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1 unidade Compreensão dos antecedentes históricos da educação. Meta Objetivos CONFIGURAÇÕES INICIAIS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS. Possibilitar a compreensão dos processos históricos e epistemológicos das referências pedagógicas em diferentes contextos históricos.

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Compreensão dos antecedentes históricos da educação.

Met

aOb

jetiv

osCONFIGURAÇÕES INICIAIS DA HISTÓRIA

DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS.

Possibilitar a compreensão dos processos históricos e epistemológicos das referências pedagógicas em diferentes contextos históricos.

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UNIDADE I CONFIGURAÇÕES INICIAIS DA HISTÓRIA

DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS

1 INTRODUÇÃO

Nessa unidade vamos discutir os antecedentes históricos

da educação brasileira para contextualizar as referências culturais

mescladas no período histórico da chegada dos portugueses no Brasil.

Dessa forma, inicia-se a discussão promovendo uma reflexão sobre

educação e escolarização. Adiante, observam-se as referências da

oralidade e do legado teórico que a Antiguidade trouxe ao mundo

ocidental e como a Igreja, a partir de sua autoridade intelectual,

restringiu o conhecimento às massas durante a Idade Média, sobretudo

pela grande influência do medievalismo no processo educativo

no Brasil. Finaliza-se essa unidade com as referências culturais do

Renascimento como importante momento de descobertas científicas

do mundo ocidental e de contexto do legado jesuítico no Brasil.

História e Educação

16 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

2 CONCEPÇÕES DE EDUCAR

Para começar o estudo da história da educação é preciso

fazer uma breve discussão sobre a concepção do que significa

educar. Ponce (1991), num texto clássico sobre a Educação e Luta

de Classes, de viés marxista, orienta como os processos educativos

não podem ser considerados prerrogativa da instituição escolar.

Nas comunidades ditas primitivas, o conhecimento era transmitido

para a vida e por meio dela (aprender a pescar, organizar formas

de cultivo e conhecimento sobre o tempo para melhor garantia da

colheita, formas de cuidar das doenças, valores compartilhados etc).

A educação não estava confinada num ambiente próprio escolar, com

seus métodos e modelos pedagógicos, mas era transmitida de pai para

filho. Numa vigilância difusa do ambiente em que as pessoas viviam,

cada um praticava uma atividade, e o seio comunitário integrava

os participantes dessas comunidades numa mesma concepção de

mundo. Como bem apresenta Brandão (1981):

As meninas aprendem com as companheiras de idade, com as mães, com as avós, as irmãs mais velhas, os velhos sábios das tribos, com esta ou aquela especialista em algum tipo de magia e artesanato. Os meninos aprendem entre jogos e brincadeiras de seus grupos de idade, aprendem com os pais, os irmãos-da-mãe, os avós, os guerreiros com algum xamã (mago, feiticeiro), com os velhos em volta das fogueiras. Todos agentes desta educação da aldeia criam de parte a parte situações que, direta ou indiretamente, forçam iniciativas de aprendizagem e treinamento. Elas existem misturadas com a vida em momentos de trabalho, de lazer, de camaradagem ou de amor. Quase sempre não são impostas, e não é raro que sejam os aprendizes os que tomam a seu cargo procurar pessoas e situações que lhes possam trazer algum tipo de aprendizado (p. 19).

Até hoje é assim também que nós somos educados, não é

mesmo? Para dominar a natureza, as pessoas precisam desenvolver

habilidades e conhecimentos específicos para viverem em seus

espaços territoriais. No passado, cada comunidade e espaço

geográfico específicos imprimiam um tipo de conhecimento para se

manterem e dominarem os desafios que a própria natureza produzia,

onde o homem, como ser social, se moldava a partir de seu ambiente

histórico. Isso nos parece muito claro, não é? Um homem na Grécia

Antiga, é muito diferente de um homem atual, marcado por um

contexto histórico capitalista... enfim.

