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TEMPLATE CADERNO DE ATIVIDADES - 2015/1 Como citar esse material: CARVALHO , Rafael Virgilio de . História Antiga: Grécia: Da Formação do Povo Grego ao Helenismo . Caderno de Atividades . Valinhos: Anhanguera Educacional , 2015. François Hartog (2005) descreve a História como disciplina que se preocupa com a interpretação do presente através da construção e apropriação das memórias do passado. Para a cultura ocidental, o estudo do mundo grego antigo é o grande manancial de memórias na qual o homem moderno encontra sua origem. Foi na Antiguidade Grega que, pela primeira vez, a sociedade foi racionalizada para criar uma organização política chamada pólis. Todavia, a “aventura grega”, como diria Pierre Lévêque (1964), é muito mais ampla que isso. Sua história é, na verdade, a narrativa de como o ser humano conseguiu reinventar a si mesmo, modificando a sociedade em que vive. Assim, você está convidado a acompanhar nas próximas linhas o despontar da civilização Grega, bem como o seu esplendor

Historia Antiga Tema 3

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CADERNO DE ATIVIDADES - 2015/1

Como citar esse material:

CARVALHO, Rafael Virgilio de. História Antiga: Grécia: Da Formação

do Povo Grego ao Helenismo. Caderno de Atividades. Valinhos:

Anhanguera Educacional, 2015.

François Hartog (2005) descreve a História como disciplina que se

preocupa com a interpretação do presente através da construção e

apropriação das memórias do passado. Para a cultura ocidental, o estudo do

mundo grego antigo é o grande manancial de memórias na qual o homem

moderno encontra sua origem.

Foi na Antiguidade Grega que, pela primeira vez, a sociedade foi

racionalizada para criar uma organização política chamada pólis. Todavia, a

“aventura grega”, como diria Pierre Lévêque (1964), é muito mais ampla

que isso. Sua história é, na verdade, a narrativa de como o ser humano

conseguiu reinventar a si mesmo, modificando a sociedade em que vive.

Assim, você está convidado a acompanhar nas próximas linhas o

despontar da civilização Grega, bem como o seu esplendor clássico e a sua

difusão helenística. Ao final dessa empreitada você estará apto para

compreender como a história do mundo grego antigo é na atualidade

memória da transformação do ser humano e do mundo em que vive.

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Grécia: Da Formação do Povo Grego ao Helenismo

Geograficamente, a Grécia

Antiga não se limitava apenas ao

território da península , ao qual está

localizada nos dias de hoje.

Estendia-se pelo litoral e ilhas dos

mares Egeu e Mediterrâneo.

Abrangia também terras do sul da

Itália (Magna Grécia) e sudeste da

França, bem como a costa da Líbia e

do mar Negro. Inclusive, na Era Helenística, o Mundo Grego foi para além

dos confins do poderoso Império Persa, alcançando às margens do rio Indo.

Todavia, tal amplitude ocorreu em diferentes períodos, durante

aproximadamente dois mil anos. Assim, podemos falar de uma civilização

Grega propriamente dita somente a partir de 1200 a 1100 a. C.. Quando um

povo de origem indo-europeia – os dórios – invadiu a Hélade e conquistou

o Peloponeso, algumas ilhas do mar Egeu e a costa ocidental da Ásia Menor

(Jônia).

Antes da chegada dos dórios, entretanto, haviam existido outras duas

grandes civilizações: a Cretense, centralizada na cidade de Cnossos na ilha

de Creta, e a Micênica, estabelecida no nordeste do Peloponeso. A cultura

helênica foi herdeira direta desses dois povos. A mais recente, Micenas,

influenciou decisivamente a espiritualidade grega no decorrer de toda a sua

história.

Regiões do Mundo Grego Antigo

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O Período Creto-Micênico

Também chamado de Idade do Bronze devido ao uso intensivo que

cretenses e micênios fizeram dessa liga metálica, teve inicio em

aproximadamente 3000 a. C., quando nasceu a cultura minóica, e terminou

em 1200 a. C., quando Micenas entrou em decadência.

Sediada no Palácio de Cnossos, a política cretense (minóica) era

formada por uma monarquia cujo primórdio estava ligado ao lendário rei

Minos. Apoiada por ricos comerciantes, Creta era o centro de um domínio

marítimo comercial (talassocracia) que se estendia por todo o mar Egeu. A

influência cretense nessa região é atestada pelos artefatos de cerâmica

encontrados em diversas ilhas e regiões litorâneas (AMOURETTI; RUZÉ,

1993, p. 46).

O desenvolvimento cultural minóico se deu em conjunto com o uso da

escrita conhecida como linear A, mas que ainda não foi decifrada pelos

estudiosos (FINLEY, 1990, p. 41). No entanto, a cultura micênica passou a

predominar sobre a minóica após 1400 a. C., influenciando todos os povos

do Mar Egeu até em torno de 1200 a. C..

No prelúdio da história

micênica (2000 a. C.) estão às

primeiras incursões dos indo-

europeus – os aqueus. A partir

de 1600 a. C., posteriormente à

conquista da população nativa

da península denominada

pelasgos e sob a influência

cretense, os aqueus edificaram

algumas cidades entre as quais

Micenas se destacou.

Nessa conjuntura, mais

dois povos indo-europeus se somaram aos aqueus – os jônios e os eólios.

Absorvendo inúmeras técnicas agrícolas, navais e militares de Creta,

Micenas se lançou à atividade comercial e à pirataria. A grande força militar

micênica levou a cidade a estabelecer relações com a costa da Ásia Menor e

do Mar Negro. Foi quando, talvez, tenha entrado em conflito com Tróia, já

Localizações de Micenas e Cnossos

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que há evidências de sua destruição em torno de 1200 a. C. (FINLEY, 1975,

p. 37-54).

Além de chefe militar, a economia e a política eram controladas pelo

monarca, como contam os registros palacianos da escrita linear B. Esses

registros confirmam também que o rei estava associado a uma classe

sacerdotal que controlavam os cultos, dos quais a maior parte eram

endereçadas a divindades femininas (VERNANT, 2002, p. 29-30). Mantendo

assim a crença religiosa nas grandes mães da civilização cretense.

Por volta de 1100 a. C., enquanto Micenas se expandia para a Ásia

Menor, os dórios penetraram no Peloponeso, deixando a cidade em ruínas.

