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(2010) Resumo das Concepções sobre Educação de Hegel – Discurso 3, 4 e 5 de encerramento dos anos letivos de 1810, 1811 e 1813. Escrito por Willian Azevedo de Lima Costa É importante atentar para o fato de que os pensamentos pedagógicos de Hegel se inserem em um determinado tempo histórico em que a educação foi tratada praticamente como uma rainha. Pois, em sua época, de um lado se tinha toda a valorização dada pelo Iluminismo ao conhecimento racional como a grande salvação dos homens não-esclarecidos. E de outro lado, em contraposição com a postura educacional- racionalista Iluminista, se teve a presença e atuação do Romantismo como figura essencial no que diz respeito a uma forma de educação voltada para a sensibilidade. Os discursos de encerramento dos anos letivos no Ginásio de Nuremberg apresentam concepções educacionais que, se por um lado referem-se exclusivamente ao período histórico educacional em que a Alemanha estava vivendo, assim como a cultura e as tradições alemãs propriamente, por outro lado, estes discursos trazem em si, concepções pedagógicas que estão para além de seu tempo e sua cultura, concepções que devem ser tomadas com um caráter de universalidade. Dessa forma, isto possibilitaria pensar Hegel e sua compreensão de Educação em um modelo aberto a discussões independente da época e da cultura na qual estas se inserem. Dentre suas concepções pedagógicas, destacam-se como essenciais a disciplina, a educação prévia da família, os sentimentos de respeito com o próximo, de cooperação mútua

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(2010) Resumo das Concepções sobre Educação de Hegel – Discurso 3, 4 e 5 de encerramento dos anos letivos de 1810, 1811 e 1813.Escrito por Willian Azevedo de Lima Costa

É importante atentar para o fato de que os pensamentos pedagógicos de Hegel se

inserem em um determinado tempo histórico em que a educação foi tratada praticamente

como uma rainha. Pois, em sua época, de um lado se tinha toda a valorização dada pelo

Iluminismo ao conhecimento racional como a grande salvação dos homens não-

esclarecidos. E de outro lado, em contraposição com a postura educacional-racionalista

Iluminista, se teve a presença e atuação do Romantismo como figura essencial no que

diz respeito a uma forma de educação voltada para a sensibilidade.

Os discursos de encerramento dos anos letivos no Ginásio de Nuremberg

apresentam concepções educacionais que, se por um lado referem-se exclusivamente ao

período histórico educacional em que a Alemanha estava vivendo, assim como a cultura

e as tradições alemãs propriamente, por outro lado, estes discursos trazem em si,

concepções pedagógicas que estão para além de seu tempo e sua cultura, concepções que

devem ser tomadas com um caráter de universalidade. Dessa forma, isto possibilitaria

pensar Hegel e sua compreensão de Educação em um modelo aberto a discussões

independente da época e da cultura na qual estas se inserem.

Dentre suas concepções pedagógicas, destacam-se como essenciais a disciplina, a

educação prévia da família, os sentimentos de respeito com o próximo, de cooperação

mútua em sociedade, a interdisciplinaridade, condições de infra-estrutura no espaço

educacional, etc. Questões que são bem abordadas por Hegel nos três discursos em

questão. E que merecem uma maior atenção quanto aos conteúdos trabalhados no seio

destas concepções.

Primeiramente, um fato que expressa muito bem à concepção geral de Hegel no

que diz respeito à Educação, ou antes, com o conhecimento, é quanto a sua preocupação

com a forma em que as disciplinas escolares são tratadas. Isto é, de forma isolada e

encerrada em si mesma. Parece que este modelo educacional de forte tendência

iluminista é, em alguma medida, desprezado por Hegel quando este alega a dificuldade

que os homens têm para aprender uma nova ciência ou arte a qual a sua natureza lhe

parece estranha. Segundo Hegel, o conhecimento das ciências e das artes não deveria ter

esse caráter de isolamento em si mesmo. Pois isto seria justamente o que impediria a o

crescimento intelectual dos homens se dá de maneira plena. Hegel afirma: “Um homem

culto em geral na realidade não limitou a sua natureza a algo de particular, mas, pelo