As concepções de mundo, próprias de cada contexto histórico,

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estabelecem um ideal pedagógico. O que é isso? Vamos ver: seria um

“dever ser”, no qual está a raiz do fato educativo, que lhes é revelado

pelo meio social no qual vivem. As pessoas aprendem formas de falar,

de se vestir, maneiras de se associar ao grupo, formas de desenvolver

o trabalho etc. As crianças se socializam com as ideias e sentimentos

construídos pelas gerações anteriores e vão moldando uma nova ordem

social. Claro, porque, por mais que sejam adquiridos os conhecimentos

transmitidos pelos ancestrais, esses conhecimentos transmitidos são

alterados, mesmo que de forma bem sutil, em razão do tempo e da

absorção de cada membro do grupo desses conhecimentos. Mas nem

sempre essa forma de produzir conhecimento foi dotada de harmonia,

e os questionamentos e formas de pensar diferente podem conduzir

a um reaproveitamento ou adaptações das habilidades produzidas ao

longo da produção do conhecimento.

Aprofundando um pouco essa questão, observa-se que esse

modelo de educação numa sociedade sem classes sociais, como a

das comunidades primitivas, caracterizavam os fins da educação a

partir de uma estrutura homogênea do ambiente social, ou seja, onde

o grupo comunitário apresentava uma organicidade nas relações,

sem muitas diferenciações sociais; não há competições implícitas,

decorrentes da competição imposta pelas diferentes formas de

trabalho das sociedades capitalistas. Nas sociedades primitivas, as

diferentes formas de trabalho significavam a organicidade daquele

grupo: cada um desenvolvendo uma atividade para o bem comum.

Assim, pode-se dizer que o processo educativo nessas comunidades

caracterizava-se pela espontaneidade, ou seja, ocorria de forma

gradual e sem a presença de um modelo de escolarização. Também,

pode-se dizer que ela era integral, na medida em que todos da

comunidade incorporavam esses conhecimentos reelaborando-os.

Não é interessante essa forma de explicar o processo educativo?

Parece que a única forma em que percebemos esse processo é o

realizado pela escola... E vimos, então, que não é bem assim. É

interessante afirmar, contudo, que embora estejamos falando de um

passado longínquo, podemos entender essa forma de educação em

comunidades atuais, mas em contextos diferenciados, que vivem

certo isolamento social e que sobrevivem livres dos padrões culturais

do mundo ocidental. Algumas tribos orientais, africanas, por exemplo,

podem ainda viver dessa forma.

Se partirmos desse princípio de uma educação espontânea e

integral, consideramos que todo o conhecimento humano tem seu

valor e deve ser respeitado. Vamos ver esse exemplo: você pode ter

um avô analfabeto, mas isso não significa que ele seja desprovido

Classes sociais: Na concepção marxista, a classe que mantém a dominação no plano econômico também é

aquela que procura efetivar a dominação no plano

ideológico com sua moral, suas ideias, sua educação, sua formulação de direito.

História e Educação

18 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

de educação – é comum ouvirmos essa expressão: “ele não tem

educação”. Isso é um despautério! O que ele não tem é escolarização,

uma formação sistematizada, que se aprende nas instituições de

ensino. Mas ele é educado e dispõe de sabedoria, que pode ir muito

além dos conhecimentos sistematizados definidos pelas instituições de

ensino. O seu conhecimento é fruto desse legado de seus ancestrais

e de sua cuidadosa capacidade de observação da natureza, de onde

extrai suas habilidades e conhecimentos. Ficou claro?

Então vamos ver outra questão. Essa espontaneidade da

educação das sociedades grupais também é observada na linguagem

e na moral. Não se ensina a falar na escola, mas socializando-se com

o seu meio, bem como a moral dos indivíduos, ou seja, a forma de

compreender o mundo, é própria de cada ambiente social, formando

uma consciência coletiva. Por isso, o processo educativo é construído

socialmente. Vamos a outro exemplo: imagine duas crianças gêmeas,

nascidas de pais que vivem numa determinada comunidade, e uma

das crianças, ainda bebê, é enviada para ser criada em outro país,

completamente diferente de seu irmão. Ao crescerem tornar-se-ão

crianças muito diferentes porque se

socializaram em ambientes distintos.

Ou seja, os valores, a moral, a

linguagem, o ideal pedagógico de cada

lugar desses imprimem personalidades

absolutamente distintas.

Isso posto, reconhece-se que

a noção de educar é importante para

percebermos a diferenciação entre

educação (saber produzido de forma

espontânea e integral) e escolarização

(conhecimento sistematizado conduzido

pela escola).

