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 INTRODUÇÃO Em seus primórdios, o homem observou que o ato de simplesmente resguardar-se numa caverna ou,  posteriormente, numa habitação construída para este fim não era suficiente. Era necessário prover um abrigo rudimentar de aperfeiçoamentos que permitissem melhores condições de vida. Surge, então, o que se conhece, atualmente, como saneamento ambiental interior (CARVALHO,1980). É na habitação que o ser humano passa a maior parte de sua vida, especialmente nas suas fases mais vulneráveis, que são a infância e a velhice. Portanto, é no domicilio que deve ser iniciada a ação de saneamento, como uma unidade básica formadora de um agrupamento urbano de que se pretende sanear. A insalubridade das casas faz aumentar a incidência de doenças, seja pela falta de ventilação, condições de higiene precárias, confinamento, seja por serviços inadequados de abastecimento de água, de coleta e destinação dos esgotos e lixo. Estudo do Banco Mundial, apresentado pelo SEBRAE (1996), estima que os ambientes domésticos inadequados respondem por quase 30% das ocorrências de doenças em paises em desenvolvimento. Essas condições são freqüentes não apenas nas periferias pobres das grandes cidades, mas também em comunidades  pobres afastadas dos centros urbanos e de população rural dispersa, que, costumeiramente, não têm acesso a serviços de saneamento. Ainda como parte integrante da agenda 21 e da agenda habitat, para que haja promoção do desenvolvimento sustentável dos assentados humanos, é necessário que o componente garantia da disponibilidade de habitação adequada ou salubre seja cumprido, a fim de que o paradigma de cidades sustentáveis possa se tornar real. Desse modo, o presente trabalho propõe um modelo de medida do nível de salubridade de uma habitação, levando - se em consideração diversos fatores que contribuem para tornar a moradia um ambiente agradável , confortável e seguro, a fim de assegurar um nível de saúde aos ocupantes e reduzir a degradação ambiental no seu entorno. 1

Habitabilidade e Salubridade

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INTRODUÇÃO

Em seus primórdios, o homem observou que o ato de simplesmente resguardar-se numa caverna ou,posteriormente, numa habitação construída para este fim não era suficiente. Era necessário prover um abrigorudimentar de aperfeiçoamentos que permitissem melhores condições de vida. Surge, então, o que se conhece,atualmente, como saneamento ambiental interior (CARVALHO,1980).

É na habitação que o ser humano passa a maior parte de sua vida, especialmente nas suas fases maisvulneráveis, que são a infância e a velhice. Portanto, é no domicilio que deve ser iniciada a ação desaneamento, como uma unidade básica formadora de um agrupamento urbano de que se pretende sanear.

A insalubridade das casas faz aumentar a incidência de doenças, seja pela falta de ventilação, condições dehigiene precárias, confinamento, seja por serviços inadequados de abastecimento de água, de coleta edestinação dos esgotos e lixo.

Estudo do Banco Mundial, apresentado pelo SEBRAE (1996), estima que os ambientes domésticosinadequados respondem por quase 30% das ocorrências de doenças em paises em desenvolvimento. Essas

condições são freqüentes não apenas nas periferias pobres das grandes cidades, mas também em comunidadespobres afastadas dos centros urbanos e de população rural dispersa, que, costumeiramente, não têm acesso aserviços de saneamento.

Ainda como parte integrante da agenda 21 e da agenda habitat, para que haja promoção do desenvolvimentosustentável dos assentados humanos, é necessário que o componente garantia da disponibilidade de habitaçãoadequada ou salubre seja cumprido, a fim de que o paradigma de cidades sustentáveis possa se tornar real.

Desse modo, o presente trabalho propõe um modelo de medida do nível de salubridade de uma habitação,levando - se em consideração diversos fatores que contribuem para tornar a moradia um ambiente agradável ,confortável e seguro, a fim de assegurar um nível de saúde aos ocupantes e reduzir a degradação ambiental noseu entorno.

