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colheita de sangue para pesquisa microbiológica
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Junho 2013
Hemoculturas
Autora:
Ânia Sousa
Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa
Análises Clínicas e Saúde Pública - 3ºAno
Ano lectivo 2012/2013
i
Índice
1. Hemocultura ........................................................................................................................ 1
1.1. História ........................................................................................................................ 1
1.2. Indicação de Colheita .................................................................................................. 2
1.2.1. Indicações para Realizar uma Hemocultura ......................................................... 2
2. Amostra ............................................................................................................................... 3
2.1. Número de Amostras ................................................................................................... 3
2.2. Hora, Intervalos e Local da colheita ............................................................................ 4
2.3. Material ........................................................................................................................ 7
2.4. Técnica de Colheita ..................................................................................................... 7
2.5. Conservação e Transporte ......................................................................................... 12
2.6. Frascos de Hemocultura ............................................................................................ 13
3. Conclusão .......................................................................................................................... 14
4. Bibliografia ....................................................................................................................... 15
1
1. Hemocultura
A hemocultura é um dos mais relevantes recursos para o esclarecimento da origem de febres
indeterminadas, de causa infecciosa. É indicada em suspeitas clínicas de bacteriemias.
A solicitação de uma hemocultura é muito frequente, assumindo assim uma importância
singular, pois a determinação do seu resultado permite a identificação do agente etiológico
(bactérias ou fungos) e, sobretudo, a deliberação da terapêutica a efectuar.
Em muitas situações as culturas de sangue constituem a única fonte disponível para se
identificar o agente etiológico e como o sangue é um produto biológico estéril, o isolamento
de um microorganismo a partir de uma hemocultura identifica-nos geralmente o agente
etiológico da infecção. A grande maioria das doenças infecciosas pode decorrer com
bacteriémia transitória, intermitente ou persistente. O diagnóstico médico depende sobretudo
do isolamento desse agente [1]
.
1.1. História
Historicamente, as hemoculturas eram realizadas através da inoculação de grandes volumes
de sangue para o interior de um ou vários frascos de um meio nutriente, os quais eram
observados diariamente para verificar algum sinal de crescimento microbiano (por exemplo,
visualização de colónias, turvação, produção de gás, etc.). No início dos anos 70 foram
introduzidos alguns instrumentos para tornar este trabalho mais automatizado, ou seja,
monitorizar automaticamente os frascos para detectar o crescimento microbiano e alertar os
técnicos quando há evidências desse crescimento. Refinamentos subsequentes tanto nos meios
de cultura como nos sistemas de detecção, melhoraram a rapidez na detecção de organismos
em doentes sépticos e reduziram os falsos positivos devido a contaminação no laboratório [2]
.
2
1.2. Indicação de Colheita
A solicitação de hemoculturas é normalmente realizada quando o paciente apresenta um
quadro infeccioso, não sendo no entanto necessário fazer hemoculturas para todos os quadros
infecciosos. Como as bacteriemias mais comuns e de menor gravidade apresentam baixa
positividade, não é necessário fazer hemocultura, pois esta acrescenta custo ao tratamento do
paciente sem um benefício real.
Assim sendo em infecções como amigdalites, sinusites, infecções de pele, tecido subcutâneo
entre outras a antibioterapia empírica, baseada no conhecimento dos principais agentes
etiológicos destas, está indicada.
Em determinados casos de infecção a cultura de outros materiais é mais importante, por
apresentar maior positividade e estar directamente relacionada com o local da infecção. Por
exemplo, nas infecções relacionadas com o trato urinário deve-se fazer uma urocultura e
aquando da presença de abcessos é indicado a cultura do seu conteúdo [3]
.
1.2.1. Indicações para Realizar uma Hemocultura
Suspeita de endocardite;
Sepsis;
Infecções hospitalares (antes de iniciar ou antes da troca de um esquema de
antibióticos);
Febre de origem indeterminada;
Infecções em pacientes imunodeprimidos (oncológicos, neutropénicos, utilizador de
corticóides, SIDA);
Meningites (também se deve colher LCR, sendo este mais importante que as
hemoculturas);
Pneumonias graves (com insuficiência respiratória, instabilidade hemodinâmica);
Bacteriémia.
