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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas. A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu. Num programa de entrevista na televisão o indigenísta Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer." Podemos também obter algumas noções de como

História Da Educação

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História da Educação

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Page 1: História Da Educação

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO

      A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas.       A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu.       Num programa de entrevista na televisão o indigenísta Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer."       Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.       Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos.       Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo.       Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a

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situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior.       A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver que enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.       Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu uma processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo.       Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que freqüentam os bancos escolares.       Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar nesta Home Page.        Cada página representa um período da educação brasileira cuja divisão foi baseada nos períodos que podem ser considerados como os mais marcantes e os que sofreram as rupturas mais concretas na nossa educação. Está dividida em texto e cronologia, sendo que o texto refere-se ao mesmo período da Cronologia. A cronologia é baseada na Linha da Vida ou Faixa do Tempo montessoriana. Neste método é feita uma relação de fatos históricos em diferentes visões. No nosso caso realçamos fatos da História da Educação no Brasil, fatos da própria História do Brasil, que não dizem respeito direto à educação, fatos ocorridos na educação mundial e fatos ocorridos na História do Mundo como um todo.       Estes períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de importância histórica.       Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado.       Qualquer crítica ou colaboração será sempre bem vinda.

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PERÍODO JESUÍTICO

(1549 · 1759)

Texto Cronologia

      A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loiola e um pequeno grupo de discípulos, na Capela de Montmartre, em Paris, em 1534, com objetivos catequéticos, em função da Reforma Protestante e a expansão do luteranismo na Europa.       Os primeiros jesuítas chegaram ao território brasileiro em março de 1549 juntamente com o primeiro governador·geral, Tome de Souza. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou·se o primeiro professor nos moldes europeus e durante mais de 50 anos dedicou·se ao ensino e a propagação da fé religiosa.       O mais conhecido e talvez o mais atuante foi o noviço José de Anchieta, nascido na Ilha de Tenerife e falecido na cidade de Reritiba, atual Anchieta, no litoral sul do Estado do Espírito Santo, em 1597. Anchieta tornou·se mestre·escola do Colégio de Piratininga; foi missionário em São Vicente, onde escreveu na areia os "Poemas à Virgem Maria" (De beata virgine Dei matre Maria), missionário em Piratininga, Rio de Janeiro e Espírito Santo; Provincial da Companhia de Jesus de 1579 a 1586 e reitor do Colégio do Espírito Santo. Além disso foi autor da Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil.       No Brasil os jesuítas se dedicaram a pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu·se para o sul e em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).       Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum. Os jesuítas não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar eles mantinham os cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava·se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de

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Filosofia estudava·se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Os que pretendiam seguir as profissões liberais iam estudar na Europa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, a mais famosa no campo das ciências jurídicas e teológicas, e na Universidade de Montpellier, na França, a mais procurada na área da medicina.       Com a descoberta os índios ficaram à mercê dos interesses alienígenas: as cidades desejavam integrá·los ao processo colonizador; os jesuítas desejavam convertê·los ao cristianismo e aos valores europeus; os colonos estavam interessados em usá·los como escravos. Os jesuítas então pensaram em afastar os índios dos interesses dos colonizadores e criaram as reduções ou missões, no interior do território. Nestas Missões, os índios, além de passarem pelo processo de catequização, também são orientados ao trabalho agrícola, que garantiam aos jesuítas uma de suas fontes de renda.       As Missões acabaram por transformar os índios nômades em sedentários, o que contribuiu decisivamente para facilitar a captura deles pelos colonos, que conseguem, às vezes, capturar tribos inteiras nestas Missões.       Os jesuítas permaneceram como mentores da educação brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777. No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional.

TOPO

(Cronologia)

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1500   · Sai de Portugal a esquadra de Pedro Álvares Cabral com destino à Índia. · Chega às costas brasileiras a esquadra de Pedro Álvares Cabral.

   

1501   · Américo Vespúcio percorre a costa do Brasil, do Rio Grande

   

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do Norte até Cananéia, em São Paulo, nomeando os acidentes geográficos litorâneos.

1502   · É concedida a Fernando de Noronha o direito de exploração do pau-brasil.

  · Montezuma torna·se chefe dos Astecas, no México.

1503       · Morre o Papa Pio III. Em seu lugar assume Giuliano della Rovere, que adota o nome de Papa Júlio II.

1513       · Morre o Papa Júlio II e assume Leão X.

1517       · Martinho Lutero divulga suas 95 teses contra as indulgências da Igreja, dando início à Reforma Protestante. · Os espanhóis ocupam Yucatán, na América Central.

1526     · Frei Pedro de Gante funda a Escola de São Francisco, no México.

 

1532   · Martim Afonso de Souza funda a vila de São Vicente, depois de comandar a primeira expedição para defender o litoral brasileiro contra o contrabando de pau·brasil pelos franceses.

   

1534   · São criadas as Capitanias Hereditárias.

  · Ignácio de Loyola funda a Companhia de Jesus.

1536     · Frei João de Zumárraga funda o Colégio Imperial de Santa Cruz de Tlateloco, consagrado à educação superior dos índios..

 

1538     · O Colégio dos Frades Dominicanos passa a se chamar Universidade de São Tomás de Aquino, em São Domingos.

 

Page 6: História Da Educação

1539     · É impresso no México o primeiro livro.

 

1544     · A beata Angela de Mérici funda a Ordem das Ursulinas, em honra de Santa Úrsula, para educação das meninas.

 

1545       ·Tem início o Concílio de Trento, formulando diretrizes para a Contra-Reforma e instituindo o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos aos católicos, sob pena de excomunhão.

1549 · Chega ao Brasil o primeiro grupo de seis padres jesuítas, chefiados por Manuel de Nóbrega, marcando o início da História da Educação no Brasil (nos moldes europeus).

· Quinze dias após a chegada fundam, na cidade de Salvador, a primeira escola elementar.

· Tome de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil, funda a cidade de Salvador para servir de sede do governo.

   

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1551     · São criadas a Real e Pontifícia Universidade no México e a Universidade de São Marcos, em Lima.

 

1553   · Duarte da Costa é o segundo Governador Geral do Brasil.

   

1554 · São fundadas as escolas jesuítas de São Paulo de Piratininga, tendo como seu primeiro professor o padre José de Anchieta, e a da Bahia.

     

1555   · Primeira invasão francesa ao território brasileiro na Baía de Guanabara.

   

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· Os franceses fundam a França Antártica, na Baía de Guanabara, para abrigar calvinistas fugidos da guerra religiosa na Europa.

1556 · É fundado o colégio jesuíta de Todos os Santos. · Começa a vigorar as "Constituições da Companhia de Jesus", incluindo a aprendizagem do canto, da música instrumental e o estudo profissional agrícola.

     

1560   · Mem de Sá é o terceiro Governador Geral do Brasil. · Mem de Sá expulsa os franceses da Baía de Guanabara.

   

1563   · Estácio de Sá funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

   

1564   · É colocado em execução o "Padrão de Redízimo" que consistia em que 10% de toda a arrecadação dos dízimos reais, em todas as capitanias da colônia e seus povoados, ficavam vinculados ao sustento e à manutenção dos jesuítas.

   

1567 · É fundado o colégio jesuíta do Rio de Janeiro.

· Os franceses são expulsos do Rio de Janeiro.

   

1568 · É fundado o colégio jesuíta de Olinda.

· Tem início a escravidão africana, onde cada senhor de engenho teve o direito de adquirir até 120 escravos por ano.

   

1570 · O Brasil conta com cinco escolas elementares (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três

  · Carlos Borromeu funda a Ordem dos Oblatos para reliogiosos que ofereciam e se preparavam para a educação.

 

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colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).

1572       · Em Paris são assassinados mais de três mil protestantes, entre eles mulheres e crianças, sob às ordens da Rainha Catarina de Médicis. Este episódio ficou conhecido como A Noite de São Bartolomeu.

1573     · É criada a Universidade de Santa Fé de Bogotá.

 

1575 · No colégio da Bahia já se colava grau de Bacharel em Artes.

     

1576 · No colégio da Bahia formam·se licenciados.

     

1584       · A imprensa chega ao Peru.

1599 · Ganha uma elaboração definitiva a "Ratio atque Institutio Studiorum", ou Plano de Estudos da Companhia de Jesus, que codificava a pedagogia dos jesuítas.

     

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1600     · O vice-rei Dom Gaspar de Zuñiga promulga a Ordenança dos Mestres da Nilíssima Arte de Ler, Escrever e Contar, uma legislação escolar.

· É fundada a Companhia Britânica das Índias Orientais para explorar o comércio com o Oriente, a Ásia e a Índia.

1613     · É criada a Universidade Córdoba do Tucumã.

 

1618     · Os jesuítas possuem 572 colégios espalhados pelo mundo. · O ducado de Weimar regulamenta a obrigatoriedade escolar para todas as crianças de 6 a 12 anos.

· Tem início a Guerra dos Trinta Anos entre protestantes e católicos.

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1622 · É fundado o colégio jesuíta do Maranhão.

     

1623     · É criada a Universidade de La Plata.

 

1624   · Primeira invasão holandesa no Brasil, em Salvador. São expulsos um ano depois.

   

1628     · É editada Didactica magna, universale omnes ominia docendi artificium exhibens (a magna Didática, que apresenta a completa arte de ensinar tudo a todos) de João Amós Comênio.

 

1630   · Segunda invasão holandesa no Brasil, em Recife. · Escravos fundam o Quilombo de Palmares.

  · A imprensa chega à Argentina.

1631 · É fundado o colégio jesuíta de Santo Inácio, em São Paulo.

     

1646     · Os jansenistas, conhecidos como os "solitários de Port·Royal", organizam as "pequenas escolas" que terão importante papel na formação de líderes para a Igreja e para o Estado.

 

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1652 · É fundado o colégio jesuíta de São Miguel, em Santos, o de Santo Alexandre, no Pará, e o de Nossa Senhora da Luz, em São Luiz do Maranhão.

     

1654 · É fundado o colégio jesuíta de São Tiago, no Espírito Santo.

· Os holandeses são definitivamente expulsos do Brasil.

   

1675     · É criada a Universidade da Guatemala.

 

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1678 · E fundado o colégio jesuíta de Nossa Senhora do Ó, em Recife.

     

1683 · É fundado o colégio jesuíta da Paraíba.

     

1684     · João Batista de La Salle funda o Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, para que os pobres obtenham gratuitamente instrução elementar.

 

1686     · Madame de Maintenon, esposa de Luiz XIV, funda o Colégio de Saint-Cyr, para meninas de 7 e 12 anos que permanecem lá até os 20 anos.

 

1688       · A Revolução Gloriosa destrona os Stuarts e encerra o absolutismo na Inglaterra.

1689 · É resolvida a "Questão dos Moços Pardos", surgida com a proibição, por parte dos jesuítas, da matrícula e da freqüência dos mestiços. Como as escolas eram públicas, para não perderem os subsídios que recebiam, são obrigados a readmití·los.

     

1692     · É criada a Universidade de Cusco.

 

1695   · Em 20 de novembro morre Zumbi dos Palmares.

   

1699 · É fundada na Bahia a Escola de Artes e Edificações Militares.

    · Nasce em Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Marquês de Pombal.

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1708   · Guerra dos · Os jesuítas possuem  

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Emboabas. Emboabas eram os estrangeiros ou pessoas vindas de outras partes da colônia para procurar ouro em São Vicente, São Paulo.

769 colégios espalhados pelo mundo.

1710   · Guerra dos Mascates, em Pernambuco.

   

1712     · Nasce em Genebra Jean·Jacques Rousseau.

 

1721     · É criada a Universidade da Caracas.

 

1722 · Os oficiais da Câmara queixam-se ao Rei, contra alguns religiosos, sobre a questão do ensino.

     

1738 · É fundada no Rio de Janeiro a Escola de Artilharia.

  · É criada a Universidade de Santiago do Chile.

 

1739 · São fundados os Seminários de São José e São Pedro, no Rio de Janeiro.

     

1740     · É fundada em Paris a primeira Escola de Artes e Ofícios.

 

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1750       · Tratado de Madri anula o das Tordesilhas, resolvendo o problema das Missões. · A introdução da máquina a vapor inicia a Revolução Industrial. · D. José I, Rei de Portugal, nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, Secretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.

1755       · Um terremoto devasta a cidade de Lisboa, derrubando e

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incendiando casas e palácios.

1756       · Tem início a Guerra dos Sete Anos, motivada pelas disputas de colônias entre a Inglaterra e a França. · Marquês de Pombal é nomeado Secretário de Estado de Negócios do Reino, com plenos poderes.

1759 · Duzentos e dez anos após a chegada e de serem os únicos responsáveis pela educação no Brasil, deixam a colônia cerca de Quinhentos padres jesuítas, expulsos pelo Marquês de Pombal, Ministro de D. José I, paralisando 17 colégios, 36 missões, seminários menores e escolas elementares. · O Alvará de 28 de julho determina a instituição de aulas de gramática latina, aulas de grego e de retórica, além de criar o cargo de "Diretor de Estudos". Medidas inócuas para um sistema de ensino fragmentado.

· Marques de Pombal extingue as últimas Capitanias Hereditárias.

   

PERÍODO POMBALINO

(1760 - 1808)

Texto Cronologia

 

Page 13: História Da Educação

(Texto)

      Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum.       Pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário episcospal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia; e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro.       Os jesuítas foram expulsos das colônias por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777, em função de radicais diferenças de objetivos. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências européias da época. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.

Marquês de Pombal

      Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras.       Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal.       Os professores eram geralmente mal preparados para a função, já que

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eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.       De todo esse período de "trevas" sobressaíram-se a criação, no Rio de Janeiro, de um curso de estudos literários e teológicos, em julho de 1776, e do Seminário de Olinda, em 1798, por Dom Azeredo Coutinho, governador interino e bispo de Pernambuco. O Seminário de Olinda "tinha uma estrutura escolar propriamente dita, em que as matérias apresentavam uma sequência lógica, os cursos tinham uma duração determinada e os estudantes eram reunidos em classe e trabalhavam de acordo com um plano de ensino previamente estabelecido" (Piletti, 1996: 37).       O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX (anos 1800...), a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação.       Esta situação somente sofreu uma mudança com a chegada da família real ao Brasil em 1808.