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METODOLOGIA

Os procedimentos utilizados no presente trabalho tiveram como base norteadora o estudo realizado por Sales(2001) e o trabalho de Daltro Filho e Sales (2003). Também levou - se em consideração o preceito desalubridade normalmente recomendado pela Organização Mundial e Pan - Americana de Saúde ,e, da

Associação Americana de Saúde Publica.

Como parâmetros definidores do modelo, foram consideradas sete variáveis que representam as condiçõesmínimas de habitabilidade e bem - estar, assim discriminadas:

•  Suprimento de água, englobando a caracterização da fonte de água usada na habitação e sua qualidade;existência de instalações hidráulicas internas á casa, com reservatório de água, freqüência com que este élimpo e peças essenciais, tais como pias de cozinha, lavatório, chuveiro e bacia sanitária no banheiro etanque de lavar roupa;

•  Destinação dos dejetos líquidos, englobando o destino das águas servidas proveniente da pia da cozinha,tanque de lavar roupa, lavatório e chuveiro e destino de excretas;

•  Acondicionamento e destino final dos resíduos sólidos gerados na habitação;•  Atmosfera interior, englobando a avaliação do conforto térmico no interior da habitação, no inverno e no

verão; a adequação das aberturas externas dos cômodos e da disposição dos cômodos na habitação;•  Iluminação natural interior, no inverno e no verão;•  O espaço interno, englobando a densidade de ocupação, medida por indicadores como: relação entre a área

construída e o número de moradores (m2 /hab.); relação entre o número de moradores e número de cômodoshabitáveis; relação entre o número de moradores e número de dormitórios e área para dormir por morador,determinada pela relação entre o somatório das áreas dos dormitórios e o número de moradores;

•  Condições gerais de habitação, englobando a tipologia construtiva adotada e seu estado de conservação.

Fundamentado nos estudos de Sales(2001) e de Daltro Filho e Sales(2003), foram estabelecidos pesos e notas,variando em função da importância das variáveis utilizadas. No quadro 01, apresenta-se os valores dos pesose notas para as diversas condições do modelo.

Grupos de variáveis erespectivos itens epesos

Situação encontrada Nota atribuída

1 Suprimento eutilização da águaa)fonte de água- peso 5

Rede pública de abastecimento, com qualidade conformePortaria do Ministério da Saúde.

10

Instalação interna à casa com reservatório sendo limpopelo menos 1 vez a cada ano

10

Instalação interna à casa com reservatório sem limpezaperiódica

08

Instalação completa, sem reservatório, contando compeças mínimas (pia de cozinha, tanque de lavar roupa,

lavatório, chuveiro e bacia sanitária no banheiro)

06

Instalação sem reservatório, faltando até duas peças 05Instalação sem reservatório, faltando mais que duas peças 04Apenas um "ponto" de água na habitação 03

b)Instalação hidráulicapeso 5

Sem instalação nem "ponto" de água 002 Destinação dosdejetos líquidos

Rede coletora de esgotos 10Fossa séptica e sumidouro 06Fossa séptica 04Solo (superficial) 02

a) águas servidas(cozinha, tanque delavar roupa, lavatório echuveiro do banheiro)- peso 4 Sarjeta, rio 00

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Grupos de variáveis erespectivos itens e

pesosSituação encontrada Nota atribuída

Rede coletora de esgotos 10Fossa séptica e sumidouro 06Fossa séptica 04

b) dejetos sanitários -peso 6

Solo, sarjeta, rio 003 Manejo dos resíduossólidos

Recipiente tampado ou saco plástico fechado 10Recipientes abertos, sacos abertos 05

a) Acondicionamentona habitação - peso 6

Não acondiciona 00Coleta pública 10Queima 03Coleta pública alternada com disposição aleatória 02

b) Destinação do lixo -peso 4

Disposição aleatória 00

4 Atmosfera interiora) adequação das áreasde abertura externa doscômodos- peso 3

Cômodos de permanência longa: min 1/6 da área do pisodo cômodoCômodos de permanência transitória: min 1/10 da área dopiso do cômodo

