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1 ESCOLAS MATERNAIS EM SANTOS (1902-1930): contribuição para a história da infância e da formação de professoras. Maria Apparecida Franco Pereira Universidade Católica de Santos, SP. [email protected] Palavras-chave: educação infantil; Primeira República; significado das escolas maternais. [Escola maternal Julio Conceição] Esta pesquisa tem o objetivo de estudar as escolas maternais em Santos pertencentes à Associação Feminina Santista, no início do século XX, que foram idealizadas para atender a infância desprovida de recursos econômicos, dando destaque especial nesta comunicação à Escola Maternal Julio Conceição. Durante a Primeira República, a Associação manteve só as escolas maternais para a educação infantil (crianças de 3 a 6 anos), que serviam também de prática de ensino e de atuação para suas alunas do curso de formação de magistério (escola complementar de 4 anos de formação, após o curso primário), o Liceu Feminino Santista, cujas alunas tinham a idade mínima de 12 anos. A questão que persegue este estudo, ainda em andamento, é como funcionavam e qual a clientela infantil que atendiam, ação dessas escolas. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a documentação oficial escolar (livro de matrículas, ata de reuniões, regulamento geral da Instrução da Escola; cópias de ofícios expedidos); Relatórios anuais da diretoria da Associação Feminina Santista, correspondência e algum material iconográfico. Foram fundamentais para a compreensão geral da educação da infância estudos de Tizuko Morchida Kishimoto “A pré-escola em São Paulo” (1988); Kuhlmann Jr. (1991) e Marcos Cesár Freitas (2001, p.11-18). Para o conhecimento da instituição, de Eunice Caldas, Pereira (vários escritos) e Melissa Caputo “Eunice Caldas: uma voz feminina no silêncio da História (1879-1967)” (2008) e de Anália Franco, principalmente o de Eliane de Christo Oliveira “Anália Franco e a Associação Feminina e Beneficente e Instrutiva: idéias e práticas educativas para a criança e para a mulher (1870 - 1920)”.

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ESCOLAS MATERNAIS EM SANTOS (1902-1930): contribuição para

a história da infância e da formação de professoras.

Maria Apparecida Franco Pereira

Universidade Católica de Santos, SP.

[email protected]

Palavras-chave: educação infantil; Primeira República; significado das

escolas maternais. [Escola maternal Julio Conceição]

Esta pesquisa tem o objetivo de estudar as escolas maternais em Santos

pertencentes à Associação Feminina Santista, no início do século XX, que foram

idealizadas para atender a infância desprovida de recursos econômicos, dando

destaque especial nesta comunicação à Escola Maternal Julio Conceição. Durante a

Primeira República, a Associação manteve só as escolas maternais para a educação

infantil (crianças de 3 a 6 anos), que serviam também de prática de ensino e de

atuação para suas alunas do curso de formação de magistério (escola complementar

de 4 anos de formação, após o curso primário), o Liceu Feminino Santista, cujas

alunas tinham a idade mínima de 12 anos. A questão que persegue este estudo,

ainda em andamento, é como funcionavam e qual a clientela infantil que atendiam,

ação dessas escolas. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a documentação

oficial escolar (livro de matrículas, ata de reuniões, regulamento geral da Instrução

da Escola; cópias de ofícios expedidos); Relatórios anuais da diretoria da

Associação Feminina Santista, correspondência e algum material iconográfico.

Foram fundamentais para a compreensão geral da educação da infância estudos de

Tizuko Morchida Kishimoto “A pré-escola em São Paulo” (1988); Kuhlmann Jr.

(1991) e Marcos Cesár Freitas (2001, p.11-18). Para o conhecimento da instituição,

de Eunice Caldas, Pereira (vários escritos) e Melissa Caputo “Eunice Caldas: uma

voz feminina no silêncio da História (1879-1967)” (2008) e de Anália Franco,

principalmente o de Eliane de Christo Oliveira “Anália Franco e a Associação

Feminina e Beneficente e Instrutiva: idéias e práticas educativas para a criança e

para a mulher (1870 - 1920)”.

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As escolas maternais de Santos mais importantes do início do século XX, a

Escola Júlio Conceição e a Escola Eunice Caldas, que na realidade eram classes,

surgiram pela ação de um grupo de mulheres da elite santista.