3
2. Amostra
2.1. Número de Amostras
A colheita de uma amostra para hemocultura corresponde a uma punção. Cada punção
corresponde a dois frascos para adultos ou um frasco para pacientes pediátricos até 13kg
(Tabela 2).
Com base em dados estatísticos, recomenda-se colher no mínimo duas até quatro amostras por
cada episódio infeccioso, permitindo assim o isolamento do agente bacteriano ou fúngico em
mais de 95% dos eventos.
Estudos recentes, mostraram que a probabilidade de recuperação com apenas uma amostra
ronda os 70%, com duas amostras situa-se entre 80 a 90%, com três amostras entre 96 a 98 %
e com quatro amostras >99%, modificando assim os conceitos tradicionais de que 2 a 3
amostras eram suficientes e sugerindo que podem ser necessárias 3 a 4 amostras para uma
óptima recuperação dos agentes [4,5]
.
Concluindo, o número de amostras deve ser no mínimo 2 e no máximo 4 por episódio
infeccioso. Um maior número de amostras traz pouco benefício, aumentando os custos, o
trabalho e o risco de provocar anemia, sem aumento significativo da positividade [6]
.
O número de hemoculturas positivas em função do número total de amostras colhidas
(punções em diferentes sítios) é uma ferramenta muito útil para interpretação do significado
clínico pois, ao contrário dos casos de pacientes com bacteriemias verdadeiras, os
contaminantes normalmente crescem apenas numa das amostras (quando duas ou mais são
obtidas). Portanto, a obtenção de uma única amostra deve ser evitada, já que um número
substancial de bacteriemias pode não ser detectado e impossibilita a detecção e distinção de
possíveis contaminantes [4,5]
.
Deve então ser desencorajada a colheita de uma única amostra e instituir ou garantir a colheita
de, pelo menos, duas amostras de hemoculturas por episódio infeccioso (com excepção de
pacientes pediátricos de baixo peso ou com outras limitações).
4
O número e o intervalo entre as colheitas depende da situação clínica e da urgência que exista
para iniciar a antibioterapia. Como indicador apresentam-se algumas situações clínicas
(Tabela 1):
Condição ou Síndrome infecciosa Recomendações
Suspeita de bacteriemia ou fungémia
primária ou secundária (sepsis, endocardite,
meningite, osteomielite, artrite, pneumonia
etc.)
Colher 2-3 amostras sequenciais, de
diferentes sítios anatómicos, logo após o
início dos sintomas
Febre de origem indeterminada (ex.
abscessos ocultos, febre tifóide, brucelose ou
outra síndrome infecciosa não diagnosticada
Colher, inicialmente, 2-3 amostras
sequenciais, de diferentes locais anatómicos.
Se negativas nas primeiras 24-36h de
incubação, colher mais duas amostras de
diferentes sítios anatómicos
Endocardite Infecciosa Efectuar 3 hemoculturas no 1º dia. Se
negativas às 24h, repetir colheita de 3
hemoculturas
Doentes com terapêutica antimicrobiana A colheita deve ser feita imediatamente antes
da toma do antibiótico
Suspeita de bacteriemia ou fungémia com
hemoculturas persistentemente negativas
Considerar métodos alternativos de
hemoculturas, específicos para aumentar a
recuperação de micobactérias, fungos ou
microrganismos fastidiosos
Tabela 1 – Recomendações para colheita de hemoculturas em diferentes condições ou síndromes
infecciosas. Adaptada de [1].
2.2. Hora, Intervalos e Local da colheita
A colheita de amostras para hemocultura deve ser iniciada logo aquando do surgimento dos
primeiros sintomas de infecção e antes do início da antibioterapia. No caso do paciente já
estar sob a acção de antibióticos, isso não significa que se exclua a hemocultura mas deve
fazer-se a colheita na altura em que houver uma menor concentração de antibiótico em
circulação (p.ex.,antes da administração da dose seguinte) e ter isso em conta na interpretação
dos resultados. É muito importante que a informação sobre a toma de antibióticos seja enviada
ao Microbiologista para uma melhor interpretação do resultado e garantir a qualidade do
relatório microbiológico [7]
.
