o ato
que a constitui) o fundamento da identidade da conscincia de si
(33)
Ora, o ato que
constitui a unidade sinttica d as intuies o juzo. P ode-se dizer, ento, que pelo
juzo que as intuies so reduzidas unidade objetiva que necessria para a
conscincia de si.
Kant d ento uma form ulao muito sumria de sua teoria:
Um juzo no outra coisa seno o modo de trazer cognies dadas unidade objetiva
da apercepo . Tal o objetivo da cpula nos juzos, afim de distinguir a unidade
objetiva de representaes dadas da unidad e subjetiva. Pois eladesignaa relao d essas
representaes com a apercepo originria e sua unidade necessria.
(34)
A tese a provar , pois, a afirmao que o juzo exprime a unidade objetiva que
acondiodaap ercepo. Kant fala, verdade, da
unidade objetiva da apercepo,
mas,
visto que essa unidade foi apresentada como o fun dam ento (Grund)ou condio da
(33) Cf.
CRP,
B 134.
(34)
CRP,
B 141.
1 5
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TICA apercepo/
35
' a parfrase que fiz (a unida de objetiva que acondio da conscincia
de si) admissvel. A tese , pois, dup la: que o juzo exprime a un idad e objetiva das
1 representaes e que a unidade expressa pelo juzo a condio exigida pela
conscincia de si.
O argu mento em favor da primeira parte datese, em suma, qu e o juzo exprime
aasserodaobjetividade de uma conexo de cognies dadas,oque se v claramente
se se considera o papel da palavra
no juzo. Embora Kant utilize a expresso
"cpula"
(VerMltnisiortchen),
o contexto no deixa dvida que ele no pensa
unicamente nos juzos predicativos. Com efeito, Kant comea o # 19 sobre o juzo
criticando precisamente a definio tradicional que s leva em conta os juzos
categricos. Convm, pois, compreender o verbo no sentido, no da relao
predicado-sujeito, mas no sentido de um op erador (" verdade que ") que transforma
conexes de representaes (no caso, proposies) em asseres.
O argumento para a segunda parte da tese a considerao que a palavra (o
operador) serve para distinguir a unidade objetiva das representaes dadas de
sua unidade subjetiva. Mas o que que isso quer dizer exatamente? Poderamos
pensar que Kant qu eria dizer que as expresses "objetivo " e "subjet ivo" so termos
correlatos e que, por conseguinte, no se pod e compreender um sem compreender o
outro. As sim , a afirma o da unidade o bjetiva da s representaes s seria possvel se
sepudesse contrastaraunidade objetiva com aunidade subjetiva das represen taes.
Apen as, como se poderia falar da unida de s ubjetiva das representaes sem se referir
conscincia que temos delas enquanto representaes nossas? A referncia
unidade subjetiva
das
representaes por op osio objetiva supe , pois,
a
conscincia
de si. Ora, a questo colocada era precisamente a questo sobre a condio dessa
conscincia. Portanto, estaramos a andar em crculo se quisssemos explicar a
possibilidade da conscincia da un idade subjetiva pelo contraste com a conscincia
da unidade objetiva.
(35) Cf.
CRP,
B 134.
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Se o juzo perm ite efetivamente exp licar a identidad e da conscincia de si,como ANAvy TiC/
afirma Kan t, a noo de juzo no pode pressupor, mas deve ter como conseqncia a
volume 1
distino entre o subjetivo e o objetivo. Ou por outras, a noo de juzo no pode nmero 1
depender da noo da conscinciadesi, ma s deve exp licar, ao contrrio, como agente
pode vir a se aperceber de si mesm o pelo simp les fato de
ser
capaz de julgar. Vejam os,
ento, o que se pode fazer nesse sentido.
Se a anlise proposta por Kant
correta, poderam os dizer que a forma
do
juzo
: " verdade quep ,ondepdesigna um a proposio (Kant diria: uma "conexo de
cognies" ou de "representaes"). Mas o queooperador
verdade qu e" exprime,
como vimos, p recisamenteapretenso de que uma proposio seja verda deira. O ra,
visto que essa afirmao pode ser negada e m ostrar-se injustificada, torna-se possvel
fazer uma distino entre o verdadeiro e o falso e neste momento apenas que se
poder fazeradistino entre oqueera con sidera do verdad eiro, mas se revelou falso,
deum lado,e oque foi dito verdad eiro e se confirmo u como efetivamen te verd adeiro,
de outro lado - e isso quer dizer: a distino entre o real e o aparente. E s ento,
enfim, que se poder fazer a distino entre o que realmente v erda deiro(objetivo)e
o que apenas parece ser, a
mim,
verdadeiro
(subjetivo).