3 EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE

Bem, agora você compreendeu que o processo educativo faz

parte de um ideal pedagógico produzido pelo meio social; sendo

assim, nas sociedades antigas, como na Grécia, revelaram-se formas

de produzir o conhecimento pautado na dinâmica social do período um

pouco próximas das comunidades primitivas, mas diferentes. Apesar

de já começar a existir a instituição de ensino, a oralidade é uma

das principais fontes de aquisição de conhecimento, uma vez que a

FIGURA 1 - GêmeosFonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Twins_2004.jpg

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educação passa a se tornar um problema conceitual. A Antiguidade,

como se costuma atribuir ao tempo histórico do período greco-

romano, é muito rica pelo alto nível de produções literárias e teórico-

filosóficas. Foi palco de grandes pensadores, que até hoje fazem

parte de nossas referências intelectuais - por isso sua importância

histórica. Autores como Sócrates, Platão, Aristóteles, dentre outros,

fazem parte de nossa representação coletiva sobre o cenário da

história antiga. Contudo, observam-se elementos estruturantes na

experiência da Antiguidade fixando teorias e modelos de educar um

pouco diferentes das comunidades primitivas, que estabeleciam uma

educação espontânea. Muitas das construções teóricas desse período

são desvendadas na tradição ocidental do pensamento pedagógico,

ou seja, o período greco-romano foi a fonte, a matriz fundamental de

uma identidade cultural complexa relativa aos problemas da educação/

formação, porque passou a pensá-la filosoficamente, ou seja, atribuiu

um conceitual, um problema a ser discutido, interpretado, criado.

Isso significa que a forma de sistematizar um conhecimento

começou a ser regulada por um método, por mais que na Antiguidade

a oralidade fosse muito observada, porque os gregos gostavam muito

de contar e ouvir histórias e fábulas. Os contos da mitologia grega,

derivados das sagas de Homero, a Ilíada e a Odisséia, faziam parte do

cenário dessa dinâmica social. Começou a ser criada uma linguagem

para a pedagogia/educação e a utilização de termos para explicar

seus modelos, como a Paideia. A instituição escolar também foi

criada, enquanto espaço físico e intelectual, fundando uma tradição

educativa milenar. Não exatamente como percebemos uma escola

hoje, mas com as pedras fincadas nesse ideário tradicional de um

espaço do saber.

Bom, você deve estar se perguntando como eram as sociedades

antigas, a forma de pensar e os valores da Grécia, essa cidade

conhecida pelo brocado político “o berço da civilização ocidental”, ou

seja, a origem do mundo ocidental. Essa afirmação também é famosa

porque aglutina as principais referências políticas que as sociedades

ocidentais incorporaram, como política, cidadania, noções de justiça,

liberdade individual, democracia. Vamos ver melhor essa questão...

Porque, embora sejam nossas referências, não são exatamente como

as percebemos hoje, na contemporaneidade. Democracia, na Grécia,

não é exatamente o que é democracia no Brasil, hoje. Na Grécia,

por exemplo, a democracia convivia com a escravidão. Atenas foi

caracterizada por um Estado que garantia a democracia para a minoria,

mediante a escravidão da maioria. Isso fazia parte da estratificação

social daquele contexto histórico. Vamos retratar melhor!

Paideia: seria um princípio educativo voltado para a formação integral do cidadão. Platão define Paideia a partir da “(...)

a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao

homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão

perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como

fundamento” (JAEGER, 1995, p. 147).

História e Educação

20 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

Atenas, a principal cidade da Grécia, estava dividida por classes

sociais distintas e hierarquicamente superiores. Os grupos sociais

eram compostos por cidadãos ou eupátridas, metecos e escravos. A

ver:

(i) Cidadãos ou eupátridas: esse grupo social se caracteriza

pela elite que detinha os direitos políticos na cidade, para

participar da democracia.

(ii) Metecos: eram os estrangeiros que viviam em Atenas

e, desprovidos de direitos políticos, tinham restrições,

proibidos de terem a posse de terras ou bens. Tinham

autorização apenas para trabalharem no comércio

e artesanato, além de pagarem impostos e estarem

submetidos aos serviços militares.

(iii) Escravos: esse grupo compunha a maioria da população

e as pessoas eram consideradas como propriedade de um

senhor (um cidadão, por exemplo).

