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Revista Heavyrama - Revista digital goianiense
Citation preview
Editora-Chefe
Bia Cardin
Editora-Assistente
Neli Sousa
Editor de resenhas
Hugo O.
Colaboradores nesta edição
Arthur Almeida, Eduardo Paix-
ao Aires, Vitor Nunes, Thaís
Lôbo, Artur Dias, Jôder Filho,
Dimitri Kawada, Hugo O.
Revisão
Bia Cardin, Neli Sousa,
Hugo O.
Design e Webdesign
Neli Sousa
Fotográfos (as) nesta edição:
Hugo O., Aline Rodrigues,
Bia Cardin, Artur dias, Vitor
Nunes
Edição de Fotos
Bia Cardin, Neli sousa
Contatos:
O bagulho é nosso!
Olá,caros amigos headbangers! Esta é a nossa segunda edição e fazendo jus ao
mau hábito,tivemos outra demora no lançamento. Querendo ou não, a época de
férias deixou toda a equipe funcionando em ritmo de manivela, mas tentamos
fazer esta edição ficar ainda melhor que a primeira, acatando algumas sugestões
dos nossos leitores. E já posso adiantar que na próxima edição haverão novas
seções,que agradaram muitas pessoas, principalmente quem é das antigas.
Por agora, só quero agradecer pela excelente receptividade que todos tiveram
com a Revista Heavyrama, isso com certeza nos deu mais gás pra tornar este tra-
balho ainda melhor e quero agradecer também aos novos colaboradores que tor-
naram esta edição possível! Lembrando que,estamos sempre abertos à opiniões!
Errata: Na primeira edição foi dito que Sarcófago e Dark Ages eram influências
da banda Selvageria. Tais bandas são influências apenas do guitarrista Guilherme
Pitaluga.
E d i t o r i a l
Hypnotica 6
Warlikke 12
D.D.O. 16
Under Metal Fest 18
Entrevista - Wander Segundo 26
VI Tattoo Rock Fest 30
Apocalyptichaos 34
Freedom to Pezão 36
Monster Bus 40
Entrevista - João Pedro 42
Old Place 44
Resenha - Rising Cross 46
Resenha - Rest in Disgrace 47
Resenha - Alltorment 48
Crônica - Senão 50
Conto - Flores de Alice 52
Making Off 56
S u m á r i o
A g e n d a | I n d i c a ç õ e s
4 - H e a v y r a m a
Agenda
Indicações
03,04 e 05/09 - 16º Aniversário Alcateia Motoclube |
Chácara Primavera
04/09 - LET’S BEER | Delirous Pub
04 e 05/09 - Woodstock Caldas Novas | Caldas Novas
12/09 - VII KUKA MOTO & ROCK | Kuka Bar
16/09 - 9º Vaca Amarela | Estação Goiânia
18/09 - Switchfoot | Centro de Convenções
01/10 - Guitar Attack : Magic Slim, Carl Weatersky,
Larry McCray | Bolshoi Pub
08/10 - Show Black Metal/ Gräfenstein (Alemanha) | DCE-PUC
09/10 - Tatu Tock Istedi | Morrinhos - GO
16/10 - Requiem Vampire Fest | Clube Social Feminino
Para quem começou recentemente a se enveredar
pelos caminhos da música extrema, nesse quadro,
disponibilizaremos, separados por estilo, nomes do
metal nacional e mundial.
Black Metal
- Mork - Preposterous -
http://www.myspace.com/morkofficial
Brutal Death Metal
- Severed Savior – Servile Insurrection -
http://www.myspace.com/severedsavior
EXCURSÕES
11/09 - Porão do Rock (Brasília)
22/09 - Scorpions (Brasília)
06/10 - Bon Jovi (São Paulo)
08/10 - Rush (São Paulo)
Excursões realizadas pelo Under Metal Zine.Mais
informações: http://undermetalblog.blogspot.com/
Death Metal melodic
- Zonaria - http://www.myspace.com/zonaria
Power Metal
Nocturnal Rites – New World Messiah -
http://www.myspace.com/nocturnalrites
Doom/Death
- Isole – Silent Ruins - http://www.myspace.com/isole
Death/Black
- Belphegor – Walpurgis Rites -
http://www.myspace.com/belphegor
O p i n i ã o
H e a v y r a m a - 5
Emocore: Rock para gay?
Quase todos os dias vemos uma banda nova de
emocore (entre outros termos inventados),
surgir no Brasil. É NX Zero, Cine, Strike, etc. São
as boy bands que estão na cabeça da juventude de
nosso país. Muitos já se manifestaram chamando
os membros dessas bandas, e quem ouve, de “via-
dinhos”. Há algum tempo atrás surgiram muitos
vídeos no “youtube” contendo perseguições e vio-
lência contra os adeptos desse estilo musical.
Normalmente as canções não são muito traba-
lhadas e suas letras normalmente falam de situ-
ações vividas por um adolescente. Seu estilo de
vestir é colorido, cabelos lambidos, ou espetados,
também coloridos, muitos acessórios chamativos.
Nessas bandas, normalmente formada por garo-
tos, os mesmos são um tanto afeminados. As ga-
rotas adoram o jeito quase angelical dos meninos
de maquiagem e roupas justas no corpo. E quem
ouve ou faz emocore é taxado também de burro,
sem personalidade, degenerado.
Não gosto dos estilos. O som não me agrada, o
estilo de vestir tem seus alguns pontos positivos,
o jeito de agir também não me fascina. E ao con-
trário de antes, não me incomoda. De qualquer
Por Dimitri Kawada
forma porque iria me manifestar contra? Ah, tem
que chamar de viadinho. Homem que é homem
não pinta os lábios, não chora, e blá, blá, blá. Isso
se chama preconceito e opressão. Porque o que
nós usamos, ouvimos deve difinir alguma coisa so-
bre nós? Sendo assim quem ouvia o saudoso Fred-
die Mercury seria considerado um travesti. Quem,
quando crianças, ouvia Xuxa e Balão Mágico era
bicha ou idiota? E quem se veste de preto é co-
veiro, ou tá de luto?
Quem filmou e postou vídeos no youtube vio-
lentando garotos indefesos deveria ser preso e/ou
ser apontado na rua como criminoso. Mas o que
aconteceu com esse brutamontes? Eu não sei, mas
provavelmente não foram julgados pelo crime que
cometeram.
A maneira certa de “ajudar” esses jovens a
seguirem um caminho “certo” é dando bons e-
xemplos, respeitar as escolhas de cada um e não
recriminar. Sendo preconceituosos, opressores,
inflexíveis só pioramos o lado rebelde desse ge-
ração. Lutemos por um lugar mais pacífico e onde
possamos conviver juntos com as diferenças e ad-
mirá-las do jeito que elas são.
Ilustração: Dimitri Kawada
H y p n o t i c a
6 - H e a v y r a m a
A Hypnotica pode ser considerada uma ban-da nova diante de tantas outras que estão no
cenário há anos, mas a experiência de seus inte-grantes constroem um diferencial para o que vem a ser uma das bandas mais competentes da cena goianiense. Afinal,eles passaram por diversos gru-pos, que tiveram presença constante na maioria dos eventos que aconteciam em Goiânia. O vocalista Gabriel Torelli (ex-Nightsorrow e ex-Magnificência ) estava sem banda e à procura de outros integrantes que pudessem iniciar um novo projeto, foi quando ele conversou com o seu colega
de faculdade, Leonardo, para que criassem uma nova banda. Desta maneira, Leonardo, que era baix-ista da Vex Symphony na época, chamou os mes-mos integrantes da banda para se juntar ao projeto idealizado por Gabriel Torelli,mas por determina-das diferenças o guitarrista e o tecladista deixaram o grupo. Coincidentemente,a dupla de guitarristas Bruno Momisso (ex-Mortal Dread,ex-Devon) e Luan (ex-Deadly Curse) também estavam há procura de um vocalista, os projetos se uniram,formando o que viria a ser a Hypnotica. Assim, a formação da banda contava com Gabriel
H y p n o t i c a
H e a v y r a m a - 7
nos vocais, Bruno Momisso e Luan nas guitarras, Leonardo no baixo e Luiz na bateria. Foi então, que Gabriel surgiu com a ideia de chamar a banda de Hypnotica, uma referência às complexidades ade-rentes à mente humana, aos enigmas entrelaçados ao subconsciente, dentre os abismos e labirintos que circundam a mesma. Essa amplitude de signifi-cados se encaixou no objetivo desejado por eles e se tornou o nome fixo. Então,a banda começou a ensaiar intercalando músicas covers, como de Arch Enemy, Judas Priest, Job for a Cowboy, com as músicas próprias, que
desde o começo foram a prioridade da banda. As letras compostas por Gabriel, espelham as dores,os frutos do consciente e do subconsciente - passando pela solidão, desprezo ,melancolia e decadência alicerçada na melodia Heavy/Thrash/Death criada por Bruno Momisso e lapidadas pelo restante da banda. Desse modo, surgiram as primeiras letras: Wakening, Empty Faith e The Darkness Inside. A primeira oportunidade de show aconteceu no RTC (evento realizado no dia do trabalhador, que premia as bandas),após algum tempo,a Hypnotica sofreria a sua primeira alteração de membros. Luan se afasta da banda por questões de falta de tempo, deixando apenas Bruno Momisso como guitar-rista. Mesmo com o desfalque,a Hypnotica investe na gravação do seu primeiro EP nomeado de The Darkness inside,que conteria as três faixas tocadas nos shows,além da introdução Lucid Nightmare. No final de 2008, a banda decide inserir no-vamente uma segunda guitarra, e assim entra Arnozan(ex-Luxúria de Lillith, ex-Symphonic Trag-edy e atual integrante do Warlikke). Foi então que recomeçaram uma série de shows no Martin Cer-erê, no DCE-PUC, CETE,em Anápolis e fizeram o show de abertura para o Matanza em 2009. No começo deste ano a Hypnotica lançou no YouTube os Hypsodes, que são vídeos dos basti-dores das gravações das músicas que farão parte do novo material que será lançado. Este, será um CD que conterá dez músicas. Alguns títulos das faixas foram anunciados no Diário de Gravação da banda,como The Source Of All Fears, que já fora tocada em alguns shows e Cyberage Ares. É possível que no CD haja regravação de algu-ma música do primeiro EP The Darkness Inside. O novo CD promete uma brutalidade intensificada digna de ser ouvida. Mais detalhes sobre este material, vide a entrevista. www.myspace.com/hypnoticabr
Texto : Bia Cardin / Entrevista: Artur Dias / Fotos: Hugo O.
8 - H e a v y r a m a
Presentes no cenário desde 2007,a Hypnotica produz um Metal com nuâncias do Thrash,do Death e do Heavy. No seu primeiro EP eles puderam demonstrar um pouco do seu trabalho, porém agora planejam algo mais ousado e é sobre o processo de composição deste novo material e sobre a cena Goianiense que Gabriel Torelli e Bruno Momisso conversaram com a Revista Heavyrama.
HEAYRAMA - No começo a Hypnotica tinha de-
terminadas influências como Soilwork, In Flames e
Killswitch Engage, então houve uma alteração da
formação. Saiu o Luan, entrou o Arnozan, depois
o Leonardo saiu e o Felipe entrou na banda. Essa
mudança de formação mudou o direcionamento
musical?
GABRIEL- Com certeza. A gente queria mudar
e o Arnozan veio com a resposta que estávamos
procurando mesmo. Eu falei “Vamos fazer um
um lance mais pesado”, e tanto musicalmente
quanto liricamente o Arnozan ajudou demais e o
Felipe também,os dois compõem muito. Vieram
pra completar mesmo a banda,está dando tudo
certo!Agora talvez haja uma diferença no CD
novo, porque não tem nada a ver com antes. Acho
que vai ser um choque.
HEAVYRAMA - Como é o processo de composição
da banda?
GABRIEL - Um traz o esqueleto da música, então o
Momisso dá ideia,todo mundo dá ideia e assim va-
mos lapidando em cima, até conseguir o produto
final. O problema é que nunca estamos satisfeitos
(risos). Todo dia estamos mudando alguma coisa!
MOMISSO - Também usamos programas pra fazer
H y p n o t i c a
H e a v y r a m a - 9
um “pré” da música, pra ter uma prévia de como
que fica.
GABRIEL - A gente grava as guias e coloca a bate-
ria, e vemos o efeito que dá.
HEAVYRAMA - O EP de vocês foi lançado em for-
mato digital e disponibilizado gratuitamente pela
internet. Por que vocês escolheram fazer isso?
GABRIEL - Unimos o útil ao agradável. Pensamos
“Vamos lançar esse EP”, mas aí vimos quanto
que é o preço pra se prensar um EP,o tanto que
é caro!Então chegamos na conclusão “É um EP, é
o primeiro da banda,vamos fazer um web-single
mesmo”, assim colocamos no formato digital pra
galera.É até melhor pra divulgar mais e foi o que
aconteceu.
MOMISSO - O Gabriel colocou no torrent e a gen-
te teve uma resposta fudida. O primeiro dia que
colocamos as músicas no MySpace, deu quase
2.000 acessos. E no torrent colocamos todo o ma-
terial disponível: release, fotos, papel de parede
etc.