TOPO

(Cronologia)

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1760 · Entre março e abril, 119 jesuítas saem do Rio de Janeiro, 117 da Bahia,e 119 de Recife.

  · Em Portugal, Marquês de Pombal implementa uma educação que priorize a educação do indivíduo em consonância com o estado. · São criados em Portugal os cargos de mestres em Literatura Latina, Retórica, Gramática Grega e Língua Hebraica.

 

1761     · É criado em Portugal o Colégio dos Nobres, dentro do novo espírito educacional, distante do modelo dos Jesuítas.

 

1762     · Jean·Jacques Rousseau escreve

 

Page 15: História Da Educação

Emílio e Contrato Social.

1763   · Mudança da capital do Vice-Reino de Salvador para o Rio de Janeiro.

   

1764     · Jean·Jacques Rousseau escreve Devaneios de um Passeante e Confissões.

 

1765       · O inglês James Watt aperfeiçoa o motor a vapor que se tornou marco da Revolução Industrial.

1767     · A Espanha expulsa os jesuítas e fecha seus colégios. · Carlos III lança uma Ordenança Real obrigando todo município espanhol a ter uma escola de primeiras letras, com freqüência obrigatória.

 

1768     · Carlos III dispõe que deveriam ser fundadas escolas para meninas, dando preferência para filhas de lavradores e artesãos.

 

1770 · A Reforma Pombalina de Educação substitui o sistema jesuítico e o ensino é dirigido pelos vice·reis nomeados por Portugal.

  · L'Abbé de L'Epée funda em Paris a primeira instituição específica para a educação dos surdos.

 

1772 · É instituído o "subsídio literário", imposto destinado a manutenção dos ensinos primário e médio. · É fundada, no Rio de Janeiro, a Academia Científica.

  · É publicada uma Lei que define o modelo e as linhas gerais do ensino português.

 

1774     · Basedow funda em Dessau o Instituto Filantropinum e tem início o movimento pedagógico conhecido como filatropismo

 

Page 16: História Da Educação

(philos, "amigo"; anthropos, "homem").

1776 · É criado no Rio de Janeiro, pelos padres Franciscanos, um curso de estudos literários e teológicos, destinado à formação de sacerdotes.

  · L'Abbé de L'Epée publica A Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos.

· Os Estados Unidos proclamam sua independência.

1777       · D. Maria I, mãe de D. João, assume o trono de Portugal. · Marquês de Pombal perde todos os poderes.

1778     · Morre Jean·Jacques Rousseau.

 

1782     · É criada a Universidade de Havana.

 

1784 · É criado no Rio de Janeiro o Gabinete de História Natural.

     

1789   · Tiradentes e a Inconfidência Mineira.

  · A Queda da Bastilha é o marco da Revolução Francesa.

1791     · É criada a Universidade Quito.

 

1797     · É criada em Santiago do Chile a Academia de São Luiz, pelo mestre Dom Manuel de Salas.

 

1799     · É criada em Buenos Aires a Escola Náutica, por Manuel Belgrano.

· Napoleão Bonaparte dá o Golpe do Dezoito Brumário, e assume o poder na França · Problemas menatis afastam a Rainha, D. Maria I, assumindo o governo o Príncipe-Regente D. João.

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1800 · O bispo Azeredo Coutinho funda o Seminário de Olinda.

     

1802 · D. Azeredo Coutinho funda em Pernambuco o Recolhimento de Nossa Senhora da Glória, só para meninas da nascente

  · O educador suíço Felipe Manuel Fallenberg, funda a Escola Prática de Agricultura. 

 

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nobreza e fidalguia brasileira.

1807     · O educador suíço Felipe Manuel Fallenberg, funda o Instituto Agronômico Superior.

· D. Maria I, Rainha de Portugal, seu filho, o Príncipe-Regente D. João, sua nora, a Princesa carlota Joaquina, toda família real e cerca de 15 mil pessoas iniciam a viagem para a colônia brasileira. · Antes mesmo das naus portuguesas terem desaparecido no horizante, as tropas francesas, comandadas pelo general Junot, ocupam Lisboa. · D. João deixa instruções para que as tropas francesas sejam bem recebidas em Portugal.

Referência:

PILETTI, Nelson, História da Educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996.

PERÍODO JOANINO

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1808 · É fundado uma escola de educação, onde se ensinavam as línguas portuguesa e francesa, Retórica, Aritmética, Desenho e Pintura. · É criada a Academia de Marinha, no Rio de Janeiro. · São criados cursos de cirurgia no Rio de Janeiro e na Bahia. · É criada uma cadeira de Ciência

· Chegada da Família Real ao Brasil. · Abertura dos portos às nações amigas. · Impresso em Londres, por Hipólito da Costa, o Correio Braziliense é o primeiro jornal em língua portuguesa a circular no Brasil. · Impresso o primeiro periódico do Brasil: Gazeta do Rio de Janeiro.

  · O general Junot, que em princípio mostrava-se amigável a Portugal, torna-se um tirano, oprimindo o governo e a população portuguesa. · D. João declara guerra à França e enfrenta Napoleão.

Page 18: História Da Educação

Econômica, na Bahia, da qual seria regente José da Silva Lisboa, o futuro Visconde de Cairu.

1809       · As tropas francesas, comandadas pelo General Soult, entram novamente em Portugal, por Trás-os-Montes, chegando à cidade do Porto, sendo imediatamente rechaçadas pelas tropas anglo-portuguesas.

1810 · Desfazendo·se de seus próprios livros (60.000 volumes), trazidos de Portugal, D. João funda a nossa primeira biblioteca. · É criada a Academia Militar.

    · Nova invasão francesa ao território português, comandada pelo Marechal Massena.

1811       · Rechaçadas pelas tropas anglo-lusitanas as tropas francesas começam a debandar em direção a Espanha.

1812 · São criados cursos de Agricultura na Bahia. · É criada a escola de serralheiros, oficiais de lima e espingardeiros, em Minas Gerais. · É criado o laboratório de química no Rio de Janeiro.

     

1814 · Franqueada a população a biblioteca real torna-se nossa primeira biblioteca pública. · São criados cursos de agricultura no Rio de Janeiro.

    · Napoleão perde o poder na França. · As tropas francesas são finalmente vencidas pelas tropas anglo-lusitanas.

1815   · Elevação do Brasil a Reino Unido ao de Portugal e Algarves.

   

1816 · É criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.

     

1817 · É criado um curso de química na Bahia.

· Tem início a Revolução Pernambucana.

   

Page 19: História Da Educação

1818 · Surge um curso de desenho com o objetivo de "beneficiar muitos ramos da indústria". · É criado o Museu Nacional no Rio de Janeiro.

     

1820 · A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios muda para Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil e depois para Academia de Artes.

     

PERÍODO IMPERIAL

(1822 - 1888)

Texto Cronologia

 

(Texto)

      Para o professor Lauro de Oliveira Lima a vinda da Família Real representou a verdadeira "descoberta do Brasil" (Lima, [197_], 103). Ainda segundo o professor Lauro, "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura" (Idem)       Em 1820 o povo português mostra-se descontente com a demora do retorno da Família Real e inicia a Revolução Constitucionalista, na cidade do Porto. Isto apressa a volta de D. João VI a Portugal em 1821. Em 1822, a 7 de setembro, seu filho D. Pedro I declara a Independência do Brasil e, inspirada na Constituição francesa, de cunho liberal, em 1824 é outorgada a

Page 20: História Da Educação

primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária e gratuita para todos os cidadãos".       Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensina um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor.       Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. E, em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas.       Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira escola normal do país em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação brasileira se perdeu mais uma vez, obtendo resultados pífios. Em 1880 o Ministro Paulino de Souza lamenta o abandono da educação no Brasil, em seu relatório à Câmara. Em 1882 Ruy Barbosa sugere a liberdade do ensino, o ensino laico e a obrigatoriedade de instrução, obedecendo as normas emanadas pela Maçonaria Internacional.       Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo.       Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II quando perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, respondeu que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.

TOPO

(Cronologia)

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1821   · Anexação da Província Cisplatina. · D. João VI retorna a Portugal, deixando D. Pedro como Príncipe

   

Page 21: História Da Educação

Regente.

1822 · O Decreto de 1o de março criava no Rio de Janeiro uma escola baseada no método lancasteriano ou de ensino mútuo. Ou seja, somente um professor para cada escola.

· D. Pedro declara a Independência do Brasil, tornado-se o primeiro Imperador do Brasil com o título de D. Pedro I.

   

1824 · A Constituição, outorgada pela Assembléia Constituinte, dizia, no seu artigo 179, que a instrução primária era gratuita a todos os cidadãos.

     

1825 · É criado o Ateneu do Rio Grande do Norte.

· É criado um curso jurídico provisório na Corte.

· Portugal e Inglaterra reconhecem a Independência do Brasil. 

  · Início da luta pela independência do Uruguai. 

1827 · São criados os cursos de Direito de São Paulo e Olinda. · É criado o Observatório Astronômico. · Uma Lei Geral, de 15 de outubro, dispõe sobre as escolas de primeiras letras, fixando-lhes o currículo e institui o ensino primário para o sexo feminino.

· Começa a circular o jornal A Aurora Fluminense. · Os brasileiros lutam contra tropas argentinas e uruguaias pela posse da Província Cisplatina. · Um ano depois é assinado um tratado de paz entre as partes, reconhecendo a Independência do Uruguai.

  · O inglês John Dalton apresenta a primeira formulação da teoria atômica. 

 

 

1829     · O Professor Louis Braille, cego desde os três anos, cria um sistema de leitura para cegos, em Paris. 

· O Papa Pio VIII sucede o Papa Leão XII. · Em Maryland, nos Estados Unidos, a Companhia de Estrada de Ferro inicia a primeira linha de passageiros.

1830   · Uma Resolução do Senado declara livres os índios selvagens prisioneiros de guerra escravizados.

  · Michael Faraday, cientista inglês, descobre a indução magnética. · Distúrbios de operários têxteis na Inglaterra. · Morre Simon Bolívar, herói da Independência

Page 22: História Da Educação

de vários países hispânicos.

1831   · Noite das Garrafadas. · D. Pedro I abdica em favor de seu filho D. Pedro II, então com oito anos. · Em Recife eclode as rebeliões conhecidas como Setembrizada e Novembrada, em função da abdicação de D. Pedro I. · Constituição da Primeira Regência Trina Provisória, composta pelos Senadores Carneiro de Campos, Campos Vergueiro e pelo Brigadeiro Francisco de Lima e Silva. · Uma Lei declara livres todos os escravos que entrassem no Brasil após esta data.

  · O botânico inglês Robert Brown descobre o núcleo das células. · Morre de cólera o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. 

 

 

1832 · Convertem·se em Faculdades de Medicina, as Academias Médico-Cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia.

· Ainda em função da abdicação de D. Pedro I, eclode em Recife a revolta conhecida como Abrilada e a Guerra dos Cabanos.

   

1834 · O Ato Adicional da reforma constitucional dizia que a educação primária e secundária ficaria a cargo das províncias, restando a administração nacional o ensino superior.

· O Ato Adicional estabelece a eleição de um só Regente. · Revolta da Cabanagem, no Pará. · Revolta das Cameiradas, em Recife.

  · A escravidão é abolida em todo o Império Britânico. · Morre em Portugal D. Pedro I.

1835 · É criada uma escola normal em Niterói. A primeira do Brasil.

· Regência Una com a eleição de Diogo Antônio Feijó. · Tem início a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. · Eclode a Revolta do Malês, na Bahia.

   

1836 · É criada uma escola normal na Bahia. · São criados os Liceus da Bahia e da Paraíba.

     

1837   · Tem início a revolta conhecido como

   

Page 23: História Da Educação

Sabinada, na Bahia. · Em substituição a Feijó, assume a Regência Pedro de Araújo Lima.

1838 · O Colégio Pedro II é fundado no Rio de Janeiro.

· Tem início a revolta conhecida como Balaiada, no Maranhão.

  · Surgem na Inglaterra os primeiros sindicatos (trade union)

1839 · É criada uma escola normal no Pará.

    · Inglaterra e China envolve·se no conflito conhecido por Guerra do Ópio. Vencida a guerra pelos Ingleses a China é obrigada a transferir a posse de Hong Kong para os britânicos. · As mães inglesas, separadas ou divorciadas, passam a ter acesso aos seus filhos. · As mulheres conquistam o direito de ter propriedades nos Estados Unidos. · É construída a primeira locomotiva elétrica pelo americano Charles Page.

1840   · Aos 14 anos de idade D. Pedro II torna-se Imperador do Brasil.

   

1844       · Samuel Morse cria a mensagem telegráfica através de um código de sinais de sons.

1845 · É criada uma escola normal no Ceará.

    · A Inglaterra promulga a Bill Aberdeen, que lhe dá o direito de aprisionar qualquer embarcação que traficasse escravos. · Karl Marx é expulso da França e muda-se para Bruxelas.

1846 · É criada uma escola normal em São Paulo.

    · O dentista William Morton utiliza pela primeira vez uma anestesia local numa cirurgia.

1848 · É criada uma escola normal em São Paulo.

· Setores radicais do Partido Liberal pernambucano inicia a

  · Karl Marx e Friedrich Engels publicam o Manifesto do Partido

Page 24: História Da Educação

Revolta Praieira. Comunista.

1849 · Gonçalves Dias, encarregado de estudar as condições do ensino nas Províncias do Norte dizia que "os nossos liceus são escolas preparatórias da academia e escolas más".

     

ANOHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA DO BRASILHISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO MUNDO

1850   · A Lei Eusébio de Queiroz acaba com o tráfico de escravos. · Chegam no Rio de Janeiro os bondes puxados por cavalos.

   

1852 · Gonçalves Dias, em seu relatório de inspeção, dizia: "Quero crer perigoso dar·se·lhes (aos aldeados) instrução".