Devido à violência da conquista, a população se dispersou pelo

Mediterrâneo e, principalmente, pela costa da Ásia Menor. Fato conhecido

como Primeira Diáspora Grega.

O Período Homérico

A época que se seguiu ao fim

da civilização Micênica, e que se

situa entre 1200 a.C. e 800 a.C.,

também pode ser chamada de

“Idade Obscura”. Este nome refere-

se à escassez de fontes que

atrapalha enormemente o

conhecimento do período. A

dificuldade deve-se à abrupta queda

na produção da cerâmica e ao

abandono da escrita linear B. Ambas foram consequências diretas da

decadência de Micenas.

No entanto, sua história pode ser desvelada pela leitura dos poemas

de Homero – a Ilíada e a Odisseia. O estudo arqueológico que remete à

época obscura, por mais difícil que seja, esclarece boa parte da

ambiguidade atestada pelas duas obras. Moses Finley (1988, p. 10-11)

afirma que apesar de narrarem epicamente a sociedade micênica,

descrevem uma organização social diferente da monarquia que a

Migrações dos povos gregos durante a Idade Obscura

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caracterizou. Na verdade, a descrição das relações entre os guerreiros

gregos faz alusão a um já adiantado desenvolvimento do sistema gentílico.

O genos era a base social grega que durou aproximadamente

quatrocentos anos (1200-800 a. C.). Sua estrutura era composta por uma

ampla família (oikos) chefiada pelo membro mais velho. Poder que era

determinado pela tradição e baseava-se no controle da ritualidade dos

cultos aos antepassados e deuses protetores. Isso justificava o acesso à

propriedade coletiva da terra e dos instrumentos de trabalho.

A economia era agropastoril, com excepcionais necessidades voltadas

para o trabalho de artesãos e artífices. Toda a aquisição de riquezas,

incluindo os escravos, era realizada por meio de guerras, pirataria, espólios

e saques (FINLEY, 1988, p. 49-70). A diferenciação social dependia do grau

de parentesco com o chefe do genos.

O contexto econômico tratado na Ilíada e na Odisseia diz respeito ao

que despontou com a desintegração do sistema gentílico. A importância da

navegação nos dois épicos é patente, tanto na esfera militar quanto na

comercial. O que indica quão já estava próxima da expansão marítima

grega pelo Mediterrâneo iniciada no século VIII a. C..

Isso foi consequência da mudança estrutural por qual passou o genos

a partir de 900 a. C.. Quando os membros mais próximos dos chefes das

famílias começaram a se diferenciar social e economicamente do restante

do grupo. Assim, apareceu uma aristocracia guerreira e uma ampla camada

de pequenos camponeses marginalizados.

O Período Arcaico

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Abrangendo os anos de 800 a 500 a. C., essa foi uma época marcada

por imensa crise socioeconômica. A miséria assolou os pequenos

camponeses por causa da infertilidade do solo. O que os levou a serem

despojados de suas propriedades e

a se escravizarem em troca do

pagamento de dívidas. Ao mesmo

tempo, o crescimento populacional

tornou escasso os alimentos e

prejudicou ainda mais a

sobrevivência da maioria.

A concentração fundiária,

agravada com a desintegração do sistema gentílico, a partir de 700 a. C.

impeliu muitas pessoas para pequenos povoados onde passaram a trabalhar

como artesãos. Dessa maneira, a fabricação de cerâmica e a metalurgia

voltaram a ser relativamente numerosas na Grécia, especialmente com o

avanço das técnicas de produção. Todavia, mesmo com o desenvolvimento

comercial que se seguiu, não houve melhoria no desequilíbrio social entre

ricos e pobres.

Pierre Cabanes (2000) diz que em resposta à grave crise agrária os

gregos começaram a buscar terras cultiváveis em outras regiões. Do século

VIII ao VI a. C., várias cidades fundaram colônias em inúmeros locais do

litoral dos mares Mediterrâneo e Negro. Momento que se costuma chamar

de Segunda Diáspora Grega. Muitas vezes os recursos para a excursão eram

fornecidos pelos próprios governos. A intensão era reduzir o número de

habitantes insatisfeitos com a situação social e econômica das cidades.

A expansão territorial helênica desse período não só beneficiou

grandes e pequenos proprietários de terra. Aumentou o cultivo da vinha e

da oliveira, e consequentemente da exportação de vinho e azeite. Os

artesãos também foram favorecidos à medida que houve maior demanda

pela cerâmica, tecelagem, metalurgia e construção naval grega. Todo esse

desenvolvimento econômico que se seguiu à crise foi facilitado pela difusão

do uso da moeda (MOSSÉ, 1995, p. 52-54).

Desde 800 a. C., nos povoados dominados pela aristocracia que se

reuniam em volta das antigas fortificações micênicas, despontaram a praça

Territórios e colônias gregas do período Arcaico.

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do mercado (Ágora) e, normalmente em um elevado, o centro religioso em

que os templos eram edificados (Acrópole). Essa conformação urbana

emergiu em meio a conflitos sociais (VERNANT, 2002, p. 50-51). O que

proporcionou um espaço no qual ricos e pobres poderiam debater

publicamente seus interesses.

Segundo Jean-Pierre Vernant (2002, p. 73-79), foi na cidade arcaica

que, na virada do século VII para o VI a. C., alguns homens se destacaram

em meio aos divergentes grupos sociais e conduziram os gregos para uma

situação de eunomia. Também conhecidos como legisladores, ou sábios,

eles foram os canalizadores de uma revolução política e religiosa que

insuflou um novo espírito à moral grega. Quase todos eram membros de

setores progressistas da aristocracia e exatamente por isso conseguiram

balancear suas ações políticas entre os dois polos.

Como exemplo podemos citar Licurgo, que reorganizou o governo e

criou leis para a cidade de Esparta. Ou, Periandro, que desenvolveu o

comércio marítimo de Corinto e transformou a cidade em importante centro

cultural da Grécia. Além do poeta Sólon, que estabeleceu a isonomia em

Atenas instituindo a participação política aos artesãos e pequenos

camponeses. De modo geral, eles criaram meios através dos quais os

valores tradicionais da aristocracia, ligados ao monopólio político e religioso

dos antigos genos, puderam ser compartilhados por toda a comunidade.

