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Guilherme Pedrozo da Silva #tributariotrilegal Teoria e Prática 2022 Direito tributário EDIÇÃO Revista, ampliada e atualizada

Guilherme Pedrozo da Silva

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Guilherme Pedrozo da Silva#tributariotrilegal

Teoriae Prática

2022

Direitotributário

4ªEDIÇÃO

Revista, ampliadae atualizada

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3LIMITAÇÕES AO PODER

DE TRIBUTAR – PRINCÍPIOS

Para que o ente público, por intermédio dos seus poderes cons-tituídos exerça a sua competência tributária, será necessário balizar suas atividades com a observância das limitações ao exercício do poder de tributar dispostos na CF. Assim, podemos considerar que a nossa Carta Magna pode ser uma espécie de filtro para o exercí-cio da competência, servindo tais limitações, assim, precipuamente, para a defesa dos contribuintes de qualquer tipo de cobrança arbi-trária, desleal e, portanto, inconstitucional.

Lembrando que tais limitações, uma vez desrespeitadas, irão ge-rar a inconstitucionalidade do ato ou da lei realizada pelo ente públi-co competente ou até mesmo incompetente. Ademais, vale ressaltar que tais limitações dividem-se entre princípios e imunidades.

3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Reza o art. 150, I, da CF que:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça [...]

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Logo, conforme exposto, nenhum tributo poderá ser criado ou majorado sem lei que o estabeleça. Portanto, em geral, somente o Poder Legislativo poderá criar ou majorar tributo, sempre mediante observação do devido processo legislativo.

E o Poder Executivo não poderá atuar na criação ou majoração de tributos? Obviamente que a CF lhe reservou possibilidades, ex-cepcionais é verdade, até como forma de controlar a economia e o mercado. Diante disso podemos afirmar que houve mitigação aoprincípio da legalidade.

3.1.1 1ª Exceção ao Princípio da Legalidade

Poderá o Poder Executivo (União), mediante decreto, porta-ria ou resolução, alterar as alíquotas dos impostos (II, IE, IOF e IPI) abaixo descritos. O fundamento está no art. 153, § 1º, da CF. Veja que alterar na acepção constitucional significa promover qualquer movimentação nas alíquotas, seja majorar, reduzir ou restabelecer.

Imposto Importação

Imposto Exportação

Imposto sobre Operações Financeiras

Imposto sobre Produtos Industrializados

Decreto/Portaria

Resolução Camex

Poder Executivo - Alterar

Alíquotas

Importante ressaltar, sobre a presente exceção, que a Camex é o órgão de controle do comércio exterior do nosso país e está vincu-lada à administração pública federal, por essa razão, lhe é possibi-litada tal alteração de alíquotas dos impostos de importação e ex-portação, conforme inclusive já foi decidido pelo STF (RE nº 570.680).

Ademais, outro fato que se pode questionar é o porquê de ser mitigado aqui o princípio da legalidade: justifica-se em razão de que tais impostos são extrafiscais, ou seja, servem para regular a economia do país.

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3.1.2 2ª Exceção ao Princípio da LegalidadePoderá o Poder Executivo, igualmente, por meio de decreto ou

convênio, reduzir ou restabelecer as alíquotas de CIDE e ICMS Com-bustível. Porém cuidado, não esqueça: aqui não se trata de majora-ção, mas tão somente de redução ou restabelecimento das alíquo-tas anteriores. O fundamento está no art. 155, § 4º, IV, c, e no art. 177, § 4º, I, b, todos da CF.

3.1.3 3ª Exceção ao Princípio da LegalidadePoderá o Poder Executivo, também por meio de decreto ou por-

taria, atualizar base de cálculo de tributo. Importante ressaltar: tra-ta-se de mera atualização, recomposição da base, jamais podendo representar onerosidade ao contribuinte.

