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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A VEZ DO MESTRE Elza Carneiro dos Santos Figueiredo HIPERATIVIDADE Brasília 2010

HIPERATIVIDADE - avm.edu.br · - Dificuldade em seguir instruções. - Dificuldade na organização. - Evita / não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado. - Freqüentemente

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A VEZ DO MESTRE

Elza Carneiro dos Santos Figueiredo

HIPERATIVIDADE

Brasília 2010

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A VEZ DO MESTRE

Elza Carneiro dos Santos Figueiredo

HIPERATIVIDADE

Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do curso de pós-graduação em Psicopedagia Institucional.

Orientadora: Fabiane Muniz

Brasília 2010

RESUMO

Este projeto apresenta um estudo sobre Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade – TDAH. É um transtorno neuropsicológico, que afeta 10% da

população mundial. De caráter hereditário, com sintomatologia clássica de falta de

atenção, hiperatividade levando a uma série de alterações comportamentais e de

relacionamento. O diagnóstico é eminentemente clínico, executados por equipe

multidisciplinar. O TDAH representa 80% de todas as causas de dificuldade no

aprendizado. É abordado o comportamento de crianças portadoras do transtorno , e

sua trajetória na idade pré-escolar. Relata os problemas causados e sofridos pelo

hiperativo no relacionamento familiar, na escola e no convívio social. A criança

hiperativa, exige uma atenção especial por parte do professor que deve estar

preparado para saber contornar os problemas decorrentes do transtorno, sendo um

mediador entre o portador de TDAH e os demais alunos. Com uma didática e uma

ação pedagógica voltada para as necessidades especiais do hiperativo, integrada a

um acompanhamento psicológico e clínico, é possível contornar o problema de

aprendizagem desta criança. Os pais de crianças hiperativas devem procurar ajuda

de um profissional competente e especializado em TDAH, para evitar diágnóstico

equivocado, e para orientá-los a fim de tornar passível de tolerância a convivência

familiar. O essencial é o reconhecimento da doença e a busca de soluções.

METODOLOGIA

Este trabalho teve como metodologia um estudo de livros publicados sobre o

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade –TDAH, Há vários autores da

área médica especializados em transtornos de comportamentos, como Abram

Topazewiski, Russell Barkley e Sam Goldstein, que auxiliam estudantes, pais,

professores, educadores e interessados na área. Traz esclarecimentos sobre o

conceito e diágnóstico que ajudam pessoas que convivem com crianças portadoras

do transtorno. Dessa forma há uma grande contribuição no tratamento e manejo

para uma melhor adaptação do portador do transtorno. Atualmente muitas pesquisas

estão sendo elaboradas visando uma melhoria de vida para os portadores de TDAH

e a tendência é cada vez mais se avançar nesta área.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ ....01

CAP I – TDAH ......................................................................................................04

1.1 - Características

1.2 - sintomas

CAP II – AVALIAÇÃO CLÍNICA .........................................................................14

2.1 - Diágnóstico

2.2 -Tratamento

CAP III – ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA .......................................................25

3.1 - O papel da escola

3.2 - O papel do professor

3.3 - A hiperatividade e a família

CONCLUSÃO ................................................................................................... .32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................34

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa procura melhor esclarecer e orientar a todos que de uma

certa maneira se encontram envolvidos com a problemática do Transtorno de Déficit

de Atenção e Hiperatividade - TDAH: pais, educadores, profissionais de saúde e

estudantes.

Procura-se definir o conceito de hiperatividade, o histórico do transtorno,

suas características, classificação e diágnóstico. Busca-se também esclarecer

dúvidas a respeito do tratamento do TDAH, o uso de medicamentos, além de relatar

as repercussões da hiperatividade no relacionamento familiar, na vida escolar e

social e os conflitos que surgem da convivência com um portador de TDAH.

Este trabalho apresenta conceitos e informações para auxiliar a ação do

professor que lida com o hiperativo, ressaltando a importância do papel da escola na

vida do portador de TDAH, estimulando a sua auto-estima e ajudando-o a encontrar

o equilíbrio ao longo do seu tratamento multidisciplinar, ou seja, um tratamento

realizado por uma equipe em comunhão: pais, escola, médicos e terapeutas, tendo

em vista que o problema tratado foi que a criança hiperativa, em sala de aula, exige

uma maior atenção por parte do professor. Para esse problema sustentamos como

hipótese que com uma ação didática-pedagógica voltada para as necessidades

especiais do hiperativo é possível contornar muitos problemas de aprendizagem que

ele venha apresentar.

Adotamos como objetivos para este trabalho facilitar o convívio aluno-

professor diante de um quadro de hiperatividade, permitir ao educador a

identificação das características do comportamento do hiperativo, encontrar a forma

correta para auxiliar a criança hiperativa, permitir ao professor distinguir um

comportamento hiperativo de um outro distúrbio de atenção, conscientizar os pais a

lidarem com o problema do filho hiperativo de um modo mais adequado tornando-os

parceiros do professor e analisar a razão de um mau rendimento

escolar do hiperativo, tendo em vista que o nível intelectual deles, na maioria das

vezes, apresenta-se normal.

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A razão de ser desta pesquisa foi que, tendo em vista o crescente número de

crianças hiperativas em sala de aula e a problemática sofrida por professores e

educadores, acredita-se na possibilidade de minimizar tais dificuldades decorrentes

da relação professor-aluno e deste com os demais colegas. O hiperativo dispersa a

atenção da turma devido ao seu comportamento irrequieto, exigindo assim do

professor uma atenção especial, muitas vezes dificultada pelo excesso de alunos

sob sua responsabilidade. Partindo-se de uma ação didática-pedagógica mais

envolvente na qual seja valorizada a afetividade, percebe-se ser possível contornar

os problemas de aprendizagem e de comportamento social do hiperativo.

Também o despreparo do educador inibe uma aprendizagem mais eficaz por

parte do hiperativo, já que o mesmo necessita de estímulos especiais capazes de

prender sua atenção. Estudos específicos obtidos nesta pesquisa busca propiciar

aos pais suportes necessários para conduzir da melhor forma a convivência familiar

e o entrosamento do hiperativo na sociedade. A hiperatividade só fica evidente no

período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração para aprender.

"O diagnóstico clinico deve ser feito com base no histórico da criança. Observação

de pais e professores é fundamental". (ANDRADE, 2000). Alerta para não

diagnosticar como hiperativa pessoas mal-educadas que se sentem mais à vontade

sob o pretexto de serem consideradas "doentes" a fim de facilitar a aceitação de seu

comportamento impróprio. "Concentrar-se dá trabalho. Exige esforço mental". (TIBA,

2002). "Tanto o hiperativo como o mal-educado são irritáveis por falta de capacidade

de esperar", Gilda Rizzo que admite que crianças hiperativas dão muito trabalho à

professora, mas não aconselha combater a agitação, mas proporcionar atividades

variadas que ocupem a criança o maior período de tempo possível dando a ela

liberdade de escolha e de movimentos. (RIZZO, 1985). Reúne questões pertinentes

às dúvidas mais freqüentes e as respectivas respostas, orientando médicos,

psicólogos, professores e pais. Em uma de suas abordagens fala sobre as

repercussões gerais que se verificam no paciente hiperativo não tratado e alerta que

o mesmo apresenta maiores dificuldades no rendimento escolar, no relacionamento

familiar e social, fatos estes que podem ser os desencadeadores de distúrbios

comportamentais importantes. Abram Topazewski diz ainda que dependendo da sua

classe social, o hiperativo pode ter uma tendência maior para ingressar no mundo da

deliqüencia e das drogas (Topazewski ,1999).

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San Goldstein psicólogo, diretor do Centro de Neurologia, Aprendizagem e

Comportamento em Salt City, Uthah, U.S.A. e autor de vários livros sobre TDAH,

alerta sobre 4 subtipos de TDAH: - o desatento, o hiperativo/impulsivo, o combinado

e o não específico e descreve o comportamento observado em cada um deles. Para

ele o tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre

profissionais da área médica, saúde mental e pedagógica em conjunto com os pais.

Sugere uma variedade de intervenções específicas que o professor pode fazer para

ajudar a criança com TDAH a se ajustar melhor na sala de aula. Segundo ele com a

crescente conscientização e compreensão da comunidade em relação ao impacto

significativo que os sintomas do TDAH têm sobre as pessoas e suas famílias, o

futuro parece mais promissor.

A metodologia utilizada neste trabalho foi a de Análise de Conteúdo de livros

didáticos sobre o transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade -TDAH.