Ao final do período Arcaico apareceu em diversas cidades gregas a

figura do tirano. Luciano Canfora (1995, p. 141-145) conta como,

concentrando o poder em suas mãos, eles acabaram com a dominação

aristocrática e reequilibraram a situação social. Os tiranos representavam

os novos proprietários de terra e comerciantes que haviam prosperado com

o desenvolvimento econômico. Como foi o caso de Pisistrato em Atenas, que

de 546-527 a. C. ampliou as reformas de Sólon perdoando dívidas e

melhorando a distribuição fundiária.

Porém, o poder irrestrito que gozavam significava constante ameaça

política. Isso levou à constituição das mais diferentes formas de governo

pelo mundo grego: como a diarquia oligárquica de Esparta e a democracia

de Atenas. Mesmo com essas diferenciações políticas, ao final do século VI

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a. C., houve em cada cidade um movimento geral que fundiu toda

população em uma só unidade política chamada pólis.

Período Clássico

A pólis foi o espaço público

que caracterizou o período Clássico

(séculos V e IV a. C.). Nela todos os

seus membros compartilhavam uma

mesma identidade – a cidadania.

Todos os mitos e ritos eram

propriedade do corpo cívico

(demos). A cidadania estava

vinculada à esfera cultural, e não

propriamente ao território. A

bagagem cultural era o elo que ligava os indivíduos à ancestralidade do

demos. Para ser cidadão não bastava nascer dentro das fronteiras da

cidade, mas ser filho de pais que já detinham cidadania.

Oswyn Murray (1995, p. 269-278) fala que a religião da pólis

confiscou os antigos sacerdócios aristocráticos e os adaptou às

necessidades da comunidade. Assim, o fortalecimento da identidade política

acontecia durante as festividades religiosas. Mulheres, escravos e

estrangeiros, mesmo não tendo cidadania, podiam participar da vida pública

através de alguns ritos. As divindades protegiam, portanto, toda a

sociedade e os seus cultos converteram-se em dever cívico. O exercício da

cidadania ocorria tanto nos templos, onde se fazia oferenda aos deuses,

quanto na Ágora, na qual os debates políticos se sucediam.

O poder também era partilhado à medida que as leis exigiam

prestação de contas entre os cidadãos. A justiça se tornou objeto de

manipulação e de discussão técnica. Desse modo, a palavra se transformou

em instrumento político e a escrita em seu meio de efetivação. O caráter

ordenador da natureza (physis) ganhou relevo e passou a ser sinônimo de

lei (nomos). O que significava que a pólis era o âmbito em que o homem

poderia realizar sua capacidade ordenadora através do uso da palavra.

Os demoi de Atenas e do Pireu na península Ática.

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Essa capacidade imanente à razão erigiu o cosmo da pólis. Nessa

direção, a importância da produção artesanal, do comércio e da oratória,

criou um ambiente de valorização da técnica (MOSSÉ, 1995, p. 50). Era por

meio dela que todo cidadão desempenhava uma função política. A pólis se

caracterizava, portanto, como um organismo vivo, no qual os cidadãos

ocupavam seus respectivos papeis no quadro geral da sociedade.

As duas pólis mais conhecidas eram

Esparta e Atenas. Na primeira, toda

a organização política servia à

manutenção do poder oligárquico

fundado numa rígida aristocracia

militar. Já na segunda, pautado em

uma organização territorial

igualitária, a participação nas

instituições políticas democráticas

era aberta a todos os cidadãos sem nenhuma restrição econômica ou social.

Em Esparta, por exemplo, haviam três camadas sociais: os

esparciatas, que eram os únicos que gozavam de direitos políticos e

recebiam ríspida educação militar; os periecos, que apesar de terem boas

condições materiais e a proteção das leis, não tinham participação política;

e os hilotas, que eram escravos e compunham a imensa maioria da

população, vivendo em condições miseráveis e sem o amparo das leis. Os

esparciatas, no entanto, somente desfrutavam de sua cidadania após o

término da educação militar, na qual os homens permaneciam dos sete aos

trinta anos da idade.

O regime político oligárquico era composto por uma diarquia, cujos

reis eram respectivamente os chefes militar e religioso da cidade. A Gerúsia

exercia o poder legislativo que, durante o período Clássico, acabou

monopolizando o poder supremo. Ela era composta por vinte e oito gerontes

vitalícios, escolhidos entre os cidadãos com mais de sessenta anos. Todos

os cidadãos participavam da Ápela, ou seja, da assembleia responsável por

rejeitar ou aprovar as leis. O poder executivo ficava a cargo dos éforos que,

com mandatos de um ano, tinham a função de fiscalizar o andamento

político de Esparta.

Território de esparta (Lacônia).

Page 10: Historia Antiga Tema 3

A península Ática, onde ficava Atenas, era dividida em dez demos que

abrigavam cidadãos do litoral, da cidade e do interior. Cada demos tinha

representantes dessas três regiões de modo que a identidade familiar fosse

suplantada pela do corpo cívico. Assim, as únicas diferenciações sociais que

se mantiveram foram entre os cidadãos (polites) e os estrangeiros

(metecos) e escravos (doulos). A democracia ateniense, portanto, era

composta por instituições preenchidas pelos dez demos, que perfaziam os

três poderes da pólis.

O poder legislativo era confiada a Bulé, conselho onde cinquenta

membros de cada demos governavam por um mês, e a Eclésia, assembleia

que se reunia uma vez por mês para votar os projetos da Bulé. Existiam

doze tribunais chamados Heliae, onde 600 homens ministravam a justiça

em cada um deles. A justiça maior ficava a cargo do Areópago, tribunal

composto pelos antigos arcontes da cidade. O Arconcado era o poder

executivo confiado a dez arcontes que eram eleitos pela Bulé com

mandatos de um ano, os quais poderiam ser reeleitos.

Jean-Pierre Vernant (2002, p. 53 e 143) acredita que a pólis clássica

foi o ápice da criatividade grega. Seu universo cultural, principalmente na

democrática Atenas, trouxe ao mundo um novo espírito que permitiu ao

homem conhecer a si mesmo. A revolução moral orientada por

preocupações políticas criou um peculiar gênio humano – o filósofo.

Transformada em técnica de si (FOUCAULT, 2006), a filosofia concretizou a

razão grega, refletida e metódica, permitindo ao homem não apenas agir

sobre si mesmo ou sobre outros, mas se realizar totalmente explorando sua

própria natureza. Entretanto, até fins do século IV a. C. esse espírito ficaria

ainda restrito aos limites da pólis, sendo marcado pelas Guerras Médicas e

Guerra do Peloponeso.

