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Henrique Neto UMA ESTRATÉGIA PARA PORTUGAL A Visão de Um Empresário para o Futuro do País

Henrique Neto UMA ESTRATÉGIA PARA PORTUGALpdf.leya.com/2011/Oct/uma_estrategia_para_portugal_piqo.pdf · 2011-10-12 · CAPÍTULO VIII > AS TRÊS FASES DA INOVAÇÃO 105 CAPÍTULO

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Henrique Neto

UMA ESTRATÉGIA PARA PORTUGAL

A Visão de Um Empresário para o Futuro do País

Título OriginalUma Estratégia para Portugal

© 2011, Henrique NetoTodos os direitos reservados.

1.a edição / Setembro de 2011 ISBN: 978-989-23-1618-5Depósito Legal n.o: 331588/11

[Uma chancela do grupo LeYa]Rua Cidade de Córdova, n.0 22610 -038 AlfragideTel. (+351) 21 427 22 00 Fax. (+351) 21 427 22 01luadepapel@leya.ptwww.luadepapel.pteditoraluadepapel.blogs.sapo.pt

CONTEÚDOS

AGRADECIMENTOS 9

PREFÁCIO DE JOÃO SALGUEIRO 11

CAPÍTULO I > INTRODUÇÃO 21

CAPÍTULO II > CINCO TESES PARA UMA ESTRATÉGIA 31

ONDE ESTAMOS?

CAPÍTULO III > A CRISE INTERNACIONAL 57

CAPÍTULO IV > A CRISE PORTUGUESA 71

CAPÍTULO V > O DESCRÉDITO DOS PARTIDOS POLÍTICOS E DA POLÍTICA 83

O QUE FAZER?

CAPÍTULO VI > CINCO CONDIÇÕES POLÍTICAS 93

CAPÍTULO VII > UMA NOVA ORDEM MUNDIAL 97

CAPÍTULO VIII > AS TRÊS FASES DA INOVAÇÃO 105

CAPÍTULO IX > POBREZA, EDUCAÇÃO E CULTURA CIENTÍFICA 111

CAPÍTULO X > LOGÍSTICA E OBRAS PÚBLICAS 125

CAPÍTULO XI > INOVAÇÃO E FORÇAS ARMADAS DE UM NOVO MODELO 155

CAPÍTULO XII > O MODELO ECONÓMICO E O COMBATE À CRISE 165

CAPÍTULO XIII > EMPRESÁRIOS E EMPRESAS 187

CAPÍTULO XIV > O FUTURO, A SOCIEDADE CIVIL E O ESTADO 193

CAPÍTULO XV > NOTAS FINAIS 203

Aos meus filhos

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AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos, cujas ideias e críticas sempre me ajudaram ao longo da vida, em particular aos saudosos José Vareda e Luíz Manuel. Aos desconhecidos que me param na rua para me apoiar ou criticar. Ao João Salgueiro pelo encargo de escrever o prefácio e pelas valiosas sugestões. Ainda ao João Salgueiro, ao Henrique Medina Carreira e ao Luís Campos e Cunha pelas longas conversas sobre a economia e as finanças portuguesas, e à Sedes pela persistência do seu exemplo de debate democrático. Ao António Curto pela amizade e sugestões. Ao meu editor José Prata, que só agora conheci graças ao livro, pelo incentivo, pela disciplina e pelos conselhos necessários para termi-nar esta tarefa. Finalmente, um agradecimento especial à Margarida pelas muitas leituras e revisões do texto que teve de fazer, bem como pelas valiosas opiniões e sugestões.

HENRIQUE NETO

prefácio

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PREFÁCIO

1. A edição de Uma Estratégia para Portugal representa um desafio claro e fundamentado a favor da cidadania activa, informada e responsável.

É, simultaneamente, o resultado e a continuação da intervenção pública de Henrique Neto, com frequentes aparições nos grandes meios de comunicação social, entrevistas e mesas redondas, duas colunas semanais na imprensa regional, participação em congressos e deba-tes partidários, e no espaço da gestão e do associativismo empresarial.