E as mulheres e crianças? Não faziam parte dessa composição

social. Estavam restritas ao ambiente doméstico. O espaço público

era exclusivo para os homens, onde havia muito debate filosófico e

discussões da vida pública. As ruas e praças se cobriam de homens

que exercitavam a atividade intelectual pensando a vida política, a

vida pública. Está percebendo como esses elementos vão compondo

as referências de um viés político na vida em sociedade?

Atenas foi uma cidade que promoveu grandes debates intelectuais,

e Sócrates foi o filósofo famoso por provocar

grandes questionamentos sobre a alma humana,

fundando a filosofia ocidental. Sócrates tinha uma

preocupação com a recorrente necessidade de

busca do conhecimento, pois o considerava uma

fonte inesgotável de saber. São suas as célebres

frases: “Só sei que nada sei” e “Sábio é aquele que

conhece os limites da própria ignorância”. Em seus

pensamentos, demonstra uma necessidade grande

de levar o conhecimento para os cidadãos gregos.

Seu método era conduzido pelo diálogo; com uma

permanente exploração da palavra, o filósofo tentava

levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do

ser humano. Procedia numa linguagem educativa, por

meio da conversação, atribuindo o valor do homem,

de sua vida pessoal, diante do Estado, construindo FIGURA 2 - Sócrates Fonte: http://als.wikipedia.org/wiki/Datei:Socrates_Louvre.jpg

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de

uma noção de virtude centrada no conhecimento humano.

Sócrates considerava que essa virtude não era prerrogativa

da aristocracia grega; era passível de ser vivenciada

por todos os membros da sociedade, uma vez que era

ensinada. Nesse sentido, negava modelos educativos de

tempo, pois observava demasiada influência do Estado

grego sob a forma de conduzir a educação. Tinha na

liberdade política a primazia da virtude humana. Por

sua capacidade exarcebada de questionamento sobre a

vida, foi perseguido pela aristocracia da Grécia, por suas

duras críticas ao regime, aos aspectos da cultura grega,

afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e

costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual

dos cidadãos gregos. Contudo, esse filósofo não deixou

registros.

Vamos ver agora outro filósofo que contribuiu para

a sistematização do processo educativo. Platão foi outro

filósofo importante, discípulo de Sócrates, que sistematizou os

discursos e diálogos socratianos e, diferentemente deste, dirigiu-

se mais à política e à filosofia política, nas quais exprimia suas

ideias pedagógicas, de valor humanístico, favorecido pela liberdade

das circunstâncias políticas. Já Sócrates se dirigia mais à pesquisa

filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral (a ideia

de virtude), importantes para produção do conhecimento, pois

vislumbrava permanentes questionamentos da natureza humana.

Platão, embora compartilhe com Sócrates o mesmo caminho

intelectual na forma de pensar, estende tal indagação ao campo

metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade e

ao que transcende a ela. Para Platão, a essência das

coisas está camuflada pela aparência; vemos pelas

sombras e, por isso, precisamos aprender a enxergar a

realidade, nos desnudando das cristalizações, convicções

mais prementes. O mundo das ideias é mais legítimo

que o mundo material, que esconde sua verdadeira

essência. Platão inaugurou a organização do ensino

e as sistematizações da teoria da educação, na qual a

pedagogia se inspira, assentada em ideias que procuram

a essência das coisas, livres dos disfarces. Uma boa

forma de conhecer um pouco a obra desse autor é ler um

capítulo chamado: O mito da caverna, em A República.

E para finalizar temos também outro filósofo

importante na contribuição da educação que foi Aristóteles,

FIGURA 2 - PlatãoFonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Plato_Pio-

Clemetino_Inv305.jpg

FIGURA 3 - AristótelesFonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aristoteles_

Louvre.jpg

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22 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

um médico de Amintas que, por sua formação, defendia que todo

conhecimento advinha do mundo prático, revelando a legitimidade do

conhecimento material, da experiência. Sua concepção de educação

defendia uma virtude, permeada por uma educação pública. Contudo,

esse filósofo entendia que a virtude não vinha do mundo das ideias,

das contemplações das visões filosóficas (numa clara divergência com

Platão), mas fruto de um processo educativo dotado de experiência,

de exercício e prática contínua. O homem não se torna virtuoso

conhecendo a justiça, mas praticando-a. Aristóteles ressaltava ainda

que a política deve preparar as leis que permitam a educação para

a virtude, característica que ele acreditava conduzir à felicidade dos

cidadãos. Repare que existe uma diferença considerável nesse autor,

nos fins da educação e sua orientação epistemológica.