Corresponde àpercentagem decômodos da casa comaberturas emconformidade com asexigências

b) conforto térmico -peso 7

Cômodos com temperatura e umidade relativa do ar quedetermine sua inclusão na zona 1 (de conforto) da cartabioclimática do método de GIVONI

Corresponde àpercentagem decômodos da casaincluídos na zona deconforto

5 Iluminação naturalinterior

a)  medidas deiluminância noscômodos

- peso 10

Cômodos com iluminância maior ou igual a 100 luxes Corresponde àpercentagem decômodos da casa comiluminância ≥ 100luxes

6 Espaço internoMaior ou igual a 36m² 10a) área construída da

habitação - peso 1 Menor que 36m² 00Até 1,5 morador/cômodo 10b) relação número de

moradores por númerode cômodos habitáveis- peso 2

Mais que 1,5 morador/cômodo 00

Nº moradores ≤ (2 x nº dormitórios + 2) 10Nº moradores > (2 x nº dormitórios + 2), como segue:

Casa com 0 quarto 3 moradores 05> 3 moradores 00

Casa com 1 quarto 5 moradores 05> 5 moradores 00

Casa com 2 quartos 7 moradores 7,58 moradores 05

> 8 moradores 00Casa com 3 quartos 9 moradores 7,5

10 moradores 05

c) relação número demoradores por númerode dormitórios - peso 3

11 moradores 2,5

3

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> 11 moradores 00

Grupos de variáveis erespectivos itens e

pesosSituação encontrada Nota atribuída

 Maior ou igual a 3,6m²/morador 10d)  área para dormirpor morador- peso 4 Menor que 3,6m²/morador 00

7 Condições gerais dahabitação

a) tipologia construtivaMaterial durável: telha cerâmica, de fibrocimento, de

alumínio-madeira, laje de concreto ou madeira aparelhada10-  cobertura

- peso 1Material não durável: zinco, madeira aproveitada, palha

etc.00

Material durável: alvenaria de tijolos, pedra, adobe,concreto pre-moldado ou aparente, taipa revestida oumadeira aparelhada

10-  paredes- peso 1

Material não durável: taipa não revestida, madeiraaproveitada, palha, etc.

00

Revestimento cerâmico 10Reboco e pintura com tinta plástica emulsionável 09

Reboco e caiação 08Reboco sem pintura 06

Alvenaria sem reboco 04

-  Revestimento dasparedes

-  peso 1

Taipa sem revestimento 00Cerâmica vitrificada 10Cimentado queimado 08

Cerâmica porosa 07Cimentado grosseiro 04

-  Revestimento do piso-  peso 1

Sem revestimento 00b ) condições deconservação - peso 6

Condições classificadas como boas, regulares ou ruins,associadas às anotações sobre existência de: infiltrações deágua (pela cobertura, pelas paredes, pelo piso ou defeitosde instalação hidráulica); mofo, manchas ou eflorescênciasnas paredes; reboco ou pintura deterioradas(descascamento); piso deteriorado; instalação hidro-sanitária danificada; más condições de higiene

Avaliada de acordocom as observações "in

loco", que levaram aclassificar as condiçõescomo boas, regulares

ou ruins

Para julgamento das condições de moradia foram estabelecidos quatro níveis de adequação, assim definidos:muito satisfatório, satisfatório, insatisfatório e muito insatisfatório. Estes níveis resultam da pontuação dosgrupos de variáveis através de notas, variando de zero a dez, conforme seu grau de importância e de acordocom a escala apresentada no quadro 02.

Quadro 02 - Escala para julgamento da adequação das habitações

Classe de Qualidade Níveis de adequação aos padrõesde salubridade

Valor da nota final dahabitação

A Muito Satisfatório 7,5 a 10,0B Satisfatório 5,0 a 7,4C Insatisfatório 2,5 a 4,9D Muito Insatisfatório 0,0 a 2,4

Fonte: Sales (2001).