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I – TDAH

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um

transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e

freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por

sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de

DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).

Ansiedade, inquietação, euforia e distração freqüentes podem significar mais

do que uma fase na vida de uma criança: os exageros de conduta, diferenciam

quem vive um momento atípico daqueles que sofrem de Transtorno do Déficit de

Atenção com Hiperatividade (TDAH), doença precoce e crônica que provoca falhas

nas funções do cérebro responsáveis pela atenção e memória. De origem genética,

o TDAH tem como fatores predominantes, e não necessariamente simultâneos, a

desatenção, a impulsividade e a hiperatividade, além de influências externas

relevantes, como traumas inclusive cerebrais, infecções, desnutrição ou

dependência química dos pais.

No caso das crianças, o TDAH pode aparecer desde a gravidez, quando o

bebê se mexe além do normal, ou durante o crescimento, no máximo até os sete

anos de idade. Se a pessoa não for tratada desde cedo à base de estimulantes,

antidepressivos e terapias, na fase adulta poderá ter sintomas de distração, falta de

concentração e deficiência na coordenação de idéias ainda mais acentuadas.

O psiquiatra da infância e da adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das

Clínicas Ênio Roberto de Andrade, explica que 30% a 70% dos indivíduos que

sofrem dessa doença tomam medicamentos por toda a vida. "Como as causas e os

efeitos são de difícil diagnóstico, o tratamento não é voltado para a cura da doença,

mas para a remissão", diz. Quando se pensa em TDAH, a responsabilidade sobre a

causa recai sobre toxinas, problemas no desenvolvimento, alimentação, ferimentos

ou malformação, problemas hereditários e familiares. Já foi sugerido que essas

possíveis causas afetam o funcionamento do cérebro e, como tal, o TDAH pode ser

considerado um distúrbio funcional do cérebro. Pesquisas mostram diferenças

significativas na estrutura e no funcionamento do cérebro de pessoas com TDAH,

particularmente nas áreas do hemisfério direito do cérebro, no córtex pré-frontal,

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gânglios da base, corpo caloso e cerebelo. Esses estudos estruturais e metabólicos

somados a estudos genéticos e sobre a família, bem como as pesquisas sobre

reação a drogas, demonstram claramente que o TDAH é um transtorno

neurobiológico. Apesar da intensidade dos problemas enfrentados pelos portadores

do TDAH variar de acordo com suas experiências de vida, está claro que a genética

é o fator básico na determinação do aparecimento dos sintomas do TDAH. (Andrade,

2000)

1.1 Características da hiperatividade

As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas,

logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por comportamentos crônicos,

com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos 7

anos. Atualmente, quatro subtipos de TDAH foram classificados: (Andrade, 2000)

- Tipo desatento

A pessoa apresenta pelo menos, seis das seguintes características:

- Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado.

- Dificuldade em manter a atenção.

- Parece não ouvir.

- Dificuldade em seguir instruções.

- Dificuldade na organização.

- Evita / não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado.

- Freqüentemente perde os objetos necessários para uma atividade.

- Distrai-se com facilidade.

- Esquecimento nas atividades diárias.

- Tipo hiperativo/ impulsivo

É definido se a pessoa apresenta seis das seguintes características:

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- Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou se remexendo na cadeira.

- Dificuldade em permanecer sentada.

- Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adulto, há um

sentimento subjetivo de inquietação).

- Dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente.

- Fala excessivamente.

- Responde a perguntas antes delas serem formuladas.

- Age como se fosse movida a motor.

- Dificuldade em esperar sua vez.

- Interrompe e se interrompe.

- Tipo combinado

É caracterizado pela pessoa que apresenta os dois conjuntos de critérios dos

tipos desatento e hiperativo / impulsivo. Falta de atenção sustentada, hiperatividade

e impulsividade. Apresenta maior prejuízo no funcionamento global. Quando

comparado aos outros 2 tipos é o que apresenta também maior número de

comorbidades

- Tipo não específico

A pessoa apresenta algumas dificuldades, mas número insuficiente de

sintomas para chegar a um diagnóstico completo. Esses sintomas, no entanto,

desequilibram a vida diária. porém alguns dos sintomas estão presentes e

prejudicando seu desempenho escolar, familiar e profissional, o critério passa a

ser então mais dimensional do que quantitativo.

1.2 SINTOMAS

- Crianças e adolescentes

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As crianças com TDAH, em especial os meninos, são agitadas ou inquietas.

Freqüentemente têm apelido de "bicho carpinteiro" ou coisa parecida. Na idade pré-

escolar, estas crianças mostram-se agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente,

mexendo em vários objetos como se estivessem “ligadas” por um motor. Mexem pés

e mãos, não param quietas na cadeira, falam muito e constantemente pedem para

sair de sala ou da mesa de jantar.

Elas têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas,

repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente distraídas por

estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com pensamentos

"internos", isto é, vivem "voando". Nas provas, são visíveis os erros por distração

(erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom

funcionamento da memória, elas em geral são tidas como "esquecidas": esquecem

recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova, etc. (o

"esquecimento" é uma das principais queixas dos pais). Quando elas se dedicam a

fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer mais tranqüilas.

Isto ocorre porque os centros de prazer no cérebro são ativados e conseguem dar

um "reforço" no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em

níveis normais. O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma

atividade não exclui o diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas

interessantes ou estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que

vamos dormir: os portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a

atenção em um monte de coisas.

Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêem a

pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar).

Freqüentemente também apresentam dificuldades em se organizar e planejar aquilo

que querem ou precisam fazer.

Seu desempenho sempre parece inferior ao esperado para a sua capacidade

intelectual. O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar,

embora esta seja uma queixa freqüente de pais e professores. É mais comum que

os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento (notas).

Um aspecto importante: as meninas têm menos sintomas de hiperatividade-

impulsividade que os meninos (embora sejam igualmente desatentas), o que fez

com que se acreditasse que o TDAH só ocorresse no sexo masculino. Como as

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meninas não incomodam tanto, eram menos encaminhadas para diagnóstico e

tratamento médicos.

O portador de TDAH fica com dificuldade para realizar sozinho suas tarefas,

principalmente quando são muitas, e o tempo todo precisa ser lembrado pelos outros

sobre o que tem para fazer. Isso tudo pode causar problemas na faculdade, no

trabalho ou nos relacionamentos com outras pessoas. A persistência nas tarefas

também pode ser difícil para o portador de TDAH, que freqüentemente “deixa as

coisas pela metade”.

Na idade escolar, crianças com TDAH apresentam uma maior probabilidade

de repetência, evasão escolar, baixo rendimento acadêmico e dificuldades

emocionais e de relacionamento social. Supõe-se que os sintomas do TDAH sejam

catalisadores, tornando as crianças vulneráveis ao fracasso nas duas áreas mais

importantes para um bom desenvolvimento - a escola e o relacionamento com os

colegas. À medida que cresce o conhecimento médico, educacional, psicológico e

da comunidade a respeito dos sintomas e dos problemas ocasionados pelo TDAH,

um número cada vez maior de pessoas está sendo corretamente identificado,

diagnosticado e tratado. Mesmo assim, suspeita-se que um grupo significativo de

pessoas com TDAH ainda permanece não identificado ou com diagnóstico incorreto.

Seus problemas se intensificam e provocam situações muito difíceis no confronto da

vida normal.

O TDAH é com freqüência, apresentado, erroneamente, como um tipo

específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, é um distúrbio de realização.

Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas têm dificuldade

em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas do TDAH têm sobre

uma boa atuação. Por outro lado 20% a 30% das crianças com TDAH também

apresentam um problema de aprendizagem, o que complica ainda mais a

identificação correta e o tratamento adequado. Pessoas que apresentaram sintomas

de TDAH na infância demonstraram uma probabilidade maior de desenvolver

problemas relacionados com comportamento opositivo desafiador, delinqüência,

transtorno de conduta, depressão e ansiedade. Os pesquisadores, no entanto,

sugerem que o resultado desastroso apresentado por alguns adolescentes não é

uma conseqüência apenas do TDAH, mas, antes, uma combinação de TDAH com

outros transtornos de comportamento, especialmente nos jovens ligados a atitudes

criminosas e abuso de substâncias.