Os filósofos da Grécia, ao contrário dos do Oriente, não eram

considerados enviados dos deuses, profetas ou homens sagrados e,

sim, mestres independentes e formadores de seus ideais. O mundo

grego era o ambiente em que a liberdade de pensamento predominava.

Alguns se opunham ao ideal pedagógico – a Arete - proferido pelo

Estado grego; outros defendiam uma educação com liberdade de

pensamento. De qualquer modo, a educação sistematizada se inicia

no mundo grego, conduzida pelos métodos e modelos pedagógicos,

e começa a ser objeto de poder, uma vez que o conhecimento é

restrito a alguns grupos na sociedade. Nesse sentido, uma instituição

do Estado inicia o domínio desse saber sistematizado: a escola. Esta

detém o controle do ideal pedagógico para a formação dos cidadãos.

Ficou claro como a educação grega formulava seu processo educativo?

4 EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

Pois bem, entre os avanços e retrocessos na história

da humanidade, o período conhecido pela Idade Média

foi o que mais se pode chamar de obscuro e restrito para

o desenvolvimento de uma educação pública, com uma

perspectiva aberta para a produção de novos conhecimentos.

Ora, quem tem o postulado legítimo da produção do

conhecimento, senão a Ciência? Mas, numa sociedade

teocêntrica, em que a explicação das coisas se baseia na

fé... nos parece complicado apreender uma noção racional,

humanista sobre a explicação do mundo. Por quê? Ora,

nesse contexto histórico permeia como elemento fulcral

a interpretação religiosa e ética da vida, a partir de uma

Orientação epistemológica é uma reflexão geral em torno da natureza, etapas e

limites do conhecimento humano. De acordo com o Dicionário HOUAISS, refere-se à teorização do conhecimento, com estudo dos postulados,

conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias

e práticas em geral, avaliadas em sua validade

cognitiva, ou descritas em suas trajetórias

evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história;

relativo à teoria da ciência.

FIGURA 4 - Cristo Pantocrático – Santa Sofia – IstanbulFonte: picasaweb.google.com.br/.../gr8XwTEmbbx8Cq

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de

filosofia escolástica. Toda a explicação da realidade e do mundo tem

cunho religioso. Vamos ver um exemplo: se fosse perguntado a um

monge medieval (até hoje muita gente explica as coisas pelo viés

religioso...) o que era o céu, ele diria que é a casa de Deus, onde ele

observa os homens na terra. Se a pergunta fosse feita a um cientista,

ele diria que é o espaço sideral. Percebe a diferença? Só quem tem fé

pode admitir uma explicação sem sustentação lógica e teórica sobre

as coisas.

Os valores orientados pela Igreja, durante séculos de domínio

das instituições de ensino, são mediados pela submissão à fé, pela

renúncia e conformismo. Repare que são ideais completamente

diferentes preconizados pela educação grega, que priorizava a

liberdade humana e o profundo conhecimento prático ou epistemológico

das coisas. Durante anos de domínio do Império Romano, quando o

cristianismo foi abraçado, o mundo ocidental se lançou aos obtusos

alicerces da fé religiosa, conduzindo a uma sociedade estática sem

mobilidade social e extremamente hierarquizada. A Idade Média é

um período que abafa para as massas todo o conhecimento produzido

pela Antiguidade, pois esse levava o povo a pensar, refletir, conduzir

suas próprias reflexões – algo então negado pela doutrina da fé. E

por que isso, uma vez que a própria teologia bebe dessa fonte de

saber? Porque significa uma ameaça ao domínio da Igreja. O avanço

intelectual e o esforço teórico, conduzidos pelos filósofos gregos,

incitavam questionamentos políticos e filosóficos que batiam de

frente com os interesses da Igreja. É preciso aqui resgatar os valores

do contexto histórico marcado pelo domínio da Igreja para entender

como a filosofia escolástica conduziu o processo educativo. Ficou mais

clara a questão da filosofia escolástica?

