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Por mais de três séculos, a América Latina foi submetida a intensa exploração pelos países europeus. Essa rela- ção de submissão continuada fez surgir no continente uma sociedade marcada pela injustiça e pela desigualdade social. No início do século XIX, quando o capitalismo industrial se fortalecia na Europa, os países latino-americanos co- meçaram a conquistar autonomia. A independência, contudo, não representou melhoria nas condições de vida da população mais pobre. O domínio espanhol e português simplesmente seria substituído pela tutela inglesa, o país mais industrializado do mundo naquele período. No século XX, numerosos conflitos abalaram a América Latina, que passou a conviver também com a intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos dos países da região. Longe de conquistar estabilidade social e políti- ca, diversos países latino-americanos acabaram sendo palco de ditaduras longas e violentas. 1. SOB A ÉGIDE DOS EUA Como vimos, os ingleses incentivaram o processo de independência dos países latino-americanos e, assim, garan- tiram seu domínio sobre a região. Essa hegemonia foi conseguida por meio de empréstimos aos novos governos e de investimentos diretos na produção de matérias-primas (mineração) e em bancos e serviços públicos (ilumi- nação, telégrafo, transportes etc.). Em pouco tempo, a América Latina se transformou em peça estratégica para os ingleses no jogo imperialista da época. A situação mudaria apenas com o aumento da influência dos Estados Unidos no cenário mundial. Desde o século XIX, os norte-americanos procuravam cumprir um papel de liderança entre os países do continente. Foram os primeiros a reconhecer a independência das novas nações latino-americanas e, em 1823, criaram a Doutrina Monroe, contrária a qualquer intervenção europeia no continente. Durante boa parte do século XIX, essa liderança não se traduziu em intervenção direta nos assuntos internos dos países latino-americanos. A principal exceção ocorreu em relação ao México, que teve parte de seu território anexada pelos EUA. Após o fim da Guerra de Secessão, em 1865, os EUA passaram por rápido processo de industrialização e se lança- ram à conquista de mercados consumidores e produtores de matérias-primas. Os primeiros alvos foram Cuba e Porto Rico, ainda colônias da Espanha. Nessas territórios, os norte-americanos fizeram grandes investimentos no setor açucareiro. Em 1898, declararam guerra à Espanha por causa da explosão de um encouraçado norte- americano no porto de Havana, Cuba. Vitoriosos, forçaram o governo espanhol a ceder-lhes Porto Rico e as Fili- pinas, além de reconhecer a independência de Cuba. Os espanhóis saíram de Cuba, mas ficaram as tropas norte-americanas, sob o pretexto de proteger a região da tentativa de recolonização. Os Estados Unidos deixariam a ilha apenas em 1902, com a inserção de uma emenda na Constituição cubana que preservava os interesses norte-americanos na ilha, autorizando-os inclusive a intervir militarmente no país. No início do século XX, os norte-americanos injetaram ainda mais capital na América Latina e se transformaram no segundo maior investidor da região, ficando atrás apenas da Inglaterra. Ao mesmo tempo, deram início a uma política de intervenção armada na região, com o objetivo de salvaguardar os investimentos realizados e defender os interesses do país. A política de intervenção era justificada pelo presidente Theodore Roosevelt, em 1904, com argumentos encon- trados na Doutrina Monroe: se os Estados Unidos haviam restringido a ação das potências europeias no conti- nente, tinham agora o dever de proteger e cuidar desses países. Lançando mão dessa prerrogativa, os Estados Unidos ocuparam diversas vezes Cuba, Nicarágua, Haiti e Repúbli- ca Dominicana, sem contar a intervenção na política interna do México, em 1914, e da Colômbia, em 1903. Bons Vizinhos? A partir da crise de 1929, a política dos Estados Unidos para a América Latina apresentou significativa mudança. Em 1933, Franklin Delano Roosevelt assumiu a Presidência do país. Ao mesmo tempo que colocava em prática o New Deal, plano interno de recuperação econômica, Roosevelt deu início à política da boa vizinhança com os