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- Em adultos

A existência da forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida apenas

em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. E, desde então inúmeros estudos

têm demonstrado a presença do TDAH em adultos. Passou-se muito tempo até que

ela fosse amplamente divulgada no meio médico e ainda hoje, observa-se que este

diagnóstico é apenas raramente realizado, persistindo o estereótipo equivocado de

TDAH: um transtorno acometendo meninos hiperativos que têm mau desempenho

escolar. Muitos médicos desconhecem a existência do TDAH em adultos e quando

são procurados por estes pacientes, tendem a tratá-los como se tivessem outros

problemas (de personalidade, por exemplo). Quando existe realmente um outro

problema associado (depressão, ansiedade ou drogas), o médico só diagnostica

este último e “deixa passar” o TDAH.

Atualmente acredita-se que em torno de 60% das crianças com TDAH

ingressarão na vida adulta com alguns dos sintomas (tanto de desatenção quanto de

hiperatividade-impulsividade) porém em menor número do que apresentavam

quando eram crianças ou adolescentes.

Para se fazer o diagnóstico de TDAH em adultos é obrigatório demonstrar que

o transtorno esteve presente desde criança. Isto pode ser difícil em algumas

situações, porque o indivíduo pode não se lembrar de sua infância e também os pais

podem ser falecidos ou estar bastante idosos para relatar ao médico. Mas em geral

o indivíduo lembra de um apelido (tal como “bicho carpinteiro”, etc.) que denuncia os

sintomas de hiperatividade-impulsividade e lembra de ser muito “avoado”, com

queixas freqüentes de professores e pais.

Os adultos com TDAH costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas

atividades do dia a dia. Por exemplo, pode ser difícil para uma pessoa com TDAH

determinar o que é mais importante dentre muitas coisas que tem para fazer,

escolher o que vai fazer primeiro e o que pode deixar para depois. Em conseqüência

disso, quem TDAH fica muito “estressado” quando se vê sobrecarregado (e é muito

comum que se sobrecarregue com freqüência, uma vez que assume vários

compromissos diferentes), pois não sabe por onde começar e tem medo de não

conseguir dar conta de tudo. Os indivíduos com TDAH acabam deixando trabalhos

pela metade, interrompem no meio o que estão fazendo e começam outra coisa, só

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voltando ao trabalho anterior bem mais tarde do que o pretendido ou então se

esquecendo dele.

Relatos sobre adultos com TDAH mostraram que eles enfrentam problemas

sérios de comportamento anti-social, desempenho educacional e profissional pouco

satisfatório, depressão, ansiedade e abuso de substâncias. Infelizmente muitos

adultos de hoje não foram diagnosticados como crianças com TDAH. Cresceram

lutando com uma deficiência que freqüentemente, passou sem diagnóstico, foi mal

diagnosticada ou, então, incorretamente tratada. A maioria dos adultos com TDAH

apresenta sintomas similares aos apresentados pelas crianças. São freqüentemente

inquietos, facilmente distraídos, lutam para conseguir manter o nível de atenção, são

impulsivos e impacientes. Suas dificuldades em manejar situações de "stress" levam

a grandes demonstrações de emoção. No ambiente de trabalho, é possível que

consigam alcançar boa posição profissional ou status compatível com sua educação

familiar ou habilidade intelectual.

Critérios Gerais: (Kaplan & Sadock, 1993)

a) Alguns dos sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade

estavam presentes antes dos sete anos de idade;

b) Presença de seis (ou mais) sintomas de desatenção e/ou seis (ou mais)

sintomas de hiperatividade-impulsividade, que persistiram por pelo menos seis

meses, em grau mal adaptativo, e inconsistente com seu nível de desenvolvimento;

c) Algum comprometimento causado pelos sintomas está presente em dois ou

mais contextos (por exemplo, na escola, no trabalho e em casa);

d) Deve haver clara evidencia de prejuízo clinicamente significativo no

funcionamento social, acadêmico ou ocupacional;

e) Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o transcurso de outros

transtornos: Transtorno Global do Desenvolvimento; Esquizofrenia ou outro

Transtorno Psicótico, Transtorno do Humor, Transtorno Dissociativo, Transtorno de

Ansiedade, nem são mais bem explicados por esses outros transtornos mentais.

Como a incidência de manifestações de TDAH em adultos exige ainda maior

estudo e atenção, muitas vezes o diagnóstico vem com a nomenclatura: TDAH sem

outra especificação (SOE). Os sinais residuais do transtorno incluem impulsividade e

déficit de atenção, identificados em dificuldades para dar curso e organização em um

trabalho, fácil distração, incapacidade de concentrar-se, tomadas súbitas de

decisões sem medir conseqüências, por exemplo. Muitos adultos com o transtorno

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associam uma baixa auto-estima relacionada ao desempenho comprometido que

afetam funcionamentos sociais e ocupacionais. Não raro sofrem de um transtorno

depressivo secundário. A terapia psicofarmacológica pode precisar de cuidados

contínuos indefinidamente, e deve ser monitorada quanto à resposta à medicação e

à aderência ao tratamento. O propósito vem a ser uma diminuição da impulsividade

e melhora no humor (Kaplan & Sadock, 1993).

Apesar de serem identificadas numerosas semelhanças entre as

características de comportamento de crianças e adultos com TDAH, foram feitas

várias distinções. Uma delas é a redução em níveis globais de hiperatividade entre

adultos. Tal diferença, associada ao fato de que os critérios do DSM-IV foram

desenvolvidos principalmente para crianças, estimulou os autores a pesquisar sobre

o assunto. Deve haver uma adaptação desses critérios para a avaliação de TDAH

em adultos, os mais importantes são história de infância consistente com TDAH e,

quando adulto, hiperatividade e concentração pobre, além de dois dos seguintes:

labilidade afetiva, temperamento quente, inabilidade para completar tarefas e

desorganização, acentuada intolerância e impulsividade. Para identificar os prejuízos

com mais precisão em adultos, foram operacionalizados por domínios:

Hiperatividade motora (por exemplo, inquietude e uma inabilidade para persistir em

atividades sedentárias); (Silva, 2003)

a) Déficits de atenção (por exemplo, distrabilidade e esquecimento);

b) Labilidade afetiva (oscilações espontâneas em humor);

c) Temperamento quente (episódios de irritabilidade e excitabilidade);

d) Reação emocional excessiva (crises interferem em resolver os problemas

apropriadamente);

e) Desorganização (aproximação fortuita para atividades);

f) Impulsividade (por exemplo, interrompem os outros e mostram decisão

apressada que fazem);

g) Características associadas (por exemplo, história de TDAH no histórico

familiar).

Os estudos atuais têm identificado vários sintomas em adultos com

diagnóstico de TDAH. Eles podem apresentar dificuldades com relações afetivas

instáveis (separações, divórcios); instabilidade profissional que persiste ao longo da

vida; rendimentos abaixo de suas reais capacidades no trabalho e na profissão; falta

de capacidade para manter a atenção por um período longo; falta de organização

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(carente de disciplina); insuficiente capacidade para cumprir o que se comprometem;

incapacidade para estabelecer cumprir uma rotina; esquecimentos, perdas e

descuidos importantes; depressão e baixa autoestima; dificuldades para pensar e se

expressar com clareza; tendência a atuar impulsivamente e interromper os outros;

dificuldades de escutar e esperar sua vez de falar; freqüentes acidentes

automobilísticos devido à distração; freqüente consumo de álcool e abuso de

substância. Além disso, existem ainda sintomas que permitem a identificação de

TDAH, mas não são considerados “oficiais”. É preciso lembrar, que estes devem

aparecer de forma exacerbada: baixa auto-estima; sonolência diurna (dormir como

uma pedra); “pavio curto” (mistura de impulsividade e irritabilidade); necessidade de

ler mais de uma vez para “fixar” o que leu; dificuldade de levantar de manhã, de se

“ativar” no início do dia; adiamento constante das coisas; mudança de interesse o

tempo todo; intolerância a situações monótonas e repetitivas; busca constante por

coisas estimulantes ou diferentes e variações freqüentes de humor. (Mattos, 2003)

Adultos com TDAH apresentam dificuldades específicas da função de

atenção, há uma tendência pronunciada de distração, esquecimento, repetições de

erros, além de perderem coisas, não recordarem o que acabaram de ler, de

necessitarem perguntar muitas vezes o mesmo e evitarem sistematicamente toda

leitura que não seja do seu interesse específico. Geralmente envolvem-se em

atividades de pouca atenção e concentração por apresentarem tais dificuldades.

Isso não significa não prestar atenção nunca, mas em muitas ocasiões, ou na

maioria delas a pessoa está dispersa, “no mundo da lua”. No trabalho, custam a se

organizar, permanecer atentas e terminar uma tarefa. O tempo que necessitam

geralmente é muito maior do que se espera e rendem mais quando estão sozinhos.