Santos era, através de seu porto que se modernizava (1880) e da estrada de

ferro (1867), como grande centro do comércio exportador do café e a oportunidade

de trabalho e de enriquecer, atraía grandes contingentes de nacionais e imigrantes.

Na cidade, a educação escolar tomava impulso com as novas escolas de

várias esferas: governamental (municipal e provincial), de associações (de

imigrantes, religiosas, operárias) ou de iniciativa individual. Em 1900, o 1º Grupo

Escolar estadual, “Cesário Bastos”, logo é secundado pelo “Barnabé” (1902). Em

1904, duas grandes escolas católicas são inauguradas: a dos Irmãos Maristas

(origem francesa), masculina, e a das Irmãs do Coração de Maria, congregação

religiosa brasileira do Sul, dirigida ao elemento feminino.

Entre os dois blocos, surge o Liceu Feminino Santista. A professora

normalista e escritora Eunice Peregrina Caldas (1879-1967), irmã do cientista Vital

Brasil, do Instituto Butatã de São Paulo, ligar-se-á aos ideais de Anália Franco

(1856-1919) que fundou na capital paulista, no fim de 1901, a Associação

Beneficiente e Instrutiva do Estado de São Paulo, destinada a amparar e instruir

crianças carentes, mantendo creches, asilos e escolas maternais, estendendo-as

pelas várias cidades do Interior.

Eunice Caldas (Acervo do Liceu Santista)

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No dia 20 de maio de 1902, o jornal santista “A Tribuna” publicara, à primeira

página, a mensagem de Anália Emília Franco, pedindo a adesão à convocação de

Eunice Caldas, “Evangelizadora do espírito caritativo”, “coração verdadeiramente

patriótico”, para “defender a sorte de tantos pequeninos seres condenados à

ignorância”:

Santos, além de possuir um povo benemérito e ilustrado, é o mais importante

centro de comércio do Estado de São Paulo, e tem tradições históricas que por si só

nobilitam um povo. A sua tradicional generosidade, posta aos grandes ideais

humanitários, será mais uma vez salientada com o acolhimento benévolo que

dispensar à digna professora d. Eunice Caldas, acolhimento este que a diretoria da

Associação Feminina Beneficente e Instrutiva espera também do generoso povo

santista.

Os fins da Associação Beneficiente, ainda repetimos uma vez, são amparar e

educar a infância desvalida e todos que procuram a fonte civilizadora da instrução,

sem distinção de classes, nem de seitas, porque a caridade verdadeira não tem

rótulos.

O espírito mobilizador de Eunice Caldas fez com que ela reunisse, em maio

de 1902, grande número de senhoras e fundasse a Associação Feminina

Beneficente e Instrutiva – filial da instituição já existente em São Paulo – que criou o

Liceu Feminino e as Escolas Maternais. Com o passar do tempo, surgiram

divergências financeiras entre as duas entidades. No ano seguinte uma assembléia

fundou a Associação Feminina Santista que consolidaria as instituições instituídas

embora se modificassem um pouco as intenções iniciais. Ou seja: o Liceu Santista

que formaria professoras, elevando o nível cultural da mulher, foi freqüentado por

moças das famílias bem posicionadas financeiramente e as escolas maternais não

seriam creches-asilo, mas na realidade jardins da infância, que abrigariam, na sua

maioria, as crianças do meio popular, mas também em parte filhos de pessoas da

instituição ou ligadas a elas.

A Associação Feminina Santista, que tinha como meta tirar o elemento

feminino de seu marasmo, aproveitou-se do clima de aceitação da presença da

elite na filantropia e na educação. A mulher podia mostrar os seus talentos nas

ações de benemerência (não remuneradas); e, na profissão do magistério, conciliar

atividades domésticas com atividades do espaço público. As mulheres de grupos

menos favorecidos economicamente já exerciam inúmeras profissões: na indústria

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incipiente, na confecção de flores, de bordados; como costureiras de sacaria ou

como catadeiras de café; no comércio; nos serviços domésticos etc. Assim, a

Associação Feminina Santista manteve o Liceu Feminino, para a formação das

professoras que iriam lecionar nas suas escolas maternais para crianças pobres

(magistério e atuação com a pobreza).