Assim, essa atualização deverá observar os limites estabe-lecidos pelos indexadores oficiais, ou seja, dentro de um máximo permitido observando-se estes índices. Tudo o que for superior aos indexadores, não poderá ser realizado pelo Poder Executivo, visto tratar-se de onerosidade, logo, podendo ser realizado tal ato ape-nas por meio de lei. O fundamento está no art. 97, § 2º, do CTN e na Súmula nº 160 do STJ.

3.1.4 4ª Exceção ao Princípio da LegalidadePoderá, igualmente, o Poder Executivo Federal, mediante Me-

dida Provisória, criar ou majorar qualquer espécie tributária (con-forme STF já se pronunciou – ADI nº 1.417 MC), inobstante a cons-tituição apenas referir-se a imposto. Entretanto, para que assim o faça terá de atender a dois requisitos: que o tributo possa ser criado por lei ordinária e que seja convertido em lei no mesmo ano de sua edição. O fundamento está no art. 62, § 2º, da CF.

3.1.5 5ª Exceção ao Princípio da Legalidade

Poderá, por fim, o Poder Executivo alterar o prazo para paga-mento de tributo por meio de decreto ou portaria. Compreende-se pela desnecessidade de lei, visto que tal exigência não está disposta

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no art. 97 do CTN, ou seja, não existindo o requisito de lei para tal realização.

3.1.6 Observações Importantes sobre LegalidadeApós vistas as exceções ao princípio da legalidade, pode-se

questionar qual tipo de lei poderá instituir ou majorar tributo. Nor-malmente, os tributos serão criados ou majorados mediante lei or-dinária.

Entretanto, existem quatro exceções de tributos, que somen-te serão operacionalizados (criadas ou majoradas) mediante Lei Complementar: Imposto Residual, Contribuição Social Residual, Im-posto sobre Grandes Fortunas e Empréstimos Compulsórios. Vale ressaltar que, se apenas esta última espécie normativa citada pode-rá criar/majorar, tais tributos não poderão ser criados/majorados, igualmente por Medida Provisória (art. 62, § 1º, III, da CF).

Somente por Lei Complementar - Criação ou Majoração

Imposto Residual - pela União - art. 154, I, da CF

Contribuição Social Residual - pela União - art. 195, § 4º, da CF

Empréstimo Compulsório - pela União - art. 148 da CF

Imposto sobre Grandes Fortunas - pela União - art. 153, VII, da CF

Outro ponto importante sobre o princípio da legalidade é sobre os incentivos ou benefícios fiscais. Na forma do art. 150, § 6º, da CF tais concessões somente poderão ser realizadas mediante lei, com exceção da isenção do ICMS que deverá ser realizada por meio de convênio, na forma do art. 155, § 2º, XII, g, da CF.

Por fim, vale dizer, ainda, que se para criar ou majorar tributos é necessário norma legal, para sua extinção ou redução igualmente será necessário lei, observando o teor do art. 97 do CTN. Aplica-se aqui, portanto, o paralelismo de formas, ou seja, preciso de norma de nível hierárquico igual ou superior para extinguir ou reduzir os tributos.

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3.2 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

O presente princípio irá limitar a possibilidade e atividade dos entes competentes de cobrarem os tributos por eles respectiva-mente criados/majorados a qualquer momento. Logo este princípio servirá para informar ao contribuinte quando ele deverá e poderá ser cobrado dos respectivos tributos uma vez realizados os fatos geradores dispostos na norma tributária.

Mas, desde já, lembre-se: como se trata de limitação ao exer-cício da competência tributária ele será observado apenas quando da criação ou majoração de tributo, visto que quando tratar-se de medida desonerativa (mais favorável) ao contribuinte, tal norma terá aplicação imediata. Igualmente, para efeitos de Exame da Or-dem, vale ressaltar que tal princípio trata-se de regra de eficácia e não de vigência.

O princípio da anterioridade, com razão precípua da necessida-de de evitar a surpresa aos contribuintes, é entendido conforme tex-to constitucional pela anterioridade do exercício e a anterioridade nonagesimal e estão situados no art. 150, III, b e c, da CF.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:III – cobrar tributos:b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993)c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o dis-posto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19-12-2003)

Diante disso, na forma do art. 150, III, b, da CF, todo tributo criado ou majorado somente poderá ser exigido no primeiro dia do exer-cício seguinte, ou seja, uma vez publicado, por exemplo, no ano de 2018, somente poderá ser exigido no primeiro dia do ano de 2019.

