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    7Revista Caminhos, On-line, Humanidades, Rio do Sul, a. 4, n. 6, p. 7-19, abr./jun. 2013

    EDUCAO ESPECIAL: A IMPORTNCIA DOBILINGUISMO NA EDUCAO DOS SURDOS1

    Aline Martins Varela2

    RESUMOO objetivo deste trabalho apresentar reflexes e estudos sobre a importncia do

    portugus no aprendizado do surdo, tornando-o um ser de incluso com as mesmaspossibilidades dos ouvintes e no apenas como uma pessoa limitada, mas como sercapaz do ponto de vista lingustico de agir e interagir com as pessoas e nos locais ondeest inserido. A metodologia aplicada neste trabalho foi a de estudos bibliogrficos,sendo esse tipo de estudo o passo inicial na investigao do tema, em que o pesquisadorutilizou livros, revistas, artigos, enfim registros impressos e virtuais para aprimorar o

    conhecimento a respeito, no presente caso, da importncia do bilinguismo na educaodos surdos, sempre norteado por autores conhecidos no meio e entre esses estudos,a aprendizagem do portugus pelos surdos, a linguagem de sinais na sala de aula, ainterao com o intrprete e a incluso.

    Palavras-chave:Educao especial. Bilinguismo. Surdez.

    ABSTRACTThe importance of bilingualism in the education of deaf people, the objective of

    this paper is to present reflections and studies about the importance of Portuguesein the deafs learning. Making a deaf to become an included person with the same

    possibilities as the ones the listeners have and not only as a limited person, butbeing able in a linguistic and cognitive way to act and interact with other peoplealso in the places where they are in. The methodology applied in this project was the

    bibliographic, being this the initial step to the theme investigation, where a researcherused books, magazines, articles, that is, printed and virtual registers to improve theknowledge on the topic. In the present case, the importance of bilingualism in thedeafs education, always guided by known authors in the deafs study environmentand among these studies the Portuguese learning by deaf people, sign language in the

    classroom, interaction with the exponent and the inclusion.

    Keywords:Special Educations; Bilingualism; deafness.

    1 Trabalho de concluso de curso apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Lngua Brasileira de Si-nais e Educao Especial, orientado pela Profa. Dra. Simone Maria Barbosa Nery Nascimento - FaculdadeEcaz - Maring/PR.2 Graduada em Pedagogia - UNIDAVI (Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itaja),com apostilamento em Educao Especial - FAPI (Faculdade de Pinhais), e-mail [email protected]. Aluna do curso de Ps-Graduao em Lngua Brasileira de Sinais e Educao Especial FaculdadeEcaz - Maring/ PR.

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    INTRODUO

    Neste texto, sero apresentadas reflexes sobre a educao dos

    surdos e sobre a lngua de sinais como recurso para o desenvolvimentode sua segunda lngua no Brasil, o Portugus. O Brasil possui duaslnguas oficiais, o Portugus utilizado por todos os cidados brasileirose a Lngua Brasileira de Sinais que tem como sigla LIBRAS as letrasinicia de seu nome a lngua natural dos surdos, natural por ter surgidodo convvio e troca entre os surdos, utilizada pela comunidade surdado nosso pas. Por sua complexidade e expressividade so comparadasa qualquer outra lngua oral, tem regras e estrutura prpria, utiliza-sede mecanismos morfolgicos, sintticos e semnticos e propriedades

    especficas das lnguas naturais, sendo, portanto reconhecida enquantolngua pela lingustica. So visuais-espaciais e captam as experinciasvisuais dos surdos.

    Segundo a UNESCO (Organizao das Naes Unidas para aEducao, a Cincia e a Cultura) a lngua consagrada em lei por umterritrio, pas ou estado sua lngua oficial. E entendemos comolngua oficial a lngua falada pela populao desse territrio. Assim, deacordo com o artigo 13 da Constituio Federal Brasileira: A lngua

    portuguesa o idioma oficial do Brasil. H tambm a LIBRAS que a lngua oficial de sinais, sancionada pelo ex-presidente FernandoHenrique Cardoso. Ela reconhecida como meio legal de comunicaoe expresso entre as comunidades de pessoas surdas no Brasil. ALIBRAS no pode ser mais chamada de uma simples linguagem, pois uma lngua oficial usada pelos surdos, com gramtica completa.