Preferencialmente as amostras são colhidas por punção venosa, logo que haja um aumento de
temperatura do paciente (não colher sangue para hemocultura no pico febril, pois é o
momento em que há maior destruição microbiana, podendo assim dificultar a recuperação de
organismos viáveis, por isso a colheita deve ser efectuada logo que seja detectado o início de
5
episodio febril) [1,6,8]
. A colheita de sangue arterial não está associada com aumento da
sensibilidade e, em princípio, não é recomendada [6]
.
Cada amostra deve ser colhida em punções separadas e de sítios anatómicos diferentes. Vários
frascos com sangue de uma mesma punção são considerados a mesma amostra ou cultura de
sangue. Quando são realizadas mais do que uma hemocultura sequencialmente, devem
efectuar-se as colheitas em diferentes veias periféricas.
Poucos estudos avaliam sistematicamente a hora e o intervalo óptimo entre amostras
sucessivas. Estudos experimentais mostraram que, após um influxo de bactérias na corrente
sanguínea, ocorre um tempo de latência de aproximadamente uma hora até que ocorram
sintomaticamente calafrios seguidos de febre [9]
.
O estado clínico do paciente é que vai determinar o momento e o intervalo entre as colheitas
(Tabela 1). Considera-se ideal para o diagnóstico de qualquer bacteriemia a realização de 3
hemoculturas num período de 24 horas antes de iniciar terapêutica antibiótica, colhidas com
um intervalo mínimo de 30 a 60 minutos e utilizando locais de venipunção diferentes. Em
geral, nas infecções agudas em que é necessário iniciar antibioterapia, recomenda-se a
colheita de 2 a 3 hemoculturas com intervalos de 15 min, com locais de venipunção diferentes
[8].
A colheita de hemoculturas em intervalos maiores, de 1 a 2 horas, entre as amostras pode ser
recomendada para monitorizar ou documentar bacteriemia contínua em pacientes com
suspeita de endocardite ou infecção endovascular associada a dispositivos invasivos (ex.:
cateter vascular) [10]
. No caso de suspeita de endocardite, deve-se colher 3 hemoculturas com
intervalo superior a 60 minutos, nas primeiras 24 horas, e eventualmente realizar nova
colheita no 2º dia [8]
.
As hemoculturas, preferencialmente, não devem ser colhidas a partir de cateter, excepto
quando não é possível a punção de veia periférica (o laboratório deverá ser informado deste
facto, essencial para a interpretação do resultado) [1]
ou para diagnóstico de infecção
relacionada com o dispositivo. Neste caso, a amostra obtida através do cateter deve ser
sempre acompanhada por uma ou duas amostras de sangue de forma sequencial ou
concomitante, identificando correctamente as amostras quanto ao local de punção. Deve-se
também retirar o cateter e cortar assepticamente cerca de 3 a 5 cm da porção terminal e
colocá-lo em recipiente esterilizado (nunca enviar pontas de cateter em meio líquido ou de
transporte). O volume de sangue colhido por frasco deve respeitar a proporção recomendada
pelo fabricante em relação ao meio de cultura [1,8]
.
6
O volume de sangue é crítico porque a concentração dos microorganismos é baixa na maioria
das bacteriemias, principalmente se o doente estiver sob terapêutica antibiótica. Nas crianças,
a concentração dos microorganismos durante o período de bacteriémia é muito mais alta do
que nos adultos, por isso são necessários menores volumes de sangue [1]
.
Quanto maior o volume de sangue, maior será a probabilidade de positividade, no entanto,
devemos respeitar a idade do paciente (adulto ou criança) e o volume recomendado pelo
fabricante para os tipos de frascos utilizados. Para adultos, colhe-se 5 a 10ml de sangue por
frasco em cada punção, totalizando 20ml, distribuídos pelo número de frascos indicados, ou
seja, um par de frascos por punção/amostra [4]
(Tabela 2). Para as crianças até 13kg basta
colher 1 a 4 ml de sangue e colocar no frasco (para os pacientes pediátricos é apenas
necessário um frasco de hemocultura) ( Tabela 3).