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Por mais de três séculos, a América Latina foi submetida a intensa exploração pelos países europeus. Essa rela-ção de submissão continuada fez surgir no continente uma sociedade marcada pela injustiça e pela desigualdade social. No início do século XIX, quando o capitalismo industrial se fortalecia na Europa, os países latino-americanos co-meçaram a conquistar autonomia. A independência, contudo, não representou melhoria nas condições de vida da população mais pobre. O domínio espanhol e português simplesmente seria substituído pela tutela inglesa, o país mais industrializado do mundo naquele período. No século XX, numerosos conflitos abalaram a América Latina, que passou a conviver também com a intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos dos países da região. Longe de conquistar estabilidade social e políti-ca, diversos países latino-americanos acabaram sendo palco de ditaduras longas e violentas. 1. SOB A ÉGIDE DOS EUA Como vimos, os ingleses incentivaram o processo de independência dos países latino-americanos e, assim, garan-tiram seu domínio sobre a região. Essa hegemonia foi conseguida por meio de empréstimos aos novos governos e de investimentos diretos na produção de matérias-primas (mineração) e em bancos e serviços públicos (ilumi-nação, telégrafo, transportes etc.). Em pouco tempo, a América Latina se transformou em peça estratégica para os ingleses no jogo imperialista da época. A situação mudaria apenas com o aumento da influência dos Estados Unidos no cenário mundial. Desde o século XIX, os norte-americanos procuravam cumprir um papel de liderança entre os países do continente. Foram os primeiros a reconhecer a independência das novas nações latino-americanas e, em 1823, criaram a Doutrina Monroe, contrária a qualquer intervenção europeia no continente. Durante boa parte do século XIX, essa liderança não se traduziu em intervenção direta nos assuntos internos dos países latino-americanos. A principal exceção ocorreu em relação ao México, que teve parte de seu território anexada pelos EUA. Após o fim da Guerra de Secessão, em 1865, os EUA passaram por rápido processo de industrialização e se lança-ram à conquista de mercados consumidores e produtores de matérias-primas. Os primeiros alvos foram Cuba e Porto Rico, ainda colônias da Espanha. Nessas territórios, os norte-americanos fizeram grandes investimentos no setor açucareiro. Em 1898, declararam guerra à Espanha por causa da explosão de um encouraçado norte-americano no porto de Havana, Cuba. Vitoriosos, forçaram o governo espanhol a ceder-lhes Porto Rico e as Fili-pinas, além de reconhecer a independência de Cuba. Os espanhóis saíram de Cuba, mas ficaram as tropas norte-americanas, sob o pretexto de proteger a região da tentativa de recolonização. Os Estados Unidos deixariam a ilha apenas em 1902, com a inserção de uma emenda na Constituição cubana que preservava os interesses norte-americanos na ilha, autorizando-os inclusive a intervir militarmente no país. No início do século XX, os norte-americanos injetaram ainda mais capital na América Latina e se transformaram no segundo maior investidor da região, ficando atrás apenas da Inglaterra. Ao mesmo tempo, deram início a uma política de intervenção armada na região, com o objetivo de salvaguardar os investimentos realizados e defender os interesses do país. A política de intervenção era justificada pelo presidente Theodore Roosevelt, em 1904, com argumentos encon-trados na Doutrina Monroe: se os Estados Unidos haviam restringido a ação das potências europeias no conti-nente, tinham agora o dever de proteger e cuidar desses países. Lançando mão dessa prerrogativa, os Estados Unidos ocuparam diversas vezes Cuba, Nicarágua, Haiti e Repúbli-ca Dominicana, sem contar a intervenção na política interna do México, em 1914, e da Colômbia, em 1903. Bons Vizinhos? A partir da crise de 1929, a política dos Estados Unidos para a América Latina apresentou significativa mudança. Em 1933, Franklin Delano Roosevelt assumiu a Presidência do país. Ao mesmo tempo que colocava em prática o New Deal, plano interno de recuperação econômica, Roosevelt deu início à política da boa vizinhança com os