Diretoria da Associação Feminina Santista. Presidência de Diva de Lamari Porchat de Assis.

(Acervo do Liceu Santista)

Após um período instalado no Grupo Escolar Dr. Cesário Bastos e em outras

entidades da cidade, a Associação Feminina Santista mudou-se, em 1º de

novembro de 1905, para sua sede própria na Rua da Constituição, 321. Foi muito

importante nos primeiros anos a contribuição financeira da praça cafeeira, dos

comissários e exportadores de café. Até 1930, os cursos foram gratuitos, mas os

alunos que podiam pagavam pequenas taxas de matrícula. A Associação sempre

recebeu contribuições de associados e também alguma do Governo. Quando não

conseguiu manter a sua obra, passou-a à Mitra Diocesana de Santos em 1976. A

instituição existe ainda hoje (111 anos), adaptada aos novos tempos, mas mantém,

de certa forma, o prestígio de outrora.

O ensino primário na Associação Feminina Santista foi sempre a escola

maternal de 1º e 2º períodos (“conforme graduação do desenvolvimento físico e

intelectual que apresentem”). O curso primário (1ª. a 4ª. séries) só foi implantado em

1936 e, no ano seguinte, o ginasial. A Escola Normal, ou melhor, o curso

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denominado Liceu Feminino, foi interrompido em 1939, mas o seu diploma não era

reconhecido oficialmente fora do âmbito das escolas municipais. O nome Liceu

Feminino Santista passou a denominar a toda Escola e o curso normal oficial

reconhecido começou em 1962. O Comercial teve pouca duração (de 1934 a 1936).

Houve também cursos livres para exames de suficiência de acessso ao Liceu; de

pintura, culinária e piano.

Dentro desse contexto está o estudo das escolas maternais.

Durante as primeiras décadas do século XX, a AFS teve escolas maternais

com várias denominações, conforme aumentava o número de suas classes; porém a

denominação de duas foram constantes: Escola Maternal Anália Franco e Escola

Maternal Júlio Conceição.

O levantamento feito no período de 1904 a 1916 no0s Relatórios de

Presidência revelou a seguinte situação:

Ano: 1904 Duas Escolas Maternais “Anália Franco” e “Júlio Conceição”. Professoras - Loreto Nogueira Mesquita, Alice de Breyne (alunas do 3º do Lyceu). Alunas Matriculadas - 36. Média de Frequência - 20. Observação: O Professor de música Sr. Oscar Ferreira pediu demissão e foi substituído por D. Mathilde Albergaria Monteiro.

Ano: 1905 As Escolas Maternais “Anália Franco” e “Júlio Conceição” estão divididas em 02 períodos, de 03 a 05 anos e de 05 a 07 anos. Professoras - Escola Maternal “Anália Franco”: 1º período - Oneida Guayer; 2º período - Loreto Nogueira Mesquita. Escola maternal “Júlio Conceição”: 1º período - Alice de Breyne; 2º período - Affonsina Proost de Souza. Alunas Matriculadas - 80. Média de Frequência - 60. Observações: 80 crianças matriculadas era o número determinado pelo regimento; em virtude do grande número de alunos foi proposto pela Diretoria a nomeação das 04 alunas do 4º ano do Lyceu (2 por escola)

Ano: 1906 As Escolas Maternais “Anália Franco” e “Júlio Conceição” funcionaram com regularidade. Professoras - Oneida Guayer, Loreto Nogueira Mesquita, Alice de Breyne, Affonsina Proost de Souza. Alunas Matriculadas - 100. Média de Frequência - 70.

Ano: 1907 Professoras - Oneida Guayer, Loreto Nogueira Mesquita, Alice de Breyne, Affonsina Proost de Souza, Maria da Piedade d’Araujo, Addy Proost de Souza. Alunas Matriculadas - 128. Média de Frequência - 80. Observação: As Professoras Affonsina Proost de Souza e Oneida Guayer deixaram seus lugares em junho por terem sido nomeadas professoras municipais e foram substituídas pelas Senhoritas Maria da Piedade d’Araujo, Addy Proost de Souza.