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contrário, tornou-a apta para tudo”. É interessante de se observar nesta sua concepção, o

quanto de uma interdisciplinaridade Hegel já não estaria propondo para um modelo

educacional futuro. Um modelo que pudesse tratar o conhecimento, independente das

especificidades presentes em suas diversas áreas, de maneira significativa e satisfatória

para os alunos das mais variadas instituições. Ele observa que o aprendizado não deve se

limitar a uma simples recepção, mas que este exige dos alunos uma auto-atividade da

compreensão e a capacidade de se utilizar do mesmo. Porém, Hegel observa que este

modelo educacional não é algo que se dê de maneira tão fácil assim. Um outro traço

característico em seu pensamento é justamente o de tratar a tarefa da educação como

uma prática que só pode ser consolidada a partir do trabalho árduo e contínuo. Exigindo-

se para tal, uma disciplina. Uma característica típica da cultura alemã e que merece ser

notada como exemplar.

Hegel nos chama atenção também para a importância que os costumes familiares

têm para com a Educação dos alunos. Nesta concepção é que será introduzida a noção de

disciplina. Ou seja, para Hegel, a disciplina não cabe ser incitada nos alunos unicamente

pelos professores em suas respectivas instituições de ensino, mas antes, algo que já tenha

sido incitado e desenvolvido pela família destes alunos. Assim como as noções éticas e

morais que devem fazer parte do currículo prévio destes alunos. Sendo papel da escola

apenas ajudar a desenvolver a compreensão destas noções, assim como discuti-las em

vista das diferentes concepções das mesmas. Tanto que esta parece ser a preocupação

central do pensamento hegeliano no que diz respeito à Educação. Ou seja, “a relação da

escola e do ensino com a formação ética do homem em geral”.

Sobre a educação familiar e sua relação com a escola, Hegel afirma que essa vida

antecedente a vida escolar que os alunos estão habituados, pode ser descrita como uma

vida de relações pessoais, relações de sentimento, de amor, de fé. Ele observa que a

criança enquanto inserida em uma família, experimenta mesmo sem o merecer, o amor e

mesmo a cólera dos pais. Coisa que na escola, um traço característico da concepção

educacional hegeliana é que tudo que é referido aos alunos, assim o é por merecimento.

Diferindo assim da educação familiar. No entanto, desde já, é importante, segundo

Hegel, que a família eduque os seus filhos para que esta concepção possa ser efetivada.

Isto é, no mundo, as pessoas só ganham ou perdem as coisas por merecimento próprio.

Hegel dirá; “a escola é, portanto a esfera mediadora que faz passar o homem do círculo

familiar para o mundo, das relações naturais do sentimento e da inclinação para o

elemento da coisa”. Isto é, na escola é que a criança receberá um significado sério para

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as coisas próprias do mundo. Aprendendo a controlar suas inclinações naturais em vista

dos objetivos da vida profissional.

Esse traço encontra-se já na visão que Hegel tem do papel do professor na escola

enquanto profissional. Enquanto dever da atividade profissional, o professor na visão de

Hegel deve abster-se daquilo que diz respeito a um benefício próprio em função de

considerações mais elevadas. Isto é, à tarefa própria de educar. O dever ético que este

tem que ter com relação à instituição de ensino em que se insere, com seus alunos, com a

família destes, e acima de tudo, com o Estado.

Por fim, a educação se mostra para Hegel como algo essencial para a inserção do

homem na vida profissional em sociedade. Algo bem comum as concepções

apresentadas pelo tempo presente. Assim como, segundo ele, a educação por etapas tem

um papel essencial nessa concepção. Isto é, ele se refere à educação ginasial que é

precedente a entrada na Universidade na Alemanha da época de Hegel. Portanto, assim

como nenhuma das etapas deve ser suprimida, a boa formação nestas garantiria os

subsídios educacionais necessários para a vida profissional. E Hegel conclui afirmando

que mesmo que a juventude não seja capaz de reconhecer o valor das práticas educativas

que lhes foram empregadas, a aquisição que se faz em conhecimentos e cultura ainda

constituem um imenso ganho para a vida profissional e pessoal destes jovens.