    Acredita-se em que, pelo estmulo e o desenvolvimento daLIBRAS - uma das siglas para se referir Lngua Brasileira de Sinais eque difundida pela Federao Nacional de Educao e Integrao doSurdo (FENEIS) - as pessoas surdas possam se tornar potencialmentehabilitadas para adquirir e desenvolver a leitura e a escrita da LnguaPortuguesa. Dessa forma, o surdo passa a ser visto no como umapessoa limitada, mas como ser capaz, do ponto de vista lingustico, deagir e interagir tambm com as pessoas ouvintes e nos locais onde estoinseridos.

    A educao bilngue um caminho novo, um olhar diferente diantedos surdos, a ponte entre o que vivem e compreendem do mundo,

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    como veem o outro, suas dificuldades e limitaes so respeitadas, osurdo utiliza-se de sua lngua natural para aprender e se expressar.

    A LIBRAS e o Portugus so duas lnguas que no competem

    e sim caminham juntas. A Libras a primeira lngua dos surdos,ela considerada sua lngua materna e identifica, instrui e facilita acomunicao, enquanto que o Portugus o caminho de acesso aoconhecimento, interao e convvio com o mundo ouvinte e sua cultura.Deve-se, portanto, valorizar e respeitar os limites e as capacidades dosindivduos de incluso a partir de seus rendimentos cognitivos.

    [...] percebi que, se pretendo caminhar na direo de contribuir para o encontro com

    o Outro, tenho que iniciar essa caminhada, antes de mais nada, pelo encontro de mimmesma [...] Sou movida, inicialmente, pela necessidade urgente de rever minha jornadacomo Ser no mundo, atravs da minha atuao junto aos outros Seres... hora de desalojarcertezas [...] (MELO, 2004, p.16).

    Nesse sentido, verifica-se a importncia do aprendizado da lnguaportuguesa como a segunda lngua para os indivduos surdos, poisoferece a eles novas perspectivas e possibilidades. A Libras e a LnguaPortuguesa passam a ser instrumentos importantes no cotidiano dessaspessoas, uma vez que facilita sua comunicao e entendimento dosacontecimentos que esto a sua volta e que fazem parte do seu dia a dia.

    A partir do exposto, este trabalho tem por objetivo analisar obilinguismo como uma proposta educacional, sendo que a lnguade sinais a primeira lngua do surdo e o portugus a sua segundalngua. Acredita-se que, dessa forma, ser permitido ao indivduo surdoconstruir sua autoimagem, alm de utilizar sua lngua natural. Outroobjetivo do trabalho oferecer informaes importantes do processo

    educacional vivenciado pelos surdos at os dias de hoje.

    FUNDAMENTAO TERICA

    A nova poltica de educao do Brasil vem possibilitando spessoas especiais oportunidades e perspectivas que antes eram nulasem suas vidas. Sabemos que h algumas dcadas, os surdos ficavam

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    enclausurados em suas casas ou eram levados para longe de seusfamiliares, guardados em asilos e instituies que estivessem preparadaspara mant-los afastados de pessoas tidas como normais.

    Durante 80 anos, o uso de sinais foi proibido e assim somavam-seinsucessos na vida dos surdos. Os que no se adaptavam ao oralismoeram considerados retardados e, se havia alguma dificuldade por partedesses indivduos, eles eram simplesmente desrespeitados. As demaispessoas no estavam nem um pouco preocupadas em mudar. Se algumrealmente tivesse de sair do conforto, que isso acontecesse com ossurdos.