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países latino-americanos. A partir de 1934, os EUA revogaram a tutela sobre Cuba, além de encerrar a ocupação do Haiti e renunciar ao controle das alfândegas da República Dominicana. Essa política se justificava para atrair a simpatia dos países da América Latina, que na época recebiam ofertas econômicas da Alemanha nazista, em busca de novos aliados. Nesse contexto, os EUA aceitaram projetos nacio-nalistas, como a desapropriação das empresas petrolíferas no México e a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, financiada pelos próprios norte-americanos. 2. O POPULISMO ENTRA EM CENA Em vários países da América Latina, a primeira metade do século XX foi marcada por processos de industrializa-ção e urbanização, como ocorreu no Brasil, no México e na Argentina. O crescimento das indústrias e das cidades acabou enfraquecendo o poder dos antigos grupos oligárquicos, ligados à produção agrícola e até então no con-trole do Estado. O fenômeno abriu caminho para uma nova prática política, o populismo. Os líderes populistas que surgiam (Ge-túlio Vargas, no Brasil; Lázaro Cárdenas, no México; e Juan Domingo Perón, na Argentina) direcionavam seu dis-curso e suas ações às populações urbanas. Prometiam a realização de amplas reformas econômicas de cunho nacionalista, rápido desenvolvimento industrial e diminuição dos conflitos sociais. Na prática, porém, o populismo mostrou-se incapaz de resolver os problemas estruturais da sociedade. Ao fim de alguns anos, as políticas econômicas desses governos davam sinais de ineficiência. O aumento excessivo dos gastos públicos, provocando déficits elevados e alta da inflação, também foi responsável pelo aprofundamento da crise nesses países. Argentina: um caso especial Juan Domingo Perón foi um dos mais importantes líderes políticos da América Latina. Em 1943, depois de partici-par de um golpe militar, assumiu a secretaria do Trabalho e Previdência do governo argentino. Ao adotar uma política de benefícios sociais, conquistou o apoio popular e se elegeu presidente em 1946. No governo, Perón implementou um programa social denominado justicialismo. Segundo ele mesmo, tratava-se de uma alternativa ao capitalismo e ao comunismo. Perón procurou fortalecer também os órgãos de repressão política, combateu os sindicatos livres, concedeu aumento de salários e amplos benefícios sociais aos trabalhadores, estimulou a industrialização e nacionalizou empresas estrangeiras. No início, o governo peronista gozava de uma situação econômica confortável, decorrente das exportações de carnes e de cereais para os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial. A partir de 1949, porém, os preços desses produtos caíram no mercado internacional. Logo a crise atingiu o país, com a diminuição das atividades produtivas, desemprego e alta da inflação. Não demorou para que surgissem manifestações de descontenta-mento. Em resposta aos protestos, o governo partiu para a repressão dos manifestantes. Em 1955, no auge das tensões, Perón foi deposto por um golpe militar. O líder justicialista passou então a viver no exílio, só que, mesmo estando distante, conseguiu manter alto índice de popularidade. Em 1973, foi novamen-te eleito presidente da Argentina, mas morreu no ano seguinte. 3. SOB O SIGNO DA GUERRA FRIA Nos anos 1950, a guerra fria provocou o acirramento da tensão em várias regiões do mundo. Na América Latina, chegaria ao clímax a partir de 1959, com a vitória dos revolucionários cubanos e com o estabelecimento do pri-meiro governo socialista no continente. Os Estados Unidos comandam Assim que terminou a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos procuraram garantir o apoio dos países ame-ricanos à sua política anticomunista. O primeiro passo nessa direção foi o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), assinado no Rio de Janeiro em 1947. O acordo previa que todo ataque ao território ou à sobera-nia de qualquer um dos países americanos seria revidado pelas forças conjuntas do continente. Em 1948, na IX Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, os Estados Unidos lançaram as bases da Orga-nização dos Estados Americanos (OEA). O órgão procurava vincular ainda mais os países do continente à política norte-americana. No ano seguinte, foi criado o programa de ajuda econômica à América Latina, conhecido como Ponto Quatro, uma variante do Plano Marshall . Esse acontecimento colocou os EUA em alerta. Afinal, a revolução socialista podia se espalhar para outros países e colocar em xeque o domínio norte-americano no continente. Por isso, além de combater o regime liderado por Fidel Castro, os norte-americanos tentaram evitar que o modelo cubano se repetisse em outras regiões da Amé-