Mostram dificuldades também com a memória de trabalho, que permite os processos

de comparação, processamento e emissão de uma resposta correta. Adultos com

TDAH não são críticos quanto a suas dificuldades de atenção e poucos se dão conta

do problema. Isto acontece porque sempre foram dispersos e desatentos, erram

repetidamente, perdem coisas, não recordam o que acabam de ler, necessitam

perguntar várias vezes a mesma coisa e evitam leitura que não seja de seu interesse

específico. E são capazes de dormir ou desligar diante de assuntos que não lhe

interessam diretamente, indicando que são pessoas que padecem de um problema

de atenção. Muitas vezes se dedicam a trabalhos que exijam pouca atenção e

concentração, mostrando uma clara dificuldade para conseguir o mínimo de

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concentração suficiente para manter qualquer atividade. Ser detentor do diagnóstico

de TDAH não significa que não preste atenção nunca, e, sim, que em muitas

ocasiões, ou na maioria das vezes, o paciente está disperso. Em outros momentos,

pode permanecer concentrado e ser constante numa tarefa. Mesmo que o problema

seja crônico não quer dizer que esteja sempre presente. Isto remete ao que muitos

autores colocam de que portadores de TDAH mostram a atenção flutuante que em

determinados momentos são atentos e em outros não. (Mattos, 2003)

14

2- AVALIAÇÃO CLÍNICA

2.1 Diagnóstico

O diagnóstico do TDAH é um processo de múltiplas facetas. Diversos

problemas biológicos e psicológicos podem contribuir para a manifestação de

sintomas similares apresentados por pessoas com TDAH. Por exemplo: a falta de

atenção é uma das características do processo de depressão. Impulsividade é uma

descrição típica de delinqüência.

O diagnóstico de TDAH pede uma avaliação ampla. Não se pode deixar de

considerar e avaliar outras causas para o problema, assim é preciso estar atento à

presença de distúrbios concomitantes (comorbidades). O aspecto mais importante

do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico clínico e desenvolvimental. A

avaliação do TDAH inclui, freqüentemente, um levantamento do funcionamento

intelectual, acadêmico, social e emocional. O exame médico também é importante

para esclarecer possíveis causas de sintomas semelhantes aos do TDAH (por

exemplo: reação adversa à medicação, problema de tireóide, etc). O processo de

diagnóstico deve incluir dados recolhidos com professores e outros adultos que de

alguma maneira, interagem de maneira rotineira com a pessoa que está sendo

avaliada. Embora se tenha tornado prática popular testar algumas habilidades como

resolução de problemas, trabalhos de computação e outras, a validade dessa prática

bem como sua contribuição adicional a um diagnóstico correto, continuam a ser

analisadas pelos pesquisadores. (Andrade, 2000)

Apesar do TDAH ser mais comum em meninos, as meninas com o problema

podem ter um resultado mais negativo no estado psiquiátrico na puberdade".

Estudos realizados num período de dez a trinta anos, comprovou-se que as meninas

hiperativas foram duas vezes mais propensas que os meninos a serem

hospitalizadas na vida adulta. A razão para que isso aconteça "pode ser devido a

uma diferença biológica de sexo. "Os garotos podem ser mais vulneráveis a

desenvolver o TDAH, mas quando a hiperatividade ocorre nas meninas, as

conseqüências são mais agravantes". Para o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade

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essa incidência de TDAH em meninos - cerca de oitenta por cento dos casos, está

relacionado também ao hormônio masculino testosterona. (Andrade, 2000)

No diagnóstico de adultos com TDAH, mais importante ainda é conseguir o

histórico cuidadoso da infância, do desempenho acadêmico, dos problemas

comportamentais e profissionais. À medida que aumenta o reconhecimento de que o

transtorno é permanente durante a vida da pessoa, os métodos e questionários

relacionados com o diagnóstico de um adulto com TDAH estão sendo padronizados

e tornados cada vez mais acessíveis. Há algumas diferenças notáveis entre um

portador de TDAH e um , mero mal-educado. O portador de TDAH continua agitado

diante de situações novas, isto é, não consegue controlar seus sintomas. Já o mal-

educado, primeiro avalia bem o terreno e manipula situações buscando obter

vantagens sobre os outros.

Diagnósticos apressados e equivocados têm feito pessoas mal-educadas

ficarem à vontade para serem mal educadas sob o pretexto de que estão dominadas

pelo TDAH. O fato de serem consideradas doentes facilita a aceitação de seu

comportamento impróprio. É mais fácil agir sem a necessária adequação de ser

humano e cair na escala animal liberando tudo o que se tem vontade de fazer.

"Concentrar-se dá trabalho. Exige esforço mental" (TIBA, 2002). como a criança não

suporta isso, começa a se agitar, a prestar atenção em outra coisa. Antes dos pais

lidarem com o filho como apenas um mal-educado, ou como um portador do TDAH,

é importante que consulte um médico e recebam a orientação correta, base

fundamental da boa educação. "Tanto o portador de TDAH como o mal-educado são

irritáveis por falta de capacidade de esperar. A espera é um exercício". (TIBA, 2002).

De uma forma geral, as pesquisas têm mostrado o TDAH associado a outros

diagnósticos. São altos os índices de comorbidade entre TDAH e abuso ou

dependência química na adolescência e em adultos. Conforme este mesmo autor, o

TDAH na infância é um fator de risco para uso ou dependência de drogas na

adolescência e idade adulta. Além disso, a presença de comorbidades associadas

ao TDAH, tais como, transtorno do humor bipolar, depressão, transtornos de

ansiedade, abuso de álcool e drogas, aumentam o grau de comprometimento numa

significativa parcela de pessoas. Resultados preliminares de um estudo com uma

amostra considerada pequena, frente à prevalência estimada do transtorno na

população, indicam que além do comprometimento associado aos sintomas básicos

de desatenção, hiperatividade e impulsividade, crianças e adolescentes portadores

16

de TDAH com significativa freqüência podem apresentar comorbidade com outros

transtornos psiquiátricos, o que aumenta potencialmente o seu comprometimento

funcional. Tendo em vista que o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é

mais freqüente no sexo masculino e mais facilmente observado em crianças em

idade escolar, os sintomas de desatenção afetam o trabalho em sala de aula e o

desempenho acadêmico. Os sintomas de impulsividade também podem levar ao

rompimento de regras familiares, educacionais e interpessoais, especialmente na

adolescência. Ao final da infância, os sinais de excessiva atividade motora ampla

passam a ser menos comum, podendo os sintomas de hiperatividade limitar-se à

inquietação ou uma sensação íntima de agitação ou nervosismo. As semelhanças

dos sintomas do TDAH com algumas das outras síndromes psicopatológicas

dificultam o diagnóstico. Além disso, os adultos diagnosticados com TDAH

geralmente vêm de uma infância marcada por dificuldades. Eles expressam um

comportamento bastante desadaptativo e deveriam ser reconhecidos como

indivíduos que, por definição, lutaram com dificuldades psicossociais duradouras.

Conseqüentemente, os profissionais de saúde mental não só devem ter

conhecimento das desordens de comportamento e psicopatologia do

desenvolvimento, mas também devem possuir sensibilidade para confrontar as

dificuldades nos adultos e as complexidades associadas ao grau de desadaptação

dos sintomas de desatenção e hiperatividade e impulsividade relacionados aos

níveis de idade apropriados. (Rohde 2000)

17

Transtornos psiquiátricos devem ser considerados no diagnóstico diferencial

de TDAH em Adultos como:

- Depressão Maior: tem como características similares ao TDAH dificuldade

de concentração, de atenção e de memória e dificuldade na conclusão das tarefas.

Como características distintas do TDAH, o humor disfórico constante ou anedonia,

sonolência e perturbação do apetite.

- Transtorno do Humor Bipolar : as características similares do TDAH são a

hiperatividade, dificuldades em manter atenção e foco; oscilações de

humor. As características distintas são a disforia ou humor eufórico,

insônia e ilusões.

- Transtorno de Ansiedade: demonstra características similares à excitação

e à dificuldade de concentração. Apresenta como características distintas

apreensão exagerada, preocupação e sintomas somáticos de ansiedade.

- Abuso de Susbstâncias ou Dependência Química: Mostram como

características similares dificuldades com atenção, concentração, memória

e oscilações de humor. Como características distintas

apresentam um padrão patológico de uso de substâncias com conseqüências

sociais, tolerância e dependência psicológica.