    Para Goldfield (2002), o oralismo uma filosofia que visa a fazercom que o surdo receba a linguagem oral por meio da leitura orofacial eamplificaes sonoras, enquanto se expressa mediante a fala. Enquantoque gestos, lngua de sinais e alfabeto digital so totalmente proibidos,por atrapalhar o desenvolvimento da oralizao. A modalidade oralistaacredita ser a nica forma aceitvel de comunicao. Essa visodemonstra a importncia de inserir o surdo no mundo ouvinte atravsda oralidade, fazendo a reabilitao da fala em direo normalidadeexigida pela sociedade.

    O uso de sinais s passou a ser aceito em 1970, graas s novas

    metodologias criadas e, entre elas, o uso da comunicao total. SegundoCiccone (1996), nessa abordagem, a linguagem oral e a sinalizadafuncionam em parceria e se requer a incorporao de modelosauditivos, manuais e orais. Sua principal preocupao so os processoscomunicativos entre surdo/surdos e surdos/ouvintes. Os aspectoscognitivos, emocionais e sociais no podem ser postos de lado. Defendetambm qualquer recurso espao/visual para facilitar a comunicao.

    Atualmente, o mtodo mais utilizado nas escolas o Bilinguismo

    e que, para Quadros (1997), vem ganhando muito mais fora nestaltima dcada. Utiliza-se a Libras que a lngua materna e naturaldo surdo como sua primeira lngua e o portugus escrito como suasegunda lngua. Nesse aspecto, existem correntes contra e a favor dobilinguismo. Contra, porque a comunidade surda defende sua lngua esua cultura, a favor, por acreditar na facilitao da comunicao entresurdos e ouvintes com o auxlio do professor intrprete e por ser umamaneira mais fcil de inserir o surdo na sociedade, em sua convivnciacom os ouvintes, facilitando seu dia a dia.

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    Desde que se tem um diagnstico mdico de uma criana surda,esta criana deve ter contato direto com um adulto surdo e fluente emLibras para que a aquisio da linguagem por essa criana seja efetiva

    e completa.Para que possamos ter uma educao bilngue, a escola deve terpelo menos duas lnguas em seu contexto educacional, demostrando aimportncia de cada uma delas dentro do espao escolar, optando assimpor uma poltica lingustica da coexistncia de duas lnguas. No Brasil,a histria da educao dos surdos comea em 26 de setembro de 1857,durante o Imprio de D. Pedro II, quando o professor surdo francsErnest Huet fundou, com o apoio do imperador, o Imperial Institutode Surdos - Mudos, hoje o INES Instituto Nacional de Educao de

    Surdos. Na poca, o Instituto era um asilo onde s eram aceitos surdosdo sexo masculino. Eles vinham de todos os pontos do pas e muitoseram abandonados por seus familiares. Os anos 50 foram marcados poruma srie de aes importantes como a criao do primeiro curso normalpara professores na rea da surdez (1951). Nesse ano, o INES recebeu avisita de Helen Keller, cidad americana, surda e cega cuja trajetria devida um exemplo at os dias de hoje. Em 1952, foi fundado o Jardimde Infncia do Instituto e nos anos seguintes criou-se o curso de Artes

    Plsticas, com o acompanhamento da Escola Nacional de Belas Artes.Em 06 de junho de 1957, o Instituto passou a denominar-se InstitutoNacional de Educao de Surdos.

    Com o Decreto no 5.626 de 22 de dezembro de 2005, inmerosbenefcios ocorreram no mundo surdo, o que nos permite observar asociedade do futuro e como o surdo estar inserido nela. A incluso dosurdo em escolas, no ambiente de trabalho e no convvio social ocorrerde forma mais efetiva e com melhor qualidade. Essa incluso deve sercada vez mais repensada, j que no censo de 2000, constatou-se 5,7

    milhes de surdos no Brasil.O ser humano se constitui sujeito participante de uma comunidade

    quando, por meio de uma lngua, adquire conceitos e consegue secomunicar.

    A linguagem um instrumento de poder e no se deve neg-la s pessoas surdas, uma vez que elas tm todo o direito de utiliz-la e beneficiar-se dela, aceitando as diferenas e convivendo com asdiversidades.

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    Segundo Pimenta, a surdez deve ser reconhecida como apenasmais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana,pois ser surdo no melhor ou pior do que ser ouvinte, apenas

    diferente (PIMENTA, 2001, apud SALLES, 2004, p.24).

