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7/21/2019 Há de Haver Pasquale http://slidepdf.com/reader/full/ha-de-haver-pasquale 1/1 PASQUALE CIPRO NETO Há de haver, hão de existir O verbo auxiiar !ão te" #vo!tade $r%$ria#& 'ae se"$re a vo!tade do verbo $ri!(i$a da o(u)ão verba DIA DESSES, ao analisar a interminável tragédia da aviação civil do país, um experto no assunto afirmou que !á de existir soluç"es para a crise, mas elas certamente não virão neste ano ou no pr#ximo$ %ão foram poucos os leitores que viram o tele&ornal e escreveram para pedir comentários so're a passagem !á de existir soluç"es$ Alguns desses leitores foram mais específicos e, 'aseados no texto da semana passada, em que tratei de locuç"es ver'ais (verdadeiras e aparentes), solicitaram a análise do trec!o da afirmação do especialista$ *amos, pois, + frase do experto em aviação (á de existir soluç"es para a crise)$ - sa'ido que o emprego do ver'o !aver não é tarefa das mais palatáveis$ - sa'ido tam'ém que, quando é usado com o sentido de existir, ocorrer ou acontecer, o ver'o !aver é impessoal, ou se&a, não tem su&eito e é flexionado na terceira pessoa do singular (qualquer que se&a o tempo ver'al)$ . resultado do que aca'ei de afirmar é que, na língua padrão, não são adequadas formas como /om o fec!amento do t0nel, !ouveram grandes congestionamentos no 1io$ Em ve2 de !ouveram, empregue3se !ouve$ /omo tam'ém é sa'ido, os sin4nimos de !aver não t5m nada com a !ist#ria, ou se&a, são flexionados no singular e no plural (.correram gravíssimos acidentes6 Existem soluç"es para a crise etc$)$ E como se deve agir nas locuç"es ver'ais7 - simples8 vale sempre a vontade do c!efe, ou se&a, do ver'o principal$ . ver'o auxiliar cumprirá o seu papel de auxiliar, isto é, fará o que o comandante determinar$ *amos lá, pois8 á de !aver soluç"es para a crise6 ão de existir soluç"es para a crise$ 9as !ão7 . ver'o !aver não$$$ %ão nada$ . ver'o auxiliar não tem vontade pr#pria$ *ale sempre a do principal$ :osto isso, não resisto + tentação de a'ordar a provocação que fi2 logo no começo do texto (quando empreguei experto, com x mesmo)$  %ormalmente, para falarem de alguém que tem con!ecimento específico em certo assunto, os &ornalistas empregam as palavras especialista e expert, esta lida + inglesa (écspert, com intensidade tonal na primeira síla'a)$ . detal!e é que a forma expert entrou no portugu5s pelo franc5s (em que se l5 ecspért, com intensidade no segundo e)$ De qualquer maneira, a origem de experto (portugu5s e espan!ol), expert (franc5s e ingl5s) e esperto (italiano) é a mesma8 o latim (expertus)$ Di2 o #timo ouaiss que ($$$) no latim medieval, expertus enfeixava dois étimos distintos$ ;m deles é o que estamos a'ordando6 o outro é o de desperto, acordado, que são sin4nimos de esperto, com s, que, por sua ve2, tam'ém vem de expertus, mas daquele que resultou da contração de expergitus, particípio de expergiscor (acordar, despertar)$ . ouaiss di2 tam'ém que a forma portuguesa experto não fa2ia a distinção sem<ntica (especialista e desperto, acordado) que passou a existir em nossa língua, talve2 apenas do século => em diante$ Isso significa que no portugu5s antigo s# !avia expertos$$$ o&e, em nossas plagas, !á menos expertos (em se&a lá o que for) do que espertos (o sentido de oportunista, espertal!ão se dá por extensão do sentido de acordado, vivo)$ - isso$

Há de Haver Pasquale

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7/21/2019 Há de Haver Pasquale

http://slidepdf.com/reader/full/ha-de-haver-pasquale 1/1

PASQUALE CIPRO NETO

Há de haver, hão de existir

O verbo auxiiar !ão te" #vo!tade $r%$ria#& 'ae se"$re a vo!tade do verbo$ri!(i$a da o(u)ão verba

DIA DESSES, ao analisar a interminável tragédia da aviação civil do país, um expertono assunto afirmou que !á de existir soluç"es para a crise, mas elas certamente nãovirão neste ano ou no pr#ximo$ %ão foram poucos os leitores que viram o tele&ornal eescreveram para pedir comentários so're a passagem !á de existir soluç"es$ Algunsdesses leitores foram mais específicos e, 'aseados no texto da semana passada, em quetratei de locuç"es ver'ais (verdadeiras e aparentes), solicitaram a análise do trec!o daafirmação do especialista$*amos, pois, + frase do experto em aviação (á de existir soluç"es para a crise)$ -

sa'ido que o emprego do ver'o !aver não é tarefa das mais palatáveis$ - sa'idotam'ém que, quando é usado com o sentido de existir, ocorrer ou acontecer, over'o !aver é impessoal, ou se&a, não tem su&eito e é flexionado na terceira pessoa dosingular (qualquer que se&a o tempo ver'al)$. resultado do que aca'ei de afirmar é que, na língua padrão, não são adequadas formascomo /om o fec!amento do t0nel, !ouveram grandes congestionamentos no 1io$ Emve2 de !ouveram, empregue3se !ouve$ /omo tam'ém é sa'ido, os sin4nimos de!aver não t5m nada com a !ist#ria, ou se&a, são flexionados no singular e no plural(.correram gravíssimos acidentes6 Existem soluç"es para a crise etc$)$E como se deve agir nas locuç"es ver'ais7 - simples8 vale sempre a vontade do c!efe,ou se&a, do ver'o principal$ . ver'o auxiliar cumprirá o seu papel de auxiliar, isto é,

fará o que o comandante determinar$ *amos lá, pois8 á de !aver soluç"es para acrise6 ão de existir soluç"es para a crise$ 9as !ão7 . ver'o !aver não$$$ %ãonada$ . ver'o auxiliar não tem vontade pr#pria$*ale sempre a do principal$ :osto isso, não resisto + tentação de a'ordar a provocaçãoque fi2 logo no começo do texto (quando empreguei experto, com x mesmo)$

 %ormalmente, para falarem de alguém que tem con!ecimento específico em certoassunto, os &ornalistas empregam as palavras especialista e expert, esta lida + inglesa(écspert, com intensidade tonal na primeira síla'a)$ . detal!e é que a forma expertentrou no portugu5s pelo franc5s (em que se l5 ecspért, com intensidade no segundoe)$De qualquer maneira, a origem de experto (portugu5s e espan!ol), expert (franc5s eingl5s) e esperto (italiano) é a mesma8 o latim (expertus)$ Di2 o #timo ouaissque ($$$) no latim medieval, expertus enfeixava dois étimos distintos$;m deles é o que estamos a'ordando6 o outro é o de desperto, acordado, que sãosin4nimos de esperto, com s, que, por sua ve2, tam'ém vem de expertus, masdaquele que resultou da contração de expergitus, particípio de expergiscor(acordar, despertar)$. ouaiss di2 tam'ém que a forma portuguesa experto não fa2ia a distinçãosem<ntica (especialista e desperto, acordado) que passou a existir em nossalíngua, talve2 apenas do século => em diante$Isso significa que no portugu5s antigo s# !avia expertos$$$ o&e, em nossas plagas, !á

menos expertos (em se&a lá o que for) do que espertos (o sentido de oportunista,espertal!ão se dá por extensão do sentido de acordado, vivo)$ - isso$