Entretanto, considerando que até 2003 a CF contemplava apenas o presente artigo como princípio da anterioridade, ainda

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restavam presentes muitas surpresas aos contribuintes, visto que os tributos eram criados ou majorados no dia 28 de dezembro e já eram exigidos no dia 1º de janeiro do ano seguinte, ou seja, após apenas alguns dias da publicação sendo uma cobrança, portanto, praticamente imediata.

E, para evitar essas surpresas, houve um acréscimo no texto constitucional, vindo a criar-se o princípio da anterioridade nona-gesimal. Assim, na forma do art. 150, III, c, da CF, todo tributo criado ou majorado, somente poderá ser exigido após 90 (noventa) dias da publicação, observando-se igualmente a anterioridade do exercício justamente para evitar as surpresas anteriormente citadas.

Logo, diante das regras expostas, todos os tributos criados ou majorados deverão aguardar as duas anterioridades (requisitos cumulativos), ou seja, somente poderão ser exigidos no exercício (ano) seguinte ao de sua publicação, somados 90 (noventa) dias da publicação.

3.2.1 Exceções ao Princípio da Anterioridade

Entretanto, como nem tudo são flores em qualquer área do di-reito, compreendeu por bem o constituinte reservar a alguns tributos uma possibilidade de exigência mitigada, justamente para enfrentar o mercado econômico (política econômica e social) ou a necessida-de de exigência do tributo. Assim, positivou o constituinte, mitigando,portanto, os princípios da anterioridade no art. 150, § 1º, da CF:

Art. 150 da CF. § 1º A vedação do III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19-12-2003)

Logo, conforme positivado no parágrafo supraindicado, assim compreendeu o constituinte:

• Terão exigência imediata, ou seja, mesmo que majoradosou criados poderão ser exigidos tão logo publicados: Impos-to de Importação, Imposto de Exportação, Imposto sobre

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Operações Financeiras, Empréstimo Compulsório de Guerra Externa ou sua Iminência, Empréstimo Compulsório de Cala-midade e Imposto Extraordinário de Guerra.

• Outrossim, terão exigência respeitando apenas a anteriorida-de nonagesimal, ou seja, 90 dias após a sua publicação, sen-do, portanto, possível a sua exigência no mesmo ano de sua publicação: Imposto sobre Produtos Industrializados, Contri-buições Sociais e CIDE/ICMS Combustíveis.

• E terão exigência respeitando apenas a anterioridade do exercício, ou seja, podendo ser majorados em 28 de dezem-bro, publicados em 29 e já exigidos no dia 01 de janeiro: Im-posto de Renda (alíquotas, base de cálculo) e Base de Cálculo (apenas) de IPVA e IPTU.

3.2.2 Observações Importantes sobre AnterioridadeApós análise das exceções dispostas no art. 150, § 1º, da CF cabe

ainda dizer que, conforme Informativo nº 757 do STF, revogação ou isenção de benefício fiscal, mesmo que parcial, deverá observar os dois princípios da anterioridade. Assim, se minha empresa goza de um benefício e este vem a ser revogado, o fisco deverá aguardar as duas anterioridades para exigir o tributo que a minha empresa tinha benefício.

Por fim, outra questão de grande valia sobre o princípio da ante-rioridade é de que a modificação de prazo para pagamento, mesmo que venha a antecipar a arrecadação/pagamento não estará sujeita a anterioridade na forma da Súmula Vinculante nº 50 do STF:

Súmula Vinculante nº 50. Norma legal que altera o prazo de re-colhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

3.3 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVAReza o art. 145, § 1º, da CF que os impostos serão cobrados de

forma gradual observando a disponibilidade e a possibilidade de quem irá satisfazer o crédito tributário. Para muitos o presente prin-cípio é o corolário do princípio da isonomia tributária.