Diversas mensagens sobressaem nesta obra. A defesa intransigente de uma informação transparente e rigorosa; a regeneração indispen-sável da vida política e partidária; a reconfiguração do papel do Estado e dos sistemas públicos; a necessidade de um novo modelo de espe-cialização produtiva.

Destaca, em especial, a urgência de pôr termo aos complexos da euro dependência e de construir uma verdadeira estratégia nacional. Estratégia definida com ambição e realismo à medida dos desafios do futuro, que não ignore as oportunidades do espaço euro-atlântico e as novas dimensões da economia global, que dê prioridade à valorização dos recursos humanos e discipline uma terceirização insustentável. Contém propostas inovadoras, desmonta equívocos, suscita interro-gações e debates polémicos. Surge no momento oportuno, quando se torna evidente que é necessário mudar de vida, corrigir o rumo da economia e do nosso desempenho político.

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2.As limitações do nosso sistema político – avaliadas pelos resultados - são hoje flagrantes face aos desequilíbrios prolongados das finan-ças públicas e da balança de pagamentos que, previsivelmente, con-duziram aos actuais níveis de vulnerabilidade, com sujeição a tutela internacional e a inevitável exigência de políticas de austeridade pro-longada.

Mas essas limitações são igualmente evidentes na incapacidade para estimular o crescimento económico e para fundamentar o progresso social; na reduzida eficácia, e excessivo custo da administração pública; na multiplicação de entraves burocráticos que penalizam a vida dos cidadãos e das empresas; na coexistência com decisões e práticas de gestão pouco transparentes e frequentes indícios de corrupção. Confi-gura a necessidade de outras tantas reformas há muito diagnosticadas como urgentes, mas sempre adiadas. Para a generalidade dos portu-gueses, o Estado, os seus dirigentes e os políticos em geral, merecem cada vez menor confiança e tornou-se evidente a necessidade de cor-rigir a maioria dos sistemas públicos e de melhorar os comportamen-tos e a responsabilização da classe dirigente.

3.Sinais precursores desta realidade eram já evidentes há muitos anos. Alguns – e, desde logo, o próprio autor - compreenderam e denun-ciaram os riscos e os custos de diagnósticos fantasistas, de opções políticas erradas, de maus programas e de projectos mal avaliados. Realidades e comportamentos que, em bom rigor, eram inaceitáveis desde o início do século, mas que, infelizmente, gozaram de prolon-gada aceitação. Denúncias e diagnósticos, mesmo os mais bem fun-damentados, foram simplesmente classificados como manifestações de pessimismo, quando não de despeito, que não justificavam qual-quer correcção de erros e de desperdícios, mesmo quando eram por demais flagrantes.

Perdemos, assim, mais de uma década para assumir os desafios da realidade e corrigir os nossos problemas. O que então teria sido pos-

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PREFÁCIO

sível com muito menores custos, exigirá hoje ajustamentos prolonga-dos e mais radicais. Os portugueses foram convencidos - ou quiseram ser convencidos - de que Portugal estava no bom caminho, com uma economia dinâmica e inovadora, e que resistiria melhor que outros Países à própria crise internacional.

4.Há 35 anos que, em democracia, temos procurado concretizar reno-vadas expectativas de crescimento económico e de progresso social.

Fomos capazes de vencer os graves desafios externos que nos foram impostos: enfrentámos os custos da descolonização e acolhemos 600 mil refugiados de Angola e Moçambique; consolidámos o respeito dos direitos e liberdades fundamentais e restabelecemos a confiança após os excessos do período revolucionário; concretizámos, com sucesso, dois Acordos com o FMI, para responder às consequências dos cho-ques do petróleo; assegurámos revisões constitucionais para concluir as negociações de Adesão à CEE e à Moeda Única, e para adoptar o Tratado da União Europeia.

No entanto, infelizmente, não realizámos os ajustamentos internos indispensáveis - que só de nós dependiam - para vencer e progredir sustentadamente no quadro da União Europeia e da competitividade global. Pelo contrário, temos coexistido com graves desequilíbrios e bloqueamentos prolongados, e com a crescente deterioração da compe-titividade económica, das instituições políticas, e dos sistemas sociais. As consequências desta incúria e imobilismo atingem agora níveis de insustentabilidade, com perda da própria autonomia de decisão, e tor-nam, de facto, inadiáveis mudanças radicais, num contexto de claro agravamento da concorrência externa.