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rica. Para conter o avanço socialista, em 1961 o presidente norte-americano John Kennedy anunciou um programa de auxilio à América Latina: a Aliança para o Progresso. Com ele, os EUA se dispunham a conceder ajuda econômica aos governos comprometidos com um programa de reforma social que pudesse servir de alternativa ao comu-nismo. Mas a Aliança para o Progresso foi abandonada logo depois do assassinato de Kennedy, em 1963. Em seu lugar, montou-se nova estratégia, a teoria da contra insurgência. Segundo essa teoria, era preciso treinar os militares latino-americanos e prepará-los para enfrentar as guerrilhas, técnica de guerra empregada pelos cubanos que se popularizou entre os militantes de esquerda em várias regiões da América. Para o treinamento desses militares, criou-se no Panamá a Escola das Américas. Pouco depois, com os EUA envolvidos na Guerra do Vietnã, surgiu uma estratégia complementar para combater o avanço do comunismo: a Doutrina de Segurança Nacional. De acordo com as diretrizes da doutrina, caberia aos militares latino-americanos a tarefa de combater os comu-nistas, os partidos de esquerda e as lideranças sindicais. Ao mesmo tempo, os militares deveriam buscar o de-senvolvimento econômico de seus países. Essa política resultou em vários golpes de Estado e na implantação de regimes militares em diversos países latino-americanos. O primeiro deles ocorreu no Brasil, em 1964. A seguir, seria a vez da Bolívia (1964), do Uruguai (1972), do Chile (1973) e da Argentina (1976). 4. INSATISFAÇÃO E REVOLTA O século XX na América Latina não foi marcado somente pela intervenção norte-americana. A pobreza gerada por séculos de exploração colonial e preservada pelas políticas imperialistas da Inglaterra e dos Estados Unidos acabou provocando numerosas revoltas populares. México, Nicarágua e Chile são apenas alguns exemplos de países onde surgiram esses movimentos, cuja luta pregava uma nova ordem social no continente. A Revolução Mexicana Após a independência do México, em 1821, a história do país se caracterizou pela violência das lutas políticas. Esse período conturbado só terminou com a ascensão ao poder do general Porfírio Díaz, em 1876. Porfírio procurou modernizar o país, implantando estradas de ferro e redes bancárias e aumentando as exporta-ções. Sua política, entretanto, teve alto custo social. As terras públicas, utilizadas por comunidades de campone-ses, foram transferidas para particulares, o que ampliou a concentração de terras: 97% das propriedades produti-vas do país ficaram nas mãos de apenas 1% da população. Além disso, cerca de 11 milhões de pessoas, numa popu-lação de 15 milhões em 1910, eram analfabetas, e pelo menos 90% viviam em estado de pobreza absoluta. Contra esse quadro alarmante, começou a ganhar força um movimento político que reunia diversas tendências, sob a liderança de Francisco Madero. Pancho Villa e Zapata Porfírio Díaz foi reeleito em 1910. Em resposta, o grupo liderado por Madero colocou-se à frente de uma revolta popular, propondo o afastamento do presidente e um programa de mudanças sociais que incluía a reforma agrá-ria. A revolução se espalhou pelo país, enquanto Porfírio fugia do México. Madero assumiu o poder e, em 1911, foi eleito presidente. Entretanto, a revolução entrou num processo de radi-calização que o presidente não conseguiu controlar. Madero acabou sendo assassinado, em 1913, pelo general Victoriano Huerta, que assumiu o poder. No ano seguinte, Huerta foi substituído por Venustiano Carranza. Enquanto isso, líderes revolucionários, como Emiliano Zapata e Pancho Villa, comandavam no interior do país exércitos populares, formados basicamente por camponeses. Eles tinham sob seu controle boa parte do país. Os revoltosos confiscavam as grandes propriedades e as entregavam aos camponeses. Sob forte pressão, Carranza promulgou, em 1917, uma