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3.4 PRINCÍPIO DA ISONOMIA

Reza o art. 150, II, da CF que:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se en-contrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

Diante do que compreendido pelo inciso supracitado todos te-rão tratamento igualitário perante a norma tributária, carecendo somente de um trato desigual aqueles que se apresentam em uma situação de desigualdade.

Tal princípio está intimamente ligado ao princípio da capacida-de contributiva (art. 145, § 1º, da CF) e o da não discriminação (art. 152 da CF).

3.5 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE

Reza o art. 150, III, a, da CF que:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III – cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vi-gência da lei que os houver instituído ou aumentado;

Em face do que disposto na presente alínea, a norma tributária não poderá retroagir, ou seja, não poderá atingir fatos geradores que ocorreram antes de sua vigência. Sendo assim, aplica-se a lei vigente, alíquota e base de cálculo que estiverem em vigor quando da ocorrência do fato gerador. Logo, conclui-se: a norma tributária, em geral, não poderá retroagir justamente para preservar o direito

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adquirido, o ato jurídico perfeito e a proporcionar para todos uma segurança jurídica.

E vale dizer, ainda, que a CF não traz nenhuma mitigação ou exceção. Entretanto o Código Tributário Nacional nos apresenta 3 exceções a este princípio.

3.5.1 1ª Exceção ao Princípio da IrretroatividadeA nova norma que tenha caráter interpretativo da norma antiga

e que venha solucionar pontos obscuros/omissos da norma antiga, desde que não cause penalidade ao contribuinte, poderá retroagir. Assim a lei nova de caráter interpretativo poderá retroagir, desde que não cause penalidade ao contribuinte. Tal fundamento encon-tra-se esculpido no art. 106, I, do CTN.

3.5.2 2ª Exceção ao Princípio da IrretroatividadeIgualmente a norma nova que venha deixar de tratar ato como

infração (extinguir multa) ou reduzir a infração (reduzir o percentu-al da multa) poderá retroagir para fatos geradores já ocorridos des-de que exista ato pendente de julgamento (seja judicial ou admi-nistrativo). Vale ressaltar: trata-se de retroatividade mais benéfica somente e tão exclusivamente no campo das infrações (jamais no tocante às alíquotas ou base de cálculo). Tal fundamento encontra--se esculpido no art. 106, II, a e c, do CTN.

3.5.3 3ª Exceção ao Princípio da IrretroatividadeAinda, poderá retroagir norma nova que venha instituir ou esta-

belecer novos critérios de fiscalização e/ou proporcionar ao crédito tributário nova classificação. Tal fundamento encontra-se esculpi-do no art. 144, § 1º, do CTN.

3.5.4 4ª Exceção ao Princípio da IrretroatividadePor fim, poderá retroagir norma nova que extinguir o dever

do cumprimento de obrigação acessória, desde que tal descumpri-mento originário não tenha ocorrido com o intuito de fraude/dolo (sonegação), bem como o contribuinte tenha realizado o pagamen-to de todos os seus tributos. Tal fundamento encontra-se esculpido no art. 106, III, b do CTN.

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3.6 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO EFEITO DE CONFISCOReza o art. 150, IV, da CF que:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

IV – utilizar tributo com efeito de confisco;

Conforme exposto, nenhum ente público poderá estabelecer ou exigir tributo com caráter confiscatório, ou seja, que impeça o uso adequado da propriedade ou não possibilite o livre exercício da atividade privada.

Logo o contribuinte não precisará vender seus bens em face da exigência de tributos que o impeçam de fazer o livre exercício do direito fundamental da propriedade. Importante ressaltar que o STF passou a aplicar o presente dispositivo para as multas, ou seja, nenhuma multa (penalidade) poderá ser exigida com o caráter con-fiscatório, como multa moratória (por atraso no pagamento) não poderá ter percentual superior a 20% (vinte por cento).