· Inauguração das primeiras linhas telegráficas no Brasil.

   

1854 · O Decreto 1331A, de 17 de fevereiro, reforma os ensinos primário e secundário, exigindo professores credenciados e a volta da fiscalização oficial; cria a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária. · É criada uma escola normal na Paraíba.

· Barão de Mauá constrói a primeira ferrovia brasileira, no Rio de Janeiro.

   

1857 · No Rio Grande do Sul, no Colégio de Artes Mecânicas, a lei mandava recusar matrículas às crianças de cor preta e aos escravos e pretos, "ainda que libertos e livres".

     

1864 · No Rio Grande do Sul, no Colégio de Artes Mecânicas, a lei mandava recusar matrículas às crianças de cor preta e aos escravos e pretos, "ainda que libertos e livres".

· Paraguai declara guerra ao Brasil.

  · É criada a I Internacional dos Trabalhadores, dirigida por Karl Marx.

Page 25: História Da Educação

1870 · A Reforma Paulino de Souza pretendia imprimir, aos estudos realizados no Colégio Pedro II, um caráter formativo, habilitando os alunos não só para os estudos superiores, mas para a vida, além da instituição ser capaz de competir com os estabelecimentos particulares no aliciamento de candidatos às Academias. · É criada a Escola Americana, o Colégio Piracicabano, escola primária de cunho protestante. · É criada uma escola normal no Rio Grande do Sul.

· Tem início a imigração italiana.

· Nasce em Chiaravalle, província de Ancona, na Itália, Maria Montessori.

· Acontece a unificação italiana.

1871   · A Lei do Ventre Livre liberta os filhos de escravos.

  · É instituída a Comuna de Paris que dura 72 dias.

1872 · O Brasil contava com uma população de 10 milhões de habitantes e apenas 150.000 alunos matriculados em escolas primárias. O índice de analfabetismo era de 66,4%.

· Fanáticos religiosos do Rio Grande do Sul iniciam o que ficou chamado como a Revolta dos Mucker.

   

1873 · Com o objetivo de estimular o desenvolvimento dos estudos secundários nas províncias e de facilitar aos candidatos das províncias o acesso aos cursos superiores, o Ministro João Alfredo Correia de Oliveira instalou nas capitais das províncias do Império bancas de exames gerais preparatórios.

     

1874 · É criada a Escola Politécnica.

     

1878 · O Conselheiro Leôncio de Carvalho realiza uma reforma do ensino que permitia "a

     

Page 26: História Da Educação

cada um expor livremente suas idéias e ensinar as doutrinas que acredite verdadeiras, pelos métodos que julgue melhores". Além disso manteve as matrículas avulsas e introduziu a freqüência livre e os exames vagos no Externato do Colégio Pedro II.

1879 · O Senador Oliveira Junqueira dizia: "certas matérias, talvez, não sejam convenientes para o pobre; o menino pobre deve ter noções muito simples".

· Começa a funcionar a Companhia Telephonica Brasileira. Em 1876 D. Pedro II conheceu o telefone, na Exposição de Filadélfia, e no ano seguinte instalou a primeira linha, na cidade do Rio de Janeiro.

   

1880 · Surge a primeira escola normal da Capital do Império, mantida e administrada pelos Poderes Públicos.

     

1882 · Rodolfo Dantas cria um projeto propondo maior intervenção do Governo na instrução popular das províncias. Este projeto não chegou a ser discutido no Parlamento.

     

1884 · É criada a Escola Neutralidade, escola primária de cunho positivista.

    · A África é dividida pelas potências européias na Conferência de Berlim.

1885   · A Lei Saraiva-Cotegipe ou a Lei dos Sexagenários torna livres os escravos com mais de 60 anos.

   

1888 · É criado o Instituto Pasteur, no Rio de Janeiro

· A Lei Áurea abole a escravidão no Brasil.

   

1889 · Ferreira Viana, Ministro do Império dizia ser fundamental formar "professores com a necessária

· O Marechal Deodoro da Fonseca proclama a República. · D. Pedro II e sua família embarca para a

   

Page 27: História Da Educação

instrução científica e profissional". · Em sua última fala do trono Sua Majestade pedia empenho para a criação de um ministério destinado aos negócios da Instrução Pública. · Com a Proclamação da República, no Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, torna-se Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos Benjamin Constant Botelho de Magalhães. · Os alunos matriculados nas escolas correspondem a 12% da população em idade escolar.

Europa.

Referência:

LIMA, Lauro de Oliveira, Estórias da Educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, [197_].

PERÍODO DO ESTADO NOVO

(1937 - 1945)

Texto Cronologia

 

(Texto)

Page 28: História Da Educação

      Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 10 de novembro de 1937. A orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contigente de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional.       Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias.       No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, segundo Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação, profundamente rica no período anterior, entre "numa espécie de hibernação"(1993: 153). As conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nesta nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. Ainda assim é criada a União Nacional dos Estudantes - UNE e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP.       Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são compostas pelas seguintes Decretos-lei, durante o Estado Novo:       - O Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI.       - O Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro, regulamenta o ensino industrial.       - O Decreto-lei 4.244, de 9 de abril, regulamenta o ensino secundário.       - O Decreto-lei 4.481, de 16 de julho, dispõe sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos industriais empregarem um total de 8% correspondente ao número de operários e matriculá-los nas escolas do SENAI.       - O Decreto-lei 4.436, de 7 de novembro, amplia o âmbito do SENAI, atingindo também o setor de transportes, das comunicações e da pesca.       - O Decreto-lei 4.984, de 21 de novembro, compele que as empresas oficiais com mais de cem empregados a manter, por conta própria, uma escola de aprendizagem destinada à formação profissional de seus aprendizes.       O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a preocupar-se mais com a formação geral. Apesar desta divisão do ensino secundário, entre clássico e

Page 29: História Da Educação

científico, a predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial (Piletti, 1996: 90).       Ainda no espírito da Reforma Capanema é baixado o Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, regulamentando o ensino comercial (observação: o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC só é criado em 1946, após, portanto o Período do Estado Novo).       Em 1944 começa a ser publicada a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, órgão de divulgação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP.

TOPO

(Cronologia)

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1937 · A nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional. Retira de seu texto que "a educação é direito de todos". · É criado o Instituto Nacional do Cinema Educativo e o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. · Fernando de Azevedo publica "A Educação Pública no Estado de São Paulo", baseado no inquérito dirigido por ele no ano de 1926.

· Entra em vigor a Constituição redigida por Francisco Campos, extinguindo os partidos políticos e dando ao Presidente controle sobre o Legislativo e o Judiciário. Estava instituído o Estado Novo.

· É editada a obra "A construção do real na criança", de Jean Piaget.

· Assinado acordo de não agressão entre a União Soviética e o Japão. · Os japoneses ocupam Pequim, Chantung, Xangai e Nanquim, na China.

1938 · É criada a União Nacional dos Estudantes - UNE. · É criado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP.

· Liderados por Plinio Salgado, os integralistas tentam matar o Presidente Getúlio Vargas, tomando de assalto o Palácio Guanabara. A guarda do Palácio, juntamente com o Presidente e sua família reagiram, frustrando a Revolta Integralista.

  · A Alemanha ocupa a Áustria.

Page 30: História Da Educação

· Lampião e Maria Bonita são mortos em Anjicos, no estado de Sergipe.

1939 · É criado o Serviço Nacional de Radiodifusão Educativa. · É extinta a Universidade do Distrito Federal e incorporada à Universidade do Brasil.

· O Presidente Getúlio Vargas declara a neutralidade do país com relação à II Guerra Mundial.

· Jean Piaget começa a lecionar Sociologia na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Genebra.

· Morre o Papa Pio XI. O Cardeal Eugênio Pacelli é eleito Papa Pio XII. · Os Falangistas vencem a Guerra Civil Espanhola e Francisco Franco assume o poder.

· Tem início a II Guerra Mundial. · É realizada a fissão do urânio, nos laboratórios da Universidade de Colúmbia. · Morre Sigmund Freud, o precursor da Psicanálise.

1940 · É criado o Departamento Nacional da Criança, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde.

  · Morre o psicólogo e educador Edouard Claparéde. · Em função da II Guerra é preso na França o educador francês Célestin Freinet e na Índia, onde se encontrava trabalhando, é presa a educadora italiana Maria Montessori, juntamente com seu filho Mario. · Com a morte de Claparéde, Jean Piaget assume a cadeira de Psicologia Experimental da Universidade de Genebra.

· A União Soviética e a Finlândia assinam acordo de paz e a União Soviética anexa aos seus territórios a Estônia, Letônia e a Lituânia. · Leon Trotsky, um dos líderes da Revolução Russa de 1917, é assassinado no México, por um golpe de machado, desferido por Ramón Mercader, a mando de Stálin.

1941 · É criado o Serviço de Assistência a Menores - SAM, vinculado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, para atender as crianças desassistidas.

· Os Estados Unidos comprometem-se a financiar a Companhia Siderúrgica Nacional em troca de instalações de bases militares norte-americanas em Natal, Belém e Recife. · É criada a Força Aérea Brasileira - FAB. · É criado o Conselho Nacional do Petróleo.

· São editadas as obras "A gênese do número na criança", com a colaboração de Alina Szeminska, e "O desenvolvimento das quantidades físicas", de Jean Piaget, entre outras.

· A aviação japonesa ataca Pearl Harbor, fazendo com que os americanos entrem na Guerra.

Page 31: História Da Educação

1942 · É decretada a reforma do ensino relativa ao ensino secundário, conhecida como Reforma Capanema: · O Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI. · O Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro, regulamenta o ensino industrial. · O Decreto-lei 4.244, de 9 de abril, regulamenta o ensino secundário. · O Decreto-lei 4.481, de 16 de julho, dispõe sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos industriais empregarem um total de 8% correspondente ao número de operários e matriculá-los nas escolas do SENAI. · O Decreto-lei 4.436, de 7 de novembro, amplia o âmbito do SENAI, atingindo também o setor de transportes, das comunicações e da pesca. · O Decreto-lei 4.984, de 21 de novembro, compele que as empresas oficiais com mais de cem empregados a manter, por conta própria, uma escola de aprendizagem destinada à formação profissional de seus aprendizes.

· O Brasil declara Guerra à Alemanha e seus aliados, após o torpedeamento de navios brasileiros em nossas costas.

· É editada a obra "Classe, relações e números", de Jean Piaget.

 

1943 · Ainda no espírito da Reforma Capanema é baixado o Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro, regulamentando o ensino comercial. · É criado em Recife, por Felipe Tiago Gomes, a Campanha do Ginasiano Pobre -

· É criado o Território do Amapá. · Passa a vigorar a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.

  · Mussolini é deposto na Itália.

Page 32: História Da Educação

CGP, núcleo inicial da futura Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC. · A Consolidação das Leis do Trabalho exige que sejam implantadas creches nas empresas para filhos de funcionários. · É fundada a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.

1944 · Começa a ser publicada a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, órgão de divulgação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP.

· São criados os Territórios de Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã, Iguaçu e Fernando de Noronha. · O Brasil envia para a Itália a VForça Expedicionária Brasileira - FEB.

  · Chiang Kai-shek recusa a participação dos comunistas no governo chinês. · As tropas aliadas invadem a França, dando início a vitória na II Guerra. O dia da invasão ficou conhecido como o Dia D.

1945 · É criado o Instituto Rio Branco com o objetivo de recrutar e educar pessoal para a carreira diplomática. · O biólogo suíço Jean Piaget visita o Brasil como "pedagogo" (o que ele nunca foi) a convite da UNESCO. · A Campanha do Ginasiano Pobre passa a se chamar Campanha de Ginásios Populares. · É Ministro da Educação e Saúde Pública, no Governo José Linhares: Raul Leitão da Cunha.

· Tem início o funcionamento da Companhia Siderúrgica Nacional.

· O Partido Comunista Brasileiro - PCB é legalizado. · O Presidente Getúlio Vargas é deposto por um movimento militar, vindo a assumir a Presidência da República em caráter interino, o ministro do Supremo Tribunal José Linhares. · O marechal Eurico Gaspar Dutra é eleito o novo Presidente da República, pelo Partido Social Democrático - PSD, concorrendo contra o brigadeiro Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional -UDN e contra Iedo Fiuza do Partido Comunista Brasileiro -PCB. · O bispo D. Carlos

  · Quando tentavam fugir para a Suíça Benito Mussolini e sua mulher Clara Petacci são presos e assassinados no lago de Como. · Em Alamogordo, Estado do Novo México, nos Estados Unidos, explode a primeira bomba atômica. · As cidades de Hiroxima e Nagasaqui são arrasazadas por bombas atômicas, matando milhares de japoneses. · O líder Ho Chi Minh proclama a independência do Vietnam. · Na Argentina, Juan Domingo Perón é preso e depois libertado. · É criada oficialmente a Organização das Nações Unidas - ONU. · Após o lançamento das bombas atômicas no Japão, termina a II

Page 33: História Da Educação

Duarte Costa funda a Igreja Católica Apostólica Brasileira, tornando-se Bispo do Rio de Janeiro, após ter sido excomungado pelo Vaticano por suas posições contrárias assumidas em relação à Igreja Católica.

Guerra Mundial. · As mulheres conquistam o direito ao voto na França e no Japão.

Referências:

PILETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira, História da Educação no Brasil. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 1993

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

PERÍODO DO REGIME MILITAR

(1964 - 1985)

Texto Cronologia

 

(Texto)

      Alguma coisa acontecia na educação brasileira. Pensava-se em erradicar definitivamente o analfabetismo através de um programa nacional, levando-se

Page 34: História Da Educação

em conta as diferenças sociais, econômicas e culturais de cada região.       A criação da Universidade de Brasília, em 1961, permitiu vislumbrar uma nova proposta universitária, com o planejamento, inclusive, do fim do exame vestibular, valendo, para o ingresso na Universidade, o rendimento do aluno durante o curso de 2o grau.(ex-Colegial e atual Ensino Médio)       O período anterior, de 1946 ao princípio do ano de 1964, talvez tenha sido o mais fértil da história da educação brasileira. Neste período atuaram educadores que deixaram seus nomes na história da educação por suas realizações. Neste período atuaram educadores do porte de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando Hildebrand, Pachoal Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval Trigueiro, entre outros.       Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos ideológicos. Muito foram calados para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de função.       O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que "estudantes tem que estudar" e "não podem fazer baderna". Esta era a prática do Regime.       Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. E, para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.

      Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didática, no expurgado Método Paulo Freire, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... não conseguiu. E entre denúncias de corrupção... foi extinto.       É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 4.024, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante. Dentro do espírito dos "slogans" propostos pelo governo, como "Brasil grande", "ame-o ou deixe-o", "milagre econômico", etc., planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira.       A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os militares deixaram o governo através de uma

Page 35: História Da Educação

eleição indireta, mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e Tancredo Neves).

TOPO

(Cronologia)

ANOHISTÓRIADA EDUCAÇÃOBRASILEIRA

HISTÓRIADOBRASIL

HISTÓRIAGERALDA EDUCAÇÃO

HISTÓRIADOMUNDO

1964 

 

 

 

 

 

1964 

 

 

 

 

 

· Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, quatrocentos e quarenta e nove (449) passam para a 2a série do 1o grau. · É criado o Plano Nacional de Alfabetização - PNA, ainda no governo do Presidente João Goulart, e extinto após o golpe militar. · O jurista Luiz Antonio da Gama e Silva, acumula os cargos de Ministro da Justiça e Ministro da Educação e Cultura nos primeiros dias do golpe militar. · São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General Castelo Branco: Flávio Suplicy de Lacerda, Raimundo de Castro Moniz de Aragão (interino), Pedro Aleixo e Guilherme Augusto Canedo de Magalhães (interino). · A Universidade de Brasília - UnB é invadida por tropas militares. O reitor Anísio Teixeira é destituído do cargo e substituído pelo professor Zeferino Vaz, da

· O Presidente João Goulart realiza o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde assina publicamente o decreto de nacionalização de todas as refinarias de petróleo particulares e o de criação da Superintendência da Reforma Agrária · SUPRA. · É realizada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, patrocinado principalmente por grupos de mulheres. · Os marinheiros, liderados pelo Cabo Anselmo, que mais tarde soube-se que era um agente provocador infiltrado pela CIA, revoltam-se, pedindo a exoneração do ministro da Marinha, Silvio Mota, para ser substituído pelo Almirante Aragão, conhecido como "almirante do povo". · O general Olímpio Mourão Filho marcha para a cidade do Rio de Janeiro, deflagrando um Golpe Militar. · Os estudantes

   

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1964Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Este, indicado por Luiz Antonio da Gama e Silva, que acumulava os cargos de Ministro da Justiça e Ministro da Educação e Cultura. · A ditadura militar coloca na ilegalidade a União Nacional dos Estudantes - UNE e cria os Diretórios Acadêmicos - DAs, restrito a cada curso, e o Diretório Central dos Estudantes - DCE, no âmbito da universidade. Assim é eliminada a representação a nível nacional bem como qualquer tentativa de ação política. O lema da ditadura é "estudante é para estudar; trabalhador para trabalhar". · A sede da União Nacional dos Estudantes - UNE, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, é invadida e incendiada. · O Serviço de Assistência ao Menor - SAM é extinto e criado em seu lugar a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM, vinculada diretamente à Presidência da República, com o objetivo de atender aos ditos menores carentes. · Acordo Ministério da Educação e Cultura - MEC/United States Agency International for Development - USAID para Aperfeiçoamento do Ensino Primário. Visava a contratação de 6 assessores americanos por dois anos. · A Lei 4.440 institui o salário-educação, provenientes de recursos das empresas.

esboçam uma reação romântica, logo debelada. · O Presidente viaja para o Rio Grande do Sul e de lá para o Uruguai. O governador daquele Estado, Leonel Brizola, diz que a resistência é possível, mas o Presidente não aceita. · O Presidente da Câmara, Paschoal Ranieri Mazzilli, assume interinamente a Presidência da República. · Os ministros militares, general Arthur da Costa e Silva, brigadeiro Francisco de Assis Correa de Melo e o almirante Augusto Rademaker Grünewald decretam o Ato Institucional número 1 (AI-1). · O Congresso Nacional elege o general Humberto de Alencar Castello Branco Presidente da República, dando início a uma série de cassações de mandatos e suspensões de direitos políticos. · Visitam o país o Presidente da França Charles de Gaulle e a cantora Rita Pavone. · A novela "O Direito de Nascer" é um sucesso absoluto na televisão, abrindo caminho para diversas outras.

1965 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e

· O Presidente Castello Branco assina o Ato

· Morre o pedagogo suíço Pierre Bovet. · É editada a obra

· Os Estados Unidos invadem São Domingos.

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Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, trezentos e treze (313) passam para a 3a série do 1o grau. · A Universidade de Brasília - UnB é novamente invadida por tropas militares, visando reprimir uma greve de professores e alunos contra atos autoritários da reitoria. · Duzentos e dez professores da Universidade de Brasília pedem demissão coletivamente em sinal de protesto diante da situação reinante. · Tropas da polícia invadem a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo - USP, destroem equipamentos e prendem diversos professores e alunos. · O Parecer no 977 define cursos de pós-graduação.

· O Decreto-Lei 55.551 estende o salário-educação a todos os empregados públicos e privados. · O educador Paulo Freire escreve o livro "Educação como Prática da Liberdade". · É fundada a Universidade de Itaúna, em Minas Gerais. · Acordo MEC/Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso - CONTAP/USAID para melhoria do ensino médio. Previa assessoria técnica americana para o planejamento do ensino e treinamento de técnicos brasileiros nos Estados Unidos. · Acordo MEC/USAID para dar continuidade e suplementar com recursos e pessoal o primeiro

Institucional número 2 (AI-2), extinguindo os partidos políticos e instituindo a eleição indireta para Presidente da República, Governadores e Prefeitos de cidades consideradas de segurança nacional. · São criados os partidos Aliança Renovadora Nacional - ARENA, da situação, e o Movimento Democrático Nacional - MDB, de oposição. · É criada a Empresa Brasileira de Telecomunicação - EMBRATEL. · Entra no ar a TV Globo, canal 4, na cidade do Rio de Janeiro.

"Sabedoria e as ilusões da filosofia", de Jean Piaget.

· Charles de Gaulle é reeleito Presidente da França. · É lançado o filme "Help", estrelado pelos "The Beatles". · Os quatro componentes do conjunto musical "The Beatles" são condecorados pela Rainha da Inglaterra. Várias pessoas condecoradas anteriormente devolvem suas homenagens em sinal de protesto. · O astronauta soviético Alekséi Leonov é o primeiro homem a realizar um passeio no espaço ligado a nave por um cabo. · É lançado ao espaço o satélite Intelsat I, permitindo transmissões de rádio, telefone e televisão, via satélite.

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acordo para o ensino primário.

1966 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, duzentos e quarenta e cinco (245) passam para a 4a série do 1o grau. · É promulgado o Decreto-Lei no 53 objetivando a reforma universitária, caracterizando-a como instituição de ensino e pesquisa. Determina ainda que sejam feitas na universidade mudanças de organização, a fim de se evitar desperdícios de recursos. · A Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN cria o Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária · CRUTAC. · É organizado o Projeto Rondon a partir do I Seminário de Educação e Segurança Nacional, promovido conjuntamente pela Universidade do Estado da Guanabara e a Escola de Comando e Estado Maior do Exército. · Acordo Ministério da Agricultura/Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso - CONTAP/ United States Agency International for Development - USAID para treinamento de técnicos rurais. · Acordo MEC/ CONTAP/ USAID de assessoria para a expansão e aperfeiçoamento do quadro de professores de ensino médio no Brasil. · Acordo MEC/ USAID de assessoria para modernização

· É cassado o mandato do governador Adhemar de Barros, um dos líderes do movimento de 1964, e em seu lugar é indicado Laudo Natel.

· É promulgado o Ato Institucional número 3 (AI-3), estabelecendo normas para as eleições federais, estaduais e municipais. · É promulgado o Ato Institucional número 4 (AI-4), estabelecendo as condições para a votação pelo Congresso Nacional do projeto de Constituição elaborado pelo Executivo.

· Morre na França, em sua escola na cidade de Vence, o educador Célestin Freinet. · São editadas as obras "A psicologia da criança", "Lógica e conhecimento científico" e "Biologia e conhecimento", de Jean Piaget.

· Tem início na China a Revolução Cultural.

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administrativa universitária. · Acordo MEC/ INEP/ CONTAP/ USAID sob a forma de termo aditivo aos acordos anteriores para aperfeiçoamento do ensino primário. · Acordo MEC/ SUDENE/ CONTAP/ USAID para criação de um Centro de Treinamento Educacional em Pernambuco. · São fundadas a Universidade do Maranhão e a Universidade Regional do Nordeste, em Campina Grande, na Paraíba. · Os estudantes realizam um protesto geral contra os acordos MEC/USAID. · O Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro é o primeiro curso de pós-graduação em educação do Brasil.

1967 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, cento e sessenta e cinco (165) passam para a 5a

série do 1o grau. · São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General Costa e Silva: Tarso de Moraes Dutra e Favorino Bastos Mércio (interino). · Acordo MEC/Sindicato Nacional dos Editores de Livros - SNEL/CONTAP/USAID de cooperação para publicações técnicas, científicas e educacionais. · Acordo MEC/USAID de reformulação do primeiro acordo de assessoria à modernização das universidades, sendo

· É criado um novo padrão monetário adotando-se o Cruzeiro Novo, em substituição ao Cruzeiro. · O general Arthur da Costa e Silva torna-se Presidência da República, através de eleição indireta. · É promulgada uma nova Constituição para o país, substituindo a de 1946. · Morre num acidente aéreo o ex-Presidente Castello Branco.

  · O Egito exige a retirada das forças de paz da ONU. · Após o Egito ter fechado o porto de Eilat, Israel invade o Egito, a Síria e a Jordânia, numa ação fulminante, com apoio dos Estados Unidos. A ONU determina o cessar fogo mas Israel não devolve as regiões ocupadas sob o pretexto de segurança.

· O Rei Constantino da Grécia é deposto por um golpe de estado. · O revolucionário argentino Ernesto "Che" Guevara é assassinado pelo exército boliviano, após ter sido ferido e aprisionado.

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substituído por assessoria do planejamento do ensino superior. · Acordo MEC/CONTAP/USAID de cooperação para a continuidade do primeiro acordo relativo à orientação vocacional e treinamento de técnicos rurais. · Sai a primeira expedição do Projeto Rondon à Região Norte do país. · É constituída uma comissão, conhecida como "Comissão Meira Mattos", para analisar a crise estudantil e sugerir mudanças no sistema de ensino, notadamente nas universidades. · É promulgado o Decreto-lei 252, objetivando a reforma universitária e criando a estrutura de departamentos. · A Lei 5.370 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, com objetivo de erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos. · O índice de analfabetismo no Brasil é de 32,05%. · É fundada a Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.

· Mais uma vez Charles de Gaulle veta o ingresso da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu. · São publicadas duas encíclicas: a "Populorum Progressio", sobre o desenvolvimento das nações e a "Sacerdotalis celibatus", sobre o celibato dos padres.

1968 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, cento e trinta e três (133) passam para a 6a série do 1o grau. · Grupos paramilitares de direita, do Comando de Caça aos Comunistas - CCC, protegidos pela polícia, invadem a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São

· A Rainha Elizabeth faz sua primeira e única visita ao Brasil. · O Deputado Márcio Moreira Alves faz um discurso no Congresso propondo um boicote ao 7 de setembro, dia da Pátria. · Começa a circular a Revista Veja no mês de setembro. A partir da décima quinta edição passa a ser censurada. · O Presidente Costa e

· Jean Piaget publica "O estruturalismo".

· Devido a uma proibição de que os rapazes pudessem visitar as moças em seus dormitórios, eclode em Nanterre, que se estenderá por toda a França, uma revolta onde os jovens liderados por Daniel Co-Bendit (o Dani le Rouge), tomam a Sorborne e as ruas, no mês de maio. · A Primavera de Praga, que visava implantar no país um

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Paulo - USP, depredam o prédio e resulta na morte do estudante José Guimarães. · O Restaurante Universitário Calabouço é invadido e o estudante Edson Luiz Souto é assassinado pela polícia. · Os estudantes fazem na cidade do Rio de Janeiro a "Passeata dos Cem Mil", ferozmente reprimida pela polícia. · A polícia cerca a Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e prende cem estudantes no estádio do Botafogo Futebol e Regatas. · A Universidade de Brasília é invadida pela terceira vez, com muitos alunos feridos gravemente, parlamentares espancados e com a prisão do estudante Honestino Guimarães, morto pela polícia em 1973. · A polícia descobre que estava sendo realizado o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes - UNE em Ibiúna, São Paulo, e prende cerca de novecentos estudantes. · O Decreto 63.281 cria o Centro Nacional de Recursos Humanos - CNRH. · É formado o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária - GTRU, cujo projeto transformou-se na Lei 5540 e depois regulamentado no Decreto-lei 464. · São fundados os Centros de Atendimento ao Pré-Escolar - CAPEs, pelo Comitê Nacional Brasileiro da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar - OMEP. · O Decreto 63.341, de 1o

de outubro, fixa critérios para a expansão do ensino

Silva, juntamente com o Ministro da Justiça Luiz Antônio da Gama e Silva, decreta o Ato Institucional número 5 (AI-5), fechando o Congresso, cassando mandatos e censurando a imprensa. O AI-5 vigorou até 1978. · Ao surgir a imagem do presidente Costa e Silva no jornal cinematográfico Canal 100, este é vaiado pela platéia. Dentro do cinema havia um militar que telefonou pedindo intervenção ao Forte de Copacabana. Os ônibus que fazem ponto final próximo ao quartel foram requisitados e levados para a porta do Cinema Copacabana, onde a sessão foi interrompida e todos os espectadores presos e levados àquela guarnição militar. · Uma passeata de protesto contra a ditadura no Rio de Janeiro termina com cerca de mil presos, cinqüenta e sete feridos e três mortos. · Os metalúrgicos da cidade de Contagem, estado de Minas Gerais, entram em greve. · Num Festival Internacional da Canção Geraldo Vandré canta que "quem sabe faz a hora, não espera acontecer", tornado quase que como um hino da esquerda. · Os cantores Caetano Veloso e Gilberto Gil lançam a Tropicália e

regime socialista e liberal, liderada por Alexander Dubcek, é contida por tanques soviéticos que invadem a Tcheco-Eslováquia. · Nos Estados Unidos o senador Robert (Bob) Kennedy e o líder negro Martin Luther King são assassinados a tiros. · Richard Nixon é eleito o 37o Presidente do Estados Unidos. · No cinema o sucesso foi "A Primeira Noite de um Homem" e no teatro a peça "Hair" (referência ao cabelo dos hippies cabeludos) anuncia a Era de Aquário. · Jacqueline Kennedy casa-se com o armador grego Aristóteles Onassis. · Três astronautas americanos realizam o primeiro vôo tripulado em órbita da Lua.