As Guerras Médicas

No inicio do século V a. C., a

Grécia sofreu investidas do Império

Persa. As cidades gregas do litoral

da Ásia Menor foram forçadas a

pagar impostos ao rei Dario I. Este

Guerras Médicas. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_M

%C3%A9dicas#mediaviewer/File:Map_Greco-Persian_Wars-pt.svg).

Page 11: Historia Antiga Tema 3

já ocupava territórios da Líbia, do Egito, da Trácia e da Macedônia. Dessa

forma, controlava o fornecimento de trigo e dificultava o abastecimento das

cidades helênicas (SOUZA, 1988, p. 49-52).

Em 492 a. C., os persas atravessaram o mar Egeu com um

contingente de 50 mil soldados. No entanto, em 490 a. C., foram derrotados

por 10 mil atenienses na planície de Maratona. Xerxes, filho de Dario I, em

480 a. C. atacou então o norte da Grécia sendo atraído ao desfiladeiro das

Termópilas. O rei espartano, Leônidas, reuniu 300 de seus homens para

resistir o maior tempo possível ao avanço do inimigo. Enquanto isso, a

esquadra ateniense saia vitoriosa da batalha de Salamina.

Em 479 a. C., um enorme exército persa marchou sobre a planície de

Platéia. Atenas, então, se aliara a Esparta, Corinto e Mégara, para conseguir

fazer frente às forças do rei Xerxes. A vitória que parecia improvável, veio

quando 43 mil soldados, dos mais de 300 mil que saíram da Pérsia,

sucumbiram sob as armas gregas. Ainda no mesmo ano, após outro triunfo

na batalha de Micale, os gregos libertaram as cidades do litoral da Ásia

Menor e os estreitos de Bósforo e Dardanelos.

Para garantir a proteção das cidades gregas do mar Egeu e da Ásia

Menor, em 477 a. C., Atenas organizou uma confederação de poleis sob sua

liderança. Denominada Liga de Delos, suas cidades tinham que contribuir

com soldados, navios e dinheiro, que seriam administrados pelo famoso

templo da ilha de Delos. Assim, após libertar definitivamente as cidades que

haviam sucumbido ao Império Persa, em 448 a. C., foi assinado o Tratado de

Susa que pôs fim ao conflito (ARRUDA, 1991, p. 155-158).

Entretanto, mesmo com a vitória helênica, os atenienses continuaram

exercendo poder sobre a confederação. Não permitiam que qualquer cidade

abandonasse a liga. O símbolo dessa dominação foi a transferência da sede

do tesouro para Atenas, em 454 a.C.. Aproveitando-se dos recursos

extorquidos, a cidade desfrutou de seu período de maior esplendor

realizando obras públicas, melhorias sociais e alcançando fantástico

desenvolvimento cultural.

A Guerra do Peloponeso

Page 12: Historia Antiga Tema 3

A hegemonia ateniense no

mar Egeu aguçou a rivalidade com

Esparta. As relações atenienses com

as colônias de outras cidades

provocaram uma insatisfação geral

na Hélade (SOUZA, 1988, p.63-67).

A intervenção de Atenas em Córcira,

colônia de Corinto, foi a motivação

que seus inimigos precisavam para

invadir a Ática.

Esparta se aliou a Corinto, Tebas e Mégara, e em 431 a. C. derrotou

Plateia, membro da Liga de Delos. Inicialmente, o estadista Péricles

convenceu os atenienses a se refugiar dentro das muralhas da cidade. O

que evitaria o confronto por terra e obrigaria Esparta a lutar pelo mar. Tal

estratégia dava vantagem a Atenas já que sua frota era bem maior que a

espartana. Todavia, em 430 a. C., uma epidemia matou cerca de um terço

da população que estava sitiada em Atenas. Este episódio acabou, inclusive,

vitimando Péricles que, até ali, havia conduzido a tática militar ateniense.

Após anos de conflito, em 422 a. C., as duas principais cidades saíram

muito desgastadas da batalha de Anfípólis. Por isso, no ano seguinte, ambas

assinaram o Tratado de Nícias que garantiria paz durante cinquenta anos.

Porém, em 412 a. C., Atenas tentou tomar Siracusa, aliada de Corinto.

Antecedendo ao ataque ateniense Esparta conseguiu proteger a cidade

siciliana. Apesar dessa derrota, os atenienses conseguiram importantes

vitórias, principalmente em 406 a. C. na batalha de Arginusas.

No ano seguinte, contudo, apoiados pelos persas, os espartanos

venceram definitivamente os atenienses em Egospótamos. Depois de

destruir os longos muros que protegiam Atenas, Esparta apoiou a instalação

de um regime oligárquico que enfraqueceu ainda mais a política ateniense.

Tal governo ficou conhecido como a “Tirania dos Trinta” (ARRUDA, 1991, p.

159-162).

O Período Helenístico

Império Ateniense em 431 a. C.. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas_Antiga#

mediaviewer/File:Map_athenian_empire_431_BC-pt.svg).

Page 13: Historia Antiga Tema 3

Os anos que se seguiram à Guerra do Peloponeso, de 403 a 362 a. C.,

foram marcados pela hegemonia de Esparta e pela posterior supremacia de

Tebas. O longo período de guerras enfraqueceu todas as cidades gregas.

Felipe II, rei da Macedônia, em 338 a. C., pôde então conquistar a Grécia na

batalha de Queronéia. Tal feito lhe rendeu o título de líder máximo dos

helenos (MOSSÉ, 2004, p. 24).

Em 336 a. C., Felipe foi assassinado e sucedido por seu filho

Alexandre, que logo teve que se impor a uma revolta chefiada por Atenas.

Nesse episódio, coligadas aos atenienses, Esparta e Tebas foram

completamente arrasadas. Assim, Alexandre mostrava-se preparado para ir

em direção ao Oriente e avançar sobre o território persa.

O rei macedônio, e líder dos

gregos, estava munido com um

poderoso exército composto por

homens muito bem treinados e

divididos em cavalaria e infantaria,

além de arqueiros com flechas de

longo alcance (SOUZA, 1988, p. 72-

76). Tal poderio garantiu a

Alexandre, em 334 a. C., a vitória na

Batalha de Grânico, no noroeste da Ásia Menor. Nos três anos que se

seguiram, o exército alexandrino venceu a Batalha de Isso, conquistou o

Egito e Tiro, e, por fim, derrotou definitivamente Dario III na Batalha de

Gaugamela.