Sobre a presente matéria cai ao lanço ainda lembrar sobre as importantes e sempre lembradas súmulas do STF que corriqueira-mente são vistas nas provas de tributário.

SÚMULA Nº 70 DO STF

É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coer-citivo para cobrança de tributo.

SÚMULA Nº 323 DO STF

É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coerciti-vo para pagamento de tributos.

SÚMULA Nº 547 DO STF

Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.

3.7 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGOReza o art. 150, V, da CF que:

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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri-buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.

Nenhum tributo poderá impedir o livre exercício do direito de ir e vir, salvo a própria mitigação exposta no inciso mencionado no que tange à cobrança de pedágios. Lembrando que, salvo melhor juízo, quem cobra pedágio não cobra tributo, mas sim tarifas/preço público em que o contribuinte pagará para permissionários e/ou concessionárias do serviço público somente mediante a utilização destes serviços.

3.8 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICAReza o art. 151, I e II, da CF que:

Art. 151. É vedado à União:

I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de ou-tro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a pro-mover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;

II – tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis supe-riores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes [...]

Tal princípio tem observância direta para a União. Assim, o pre-sente ente federativo em razão do texto constitucional não poderá tratar os demais entes federativos e seus respectivos contribuintes de forma desigual. Exemplo: a incidência sobre o Imposto de Renda que será considerada no Rio Grande do Sul, igualmente deverá ser observada no Rio de Janeiro, não podendo haver tratamento dife-renciado. A justificativa para a presente norma cogente é: respeito à isonomia e ao pacto federativo.

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Entretanto, o mesmo inciso I trabalha com uma mitigação em que faculta a União conceder tratamento diferenciado na tributa-ção de sua competência a fim de proporcionar desenvolvimento so-cioeconômico de determinada região. Aqui se encontra o clássico exemplo da Zona Franca de Manaus.

Na forma do inciso II do artigo supraindicado, a União também não poderá conceder tratamento diferenciado para seus servidores, bem como as obrigações de dívidas públicas. Por exemplo, se um Ma-gistrado Federal tem retenção de 27,5% de imposto de renda sobre seu ordenado, a mesma regra deverá valer para o Magistrado Esta-dual, não podendo, portanto, a União conceder tratamento diferen-ciado para o federal em face deste pertencer aos quadros federais.

3.9 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA ISENÇÃO HETERÔNOMAReza o art. 151, III, da CF que:

Art. 151. É vedado à União:

III – instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

Na forma do presente inciso, a União não poderá intrometer-se no que tange a benefícios fiscais nos tributos que não são de sua competência. Assim não caberá isenções heterônomas, ou seja, a União não poderá conceder isenção de tributos que são de compe-tência dos demais entes.

Entretanto, para muitos doutrinadores algumas mitigações de-verão ser observadas, devendo inclusive ser compreendidas como imunidades por estarem expressas na CF. Desta forma serão miti-gações a vedação a imunidade do ISSQN dos serviços destinados para o exterior (art. 156, § 3º, II, da CF), a imunidade de ICMS para mercadorias e serviços destinados igualmente ao exterior (art. 155, § 2º, X, a, da CF) e aquela que mais é presente nas provas de OABque é a possibilidade, segundo o STF (RE nº 229.096), dos Tratadosou Convenções Internacionais, uma vez ratificados pelo Presidenteda República, isentarem tributos estaduais e municipais observadoo que disposto no art. 98 do CTN.

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3.10 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃOReza o art. 152, da CF que:

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni-cípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.

Na forma do presente artigo, os Estados, Distrito Federal e Mu-nicípios não poderão exigir tributo de forma diversa em razão da origem e/ou destino dos bens e serviços que estarão sendo comer-cializados pelos contribuintes. Logo questiona-se: poderá o Estado do Rio Grande do Sul cobrar mais IPVA de um veículo por ser ele importado? A resposta é negativa.

3.11 MAPAS PARA FIXAÇÃO

Mapa da Legalidade

Assim: preciso do Processo Legislativo.