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superior. · A Lei 5.537, de 21 de novembro, cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE. · A Lei 5.540, de 28 de novembro, fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média. · O Decreto-lei 405, de 31 de dezembro, fixa normas para incremento de matrículas no ensino superior. · Acordo MEC/USAID para dar continuidade e complementar o primeiro acordo para desenvolvimento do ensino médio. · O deputado Márcio Moreira Alves publica o "O Beabá do MEC/USAID", tornando público os acordos entre o Ministério da Educação e Cultura e a United States Agency International for Development - USAID. · São fundadas a Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a Universidade Regional de Blumenau, em Santa Catarina, a Universidade Federal do Piauí, a de São Carlos, em São Paulo, e a de Sergipe.

Caetano canta num Festival da Televisão Record "É Proibido Proibir". · O Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, quando apresentava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda, é invadido por elementos do Comando de Caças aos Comunistas - CCC, os atores espancados e o teatro depredado. · O Teatro Opinião, o jornal Correio da Manhã, a Editora Tempo Brasileiro e a Associação Brasileira de Imprensa - ABI, no Rio de Janeiro, sofrem atentados à bomba. · O médico Euclides de Jesus Zerbini realiza o primeiro transplante de coração do país, no Hospital das Clínicas de São Paulo. · Morrem o humorista Sérgio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta, o poeta Manuel Bandeira e o criador e diretor das Emissoras e Diários Associados Assis Chateaubriand.

1969 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, cento e quinze (115) passam para a 7a série do 1o grau. · É Ministro da Educação e Cultura do Governo do General Garrastazu Médici: Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho. · Entra em vigor o Decreto-Lei 477, aplicado

· Uma trombose mata o Presidente Costa e Silva, sendo substituído por uma junta militar (que não permitiu que o vice-presidente Pedro Aleixo assumisse o poder), composta pelo Ministro da Marinha Augusto Rademaker, pelo Ministro da Aeronáutica Marcio de Souza e Mello e pelo Ministro do Exército Lyra

· Jean Piaget recebe um prêmio da "American Psichology Association", por sua marcante contribuição à psicologia.

· O Papa Paulo VI elimina cerca de duzentos santos do calendário litúrgico. · Em 20 de julho, uma segunda-feira, às onze horas e cinqüenta e seis minutos da noite, hora de Brasília, o astronauta Neil Armstrong deixa a marca de seus pés na Lua e diz: "Este é um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para

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aos professores, alunos e funcionários das escolas, proibindo qualquer manifestação de caráter político, com o objetivo de banir o protesto estudantil.

· São fundadas a Universidade Federal de Ouro Preto e a de Viçosa, em Minas Gerais, a de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e as Universidades de Rio Grande e a do Vale dos Sinos, também no Rio Grande do Sul, a de Uberlândia, em Minas Gerais. · Vários professores da Universidade de São Paulo são aposentados compulsoriamente. Entre eles Bolívar Lamounier, Florestan Fernandes, Villanova Artigas, José Leite Lopes, Manuel Maurício de Albuquerque, Maria Yeda Linhares, Míriam Limoeiro Cardoso, Bento Prado Júnior, Caio Prado Júnior, Elza Berquó, Emília Viotti da Costa, Fernando Henrique Cardoso (futuro presidente da República), Isaias Raw, Jean Claude Bernardet, José Artur Gianotti, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Mário Schemberg, Octavio Ianni, Paulo Duarte e Paul Singer. · O Parecer no 77 regulamenta o sistema nacional de Pós-Graduação. · O Decreto-Lei 574 proibe as instituições educacionais de promoverem redução de suas vagas iniciais

Tavares. O então Deputado Ulisses Guimarães chama-os de "os três patetas". · Entra no ar o "Jornal Nacional" da Televisão Globo. · No dia 18 de julho um grupo de militantes dos grupos Comando de Libertação Nacional - COLINA e Vamguarda Popular Revolucionária - VPR roubam dois milhões e quatrocentos mil dólares do cofre de Ana Capriglione, conhecida como a amante do ex-Governador paulista Adhemar de Barros. · Embora ainda não se tenha um levantamento histórico preciso, talvez este ano tenha sido o mais cruel tempo da tortura aos chamados presos políticos no Brasil. · É seqüestrado no Rio de Janeiro, pelos grupos Aliança Libertadora Nacional - ALN e Movimento Revolucionário 8 de Março - MR-8, o embaixador dos Estados Unidos Charles Elbrick. Ele foi trocado por quinze presos políticos que sofreram pena de banimento pela ditadura militar e seguiram para o México. · É morto em São Paulo, pela equipe do delegado Luiz Paranhos Fleury, Carlos Marighella. · Assume a Presidência da República o General

a humanidade". · Realiza-se nos Estados Unidos o Festival de Woodstock, reunindo cerca de quatrocentos mil jovens numa fazenda próxima de New York, quando a filosofia do movimento "hippye" de "paz e amor" e ""faça amor e não a guerra" encontra-se no auge. · Realiza-se o Festival de Altamont, terminando com várias pessoas feridas, o que evidencia a violência dentro do movimento da contra-cultura. · O cantor John Lennon devolve a condecoração, recebida das mãos da Rainha, em sinal de protesto pelo envolvimento da Inglaterra nas guerras do Vietnam e Biafra. · O cantor John Lennon pede na justiça a dissolução legal do conjunto "The Beatles" · No cinema o filme "Sem Destino" (Easy Rider) faz sucesso. · A atriz Sharon Tate, grávida de oito meses de um filho do diretor de cinema Roman Polanski, é cruelmente assassinada por um bando místico, juntamente com outras quatro pessoas.

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Emílio Garrastazu Médici, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações - SNI, escolhido pelo Alto Comando do Exército e referendado pelo Congresso Nacional, dominado pela ditadura militar. · É outorgada uma nova Constituição para o país. · Pelé faz seu milésimo gol no Maracanã, de pênalti, num jogo contra o Vasco da Gama. · Entra em circulação o jornal "O Pasquim".

· Um ratinho, importado da Itália, o Topo Gigio, divide o sucesso na televisão brasileira com a novela "Beto Rockfeller". · Os cantores e compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Hollanda, Edu Lobo e Geraldo Vandré partem voluntariamente para o exílio. · É realizada a primeira transmissão internacional de televisão para o Brasil. O jornalista Hilton Gomes realizou uma reportagem de Roma através do satélite Intelsat I. · Num intervalo da peça "Esperando Godot", de Beckett, morre a atriz brasileira Cacilda Becker, vitimada por um derrame cerebral.

1970 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada 1000

· É lançado primeiramente na cidade do Rio de Janeiro a Loteria

  · Morre na França Charles De Gaulle, Presidente do país de 1958 a 1969. Seu

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alunos que entram na 1a

série no ano de 1963, cento e um (101) passam para a 8a série do 1o grau. · Começa a funcionar de fato no Brasil o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, criado para acabar com o analfabetismo. Seu projeto mostra uma forte influência das idéias de Paulo Freire, perseguido pela ditadura militar. · O Decreto 68.908 resolve a crise dos chamados "excedentes" com a criação do vestibular classificatório. · O educador brasileiro Paulo Freire funda em Genebra, onde se encontrava exilado, juntamente com outros exilados brasileiros, o Instituto de Ação Cultural · IDAC. · O educador Paulo Freire publica "Pedagogia do Oprimido". · São fundadas a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, a Estadual de Maringá e a de Ponta Grossa, no Paraná, a Universidade Federal do Acre e a de Mato Grosso. · Morre Lourenço Filho (Manoel Bergström) na cidade do Rio de Janeiro.

Esportiva. · Inicia-se a transmissão de TV à cores para o Brasil. · O ministro da Justiça Alfredo Buzaid declara categoricamente à imprensa que não há tortura no Brasil. · Dois "terroristas" são apresentados à imprensa e se declaram arrependidos de terem entrado na luta armada. Massafumi Yoshinaga e Celso Lungaretti pertenciam ao grupo Vanguarda Popular Revolucionária - VPR. · O presidente Médici diz que quer ver o jogador Dario, também conhecido por "Dadá Maravilha", do Clube Atlético Mineiro, na Seleção Brasileira de Futebol. O técnico João Saldanha, que também era jornalista, responde que o presidente escala o ministério e ele a Seleção. · A Confederação Brasileira de Futebol dispensa o técnico João Saldanha e convoca Zagalo para dirigir a Seleção Brasileira. Este convoca o jogador Dario, o "Dadá Maravilha". · O Brasil torna-se pela terceira vez Campeão Mundial de Futebol, no México. · Os setores de propaganda da ditadura lançam os "slogans" "Pra frente Brasil" e "Brasil: Ame-o ou Deixe-o".

poder foi severamente enfraquecido pelo movimento estudantil de maio de 1968. · Morrem nos Estados Unidos, vitimados por "overdose" de drogas químicas, o guitarrista Jimi Hendrix e a cantora Janis Joplin. · O avião Jumbo 747 entra na aviação comercial, tornando-se a maior aeronave comercial do mundo. · O lutador de box Muhammad Ali (ex-Cassius Clay) volta ao ringue e vence, depois de ter seu título cassado por se recusar a lutar na guerra do Vietnam. · A África do Sul é excluída dos Jogos Olímpicos por sua política de "apartheid". · No cinema o filme romântico "Love Story" faz milhões de pessoas chorarem em suas sessões.

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· É o ano do "Brasil Grande" e do "Milagre Econômico". O percentual do Produto Interno Bruto - PIB crescia 10%, as Bolsas de Valores disparam, começam as obras da estrada Transamazônica e o país compra 16 caças supersônicos Mirage.

1971 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, cem (100) passam para a 1a série do 2o grau. · É promulgada a Lei 5692 que regulamenta o ensino de primeiro e segundo graus. Entre outras determinações amplia a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos, aglutina o antigo primário com o ginasial, suprimindo o exame de admissão e criando a escola única profissionalizante. · A Resolução no 8 do Conselho Federal de Educação fixa o núcleo comum para os currículos do ensino de 1o e 2o graus, definindo seus objetivos e a amplitude. · O Parecer 853 do Conselho Federal de Educação define a doutrina de currículo, indica os conteúdos de núcleo comum, apresenta o conceito de matéria, orienta suas formas de tratamento e integração, indica os objetivos das áreas de estudo e os do processo educativo, remetendo-os ao objetivo geral do ensino de 1o e 2o

graus e aos fins da educação brasileira.

· O Brasil determina o limite de 200 milhas para o seu mar territorial não sendo reconhecido pela ONU. · O General Médici, Presidente do Brasil, vai a Washington e ouve de Richard Nixon que "para onde for o Brasil, irá toda a América Latina". Os países vizinhos protestam. · O embaixador suíço Giovanni Bucher é seqüestrado na cidade do Rio de Janeiro e trocado por setenta presos políticos. · O Governador do Paraná Haroldo Leon Peres é deposto por tentar extorquir do empresário Cecílio do Rego Almeida dinheiro para liberar verbas de obras públicas. · O jovem Teodomiro Romeiro é condenado à morte por um Tribunal Militar, por ter assassinado um sargento da Aeronáutica. Mais tarde sua pena foi alterada para prisão perpétua. · O deputado Rubem Paiva é preso em sua casa e nunca mais é encontrado. · O filho da estilista

  · A China é finalmente aceita na Organização das Nações Unidas - ONU. · O governo chileno nacionaliza as empresas estrangeiras que comercializam o cobre no país. · Morre o ditador do Haiti François Duvalier, o Papa Doc. Seu filho Jean Claude Duvalier, o Baby Doc, assume o poder. · Morre aos 87 anos, na França a estilista Gabrielle Bonheur, a Coco Chanel. · As mulheres conquistam o direito ao voto na Suíça.

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· O Decreto 68.908 dispõe sobre o concurso vestibular, fixando as condições para o ingresso na Universidade. · Morre no Rio de Janeiro o educador Anísio Teixeira.

Zuzu Angel, Stuart Angel Jones, do MR-8, morre no Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica. · Desaba, na cidade do Rio de Janeiro, o Elevado Paulo de Frontin que estava em fase de construção, matando quarenta e oito pessoas e mutilando outras.

1972 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, oitenta e cinco (85) passam para a 2a série do 2o grau. · O Parecer no 45 do Conselho Federal de Educação fixa o currículo mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional ou conjunto de habilitações afins, no ensino de 2o grau. · O Parecer 339 recomenda a formação especial para o 1o grau. · O Parecer 871 do Conselho Federal de Educação reforça e esclarece os conceitos e a organização curricular, na forma estabelecida pelo Parecer 853/71.

· Morre num acidente de avião, na Índia, a atriz Leila Diniz. · O piloto Emerson Fittipaldi torna-se o primeiro brasileiro a vencer o Campeonato Mundial de Fórmula 1. · Nos festejos do Sesquicentenário da Independência do Brasil são trazidos para o Brasil os restos mortais de D. Pedro I.