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Ano: 1908 Professoras - Loreto Nogueira Mesquita, Alice de Breyne, Maria da Piedade d’Araujo, Addy Proost de Souza, Olga Melchert. Alunas Matriculadas - 110. Média de Frequência - 98. Observação: A Professora Alice de Breyne pediu demissão e foi nomeada para substitui - lá interinamente a Professora Olga Melchert.

Ano: 1909 Professoras - Loreto Nogueira Mesquita, Maria da Piedade d’Araujo, Addy Proost de Souza, Crystallina C. de Azevedo Marques. Alunas Matriculadas - 118. Média de Frequência - 102.

Ano: 1910 Professoras - Loreto Nogueira Mesquita, Maria da Piedade d’Araujo, Addy Proost de Souza, Crystallina C. de Azevedo Marques, Brites Cruz de Azevedo Marques, Alice Aulicino (houve saídas e substituições de professores). Observação: no Relatório da Diretoria aparece uma tabela com o nome dos alunos matriculados nas Escolas Maternais.

Ano: 1911 Professores: Maria da Piedade d’Araujo, Deolinda Teixeira, Alice Aulicino, Anna Palmeira Martins(houve saídas e substituições de professores). Observação: no Relatório da Diretoria aparece uma tabela com o nome dos alunos matriculados nas Escolas Maternais. Ano: 1912 Alunos matriculados - 172 (64 meninos e 108 meninas). Observações: 1) Estando completamente desprovidas de material as Escolas Maternais, a Diretoria fez logo no começo do ano uma urgente encomenda do que era necessário e assim ao terminar o ano já se achavam aquelas escolas aparelhadas com o necessário para o seu regular funcionamento; 2) Só funcionou, como nos anos anteriores, um 3º período para as duas Escolas Maternais: “Anália Franco” e “Júlio Conceição” não se tem podido normalizar o ensino desse período. E necessário que cada escola funcione com 3 períodos; 3) Tendo ficado vago o lugar de professora do 2º período da Escola “Anália Franco” que era ocupado pela lycenista Loreto Nogueira Mesquita foi nomeada interinamente a lycenista Senhorita Bellucia Silva, devendo-se abrir a concorrência regular para a efetividade do cargo. Observação: no Relatório da Diretoria aparece uma tabela com o nome dos alunos matriculados nas Escolas Maternais. Ano: 1913 Alunos matriculados 192. Frequência Média - 99. Sendo impossível manter completas as duas Escolas Maternais, por precisarem de no mínimo 06 professoras, a Diretoria decidiu que em 1914 fossem transformadas numa só Escola Maternal, conservando os nomes de Anália Franco para o 1º período, Júlio Conceição para o 2º período e dando ao 3º período o nome laureado de Eunice Caldas, a benemérita fundadora da Associação. A Escola Maternal terá três professoras efetivas e uma adjunta para auxiliar. Tendo solicitado, logo no começo do ano, a sua exoneração de professora interina a lycenista Bellucia Silva foi nomeada para substitui-la a lycenista Estephania Menezes, escolhida pela Diretoria dentre as candidatas na concorrência feita de acordo com o regulamento. Tendo abandonado o lugar a Professora da Escola Maternal “Júlio Conceição”, a lycenista Anna Palmeira Martins foi nomeada para substitui-la a lycenista Ruth Caldeira que por não ter chegado a fazer concurso, ocupará no próximo ano o novo lugar criado de adjunta.

Ano: 1914 Total de alunos Matriculados - 201. 1º Período “Júlio Conceição” - 102 alunos. 2° Período “Anália Franco” - 41 alunos. 3º Período “Eunice Caldas” - 50 alunos.

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Ano: 1915 Alunos Matriculados - 259 de ambos os sexos, de 03 a 07 anos. Frequência Média - 136. Observação: em setembro pediu demissão do cargo de Professora do 2º período a lycenista Deolinda Aguiar Teixeira, sendo substituída interinamente pela lycenista Anna Palmeira Martins. Ano: 1916 Alunos matriculados - 252. Ambos os sexos de 03 a 06 anos. Frequência Media anual - 125.

Alunos das escolas maternais Anália Franco e Júlio Conceição, cujos nomes estão nos estandartes - início do séc. XX. (Cópia, acervo de Maria Apparecida Franco Pereira).