Você deve observar que tratava-se de uma sociedade sem

mobilidade social, ou seja, as pessoas não mudavam de classe (um

escravo jamais se casaria com um nobre, por exemplo). Altamente

hierarquizada, a educação era para poucos, pois só os filhos dos

nobres ou o clérigo estudavam – estes últimos liam os textos clássicos

dos filósofos gregos, mas não se permitia socializá-los às massas. O

processo de escolarização era estruturado a partir de ampla cultura

geral, marcada por disciplinas como gramática, retórica, dialética,

geometria, aritmética, música, astronomia e filosofia. Observe que a

sistematização dos conhecimentos existentes, bem como a teologia,

formava o conhecimento escolástico. Na Idade Média foram criadas

as primeiras universidades, na Espanha, em Bolonha (1088); depois

na França, em Paris (1150) e por fim, na Inglaterra, em Oxford

(1167). Elas foram criadas reunindo as quatro faculdades: a de artes,

História e Educação

24 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

que funcionava como preliminar às de teologia, direito e medicina.

Essa evolução do ensino superior foi acompanhada pelo aumento do

número de escolas elementares, contudo absolutamente restritas à

maioria da população, que era analfabeta e não tinha acesso aos

livros.

Então, vejamos, a educação, marcada pela influência da Igreja,

era ministrada com o ensino de Latim, doutrinas religiosas e táticas

de guerra para manter o controle do sistema feudal, operante na

Idade Média. E, para além dessa educação escolástica, a sociedade

feudal preparava pajens e senhores na arte da cavalaria, preocupados

com uma formação de jovens voltados para professar a fé católica em

outros territórios, através de cruzadas. Tal educação não se opunha

à religião, pois a cavalaria era santificada pelos clérigos. Seu objetivo

era tornar os jovens da classe nobre dignos da admiração dos servos,

justos, sábios e prudentes no trato das coisas do estado.

E como se ensinava nas escolas medievais? O método

memorístico, muito utilizado, consistia na leitura ou comentário de

textos e na emulação, pela qual os estudantes se adestravam no

uso dos conhecimentos absorvidos; bem como o uso da retórica,

a dialética e a música compunham formas de conduzir discursos;

criavam elementos de apreensão da atenção; usavam o terrorismo

das imagens profanas; e alimentavam a fé, para o controle da maioria

da sociedade, desprovida de outras formas de entender a realidade.

Muitos autores consideram que o conhecimento é luz, ilumina os

horizontes da capacidade efetiva da crítica humana. Em razão de a

Idade Média restringir esse conhecimento a poucas pessoas, costuma-

se atribuir a esse contexto histórico o título de “era das trevas”, por

negar a luz do conhecimento às massas.

Vamos observar que, contudo, é preciso ressaltar também que

restringir o conhecimento não significava que, nesse período, não

se produzia e fomentava outras fontes de conhecimento. Grandes

avanços arquitetônicos foram projetados nesse contexto, reunindo

vasta fonte de conhecimentos sistematizados de aritmética, física,

geometria etc., que não se resumiam nas concepções religiosas. Esse

movimento foi orientado pelo contexto sociocultural da Idade Média,

que integrava a síntese de valores culturais romanos e germânicos,

bem como a formação do Império Bizantino, da expansão dos árabes.

E, nesse sentido, obras arquitetônicas fabulosas foram projetadas,

como o estilo gótico.

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5 O RENASCIMENTO E A EDUCAÇÃO

Pois bem, após esse passeio

pelo contexto obscuro (do ponto de

vista da restrição do conhecimento),

temos de admitir que a história

é dinâmica como a vida. O

Renascimento é outro momento

histórico importante para a história

da educação, sobretudo, por romper

com os valores religiosos da filosofia

escolástica da Idade Média. O nome

já é uma revelação desse tempo

histórico, que nasce, ou melhor,

renasce, recupera a moldura teórica produzida pela Antiguidade,

preservando a produção do conhecimento clássico que dialogará

permanentemente com as novas produções científicas, aumentando

a hegemonia da civilização ocidental europeia no mundo. A filosofia

racional, voltada para a perspectiva científica do conhecimento,

imprimiu valores humanistas, com um ideal político da sociedade.

O Estado moderno tem um governo forte, dotado de referências

do direito internacional. Essas transformações político-econômicas

intensificaram uma vasta mudança nas instituições sociais, os valores

e ideias da sociedade moderna.