Quanto a conquista do Egito, Alexandre, já cognominado “o Grande”,

foi coroado como filho do deus Amon. Claude Mossé (2004, p. 79-89) fala

que a partir disso, tornou-se claro a intensão alexandrina de dar caráter

universalista ao império que então formava. O direito divino de seu poder

foi facilmente aceito pelos persas e egípcios, mas visto com renitência por

gregos e macedônios. Para compensar a insatisfação dos compatriotas, ao

mesmo tempo que incorporava costumes orientais, Alexandre passou a

nomear apenas gregos e macedônios para governar as cidades e províncias

que conquistara.

O Império Alexandrino. Fonte: Wikimedia Commons (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande#mediaviewer/File:Mapa_de_Alejandr%C3%ADas-pt.svg).

Page 14: Historia Antiga Tema 3

Em clara tentativa de integrar culturalmente seu vasto império,

Alexandre fundou 33 cidades sob o modelo grego. Com ágoras, acrópoles,

ginásios e assembleias, as cidades do Oriente se transformaram em centros

de difusão da cultura grega. Ainda que esse ambiente fosse peculiar à elite

política, majoritariamente grega e macedônica, muitos jovens persas

começaram a ser educados “à moda helênica” (ARRUDA, 1991, p. 184).

Assim, o grande imperador macedônico abriu as fronteiras culturais

do mundo grego. Alexandria, Antióquia e Pérgamo, tornaram-se os grandes

polos irradiadores da nova civilização. A paideia helenística não só ditava

um modo de ser grego, mas absorvia incontáveis elementos religiosos,

políticos e filosóficos do mundo persa, egípcio e mesopotâmico.

O eixo econômico grego também foi deslocado do mar Egeu para o

Oriente Próximo. Enquanto os atenienses experimentavam grande

empobrecimento, o Império Alexandrino gozava de intensa atividade

comercial estimulada pelas novas rotas abertas pelas conquistas de

Alexandre. Contudo, Atenas ainda produzia sábios como Epicuro e Zenão de

Cítio, cujos pensamentos foram rapidamente disseminados por todo mundo

helenístico (MOSSÉ, 2004, p. 150-158).

A civilização helenística, que resultou da fusão da cultura grega com

a cultura oriental, tinha sua sede em Alexandria, principalmente com a

construção da Grande Biblioteca. Com uma vigorosa vida intelectual, a

filosofia, a matemática, a astronomia e a medicina conheceram excepcional

desenvolvimento na cidade. No plano religioso, o que se observou foi uma

verdadeira efervescência. Associados aos deuses do panteão grego,

divindades egípcias, persas e mesopotâmicas, tornaram-se populares e

ganharam cultos fora e dentro da Grécia (MOSSÉ, 2004, p. 161-168).

Com a morte de Alexandre, em

323 a. C., o seu gigantesco

império foi dividido entre os seus

generais mais próximos. O reino

da Macedônia e as poleis gregas

foram dominados por Antígono,

fundador da dinastia Antigônida.

O Egito passou a ser governado Reinos Helenísticos. Fonte: Wikimedia Commons

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_helen

%C3%ADstico#mediaviewer/File:Diadochi_PT.svg).

Page 15: Historia Antiga Tema 3

por Ptolomeu, que iniciou a dinastia Légida. Selêuco ficou com toda a Ásia e

foi o primeiro rei do Império Selêucida.

Mesmo com a fragmentação política, e até depois das conquistas

romanas, o helenismo se manteve forte sob a égide de seu universalismo

cultural. O grego, mais uma vez, reinventava o ser humano e recriava seu

mundo. O homem helenístico, diferentemente daquele do período clássico,

não estava mais restrito “aos muros” da pólis. A espiritualidade herdada de

Atenas agora pairava em Alexandria, capital cosmopolita na qual o próprio

egípcio se sentia estrangeiro em sua pátria.

Glossário:

Amon: deus egípcio cultuado no templo de Karnak, representava a força

criadora da vida e, por isso, exercia o papel de rei dos deuses.

Concentração fundiária: acúmulo de propriedades de terra nas mãos de

uma minoria de indivíduos, normalmente da aristocracia.

Diáspora: grande fluxo migratório cuja motivação é política, religiosa ou

econômica.

Eunomia: princípio que estabelece a obediência de todos perante a lei. Em

Atenas, as reformas de Sólon (594 a. C.) estabeleceram os direitos e os

deveres de todos perante a comunidade, mesmo que não de modo

igualitário. A sociedade passou a ser dividida pela participação política:

pentacosiomedimnos, cuja riqueza alcançava 500 medimnos por ano;

hipeis, cuja riqueza ultrapassava 300 medimnos por ano; zeugitas, cuja

riqueza era maior que 200 medimnos por ano; e thetas, cuja riqueza era

inferior a 200 medimnos por ano.

Hélade: nome pelo qual os antigos gregos chamavam a Grécia, sendo eles

próprios denominados helenos.

Homero: poeta épico que deve ter vivido durante a Idade Obscura da

Grécia Antiga. Atribui-se a ele a composição das obras Ilíada e Odisseia.

Contudo, sua existência histórica não pode ser comprovada.

Page 16: Historia Antiga Tema 3

Indo-europeus: povos originários das estepes da Ásia central, também

denominados arianos, que por volta de 3000 a. C. migraram para o ocidente

europeu, península balcânica, sul e sudeste do mar Cáspio e península da

Índia.

Isonomia: princípio que estabelece a igualdade de todos perante a lei.

Entre 508-507 a. C., o estadista Clístenes universalizou os direitos políticos a

todos os cidadãos. A partir de então, todos aqueles cujos pais eram

atenienses teriam participação direta nas na Assembleia e poderia, através

de sorteio, ocupar algum cargo político.

Oratória: técnica de falar em público de modo estruturado e deliberado,

visando a persuasão dos ouvintes. Após o desenvolvimento da pólis, a

oratória passou a ser extremamente valorizada, tendo originado o estudo da

linguagem (retórica). Ao final do século IV a. C., a oratória, além de

disciplina básica da educação grega tornou-se o gênero literário mais

difundido durante o período helenístico.

Oriente Próximo: região geográfica do globo que abrange o sudoeste

asiático, entre o mar Mediterrâneo e o atual Irã, incluindo as proximidades

da porção sul do mar Cáspio.