Foram feitos levantamentos nos primeiros livros de matrícula das Escolas

Maternais, manuscritos. Como exemplos, apresentamos o registro da matrícula de

1903:

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TABELA 02 – MATRÍCULAS DA ESCOLA MATERNAL “UNIÃO OPERÁRIA E JÚLIO CONCEIÇÃO” – Eunice Caldas (1903)

Nº NOME FILIAÇÃO IDADE MORADIA MATRÍCULA

01 Augusto Carvalho Vicente Carvalho 05 General Câmara, 336 02/março/1903

02 Victor Affonsecca Carlos Affonsecca 05 General Câmara, 340 02/março/1903

03 Antonio Mesquita (1) Augusto Mesquita 05 Cons. Nébias, 73 02/março/1903

04 Arnaldo Millon Adolpho Millon 05 General Câmara, 318 02/março/1903

05 Francisco Barbosa Francisco Barbosa 05 Senador Feijó, 120 03/março/1903

06 Alcipe P. Brazil Octavio Guimarães 04 Eduardo Ferreira, 26-B 04/março/1903

07 Reynaldo Bastos José Carneiro Bastos 05 General Câmara, 254 04/março/1903

08 Delía Assis Antonio Assis 04 Boqueirão, 16 02/março/1903

09 Risoleta Assis (1) Antonio Assis 05 Boqueirão, 16 02/março/1903

10 Umberto Furjona LuisFurjona 05 Cons. Nébias, 62 04/março/1903

11 Rebeca Marques Horácio Marques 04 Rosário, 299 04/março/1903

12 Mathilde Jesus João de Abreu 04 Aguiar de Andrade, 35 03/março/1903

13 M. Amélia Dores Manoel Ferreira 04 São Francisco, 121 03/março/1903

14 Alice Bonifácia Joaquim Rodrigues 04 Aguiar Andrade, 22 04/março/1903

15 Antonio Fernandes Manoel Fernandes 05 Luiza Macuco, 55 07/março/1903

16 Zilda Monteiro Manoel Monteiro 05 Cochrane, 53 07/março/1903

17 Floripes Ribeiro Francisco Ribeiro 05 Rosário, 274 09/março/1903

18 Carmella Salva Luiz Salva 05 Cons. Nébias, 62 02/março/1903

19 Marcílio Motta Domingos Motta 05 Rosário, 289 18/março/1903

20 Philomena Seixas Ataliba Seixas 05 Rosário, 316 19/março/1903

21 AntonioTonini Narciso Tonini 04 Santo Antonio, 45 26/março/1903

22 Jayme Freitas João Freitas 05 General Câmara, 245 02/abril/1903

23 Manoel Souza Antonio Souza 05 Amador Bueno, 203 15/abril/1903

24 Albertina Souza Antonio Souza 04 Amador Bueno, 203 15/abril/1903

25 Luiza Torres Domingos Torres 05 Senador Feijó, 109 18/abril/1903

(1)O nome desta e seus dados apresentam riscados.

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TABELA 03 – MATRÍCULAS DA ESCOLA MATERNAL “ANÁLIA FRANCO E ALMEIDA MORAES” – Eunice Caldas (1903)