- Transtorno de Personalidade Borderline e Anti-Social: evidenciam como

características similares impulsividade e labilidade afetiva e como características

distintas, histórias judiciais (Anti-social), comportamento auto prejudicial ou suicida

(Borderline), falta de reconhecimento de que o comportamento é auto-destrutivo.

Dos quadros clínicos, o que mais causa confusão com o TDAH é o transtorno de

humor bipolar.

Estudos diversos utilizando técnicas de neuro-imagem revelam um

comprometimento do lobo frontal e de estruturas subcorticais com ele relacionadas.

Evidenciou-se em pacientes com TDAH uma simetria anormal do

córtex pré-frontal. Normalmente o córtex pré-frontal direito é ligeiramente maior que

o esquerdo e nos pacientes em questão haveria uma redução do córtex pré-frontal

direito. Acredita-se que os lobos frontais possuam uma função executiva,

compreendendo a capacidade de iniciar, manter, inibir e desviar a atenção.

Gerenciar as informações recebidas, integrar a experiência atual com a passada,

monitorar o comportamento presente, inibir respostas inadequadas, organizar e

planejar a obtenção de metas futuras é tarefa dos lobos frontais. Assim é possível

18

compreender muitas das manifestações de TDAH como resultado de uma

deficiência do desenvolvimento do processo inibitório normal, o que exerce papel

importante na função executiva do lobo frontal. Acredita-se também, que a

ocorrência do TDAH é um distúrbio genético, a maioria dos trabalhos recentes

encontra evidências de que se trata de um distúrbio neurobiológico. Os trabalhos

podem ser reunidos em dois grandes grupos, um que enfatiza o déficit funcional de

certos neurotransmissores e outro grupo de estudos que enfatiza o déficit funcional

do lobo frontal, o córtex cerebral, mais precisamente. Acredita-se que, dos

neurotransmissores conhecidos, estariam envolvidas com o TDAH a dopamina e a

noradrenalina. A favor desta hipótese está o fato de que medicamentos capazes de

atenuar os sintomas do TDAH são feitos das mesmas substâncias que aumentam as

quantidades de dopamina e de noradrenalina disponíveis no cérebro. Em suma,

acredita-se que o TDAH é como uma disfunção executiva do lobo frontal. (Barkley

2002)

Principais funções executivas do lobo frontal cuja alteração está vinculada ao

TDAH O conceito de disfunção é fundamental quando se pensa em um diagnóstico.

Não existe um sinal patognomônico de TDAH, já que as características mencionadas

desse distúrbio são comuns a todas as pessoas em algum grau durante períodos

variáveis da vida. Para o diagnóstico, é importante lembrar que o TDAH é uma

condição que acompanha a pessoa desde sempre, portanto não é adquirida.

Também cabe lembrar que existe a possibilidade de uma gama variável de

intensidade do quadro clínico, indo desde casos leves ou discretos até casos graves

com intenso comprometimento funcional (Barkley, 2002; Mattos, 2003). As principais

funções executivas cuja alteração se vincula ao TDAH, são:

- Organização, hierarquização e ativação da informação: o sujeito requer

pressão para começar e cumprir a tarefa em tempo (desorganização); tem

dificuldade para estabelecer prioridades na atividade; troca de tarefas

continuamente, ou seja, tem necessidade de variar.

- Focalização e sustentação da atenção: a pessoa apresenta distração fácil

por estímulos internos e externos; é incapaz de filtrar estímulos; perde o foco quando

lê; necessita de lembretes para manter em sua tarefa habitual; apresenta

inconstância e abandono precoce no que se envolve.

19

- Alerta e velocidade de processamento: o sujeito tem excessiva sonolência,

falta de motivação e cansaço constante; esgotamento fácil do esforço; pouca

velocidade de processamento.

- Manejo da frustração e modulação do afeto: o paciente apresenta baixa

tolerância à frustração e baixa auto-estima; hipersensibilidade a críticas;

irritabilidade; preocupações excessivas e perfeccionismo.

- Utilização e evocação da memória de trabalho: a pessoa apresenta

esquecimento de responsabilidades e objetivos pessoais; tem dificuldade nos

seguintes aspectos: conservação (a informação não é incorporada), seguimento de

seqüências, manutenção de dois ou mais elementos simultaneamente e para trazer

do arquivo a informação armazenada. Em geral, nesse contexto inclui-se a

habilidade vinculada à capacidade de organizar e planejar uma tarefa. Isso tem

relação com a capacidade para selecionar os objetivos, iniciar e sustentar um plano

de ação e executá-lo, inibir distrações, trocar estratégias de modo flexível de acordo

com que o caso requer e auto-regular e controlar o curso da ação para assegurar se

a meta proposta está em vias de ter sucesso. Com freqüência, as alterações das

Funções Executivas fazem parte de vários quadros neuropsicológicos e patológicos

e entre eles está inserido o TDAH. Em síntese, organização, antecipação,

planejamento, controle inibitório, memória de trabalho, flexibilidade, auto-regulação e

controle da conduta constituem requisitos importantes para resolver problemas de

maneira eficaz e eficiente. perfis neuropsicológicos se diferenciam quanto aos

subtipos do TDAH. O subtipo “sem hiperatividade” (tipo desatento) associa-se com

dificuldades envolvendo a atenção seletiva e a velocidade de processamento de

informações. Já o subtipo “com hiperatividade” associa-se à dificuldade na

sustentação da atenção durante um tempo longo, tendo maior vulnerabilidade de

distração. Os TDAH tipo desatento demonstram piores desempenhos nos testes de

destreza viso-motora, velocidade de processamento que pode ser observado no

subtestes Dígitos da Escala Wechsler e na recuperação mnêmica verbal. Os TDAH

tipo hiperativo não se diferenciam dos protocolos normais. Assim o desempenho nos

TDAH tipo desatento tendem a apresentar as maiores dificuldades. As funções

executivas são processos de controle que envolvem a capacidade inibitória, demora

no tempo de resposta que possibilite o indivíduo a iniciar, manter, deter e trocar seus

processos mentais para o qual deve estabelecer prioridades, organizar-se e por em

prática uma estratégia. Devido à multiplicidade de variáveis envolvidas no TDAH, o

20

estudo do déficit das funções cognitivas promove um ponto de unificação e de

compreensão renovados. Por isso que os principais estudiosos do TDAH atualmente

tendem a ver o transtorno como um déficit de controle inibitório, mais que como um

simples problema de atenção (Mattos, 2002).

A avaliação adequada consiste no atendimento com psicólogo, neurologista

ou psiquiatra. Uma avaliação mais abrangente como o uso de escalas de sintomas e

testes psicológicos para identificar deficiência cognitiva pode colaborar no

diagnóstico. Dados de sua história de vida, no sentido de avaliar se as dificuldades

persistem desde a infância, também contribuem de forma significativa nessa

avaliação. Ainda, é importante verificar a presença ou não de comorbidades

(ansiedade, depressão, transtorno do humor, dificuldades de aprendizagem) e fazer

o diagnóstico diferencial que justifique os sintomas apresentados. A história da

pessoa deve ser investigada cuidadosamente, entrevistando um ou mais membros

da família, pois é bastante comum a falta de insight desses pacientes para o próprio

comportamento. A vida escolar deve ser bem examinada, embora não seja raro a

pessoa bem dotada intelectualmente compensar o déficit da atenção e ter bom

rendimento nos estudos. O transtorno não impede de forma absoluta a

concentração, alguns indivíduos são capazes de um bom desempenho na área do

trabalho, por exemplo, até em função do alto grau de interesse, porém em todos os

outros momentos a atenção pode falhar de forma desastrosa.

Nas entrevistas, o avaliador deve buscar o maior número possível de dados

sobre a história do desenvolvimento, sendo importante confirmar informação com

outras fontes, como os pais, cônjuge e boletins escolares. Os sintomas devem estar

constantemente presentes desde a infância. Ainda nas entrevistas, é necessário

investigar o impacto dos sintomas do TDAH na vida profissional e escolar e nos

relacionamentos afetivos. Como muitas das dificuldades aparecem na área

profissional, deve-se avaliar a atenção, a concentração, a distrabilidade e a memória

de curto prazo analisando o paciente ao executar tarefas no seu trabalho.