    As lnguas de sinais so naturais e surgem do contato, convvio e da troca entre as pes-soas, nelas podemos repassar qualquer conceito, concreto ou abstrato, emocional ouracional, complexo ou simples. Trata-se de uma lngua e no de uma simples juno degestos (FRIZANCO; HONORA, 2009, p.41).

    A Lngua de Sinais imprescindvel ao surdo, devendo ser

    apresentada a ele desde o incio de sua aprendizagem, j no seunascimento, contribuindo na construo de sua identidade, dando acessoao saber lingustico, cognitivo e social. Quanto mais cedo o indivduosurdo tiver contato com a sua lngua, mais precoce estar garantido odireito da comunidade surda a uma lngua.

    Desde que se descobre a surdez de uma criana, deve-se observara sua aquisio da linguagem. Os surdos devem receber estmulosdiferentes dos ouvintes. Esses estmulos so visuais e espaciais,

    podendo ser adquiridos na interao com a sua famlia. O processo deaquisio da lngua de sinais muito parecido ao processo de aquisiodas lnguas faladas para ouvintes.

    Para Quadros (1997, p.130), a aquisio da linguagem porcrianas surdas se divide em quatro etapas que so:

    Perodo pr-lingustico: O balbucio um fenmeno que ocorre em todos os bebs sejameles ouvintes ou no e esta capacidade inata do ser humano se manifesta atravs de sonse de sinais, as semelhanas encontradas nas duas formas de balbuciar sugere haver no serhumano uma capacidade lingustica que sustenta a aquisio da linguagem, independentedela ser oral-auditiva ou espao-visual. Inicia no nascimento e vai at por volta dos qua-torze meses.Estgio de um sinal: a produo gestual inicial, comparado ao balbucio nas crian-as ouvintes. Inicia por volta dos 12 meses e vai at os dois anos (em crianas surdas).As crianas surdas e ouvintes frequentemente costumam apontar para nomear pessoas eobjetos, mas quando ela entra no estgio de um sinal, o uso de apontaes desaparece,ocorrendo uma reorganizao que muda o conceito de apontao e passa a utiliz-la comosistema gramatical da lngua dos sinais.Estgio das primeiras combinaes: a incorporao dos indicadores e a ordem daspalavras, ocorre tambm neste perodo a troca dos pronomes tu ao invs do eu. Iniciapor volta dos dois anos.

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    Estgio de mltiplas combinaes: o aumento dos vocbulos, tambm chamado deexploso do vocabulrio e da formao pronominal para indicar pessoas e objetos.Inicia por volta dos dois anos e meio e trs anos. Aos quatro anos a linguagem ainda noest correta s a partir dos cinco ou seis anos que elas comeam a perceber os erros nasassociaes e utilizar os verbos de maneira adequada (QUADROS, 1997, p. 130).

    A lngua de sinais tem mecanismos morfolgicos, sintticos esemnticos, como todas as outras lnguas. A Libras viva e se encontraem constante processo de mudana de acordo com as necessidades dosindivduos que dela se utilizam. Cada regio tem seus prprios sinais,por isso diz-se que a lngua de sinais no universal, ela representaa cultura de um povo. Aqui mesmo em nosso pas, observamos o

    regionalismo e caractersticas prprias em cada estado.Para Frizanco e Honora (2010), as palavras que utilizamos no

    portugus so reconhecidas como sinais na Libras e no podem serchamados de gestos ou mmicas por no possurem essas caractersticas.Para fazer um sinal, preciso que se leve em conta cinco fatores:Configurao de Mo (CM); Ponto de Articulao (PA); Movimento(M);Orientao ou Direcionalidade (O/D); Expresso Facial e ou corporal(EF/C).

    Configurao de Mo (CM): a forma como as mos socolocadas para a execuo dos sinais. Pode ser representada pelas letrasdo alfabeto, nmeros ou outras formas de colocar a mo no momentoinicial do sinal. A configurao de mo serve para mostrar como estara mo dominante na hora de iniciar o sinal. Alguns sinais utilizam asduas mos para que o sinal seja executado.