Nº NOME FILIAÇÃO IDADE MORADIA MATRÍCULA

01 Carlos de Breyne Affonso de Breyne 06 Brás Cubas, 43 02/março/1903

02 Durval Bueno (2) Francisco Bueno 07 Rosário, 184 02/março/1903

03 Ariosto Guimarães Octavio Guimarães 06 Eduardo Ferreira, 26-B 03/março/1903

04 Assumpta Furjona Luiz Furjona 06 Cons. Nébias, 62 02/março/1903

05 Carmella Salva (1) Luis Salva 07 Cons. Nébias, 62 02/março/1903

06 Georgina Santos Sebastião Pinto 07 São Francisco, 121 03/março/1903

07 Guilhermina Santos Sebastião Santos 06 São Francisco, 121 03/março/1903

08 M. Amélia Dores (1) Manoel Ferreira 06 São Francisco, 121 03/março/1903

09 Candida Fernandes Félix Fernandes 07 Cons. Nébias, 115 03/março/1903

10 Mathilde Jesus (1) João de Abreu 06 Aguiar de Andrade, 35 03/março/1903

11 AlíceBonifácia (1) Joaquim Rodrigues 06 Aguiar de Andrade, 22 04/março/1903

12 Iara Marques Horácio Marques 06 Rosário, 299 04/março/1903

13 Carlina Bastos José C. Bastos 06 General Câmara, 294 05/março/1903

14 Risoleta Assis Antonio Assis 06 Boqueirão, 16 02/março/1903

15 Adda Seixas Pereira Ataliba Seixas Pereira 06 Rosário, 316 05/março/1903

16 Joaquim Rocha Antonio Rocha 06 Luiza Macuco, 33 06/março/1903

17 Amélia de Jesus Antonio Fernandes 07 Luiza Macuco, 55 07/março/1903

18 Oscar Monteiro Manoel Monteiro 06 Cochrane, 53 07/março/1903

19 Reynaldo Ribeiro Francisco Ribeiro 06 Rosário, 274 09/março/1903

20 Alayde Silva Francisco Silva 06 Cons. Nébias 10/março/1903

21 Maria Aurora Bernardo Carneiro 06 General Câmara, 284 11/março/1903

220 Álvaro Carneiro Bernardo Carneiro 07 General Câmara, 284 11/março/1903

23 Marculina Soares Dalianno Soares 06 Rosário, 288 12/março/1903

24 Nercínia Motta Domingos Motta 07 Rosário, 289 18/março/1903

25 Maria Conceição João de Abreu 06 Aguiar Andrade, 31 19/março/1903

26 Jayme Freitas (2) João de Freitas 04 General Câmara

27 Hypolito Freitas João Freitas 07 General Câmara, 245 02/abril/1903

28 Manoel Souza (1)

29 AntoniettaBras João Bras 07 Senador Feijó, 109 18/abril/1903

30 Margarida Marques Francisco Marques 07 Senador Feijó, 109 20/abril/1903

31 Anastácia Barros Hygino Barros 07 Senador Feijó, 107 20/abril/1903

32 Miguel Pasquarelli AntonioPasquarelli 07 Senador Feijó, 149 20/abril/1903

33 Júlia Ferreira Manoel Ferreira 06 Amador Bueno 20/abril/1903

(1)O nome desta e seus dados apresentam riscados; (2) Estes nomes não constam a partir do mês de abril.

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Como já nos referimos, a Escola Maternal Anália Franco e a Escola Maternal

Júlio Conceição são as duas instituições infantis da AFS que permanecem por todo

tempo.

A primeira Escola Maternal recebe a denominação de uma grande

educadora, assistencialista e militante espírita. Anália Emília Franco Bastos, mais

conhecida como Anália Franco (1856-1919), foi professora normalista (1875) e é

destaque no mundo da cultura, líder em defesa da mulher, tanto por seus escritos

na imprensa feminista como pela ação em favor da instrução da mulher. A sua obra

teve grande alcance social, pois fundou várias creches e asilos para o amparo de

crianças pobres e órfãs, mas também de viúvas, mães abandonadas e

trabalhadoras; sua obra se expandiu em inúmeras cidades paulistas.

A sua ação, entretanto, não é só assistencialista. Tem escritos ligados à

educação e ao ensino. Juntamente com Eunice Caldas publica “Manual para as

Escolas Maternais”. Leitura infantis, noções de Geografia Elementar, publicações

periódicas como “Manual Educativo” estão entre outras suas obras.

Extraído de OLIVEIRA, Eliane de Christo.

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Esta comunicação vai dar mais destaque ao patrono Júlio Conceição, pois é

figura menos conhecida do que a de Anália Franco entre os historiadores da da

Educação brasileira.

A segunda escola fundada tem o nome de Julio Conceição (1864-1938) um

dos principais da elite santista. Ele se preocupou com o ensino, tanto através da

sua participação na edilidade, quanto em realizações de caráter particular.

Júlio Conceição (Jornal Eletrônico Novo Milênio, Santos); Anália Franco (OLIVEIRA, Eliane de Christo).

Em 1882, neto e filho de cafeicultores (Barões de Serra Negra, de

Piracicaba), com a idade de 18 anos, veio trabalhar na comissária de café de sua

família. Casou-se em Santos com Mariana de Freitas Guimarães, de tradicional

família santense e participante do movimento da Associação Feminina. Era costume

dos grandes fazendeiros paulistas abrirem firmas comerciais em Santos ou em São

Paulo para tratar e vender o seu café. Em 1913, possuía 4 fazendas de café, uma

delas no Paraná.