  · Após 17 anos de exílio, Juan Domingos Perón volta à Argentina. · O Presidente dos Estados Unidos Richard Nixon torna-se o primeiro presidente a visitar a China desde 1949, quando foram rompidas as relações diplomáticas entre os dois países. · Francis Ford Coppola lança seu "O Poderoso Chefão" e Bob Fosse lança o musical "Cabaret". · Jacqueline Onassis é fotografada nua por "papparazzi" na ilha de seu marido Onassis. · A feminista Glória Stein lança a revista feminista "Ms.", nos Estados Unidos. · Integrantes da organização Setembro Negro invadem a vila olímpica de Munique e assassinam nove atletas da delegação de Israel. · O nadador Mark Spitz é a sensação da natação ao ganhar sete medalhas de ouro na Olimpíada de Munique. · Morre Eduardo VIII, aos 77 anos, depois de ter renunciado à coroa

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britânica por amor à plebéia Wallis Simpson. · Os Estados Unidos lançam a sonda Pioner 10 com o objetivo de sair da Via Láctea.

1973 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, setenta e cinco (75) passam para a 3a série do 2o grau. · É fundada a Universidade de Fortaleza, no Ceará, e a Universidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo.

· Cai, próximo do aeroporto de Orly, em Paris, um Boeing 707 da Varig, matando 122 pessoas, entre elas o deputado Filinto Müller, da Arena e ex-chefe da polícia política do governo Getúlio Vargas, o cantor Agostinho dos Santos e Regina Leclery. · O personagem Valfrido Canavieira, de Chico Anísio, apresentado no programa "Chico City" e personificando um Prefeito corrupto é proibido pela censura sob a alegação de que "no Brasil não existem Prefeitos corruptos". · O Presidente do Brasil, Garrastazu Médici, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, assinam um acordo para a construção da usina de Itaipu.

  · Um acidente de avião nos Andes obriga aos sobreviventes a comerem carne humana de seus companheiros mortos. · A Inglaterra é finalmente aceita no Mercado Comum Europeu. · Morre aos 92 anos o pintor espanhol Pablo Picasso, autor de "Guernica". · O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, Amílcar Cabral, é assassinado. · Juan Domingo Perón e sua esposa Maria Estela Martinez de Perón, a Isabelita Perón, são eleitos respectivamente Presidente e Vice-Presidente da Argentina. · Um golpe militar assassina, no dia 11 de setembro, o presidente constitucional do Chile Salvador Allende, dentro do Palácio de La Moneda. Assume o poder o General Augusto Pinochet, chefiando uma ditadura militar. Tem início uma repressão cruel a grupos opositores da ditadura.

· É assassinado o cantor e compositor chileno Victor Jara, depois de ser torturado, tendo sido

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quebrado seus dedos da mão e obrigado a tocar violão. · Os Estados Unidos são derrotados e se retiram do Vietnam. · Morre o poeta comunista, Prêmio Nobel de Literatura, Pablo Neruda. · A sonda Pioner 10 fotografa Jupiter de perto.

1974 · Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, setenta (70) entram numa faculdade. · É Ministro da Educação e Cultura do Governo do General Ernesto Geisel: Ney Aminthas de Barros Braga. Ao assumir o governo do Paraná o Ministro Ney Braga foi substituído pelo Professor Euro Brandão. · É criado o Projeto Casulo da Legião Brasileira de Assistência - LBA, com o objetivo de dar apoio financeiro e técnico às creches em todo o Brasil. · A Legião Brasileira de Assistência - LBA e a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM são vinculadas ao Ministério de Assistência e Previdência Social. · O Parecer no 2018 do Conselho Federal de Educação propõe a elaboração de legislação contendo normas e procedimentos que regulamentem a implantação de programas dirigidos às populações em idade pré-escolar, além de recomendar que sejam buscadas novas fontes de recursos financeiros para subvencionar a educação

· Pela décima sétima vez foge da prisão o assaltante Lúcio Flavio Villar Lírio autor da frase "polícia é polícia, bandido é bandido. Mas é tudo a mesma coisa." · A inflação, que nos anos anteriores estava estabilizada em torno de 15%, salta para 34,55%. · É lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento - PND, prevendo a distribuição de renda e crescimento da indústria pesada. · Um incêndio no Edifício Joelma, em São Paulo, mata 184 pessoas. · É inaugurada, no mês de março, a Ponte Rio-Niterói. · O Presidente inaugura em Jacareacanga, no Pará, o primeiro trecho da estrada Transamazônica. · O time brasileiro perde da Holanda sendo desclassificado da Copa do Mundo. · O general Ernesto Geisel substitui o general Emílio Médici na Presidência da República com o objetivo de promover a abertura política. · Os presidentes do Brasil e do Paraguai

  · O escritor Alexander Soljenitsin é expulso da União Soviética por ter escrito o livro "Arquipélago Gulag".

· Na Grécia o ditador Georgios Papadopoulos é derrubado e preso, voltando ao poder os civis depois de uma ditadura militar de sete anos. · É derrubado o ditador de Portugal Marcelo Caetano. Foi derrubado pelos militares, cuja operação foi desencadeada quando o rádio tocou a música "Grandola, Vila Morena": "Grandola/Vila Morena/Terra da fraternidade/O povo é quem mais ordena dentro de ti/ó cidade."

· Desafiando as leis de suas igrejas quatro bispos episcopais norte-americanos ordenam onze mulheres como sacerdotisas. · Morre Juan Domingo Perón, assumindo a Presidência sua esposa Isabelita Perón. · A Organização das Nações Unidas - ONU divulga um relatório em que cinco

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pré-escolar. assinam a ata de constituição da Companhia Hidrelétrica de Itaipu. · Sancionada a Lei que determina a fusão dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro. · Foi extinta a censura na imprensa. · Brasil e China reatam relações diplomáticas. · O piloto brasileiro de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi sagra-se pela segunda vez Campeão Mundial. · O General Golbery do Couto e Silva é a "eminência parda" do Governo. · Nas eleições legislativas o povo condena a ditadura elegendo a maioria de parlamentares do Movimento Democrático Brasileiro - MDB, esmagando a Aliança Renovadora Nacional - ARENA.

milhões de pessoas morreriam de fome neste ano. · O israelense Uri Geller entorta talheres, levita pessoas e faz adivinhações sendo tido como paranormal. Anos mais tarde foi reconhecido como charlatão. · O vice-presidente Gerald Ford assume o Governo dos Estados Unidos depois da renúncia de seu presidente Richard Nixon, que não conseguiu escapar ao escândalo de Watergate. · A sonda Pioner 10 aproxima-se de Saturno.

1975 · É criada a Coordenação de Educação Pré-Escolar, primeiramente chamada de CODEPRE e depois COEPRE vinculada ao Ministério de Educação e Cultura. · Realizam-se o I (em 18 de abril) e o II (em 22 e 23 de maio) Seminário de Planejamento da Educação Pré-Escolar. · Realiza-se o I Encontro Nacional de Coordenadores de Educação Pré-Escolar dos Sistemas de Ensino. · Realiza-se o I Congresso Brasileiro de Educação Pré-Escolar, pela OMEP - Brasil. · O Parecer no 76 do Conselho Federal de

· O Edifício Mendes Caldeira, em São Paulo, é derrubado em nove segundos com uma técnica recém importada: a implosão. · É inaugurado o Metrô e o Instituto do Coração em São Paulo. · O atleta João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, quebra o recorde mundial de salto tríplice, pulando dezesete metros e oitenta e nove centímetros. · A atriz Sonia Braga encanta o Brasil na novela "Gabriela". · Entra no mercado os

  · Depois de serem expulsos do Camboja, pela facção Khmer Vermelho, os americanos são enxotados do Vietnam. Nas contas finais soube-se que os Estados Unidos perderam 57.939 jovens. · Morre na Espanha o generalíssimo Franco, permitindo o retorno da Monarquia Parlamentar e a ascensão ao trono do herdeiro Rei Juan Carlos.

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Educação propõe habilitações básicas referente a determinadas áreas profissionais, dando ênfase entre a educação geral e a formação especial. · O Parecer no 1600 do Conselho Federal de Educação recomenda a habilitação a nível de 2o

grau para o magistério pré-escolar. · O Parecer no 4833 do Conselho Federal de Educação reforça e esclarece os conceitos e a organização curricular, na forma estabelecida pelo Parecer 853/71.

cigarros de 120 milímetros, mais finos e compridos. · O Brasil assina um acordo com a Alemanha de cooperação mútua na área nuclear. · É assassinado nas dependências do DOI-Codi o jornalista Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da Televisão Cultura de São Paulo. Apesar do fim da censura, a imprensa é proibida de veicular a notícia. · A censura proíbe o livro "Feliz Ano Novo", de Rubem Fonseca e a telenovela "Roque Santeiro", de Dias Gomes. · O Brasil concede asilo político ao general Antônio de Spindola, após sua tentativa frustrada de golpe em Portugal. · É instituído o Programa Pró-Álcool para combater a crise internacional do petróleo.

1976 · É fundada a Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, e a Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, em São Paulo. · Realiza-se o I Congresso Latino-Americano de Educação Montessori, pela Associação Brasileira de Educação Montessori - ABEM e Organização Brasileira de Atividades Pedagógicas - OBRAPE. · Realiza-se o II Congresso Brasileiro de Educação Montessoriana, pela Associação Brasileira Montessoriana - ABM. · A Resolução no 58 do Conselho Federal de

· São cassados os direitos políticos dos deputados federais Marcelo Gatto (SP), Nadyr Rosseti (RS), Amaury Müller (RS) e Lysâneas Maciel (RJ) e do estadual Nelson Fabiano Sobrinho (SP), todos do MDB. · O Secretário de Estado Americano Henry Kissinger visita oficialmente o Brasil. · A Aliança Anticomunista Brasileira - AAB seqüestra o bispo de Nova Iguaçu, D. Adriano Hipólito e assume os atentados à bomba à Associação Brasileira de Imprensa

  · A atleta romena Nádia Comaneci seduz todo o mundo tirando sete notas dez na ginástica olímpica. · É lançado nos Estados Unidos o livro "Relatório Hite", de Shere Hite que analisa a sexualidade feminina. · O general Jorge Videla dá um golpe de estado na Argentina depondo Isabelita Perón, iniciando uma enorme onda de repressão política. · Morre o líder chinês Mao Tse-Tung, o escritor André Malraux, a escritora Agatha Christie e o cineasta Luchino

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Educação determina a inclusão obrigatória da Língua Estrangeira Moderna no currículo de 2o grau.

- ABI, ao Centro Brasileiro de Análises e Planejamento - CEBRAP, à residência do diretor do jornal O Globo, Roberto Marinho, e ao prédio da Editora Civilização Brasileira.

· Morre nas dependências do DOI-Codi o operário Manoel Fiel Filho. · O Presidente Geisel faz viagens oficiais à Inglaterra, França e Japão. · Um decreto presidencial obriga o pagamento de um depósito para obtenção de passaporte e visto policial para sair do país. · A Fiat instala em Betim, Minas Gerais, sua fábrica de automóveis. · Massafumi Yoshinaga, que em 1970 declarou-se arrependido de ter participado na luta armada, enforca-se com uma mangueira de plástico. · Morre a bióloga Bertha Lutz, feminista e líder do movimento sufragista para mulheres no Brasil. · Morrem os ex-Presidentes João Goulart, de enfarte, no Uruguai, e Juscelino Kubitschek, de acidente de automóvel, na estrada Rio-São Paulo.

Visconti.

1977 · A polícia bloqueia o "campus" da Universidade de São Paulo para que não se realize uma reunião de estudantes. A reunião é transferida secretamente para o "campus" da

· É instituído o divórcio no Brasil, após vários anos de luta do senador Nelson Carneiro. · O governo anuncia a Abertura Política. Geisel afirma que o

  · A eleição de Jimmy Carter para a Presidência dos Estados Unidos deflagra uma campanha mundial pelos direitos humanos.

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Pontifícia Universidade Católica que é invadida pela polícia, comandada pelo coronel Erasmo Dias, tendo sido presos vários estudantes e sendo duas estudantes gravemente feridas à bomba. · O Parecer no 540 do Conselho Federal de Educação explica o tratamento dos componentes determinados pelo Artigo 7o da Lei 5692/71, descaracterizando-os como disciplinas e enfatizando-os como elementos educativos. · É lançado o Programa Alfa Um, visando alfabetizar pessoas através do Método da Fonação Condicionada e Repetida.

Brasil vive uma "democracia relativa", cassa o mandato do deputado Alencar Furtado, cria os senadores "biônicos" (indicados pelo governo) e coloca o Congresso em recesso para garantir a sucessão. · É decretado o racionamento de combustível em todo o país. Os postos de gasolina não podem abrir nos finais de semana, feriados e no período noturno. · Morre durante uma orgia de drogas a estudante Claudia Lessin. · O Presidente Ernesto Geisel cassa o mandato do vereador Glenio Perez, do MDB de Porto Alegre, que, em seu discurso de posse, criticou a violação dos direitos humanos no país e a falta de liberdade. · O Presidente Ernesto Geisel cassa o mandato do vereador Marcos Klassmann, do MDB de Porto Alegre, que, substituindo o vereador Glenio Perez, reafirmou a violação dos direitos humanos e a falta de liberdade. · A escritora Rachel de Queiroz é a primeira mulher a ser eleita para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. · O jogador Pelé vai jogar nos Estados Unidos. · O filme "Guerra nas Estrelas" faz sucesso no país.

· O Presidente egípcio Anuar Sadat visita Israel, sendo recebido pelo primeiro-ministro Menahen Begin. · As mães dos presos políticos argentinos desaparecidos vão para as ruas de Buenos Aires e o governo as chama de "locas de la plaza de Mayo" · Morre o astro internacional do rock Elvis Presley.

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1978 · A Portaria no 505 do Ministério da Educação aprova diretrizes básicas para o ensino de Moral e Cívica nos cursos de 1o e 2o graus e de Estudos de Problemas Brasileiros nos cursos superiores. · Realiza-se o I Encontro Latino-Americano de Educação Através da Arte.