    Ponto de Articulao (PA): o lugar onde se posiciona a moconfigurada para a execuo do sinal. E pode ser alguma parte docorpo, um espao neutro vertical ao lado do corpo ou um espao neutro

    horizontal, na frente do corpo.Movimento (M): Alguns sinais tm movimento e outros no, que

    so chamados de sinais estticos. Movimento a deslocao da mo noespao durante a execuo do sinal.

    Orientao ou Direcionalidade (O/D): a direo que o sinalter para ser executado. Em alguns sinais isso no ocorre.

    Expresso Facial e ou Corporal: o complemento do sinal

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    e serve de facilitador de seu entendimento. So as feies feitas pelorosto ou os movimentos executados com o corpo para dar vida eentendimento ao sinal.

    A lngua de sinais, como mencionado, natural e tem estruturaprpria. A diferena entre as lnguas orais que est em uma modalidadeestabelecida pela viso e utilizao do espao (espao-visual).

    A ALFABETIZAO DOS SURDOS

    A alfabetizao essencial para os indivduos. Grande parte do

    que aprendemos resultado de nossa alfabetizao, que nos possibilitao contato com a leitura e a escrita. Para ensinar a lngua portuguesaaos educandos surdos, necessrio ver a escrita, ver a leitura comouma prtica social, ver a escola como um espao inclusivo onde todos,independentemente de suas diferenas, tornem-se leitores e escritorescompetentes. No entanto, a alfabetizao do surdo em lngua portuguesa,pela falta de acesso ao mundo sonoro, prejudicada, acarretandodificuldade de aprendizagem e de comunicao nessa segunda lngua.Dessa forma, por ser o surdo no oralizado, por se abster da relao daspalavras com os fonemas, esse aprendizado torna-se mais complexo.

    No caso do ouvinte, a audio o sentido bsico para que oseducandos possam ser alfabetizados e ter contato com as letras. A faltade audio , consequentemente, a impossibilidade de expressar-senaturalmente. Assim, o surdo excludo, considerado diferente dosoutros por no ter a lngua oral. Alm disso, a comunidade surda utiliza-se da forma de comunicao visual para se comunicar e tem na lnguade sinais seu principal recurso simblico.

    Sem o recurso da lngua de sinais, a aquisio da lnguaportuguesa escrita pode no se alcanar. No entanto, com a utilizao daLibras em sala de aula, a criana surda ter um auxlio, ou seja, um norteno processo de aprendizagem. Outro recurso de grande importnciano processo de ensino e aprendizagem so os recursos visuais. Pelaimagem, a criana entende a diferena entre a palavra (representao) ea imagem (referente).

    A incluso do educando surdo em sala de aula de ouvintes requer

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    uma srie de cuidados que devem ser observados pela escola e peloprofessor. No se deve apenas jogar a criana junto aos demaisalunos que no conhecem a lngua de sinais. Temos de pensar que to

    difcil quanto para o professor se comunicar com o surdo, para osurdo se comunicar com as pessoas que esto envolvidas com ele e queno conhecem a sua lngua materna, sentindo as mesmas dificuldadesem como se fazer entender em um local onde ningum o conhece e oentende. O aluno surdo como cidado tem todo o direito de aprender,entender um contedo e se desenvolver como os demais alunos ouvintes.

    O aluno precisa estar envolvido no processo de ensino eaprendizagem, na turma de sua classe e principalmente se comprometercom a pessoa que est em contato direto com ele, seu intrprete.

    O intrprete o profissional que domina a lngua de sinais e que capacitado para desempenhar a funo de transmitir a informao,passando de uma lngua oral para a lngua de sinais. No Brasil, eledeve dominar a Lngua Brasileira de Sinais e a Lngua Portuguesa. Paraque o desenvolvimento do aluno surdo seja satisfatrio, essencial queo intrprete tenha fluncia em sua lngua, que ele seja participativo emotivador. Assim, o desenvolvimento emocional, cognitivo estargarantido e ele ser efetivamente um aluno de incluso no meio em que

    est inserido.