Crianças até 13kg Crianças de 13 a
36kg
Crianças > 36kg e
Adultos
Frasco Aeróbioa 1 a 4 ml
b 5 ml 5 a 10 ml
Frasco
Anaeróbioa
- 5 ml 5 a 10 ml
Volume
total/amostra
1 a 4 mlb
10 ml 20 ml
Tabela 2 – Tipos de frascos e volume de sangue sugeridos por amostra de hemocultura. Retirado e
adaptado de [6]. a-Ver recomendações do fabricante; b-Em lactentes com extrema dificuldade de
colheita pode-se colher um volume não inferior a 0,5ml.
Peso (kg) Volémia
(ml)
Volume de sangue por
amostra (ml)
Volume
total de
sangue p/
cultura (ml)
% da
volémia
Cultura nº1 Cultura nº2
50-99 2 - 2 4
1,1-2 100-200 2 2 4 4
2-12,9 >200 4 2 6 3
13-36 >800 10 10 20 2,5
>36 >2200 20-30 20-30 40-60 1,8-2,7
Tabela 3 – Volume de sangue sugerido para hemoculturas de lactentes e crianças. Retirado e adaptado
de [6].
7
2.3. Material
Garrote;
Algodão ou gaze;
Anti-sépticos: álcool 70% e solução
alcoólica iodada a 1%;
Frascos de hemocultura;
Agulha e seringa ou dispositivo de
colheita a vácuo;
Luvas não-estéreis e estéreis;
Máscara facial.
2.4. Técnica de Colheita
O processo de colheita de amostras para hemocultura é diferente de instituição para
instituição, essencialmente devido às padronizações de anti-sépticos de cada instituição e ao
uso de material de diferentes fabricantes. No geral, todo o processo decorre da seguinte forma
[1,11,12,13]:
1. Determinar o tipo de frasco de cultura a utilizar, como indicado pela requisição do
médico (frasco aeróbio e anaeróbio ou aeróbio com resina e anaeróbio). Se necessário,
discutir os intervalos e os sítios de colheita com o médico.
2. Preparar o material necessário:
a. Se o paciente não está a efectuar
antibioterapia, uma cultura de rotina
consiste num frasco de cultura para
aeróbios e noutro para anaeróbios;
b. Se o paciente estiver a efectuar
antibioterapia ou se estiver sem tomar
antibióticos à menos de 24 horas ou se se
suspeitar de Neisseria ou outros
microorganismos fastidiosos, deve-se
utilizar um frasco aeróbio com resina, em
conjunto com o frasco anaeróbio.
Figura 1 – Exemplo do material utilizado na
colheita de amostras para hemocultura.
8
3. Verificar a identificação do paciente, verificando o nome e número do paciente na
pulseira identificativa. No caso de o paciente não ter uma pulseira identificativa,
perguntar ao paciente o seu nome completo, data de nascimento e verificar se estes
dados coincidem com a requisição.
4. Explicar o procedimento ao paciente e/ou acompanhante.
5. Lavar e desinfectar as mãos antes e após remoção das luvas.
Seguir as precauções standard para todos os pacientes. É
recomendado o uso de máscara facial comum durante as
colheitas, no caso do paciente se encontrar em isolamento.
6. Preparar o material necessário antes de preparar a pele do paciente:
a. Remover as cápsulas/tampas dos frascos
de cultura e verificar se têm algum defeito
visível;
b. Limpar a tampa de borracha com uma
gaze embebida em álcool 70%. No caso da
utilização de sistema a vácuo, deve-se
deixar a gaze no frasco até ao momento da
punção ou proceder conforme as
instruções do fabricante. No caso da
utilização de sistema com seringa e
agulha, deve-se remover a gaze somente
antes de inocular os frascos. É importante
não utilizar iodo na gaze, pois este pode
danificar a borracha do frasco.