Paideia: termo grego que faz referência aos costumes educacionais e a

formação cultural no mundo grego antigo. A educação formal do homem

grego englobava áreas como a ginástica, a gramática, a retórica, a música,

a matemática, a geografia, a história e a filosofia.

Talassocracia: termo derivado do grego thálassa, cujo significado é “mar”,

e kratía, que significa “poder”, que faz referência a um governo fundado no

poderio militar ou comercial marítimo.

Macedônios: povo cuja origem está ligada aos últimos bandos indo-

europeus que chegaram à península balcânica. Em torno do século VII a. C.

uma dinastia vinda de Argos parece ter conquistado a região e centralizado

o poder em uma monarquia. A helenização desse povo, que vivia na

fronteira norte do mundo grego antigo, ocorreu no começo do século V a.

C., quando mantiveram estreitos laços comerciais com Atenas e passaram a

participar dos jogos olímpicos. A identificação dos macedônios com os

Page 17: Historia Antiga Tema 3

gregos era tão intensa que Felipe II chamou o filósofo Aristóteles para ser

tutor de seu filho, Alexandre (MOSSÉ, 2004, p. 18-19).

“Portal – Graecia Antiqua”, de autoria de Wilson Alves Ribeiro Junior.

Site que reúne extenso material para os alunos que desejam iniciar seus

estudos sobre o mundo grego antigo. Traz quatro seções principais que

redirecionam o visitante para o acervo material, para uma área com

referências de fontes e bibliografias, e para conteúdos e imagens de

publicação atual.

Link: < http://greciantiga.org/>. Acesso em 23 set. 2014.

“Jean-Pierre Vernant e o diálogo com as ciências sociais: o homem grego e

seu espírito livre”, de autoria de Renata Cardoso Beleboni.

Entrevista com o célebre historiador da Grécia Antiga, Jean-Pierre

Vernant, onde em rápido diálogo ele fala sobre o homem grego e sua

mentalidade. Ótimo e didático texto que apresenta aos alunos o mais

influente estudioso do mundo grego antigo.

Link: <http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/482/388>. Acesso em 23

set. 2014.

“Literatura e Mitologia Grega – Diálogo sem Fronteira”, de autoria de Flávio

Ribeiro de Oliveira.

Entrevista conduzida pelo historiador Pedro Paulo Funari, do Centro de

Estudos Avançados da Unicamp. Nela Flávio Ribeiro de Oliveira fala

sobre o âmbito da mitologia e suas relações com a tragédia e comédia

grega.

Link: < https://www.youtube.com/watch?v=4vxgPMM-d2M>. Acesso em 23 set. 2014.

Page 18: Historia Antiga Tema 3

Tempo: 16:44

“Construindo um Império: Grécia” – documentário produzido pela History

Channel.

Excelente documentário que traz à discussão o desenvolvimento técnico

e cultural dos gregos desde o período Arcaico até o Clássico. Além de

explicar as obras da engenharia grega, o documentário mostra como a

explosão cultural e criativa por qual a Grécia passou, sucumbiu aos anos

de conflitos entre as poleis.

Link: < https://www.youtube.com/watch?v=ZNU-VbaOIzI>. Acesso em 24 set. 2014.

Tempo: 43:55

“Construindo um Império: Grécia, a Era de Alexandre” – documentário

produzido pela History Channel.

Documentário que proporciona aos alunos aprofundarem seus

conhecimentos a respeito da máquina de guerra Alexandrina. A

tecnologia que a Grécia dispunha, no século IV a. C., fora aprimorada

pela organização militar macedônica. O que pode ser visto, portanto, é

como que o exército alexandrino foi instrumento imprescindível para a

conquista da Pérsia.

Link: < https://www.youtube.com/watch?v=hFpaR1DV2hU>. Acesso em 24 set. 2014.

Tempo: 44:00

Instruções:

Page 19: Historia Antiga Tema 3

Questão 1:

Leia o trecho de História da Guerra do Peloponeso, do Historiador Grego

Tucídides.

“A constituição que nos rege não nos deixa invejar a de outros povos.

Também não é cópia de nenhum outro lugar. Ao contrário, serve-lhes de

modelo. O nome que damos a ela é democracia. Porque não está a mercê

de uma minoria, mas beneficia o maior número dos cidadãos. Seu princípio

fundamental é a igualdade. […]. A participação na vida pública não se

ganha pelo nascimento ou pela fortuna, mas unicamente pelo mérito. Não

são as distinções sociais, mas a competência e o talento que abrem o

caminho das honrarias na pólis. Em Atenas, todos são aptos a participarem

da política e se preocupam com ela. Pois, o cidadão que se mantém

afastado dos negócios públicos é um ser inútil. Na assembleia, os cidadãos

conseguem julgar e propor os melhores desígnios para a cidade, porque

acreditam que a palavra traz a luz por meio da discussão".

O discurso acima transcrito por Tucídides é atribuído a Péricles, que explica

o que era a democracia para os atenienses. Todavia, tal conceito pode

referir-se também à atualidade no que tange aos Estados democráticos

contemporâneos. Assim, lembrando do que você leu no tópico “Período

Clássico”, relacione a fala de Péricles com o que você conhece sobre a

prática democrática em seu país, levando em consideração o exercício da

sua cidadania e as instituições políticas da República Brasileira.

Questão 2:

Leia o trecho extraído da Elegias de Sólon, poeta já mencionado no tópico

“Período Arcaico”.

“Entre os pobres, muitos se dirigem a terras estranhas, vendidos e cobertos

de correntes […]. Quantos dos que tinham sido vendidos, uns injustamente,

Page 20: Historia Antiga Tema 3

outros com justiça, fiz voltar para Atenas, sua pátria, fundada pelos deuses

[…]. Dei liberdade a outros que, aqui mesmo [em Atenas], sofriam servidão

indigna e tremiam diante do humor dos patrões. Eis o que realizei, graças à

soberania da lei, fazendo com que a força e a justiça agissem corretamente”

(SÓLON, Elegias apud HOLANDA, S. Buarque de. História da Civilização. São

Paulo: Nacional, 1979. p. 58.).