nova Constituição, que legitimava as conquistas da revolu-ção: limitava drasticamente a influência da Igreja, nacionalizava os recursos do subsolo, instituía avançada legis-lação trabalhista e dava ao governo o poder de confiscar terras para redistribuir aos camponeses. O processo revolucionário durou mais alguns anos, embora com menor vigor. Em 1929, foi criado o Partido Revo-lucionário Nacional, rebatizado mais tarde de Partido Revolucionário Institucional (PRI), que passou a monopoli-zar a vida política mexicana. Em 1934, com a revolução encerrada, o general Lázaro Cárdenas assumiu a Presidência do México. Como primei-ras medidas, aprofundou a reforma agrária e nacionalizou as empresas estrangeiras de petróleo. Seus sucessores deram início a uma política de conciliação com os Estados Unidos e com a elite conservadora do país. O poder do PRI no México durou até o ano 2000, quando o candidato do Partido da Ação Nacional (PAN), Vicen-te Fox, antigo executivo de uma grande multinacional norte-americana, ganhou as eleições para presidente. Revolução na Nicarágua

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No final dos anos 1970, com o apoio dos militares, a fami1ia Somoza governava a Nicarágua como se o país fosse uma propriedade particular. Os Somoza controlavam a região desde 1936. Mas agora os tempos eram outros, e uma verdadeira insurreição estava em curso. Pelo interior do país, havia vários grupos guerrilheiros organizados na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Suas táticas de guerra levaram a FSLN a vencer as forças do governo e depor o presidente em 1979. Em seu lugar, instituiu-se uma junta comandada pelos sandinistas. As primeiras medidas tomadas pelo novo governo incluíram o confisco dos bens da família Somoza e o controle de importantes áreas da economia pelo Estado. Em seguida, foram ampliadas as medidas de caráter socialista. Os opositores, denominados contras, com o apoio dos EUA, organizaram um grupo armado para combater o governo sandinista. Em meio aos conflitos, a economia nicaraguense entrou em colapso, minando o apoio popular ao regime. Em 1990, a oposição venceu a eleição presidencial. O episódio pôs fim à tentativa de estabelecer um governo socia-lista na Nicarágua. Chile: entre o socialismo e a ditadura Em 1970, um acontecimento importante daria novo rumo à vida política chilena: a eleição do presidente Salvador Allende. Candidato pela Unidade Popular (uma aliança de partidos de esquerda), Allende prometia mudanças na organização social do país. Ao assumir o poder, o presidente iniciou um programa de reformas: nacionalizou as minas de cobre e as telecomunicações, até então exploradas por empresas norte-americanas, e a reforma agrá-ria. Empresários nacionais e estrangeiros, sentindo-se prejudicados, começaram a reduzir os investimentos no Chile. Em consequência, houve acentuada queda da produção, desabastecimento e aumento da inflação. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos, adversários históricos do socialismo, passaram a apoiar financeiramente os movimen-tos de oposição ao governo. A crise abriu caminho para que as Forças Armadas chilenas, sob o comando do general Augusto Pinochet e apoi-adas pelos Estados Unidos, dessem um golpe de Estado no dia 11 de setembro de 1973. Salvador Allende foi mor-to durante o golpe. A era Allende foi seguida pela ditadura de Pinochet, que se estenderia até 1988. Paralelamente aos desmandos e perseguições políticas que resultaram em milhares de vítimas, o novo presidente aplicou um programa de refor-mas econômicas, favorecendo a integração do Chile na economia mundial. No fim da década de 1980, Pinochet deixou o governo e se tornou senador vitalício. Em 1998, durante uma via-gem a Londres, foi preso a pedido do governo espanhol, que pretendia julgá-lo por crimes cometidos contra ci-dadãos espanhóis durante a ditadura. Meses depois, acabou sendo solto, porque a Justiça inglesa o considerou fisicamente incapaz de suportar um julgamento. De volta a seu país, Pinochet perdeu a imunidade política, o que viabilizou a abertura de outros processos contra ele. Em 2000, assumiu a Presidência do Chile Ricardo Lagos, ex-integrante do governo de Salvador Allende. Sua elei-ção significou o retorno dos socialistas ao governo do país.