9
7. Aplicar o garrote e identificar o local de flebotomia,
escolhendo a veia de melhor calibre e menos móvel.
Aliviar a pressão exercida pelo garrote.
8. Preparação do local de flebotomia:
a. Desinfectar o local da punção com álcool
a 70% de modo circular e do interior para
a periferia;
b. Começando no centro do círculo, aplicar
uma solução alcoólica iodada a 1%, ou
seguir a política de anti-sépticos do
hospital. Deixar o anti-séptico secar cerca
de 60 segundos. Não tocar no local da
venipunctura após a desinfecção e antes da
flebotomia;
Nota: Após a colheita, remover a solução
alcoólica iodada a 1% da pele com álcool a 70%
ou água, de modo a prevenir as queimaduras por
iodo.
9. Se for absolutamente necessário palpação do local de flebotomia, deve-se utilizar
luvas estéreis.
10
10. Voltar a aplicar o garrote, inserir a agulha na veia e colher uma quantidade de sangue
apropriada (Tabela 2). O sangue para hemocultura deve ser colhido antes de qualquer
outra amostra sanguínea.
a. Colheita com seringa e transferência para
frascos de hemocultura:
É o método de preferência pois permite a
medição exacta do volume de sangue
requerido para cada frasco de cultura. Após a
obtenção da amostra, transferir a amostra para
os frascos de hemocultura, sem mudar de
agulha e não ultrapassando a proporção
recomendada pelo fabricante, colocando
primeiramente o sangue no frasco para
anaeróbios.
Nota: Ao retirar a agulha do local de punção,
fazer compressão local com algodão seco, sem
flectir o braço.
11
b. Colheita com sistema a vácuo:
Inocular primeiro o frasco para aeróbios.
Importante lembrar que, neste caso, os frascos
de hemocultura devem permanecer em pé
durante toda a etapa da colheita, para evitar
refluxo para a veia do paciente. Deve-se
observar durante a colheita se o volume de
sangue está correto, já que a maioria dos
frascos não tem volumes de aspiração a vácuo
calibrados. Nesse caso pode ser feita uma
marcação no próprio frasco, para facilitar a
visualização do volume de amostra e evitar
exceder o volume pretendido.
Nota: Ao retirar a agulha, fazer compressão local
com algodão seco, sem flectir o braço.
11. Dispensar o material de punção em local apropriado (caixa de
perfuro-cortante).
12. Se for necessário a colheita de um local cateterizado, utilizar o local que tem o cateter
mais recente (a não ser para exclusão de infecção por cateter). Utilizar o seguinte
procedimento para colheita de amostra de um cateter:
a. Esterilizar o local de abertura do cateter
com álcool 70%, durante 30 segundos.
Este procedimento pode ser feito com
luvas não estéreis;
b. Deixar secar;
c. Calçar luvas estéreis;
12
2.5. Conservação e Transporte
Nunca refrigerar as hemoculturas após a colheita. Conservar o frasco na estufa a 37ºC até ser
enviada ao laboratório (ou à temperatura ambiente nos métodos automáticos se assim for
recomendado pelo fabricante). Os recipientes devem ser acondicionados nas caixas de
transporte de forma a evitar a sua conspurcação exterior e consequente risco infeccioso para
os técnicos. Os produtos destinados a exame bacteriológico, após a colheita devem ser
imediatamente enviados ao Laboratório de Bacteriologia para que a sementeira seja realizada
até ao máximo de 2 horas depois. O não cumprimento desta norma tem forte repercussão na
qualidade dos resultados e consequentemente na terapêutica [1,12]
.
a - O descarte do volume inicial de sangue do cateter com o intuito de evitar contaminação é assunto
controverso e esta prática ainda é realizada em muitas instituições. Alguns estudos (Dwicedi e col. 2009) demonstraram que o descarte da alíquota inicial não diminui a probabilidade de contaminação da amostra, tornando esta prática desnecessária
[6].
d. Utilizar uma seringa estéril, colher cerca
de 6 ml de sangue e descartá-losa;
e. Colheita:
i. Utilizar os adaptadores indicados
para a colheita a vácuo, colhendo
7-10 ml de sangue para cada
frasco;
ii. Utilizar uma seringa estéril e um
adaptador para permitir a
transferência do sangue sem a
agulha.
f. Após a transferência do sangue, descartar
o sistema.