Com base no texto acima e em sua reflexão, podemos dizer que:

a) quando um homem lê os discursos de Sólon nos dias de hoje, ele não vê

semelhança alguma entre passado e presente já que são momentos

históricos diferentes e tão distantes no tempo;

b) o leitor contemporâneo pode se identificar com a mensagem do poeta na

medida em que situações como “pobreza”, “servidão” e “soberania da lei”,

são assuntos corriqueiros na atualidade;

c) somente o leitor especializado na linguagem utilizada por Sólon torna-se

capaz de compreender seu discurso, já que está limitada ao período em que

viveu o poeta;

d) é impossível haver identificação entre o cotidiano do leitor

contemporâneo com o discurso de Sólon, pois quando fala de “justiça”,

“força” e “lei”, ele faz referência a conceitos específicos de sua época;

e) a identificação entre passado e presente depende da abstração do leitor

de hoje, ou seja, de sua capacidade de se imaginar no contexto em que o

poeta proferiu seu discurso.

Questão 3:

Leia o trecho extraído da Oração Fúnebre de Péricles, estadista já

mencionado no tópico “Guerra do Peloponeso”.

“Vivemos sob uma forma de governo que não se baseia nas instituições de

nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de

imitar outros. Seu nome, como tudo depende não de poucos, mas da

maioria, é democracia. Nela […] não é o fato de pertencer a um grupo, mas

o mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos” (TUCÍDIDES. História da

Page 21: Historia Antiga Tema 3

Guerra do Peloponeso. Trad. de Mário da Gama Kury. Brasília: UNB, 1987. p.

98).

O discurso de Péricles faz referência a qual princípio político?

a) À anomia, ou seja, à diferenciação política baseada no pertencimento a

determinado grupo. Como, por exemplo, a que existia no começo do

período Arcaico entre a aristocracia e os pequenos camponeses.

b) À eunomia política alcançada no período Arcaico, cujo princípio

estabelecia que todos os diferentes grupos deveriam obedecer às leis da

cidade. Mesmo que estas tratassem os cidadãos com diferenciações, isto é,

de acordo com o nível social de cada grupo.

c) À isonomia política, isto é, à possibilidade dada a todos os cidadãos de

participarem equitativamente do governo da pólis.

d) À anomalia política, causada pelos conflitos sociais que marcaram o

período clássico da Grécia.

e) À possibilidade de todos os cidadãos de participarem do exército durante

o período que vigorou a Liga de Delos.

Page 22: Historia Antiga Tema 3

Questão 4:

Leia o texto.

“Atenas era uma cidade extraordinariamente cosmopolita. Um ateniense

poderia observar milhares de imigrantes temporários e permanentes de

outras cidades gregas ou de terras não gregas trabalhando a sua volta,

muitas vezes fazendo exatamente o mesmo trabalho que ele, sem, contudo,

compartilhar de nenhum de seus direitos de cidadão. A característica mais

marcante da cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos

limites de sua própria pólis, era imediatamente privado de seus direitos

políticos” (JONES, Peter V.. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura

clássica ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 156).

Segundo o historiador Peter Jones “a característica mais marcante da

cidadania ateniense é que, quando viajava para além dos limites de sua

própria pólis, era imediatamente privado de seus direitos políticos”. A que

fato se deve tal característica? Responda relacionando o questionamento ao

que você já estudou na seção “Por dentro do tema”.

Questão 5:

Felipe II, rei da Macedônia, conquistou as poleis gregas em 338 a. C.. Seu

filho, Alexandre, o Grande, consolidou as conquistas do pai e expandiu seus

domínios em direção a Ásia, construindo um vasto império. Sob uma

perspectiva cultural, as conquistas de Alexandre trouxeram transformações

importantes à civilização Grega Antiga. A partir do que foi visto nos tópicos

“Período Clássico” e “Período Helenístico”, explique como ocorreu a

modificação cultural entre o universo da pólis e o universalismo helenístico.

Finalizando:

Page 23: Historia Antiga Tema 3

Encerramos, assim, nossa empreitada pelo mundo grego antigo.

Acompanhamos a “aventura do homem grego”, desde o seu primórdio

creto-micênico até seu universalismo helenístico.

Iniciamos estudando o desenvolvimento e decadência das civilizações

Cretense (Minóica) e Micênica. Passando pelo período Homérico, cujas

fontes se pautam nos épicos Ilíada e Odisseia, que presenciou a formação

do sistema gentílico e sua desagregação. Quando se estabeleceu uma

aristocracia que monopolizou o poder religioso e a propriedade das terras

mais produtivas.

Dessa maneira, coube aos sábios e aos tiranos da época Arcaica

mediar os conflitos que se seguiram à concentração fundiária e à miséria

que se alastrou entre os pequenos camponeses. Foi aí que, em finais do

século VI a. C., houve uma ampliação dos direitos políticos a todo o corpo de

cidadãos. Os quais, agora, tinham acesso aos costumes ancestrais da

comunidade e podiam gozar de um ambiente público onde se identificavam

com os seus compatriotas e exerciam sua natureza racional humana.

Nesse contexto, foi que a pólis clássica chegou ao seu auge em

Esparta e Atenas. Após as Guerras Médicas, quando em um breve momento

de unidade militar, os gregos expulsaram os persas da bacia do mar Egeu. A

posição hegemônica alcançada por Atenas, através da Liga de Delos, levou

toda a Grécia a um longo período de lutas fratricidas conhecido como

Guerra do Peloponeso.

O enfraquecimento das poleis, devido ao desgastante conflito,

permitiu a conquista das cidades helênicas pelo reino da Macedônia em 338

a. C.. Alexandre, o Grande, assumindo o trono dois anos mais tarde, liderou

os exércitos macedônico e grego na invasão e conquista do poderoso

Império Persa. Entretanto, a fusão cultural que se seguiu às conquistas

alexandrinas, mudou profundamente as fundações culturais do mundo

grego antigo.

A cultura grega, antes orgulhosa de seu isolamento do mundo

"bárbaro", então se tornava imbuído pela cultura oriental persa, egípcia e

mesopotâmica. Mesmo havendo proeminência do aspecto grego em

detrimento do oriental, a cultura helenística foi alçada a um patamar nunca

antes imaginado – o universalismo humano.

Page 24: Historia Antiga Tema 3

Portanto, o grande legado da Antiguidade Grega para o homem

contemporâneo, é a memória de sua peculiar capacidade de reinventar

constantemente sua própria humanidade, organizando o mundo a sua volta

por meio de sua própria natureza.