Na terra santista, com seu grande porto exportador, centro fervilhante dos

negócios do café, mostrou-se homem de descortino, dinâmico e empreendedor,

desenvolvendo – além das atividades agrícolas – as comerciais, financeiras,

industriais, políticas, culturais e filantrópicas, um exemplar típico da elite paulista

agro-exportadora. Foi proprietário de casas comissárias de café, desde 1884. Em

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1889 inicia sociedade com Adolfo Correa Dias, mais duradoura, pois somente em

1925 é dissolvida.

Desde o Império, participou na política pelo Partido Conservador. Apoiava os

abolicionistas santistas Com apenas 23 anos foi eleito vereador em 1887, na

edilidade santista. Seus pais privaram da amizade do Imperador Pedro II. Fez parte

do Conselho de Intendência em 1891 e 1892. Em 1891 foi presidente da Câmara, o

que significava o governo da cidade.

Inúmeras entidades culturais e de benemerência têm a sua participação. Foi

um dos fundadores da Casa da Criança, que comemorou em 1989 o centenário, na

época denominada Asilo dos Órfãos; e da Gota de Leite, instituição de proteção à

infância, com fins de tratar de crianças doentes e alimentá-las, fundada a 14 de julho

de 1914. Também foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de

Santos em 19 de janeiro de 1938. Embora apenas tivesse feito o estudo regular das

humanidades, escreveu muitos artigos, sobre questões agrícolas e marítimas

(colônia de pesca), questões urbanas em Santos, biografias, como a do botânico

Alberto Lofgren.

Entre os escritos de Júlio Conceição, está a Monografia do Instituto D.

Escolástica Rosa (1908), obra onde se percebe todo o seu engenho à causa da

educação. Pondo em prática o testamento do amigo e compadre João Otávio dos

Santos – rico comerciante santista – do qual era testamenteiro, conseguiu, apesar

de dificuldades, edificar o Instituto “D. Escolástica Rosa”, para recolher e educar

meninos pobres, dando-lhes uma formação profissionalizante. O imponente edifício

construído na Ponta da Praia comprova seu talento e trabalho. A cidade, que o

adotou como filho, tentou perpetuar a sua memória de várias maneiras. A Câmara

Municipal decide dar o nome de Júlio Conceição à rua 149. Em 1909, Júlio

Conceição pede para mudar a denominação do logradouro para Francisco Ferrer, o

que não é aceito, porque ele “fazia jus à homenagem pelos dedicados serviços ao

Município [...]”.

É clara a sua participação em prol da educação da infância. Secundando a

atuação na instituição do Escholástica Rosa, merece destaque a sua participação

na obra da Associação Feminina Santista.

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Em 1902, com a fundação das Escolas Maternais da AFS, ofereceu

mobiliário e todo material froebeliano, inovador para o jardim da infância, mandando-

o vir da Alemanha. Assim uma das escolas, recebeu o seu nome.

Em carta manuscrita, datada de 14 de janeiro de 1905, à nova Presidente da

Associação, J. Conceição enumera, com detalhes, o material enviado em 8 de

outubro de 1904, que vale a pena ser relacionado mais sinteticamente para se

perceber o cuidado com a aprendizagem que deveria ser seguido na escola

maternal: armários, mesas grandes, oleados quadriculados para as mesmas; 50

cadeirinhas para crianças de 3 a 7 anos; dons de Froebel (1ª.,2ª., 3ª., 4ª.,5ª. e 6ª.);

caixas com triângulos e quadriláteros de madeira; varetas de vários tamanhos;

argolas de aço inteiras e partidas; papéis para dobraduras e para tecelagem; 200

folhas de papel cartão para trabalhos diversos; 100 modelos de costura em cartão;

200 furadores com cabo de madeira; 50 maços de 4 meadas de lã apropriada aos

cartões, cores diversas; 100 lousas quadriculadas Faber, diversos tamanhos; 50

pares de alteres para crianças de 6 a 7 anos.

Em missiva, ligada a esta primeira, informa à Associação que o “material

escolar por mim offerecido a esta Associação foi solicitado, sem a mínima condição,

pela transacta Diretoria, e obedeceu a uma lista organizada pela mesma”.