13. Etiquetar os frascos com o nome e número de identificação do paciente. Não colocar
as etiquetas por cima dos códigos de barras dos frascos.
14. Preencher as requisições com as informações relevantes, como o local anatómico da
punção, a data e hora da colheita e a suspeita de diagnóstico, se necessário.
13
2.6. Frascos de Hemocultura
Tradicionalmente um par de hemoculturas (equivalente a uma amostra ou uma punção)
compreende um frasco aeróbio e outro anaeróbio. Apesar da proporção de infecções da
corrente sanguínea causadas por anaeróbios ter diminuído progressivamente, há estudos que
demonstram que a colheita do par (incluindo o frasco anaeróbio) leva ao aumento do
isolamento de Staphylococcus spp., Enterobacteriaceae, alguns Streptococcus spp. e
Enterococcus spp., anaeróbios estritos e facultativos, além de garantir volume de sangue mais
adequado de amostra por punção para melhor recuperação dos organismos patogénicos [14,15]
.
Alguns fabricantes produzem frascos aeróbios e anaeróbios com aditivos (ex. carvão vegetal e
resinas), para inactivar os antibióticos. Estes frascos são utilizados na colheita de sangue de
utentes que estejam sob antibioterapia. Apesar da relação entre custo e benefício ainda não ser
muito clara, pois estes frascos são mais dispendiosos, eles permitem uma diminuição do
tempo médio de detecção de positividade [15]
.
Quando a amostra obtida possuir volume
total inferior ao preconizado por frasco, o
maior volume de sangue deve ser inoculado
no frasco aeróbio para que não haja perda
na detecção de bacteriemias causadas por
Pseudomonas aeruginosa,
Stenotrophomonas maltophilia ou
leveduras, que são aeróbios estritos. O
menor volume restante deve ser inoculado
no frasco anaeróbio.
Ao ser colhida mais de uma amostra, anotar nos respectivos frascos (aero e anaero) quais são
do mesmo local de punção ou sítio anatómico (ex.: 1ª amostra, veia periférica, cateter etc.).
Figura 2 – Exemplo de frascos utilizados em
hemocultura.
14
3. Conclusão
A fase pré-analítica compreende a preparação do utente e a colheita, manipulação e
armazenamento do material biológico, até ao momento da análise. Esta fase é responsável por
cerca de 70% do total de erros ocorridos nos laboratórios clínicos, erros estes que se tornaram
mais visíveis e proeminentes devido à crescente automatização laboratorial das fases analítica
e pós-analítica, reduzindo assim os erros nestas fases [16]
.
Por isto, é essencial seguir protocolos rígidos para a colheita de amostras para hemocultura,
como a verificação da toma de medicamentos (os antibióticos interferem na cultura de
sangue), o uso dos frascos adequados (frascos específicos para hemocultura, cuja cor e
formato variam de fabricante para fabricante, mas que têm em comum o princípio de
utilização), a escolha da técnica para a colheita de amostra (no uso de seringa e agulha o risco
de contaminação é aumentado, devido à realização de várias manipulações durante a colheita,
como a inoculação dos frascos, além de aumentar também o risco de punção acidental do
técnico, devido ao uso de agulha) e, principalmente, a preparação do local de flebotomia (é
necessária uma assepsia rigorosa para prevenir a contaminação da amostra com bactérias da
flora microbial da pele do utente).
Apesar dos protocolos de colheita e assepsia serem diferentes entre as várias instituições
hospitalares, é da inteira responsabilidade do técnico que realiza estas tarefas conhecer estes
protocolos e assegurar um seguimento rigoroso dos mesmos durante todo o processo, de
forma a evitar a alteração por factores externos dos resultados analíticos.
15
4. Bibliografia
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elaboração de um manual de boas práticas em bacteriologia. 2004, Programa
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