Gabriel - Um pacotão mesmo! Quando a galera
baixava, tinha tudo. Apesar do EP não ter ficado
muito do jeito que a gente queria,o que é um pon-
to importante também, mas era o primeiro.
HEAVYRAMA - Então os próximos serão no for-
mato convencional?
GABRIEL - Isso. Lançar mesmo!
MOMISSO - Esse novo CD também colocaremos
pra baixar, mas também já pensamos naquela coi-
sa de conseguir um retorno financeiro em cima.
E hoje em dia você precisa ter a sua porta de
entrada,você tem que mostrar o seu CD, mostrar o
seu negócio, o MySpace, o que seja.
GABRIEL - É algo hoje em dia que quase ninguém
compra,mas você tem que ter.
HEAVYRAMA - Com relação ao novo trabalho,tem
uma previsão de lançamento?
GABRIEL - Colocamos uma prévia no Youtube
com alguns pedaços, mas a previsão de terminar
as músicas é em torno de fevereiro do ano que
vem, por aí. O CD físico mesmo vai demorar um
pouco mais. Mas até lá vamos soltando as músi-
cas. Esse será um CD bem diferente - a nível de
Brasil,será diferente.Estamos bolando algo distinto
na arte,no encarte, algo bem agradável mesmo
pras pessoas poderem folhear. Estamos tendo toda
uma preocupação com isso,principalmente lirica-
mente porque esse CD é totalmente diversificado
em relação ao EP.
HEAVYRAMA - Esse novo trabalho segue a mesma
temática do trabalho anterior?
GABRIEL - Esse trabalho novo é uma história,um
álbum conceitual. Ele trata de um romance
cyberpunk,que foi infuenciado pela trilogia do
Sprawl de William Gibson. O CD não conta a
história do livro,ele foi apenas influenciado. Fil-
mes como Blade Runner, Os 12 Macacos, Sur-
rogates e Minority Report também influenciaram
bastante a parte lírica. A parte musical também
será bem diferente.
A própria literatura cyberpunk,é uma literatura
H y p n o t i c a
1 0 - H e a v y r a m a
muito obscura, decadente. Então vai ter o senti-
mento de dor, sofrimento,coisas que o EP The
Darkness Inside tinha também. Mas este CD é algo
mais futurista e envolvente do que a temática que
envolve dor e solidão como o primeiro EP, que é
algo bem genérico. Agora não!Agora tem história,
tem personagem.
MOMISSO - No instrumental, temos a preocu-
pação de seguir a proposta do tema, o clima, a
atsmofera,pra que o álbum soe mais completo!
HEAVYRAMA - Vocês já estão tocando as músicas
novas no show. Como está sendo a receptividade
da galera?
GABRIEL - O pessoal acha um pouco estranho
de começo. Apesar do EP The Darkness Inside
ter sido lançado há um bom tempo, só agora o
pessoal está começando a assimilar as músicas, a
galera começa a aprender cantar, outros vão no
show e falam “Pô, fui no show, mas vocês não to-
caram essa ou aquela”, mas nós sempre vamos to-
car aquelas músicas. Só que agora vamos dar ên-
fase pras novas, e a galera tá recebendo bem,eles
acham muito diferente. Acho que vamos ter uma
resposta maior quando essas músicas estiverem
no MySpace e o pessoal poder ouvir com cuidado
porque no show o povo fica meio perdido “Mas
isso é música do cara ou não é?”.
HEAYRAMA - A respeito do nosso cenário
musical,vemos nas redes sociais como o orkut,
uma série de críticas sobre a cena independente.
Qual a avaliação de vocês a respeito da cena un-
derground?
GABRIEL- Ótima pergunta.
MOMISSO - Falta um pouco de tudo, falta es-
trutura, falta apoio pras bandas, falta uma postura
profissional. Falta a galera apoiar, e como apoiar?
Ajudando a banda, um brother vendo o show do
outro, comprando o CD. Isso aí faz uma grande
diferença!
GABRIEL - Acho que o pessoal confunde muito
Underground com tosqueira, coisa que não tem
a ver. Mas isso tem mudado muito. Há sete anos
atrás, tinha shows que eram muito piores.Tem me-
lhorado demais, a galera anda meio descrente dos
shows, mas aos poucos eles estão voltando. Acho
que todo mundo tem uma culpa por essa falta
de fé no underground,tanto as bandas quanto o
público.
MOMISSO- O Underground lá fora é levado a
sério,são bandas que tem uma puta estrutura e
pertencem ao underground. Galera vai tocar lá
na Eslovênia pra 120 pessoas,e é assim no Mar-
tin Cererê que reúne até 300 pessoas. Também
tem a questão de equipamento,tem cara que toca
com a primeira guitarra que comprou e com corda
velha,não arranca um som, não investe na banda.
GABRIEL -É,um cara como esse não pode exi-
gir muita coisa. Então, acho que cada um tem
que fazer a sua parte porque ter uma banda não
é barato. Se você está com uma banda de Met-
al em Goiânia é porque você realmente gos-
ta de Metal e porque você gosta de tocar. Tudo
gasta dinheiro. Literalmente, você paga pra to-
car, ninguém vai pagar a sua palheta, nem a
H y p n o t i c a
H e a v y r a m a - 1 1
sua baqueta, nem seu ensaio. Você tem que
ter fé que vai tudo isso vai virar alguma coisa.
HEAVYRAMA - Pra encerrar, qual o recado pros
leitores da Heavyrama?
GABRIEL - Queria agradecer o pessoal da
produção por esse convite e falar pra galera aces-
sar o MySpace,ficar ligado. Tem uma canal nos-
so no Youtube,cheio de palhaçada, só não tem a
gente gravando(risos)!Mas, o resto tá tudo lá. Mas
é isso aí, pra galera acreditar mesmo nas bandas,
tem muita gente fazendo trabalho sério na cidade.
Vamos levantar essa cena porque é importante.
Goiás tem bandas que precisam demais de uma
força. Tem bandas que acabaram, que a galera
realmente acreditava e que foram vencidas pelo
cansaço. Acho isso muito triste,então não vamos
deixar ser vencidos pelo cansaço!Temos que ter
o apoio dos organizadores e principalmente do
público que frequenta os shows.
Passa o TronoA banda Hypnotica, indica:
Deadly Cursehttp://www.myspace.com/deadlycurse
Aurora Ruleshttp://www.myspace.com/aurorarules
Dynaheadhttp://www.myspace.com/dynahead
A Ultima Theoriahttp://www.myspace.com/aultimatheoria
All Sharks Massacrehttp://www.myspace.com/allsharksmassacre
Gabriel Torelli
Bruno Momissio
Felipe
Arnozan
Luiz
W a r l i k k e
1 2 - H e a v y r a m a
A primeira formação foi encabeçada por Hugo
e Roberto em 2003, inspirados por bandas
como Sepultura e Cannibal Corpse,ambos seriam
vocalistas da banda nomeada como Warlikke -
nome sugerido por Hugo. A palavra “Warlike”
retoma ao belial,que se refere à guerra ou a quem
é propenso à ela - menção que declararia a vio-
lência do Brutal Death Metal que eles estavam
propostos a fazer.
Ainda faltava a parte instrumental do projeto,
é aí que Roberto chama seu amigo da época de
ensino médio, Arnozan , para ser o guitarrista. Ele
ficou um tempo neste cargo,mas depois assumiu a
bateria após encontrarem um segundo candidato à
guitarra, Isaac. Pouco depois, Rafael foi chamado
para ser o baixista da Warlikke, ele já havia tocado
com Hugo na banda de New Metal Wise Way. Por
fim ,a banda decide chamar mais um guitarrista,
Texto : Bia Cardin / Fotos: Hugo O.
Veteranos de Guerra
W a r l i k k e
H e a v y r a m a - 1 3
Kennedy. Mas, essa formação não durou muito
tempo, logo o guitarrista Kennedy teve que deixar
a banda por motivos pessoais e no seu lugar en-
trou Renato,outro conhecido de ensino médio de
Arnozan.
Temporariamente estáveis nessa formação a
banda começou a fazer shows no DCE-UFG e ou-
tros shows menores que permeavam pela cidade,
foi neste ano que a Warlikke passou a ser mais
conhecida, por executar covers como do Canni-
bal Corpse etc. A banda também teve a chance
de mostrar músicas de sua autoria, onde as letras
compostas pelo vocalista Hugo refletiam temas
como a guerra, política, ateísmo e vertentes ,con-
duzidas pelo instrumental nervoso composto por
Arnozan e os outros integrantes.
Entretanto, em 2005 Arnozan deixa a banda
devido aos conflitos internos que estavam ocor-
rendo, assim Renato sai da guitarra para assumir
a bateria e a banda volta a ter apenas Isaac como
guitarrista. Foi nesta formação que a Warlikke teve
a oportunidade de tocar em grandes eventos como
o Brutal Fest 2006 ao lado de grandes bandas na-
cionais como o Claustrofobia e o Subtera. Todavia,
decidem acrescentar novamente mais uma gui-
tarra ao som da banda, é quando Fábio (também
atual guitarrista do Baba de Sheeva) é chamado
em 2006 para assumir a segunda guitarra.
A estabilidade não durou muito tempo, logo a
banda sofreria mais desfalques, ainda nesta época
o baixista Rafael não estava tendo muito tempo
para se dedicar ao Warlikke,então decide deixar
o grupo, acompanhado pelo guitarrista Isaac que
também sai da banda por motivos pessoais.
W a r l i k k e
1 4 - H e a v y r a m a
Devido à falta de integrantes a Warlikke deu uma
pausa nas atividades até 2007. Quando decidem
regressar a formação se altera mais uma vez,sem a
presença do antigo baterista, Renato. Assim, Arno-
zan retorna para a banda como guitarrista. Nesta
fase,eles decidem chamar um conhecido de longa
data que até então só havia passado por projetos
de punk/hardcore ao Heavy metal melódico,desta
maneira Diego se junta à banda como baixista.
Fábio continua como guitarrista e Roberto vai para
a bateria no lugar de Renato, mas continua acom-
panhando Hugo nos vocais.
Finalmente com uma formação concreta a banda
pôde trabalhar na sua agressividade e se concen-
trar em shows.No mesmo ano em que voltaram à
ativa participaram do Tattoo Rock Fest e nos anos
posteriores fizeram parte de eventos como Fratri-
bus Perversis(em 2008 e 2009), Brutal Fest 2008
e GO MOSH em 2008 junto com o Ressonância
Mórfica,Necropsy Room,Krisiun etc.
No momento a banda está compondo e gra-
vando um EP ainda sem título, produzido
pelo guitarrista e produtor Arnozan, que já
produziu bandas como Deadly Curse, Arni-
on, Luxúria de Lillith, Rising Cross e outros.
As músicas que farão parte do material são as
mesmas que acompanham a banda desde a antiga
formação, mas sofreram alguma alterações na sua
estrutura incorporando a influência de cada inte-
grante com doses vorazes de Behemoth,Cannibal
Corpse, Dying Fetus, entre outros nomes do Death
Metal. As musicas são: Damned Race, Trust, Loo-
king for Evil ,Darkness World e mais uma faixa que
está sendo concluída. O material será lançado até
o final deste ano. www.myspace.com/warlikke
Hugo
Fábio
Diego
Arnozan
Roberto
Roberto
D D O
1 6 - H e a v y r a m a
Roçacore: da fazenda ao HC
Amantes da cultura goiana os Discípulos de
Origem (D.D.O) misturam causos e guitarras
na composição de suas músicas. Regionalismo,
respeito às características que compõem o ser goi-
ano, como cachaçadas, pequi, carne seca, brigas
interioranas e artefatos rústicos, além da alusão a
personagens importantes da história do nosso es-
tado, tais como Geraldinho, Cora Coralina e Santa
Dica. Essa é a proposta da banda goianiense Dis-
cípulos de Origem, que mistura Metal, Hardcore,
Punk com moda de viola.
O D.D.O (como ficou conhecido popularmente)
faz shows para diversos públicos,daqueles que
gostam de sertanejo aos que admiram o bom e
Texto : Hugo O. / Fotos cedidas pela banda
D D O
H e a v y r a m a - 1 7
velho Heavy Metal. Uma proposta arriscada,mas
que costuma agradar a quem tem a oportunidade
de presenciar os shows do D.D.O.
A ideia de uma banda surgiu por acaso, quando
o vocalista Tiago Vieira foi convidado para tocar
no evento Máquina Rock mesmo sem banda.O or-
ganizador do evento pediu para que o vocalista ar-
ranjasse os integrantes, as letras e as músicas, con-
tudo o nome da banda seria Discípulos de Osama.
Desta forma,em julho de 2003, após compor
letras e músicas,Tiago convidou para fazer parte
da banda, Guilherme Vieira (Guitarra), Hudson
Figueiredo (Guitarra), Fernando “Goiano” Vieira
(Baixo) e Nanderf Ribeiro(Bateria). Assim nasceu
o D.D.O como Discípulos de Origem, cuja inten-
ção é, até os dias atuais,tratar de temáticas que
envolvam as experiências vivenciadas pelos inte-
grantes da banda no contexto rural e interiorano.