E para concluir, avaliar a presença de outras desordens psiquiátricas e abuso

de substância. Como se pode ver, o processo de avaliação do TDAH caracteriza-se,

principalmente, por ser tipicamente clínico. Baseia-se nos critérios diagnósticos do

DSM-IV, que os estudiosos no assunto adaptaram para a vida adulta. Contudo, os

estudos mostram avanços que, espera-se, sejam considerados na próxima edição

deste manual. Trata-se de um processo complexo e trabalhoso visto que muitas

21

comorbidades se apresentam com a mesma sintomatologia do TDAH. É uma

avaliação multifatorial que visa coletar uma série de informações, analisar as mais

pertinentes com o TDAH para poder chegar num diagnóstico final. Os sintomas

apresentados referentes às comorbidades não devem ser desconsiderados, pois um

adulto com TDAH pode ser tratado concomitantemente com outros transtornos. Os

adultos que são encaminhados para avaliação muitas vezes se apresentam com um

quadro “florido”, isto é, demonstram uma série de sintomas que são pertinentes

também a outros transtornos dificultando a identificação e consequentemente o

processo de avaliação.

Para o psicólogo, é de grande valia o uso de testes psicológicos nessa

avaliação clínica. O diagnóstico não pode ser firmado por uma única via de

investigação, sendo assim, os testes psicológicos vem a ser elementos auxiliares, de

utilidade quando se investigam distúrbios de aprendizado ou de deterioração mental

para fins de diagnóstico diferencial ou comorbidade. Testes projetivos e de

personalidade como HTP, TAT, Rorschach, Zulliger, IFP, entre outros, podem ajudar

no diagnóstico diferencial, identificando as comorbidades. Exames de neuroimagem

(tomografia, ressonância magnética ou SPECT cerebral) podem ser pesquisados.

Contudo, o eletroencefalograma dos portadores de TDAH não apresenta

anormalidades típicas capazes de auxiliar o diagnóstico, embora se tenha

conhecimento de que nesses pacientes pode aparecer um traçado anormal, com

alterações inespecíficas. (Rohde, 2000).

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), distingue-se

pela complexidade no estabelecimento do seu diagnóstico. Torna-se imprescindível

que o profissional tenha experiência clínica e mantenha-se atualizado no que se

refere à literatura especializada, caso venha a se interessar por este tipo de

avaliação e tratamento. De acordo com os achados apresentados durante todo o

texto, o processo de avaliação psicológica do TDAH de adultos não se constitui por

uma tarefa fácil, devido à multiplicidade de variáveis que são necessárias para um

diagnóstico adequado. A avaliação envolve a coleta de informações de vários

aspectos, principalmente dos sintomas, sendo necessária a investigação desde a

infância, assim como o uso de instrumentos padronizados para a nossa população.

A carência de instrumentos específicos e escalas de avaliação de TDAH são fatores

que dificultam o diagnóstico e o tratamento das dificuldades. Novas pesquisas são

necessárias para que possam auxiliar os profissionais na identificação do transtorno

22

e os portadores por uma melhor qualidade de vida afetivo emocional, social,

acadêmica e profissional.

2.2 Tratamento

Aumenta a cada dia o reconhecimento da eficiência dos tratamentos na

redução dos sintomas imediatos apresentados por pessoas com TDAH. Os

pesquisadores, no entanto, acreditam que somente reduzir os sintomas das crianças

com TDAH não traz resultados satisfatórios a longo prazo. Assim, aumenta a

consciência de que os fatores que predispõem todas as crianças à uma vida bem

sucedida são especialmente importantes para as crianças que apresentam

problemas relacionados a distúrbios como o TDAH. Há uma maior aceitação da

necessidade de “equilibrar a balança” para as pessoas com TDAH. Portanto, os

tratamentos são aplicados para permitir alívio dos sintomas enquanto se trabalha no

sentido de assistir a pessoa a construir uma vida bem sucedida. A máxima “tornar as

tarefas interessantes e fazer o pagamento valer a pena” parece ser extremamente

importante para as pessoas com TDAH.

Antes de qualquer tratamento, um exame físico deve ser feito para descartar

outras causas para o comportamento da criança, tais como: infecção crônica do

ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos, ou outros problemas

neurológicos. Existem tratamentos alternativos como o fitoterápico e homeopático

que têm demonstrado eficácia no tratamento da hiperatividade. É essencial que o

tratamento ocorra de forma cautelosa, em um ambiente calmo e carinhoso.

O tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre os

profissionais das áreas médicas, A abordagem terapêutica é feita de forma

multidisciplinar, envolvendo tanto o diagnóstico quanto o tratamento onde,

profissionais médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, psiquiatras,

neurologistas, neuropediatras, pediatras etc., são envolvidos no processo, com

técnicas específicas como a terapia cognitivo comportamental (TCC) aos cuidados

dos Psicólogos e Psiquiatras, e o uso de medicações neuroestimulantes e

medicamentos específicos no tratamento das comorbidades. As patologias

neuropsicológicas com base biológica não respondem bem a outros tipos de

terapias. (T0PAZEWSKI, 1999).

23

Um tratamento com abordagem multidisciplinar inclui o treinamento dos pais

quanto à verdadeira natureza do TDAH e um desenvolvimento de estratégias de

controle efetivo de comportamento; um programa pedagógico adequado;

aconselhamento individual e familiar, quando necessário para evitar o aumento de

conflitos na família; uso de medicação quando necessário.

De acordo com alguns especialistas, os medicamentos mais utilizados para o

controle dos sintomas do TDAH são os psicoestimulantes. Setenta a oitenta por

cento das crianças e dos adultos com TDAH apresentam uma resposta positiva.

Portanto, eles podem, até certo ponto, estimular a performance de todas as pessoas.

Mas, em razão do problema específico que apresentam, crianças com TDAH

apresentam melhora dramática, com redução do comportamento impulsivo e

hiperativo e aumento da capacidade de atenção.

O controle do comportamento é uma intervenção importante para crianças

com TDAH. O uso eficiente do reforço positivo combinado com punições tem sido

uma maneira particularmente bem sucedida de lidar com os portadores do

transtorno. Os adultos com TDAH apresentam resposta aos estimulantes e outros

medicamentos semelhante à das crianças. Eles também podem se beneficiar

aprendendo a estruturar seu meio ambiente, desenvolvendo hábitos organizacionais

e procurando um acompanhamento profissional. Quando necessário uma

psicoterapia de curto prazo pode ajudar a enfrentar as exigências da vida e os

problemas pessoais do momento. Terapias mais prolongadas podem ensinar a

mudar comportamento e a criar estratégias de enfrentamento a pessoas que

apresentam uma combinação de TDAH e problemas concomitantes - especialmente

depressão. Aumenta a cada dia o reconhecimento da eficiência dos tratamentos na

redução dos sintomas imediatos apresentados por pessoas com TDAH. Os

pesquisadores acreditam que somente reduzir os sintomas da criança com TDAH

não traz resultados satisfatórios a longo prazo. Assim, aumenta a consciência de

que os fatores que predispõem todas as crianças à uma vida bem sucedida são

especialmente importantes para as crianças que apresentam problemas

relacionados a distúrbios como o TDAH. Há uma maior aceitação da necessidade de

equilibrar a balança para as pessoas com TDAH. Portanto, os tratamentos são

aplicados para permitir alívio dos sintomas enquanto se trabalha no sentido de

assistir a pessoa a construir uma vida bem sucedida. (T0PAZEWSKI, 1999).

24

Em casos leves o distúrbio pode ser tratado apenas com terapia e

reorientação pedagógica, diz o psiquiatra Ênio de Andrade: "Os casos graves

necessitam de tratamento com medicamentos". O tratamento é feito por um período

mínimo de dois anos, mas deve durar até a adolescência, quando os sintomas

diminuem ou desaparecem, graças ao amadurecimento do cérebro, que equilibra a

produção da dopamina. (ANDRADE, 2000).

25

3- ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

3.1 O papel da escola

Segundo o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, a hiperatividade só fica

evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração

para aprender. "O diagnóstico clínico, deve ser feito com base no histórico da

criança". Por isso, a observação de pais e professores é fundamental. (ANDRADE,

2000).

Geralmente os hiperativos, se mexem muito durante o sono quando bebês.