    CONSIDERAES FINAIS

    Ao realizar este trabalho, muitas dificuldades foram percebidascom relao educao de surdos. Notaram-se suas limitaes, suasdificuldades de comunicao e barreiras com a lngua portuguesa.

    A aquisio da libras pelo surdo fator necessrio e indispensvelpara que o aprendizado de uma segunda lngua acontea. Odesenvolvimento lingustico efetivo depois da total apropriao dalngua brasileira de sinais, quanto mais cedo possvel para que eletenha oportunidade de mergulhar no mundo da leitura e da escrita.Atualmente, o portugus como segunda lngua (L2) dos surdos precisaser ensinado com metodologias diferenciadas em sala de aula, nomais sendo visto como o ensino formal, mas utilizado em diferentes

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    situaes comunicativas, possibilitando ao indivduo comunicar-se adequadamente nas mais diversas situaes. A utilizao peloprofessor de textos e materiais adequados ao aluno surdo de extrema

    necessidade. A aprendizagem da segunda lngua se d por visesalarmistas, por outro lado, a aquisio da escrita pelo surdo se tornaimprescindvel para o seu desenvolvimento acadmico e intelectual. Aaquisio de uma segunda lngua para o surdo bastante difcil porqueenvolve diversos aspectos, inclusive o emocional.

    Para que o surdo se sinta inserido, necessrio que ele desenvolvauma identificao com o grupo, que esta identificao seja slida e queaspectos culturais, psicossociais e lingusticos sejam respeitados. Ainda preciso que sua surdez deixe de ser vista como uma patologia e passe

    a ser considerada apenas como uma diferena.Na educao bilngue, pressupe-se o domnio de duas lnguas.

    Por isso a adaptao e a aprendizagem so lentas e difceis paraquem est ensinando e para quem est aprendendo. As atividadesrealizadas, portanto, devem ser adaptadas conforme a necessidade decada educando, dispondo-se de uma metodologia prpria desenvolvidade acordo com cada caso, sem esquecer que o surdo tem as mesmaspossibilidades de aprendizado que o ouvinte.

    A alfabetizao no deve constar como nica preocupao. fundamental que aos surdos sejam oferecidas condies de se tornaremleitores e escritores e no apenas meros decodificadores de smbolosgrficos e de se apoiaram menos na relao oralidade/escrita, e maisnos aspectos visuais da escrita no processo de sua aquisio. Assim,eles estaro alfabetizados em ambas as lnguas, sendo conhecedores desua cultura, favorecendo o desenvolvimento dos sujeitos de incluso eparticipando da sociedade como cidados.

    Dessa forma, observa-se que o indivduo surdo tem o direito dereceber educao bilngue, tendo o aprendizado da lngua portuguesavalor total e fundamental, possibilitando o seu conhecimento demundo, suas trocas e sua interao com o mundo ouvinte onde este estinserido. por meio da lngua de sinais que o surdo faz a sua leiturade mundo para depois processar a leitura das palavras em portugus,sendo ela contemplada como uma lngua de excelncia em qualquer dasdisciplinas dos currculos escolares.

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    Assim, o processo de ensino e aprendizagem ocorre em umaperspectiva bilngue. Para o surdo, a manifestao lingustica se dem uma complexa srie de fatores, entre eles: situacional, cognitiva,

    sociocultural e interacional, alm de aspectos culturais, sociais eafetivos.

    Finalmente, para que a educao de surdos se efetive, necessrioque permita-se ouvir` as mos, pois somente assim ser possvelmostrar aos surdos que eles podem ouvir` o silncio da palavra escrita(QUADROS, 1997a, p. 119).

    medida que esse envolvimento vai acontecendo, o surdo sesente parte da classe escolar, includo junto aos colegas de sala. Cadaconquista deve ser comemorada, pois o processo muito mais lentopara o aluno surdo. O mnimo, nesse caso, deve ser comemorado comose fosse o mximo. aos poucos que as conquistas vo aparecendo esendo notadas.

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