A banda tocou recentemente no Tattoo rock fest
no qual foi muito bem recebido, além de já ter pas-
sado por lugares como o Metropólis,Aro 16,Circo
Lahetô,Itaberaí(GO)e até mesmo em Palmas(TO).
Com nova formação desde novembro de 2009,
na qual Hudson e Goiano são substituídos por, re-
spectivamente, Ricardo Darin (guitarra) e Laysson
Mesquita (baixo), além da entrada de Griff Roney
(percussão), os Discípulos lançaram seu primeiro
EP intitulado Briga Na Zona. O disco, que possui
12 faixas de temáticas que permeiam causos, com-
portamento e política, tem seu som inspirado em
bandas como Slayer, Sepultura, Rage Against The
Machine, Raimundos, além de Tunico e Tinoco E
Tião Carreiro e Pardinho.A intenção do D.D.O é
direta: fazer as coisas do jeito deles, destacando
principalmente nas letras, as belezas presentes no
Estado de Goiás. www.myspace.com/ddogoias
Foto : Emerson Silva
U n d e r M e t a l F e s t
1 8 - H e a v y r a m a
Under Metal Fest, esse é o nome da primeira
edição do festival cultural realizado nos dias
16 e 17 de julho em prol de instituições de cari-
dade. Este ano a campanha foi em favor de duas
instituições divididas entre a organização do even-
to, uma delas é o Circo Laheto, situado ao lado
do Estádio Serra Dourada em Goiânia, que auxilia
jovens moradores de rua e em situação de risco. O
evento aconteceu na Estação Goiânia, local onde
também ocorreu o Tattoo Rock Fest, que é reali-
zado todos os anos na cidade.
Um grande espaço estava disponível ao público,
palco e iluminação bem estruturados, praça de ali-
mentação, área separada para palestras, banheiros
e uma organização do nível de um grande festi-
val, além de pulseiras identificando os pagantes,
organização, bandas e imprensa que foram dis-
tribuídas na entrada. O pessoal responsável pela
limpeza e segurança também estava atento, circu-
lando pelo lugar várias vezes durante os shows.
Foram dois dias com palestras, uma oficina e
atrações musicais. No primeiro deles, com cerca
de duas horas de atraso o festival inicia com a pa-
lestra do professor Fábio “Sabbath” Araújo sobre
os Movimentos de Contra Cultura sob o ponto de
vista interdisciplinar. O atraso, já esperado, pos-
sibilitou a lotação do ambiente com a chegada de
39 pessoas, possíveis alunos ou ex-alunos, para
assistir a aula do professor. Na palestra, Sabbath
fez uma retrospectiva, falando primeiramente dos
chamados Filhos do pós-guerra, movimentos Hip-
pie e Punk, Woodstock, permeando pela Geração
Beat até os dias atuais. Com uma hora de duração,
Fábio encerra a apresentação fazendo uma ho-
Texto : Hugo O., Arthur Almeida, Eduardo Paixao Aires / Fotos: Hugo O., Vitor Nunes, Artur Dias
Metal Solidário
U n d e r M e t a l F e s t
H e a v y r a m a - 1 9
menagem a Dio com um vídeo do Black Sabbath.
A conferência transmitiu para a comunidade que
aprecia o rock/metal a importância de utilizar a
música como veículo de conscientização e de
união.
A segunda palestra que estava prevista na pro-
gramação oficial não aconteceu, devido a atrasos,
que a essa altura já passava de duas horas do pre-
visto, mas para quem está acostumado aos even-
tos de rock/metal em Goiânia não foi nenhuma
surpresa, pois isso sempre acontece. Na oportu-
nidade, Murilo Ramos, um dos organizadores, e
que também faria esta segunda palestra, subiu ao
palco para explicar o problema ocorrido com a
banda Lluvia Funebre do Chile, que não tocaria
devido a dificuldades de embarque no aeroporto,
ocasionados por terremotos no país.
Após a palestra começam as apresentações mu-
sicais. Às 21h20 o vocalista Claúdio Geovane
anuncia a chegada de Skulls on Fire, a primeira
banda a assumir seu posto no estrado. O grupo,
chamado de última hora para compor o quadro de
apresentações do festival, tocou um Thrash Metal
com vocal característico do estilo e com muita
presença de palco. Por erro dos técnicos de som
as músicas pareciam “emboladas” e estridentes,
porém o público escasso, talvez pelo contraste em
relação às dimensões do local, batia cabeça ao
som dos solos e riffs bem-elaborados. A organi-
zação está de parabéns, pois o palco e iluminação
estavam ótimos, propiciando uma experiência
digna de grandes eventos. Skulls on Fire tocou sete
músicas, uma delas um cover de Sepultura, quase
irreconhecível devido ao volume ensurdecedor.
A segunda banda a se apresentar foi a Alltorment,
que trouxe para o público um Thrash Metal rápi-
do e pesado, com alternâncias de ritmo e partes
limpas nas músicas, além da influência do Heavy
em alguns riffs. Logo se abriu a roda de pogo e o
público entrou no clima da banda, que teve ainda
Skulls on Fire Alltorment
U n d e r M e t a l F e s t
2 0 - H e a v y r a m a
seu tempo reduzido por causa dos atrasos e só to-
caram quatro musicas.
Selvageria, a terceira banda da noite, consumiu
o tablado com um Thrash Metal tradicional, cujas
influências ficam claras ao primeiro som emitido
pelos instrumentos: Metallica e Pantera. A música
introdutória é cantada por um vocal que explora
o eco, limpo, mas que explorava um drive em al-
gumas partes. Os integrantes pareciam estátuas à
luz convulsiva, mas a segunda desloca a massa
de pessoas rumo ao palco com um som pesado,
rico em treble picking, riffs solados e contagiantes
alicerçados em Pantera. Como uma garantia de
influência, Creeping Death, do Metallica, foi a ter-
ceira canção apresentada, culminando em uma
roda de Hardcore. Mesmo sem presença de palco,
os músicos foram bem recebidos devido a quali-
dade musical apresentada.
A quarta atração da noite foi a Hypnotica, banda
que vem ganhando destaque na cena do metal e
está em estúdio gravando seu CD e que ainda dis-
ponibiliza vídeos das sessões de gravações na in-
ternet. A atenção do público se voltou totalmente
para o show, que foi bem aproveitado pela banda.
Utilizaram sua influência do Death Metal meló-
dico para imprimir um som autoral de qualidade e
alguns covers.
Necropsy Room, banda do baixista, e um dos or-
ganizadores do festival, Murilo Ramos foi a quinta
banda convocada para destruir o palco, substituin-
do a banda chilena Lluvia Funebre. A banda de
Death Metal goianiense conhecida por shows tos-
cos no passado se apresentou com uma qualidade
impressionante. A massa de pagantes chacoalhou
seus cérebros e costelas frente ao palco. As seis
músicas tocadas apresentavam riffs contagiantes,
blast beats e pedais duplos velozes, treble picking
e gutural como os apreciadores do estilo merecem.
A sexta e última banda da noite, Heaven’s Guar-
dian, uma das bandas mais tradicionais do cenário
Selvageria Hypnotica
U n d e r M e t a l F e s t
H e a v y r a m a - 2 1
metal goianiense, subiu ao palco com seus instru-
mentos ainda por afinar, demonstrando falta de
comprometimento e profissionalismo da banda.
Esse acontecimento deixou muito contrariado
quem aguardava ao show do Heaven’s Guardian.
Solucionado o problema, a banda recebeu muito
apoio da plateia ao vê-la cantando suas músicas.
Quem os acompanha há algum tempo percebeu
que a formação passou por uma reestruturação. O
novo line-up está entrosado e promete dar muito
certo.
No segundo dia de evento há novamente um
atraso de duas horas na programação, mas dessa
vez aconteceram todas as atrações previstas para o
evento. A primeira atração do dia foi a oficina de
Luis Maldonalle, guitarrista referência em Goiânia
e considerado um dos principais expoentes da
guitarra na região. Mesmo com o atraso, o públi-
co ainda não havia chegado e poucas pessoas
puderam assistir um músico completo demons-
trar diferentes influências, como o Rock, Fusion,
Metal, Blues, Pop e Progressivo. Entre uma música
e outra, Maldonalle abriu espaço para perguntas
e falou sobre seu equipamento, customização do
instrumento, profissionais no Metal e da estrutura
fornecida para os músicos, que em outros Países
contam com um apoio mais amplo nessa questão,
a qual influencia diretamente na qualidade do som
de sua apresentação. O guitarrista interagiu várias
vezes com o pouco público, cerca de 15 pessoas,
e fechou o workshop com dois covers instrumen-
tais, dando ainda no final CDs para as duas pes-
soas que fizeram mais perguntas.
Conhecido do meio Underground, o organiza-
dor de eventos, proprietário do selo Two Beers Or
Not Two Beers, formado em Filosofia pela UFG
Wander Segundo deu sequência a cadeia de even-
tos, apresentando a primeira palestra do segundo
dia do UMF, com certo nervosismo, cujo tema era
Conceitos e Princípios do Underground. Com um
Necropsy Room Heavens Guardian
U n d e r M e t a l F e s t
2 2 - H e a v y r a m a
público quieto e razoável em relação à quanti-
dade de pessoas, Wander citou autores renoma-
dos da Escola de Frankfurt. Usando sua tese de
Mestrado como base, Segundo explicou o Under-
ground como movimento contra-cultural que atua
em várias tendências que culminam em reações
ideológicas, ressaltando a liberdade artística.
Dizer que headbanger não se interessa por políti-
ca e movimentos sociais é um grande mito, prin-
cipalmente para nós brasileiros, que vivenciamos
um século de profundas transformações em nosso
País. Na segunda palestra do dia, o professor de
História Luiz Eduardo “Bacural” Fleury, abordou o
Anarquismo e a recente história política brasileira.
O professor iniciou sua apresentação explicando
o que é o movimento Anárquico, derrubando o
tradicional mito de que muitos pensam ser um
ato relacionado a desordem e ao caos, talvez por
sempre ser referenciado à luta de classes sociais,
contra opressões, e pelo sentimento de revolta e
mudança. No final da palestra, Bacural deixou um
recado dizendo que “a busca do conhecimento é
a melhor maneira para poder criticar”.
Márcio Júnior, um dos proprietários da gravadora
goianiense Monstro Discos, foi substituído por Léo
Bigode, diretor e um dos fundadores da gravadora,
que falou sobre o mercado de venda e produção
de musical em uma época em que as pessoas bai-
xam suas músicas gratuita e ilegalmente. Em sua
palestra, fez uma breve apresentação do que era e
o que é o atual mercado fonográfico, apresentou
alguns dados e falou sobre a área de atuação das
grandes redes varejistas na venda de discos. Leo
Bigode afirmou ainda da intenção da gravadora
Monstro em criar um selo exclusivo para bandas
de Heavy Metal, vendo que este é um mercado
com um potencial incrível, pois o fã do estilo é
mais fiel e tem mais interesse em adquirir o mate-
rial do seu artista favorito.
No segundo dia de shows, os amplificadores
foram trocados e também a ordem das apresen-
tações. Com 50 minutos de atraso a banda Rein-
force sobe ao palco para dar início às apresen-
tações do segundo dia, após passarem o som e
afinarem os instrumentos. A espera foi um tanto
decepcionante, já que o som da banda acusava
falta de prática instrumental como entrosamento
dos integrantes, talvez fosse tudo devido ao nervo-
Deadly Curse Hibria
U n d e r M e t a l F e s t
H e a v y r a m a - 2 3
sismo de uma das primeiras apresentações da ban-
da. As músicas apresentadas com muita presença
de palco e um vocal imaturo, mas com potencial,
eram recheadas de microfonia e desorganização.
Com visual glam a banda tocou canções pareci-
das, mas percebia-se que tinham uma influência
de Megadeth principalmente nos riffs de guitarra.
O grupo cometeu algumas gafes como a do bater-
ista ao tentar jogar uma das baquetas para o alto e
não conseguir apanhá-la.
A banda Dynahead de Brasília foi a segunda a
entrar no palco, e demonstraram um grande en-
trosamento entre os músicos. Boa parte do público
já havia chegado, e a partir da terceira musica, que
possui um clipe disponível na internet, as pessoas
entraram no clima da banda. Ao todo seis músicas
foram tocadas e ao final do show o vocalista de-
clarou que ano que vem haverá CD novo.
A banda Rhevange, também da capital federal,
foi a terceira a se apresentar, e contou com uma
iluminação bem trabalhada em cima do palco. A
galera da grade, como sempre, bem animada pôde
ouvir um clássico do Dio, Holy Diver, que não foi
bem aproveitado pela banda, já que o guitarrista
assumiu o vocal e a todo instante se abaixava para
ler a letra, o que não o impediu de errar em alguns
momentos. A quinta música foi um dos primeiros
trabalhos da banda, porém foi parada no meio por
um problema no pedal do baterista. Sete músicas
foram tocadas, e ao final do show ,o CD da banda
estava disponível a cinco reais para quem quisesse
comprar.