São mais estabanados assim que começam a andar. Às vezes, apresentam retardo

na fala, trocando as letras por um período mais prolongado que o normal. Em casa,

esses sintomas nem sempre são suficientes para definir o quadro. Na escola, porém,

eles são determinantes. A inteligência de pessoas hiperativas não é comprometida

com a doença, mas o principal empecilho para elas é a impulsividade e a falta de

atenção, ferramentas importantes para o progresso dos estudos, Ao se tratar o

paciente hiperativo, é notada marcante melhoria no seu rendimento escolar. Os

pacientes que não apresentam dificuldades no aprendizado conseguem executar as

tarefas de modo rápido e eficiente, mas como terminam antes que os outros, ficam a

atrapalhar o trabalho dos colegas por conta da hiperatividade. Esse comportamento

causa insatisfação ao grupo, que passa a reclamar e a interferência do professor, ao

chamar a atenção do aluno, tem como objetivo primordial o de manter a classe

organizada, provocando uma reação agressiva por parte do aluno, além de acentuar

a hiperatividade. (T0PAZEWSKI, 1999).

O convívio social é importante para o desenvolvimento da criança, para quem

tem TDAH não é diferente. Ao professor cabe observar sinais como agitação e

dificuldade de assimilação. No intervalo das aulas a criança costuma se meter em

brigas ou brincar quase sempre sozinha, tenta chamar a atenção ou se comporta

como se fosse alienada.

As meninas que sofrem da doença são mais distraídas, falam demais ou

simplesmente se isolam. Os meninos não conseguem manter amizades por muito

tempo, são agitados e interrompem a aula constantemente.

26

Antes de apelar para conclusões precipitadas é preciso que se leve em conta que

crianças hiperativas não podem ser julgadas como rebeldes. Por sofrerem de uma

doença que provoca dificuldades de concentração, não se dão conta das ordens que

recebem. Não cabe ao professor ou à escola fazer o diagnóstico, mas é possível

observar o aluno e conversar com os pais para que um especialista seja procurado.

De acordo com Rizzo: "proporcionar atividades variadas que ocupem a

criança o maior período de tempo possível, dando a ela liberdade de escolha e de

movimentos", pode auxiliar uma melhor conduta no trato com o hiperativo. Somente

o trabalho livre e diversificado pode favorecer esse tipo de criança que também se

mostra satisfeita na incumbência de realizar tarefas auxiliando o professor. (Rizzo,

1985).

A impossibilidade para o aprendizado satisfatório é evidente já que o

comportamento hiperativo acarreta a dispersão e a desatenção. O adolescente pode

apresentar o problema multiplicado, pois, vem caminhando com os transtornos

comportamentais e as dificuldades para o aprendizado, especialmente para a leitura,

desde o problema escolar. Esta dificuldade gera um grau de desinteresse e mesmo

desprezo para a leitura e para as outras atividades escolares, que culmina com o

comprometimento importante do desempenho e do rendimento escolar. Muitos

abandonam a escola e se dedicam ao trabalho, que, na maior parte das vezes, é

pouco qualificado.

Há vezes em que não conseguem nem mesmo participar nos negócios da

família, os quais já estão estruturados; assim acabam sendo colocados em posições

secundárias, o que gera conflitos internos e a sensação de insatisfação e

infelicidade para o jovem, pois conscientiza, de maneira concreta, a sua

incapacidade global. Este conflito interno gera a depressão, que se caracteriza por

uma sensação de desesperança e certa tendência a desistir dos objetivos futuros

pertinentes. Essa visão negativa de si mesmo leva a baixa auto-estima, auto-estima

negativa e uma visão de futuro desfavorável. Os adolescentes apresentam

oscilações comportamentais e variações do humor que se agravam com os reveses

escolares e os insucessos sociais. Quando adultos, têm raciocínio rápido, mas

grande dificuldade de concentração durante aulas duradouras.

Os hiperativos apresentam alterações na chamada memória de curto período,

e isto se deve à baixa capacidade de atenção e à pouca concentração. As mães

referem que, quando solicitam algo à criança, esta retorna após alguns minutos

27

perguntando qual foi a solicitação, pois esqueceu-se do pedido que lhe fora feito.

Esta falta de memória já é, por si só, um fator de baixo rendimento escolar que

quando associado à hiperatividade agrava o quadro. (T0PAZEWSKI, 1999).

3.2 O papel do professor

Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas deve ser organizada e

estruturada. A estrutura supõe regras claras, um programa previsível e carteiras

separadas. Os prêmios devem ser coerentes e freqüentes. Um programa de reforço

baseado em ganho e perda deve ser parte integral do trabalho da classe. A

avaliação do professor deve ser freqüente e imediata. Interrupções e pequenos

incidentes têm menores conseqüências se ignorados. O material didático deve estar

adequado à habilidade da criança. Estratégias cognitivas que facilitam a auto-

correção, assim como melhoram o comportamento nas tarefas, devem ser

ensinadas. As tarefas devem variar, mas continuar sendo interessantes para os

alunos. Os horários de transição, bem como os intervalos e reuniões especiais,

devem ser supervisionados. Pais e professores devem manter uma comunicação

freqüente. Os professores também precisam estar atentos à qualidade de reforço

negativo do seu comportamento. As expectativas devem ser adequadas ao nível de

habilidade da criança e deve-se estar preparado para mudanças.

Há uma grande variedade de intervenções específicas que o professor pode

fazer para ajudar a criança com TDAH a se ajustar melhor à sala de aula:

- Evite colocar alunos nos cantos da sala, onde a reverberação do som é maior. Eles

devem ficar nas primeiras carteiras das fileiras do centro da classe, e de costas para

ela;

- Faça com que a rotina na classe seja clara e previsível, crianças com TDAH têm

dificuldade de se ajustar a mudanças de rotina;

- Afaste-as de portas e janelas para evitar que se distraiam com outro estímulos;

- Deixe-as perto de fontes de luz para que possam enxergar bem;

- Não fale de costas, mantenha sempre o contato visual;

- Intercale atividades de alto e baixo interesse durante o dia, em vez de concentrar o

mesmo tipo de tarefa em um só período;

28

- Repita ordens e instruções; faça frases curtas e peça ao aluno para repeti-las,

certificando-se de que ele entendeu;

- Procure dar supervisão adicional aproveitando intervalo entre aulas ou durante

tarefas longas e reuniões;

- Permita movimento na sala de aula. Peça à criança para buscar materiais, apagar

o quadro, recolher trabalhos. Assim ela pode sair da sala quando estiver mais

agitada e recuperar o auto-controle;

- Esteja sempre em contato com os pais: anote no caderno do aluno as tarefas

escolares, mande bilhetes diários ou semanais e peça aos responsáveis que leiam

as anotações;

- O aluno deve ter reforços positivos quando for bem sucedido. Isso ajuda a elevar

sua auto-estima. Procure elogiar ou incentivar o que aquele aluno tem de bom e

valioso;

- Crianças hiperativas produzem melhor em salas de aula pequenas. Um professor

para cada oito alunos é indicado;

- Coloque a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do

professor na parte de fora do grupo;

- Proporcione um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de

maneira equilibrada e, se possível, fazer os colegas também terem a mesma atitude;

- Nunca provoque constrangimento ou menospreze o aluno;

- Proporcione trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favoreça

oportunidades sociais. Grande parte das crianças com TDAH consegue melhores

resultados acadêmicos, comportamentais e sociais quando no meio de grupos

pequenos;

- Adapte suas expectativas quanto à criança, levando em consideração as

deficiências e inabilidades decorrentes do TDAH. Por exemplo: se o aluno tem um

tempo de atenção muito curto, não espere que se concentre em apenas uma tarefa

durante todo o período da aula;

- Proporcione exercícios de consciência e treinamento dos hábitos sociais da

comunidade. Avaliação freqüente sobre o impacto do comportamento da criança

sobre ela mesma e sobre os outros ajuda bastante.

- Coloque limites claros e objetivos; tenha uma atitude disciplinar equilibrada e

proporcione avaliação freqüente, com sugestões concretas e que ajudem a

desenvolver um comportamento adequado;

29

- Desenvolva um repertório de atividades físicas para a turma toda, como exercícios

de alongamento ou isométricos;

- Repare se a criança se isola durante situações recreativas barulhentas. Isso pode

ser um sinal de dificuldades: de coordenação ou audição, que exigem uma

intervenção adicional.

- Desenvolva métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes (som, visão,

tato) para ser bem sucedido ao ensinar uma criança com TDAH. No entanto, quando

as novas experiências envolvem uma miríade de sensações (sons múltiplos,

movimentos, emoções ou cores), esse aluno provavelmente precisará de tempo

extra para completar sua tarefa.

- Não seja mártir! Reconheça os limites da sua tolerância e modifique o programa da

criança com TDAH até o ponto de se sentir confortável. O fato de fazer mais do que

realmente quer fazer, traz ressentimento e frustração.