Exceções ao Princípio da Legalidade, ou seja, onde o Poder Executivo

poderá atuar:

Lembre-se que: para extinção ou redução de tributos, também vou

precisar de lei.

1) Poderá mediante decreto, portaria,resolução: ALTERAR as alíquotas de II,

IE, IPI e IOF.

2) Poderá mediante decreto, convênio:REDUZIR OU RESTABELECER asalíquotas de CIDE E ICMS COMB.

3) Poderá mediante decreto:ATUALIZAR (recompor, sem onerar)

Base de Cálculo dos Tributos.

4) Poderá mediante Medida Provisória:CRIAR ou MAJORAR TRIBUTOS, uma vez

atendidos 2 requisitos.

5) Poderá mediante decreto: ALTERARprazo para pagamento de TRIBUTO.

Os entes somente poderão criar e majorar tributo mediante lei.

Via de Regra: Lei Ordinária

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Guilherme Pedrozo da SilvaDIREITO TRIBUTÁRIO • TEORIA E PRÁTICA

Mapa da Anterioridade

Alteração de Prazo de Pagamento: não aguarda as anterioridades.

Exceção: existem tributos que, mesmo que majorados, serão exigidos de imediato:

Exceção: existem tributos que, mesmo que majorados,

só aguardam 90 dias:

Exceção: existem

tributos que, mes-

mo que majorados,

aguardam só exercí-

cio seguinte:

II, IE, IOF, I.E. Guerra e Emp. Compulsório (Guerra e

Calamidade).

IPI, CIDE e ICMS Combustíveis e Cont. de

Seguridade Social.

IR (Tudo) e Base de

Cálculo do IPVA e

IPTU.

Regra: Para Toda Criação ou Majoração, Observo:

1) Anterioridade doExercício

2) AnterioridadeNonagesimal

= Só posso exigir no ano seguinte da publicação

= Só posso exigir após noventa dias da

publicação

Para Evitar Surpresas: a

Constituição Federal resolveu instituir

dois princípios para saber quando

o contribuintedeverá pagar o

tributo criado e/ou majorado.

Mapa da Irretroatividade

Regra Geral: Não Retroatividade

Mas poderá retroagir:necessidade de interpretação de lei anterior, desde que não

cause penalidade.

Mas poderá retroagir:lei nova vier a extinguir ou reduzir multa, desde que

pendente discussão.

Mas poderá retroagir:lei nova que vier a estabelecer novos critérios de fiscalização.

A norma tributária não irá retroagir, ou seja, aplico a norma vigente quando da ocorrência do fato

gerador.

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CÍCI

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DO

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AB

3 LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR – PRINCÍPIOS

Mapa da Uniformidade Geográfica

Salvo: Promover Desenvolvimento Econômico para Determinada Região

União não poderá tratar diferente:

União não poderá tratar diferente:

Obrigação das Dívidas Públicas

Proventos dos Servidores dos Entes

A União não poderá conceder tratamento

diferenciado para os demais entes

competentes.

3.12 COMO JÁ CAIU NA OAB

Exame XXIV – Questão 2

A União publicou, no Diário Oficial de 30 de junho de 2017, decreto que majorou a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). No decreto, foi estipulado que a alíquota majorada já seria válida para fatos geradores ocorridos a partir do mês seguinte. Tendo em vista a anteriori-dade nonagesimal e a anterioridade do exercício financeiro, responda aos itens a seguir.

A) É válida a exigência da alíquota majorada no mês seguinte à publica-ção do decreto?

B) Se, em vez de majorar a alíquota, o decreto alterasse apenas o prazode recolhimento da obrigação tributária, seria válida a sua exigênciaa partir do mês seguinte ao da publicação?

A) Não, pois embora o IPI não se submeta à anterioridade doexercício fi nanceiro, está sujeito à anterioridade nonagesimal,na forma do disposto no Art. 150, § 1º, da CF.B) Sim, pois a alteração do prazo de recolhimento de tributonão se sujeita ao princípio da anterioridade, conforme SúmulaVinculante 50 do STF.