Todos sabem que Ressonância Mórfica (RM), a
quarta apresentação da noite, não é a banda mais
técnica e moderna do cenário Goiano, entretanto
a banda formada por Luiz Souza, Marcos Campos,
Bruno Lôbo e Gustavo Naves é sinônimo de simpa-
tia e conquistam o respeito e o apoio de toda cena
goianiense.Em mais uma apresentação, não fal-
tou a marcante presença de palco de Marcos, que
deixa o público insano. É de se observar que no
início todos estavam muito comportados perante
o palco durante um show do RM. Esse problema
logo foi resolvido, após a convocação, por parte
de Marcos, para realizar a balbúdia. Como pre-
sente pela participação positiva, o público presen-
ciou um cover, La Migra, da lendária banda mexi-
cana Brujeria. Rumo ao final da apresentação, a
Hibria Dynahead
banda conta com duas participações especiais em
duas de suas músicas. O destaque fica por conta
de Lorena Moraes, ex-vocalista da banda Erineyes,
que sobe ao palco para auxiliar o Marcão na úl-
tima canção da noite, “Plutocracia”, cantada tam-
bém por boa parte do público. Ao término fica evi-
dente o sentimento de que mais uma vez fizeram
um grande show.
A quinta banda da noite, Deadly Curse, subiu
ao palco mais uma vez para mostrar todo seu po-
tencial, confirmando que não vieram a passeio
para o UMF. Após o playback da faixa Intro do
EP Renegade, iniciam o show com a brutal “Self
Destruction”, um verdadeiro cartão de visitas da
banda, mostrando muito vigor. Deadly Curse vem
conquistando cada vez mais o público pelo seu
trabalho árduo em novas composições, que mes-
clam boas letras com uma música de qualidade. E
nessa oportunidade; tivemos o privilégio de ouvir
duas canções novas, seguindo a mesma fórmula
que vem dando certo. Claro, precisando corrigir
um detalhe aqui e outro ali, mas nada que o tempo
não dê jeito. Com o cover Dead Bury Their Dead,
do Arch Enemy, a banda estabelece o clímax da
apresentação. O público, formado em sua maioria
por pessoas de 20 a 35 anos ficou insano, podia-se
observar a participação dos bangers, que durante
U n d e r M e t a l F e s t
2 4 - H e a v y r a m a
o show cantavam as músicas dos “renegados”. No
fim de mais uma apresentação, os integrantes do
Deadly Curse foram ovacionados pelo público,
que pediu para que extrapolassem o setlist da
noite. Isso ainda não havia acontecido no UMF.
Dando continuidade ao festival a banda brasi-
liense Blazing Dog, penúltima do evento, sob ao
palco para apresentar seu trabalho. É a primeira
vez do grupo em palcos goianienses, porém es-
banjaram tranquilidade e um poder de concen-
tração incrível. O vestuário e o som não deixaram
U n d e r M e t a l F e s t
H e a v y r a m a - 2 5
dúvidas de que se tratava de uma banda de Heavy
metal tradicional. O grupo se mostrou interessado
em renovar o estilo, agregando elementos e uma
sonoridade mais moderna. Não bastando a com-
petência em fazer seu som, agitam os bangers com
sua empolgante presença de palco. O desempe-
nho de todos é um show a parte. Aos que deix-
aram de assistir a apresentação, perderam a opor-
tunidade de conhecer um trabalho de altíssima
qualidade e que merece todo nosso respeito.
Pela primeira vez em Goiânia, os gaúchos do
Hibria, última e mais esperada apresentação do
evento, sobem ao palco para mostrar um Heavy
metal veloz, de qualidade internacional e com
certas alusões à banda inglesa Judas Priest. Com
ótima técnica, entrosamento, volume e afinação
dos instrumentos, a apresentação mereceu a aglu-
tinação de todo o público, mesmo cansado após
horas de pé, em frente ao estrado. Tocaram as clás-
sicas e já conhecidas faixas Steel Lord On Wheels
e Tiger Punch. A iluminação e fumaça de gelo
seco intensificaram ainda mais o espetáculo en-
quanto o vocalista Iuri Sanson, vestido com uma
camisa cuja estampa dizia “metal maniac inside”
mostrava suas veias do pescoço ao tentar atingir
tons mais elevados. Entre a quarta e quinta música
Sanson agradece a organização do evento e elogia
as bandas que tocaram dizendo que “as bandas
são muito fodas! Isso quer dizer que o metal bra-
sileiro está cada vez mais forte”. O clímax da noite
foi quando tocaram Two Minutes To Midnight, do
Iron Maiden, que funcionou como levantadora de
defuntos, fazendo mesmo os mais cansados a con-
templarem o show. Após completar o setlist com
12 músicas, o vocalista Iuri Sanson diz que “essa
noite ficará por muito tempo em nossas memóri-
as”. Esperamos a próxima edição do Under Metal
Fest, a equipe está de parabéns.
HEAVYRAMA – Você organiza shows há mais de
dez anos. Como isso começou, teve ajuda de al-
guém?
WSEGUNDO – O primeiro show que eu organizei
na minha vida, foi aquele lance do “do it yourself”
mesmo. Tinha acabado de montar o Corja, no fi-
nalzinho de 1998, começo de 1999.
Nessa época eu tava com a banda e meu pai tin-
ha arrumado um lote ao lado da minha casa para
construir o escritório dele, aí veio a ideia: “cara,
rola de fazer um show aqui demais”. Assim, eu
encontrei com o pessoal das bandas, meus ami-
gos e cada um levou uma parte do equipamento
e a gente fez o show. Primeiro show foi isso , uma
casa em reforma, cheia de escombro, mas já tinha
energia, então um ambiente totalmente apropria-
do para um show de undergrond, e foi “na loca”:
Vamos fazer? Vamos.
HEAVYRAMA – Você tem algum parceiro que
sempre te ajudou tanto na organização de eventos
como na administração do selo TBONTB?
WSEGUNDO – Cara, tenho vários parceiros. Vou
falar dos mais antigos, tem o Natal, Bacural, o Den-
ny, que trabalha no selo e ajuda com tudo quanto
O organizador Wander Segundo, figura carimbada do cenário independente, responsável pelo selo Two Beers or Not Two Beers (TBONTB) e também integrante das bandas Corja, os Canalhas e Sociofobia, comenta sobre a cena underground - tema de seu Mestrado em Filosofia na UFG e analisa sobre a mesma dentro do cenário Goianiense
Entrevista exclusiva com Wander Segundo
2 6 - H e a v y r a m a
E n t r e v i s t a - S e g u n d o
Texto e Foto: Hugo O.
é coisa e é a pessoa que eu tenho um contato mais
direto, o pessoal do metal, do Under Metal Zine,
Ivanildo que fez um monte de edições do Brutal
Fest comigo, o pessoal da HicCuP e por aí vai. Isso
é bom, porque une a cena em vários aspectos.
HEAVYRAMA - Sob a perspectiva de sua tese de
mestrado, qual é a definição de underground?
WSEGUNDO – Daria pra escrever um livro so-
bre o que é Underground. Se for pra definir as-
sim de um jeito meio tosco, cara, é toda força
que vai contra a corrente dominante do sistema.
É um movimento político, sim, é um movimento,
sim, juntos. São duas coisas inseparáveis, pois se
as separarmos elas perdem o sentido. Se não tiver
um motivo de resistência, não há porquê resistir e,
como não vão fazer parte do mercado maior, um
monte de gente resolveu virar as costas pro mundo
e foda-se: “eu vou viver do jeito que eu quero, vou
ser do jeito que eu quero e foda-se.” Então, essas
pessoas vão se juntando e vão surgindo cenas em
toda parte do mundo. Mas apenas 1% da popu-
lação mundial nasceu com a pá virada para isso.
O Underground é uma aldeia global composta por
pessoas que não gostam do mundo do jeito que
ele é e que querem fazer algo para mudar essa
realidade.
HEAVYRAMA - Como era a cena underground há
uma década, quando você começou a produzir
shows?
WSEGUNDO – Cara, era muito diferente, tinha
muito menos gente envolvida na cena. Pra você
ter um show com 200 ou 300 pagantes que ve-
mos hoje em dia era coisa para se ter uma vez ao
ano e olhe lá. Antigamente a média de pessoas nos
shows era de 50, 60 e se desse 100, o organizador
saía no lucro. E era tudo muito tosco, não tinha
com quem alugar equipamento de som, era carís-
simo, então quando bandas underground tocavam
era com a junção de equipamentos de todo mun-
do. Não tinha internet, então, pra você conhecer
uma banda ou você comprava um CD ou pegava
emprestado com alguém que tinha o disco. Era
bem mais difícil, mas as pessoas eram bem mais
unidas. Se você passasse na porta da Hocus Pocus
você não via um, mas vários indivíduos trocando
informações e buscando conhecer coisas novas.
A galera saía, se encontrava para conversar sobre
música. Todo mundo que fazia parte da cena era
envolvido.
HEAVYRAMA – Com o surgimento e evolução de
veículos de comunicação em tempo real, como a
internet, a produção tanto mainstream, quanto un-
derground sofreu certa desvalorização , por que
isso?
WSEGUNDO – Eu acho que sim, mas não só isso,
porque houve um enfraquecimento da contra-
cultura na década passada. O movimento de con-
tra cultura mais recente foi o EMO que já começou
sendo ridicularizado de começo.
HEAVYRAMA – Antigamente, por volta dos anos
1970, o movimento Punk criou o lema “faça você
mesmo”,visando transformar os consumidores
passivos de música em produtores/artistas do
ramo. Assim também era a cena Underground há
uma década. Gostaria de saber como ela está a-
H e a v y r a m a - 2 7
E n t r e v i s t a - S e g u n d o
E n t r e v i s t a - S e g u n d o
2 8 - H e a v y r a m a
tualmente e se ainda segue esse modus operandi.
WSEGUNDO – Bom, eu luto com unhas e dentes
para que ela continue desse jeito, porque é o que
eu acredito. Enquanto existir pessoas com esse es-
pírito, que foi a fundo, procurou saber porque as
pessoas se sentiam daquele jeito, que leu a respei-
to, que pesquisou ou mesmo viveu esse momento,
esse futuro ficará garantido por mais um tempo.
Mas eu não sei a respeito dessa nova geração, pois
o pessoal não se aprofunda, então é difícil, mas
penso que sempre aparecerá um ou outro que dar
continuidade, fazendo assim a cena sobreviver.
HEAVYRAMA – Considerando toda a sua vivên-
cia no meio Underground, durante essa década e
meia que passou, quais são as perspectivas para o
Underground para os próximos dez anos?
WSEGUNDO – Eu espero que o pessoal volte a
acreditar no Underground clássico, que comecem
a reivindicar as coisas de uma forma séria e direta.
O Underground é um meio de vida que as pes-
soas podem aceitar ou não. Se não aceitarem, que
o respeitem, pois a música que escutamos hoje
tem suas origens no Underground. Então, sendo
otimista é isso, agora, sendo pessimista, vai chegar
um ponto em que tudo vai acabar. Vai ficar tão
grande, tão burocratizado e esquisito que as pes-
soas vão se desinteressar.
HEAVYRAMA – Há algum tempo, à exemplo do
Martim Cererê, os envolvidos na cena Under-
ground, tanto produtores de eventos e bandas
como o público, vem encontrando dificuldades
no sentido de encontrar lugares para se apreciar
a música extrema, além de problemas financeiros.
O que você acha disso e, em sua opinião, por que
isso está acontecendo?
WSEGUNDO – Isso está acontecendo por puro
preconceito. Os vizinhos do Martim Cererê
mandaram uma carta reclamando do barulho, o
Brandão que estava administrando bem saiu, dei-
xando o espaço sob influência direta do governo
e não é interessante para o governo fazer mais
shows de rock no Martim. Aí eles fizeram de tudo
para que não aconteçam. Eles perceberam que os
produtores não têm dinheiro, que o negócio fun-
cionava na camaradagem, que era o jeito que fun-
cionava com o Brandão, e começaram a colocar
empecilhos, foi uma coisa interna mesmo.
HEAVYRAMA – No Under Metal Fest, o que se
pode perceber é que a o pessoal underground está
se renovando aqui em Goiânia. O que você acha
dessa nova geração?
WSEGUNDO – Eu deposito toda a minha esperan-
ça neles. Eles vão ser poser até os 15, depois disso
uns vão deixar e outros vão falar “eu sou metal e
foda-se” e quando você ver o cara quarenta anos
depois ele vai estar cabeludo e com camiseta de
banda. É bom que tenha essa renovação, porque
tava demorando. A cena goianiense foi muito forte
até quatro anos atrás e, de repente, desapareceu.
Toda essa dificuldade que passamos hoje com fal-
ta de espaço e de outras coisas surgiu nessa época
porque o pessoal deixou de acreditar na cena.
HEAVYRAMA – Há reclamações por parte de ban-
das a respeito de ter que pagar para tocar ou to-
E n t r e v i s t a - S e g u n d o
H e a v y r a m a - 2 9
car gratuitamente nos eventos em contraste de um
suposto lucro por parte dos organizadores. O que
você acha disso?