- Permaneça em comunicação constante com o psicólogo ou orientador da escola.

Ele é a melhor ligação entre a escola, os pais e o médico. (T0PAZEWSKI, 1999).

3.3 A hiperatividade e a família

Há muitas repercussões da hiperatividade no relacionamento familiar; O

hiperativo é a causa de freqüentes transtornos domésticos:

- às refeições não consegue ficar sentado de modo adequado, pois muda de posição

constantemente;

- não termina uma refeição sem antes levantar-se várias vezes, por diversos motivos

desnecessários;

- come com muita voracidade e ansiedade; engole os alimentos mal mastigados com

uma pressa sem propósito;

- quando assistindo à TV, não consegue manter-se quieto, incomoda os

circunstantes, acrescentando mais um fator para as desavenças;

- interfere nas conversas de modo inoportuno, sem aguardar a sua vez para falar.

Não se detém para ouvir o que se lhe está falando;

- fala muito e em ritmo acelerado, o que acarreta uma fala com mensagens confusas

e, às vezes, com omissões e trocas de fonemas;

30

- muda de atividade com muita freqüência e de modo abrupto, mesmo sem

completar a anterior;

- mostra-se muito desorganizado com seus brinquedos, objetos, roupas e material

escolar;

- atrapalha as brincadeiras dos irmãos;

- apresenta problemas de disciplina;

- tem dificuldade em acatar as ordens;

- responde com comportamento agressivo e violento em situações rotineiras;

- quer ser sempre atendido na hora das suas solicitações;

- procura impor as suas vontades e à sua moda (são mandões);

- pede as coisas e logo se desinteressa;

- consegue deixar o ambiente todo agitado e descontrolado;

- demonstra uma grande ansiedade em todas as atividades. (T0PAZEWSKI, 1999).

O comportamento hiperativo pode desestabilizar a relação do casal , que

deve procurar administrar, em conjunto, os desvios comportamentais apresentados

pelo filho, pois as discórdias do casal têm repercussão negativa relevante sobre o

comportamento emocional da criança, o que agrava a hiperatividade. A vida

doméstica se torna mais difícil, os encontros não mais denotam prazer, mas

justamente o oposto, ou seja, o desprazer. A vida do casal se altera,

comprometendo também a sua relação afetiva e sexual, em particular. Os horários

das refeições tornam-se desgastantes, quando, na realidade deveriam ter clima

tranqüilo, com momentos de descontração e prazer para integrar a família. Acontece

exatamente o contrário, pois nestas horas é que os ânimos ficam acirrados, tornando

mais evidentes as cobranças e discussões. (T0PAZEWSKI, 1999). Nem sempre os

pais admitem que o filho é hiperativo. "Muitos acham que a criança é esperta demais

e, por isso, está sempre interessada em novidades". Afirma Helena Samara, diretora

da Escola Móbile, de São Paulo. "Além disso, eles acreditam que o tratamento com

medicamentos pode tirar a espontaneidade do pequeno".(ANDRADE, 2000).

É importante que uma rotina estável seja estabelecida em casa. Para diminuir

a confusão e a quantidade de estímulos diários, deve-se definir horários específicos

para comer e dormir. Fale um pouco mais alto e dê ênfase às palavras mais

importantes, que designem tempo, espaço e modo, como por exemplo: "A lição é

para amanhã".

- Seja breve e evite dar várias ordens ao mesmo tempo.

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- Não mande a criança fazer algo gritando de outro cômodo da casa. Ela não vai

atender você.

- Prepare um local de estudos adequado, com horários estabelecidos para fazer as

tarefas escolares. (T0PAZEWSKI, 1999).

É aconselhável atribuir uma tarefa pequena e rápida e insistir delicadamente

para que seja concluída, não esquecendo de agradecer e elogiar.

Fazer com que a criança participe de projetos de seu interesse contribui para sua

concentração. Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao mundo,

gradativamente, pois além de ter um desequilíbrio do sistema nervoso que

transforma em tortura o simples ato de permanecer sentado, a criança hiperativa e

inteligente entedia-se facilmente.

A importância da conclusão desse projeto oferecerá uma idéia de competência e

maior auto-estima.

É necessário que os pais também busquem terapia para adquirirem

informação e apoio, diminuindo assim o sentimento de frustração e isolamento que

atinge a família. Aconselha-se que os pais não se prendam demasiadamente ao

problema da hiperatividade da criança; faz-se necessário um descanso, ocupando-

se em outras atividades prazerosas a fim de amenizar o desgaste emocional que é

uma constante na vida familiar. om freqüência as crianças que sofrem com esse

problema são filhas de pais hiperativos que não educam de forma organizada. É

importante impor limites especiais às crianças com TDAH, principalmente porque os

medicamentos utilizados no tratamento não curam a doença, somente amenizam os

sintomas. preciso reorganizar a educação da criança

O tópico TDAH provavelmente continuará sendo o mais amplamente

pesquisado e debatido nas áreas da saúde mental e desenvolvimento da criança.

Coisas novas acontecem a cada dia. O Instituto Nacional de Saúde Mental acaba de

completar um estudo multidisciplinar de 5 anos sobre tratamento de TDAH que

proporciona uma série de respostas mais abrangentes sobre o diagnóstico,

tratamento e desenvolvimento de pessoas portadoras de TDAH. Os estudos sobre

genética molecular possivelmente cheguem a identificar o gene relacionado com

esse distúrbio. Com a crescente conscientização e compreensão da comunidade em

relação ao impacto significativo que os sintomas do TDAH têm sobre as pessoas e

suas famílias, o futuro parece ser mais promissor (GOLDSTEIN, 1998).

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CONCLUSÃO

Ao término deste Projeto podemos constatar o quanto é importante o

conhecimento sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. O

conhecimento é a melhor forma conviver, saber como agir com crianças hiperativas

e ajudá-las no seu cotidiano.

É necessário um tratamento clínico. O transtorno quando não tratado resulta

em problemas na vida de relações das crianças e adultos, devido ao

comprometimento neurológico. O tratamento deve ser administrado de acordo com o

grau da doença. Para alguns casos, ministra-se medicamentos psicoestimulantes

equilibrando-se o doente para que melhor haja um auto-controle. Há casos que é

necessário, o auxílio de uma terapia comportamental com o doente e com a família,

uma ação multidisciplinar com pais, professores, médicos e terapeutas.

Os pais devem ter um conhecimento correto do distúrbio e suas

complicações, para poder controlar o comportamento resultante do TDAH.

O papel do professor é fundamental para auxiliar no diagnóstico do TDAH,

visto que, a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso

aumentar o nível de concentração para aprender. Deste modo, é importantíssimo o

professor está bem orientado para distinguir uma criança sem limites de uma

hiperativa. O portador do TDAH, precisa ter na escola um acompanhamento

especial. É preciso aplicar uma ação didática-pedagógica direcionada para este

aluno, visando estimular sua auto-estima, levando em conta a sua falta de

concentração, criando atividades diversificadas para que não haja um

comprometimento durante sua aprendizagem. Uma ação didática-pedagógica mais

envolvente na qual seja valorizada a afetividade, percebe-se ser possível contornar

os problemas de aprendizagem e de comportamento social do hiperativo

A escola e a família trabalhando juntas com o portador de TDAH, auxiliando

no seu tratamento e na sua socialização, irá ajudar e permitir um crescimento sem

prejuízos para o portador do transtorno. O TDAH não tratado vai resultar em

problemas na vida da criança e de todos que a cercam, e levar estas dificuldades

para a vida adulta comprometendo seu desempenho social e profissional. Hoje em

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dia com o avanço das pesquisas sobre a hiperatividade, o tratamento ameniza

bastante os sintomas, proporcionando ao portador de TDAH uma vida mais

tranqüila.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo,

2000.

BARKLEY, Russell. Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade. SP: Ed

ArtMed, 2002

GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, 2000.

GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da

criança. São Paulo: Papirus, 1998.

KAPLAN, H. & SADOCK, B. Compêndio de Psiquiatria, ciências comportamentais.

Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1993

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: perguntas e respostas sobre transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos.

São Paulo, SP: Lemos Editorial, 2003

RIZZO, Gilda. Educação Pré-Escolar. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1985.

SAMARA, Helena. Trabalho com os pais. Nova Escola, São Paulo, 2000.

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas. Rio de Janeiro: Napads, 2003.

TOPAZEWSKI, Abram. Hiperatividade: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo,

1999.

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