5.A qualidade do emprego, os níveis de rendimento e as regalias sociais oferecidas em Portugal continuam claramente desfavoráveis no con-fronto europeu, mas, mesmo assim, têm vindo a tornar-se cada vez

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mais insustentáveis, porque são ainda mais baixos os nossos níveis de produtividade e de competitividade no confronto internacional. Com efeito, registou-se em Portugal, nos últimos dez anos a pior conjuga-ção dos indicadores económicos - quanto ao endividamento, quanto ao desemprego, e quanto à competitividade, às exportações e à balança de pagamentos. Por outro lado, os desequilíbrios crescentes das finan-ças públicas, a ineficácia dos sistemas da justiça, da administração central e local, ou do ensino e formação profissional, apesar dos cres-centes recursos humanos e financeiros que tem absorvido, tornaram flagrante a incapacidade para responder aos desafios que Portugal e os portugueses hoje defrontam.

6.Submetidos agora, de facto, à tutela e fiscalização internacional, dis-pomos hoje de objectivos quantificados de desempenho e de progra-mas de reforma institucional que nos exigem detalhado calendário de execução. Impõe-se certamente concentrar esforços para assegu-rar o cumprimento do Acordo.

O sucesso do reajustamento dependerá, antes de mais, da capaci-dade de surpreender pela positiva. A antecipação das reformas acor-dadas contribuirá melhor para repor a confiança internacional e para fundamentar a auto-estima dos portugueses e ainda para colher resul-tados no mais curto espaço de tempo, antes do inevitável desgaste asso-ciado a sucessivas medidas de austeridade. Permitirá também, o que é talvez o mais importante, estimular novas decisões de investimento e de criação de emprego, antecipando recuperação de expectativas.

Mal estaríamos contudo se, para além das reformas e ajustamentos a que o Acordo nos obriga, não fossemos capazes de compreender e assumir, por nós próprios, todos os avanços indispensáveis quanto aos objectivos, mas também quanto a valores, atitudes e comportamen-tos, e de retomar plena responsabilidade pelas nossas livres opções e pela construção do nosso futuro. A mudança exige compreender toda a verdadeira dimensão política e cultural dos desafios, isto é, compre-ender como foi possível - e porque foi possível - aceitar um tão longo

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PREFÁCIO

período, mais de uma década, de ilusões e desregramento. Exige cor-rigir as razões e motivações do insucesso.

7. Requer, antes de mais, erradicar o equívoco de que pode ser duradou-ramente sustentável uma sociedade de direitos sem os corresponden-tes deveres que os fundamentem. Continuar a acreditar que outros – o Estado, a Família ou a UE – resolverão os nossos problemas e assegu-rarão sempre meios à medida das nossas expectativas, já não é possível.

Não o conseguiremos sem uma organização social que desencoraje os comportamentos negativos e encoraje os procedimentos positivos para a sociedade. Exige instituições e regimes capazes de estimular e recompensar o mérito e a efectiva responsabilização - no ensino, nos mercados económicos, na administração pública, na justiça e, antes de tudo, no exercício do poder Legislativo e Executivo. E, também, uma nova cultura cívica, de responsabilidade partilhada, com práticas exi-gentes de informação, avaliação e intervenção.

8. A edição de Uma Estratégia para Portugal convoca-nos para uma par-ticipação cívica, esclarecida e determinada. Desafia-nos a avaliar sem ambiguidades os equívocos do passado recente, a assumir sem con-descendências os desafios do presente, e a intervir com racionalidade e determinação na construção do futuro.

Desenvolve um conjunto de análises críticas e de sugestões sobre os caminhos – e descaminhos – que temos seguido, sobre as inter-rogações do presente e sobre as oportunidades e ameaças que con-dicionam o nosso futuro. Encoraja, de facto, uma reflexão sobre os bloqueamentos e equívocos que hoje nos aprisionam, sobre as opções e objectivos ao nosso alcance e sobre as diferentes estratégias para os atingir. Sumaria sugestões diversificadas, inovadoras e polémi-cas que merecem e devem ser objecto de debate alargado e indepen-dente, pelo contributo que representam para esclarecer os caminhos

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que se nos deparam e para encorajar uma cultura assente em infor-mação mais rigorosa, decisões melhor avaliadas e objectivos assumi-dos com mais exigência.