WSEGUNDO – As pessoas que estão de fora não
percebem que o produtor cultural é o cara mais
desgraçado que existe. Porque ele é o que mais
acredita e o que menos ganha. Eu posso contar
nos dedos os shows que eu tive lucro. E assim, a
minha forma de poder equilibrar as coisas é o selo.
Posso te chamar para tocar e não pagar, mas quan-
do você for lançar um CD, eu pago. O dinheiro
deles vai aparecer quando o disco estiver pronto.
Eu pago metade dos discos, é como eu faço com
todo mundo.
HEAVYRANA – Brutalfest 2010 vai acontecer?
WSEGUNDO – Cara, a gente tá fazendo de tudo
pra rolar, só vou poder te dar uma resposta depois
de agosto. Não sou só eu. A gente criou uma co-
missão de seis integrantes. Tem gente do Warlikke,
Viscerastika, Selvageria, eu, do Corja e o Saulo. A
gente fez uma reunião para escolher as bandas,
que eu prefiro não revelar agora, mas uma banda
que é certeza que virá é o Krow, de Minas Gerais.
Ainda não definimos as bandas maiores, de fora,
fizemos contato com algumas, mas não tem nada
certo, por isso não posso divulgar.
HEAVYRAMA – Como começou o Brutalfest?
WSEGUNDO – O Brutalfest começou em 2004,
quem fez o Brutal pela primeira vez foi o Riva-
nildo. Na segunda edição eu estava na organi-
zação, a gente se uniu pra trazer o Subtera e ele
quis aproveitar o nome. Aí, como o nome pegou,
decidimos manter assim. No de 2008 eu não in-
vesti, mas eu fiz contatos, arrumei bandas para to-
car, então, apesar de não ter dado dinheiro, fiz um
trabalho de organização do festival. Em 2004, o
primeiro, foi no Templo, mas o que deu lucro foi
o de 2006, foram dois dias de festival, que, pra
mim, foi a maior vitória do selo, fazer um show
pra poder prensar inteirinho o CD de uma banda.
A edição de 2009 não saiu e vamos ver se con-
seguimos produzir o de 2010, mas se não rolar, ele
sai no início de 2011. O que tá pegando é o lugar,
mas em breve teremos uma resposta.
HEAVYRAMA – Se você pudesse mandar um re-
cado tanto pros iniciantes quanto para os vetera-
nos o que você diria?
WSEGUNDO – Falaria pra eles acreditarem no
que escutam, vocês não estão mexendo com isso
à toa. Para não desistirem, não trocar seus ideais
por promessas de dinheiro, pois no final das con-
tas, no final da sua vida você vai parar pra ava-
liar e vai se arrepender disso. Mesmo se você for
ganhar dinheiro, não esquece de onde você veio,
continue apoiando a cena. Continue com sua ban-
da, querendo ter sua banda. Não deixe isso morrer
como uma parte de sua adolescência que passou.
Continue sendo Metal, sendo Hardcore, sendo In-
die ou Emo, seja o que você quiser ser, mas seja.
É isso.
HEAVYRAMA – Nós da Heavyrama agradecemos
pela entrevista e até a próxima.
WSEGUNDO – Se precisarem, é só chamar.
Ta t t o o R o c k F e s t I V | 0 2 / 0 7
3 0 - H e a v y r a m a
Tatuagens, piercings, body art.Essas palavras
tão comuns ao público underground têm um
lugar certo em Goiânia. É o evento Tattoo Rock
Fest, que todo ano leva ao público goianiense
a tradicional convenção de tatuagem, além de
shows de rock e uma mostra da cultura alternativa
de nosso estado.
Este ano, o festival foi realizado nos dias 2,3 e
4 de julho, na Feira da Estação, e contou com 20
bandas de rock e Heavy Metal. Espalhados pela
feira, mais de 50 stands de moda underground,
skate e body art. O evento também contou com
a participação de 100 tatuadores de todo o país,
que não só tatuaram, mas também participaram
de oficinas e workshops. Além disso, havia ainda
pista de skate e fliperama para distrair a galera.
Outro destaque - ao menos para os headbangers
acostumados a toscos shows undergrounds - foi
a área de alimentação. No menu do Tattoo Rock
Fest não havia apenas os tradicionais espetinhos e
cachorros quentes. Pastéis, salgados, pizzas, lasa-
nhas, açaí, até yakisoba e strogonoff faziam parte
do farto cardápio do evento.
Entretanto, as bebidas alcoólicas – néctar alta-
mente apreciado pelos amantes do metal – não
receberam a mesma atenção. As míseras duas op-
ções de cerveja e doses (whisky e vodca) deixaram
muitos headbangers decepcionados.
A estrutura do evento era adequada, com um
Texto e Fotos: Thaís Lôbo
02 | Jul | sexta-feira
Ta t t o o R o c k F e s t I V | 0 2 / 0 7
H e a v y r a m a - 3 1
bom equipamento de som, palco e iluminação. O
espaço era amplo, com acesso a deficientes. Ha-
via também 30 banheiros químicos, além dos con-
vencionais (detalhe: tinha até papel higiênico!), o
que garantiu muito conforto ao público, principal-
mente o feminino.
A organização foi muito competente, esta-
belecendo um ambiente agradável e seguro. Uma
única briga ameaçou nublar o evento, mas foi logo
controlada pela equipe de seguranças no local. O
preço do ingresso, apesar de um pouco salgado
para os bolsos mais sensíveis (R$ 15 antecipado,
R$ 20 na hora) era compatível com a estrutura
oferecida.
OS SHOWS
A noite de sexta-feira começou muito bem.
Pontualmente, às 20h, a banda goianiense de
hard rock Devon sobe ao palco para interpretar
os grandes clássicos do eterno Ronnie James Dio.
Destaques para Children of the Sea, Holy Driver e
Long live rock’n’roll. Infelizmente, o público ainda
era pequeno (cerca de 150 pessoas) e poucos pu-
deram apreciar o impecável show da banda Devon.
Às 21h, é a vez dos brasilienses do xLost in Hate
mostrar o seu som, uma mistura de metal e hard-
core. Para quem não sabe, o prefixo x é usado para
bandas adeptas ao Straight Edge, um estilo ao qual
Freak show Necropsy Room
3 2 - H e a v y r a m a
Ta t t o o R o c k F e s t I V | 0 2 / 0 7
associa a música – punk/hadcore – a uma vida só-
bria, livre de drogas, sejam elas ilícitas ou não. O
som é extremo, bateria rápida, dois vocais (scream
e gutural), mas só para apreciadores do estilo. O
som agitou a galera, e as típicas rodas de punk,
hardcore ou pogo se formaram.
Em seguida, os goianos do D.D.O. sobem ao
palco para mandar seu rock regionalista, rechea-
do de palavrões e muito peso. O palco já tremia
quando soltaram os primeiros acordes da músi-
ca “O vendedor de Pequi”, sucesso da banda. A
originalidade, o humor e a energia desses garotos
ganharam o público que respondeu a altura, com
muita agitação.
Às 22h40 um som sombrio invade a feira da es-
tação. Posteriormente, um rapaz caminha sobre o
palco com uma mulher desacordada nos braços.
Ele a coloca no chão, retira um cateter de um
pequeno embrulho e o coloca em sua boca. A
partir daí, as batidas de música eletrônica se mis-
turam ao tenebroso sintetizador e o rapaz introduz
o cateter em seu braço. Ele retira e coloca nova-
mente a agulha nos braços, mãos, dedos, pés.O
freak show terminou com a entrada dos cortantes
riffs do Necropsy Room . Com o seu já conhecido
Death Thrash , eles movimentaram os fãs com os
grandes sucessos da banda. O que se via? Cabelei-
ras ao alto e rodas e mais rodas de pura violência
fraterna.
Uma hora depois, os lendários guardiões dos
céus voltam ao palco goiano. É o Heaven’s Guar-
dian, que além do seu tradicional Heavy Metal,
traz o carismático Izack Salvatierra (ex-Vougan)
nos vocais. A nova formação agradou,e o público,
sempre fiel a banda, cantou em coro os antigos
sucessos da banda como Fighters.
A meia noite e trinta minutos é a vez do Death
Metal do Spiritual Carnage transformar a feira da
estação no inferno. Talvez nem tanto, já que faltou
feder enxofre, mas o resto estava quente como o
demônio gosta. Apesar de ser uma das mais anti-
gas bandas do estado e ser uma das mais atuantes
Spiritual Carnage
H e a v y r a m a - 3 3
Ta t t o o R o c k F e s t I V | 0 2 / 0 7
em shows, a apresentação do Spiritual Carnage
contou com muita energia e brutalidade, fazendo
até mesmo os headbangers mais antigos da cena
agitar a cabeleira, ou o que sobrou dela.
Para encerrar a noite, os paulistas do Dr. Sin
subiram novamente ao palco goiano. Como sem-
pre, a banda contou com o seu público cativo que
cantou junto os grandes sucessos, com o seu Hard
Rock com influências de metal tradicional e pro-
gressivo.
A noite de sábado foi dedicada ao rock e a de
domingo o heavy metal foi representado pelos
brasilienses do Bruto. O Death Metal escrachado
do grupo agitou o pequeno público ali presente,
com músicas amáveis como “vai se fuder” e “puta
que pariu”, além do cover bem tocado de Amon
Amarth. Destaque para o bom baterista Sávio
Américo e para os indolores pescoços do baixista
Rodrigo e do guitarrista Renato Rocha, que não
paravam de rodar.
Apesar de ser um evento essencialmente basea-
do na cultura da tatuagem aliada ao rock, o 6º Tat-
too Rock Fest prestigiou o menosprezado Heavy
Metal goiano em uma noite única e de recorde de
público. Para se ter uma ideia, só na sexta-feira o
público que circulou pela feira foi estimado em
duas mil pessoas, com 100 tatuagens realizadas.
Não se tem uma estimativa do número de pes-
soas durante os shows, mas segundo o organiza-
dor da festa, Danilo Gonçalves, a noite do Heavy
Metal deu mais público que a tão superestimada
noite do rock, no sábado. Isso mostra que o metal,
independente da vertente, continua muito vivo na
cidade do “rock”, revela também que temos públi-
co para grandes eventos.
O que realmente falta, é a criatividade e coragem
de produtores e empresários para apoiar este
gênero que não pode mais ser mascarado com a
alcunha de “rock”. Embora todos vivam no mundo
underground, o Heavy Metal é outra praia, outra
turma, tem sua vida própria e merece eventos de-
dicados exclusivamente para o estilo.
Heavens Guardian
A p o c a l y p t i c h a o s
3 4 - H e a v y r a m a
Idealizada pelo vocalista e guitarrista Sandro Ra-
fael, juntamente com a vocalista Ellen Maris, a
banda Apocalyptichaos visa criar um som inspira-
do em estilos como Death e Doom, consagrados
pelo peso e pela densa atmosfera. Somadas às
experiências do baixista Sibelius Mendanha, do
guitarrista Luiz Souza , do baterista André Maia e
do tecladista Fabrício de Castro,não demorou para
começarem a se apresentar em eventos como Na-
tal Rock e Heavy Metal na Veia.
identidade do Doom/Death goianiense
Texto : Vitor Nunes / Fotos: Ellen Cavalcante
A p o c a l y p t i c h a o s
H e a v y r a m a - 3 5
Criada em 2009 suas influências passam por
bandas como Anathema, Paradise Lost, My Dy-
ing Bride, Candlemas, Katatonia, Hypocrisy, Amon
Amarth e Novembers Doom, do Metal britânico,
sueco e americano. Os temas abordados em suas
músicas são relacionados ao comportamento hu-
mano e suas possíveis consequências, seja no
plano psíquico ou social, que acabam por gerar
qualquer tipo de caos, traumas ou destruição,
dando a entender o nome da própria banda.
O currículo de seus integrantes faz jus ao im-
pacto que teve o surgimento da Apocalyptichaos.
Sandro iniciou seus projetos com a banda La-
muryan juntamente com Ellen e Sibelius em 2002,
depois fez parte da banda goiana de Folk Metal,
Valanya. Luiz, que participou de diversas bandas
entre elas Black Vomit e Hate, atualmente parti-
cipa da Ressonância Mórfica, Sevandija e Against.
André, ou “Kaju”, iniciou seus estudos em 1991
sob as influências de bateristas como Bill Ward,
Ian Pace e Mike Portnoy. Foi um dos fundadores
da banda Fate Cross e também fez parte da banda
HammerOn!. Fabrício começou seus projetos mu-
sicais aos 20 anos e fez parte da banda de Black
Metal, Cheol. Hoje com 34 anos é fundador da
banda Sanguínea na qual é responsável por parte
dos vocais e teclados. Sibelius participou das ban-
das Sentence Of Death, Painherit e teve uma breve
participação na Ressonância Mórfica em 2002.
Atualmente a banda está em estúdio preparando
seu primeiro trabalho e ocupada com a estrutu-
ração de velhas e novas músicas, pois com a en-
trada de Fabrício de Castro (teclado) e sua maneira
peculiar de compor e André Maia (bateria) com
as suas influências musicais, surgiu um leque de
novas ideias e possibilidades,que com certeza co-
laborarão com a evolução da banda.