REFERÊNCIAS

AMOURETTI, Marie-Claire e RUZÉ Françoise. O mundo grego antigo: dos

palácios de Creta à conquista romana. Lisboa: Dom Quixote, 1993.

ARRUDA, José J. de. História Antiga e Medieval. São Paulo: Ática, 1991.

CABANES, Pierre. Introdução à História da Antiguidade. Petrópolis: Vozes,

2009.

CABANES, Pierre. La colonisation grecque en Méditerranée. Clio, Paris, oct.

2000. Disponível em: < http://www.clio.fr/BIBLIOTHEQUE/la_colonisation

_grecque_en_mediterranee.asp#biblio>. Acesso em: 24 set. 2014.

FINLEY, Moses I.. Aspectos de la Antiguedad: descubrimientos y disputas.

Barcelona: Ariel, 1975.

FINLEY, Moses I.. Grécia primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São

Paulo: Martins Fontes, 1990.

FINLEY, Moses I.. O Mundo de Ulisses. Trad. de Armando Cerqueira. Lisboa:

Editorial Presença, 1988.

FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito: Curso dado no College de

France (1981-1982). São Paulo: Martins Fontes, 2006.

HARTOG, François. Tempo e Patrimônio. Varia Historia, Belo Horizonte, v.

22, n. 36, p. 261-273, jul./dez. 2006.

HOLANDA, S. Buarque de. História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1979.

Page 25: Historia Antiga Tema 3

JONES, Peter V.. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica

ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

LÉVÊQUE, Pierre. A aventura grega. Lisboa: Ed. Cosmos, 1964.

MASARACHIA, Agostino. La prosa greca del V e del IV secolo a.C.. In: ANNA,

Giovanni D. (org.). Storia della letteratura greca. Roma: Tascabile Economici

Newton, 1995.

MOSSÉ, Claude. Alexandre, o Grande. Trad. Anamaria Skinner. São Paulo:

Estação Liberdade, 2004.

SOUZA, Marcos Alvito Pereira de. A Guerra na Grécia Antiga. São Paulo:

Ática, 1988.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Trad. de Mário da Gama Kury.

Brasília: UNB, 1987.

VERNANT, Jean-Pierre (org.); BORGEAUD, Ph.; CAMBIANO, G.; CANFORA, L.;

GARLAN, Y.; MOSSÉ, C.; MURRAY, O.; REDFIELD, J.; SEGAL, Ch.; VEGETTI, M..

El hombre griego. Madrid: Alianza Editorial, 1995.

VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro:

Difel, 2002.

VERNANT, Jean-Pierre. Problèmes de la guerre en Grèce Ancienne. Paris: La

Haye, 1969.

GABARITO-

Aula 3:

Tema 3: Grécia: Da Formação do Povo Grego ao Helenismo

Questão 1:

Page 26: Historia Antiga Tema 3

Resposta: Como foi dito no tópico “Período Clássico”, a identidade ateniense

era fundamentada na participação direta dos cidadãos nas instituições

políticas como na Ágora, na Bulé e Eclésia, como também na Heliae.

Péricles faz referência a assídua e obrigatória participação de todos os

cidadãos nestas instituições, tanto como indivíduo capaz de deliberar sobre

os assuntos de interesse público (da pólis), quanto como representante da

esfera privada de Atenas (a família). O próprio Péricles afirma que o critério

dessa democracia é o mérito, e não o nascimento ou a fortuna. O que faz

menção ao passado político onde a participação política era privilégio de

determinada classe social, marcada pela riqueza. O objetivo da questão,

portanto, é estimular o aluno a refletir sobre a democracia atual a partir de

seu conhecimento sobre o passado, aplicando parte do que foi lido ao longo

do caderno. Nessa direção, o que se espera do aluno é que ele estabeleça a

relação de proximidade entre a participação política atual baseada na

valorização do indivíduo pela competência e a escolha dos governantes,

através do sufrágio universal, o que reflete a atualidade do texto de

Péricles.

Questão 2:

Resposta: alternativa B.

Partindo da premissa da primeira questão, todo ato de leitura, seja de um

texto antigo ou contemporâneo, é um esforço humano para entender o

contexto em que vive. Logo, quando os assuntos lidos possuem alguma

referência com a realidade do leitor, a identificação ocorre de maneira

imediata. Sólon, em seu discurso, relaciona termos como “pobreza”,

“servidão” e “soberania da lei”, assuntos que ainda são relacionados no

cotidiano atual e, deste modo, de fácil identificação.

Questão 3:

Resposta: alternativa C.

Na medida em que se fala: “como tudo depende não de poucos, mas da

maioria”, e, “não é o fato de pertencer a um grupo, mas o mérito, que dá

acesso aos postos mais honrosos”; há a referência direta ao princípio que

estabelece a igualdade de todos perante a lei, isto é, a isonomia.

Page 27: Historia Antiga Tema 3

Questão 4:

Resposta: O cosmopolitismo ateniense contribuiu para diversos avanços

intelectuais e econômicos de Atenas, mas não interferiu na constituição de

um sistema político democrático que realmente incluísse os estrangeiros na

cidadania. Isso devia-se ao fato da cidadania ser derivada da formação

cultural do indivíduo cuja origem estava ligada à ancestralidade do corpo

cívico (o demos). Assim, quando o indivíduo portador da cidadania se

afastava do seus compatriotas, estando em meio a outros culturalmente

distintos dele, os vínculos ancestrais que o ligavam à comunidade eram

desfeitos. No entanto, o elo com a sua comunidade (cultural) era mantida

mesmo ele estando em território estrangeiro. Portanto, um grego de Atenas

era considerado estrangeiro em uma cidade vizinha como a de Plateia, já

que todo o mundo grego antigo era divido em pólis, ou seja, em unidades

políticas autônomas umas das outras.

Questão 5:

Resposta: A diferenciação cultural entre o período clássico e o helenístico

está ligada a fusão com elementos orientais na cultura helênica. Uma vez

que o Império Macedônico se expandiu por várias regiões da Ásia,

englobando várias outras culturas (a persa, a egípcia, a mesopotâmica e a

indiana), restringiu o regionalismo grego que em alguns casos beirava a

xenofobia (como em Esparta). Podemos citar também a ampliação do uso

da escrita na esfera política a partir da influência de modelos burocráticos

mesopotâmicos e egípcios, diferenciando-se da oralidade presente na

democracia de Atenas.