· O Juiz Marcio José de Moraes declarou a União responsável pela prisão, tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi. A União recorreu da sentença. · O príncipe Charles da Inglaterra visita o Brasil e dança com a passista Piná da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. · O Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro pega fogo queimando um acervo de valor inestimável. · É aprovada, por decurso de prazo, a nova Lei de Segurança Nacional que elimina a pena de morte e a prisão perpétua. · A Eletrobrás compra a Light do grupo canadense Brascan. · O presidente revoga o ato de banimento de diversos presos políticos que foram trocados por diplomatas seqüestrados. · É revogado o Ato Institucional número 5, o AI-5.

  · Morre o Papa Paulo VI. O Cardeal Albino Luciani é eleito Papa João Paulo I. · Trinta e três dias após sua eleição morre o Papa João Paulo I. O Cardeal polonês Karol Wojtyla é eleito Papa João Paulo II, tornando-se o primeiro Papa não italiano após quase três séculos. · O ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro é seqüestrado e assassinado pelo grupo Brigadas Vermelhas. · O líder religioso Jim Jones decreta um suicídio em massa de novecentos e doze adeptos de sua seita religiosa Templo de Deus, em Jonestown, na Guiana. Antes do suicídio o grupo havia assassinado o Deputado democrata norte-americano Leo Ryan e outras quatro pessoas. · Nasce Louise Brown, o primeiro bebê fecundado numa proveta e depois colocado no útero materno.

1979 · São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General João Baptista de Figueiredo: Eduardo Mattos Portella, General Rubem Carlos Ludwig e Esther de Figueiredo Ferraz. · Como resolução do I Congresso da Mulher Paulista é criado o Movimento de Luta por Creches. · A Resolução no 7 do Conselho Federal de Educação permite o desdobramento dos

· Presidente, eleito indiretamente pelo Congresso, João Batista de Figueiredo quando perguntado sobre o que faria com aqueles que fossem contrários à abertura política, responde: "Eu prendo, bato e arrebento." · Depois de ter sido proibido durante sete anos pela censura foi liberado no Brasil o filme "O Último Tango em Paris".

· É o Ano Internacional da Criança.

· Uma revolução religiosa derruba o xá Reza Pahlevi, levando ao poder o aiatolá Ruhollah Khomeini, no Irã. · São seqüestrados cinqüenta e dois funcionários da embaixada dos Estados Unidos no Irã e mantidos como reféns do governo. · A usina nuclear de Three Mile Island sofre o maior vazamento nuclear dos

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Estudos Sociais em História e Geografia nas últimas séries do 1o grau e altera a nomenclatura dos conteúdos Integração Social e Iniciação às Ciências para, respectivamente, Estudos Sociais e Ciências. As antigas nomenclaturas passam a indicar não mais conteúdos, mas forma de tratamento das matérias, dando nova redação ao Artigo 5o da Resolução no

8/71.

· Começam a retornar os exilados políticos brasileiros e os presos políticos soltos. Retorna ao Brasil o ex-governador Leonel Brizola. · Morre afogado em Ilhabela, litoral de São Paulo, o delegado Sergio Paranhos Fleury. · Aprovada pelo Congresso a Lei de Anistia. · A suplente de senador Eunice Michiles torna-se a primeira mulher a ocupar uma vaga no Senado Federal, após a morte do senador João Bosco de Lima, do Estado do Amazonas. · Os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos entram em greve e, em confronto com a polícia, é morto o operário Santo Dias da Silva. · É extinto o depósito compulsório para viagens ao exterior. · Uma Emenda da Reforma Partidária extingue a Aliança Renovadora Nacional - ARENA e o Movimento Democrático Brasileiro - MDB. · Em visita a Florianópolis, o presidente Figueiredo é vaiado por estudantes e estes são presos com base na Lei de Segurança Nacional.

Estados Unidos, chamando atenção para o perigo das usinas atômica. · Graças a intervenção Papal a Argentina, chefiada pelo General Jorge Videla, e o Chile, chefiada pelo General Augusto Pinochet, assinam um acordo comprometendo-se a não recorrer às armas para solucionar o litígio sobre o Canal de Beagle. · É realizada em Puebla, México, a III Conferência Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano - CELAM.

1980 · Segundo Censo de 1980 a população brasileira em idade escolar é de 22.968.515, da qual 7.540.451 não freqüentam a escola (cerca de um terço). Na área rural a população brasileira em

· A inflação no Brasil chega à casa dos 77,2%. · O Papa João Paulo II beatifica o padre José de Anchieta. · O Papa João Paulo II visita treze cidades do

  · O ator Ronald Reagan vence as eleições nos Estados Unidos. · É assassinado por um fã, quando chegava em seu edifício em companhia

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idade escolar é de 9.229.511 para 4.816.806 que freqüentam (quase a metade). · Realiza-se o I Congresso Brasileiro Piagetiano, pelo Centro Experimental e Educacional Jean Piaget - CEEJP. · O índice de analfabetismo no Brasil é de 25,5%.

Brasil. · Morre o dramaturgo Nélson Rodrigues. · Os filmes Pixote e Bye Bye Brasil retratam a real imagem do Brasil. · O Comitê Olímpico Brasileiro decide que o Brasil participará das Olimpíadas de Moscou, apesar do pedido de boicote feito pelo presidente americano Jimmy Carter. · O secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Luiz Carlos Prestes, afasta-se do cargo e é substituído por Giocondo Dias. · Explode uma bomba na Ordem dos Advogados do Brasil, matando a secretária Lyda Monteiro da Silva, e outra no gabinete do vereador Antonio Carlos do MDB, ambas na cidade do Rio de Janeiro. · O padre italiano Vito Miracapillo é expulso do país após recusar-se a rezar uma missa em ação de graças pela passagem do aniversário da Independência do Brasil. · Uma Emenda restabelece as eleições diretas para governadores de estado e acaba com os senadores "biônicos" (indicados pelo governo). · A União é condenada a pagar a família de Manoel Fiel Filho uma indenização pela sua morte nas dependências do DOI-Codi.

de sua mulher Yoko Ono, o Beatle John Lennon. · Greve nos estaleiros Lenin, na Polônia, dando origem ao sindicato Solidariedade. · A União Soviética invade o Afeganistão. · O presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter solicita a todos os países do mundo o boicote às Olimpíadas que se realizariam em Moscou. · Morre o presidente da Iugoslávia Josip Broz Tito.

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1981 · A Coordenação de Educação Pré-Escolar - COEPRE lança o Programa Nacional de Educação Pré-Escolar.

· A FUNAI consegue o primeiro contato com os índios Araras, às margens dos rios Iriri e Xingu, no Pará. · Explode uma bomba no Riocentro, matando um sargento do exército e ferindo um capitão, dentro de um carro Puma. A bomba estava no colo do sargento. · O presidente Figueiredo sofre um enfarte. · O território de Rondônia passa a ser estado. · Entra no ar o Sistema Brasileiro de Televisão - SBT. · O piloto Nelson Piquet sagra-se campeão mundial de Fórmula 1. · Morre o cineasta Glauber Rocha.

  · Sofrem atentados o Papa João Paulo II e o Presidente americano Ronald Reagan. · O Presidente egípcio Anuar Sadat é assassinado durante uma parada militar. · Casam-se o príncipe Charles, herdeiro do trono inglês, e Diana Spencer. · Entra no ar a MTV, tornando-se uma nova maneira de ouvir música.

1982 · A educadora Esther de Figueiredo Ferraz assume o Ministério da Educação e Cultura, tornando-se a primeira mulher a assumir um cargo de Ministro, no Brasil. · No Parecer no 342 do Conselho Federal de Educação ressurge a Filosofia como disciplina optativa. · São criados os Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, no Estado do Rio de Janeiro, por iniciativa do educador e antropólogo Darcy Ribeiro, com objetivo de atender até mil crianças em dois turnos de atividades. · A Lei no 7044 altera dispositivos da Lei 5692/71, referentes à profissionalização do ensino de 2o grau, implicando em algumas mudanças na proposta curricular, dispensando as escolas da obrigatoriedade

· Em função da construção da Usina de Itaipu desaparece do mapa as Cataratas das Sete Quedas. · Morre a cantora Elis Regina. · O Presidente americano Ronald Reagan, em visita oficial ao Brasil, comete um pequeno engano: "Gostaria de compartilhar o sonho americano com o povo da Bolívia.". · A Seleção Brasileira de Futebol é eliminada pela seleção italiana no Campeonato Mundial de Futebol.

  · A Argentina invade as ilhas Malvinas e a Inglaterra declara guerra à Argentina.

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da profissionalização, voltando a ênfase à formação geral. · O Parecer no 618 do Conselho Federal de Educação explica as alterações introduzidas pela Lei 7044.

1983 · O Parecer no 108 do Conselho Federal de Educação esclarece a questão da habilitação profissional após a Lei 7044/82. · O Parecer no 170 do Conselho Federal de Educação explica a situação dos Pareceres 45/72 e 76/75 do Conselho Federal de Educação que definem a habilitação profissional após a Lei 7044/82. · O Parecer no 281 do Conselho Federal de Educação explica as camadas curriculares e indica o sentido humanista da preparação para o trabalho, de acordo com a Lei 7044/82. · Realiza-se o II Congresso Latino-Americano de Educação Montessori, pela Associação Brasileira de Educação Montessori - ABEM e Organização Brasileira de Atividades Pedagógicas - OBRAPE.

· A inflação anual atinge o índice recorde de 200%. · A Taça Jules Rimet é roubada de dentro da CBF e supõe-se que foi derretida. · Entra no ar a Rede Manchete de Televisão. · O piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet sagra-se pela segunda vez campeão mundial.

· Morre o jogador de futebol Manuel dos Santos, o Garrincha. · Morre a primeira vítima de AIDS: o estilista Markito.

  · Um atentado no Líbano mata 241 soldados americanos. · Um Jumbo da Korean Air Lines é abatido por um aviao soviético, matando todos os seus 269 ocupantes. Supõe-se que os americanos forçaram o Jumbo a invadir o espaço aéreo soviético. · Os Estados Unidos invadem a pequena ilha de Granada. · A sonda Pioner 10 abandona o Sistema Solar. · Passados vinte anos do vôo da primeira mulher soviética ao espaço, os Estados Unidos lançam a astronauta Sally Ride.

1984 · Realiza-se o I Congresso Internacional de Educação Piagetiana e o II Congresso Brasileiro Piagetiano, pelo Centro Experimental e Educacional Jean Piaget - CEEJP.

· Vários comícios são realizados em todo país em favor das eleições diretas. O movimento ficou conhecido como Diretas Já. · O navegador Amyr Khan Klink atravessa o Oceano Atlântico, da África para o Brasil, num barco a remo. · É inaugurado no Rio de Janeiro a passarela do samba, o Sambódromo.

  · Extremistas sikhs executam a primeira-ministra da Índia Indira Gandhi, em represália à invasão do Templo Dourado de Amritsar.

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1985 · O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL é extinto e criado o Projeto Educar. · É criado o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres - CNDM. · São Ministros da Educação no Governo José Sarney: Marco Maciel, Jorge Konder Bomhauser, Hugo Napoleão Rego Neto e Carlos Corrêa de Menezes Sant'Anna. · O Parecer no

99 do Conselho Federal de Educação expõe a inconveniência de acrescentar ao currículo matérias por via legislativa.

· Depois de vinte e um anos de ditadura militar, deixando de herança uma nova Constituição, 17 Atos Institucionais, 130 Atos Complementares, 11 Decretos Secretos e 2260 Decretos-Leis, é eleito, ainda sem o voto popular, um presidente civil, o Deputado Federal pelo estado de Minas Gerais Tancredo Neves. · O presidente Tancredo Neves, morre no Instituto do Coração, de São Paulo, após ter sido acometido de uma enfermidade antes de assumir de fato a Presidência da República. Assume a Presidência da República o vice-presidente José Sarney. · São novamente legalizados todos os partidos políticos (inclusive os comunistas), recriado o Partido Socialista Brasileiro - PSB e criados outros. · Realiza-se o Rock in Rio I. · É descoberto em Embu, São Paulo, as ossadas do carrasco nazista Josef Mengele.

  · Na União Soviética assume o poder Mikhail Gorbatchov. · Na Colômbia o vulcão Nevado del Ruiz entra em erupção e mata vinte e cinco mil pessoas da cidade de Armeiro. · No México um terremoto mata vinte mil pessoas. · Alguns generais responsáveis pela ditadura militar na Argentina são condenados. · Morre com o vírus da AIDS o ator Rock Hudson. · Morre Orson Welles, autor, entre outros filmes, de Cidadão Kane".