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V1a, V1b - Variável suprimento de água e os subitens;

NSH - Nível de Salubridade da Habitação

5

DESENVOLVIMENTO DO MODELO E RESULTADO

Embasado no trabalho de Sales 2001 e no de Daltro Filho e Sales (2003), formulou-se um modelo que levandoem consideração as graduações das variáveis estudadas, pôde-se compilar uma expressão que permite chegarao seu grau de salubridade, consoante à escala constante do quadro 02. A fórmula que segue exprime a idéia

central do modelo de medição do nível de salubridade.

NSH = [(V1a x P1a + V1b x P1b) + (V2a x P2a + V2b x P2b) + (V3a x P3a + V3b x P3b) + (V4a x P4a + V4b x P4b) + (V5a

x P5a + V5b x P5b) + (V6a x P6a + V6b x P6b + V6c x P6c + V6d x P6d) + (V7a x P7a + V7b x P7b + V7c x P7c + V7d x P7d + V7e x P7e)]: 7

Onde:

V5a, V5b - Variável iluminação natural e os sub-itens;

V4a, V4b - variável atmosfera interior e os sub-itens;

V3a, V3b - Variável manejo dos resíduos sólidos e sub-itens;

V2a, V2b - Variável destinação dos resíduos líquidos e os sub-itens;

P7a, P7b, P7c, P7d, P7e - Pesos utilizados para os sub-itens da variável.

P6a, P6b, P6c, P6d - Pesos utilizados para os sub-itens da variável;

P1a, P1b - Peso utilizado para os sub-itens da variável;

P2a, P2b - Pesos utilizados para os sub-itens da variável;

P3a, P3b - Pesos utilizados para os sub-itens da variável;

P4a, P4b - pesos utilizados para sub-itens da variável;

P5a, P5b - Pesos utilizados para os sub-itens da variável;V6a, V6b,V6c,V6d - Variável espaço interno e os sub-itens;

V7a, V7b, V7c, V7d, V7e - Variável condições gerais da habitação e os sub-itens;

O modelo foi testado para uma amostra de 60 ( sessenta ) casas, situadas numa comunidade rural de Sergipe.Das 60 casas avaliadas, 31 foram enquadradas na classe “B” (satisfatória ), correspondendo a 52% do total e28 casas na classe C ( insatisfatória ) correspondendo a 47% do total. Apenas uma casa foi enquadrada naclasse D e nenhuma enquadrou-se na classe A, conforme os resultados do quadro 03 e a figura 01.

0%

10%20%

30%

40%

50%

60%

       F

     r     e     q       ü       ê     n     c       i     a

A (muito

satisfatório)

B (satisfatório)

C(insatisfatório)

D (muitoinsatisfatório)

 Figura 01 – Enquadramento das casas analisadas nas classes de julgamento da qualidade, Escurial,2001.

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Med 9,2 4,7 6,9 1,8 2,0 1,9 7,3 5,7 6,7 3,6 1,2 0,0 1,5 3,7 4,3 4,0 8,8 8,5 8,8 5,2 7,3

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CONCLUSÃO

O critério apresentado serve de instrumento para medir o nível de salubridade de uma habitação, mesmo nãolevando em consideração a especificidade da localidade em que está inserida a unidade e a falta dehomogeneidade na tipologia habitacional. Como o critério teve como área de avaliação uma pequenacomunidade rural do sertão sergipano, sua aplicação parece estar mais próxima a aquele tipo de realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1.  CARVALHO, Benjamin de A. Ecologia Aplicada ao Saneamento Ambiental. Rio de Janeiro - RJ:ABES, 1980.

2.  DALTRO FILHO, José e Sales, Ângela T. Costa. Condições de salubridade de habitações em umacomunidade do semi-árido de Sergipe. 22o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 14 a19 de setembro. Joinville - SC: ABES, 2003.

3.  SALES, Ângela Teresa Costa. Salubridade das habitações e sua relação com os aspectos construtivosem uma comunidade do Semi-árido de Sergipe - Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e MeioAmbiente. PRODEMA/UFS, 2001.

4.  SEBRAE. A questão ambiental: O que todo empresário precisa saber. Brasília - DF: SEBRAE, 1996.

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