Em outro trecho justifica o envio da relação: “Se me dirigi a essa respeitável

Associação perguntando pelo recebimento do referido material, foi unicamente no

intuito de saber se estava exacto o numero dos objectos pedidos e nunca esperando

por agradecimento, pois sei que as Exmas. Associadas sempre se manifestam um

reconhecimento a esse respeito”.

É direto na sua indignação:

“Essa digna Directoria, se me quizer prestar fineza, ser-me agradavel, seria

dar outra denominação a essa secção da escola”. [...] jamais fiz offerta a essa

Associação com a mira de ter meu nome ligado á uma escola por donativo, pois sou

despido de vaidade para pretender isso”.

Colocada de lado a questão, a denominação se manteve até o final do ciclo

das Escolas Maternais.

“As escolas maternais são os institutos de instrucção primária da Associação

Feminina Santista e serão regidas por uma ou mais professoras diplomadas pelo

Lyceu Feminino” – explicitava ainda em 1914 o Regulamento Geral da Associação

Feminina santista de 1914, no seu art. 76.

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Documentos do acervo do Liceu Santista.

O mesmo documento, no seu art. 77 informava:

O curso primário, cujo curso será feito pelos processos de Froebel, comprehenderá 3 períodos eguaes, porém gradativos, quanto ao desenvolvimento de cada matéria, com excepção do 3º período no qual além do mais, serão dadas as primeiras lições de leitura.O curso comprenhederá as seguintes matérias: Linguagem e exercícios oraes, cálculo, noções geométricas, noções de desenho, de moral e geraes sobre as diversas sciencias. Exercícios escriptos. Cânticos, jogos e Gymnastica.

As professoras das Escolas Maternais seriam sempre as diplomadas do

Liceu. A primeira turma recebeu certificado em 1906. Apesar de iniciarem o primeiro

curso dezenas de alunas, chegaram ao final apenas cinco. O número de diplomadas

nunca foi muito grande. Enquanto não havia diplomadas, nos primeiros anos, eram

as alunas do curso do Liceu que proviam as cadeiras.

Primeira turma de professoras formadas pelo Liceu Feminino Santista – 1906. (Acervo do Liceu Santista)

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Nota-se, pelos Relatórios, que havia cuidado na contratação, sempre que

possível, através de seleção. Exigia-se alguns requisitos comportamentais: “Dar

exemplo de polidez e moralidade em seus actos, tanto nas escolas como fora

dellas” (art. 2). “Dar aula nos pontos que lhe forem designados em todos os dias

úteis”, sendo assíduas no cumprimento de seus deveres. (art.3); No art. 11,

destaque para a parte pedagógica: “Esforçar-se para transmitir aos seus discípulos

noções claras e exactas das matérias que leccionarem, provocando o

desenvolvimento gradual de suas faculdades por meio de lições mais empíricas do

que theoricas e pela divisão delles nos periodos conforme o grau de instrucção que

receberem”.

Essas são as primeiras conclusões de uma pesquisa em andamento.

Referências:

ASSOCIAÇÃO FEMININA SANTISTA. Regulamento geral. Lyceu Feminino. Eschola Maternal apresentado pela presidente da Associação Diva de Lamare Porchat de Assis, aprovado pela Directoria em reunião de 12 de janeiro de 1914. ASSOCIAÇÃO FEMININA SANTISTA. Relatório da Diretoria dos anos de 1902 a 1927. ASSOCIAÇÃO FEMININA SANTISTA. Livro de Matrículas das Escolas Maternais. DOCUMENTOS avulsos da AFS (correspondência, iconografia). A TRIBUNA, Jornal. Santos, 20 maio 1902. CAPUTO, Melissa Mendes S. Eunice Caldas: uma voz feminina no silêncio da História (1879-1967). 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Católica de Santos. OLIVEIRA, Eliane de Christo. Anália Franco e a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva: Idéias e Práticas Educativas para a criança e para a mulher (1870 - 1920). 2007. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade São Francisco, Campus Itatiba. PEREIRA, Maria Apparecida Franco. Julio Conceição, um grande homem, Revista Leopoldianum, Santos, v. XVI.n. 47, p. 13-23,1991.