Estou certo de que, face aos desafios colectivos que defrontamos, poderemos continuar a contar com a curiosidade intelectual, a inde-pendência de juízo e a visão estratégica de Henrique Neto para um pro-jecto nacional de progresso, à medida das aspirações dos portugueses e capaz de mobilizar, com realismo, as suas vontades e competências.

JOÃO SALGUEIRO, Economista

UMAESTRATÉGIA

PARAPORTUGAL

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CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

“Mas, como o que há basta para a ambição dos presentes, não querem aventurar nada com a esperança, porque possuem o que nunca esperaram.”PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Decidi escrever este livro quando cheguei à conclusão de que a minha continuidade na Assembleia da República não tinha grande utilidade para os portugueses que me elegeram, nem constituía um desafio suficientemente motivador para mim próprio. Ou seja, não correspondia à ambição de poder contribuir para o debate político das opções estraté-gicas que se colocam ao nosso processo de desenvolvimento, cuja neces-sidade sempre me pareceu clara. Ambição que algumas leituras tardias da nossa história, a experiência adquirida nas empresas, a própria pas-sagem pelo Parlamento, transformaram na profunda convicção de que é possível fazer mais e, principalmente, fazer melhor por Portugal.

Aceitei o convite para ser deputado, com a convicção de que a minha experiência como empresário, as minhas reflexões e as muitas ideias que ao longo dos anos praticara nas empresas poderiam ser úteis a Portugal. Crítico de muitos dos caminhos trilhados depois do 25 de Abril, profundamente crente das vantagens dos regimes democráti-cos, pensei que poderia contribuir para um debate mais sério acerca de uma estratégia nacional para o desenvolvimento e o progresso do País.

A realidade demonstrou -me que as regras eram outras e, por isso, não hesitei em não renovar a experiência parlamentar que, em qualquer

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caso, não foi perdida e me forneceu algumas ferramentas que agora posso utilizar com melhor conhecimento.

Reforcei esta convicção, e o objectivo de terminar e publicar o livro, durante os últimos dois anos, ao constatar que os problemas nacio-nais não se resolvem por força da mera alternância democrática, quer porque a seguir a políticas de excessivo optimismo se segue um cená-rio de dificuldades, quer porque após o discurso do sucesso chegam os medos da crise económica.

De facto, existe no nosso País uma dramática crise de pensamento próprio, a ausência de uma visão nacional sobre o nosso futuro e sobre a vocação de Portugal no contexto da União Europeia, e não nos aper-cebemos tão -pouco dos constrangimentos e oportunidades que nos chegam por via da mundialização das economias.

Por isso, chegado aqui, penso ter agora as condições que julgo neces-sárias para uma revisão de toda a matéria dada, após vasculhar os arquivos da memória e os muitos milhares de páginas que escrevi e publiquei em jornais e revistas ao longo dos últimos vinte anos. Não para fazer uma autobiografia ou um livro de memórias, mas para apre-sentar algumas ideias e soluções que há muito penso ajustadas à rea-lidade portuguesa.

Pretendo que este livro seja um testemunho que, sem deixar de ava-liar os erros do passado, antigo e recente, se debruce essencialmente sobre o que há a fazer para sairmos da crise em que fomos metidos. Daí o próprio título, Uma Estratégia para Portugal. É disso que se trata, tentar encontrar algumas respostas para o atraso português, quando tivemos e temos as condições para sermos um dos mais felizes, avan-çados e modernos países da Europa e do Mundo.

Há muito que a ausência de uma estratégica nacional é o tema prin-cipal das minhas preocupações como cidadão e a motivação central da minha reflexão política. Acredito que, como Nação, só chegare-mos com sucesso a algum lado se soubermos para onde queremos ir. O que obviamente não será o caso quando passamos a vida a afirmar a falência do modelo económico que seguimos, sem definir um modelo alternativo, ou quando anunciamos, ou anulamos e voltamos a anunciar, leis, novas vias, pontes, aeroportos, TGV e políticas várias, malbaratando