Repare que os interesses agora estão centrados nos indivíduos

e não mais em Deus! Você observou? Promovendo um ambiente

individualista e autárquico mais que corporativo e tecnocrático, como

na Idade Média. No que tange às relações humanas básicas, as

transformações sociais são representadas pela nova ordem social que

desenvolvia uma importante classe social: a burguesia. Essa classe vai

fomentar uma nova organização econômica, marcada pelas relações

comerciais capitalistas aliadas ainda à realeza, permitindo a formação

de frotas marítimas para promover a expansão marítima comercial.

Nesta época, houve o desenvolvimento de grandes descobertas

como a bússola, a pólvora, a confecção de mapas, a construção de

caravelas etc. Foi desenhado um cenário propício para os homens se

lançarem aos mares, buscando novos comércios. Você deve lembrar

desse contexto na sua educação básica...

E (olha que interessante!) paralelamente, na Alemanha, está

se dando o movimento de Reforma, com a publicação da bíblia em

Alemão, até então só lida em Latim e por isso somente acessível aos

qualificados. Foi uma revolução cultural! Dessa forma, o movimento

História e Educação

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Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

propagou o aprendizado da escrita e da leitura, procurando intensificar

a necessidade da responsabilidade dos governantes com a organização

da educação para garantir uma nova ordem social. Observe, o

medo da Igreja não era à toa. Mesmo a partir de um lento processo

histórico, as manifestações intelectuais foram sendo superadas pelas

novas criações e valores modernos. A educação também foi uma

instituição importante nesse processo de transformação sociocultural,

pois o ideal pedagógico do Estado Moderno tinha novas exigências

para formação dos indivíduos, não se aceitava mais uma formação

voltada para renúncia e conformismo... Percebe? É preciso alimentar

a sede de saber, de conhecer mais, de dominar novas técnicas, pois

isso significa dominar o mundo.

Agora, o tipo humano renascentista é o gentleman, é um

homem, resultado da combinação do cavaleiro cortesão medieval e dos

dotes artísticos e humanistas dos centros comerciais (FILHO, 2002).

Esse homem é considerado universal, múltiplo, de personalidade

qualificada, dotado de erudição universal. Ah, então descobrimos

qual o ideal de formação para essa sociedade? Isso mesmo, a mulher,

por exemplo, agora ganha assento ao lado do homem, ainda não com

centralidade, mas ao seu lado, com liberdade e educação em alguns

territórios europeus.

A preocupação desse ideal pedagógico era a de formar homens

de bom senso, bom gosto e bom tom (Erasmo 1467-1533). Alguns

autores chegaram ao ponto de se rebelar contra qualquer resistência

à livre expansão da atividade educativa (Rabelais 1494-1553),

considerando que a natureza conduziria o processo de expansão

do processo educativo, através da observação e acumulação do

maior número de fatos possíveis, a partir do permanente exercício,

do conhecimento prático. Contudo, ainda estamos falando de uma

educação não-popular. Consideravelmente mais aberta, mas ainda

restrita a uma aristocracia e a uma burguesia ascendente. Parece-nos

uma mudança substancial, não é?

Mas um dado muito interessante, nesse contexto, diz respeito

a nossa história da educação. Vejamos. Segundo Filho (2002):

O Brasil surge para história em pleno Renascimento. Resultado da expansão da civilização ocidental, o ‘descobrimento’ do Brasil é significativo incidente da aventura marítima do Atlântico no século XV. Este momento de expansão européia é de extrema importância para a análise das raízes de nossas origens como nacionalidade. O seu estudo nos interessa na medida em que o primeiro projeto de Brasil, elaborado e executado a partir do Descobrimento pelo colonizador português, estabeleceu linhas históricas

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determinantes de nossa evolução como povo ligado, embora perifericamente, à civilização ocidental (p. 115. Grifo meu).

Pois bem, você então deve refletir: nosso ideal pedagógico

foi originado do período renascentista, laicizado pelo pensamento

racional, marcado por um cenário que valorizava o homem? Ledo

engano! Mesmo com a chegada dos portugueses ao Brasil, durante o

contexto histórico do Renascimento, os valores e o ideal pedagógico

propagado por aqui foi o escolástico, em razão dos expoentes de

nossos educadores, de caráter sistêmico: os jesuítas. Então vamos

a eles, descobrir que exponência foi essa para nossa história da

educação. É o que você verá na próxima unidade.

RESUMINDO

LEITURA RECOMENDADA

Para melhor sistematizar o conteúdo dessa unidade você deve procurar ler também em BRANDÃO, C. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção Primeiros Passos) e CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.