O primeiro material oficial da Apocalyp-
tichaos será lançado em meados de setembro
de 2010. A respeito desse lançamento e outras
informações,estarão disponíveis no MySpace da
banda www.myspace.com/apocalyptichaos.
F r e e d o m t o P e z ã o
3 6 - H e a v y r a m a
Dia 7 de agosto, às 18h , horário em que o
evento Freedom to Pezão estava marcado no
DCE-UFG. Entrada, apenas cinco reais. O evento
foi produzido e organizado pelo Remanescentes
,em parceria com o Sebaoth e o projeto social
Methalegria. No horário marcado haviam poucas
pessoas em frente ao local, portões ainda fechados
e passagem de som - os poucos presentes no local
eram da banda ou acompanhantes.
Em torno das 18h35 chegaram mais pessoas que
iam se amontoando na entrada até a abertura dos
portões, o que não demorou muito. Um atraso
normal pra quem é acostumado a frequentar os
DCE’s que às vezes causam atrasos exorbitantes
de 3h. Passada às 19h, mais pessoas chegavam
e esperavam o começo do show, neste horário a
banda Skulls on Fire (antiga Warhead) passava o
som. O bar estava servindo água e refrigerantes
e a mesa de som foi montada no centro do gal-
pão, o que facilita para o responsável pelo equi-
pamento equalizar a altura dos instrumentos com
maior precisão,mas que em outra parte seria um
infortúnio pois os headbangers esbarravam nos
fios presos ao chão.
Em torno das 19h20 começa o show do Skulls on
Texto : Bia Cardin / Fotos: Aline Rodrigues e Bia Cardin
Skulls on Fire - Uma amostra do Old School
F r e e d o m t o P e z ã o
H e a v y r a m a - 3 7
Fire. É fato que a acústica de ambos DCE’s não são
as melhores e quando o equipamento é ruim, não
se ouve quase nada,contudo para a suspresa geral
o som estava bem regulado, sem saturação e mila-
grosamente podia-se ouvir todos os instrumentos!A
banda inicia o show com o cover do Sepultura,
Desperate Cry, muito bem executada e a energia
ficou por conta do vocalista Cláudio Geovane,
que envolveu o pequeno público na sua perfor-
mance. A banda tocou outras faixas de sua autoria
estruturadas no Thrash Metal oitentista.A música It
Self Destruction of Time abriu alas para o hardcore
,porém o destaque da banda é a música Cesium
137, que cadenciou um bate-cabeça raivoso.
No mais,a banda estava bem ensaiada e prepara-
da, mas a sonoridade no geral não oferece muitas
novidades,se encaixando no Old school tão pre-
sente na cidade. O número de pessoas dentro do
DCE variava de acordo com o grau de agrado das
músicas tanto no show do Skulls on Fire quanto na
banda seguinte, Alltorment.
Às 20h30 ,a Alltorment começa o show com uma
pequena introdução e luzes acesas. A primeira músi-
ca demonstra a influência Thrash,acompanhada
pelo vocal rasgado com entonação gutural do
vocalista e guitarrista,Nando,cuja postura lem-
bra bastante James Hetfield. Inclusive,as músicas
relembravam sutilmente o antigo Metallica, apoia-
das nos pedais duplos do baterista Weyner,todavia
o público ainda estava um pouco frio.
A banda estava bem preparada e é na terceira
música que as coisas esquentam um pouco mais.
Na faixa This Crime Doesn’t Need a Name, o
vocal furioso alicerçado nas rajadas do Thrash
oitentista,numa música bem trabalhada desen-
cadeou o hardcore, assim também foi a música
seguinte So Blind, no speed à la Motorhead que
empolgou o público ainda mais.Cada música ti-
Alltorment se apresenta com profissionalismo
F r e e d o m t o P e z ã o
3 8 - H e a v y r a m a
nha um destaque,mostrando influências tanto an-
tigas quanto mais recentes na sonoridade da All-
torment.
Passado algum tempo a banda de Power Metal
Virtus sobe ao palco as 21h30 sem a presença
do baixista Yuri. A primeira música executada é
Rising Force de Malmsteen, seja por falta de um
instrumento ou não,foi perceptível algumas percas
de tempo na música, mas os integrantes no geral
seguraram bem o desfalque. O vocalista Calebe
Alves, em vocal limpo inseriu umas doses de
drives e agudos. Os integrantes se mostraram bem
carismáticos,destacando as performances do gui-
tarrista João Pedro. O auge do show foi quando to-
caram Time to Awake, seu único single disponível
que atraiu o público – a música exala um Power
Metal bem tradicional em cima da bateria técnica
de Marlos. Depois executaram um cover de Angra
e do renomado Helloween, mas nestes covers a
banda ficou devendo sincronicidade e entonação.
O vocalista têm boas passagens em algumas técni-
cas, porém ainda precisa amadurecer vocalmente
para cantar no tom que as músicas exigem. A
banda cativou o público que cantou as músicas,
fez hardcore e bateu cabeça ,entretanto a diversão
parece ser mais vísivel do que profissionalismo na
banda Virtus.
Pra fechar a noite, o All Sharks Massacre ini-
ciou o show às 22h30 e pra quem espera um fi-
nal de show com um ou dois gatos pingados pres-
tigiando a banda, esse não foi o caso. A All Sharks
Massacre foi a banda que mais reuniu público e
surpreendeu com um Death Metal maduro inter-
calado com pitadas de Metalcore. A banda não
tão conhecida por nome,tem na sua formação o
baixista Felipe da Hypnotica e em conjunto fi-
A banda Virtus anima o público
F r e e d o m t o P e z ã o
H e a v y r a m a - 3 9
zeram com que o público causasse o caos, cri-
ando filas de bate-cabeça e incitando rodas de
pogo em todas as músicas.O vocalista mostrou-se
bem versátil, esbarrando no vocal limpo,rasgado,
gutural grave e agudo,e eles estavam muito bem
ensaiados,embasados numa frequência speed
contagiante. Algumas vezes a sonoridade lem-
brava bandas como Trivium. O ápice foi na faixa
autoral Traitor Law,em que boa parte do público
parecia conhecer e até cantaram juntos em alguns
momentos. Claro que, a banda segue a tendência
das atuais bandas de Goiânia voltadas ao Death/
Metalcore, mas estes executam o seu intuito com
precisão.
Certamente,tal energia tem sido escassa no públi-
co presente nos shows em Goiânia. Neste caso, o
som colaborou bastante,fato que tem sido raro de
se ver nas casas de shows voltadas ao Rock/Metal.
Outras duas bandas estavam programadas para
tocar no Freedom To Pezao, a Disaffection e a Au-
rora, porém por motivos externos não puderam re-
alizar o show.
Segundo um dos organizadores do evento ,a
AMMA não está liberando alvará para os DCE’s
funcionarem após meia-noite, por isso os shows
têm que começar mais cedo. Se todas as bandas
quiserem tocar, têm que comparecer no local no
horário definido pelos organizadores. Problema
que inclusive aconteceu neste caso, o atraso de
alguns integrantes desandou a programação de
todo o evento.
No final das contas, foi uma noite e tanto, o even-
to acabou em torno das 23h15 e a galera dissipou.
Shows como este, que se esforça pra ser bem or-
ganizado e bem estruturado com bom equipamento
de som se se fizessem mais presentes com certeza
reanimaria (aos poucos) tanto o público quanto as
bandas.
All Sharks Massacre supera as expectativas
M o n s t e r B u s
4 0 - H e a v y r a m a
Nem toda banda de Heavy Metal começa numa conversa de boteco como um bando
de adolescentes bêbados. Na verdade, a maioria das boas bandas fogem do clichê estabelecido pela indústria cultural. Elas surgem primeiro no mundo obscuro das ideias para depois tomar um corpo so-noro. Outras vezes, são fatos inesperados que nos fazem tomar um caminho antes não pensado. Foi isso que aconteceu com o Monster Bus. Com eles, a imagem veio antes da música. Tudo começou em 2004. Ao visitar um amigo nos arredores do terminal Novo Mundo, o advo-gado Waller ficou impactado com o que viu. Fazia anos que não passava pela Avenida Anhanguera, e a cidade agora não era a mesma de sua infância, nos idos anos 70. Goiânia havia se transformado em metrópole e o ônibus Eixo Anhanguera seria então “a espinha dorsal do transporte de massa”.
A primeira ideia foi fazer um documentário so-bre o transporte coletivo mais popular da cidade: o ônibus Eixo Anhanguera, que mais tarde recebeu a alcunha de “Monster Bus”. Mas sem orçamento e possibilidades de se fazer o áudio, Waller altera o projeto, e inicia as gravações do vídeo clipe sobre a famosa linha de ônibus. Para a trilha sonora, primeiramente escolhem Metallica. O ritmo combina com o clima pesado do ônibus monstro, mas a letra era bem diferente da realidade goianiense. Uma música própria era o mais ade-quado e assim Waller e o amigo Cézane iniciam a confecção da letra enquanto Moys se encarrega de fazer as linhas de guitarra. A música narra a trajetória do ônibus e de seus passageiros em sua rotina diária. Num tom sarcás-tico, o dia-a-dia do usuário do transporte cole-tivo é dissecado em situações comuns a muitos
Texto : Thaís Lôbo / Fotos cedidas pela banda
Luís Maldonalle Piruka
M o n s t e r B u s
H e a v y r a m a - 4 1
goianienses.A letra original foi diminuída para en-caixar melhor com a guitarra. Depois de editar a letra, música e vídeo é a vez do YouTube popu-larizar a banda. O clipe amador obteve mais de 40 mil acessos atualmente, o hit contabilizou uma marca histórica para este gênero musical no esta-do. Além disso, o “Monster Bus” foi o ganhador do prêmio de melhor vídeo caseiro no Festival de Ci-nema Brasileiro de Goiânia, o Festcine, em 2008. No final de 2007, Cézane deixa a banda por mo-tivos profissionais, mas ainda contribui para a es-trutura da letra “Flanelinha”. Assim, Waller assume os vocais e Moys continua na guitarra, enquanto Gustavo Vazquez e Luis Maldonalle, do estúdio Rocklab, se revezam no baixo. Em 2009 finalizam o EP e o DVD da “Trilogia do Trânsito” que ainda contou com a participação de Pedro Hiccup (bateria em Mad Traffic) e os backing vocals de Lu Singer, da escola Allegro. Após a finalização dos trabalhos o Monster Bus se
apresenta em grandes festivais em Goiânia como Tattoo Rock Fest ainda em 2009. Atualmente, a banda está na estrada com a mini-turnê “Monster Bus on the Road” visitando as cidades do interior do estado. Até agora houve três shows, nas cidades de Senador Canedo em março, Inhumas no mês de abril e na Cidade de Goiás, durante o XII Festi-val Internacional de Cinema Ambiental, FICA, em junho. Mas a banda não abandonou os estúdios. O Monster Bus já está preparando o próximo trabalho com uma nova formação: Waller (vocais), Maldo-nalle (guitarra), Rafa (baixo) e Piruka (bateria). Já em agosto deste ano o Monster Bus lançou um CD promocional da participação no programa Quadro a Quadro da Rádio Universitária. O CD contém as músicas do primeiro EP, além de entre-vistas e três músicas (Murder in a Angry Cow, Friend or Foe e Hard to learn) do próximo álbum o “Metal is our Biznis”. http://www.monsterbus.com.br/
Rafa Waller
E n t r e v i s t a - J o ã o P e d r o
4 2 - H e a v y r a m a
HEAVYRAMA - Como foi processo de gravação do EP Riding The Dragon?
J.P - Gravamos tudo em um mês,sendo que enquan-to estávamos gravando uma faixa eu estava fechan-do arranjos de outra e assim fez que o processo fosse mais rápido.Arranjar guitarra,voz,bateria,tive a ajuda do Arnozan em todas as etapas sendo que ele criou as linhas de teclado e produziu o EP.Eu sempre quis lançar algo que expusesse toda a fúria e velocidade do Metal, então basicamente o
EP não tem baladinha! (risos)
HEAVYRAMA - Recentemente você disponibi-lizou o primeiro single. Como está sendo a recep-ção das pessoas em relação ao trabalho?
J.P - Poxa,só tenho a agradecer a todos que estão baixando “In your mind” que é o nome do single ou me ajudando de alguma forma.Basicamente a receptividade do público é o que me motiva a tra-balhar cada vez mais com empenho!
O guitarrista João Pedro Costa, 21 anos,atual integrante da banda de Power Metal Virtus e ex-integrante da Narsillion, prepara o lançamento do seu primeiro EP solo RIDING THE DRAGON.
Entrevista exclusiva com Joáo Pedro
Texto : Bia Cardin / Foto: Aline Rodrigues
E n t r e v i s t a - J o ã o P e d r o
H e a v y r a m a - 4 3
HEAVYRAMA - Você pretende fazer shows como artista solo ou as músicas serão tocadas com a banda Virtus?