Ora, a partir
do
mom ento em que nos tornamos capazes de distinguir a unidade
objetiva das representaes (a ttulo de representaes
de um objeto
) da unidade
subjetiva das representaes (a ttulo de representaes em mim), tambm nos
tornamos capazes de fazer duas outras coisas: uma exprimir a conscincia da
unidade subjetiva das representaes (e isso quer dizer a conscincia emprica) por
meio de juzos apropriados, aqueles precisamente que Kant denominou juzos de
percepo.
{36)
A outrareferir-sea simesmo comoosujeito que est de agora em diante
consciente da unidade subjetiva das representaes expressas em um juzo, e isso
quer dizer a conscincia de si que est presente em toda conscincia emprica. Em
suma, o poder de julgar que Kant explica pelo poder de empregar o operador
c
(36) O termo no se encontra, verdade, na passagem interpretada, mas est implcito a. Cf. as duas / g V
ltimas frases do # 19. m J L
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\ HTIC A
assertrico:
,
ou " verdade qu e", confere tambm ao indivduo que dispe dele
oiumei P
o c
ie rdeexprimiro queele percebe p or oposio ao qu e ele afirma ser verdadeiro/
37
'
mero i e com isso o poder de se referir a si me sm o como aquele que julga, num a palavra, o
1993
poder de empregar a palavra "eu ".
A interpretao que dei baseia-se na suposio que possvel julgar sem se
referir a si mesmo como o auto r do juzo, logo sem estar co nsciente de julgar. Tentei
explic-lo mostrando: (1) que o ato de julgar pode se explicar pelo emprego do
operador " verdade que",e(2) quearefernciaasi mesm os constitutiva dos juzo s
de percepo,isto ,dos juzos que exprimem aunidade subjetiva das representaes
e que derivam da negao dos juzos objetivos. Mas ser verdade que podemos fazer
juzos sem estar conscientes disso?
Imag ino que se poderiam fazer du as objees. A primeira uma constatao
textual: ocorre a Kant dizer, com o na passag em m esma que come ntei, que o juzo traz
as intuies identidade da apercepo e unidade objetiva. A outra uma
considerao sobre
a
coisa mesm a: h muitas coisas que no podem os fazer sem sab er
que estam os fazendo (no sentido p roposicional de sab er, est claro, no no sentido da
conscincia imediata), por exem plo os comprom issos e as aes de que podemos ser
responsabilizados. Por que o juzo no pertenceria a esse gnero de coisas?
Respondo primeiro a questo temtica, considerando to somente como seria
preciso representar a forma do juzo, se a conscincia de si fosse por hiptese uma
cond io d e julgar. Seria preciso, ento, incluir a expre sso da conscincia
de
julgar
na exp resso do prprio juzo , o que nos levaria a um a expre sso d a seguinte form a:
"Julgo que verdadeiro que p , ou mais simplesmente: "Julgo que p . Mas isso
acarreta a dificuldade que dizer que eu julgo no eqivale a julgar. Em outras
palavras, no chego a julgaraodizer que julgo que a lgo ocaso.Co m efeito, seeudigo:
"Julgo quep ,ou bem limito-me a exprimir uma opinio (e no um juzo no sentido
da a ssero de uma verdade) - e um outro ato que realizo ao dizer que julgo, ou bem
2 1 8
(37)
Esse poder
pode, por sua vez, ser
analisado como
o
poder de emp regar um nov o operador: "par ece
que".
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exprim o a conscincia reflexiva (propo sicional) de ju lg ar -e o
que eu
quero dizer ento A Na
^ / t IC ;
que eu sei que estou julgando (e no que verdade que
p ).
volume 1
No que concerne
objeo textual, penso que possvel afast-la considerando
que verd ade, em certo sentido, que o juzo traz as intuies conscincia de si, mas
issodamaneira precisamente pela qual reconstrumos o argum ento kantiano,asaber,
como um a conseqncia do ato de julgar, e no como um a condio prvia.
n u mero
1993