6 RESUMINDO

Nesta aula você viu:

1. O processo educativo não é prerrogativa da instituição de ensino,

ele se dá de forma espontânea e integral nas relações sociais e a

escolarização é uma sistematização de conhecimentos para prover

um ideal pedagógico de dada sociedade.

2. A educação grega foi a que, inicialmente, sistematizou o

conhecimento humano através de métodos e conceitos, produzindo

um legado teórico humanístico de extrema importância para o

ocidente. Em razão dessa sistematização, conduziu métodos e

modelos pedagógicos, que começaram a ser objetos de poder, uma

vez que o conhecimento era restrito a alguns grupos na sociedade

e regulado pelo Estado.

3. O medievalismo teve muitas implicações sobre a projeção

do conhecimento científico, em razão de inibir o poder da

Igreja. Dessa forma, apesar de também inaugurar a criação de

universidades, restringiu às massas a difusão da leitura e da

escrita e, consequentemente, a sua capacidade de pensar de

forma emancipatória.

4. O Renascimento é o contexto histórico da chegada dos portugueses,

História e Educação

28 Módulo 3 I Volume 1 EAD

Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

mas os valores e o ideal pedagógico propagado aqui no Brasil foi o

escolástico, do período medieval. Embora esse contexto histórico

tenha sido de grandes transformações político-culturais na Europa,

na colônia não teve grandes reflexos.

5. O contexto da história da educação no Brasil teve referências bem

fortes desse período histórico, em razão da primazia dos jesuítas

no processo educativo na colônia dar-se mediada pela Companhia

de Jesus – símbolo emblemático do medievalismo europeu.

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Vamos suscitar a reflexão assistindo a um filme. Observe atentamente como nos monastérios da Idade Média se privava o acesso aos textos clássicos da Antiguidade. E como o Renascimento, enquanto movimento cultural recuperou da antiguidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais que, adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja em ANNAUD, Jean Jacques. O nome da rosa. Alemanha/França/Itália: Globo vídeo, 1986, DVD, (130mim).

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7 ATIVIDADES

1. Observe o texto abaixo:

Este conceito de educação, como função espontânea da sociedade, mediante a qual as novas gerações se assemelham às mais velhas, era adequado para a comunidade primitiva, mas deixou de sê-lo à medida que esta foi lentamente se transformando numa sociedade dividida em classes (PONCE, 1991, p. 21, 22).

Diante desse texto, disserte sobre a diferença entre educação e escolarização e apresente o motivo da transformação das sociedades primitivas para as sociedades de classes.

2. Os modelos teóricos da Antiguidade reuniram:

(...) um pluralismo dos modelos que vêm enfatizar o papel da Paidéia e a riqueza da noção, confirmando-a como o centro teórico da elaboração pedagógica da Antigüidade (...) (CAMBI, 1999, p. 88).

(a) Diante dessa afirmação, disserte sobre o que consistiam os principais modelos teóricos da Antiguidade.

(b) Apresente três argumentos para justificar a contribuição da Antiguidade para o processo educativo sistematizado

3. Discorra sobre o modelo pedagógico da Idade Média, respondendo:

(a) Quais foram as principais implicações que a Igreja colocava para a difusão do conhecimento?

(b) Por que se atribui ao período medieval o obscurantismo do saber?

4. Leia a excerto e responda:

O Brasil surge para a história em pleno Renascimento. Resultado da expansão da civilização ocidental, o descobrimento do Brasil é significativo incidente da aventura marítima do Atlântico no século XV (FILHO, 2002).

(a) Diz-se ser um equívoco teórico atribuir a chegada dos portugueses ao Brasil como “descobrimento”. Por quê?

(b) Qual a incoerência histórica colocada para a realidade brasileira, no período colonial, entre a chegada dos portugueses no Brasil e o contexto histórico de Renascimento e Medieval?

(c) Relate a importância histórica do período renascentista.

ATIVIDADE

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Configurações iniciais da história da educação brasileira, os antecedentes históricos.

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8 REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1981.

(Coleção Primeiros Passos).

CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2001.

FILHO, C. dos R. Transplante da educação européia no Brasil. Revista

Brasileira de História da Educação, n. 3, jan./jun. 2002.

PONCE, A. Educação e luta de classes. 11 ed. São Paulo: Cortez;

Autores Associados, 1991.

Suas anotações

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