J.P - Este é um trabalho paralelo à Virtus,vou fazer isso simultaneamente com o trabalho que já existe da banda,sem desmerecer o que já vivi e aprendi com ela! Show faz parte da vida de um músico,”o que seria um artista sem plateia?!”.Tocar as músi-cas gravadas ao vivo não é só uma alegria pra mim mais também um desafio técnico!Porém no iní-cio eu queria simplesmente expor minhas ideias musicais e passar uma mensagem pro mundo,seja do rock ou não!Aos poucos o mundo foi se es-quecendo o valor de um grito “Libertem-se meu povo,LIBERTEM-SE!”,se livrem dessas algemas que te prendem das formas corretas ou não de pensar!Voltem a gritar que logo vamos poder alçar voo!(risos).
HEAVYRAMA - Aliás, você mesmo compôs as le-tras? Elas falam a respeito do quê?
J.P - Sim,exceto uma faixa que foi feita por meu amigo e vocalista da Virtus,Calebe Alves.Eu já criava melodias e arranjos vocais pra Virtus,mas nunca fiz realmente as letras.Nesse trabalho eu quis botar em teste minhas ideias de letras!Como compus as letras na medida em que os arranjos da música eram criados,quis passar a ideia de “liber-dade de escolha”,desafios que a vida te prega pra se vencer e as opções de enfrentá-los ou simples-mente fingir que não existem e seguir o caminho fácil,pois era o que eu estava vivendo no momento da composição.O sentimento,os gritos,as linhas melódicas,tudo é uma junção do que se passa quando se abre o coração.
HEAVYRAMA - O que te levou a iniciar uma car-reira solo?
J.P - O simples fato de que quando trabalha-mos sozinhos temos todas as decisões em nossas mãos,isso pode ser o abismo, ou não. Compor sozinho já era algo de mim há tempos,portanto essa foi a concretizaçao de um objetivo.
HEAVYRAMA - Quais são as suas maiores influên-cias?
J.P - O que mais me influencia é uma coca-co-la gelada,uma lasanha,ver bons filmes e às ve-zes gritar pra atormentar meus vizinhos!(risos).Musicalmente,independente do que eu ouça ou estude isso vai alterar minha parte técnica, porém sua mente estará presa aos padrões.Luca Turilli,Rafael bittercourt e Malmsteen são as mi-nhas influências,entre muitos outros que sempre descubro por aí,mas esses me fizeram seguir a vida como músico. No mais,espero que as músi-cas soem mais parecidas com o João Pedro!(risos)
HEAVYRAMA - João, quais seus atuais planos?
J.P - Lutar!Para que as portas se abram cada vez mais e pra que eu possa tocar duas,três,quatro,cinco vezes ao dia e consiga alcançar o máximo de pessoas possíveis com a minha música,e que isso toque ou sensibilize elas de alguma forma. No final das contas a gente ouve música com o coração!
HEAVYRAMA - Algum recado para os nossos lei-tores?
J.P - Preparem-se para voar:”www.myspace.com/joaopedrocosta”!
O l d P l a c e
4 4 - H e a v y r a m a
Inspirados por bandas como Exhorder, Lamb Of
God,Pantera e Metallica,o Old Place surgiu em
2009 por iniciativa do guitarrista Rafa Oliveira (ex-
integrante do Ampla Virtude e Breesna) e o bateris-
ta J.K, que já haviam tocado juntos em outros pro-
jetos. Não passou muito tempo para conseguirem
completar o line-up da banda, pois ainda na época
do colégio,conheceram o baixista David e o vo-
calista, Maikon.
Neste período os rapazes deram o nome Trítano
à banda,uma sugestão de J.K e da irmã de Rafa
Oliveira. Este nome fazia uma alusão ao Trítono,a
nota de tensão que marca o “diabo na música”,bem
presente no som do Black Sabbath,entre outras
bandas. Mas esta menção não marcava a verda-
deira identidade da banda,portanto,logo eles mo-
dificaram o nome para Old Place,que transmitia a
atmosfera “Southern” no qual tanto Rafa quanto
Maikon eram influenciados.
Com o nome definido,a banda estava concen-
trada em encontrar o seu som com pitadas de suas
influências.Eles já tinham músicas prontas como
Lies and more lies e Dream alone is illusion, com-
postas liricamente por Rafael,e instrumentalmente
criadas por toda a banda. Depois trabalharam nas
músicas,Set Back e Destroy the Walls - na preten-
são de focar em temas de questões sociais, con-
formismo, desconfiança, entre outros dilemas hu-
manos.
Com o setlist formado por músicas próprias, o
Old Place,conquistam espaço em “novos lugares”
Texto : Bia Cardin / Fotos cedidas pela banda
O l d P l a c e
H e a v y r a m a - 4 5
Old Place começou a fazer shows no DCE-PUC,
Remanescentes,além da participação em dois fes-
tivais realizados em Inhumas. Em 2009 tocaram no
RTC, um evento realizado em Goiânia no dia do
Trabalhador,com o intuito de promover a Cultura
e o Rock, que distribui diferentes premiações para
as bandas com melhores colocações, o Old Place
garantiu o 3º lugar, o que lhes deu o prêmio de
ensaiar gratuitamente - premiação esta, que eles
trocaram pela gravação de uma música, Setback,
que logo eles disponibilizaram no MySpace.
O estilo Thrash com passadas pelo Groove
Metal,marcaram a sonoridade da banda que con-
tinou fazendo show até abril deste ano, mês em
que o baterista J.K deixou a banda por motivos
pessoais. Após uma beve procura pelo novo in-
tegrante via orkut, Thales Braga (ex-Godheim) se
juntou ao Old Place em julho,e já começaram a
compor uma nova música,Blood on Hands.
No momento o Old Place está com um show
marcado para o final do ano,no evento In Rock
em Inhumas e planeja começar a gravação do
EP ainda sem nome, em novembro. As músi-
cas que farão parte deste material serão as
mesmas compostas e tocadas desde o início
da banda: Lies and more lies,Dream alone is
illusion,Setback,Destroy the walls e Blood on
Hands. E pode-se contar com novas composições,
recheadas de doses do velho Thrash/Groove Metal
com vestígios dos elementos do Metal moderno.
www.myspace.com/oldplacebr
R e s e n h a - R i s i n g C r o s s - G O
4 6 - H e a v y r a m a
A banda goianiense Rising Cross foi formada em
2000 e, apesar de já ter se estabelecido como uma
das boas bandas da região, lançou seu primeiro
trabalho apenas nove anos depois. Gravado no es-
túdio Fantom, o EP Trumpets of Victory conta com
uma introdução e mais três faixas de um Heavy
Metal cadenciado. Quanto à parte gráfica, tanto
a capa quanto o encarte mostram um trabalho ca-
prichado. A produção, que ficou a cargo de Geo-
vane Maia também merece destaque, dada a qua-
lidade e profissionalismo.
A introdução do álbum “Impetuous Wind” nos
leva diretamente a um cenário desolador, com
ventos uivantes e um clima bastante sombrio. Em
seguida vem a primeira faixa do disco, “Pente-
cost” que traz um Heavy Metal da velha escola.
Cavalgadas mais cadenciadas, licks de guitarra e
vocais agudos são frequentes nessa faixa e no EP
como um todo. As linhas de vocal merecem um
destaque. Paulo Melo demonstra muita competên-
cia e técnica em todas as músicas com seu vocal
marcante e afinado. Com bons solos de guitarra
e um teclado que cria uma “cama” nas canções,
a banda parece bastante segura do som que se
propõe a fazer.
Essa convicção transmitida faz com que o grupo
tropece em alguns dos clichês do Heavy Metal.
Não há nada de novo ou original no som da ban-
da. Nas duas primeiras músicas, Pentecost e Re-
velation XII a dinâmica é escassa, o que as tornou
repetitivas. Por esse motivo, a audição de todo o
disco se torna um pouco cansativa.
A música Victory, última do disco, encerra o tra-
balho e parece reunir as principais características
do grupo. Um pouco mais acelerada que as ou-
tras, ela apresenta uma linha de vocal empolgante.
Foram adicionados ainda alguns coros, que deram
um clima épico à faixa. Ela apresenta também riffs
de guitarra mais elaborados e linhas harmônicas
que se destacam em relação às demais músicas.
Finalizando, Trumpets of Victory traz um bom tra-
balho de uma banda experiente, que vai agradar
principalmente os fãs dos bons e velhos tempos.
Quem busca novidade não vai se identificar muito
com som, mas essa não parece ser a preocupação
do grupo, que faz o que faz por amor a camisa.
Line up:Paulo Melo - VocalClerio Murbach - BaixoDivino Lima - TecladoAlfredo Egito - GuitarraFelipe Roso - Bateria
www.myspace.com/risingspace
Tradição e esmero
Texto : Artur Dias
R e s e n h a - R e s t i n D i s g r a c e - P B
H e a v y r a m a - 4 7
Os paraíbanos do Rest In Desgrace,que atualmente estão na Alemanha, lançaram no primeiro semestre desse ano o EP intitulado “As beauty springs from mud” com sete faixas, gravado no AVH Estudios. Neste EP a banda buscou mesclar influências de Death Metal, presente no vocal de Rafael Basso com doses de Dark/Doom/Heavy Metal no instrumen-tal do baixista Márcio Quirino e do guitarrista João Pachá. O EP abre com a faixa instrumental Samsara ,boa ,mas sem nenhuma particularidade especial, seguida por Ascendance,que tem ótimas passagens de um riff para outro, entretanto a impressão dada é que a gui-tarra poderia variar mais,mas o refrão agrada bastante. O efeito de voz duplicada com o vocal gutural grave e o agudo utilizada tanto nessa faixa como nas outras, dá um bom resultado lembrando em alguns momen-tos o Nergal (Behemoth), em tempos do Demigod. Algo interessante neste trabalho é a temática do EP
Metal de Lotus
que possuí referências às entidades presentes no hin-duísmo e no budismo. Na terceira faixa,Veil of Maya, é clara a ausência de um instrumental impetuoso para exprimir a violência anunciada pelo vocalista.Contudo, o Heavy Metal é bem presente nesta faixa que possuí riffs bem marcados pra um bom bate-ca-beça, Em Dreaming há um cântico oriental,seguido pela guitarra que sai em fade (diminui aos poucos) para entrar Vanity, o riff é simples e o peso acompanhado pela bateria é agradável aos ouvidos, com a aclama-da fúria e speed em alguns trechos. Em seguida, entra o instrumental The Dying Lotus, que mais parece ter sido retirada de um CD de música clássica. É uma música com um instrumental belissímo e uma com-posição muito bem elaborada. Facilmente torna-se o destaque desse trabalho. Por fim,a música Umnamed Feeling/Descension de 12 minutos encerra o EP. Por ser demasiada longa, essa faixa tem umas mudanças de sessões,nas quais há um intervalo em pleno silêncio até que o instru-mental inicie novamente. Apesar da proposta soar interessante,essas diferentes melodias mais parecem pequenas faixas fragmentadas coladas uma na outra. No mais, o EP tem um intuito interessante,e o som sai um pouco da proliferação de bandas voltadas ao Thrash Metal/Metalcore, sem medo de fazer misturas que por muitas vezes dão errado. O EP dispensa ex-cesso de firulas e exprime uma conclusão simplória nas composições. Afinal,uma música não precisa ser complexa para ser boa.
Line-up:
Rafael Basso - Vocals
João Pachá - Guitarra
Márcio Quirino - Baixowww.myspace.com/restindisgrace
*Nota: Atualmente o Rest In Disgrace está com um baterista fixo,André Janssen.
Texto : Bia Cardin
R e s e n h a - A l l t o r m e n t - G O
4 8 - H e a v y r a m a
Foi lançado pelo selo Two Beers or Not Two Beers, o primeiro EP da banda Alltorment, intitulado de “The End of Peace Season”.Gravado no Phantom Studio, o traba-lho apresenta quatro músicas autorais: Redrum, Bring Me Peace, Covered Eyes e Vengeance. A primeira faixa é “Redrum” - aliás, o que percebe-mos no primeiro berro do vocalista Ernando Rodrigues - é uma profunda e irritante influência de Metallica. A música em si tem bateria marcante, riffs contagiantes e um bom refrão. O destaque fica para o solo brilhante de Allison Paulineli, muito bem encaixado nas bases de gui-tarra, misturando partes lentas e rápidas, cadenciadas no ritmo certo, sem soar repetitivo. Logo após é a vez de “Bring me peace”. As linhas de gui-tarra são simples e mais “modernas” , com alguns efeitos na voz e nas guitarras , mas o uso de recursos eletrônicos é discreto e produzem um “ar” mais moderno nas músi-cas. Na terceira música “Covered Eyes”,o início da faixa é alucinante, rápido e com uma boa pegada meio hard-core. Os vocais gritados em coro, intercalados com os
A nova geração do thrash metal goiano
agonizantes de Ernando, entram cheios de personalidade e surpreendem com o instrumental e bateria impecável. Mas quando chega o refrão... o ritmo alucinante é que-brado e a rima não é tão boa. Depois segue um bom solo e uma base de guitarra ma-tadora, mas novamente o ritmo quebra para a entrada de uma parte mais lenta.Ficou bom, mas dependendo da sensibilidade do seu ouvido pode soar repetitivo, princi-palmente porque não há nada de novo nessa parte - nem nas notas, nem no ritmo - é o mesmo som de centenas de outras bandas. E para fechar esse petardo a responsabilidade é da vio-lenta “Vengeance”. A faixa começa com uma breve in-trodução de sons desconexos e culmina numa colérica explosão de guturais e screams, com riffs cortantes e uma bateria matadora. O arranjo nessa música é bem mais complexo e é visível a influência das “novas bandas de Death Metal” . O aspecto lírico não traz muita novidade, entretanto dá certa unidade a este trabalho já que pro-gressivamente os sentimentos vão se tornando mais inten-sos. Primeiro a decepção e loucura em Redrum. Depois a sede de sangue em Bring Me Peace e a recusa ao “sis-tema” em Covered Eyes. Vengeance termina de vez com a temporada de paz e o reino do caos assim se inicia. No geral, a estrutura das músicas é eficiente.As letras carecem de mais imaginação, mas servem bem ao es-tilo. Apesar de ainda não conseguirem estabelecer uma identidade mais precisa, a banda levanta sua bandeira com muita competência. É inquestionável o mérito des-ses garotos que, com apenas dois anos de banda, con-seguem lançar um material com esta qualidade. Isso nos faz esperar muito mais do Alltorment futuramente, aliás, o caos está só começando.
Line Up:Ernando Rodrigues – Vocal/ Guitar.Allison Paulineli – Lead Guitar.Leonan Costa – Bass.Weyner Henrique – Drums.www.myspace.com/alltorment
Texto : Thaís Lôbo
H e a v y r a m a - 1 7Ilustração: Neli Sousa
C r ô n i c a - S e n ã o
5 0 - H e a v y r a m a
Há anos não me sentia daquele jeito, mas já aca-bou. As pernas tremiam, no coração, o sangue
parecia ter vida própria, pois o sentia dançar, os pensamentos todos nela, só nela. Às vezes, flagrava a mim mesmo com lágrimas nos olhos. Vocês sabem do que se trata, a emoção é muito forte.Saía da casa de um amigo às 8h, após uma noite de bebedeira com chopp gratuito, petiscos e sal-gadinhos em miniatura. Era uma formatura de um companheiro de faculdade que nem daqui é, quase provinciano. Nessa noite, bebi, conversei e me di-verti; cheguei até a jogar cartas, coisa que não me tem apreço. Não podia imaginar o que me esperava nessa manhã de quinta-feira, mas os velhos senti-mentos sempre voltam. A casa desse amigo era ao lado do local da festa, porém, a mesma terminou mais cedo do que esperá-vamos. Fomos a um bar, depois de uma boa camin-hada trocando as pernas e marcando território lá e cá. Alguns reclamam desse atentado ao pudor e à higiene, mas na hora de lutar por banheiros públi-cos, esses imbecis, todos eles, somem. No bar, pedimos uma garrafa de cerveja gelada e coletamos alguns cigarros da caixa para que eles acompanhassem a famosa loira. A conversa fluía em concordância sobre o bom e velho comunismo. Levantei-me e fui ao banheiro, normal depois de tantos copos de álcool. Lá um proxeneta me cha-mou a atenção. Perguntava se me conhecia de al-gum lugar, pois era “roqueiro”. O sujeito me encheu o saco durante a mijada a dizer que seu pai era o melhor baixista da cidade e me mostrou sua identi-dade que continha uma homenagem lusa e pobre ao Jimi Hendrix. O nome do infeliz era Jimi Peter.Mais além, voltei para mesa e retomamos a con-versa. Sentíamos-nos embriagados e sem vontade de beber mais. Pedimos copos de plástico para que levássemos a cerveja restante. Com eles, subimos a avenida em direção às camas, onde dormimos pro-fundamente até às 8h. Não falo nada. O sujeito tin-ha que trabalhar, porém ninguém, nem o mais po-
bre ou burro e feio do planeta merece acordar cedo. Entretanto, conformamo-nos e disparamos à rua. Nos separamos e eu fui para o ponto de ônibus. A condução não demorou e estava vazia, isso nunca acontece, talvez este tenha sido um sinal. Meu iti-nerário incluía dois terminais e três ônibus, porém uma só viagem para gastar. Desci do baú, como o ônibus é chamado pelos estudantes e logo entrei em outro, bem mais cheio e fui em pé.O segundo terminal demorou bem mais para che-gar, como se todo aparato de concreto, asfalto e fer-ros que caminhasse até mim. Lá é que começaram as estranhas sensações conhecidas por todos os in-divíduos realizados. Mãos suavam e era como eu pudesse sentir o vento e o sol de um modo diferente enquanto o suor era transformado em sebo por sua ação. Momentos de pseudo-alívio, quase mágicos, iam e vinham, mas eu tinha que encontrá-la, antes que fosse tarde demais. No ônibus, já a caminho de casa, me deu certo desespero, achei que não ia dar tempo; confiei, não tinha outro jeito. Consegui me sentar, fui na janela, admirando o caminho enquanto pensava. Quanto mais perto eu me aproximava mais insuportável era a sensação de perda e resolvi, depois de descer, me apressar. As pernas pareciam não responder aos meus comandos, só aceleravam, o suor escorria pela face, cabelos se arrepiavam ao sopro rebelde dos ventos; o caminho fazia-se mais longo que parecia.Quase, foi por pouco. Com maestria, velocidade e ferocidade abri o portão defeituoso com uma só mão e tranquei-o. Invadi a casa, quase que arrom-bando a porta e a vi de longe, cada vez mais perto. Corri para o seu encontro, ela estava lá branca e fria, mas pensei: foda-se, vou sentar nela mesmo assim, senão cago na roupa. Devia estar sentindo a dor que as mulheres sentem no parto, sentia ela se mexer e me chutar, como se fosse criar mãos e por se fora do canal de uma vez por todas. Cantos de choro recém-nascido ecoavam por todo o recinto e eu prostrado pairava morto sobre o trono. Deu até fome.
SenãoPor Hugo O.
C r ô n i c a - S e n ã o
H e a v y r a m a - 1 7Ilustração: Juliano Stefan | [email protected]
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5 2 - H e a v y r a m a
Pela janela da sala os primeiros raios do Sol inva-diam o comodo imundo, expulsando as sombras
que haviam sido deixadas pela noite. Lentamente as baratas se dirigiam para os buracos nas paredes, escondendo-se do dia que nascia. Geralmente Alice já tinha se levantado, mas a casa estava estranha-mente quieta naquele dia. Cássio bateu mais forte na porta, pensando que sua namorada havia dur-mido até tarde. Não seria de se surpreender, afinal, eles ficaram conversando pelo telefone até as três horas da madrugada, tentando se acertar. Curiosa-mente, ele nem se lembrava o teor da briga. Era tão comuns as discussões entre os dois que ele ás vezes sentia falta delas. Colocou o buquê de rosas na mesa do corredor e se abaixou procurando a chave extra nas plantas. Na maioria das vezes, ela deixava a chave ali pra ele não incomodar os vizinhos quando chegava. O problema é que ela não sabia que ele iria esta manhã. Cássio havia planejado surpreendê-la com as flores e o pedido de casamento, mas ao encon-trar a chave na planta soube que algo estava errado. Ficou pouco mais de um minuto parado deixando o olhar vagando da chave para a porta e de volta para a chave. Tomando coragem ele colocou achave na fechadura e a girou o mais silenciosamente possivel. Entrou na sala notando a bagunça maior do que o normal tomando o lugar. Deixou as flores sobre o unico espaço onde não havia sujeira na mesa do centro. O resto estava debaixo do maior acúmulo de comida e lixo que Cássio já vira. Olhou em volta ainda tentando entender a causa de tudo aquilo. A-lice era bem desleixada ás vezes, mas aquilo beirava
o abandono. Ouviu um ruido vindo do fim do corre-dor, como algo raspando na madeira. Viu o enorme labrador de Alice raspando a pata dianteira na porta do quarto, no fim do corredor. Parou encarando a porta. O cão lambeu sua mão de leve, soltando um ganido baixo. Cássio girou a maçaneta, abriu a por-ta e a viu. Ela estava deitada seminua com as pernas retorcidas. Seu braço direito repousava sobre seu peito enquanto seu corpo escondia o esquerdo. Sua cabeça pendia para fora da cama de casal e uma poça de vomito havia se formado no piso ao lado da cama. Cássio levou alguns segundos para assimilar tudo, mas assim que entendeu a cena correu para junto de Alice.— ALICE, PELO AMOR DE DEUS O QUE HOUVE?! FALA COMIGO, AMOR!!!! – o corpo da moça per-manecia frio e inerte – ALICE, NÃO! POR FAVOR, NÃO! ACORDA, AMOR! ACORDA!!A ambulância chegou por volta das dez horas da manha. O tempo todo Cássio ficou ao lado do corpo de Alice. Ás vezes se lamentando por não ter estado lá, ás vezes lembrando dos momentos que tiveram. O CD player dela ficara tocando a noite inteira seus cds favoritos e agora tocava ‘’Nothing Else Matters’’ do Metallica. A banda favorita dos dois. Sempre ou-viam juntos quando podiam e Cássio adorava essa musica, mas, infelizmente, só agora entendia o real significado dela. ‘’So close no matter how far...’’ começava a musica, mas nesse exato momento um dos paramedicos desligou o som, arrastando Cássio de volta à sua triste realidade. Um policial parou à sua frente com um caderno de anotações e uma caneta de marca barata.
As flores de Alice – Parte UmPor Jôder Filho
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—Garoto, podemos conversar na sala, por gen-tileza? Você tem umas perguntas pra responder. – disse ele se encaminhando para a porta. Cássio se levantou e caminhou atrás do detetive sem tirar os olhos do corpo de sua namorada.Haviam seis ou sete policias na sala e todos se virar-am quando viram Cássio entrando. O detetive sen-tou-se no sofá e apontou a poltrona para que ele se sentasse. Cássio ficou de pé, de costas para a porta. Dois policiais se postavam na porta e ele notou que comentavam sobre ele. —Você era parente da vítima, garoto? – disse o dete-tive.— Noiv.....namorado. – ele conseguiu dizer.—Se quiser beber algo para relaxar, fique à vontade. – o detetive disse sem levantar a cabeça do bloco de anotações.—E adianta? – Cássio respondeu secamente. Aquilo podia ser rotina pra eles, mas não era para ele. – Não é um copo de uísque que vai traze-la de volta, certo? – ele completou encarando o detetive.A sala ficou em silencio por poucos segundos, mas foi o suficiente para Cássio ouvir o policial que es-tava a direita na porta de entrada cochichando para o outro. As unicas palavras que entendeu foram ‘’drogada’’ e ‘’morta’’, mas foi o suficiente pra fazê-lo agir. Num reflexo de furia ele se virou e agarrou o o policial pelo colarinho, seu antebraço empurran-do o queixo dele contra a porta. Todos na sala fi-caram paralisados exceto o outro tira da esquerda, que sacou a arma do coldre e agora a apontava para a cabeça de Cássio.—EU VOU TE MOSTRAR QUEM ERA DROGADA, SEU DESGRAÇADO! – Cássio berrava encarando o policial – EU VOU TE MATAR, SEU BOSTA!—Larga ele agora! – ordenou o policial sem abaixar a arma.
O detetive se levantou e caminhou até ficar entre Cássio e a arma do outro policial.—Solte-o, rapaz. Nós estamos aqui para ajudá-lo. Ele não quis dizer isso, não foi, Fontes? – ele disse encarando o policial perplexo que se limitou a agitar a cabeça apressadamente. – Agora solte-o e sente-se no sofá. Nenhum de nós teve a culpa do suicídio de sua namorada.Cássio soltou o policial e se virou para o detetive en-carando-o sem entender ainda o que ele havia dito.—Suicídio? É essa a teoria de vocês??—Não é teoria – respondeu o detetive sentando-se novamente – Uma grande quantidade de um medi-camento foi encontrado no sangue da sua namo-rada. As digitais dela estão na caixa e em alguns comprimidos que estavam espalhados. Agora, já sabemos seu nome, seu endereço e seu telefone graças aos seus documentos, mas ainda tem coisas a esclarescer. Como por exemplo..—Ela não se suicidou! – Cássio interrompeu en-carando o detetive – Alice jamais faria algo assim. Ela nem sequer usava drogas – seu olhar encontrou o do policial de relance.—Garoto, eu sei que é dificil aceitar, mas nós so-mos peritos. Lidamos com isso direto. Vai por mim, quanto mais cedo você aceitar, mais fácil fica de entender o motivo depois. Essa é a nossa linha de investigação, e é a ela que vamos seguir. – ele disse por fim.—Então pode pegar sua linha de investigação e ir se danar – disse isso saindo do apartamento. O cão de Alice pulou do canto onde estava e seguiu Cássio até o carro. Quando já estavam longe da casa Cás-sio teve o primeiro pensamento que o levaria à ruí-na. ‘’Isso não vai ficar assim. Eu vou descobrir quem fez isso com você Alice.’’ E com esse pensamento acelerou seu carro.
Ilustração: Dimitri Kawada
Ilustração: Neli Sousa