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1945-1964 (Período do Regime Militar) 1985-2001

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

PERÍODO DA SEGUNDA REPÚBLICA  

 

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932)

A RECONSTRUÇÃO EDUCACIONAL NO BRASIL - AO POVO E AO GOVERNO

      Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade. No entanto, se depois de 43 anos de regime republicano, se der um balanço ao estado atual da educação pública, no Brasil, se verificará que, dissociadas sempre as reformas econômicas e educacionais, que era indispensável entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido, todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentário e desarticulado. A situação atual, criada pela sucessão periódica de reformas parciais e freqüentemente arbitrárias, lançadas sem solidez econômica e sem uma visão global do problema, em todos os seus aspectos, nos deixa antes a impressão desoladora de construções isoladas, algumas já

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em ruína, outras abandonadas em seus alicerces, e as melhores, ainda não em termos de serem despojadas de seus andaimes...       Onde se tem de procurar a causa principal desse estado antes de inorganização do que de desorganização do aparelho escolar, é na falta, em quase todos os planos e iniciativas, da determinação dos fins de educação (aspecto filosófico e social) e da aplicação (aspecto técnico) dos métodos científicos aos problemas de educação. Ou, em poucas palavras, na falta de espírito filosófico e científico, na resolução dos problemas da administração escolar. Esse empirismo grosseiro, que tem presidido ao estudo dos problemas pedagógicos, postos e discutidos numa atmosfera de horizontes estreitos, tem as suas origens na ausência total de uma cultura universitária e na formação meramente literária de nossa cultura. Nunca chegamos a possuir uma "cultura própria", nem mesmo uma "cultura geral" que nos convencesse da "existência de um problema sobre objetivos e fins da educação". Não se podia encontrar, por isto, unidade e continuidade de pensamento em planos de reformas, nos quais as instituições escolares, esparsas, não traziam, para atraí-las e orientá-las para uma direção, o pólo magnético de uma concepção da vida, nem se submetiam, na sua organização e no seu funcionamento, a medidas objetivas com que o tratamento científico dos problemas da administração escolar nos ajuda a descobrir, à luz dos fins estabelecidos, os processos mais eficazes para a realização da obra educacional.       Certo, um educador pode bem ser um filósofo e deve ter a sua filosofia de educação; mas, trabalhando cientificamente nesse terreno, ele deve estar tão interessado na determinação dos fins de educação, quanto também dos meios de realizá-los. O físico e o químico não terão necessidade de saber o que está e se passa além da janela do seu laboratório. Mas o educador, como o sociólogo, tem necessidade de uma cultura múltipla e bem diversa; as alturas e as profundidades da vida humana e da vida social não devem estender-se além do seu raio visual; ele deve ter o conhecimento dos homens e da sociedade em cada uma de suas fases, para perceber, além do aparente e do efêmero, "o jogo poderoso das grandes leis que dominam a evolução social", e a posição que tem a escola, e a função que representa, na diversidade e pluralidade das forças sociais que cooperam na obra da civilização. Se têm essa cultura geral, que lhe permite organizar uma doutrina de vida e ampliar o seu horizonte mental, poderá ver o problema educacional em conjunto, de um ponto de vista mais largo, para subordinar o problema pedagógico ou dos métodos ao problema filosófico ou dos fins da educação; se tem um espírito científico, empregará os métodos comuns a todo gênero de investigação científica, podendo recorrer a técnicas mais ou menos elaboradas e dominar a situação, realizando experiências e medindo os resultados de toda e qualquer modificação nos processos e nas técnicas, que se desenvolveram sob o impulso dos trabalhos científicos na administração dos serviços escolares.

      Movimento de renovação educacional       À luz dessas verdades e sob a inspiração de novos ideais de educação, é

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que se gerou, no Brasil, o movimento de reconstrução educacional, com que, reagindo contra o empirismo dominante, pretendeu um grupo de educadores, nestes últimos doze anos, transferir do terreno administrativo para os planos político-sociais a solução dos problemas escolares. Não foram ataques injustos que abalaram o prestígio das instituições antigas; foram essas instituições criações artificiais ou deformadas pelo egoísmo e pela rotina, a que serviram de abrigo, que tornaram inevitáveis os ataques contra elas. De fato, porque os nossos métodos de educação haviam de continuar a ser tão prodigiosamente rotineiros, enquanto no México, no Uruguai, na Argentina e no Chile, para só falar na América espanhola, já se operavam transformações profundas no aparelho educacional, reorganizado em novas bases e em ordem a finalidades lucidamente descortinadas? Porque os nossos programas se haviam ainda de fixar nos quadros de segregação social, em que os encerrou a república, há 43 anos, enquanto nossos meios de locomoção e os processos de indústria centuplicaram de eficácia, em pouco mais de um quartel de século? Porque a escola havia de permanecer, entre nós, isolada do ambiente, como uma instituição enquistada no meio social, sem meios de influir sobre ele, quando, por toda a parte, rompendo a barreira das tradições, a ação educativa já desbordava a escola, articulando-se com as outras instituições sociais, para estender o seu raio de influência e de ação?       Embora, a princípio, sem diretrizes definidas, esse movimento francamente renovador inaugurou uma série fecunda de combates de idéias, agitando o ambiente para as primeiras reformas impelidas para urna nova direção. Multiplicaram-se as associações e iniciativas escolares, em que esses debates testemunhavam a curiosidade dos espíritos, pondo em circulação novas idéias e transmitindo aspirações novas com um caloroso entusiasmo. Já se despertava a consciência de que, para dominar a obra educacional, em toda a sua extensão, é preciso possuir, em alto grau, o hábito de se prender, sobre bases sólidas e largas, a um conjunto de idéias abstratas e de princípios gerais, com que possamos armar um ângulo de observação, para vermos mais claro e mais longe e desvendarmos, através da complexidade tremenda dos problemas sociais, horizontes mais vastos. Os trabalhos científicos no ramo da educação já nos faziam sentir, em toda a sua força reconstrutora, o axioma de que se pode ser tão científico no estudo e na resolução dos problemas educativos, como nos da engenharia e das finanças. Não tardaram a surgir, no Distrito Federal e em três ou quatro Estados as reformas e, com elas, as realizações, com espírito científico, e inspiradas por um ideal que, modelado à imagem da vida, já lhe refletia a complexidade. Contra ou a favor, todo o mundo se agitou. Esse movimento é hoje uma idéia em marcha, apoiando-se sobre duas forças que se completam: a força das idéias e a irradiação dos fatos.

      Diretrizes que se esclarecem       Mas, com essa campanha, de que tivemos a iniciativa e assumimos a responsabilidade, e com a qual se incutira, por todas as formas, no magistério, o espírito novo, o gosto da crítica e do debate e a consciência da necessidade

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de um aperfeiçoamento constante, ainda não se podia considerar inteiramente aberto o caminho às grandes reformas educacionais. É certo que, com a efervescência intelectual que produziu no professorado, se abriu, de uma vez, a escola a esses ares, a cujo oxigênio se forma a nova geração de educadores e se vivificou o espírito nesse fecundo movimento renovador no campo da educação pública, nos últimos anos. A maioria dos espíritos, tanto da velha como da nova geração ainda se arrastam, porém, sem convicções, através de um labirinto de idéias vagas, fora de seu alcance, e certamente, acima de sua experiência; e, porque manejam palavras, com que já se familiarizaram, imaginam muitos que possuem as idéias claras, o que lhes tira o desejo de adquiri-las... Era preciso, pois, imprimir uma direção cada vez mais firme a esse movimento já agora nacional, que arrastou consigo os educadores de mais destaque, e levá-lo a seu ponto culminante com uma noção clara e definida de suas aspirações e suas responsabilidades. Aos que tomaram posição na vanguarda da campanha de renovação educacional, cabia o dever de formular, em documento público, as bases e diretrizes do movimento que souberam provocar, definindo, perante o público e o governo, a posição que conquistaram e vêm mantendo desde o início das hostilidades contra a escola tradicional.

      Reformas e a Reforma       Se não há país "onde a opinião se divida em maior número de cores, e se não se encontra teoria que entre nós não tenha adeptos", segundo já observou Alberto Torres, princípios e idéias não passam, entre nós, de "bandeira de discussão, ornatos de polêmica ou simples meio de êxito pessoal ou político". Ilustrados, as vezes, e eruditos, mas raramente cultos, não assimilamos bastante as idéias para se tornarem um núcleo de convicções ou um sistema de doutrina, capaz de nos impelir à ação em que costumam desencadear-se aqueles "que pensaram sua vida e viveram seu pensamento". A interpenetração profunda que já se estabeleceu, em esforços constantes, entre as nossas idéias e convicções e a nossa vida de educadores, em qualquer setor ou linha de ataque em que tivemos de desenvolver a nossa atividade já denuncia, porém, a fidelidade e o vigor com que caminhamos para a obra de reconstrução educacional, sem estadear a segurança de um triunfo fácil, mas com a serena confiança na vitória definitiva de nossos ideais de educação. Em lugar dessas reformas parciais, que se sucederam, na sua quase totalidade, na estreiteza crônica de tentativas empíricas, o nosso programa concretiza uma nova política educacional, que nos preparará, por etapas, a grande reforma, em que palpitará, com o ritmo acelerado dos organismos novos, o músculo central da estrutura política e social da nação.       Em cada uma das reformas anteriores, em que impressiona vivamente a falta de uma visão global do problema educativo, a força inspiradora ou a energia estimulante mudou apenas de forma, dando soluções diferentes aos problemas particulares. Nenhuma antes desse movimento renovador penetrou o âmago da questão, alterando os caracteres gerais e os traços salientes das

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reformas que o precederam. Nós assistíamos à aurora de uma verdadeira renovação educacional, quando a revolução estalou. Já tínhamos chegado então, na campanha escolar, ao ponto decisivo e climatérico, ou se o quiserdes, à linha de divisão das águas. Mas, a educação que, no final de contas, se resume logicamente numa reforma social, não pode, ao menos em grande proporção, realizar-se senão pela ação extensa e intensiva da escola sobre o indivíduo e deste sobre si mesmo nem produzir-se, do ponto de vista das influências exteriores, senão por uma evolução contínua, favorecida e estimulada por todas as forças organizadas de cultura e de educação. As surpresas e os golpes de teatro são impotentes para modificarem o estado psicológico e moral de um povo. É preciso, porém, atacar essa obra, por um plano integral, para que ela não se arrisque um dia a ficar no estado fragmentário, semelhante a essas muralhas pelágicas, inacabadas, cujos blocos enormes, esparsos ao longe sobre o solo, testemunham gigantes que os levantaram, e que a morte surpreendeu antes do cortamento de seus esforços...

      Finalidades da educação       Toda a educação varia sempre em função de uma "concepção da vida", refletindo, em cada época, a filosofia predominante que é determinada, a seu turno, pela estrutura da sociedade. E' evidente que as diferentes camadas e grupos (classes) de uma sociedade dada terão respectivamente opiniões diferentes sobre a "concepção do mundo", que convém fazer adotar ao educando e sobre o que é necessário considerar como "qualidade socialmente útil". O fim da educação não é, como bem observou G. Davy, "desenvolver de maneira anárquica as tendências dominantes do educando; se o mestre intervém para transformar, isto implica nele a representação de um certo ideal à imagem do qual se esforça por modelar os jovens espíritos". Esse ideal e aspiração dos adultos toma-se mesmo mais fácil de apreender exatamente quando assistimos à sua transmissão pela obra educacional, isto é, pelo trabalho a que a sociedade se entrega para educar os seus filhos. A questão primordial das finalidades da educação gira, pois, em torno de uma concepção da vida, de um ideal, a que devem conformar-se os educandos, e que uns consideram abstrato e absoluto, e outros, concreto e relativo, variável no tempo e no espaço. Mas, o exame, num longo olhar para o passado, da evolução da educação através das diferentes civilizações, nos ensina que o "conteúdo real desse ideal" variou sempre de acordo com a estrutura e as tendências sociais da época, extraindo a sua vitalidade, como a sua força inspiradora, da própria natureza da realidade social.       Ora, se a educação está intimamente vinculada à filosofia de cada época, que lhe define o caráter, rasgando sempre novas perspectivas ao pensamento pedagógico, a educação nova não pode deixar de ser uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida. Desprendendo-se dos interesses de classes, a que ela tem servido, a educação perde o "sentido

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aristológico", para usar a expressão de Ernesto Nelson, deixa de constituir um privilégio determinado pela condição econômica e social do indivíduo, para assumir um "caráter biológico", com que ela se organiza para a coletividade em geral, reconhecendo a todo o indivíduo o direito a ser educado até onde o permitam as suas aptidões naturais, independente de razões de ordem econômica e social. A educação nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das classes, assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando-se para formar "a hierarquia democrática" pela "hierarquia das capacidades", recrutadas em todos os grupos sociais, a que se abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, organizar e desenvolver os meios de ação durável com o fim de "dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu crescimento", de acordo com uma certa concepção do mundo.       A diversidade de conceitos da vida provém, em parte, das diferenças de classes e, em parte, da variedade de conteúdo na noção de "qualidade socialmente útil", conforme o ângulo visual de cada uma das classes ou grupos sociais. A educação nova que, certamente pragmática, se propõe ao fim de servir não aos interesses de classes, mas aos interesses do indivíduo, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social, tem o seu ideal condicionado pela vida social atual, mas profundamente humano, de solidariedade, de serviço social e cooperação. A escola tradicional, instalada para uma concepção burguesa, vinha mantendo o indivíduo na sua autonomia isolada e estéril, resultante da doutrina do individualismo libertário, que teve aliás o seu papel na formação das democracias e sem cujo assalto não se teriam quebrado os quadros rígidos da vida social. A escola socializada, reconstituída sobre a base da atividade e da produção, em que se considera o trabalho como a melhor maneira de estudar a realidade em geral (aquisição ativa da cultura) e a melhor maneira de estudar o trabalho em si mesmo, como fundamento da sociedade humana, se organizou para remontar a corrente e restabelecer, entre os homens, o espírito de disciplina, solidariedade e cooperação, por uma profunda obra social que ultrapassa largamente o quadro estreito dos interesses de classes.

      Valores mutáveis e valores permanentes       Mas, por menos que pareça, nessa concepção educacional, cujo embrião já se disse ter-se gerado no seio das usinas e de que se impregnam a carne e o sangue de tudo que seja objeto da ação educativa, não se rompeu nem está a pique de romper-se o equilíbrio entre os valores mutáveis e os valores permanentes da vida humana. Onde, ao contrário, se assegurará melhor esse equilíbrio é no novo sistema de educação, que, longe de se propor a fins particulares de determinados grupos sociais, às tendências ou preocupações de classes, os subordina aos fins fundamentais e gerais que assinala a natureza nas suas funções biológicas. É certo que é preciso fazer homens, antes de fazer instrumentos de produção. Mas, o trabalho que foi sempre a maior

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escola de formação da personalidade moral, não é apenas o método que realiza o acréscimo da produção social, é o único método susceptível de fazer homens cultivados e úteis sob todos os aspectos. O trabalho, a solidariedade social e a cooperação, em que repousa a ampla utilidade das experiências; a consciência social que nos leva a compreender as necessidades do indivíduo através das da comunidade, e o espírito de justiça, de renúncia e de disciplina, não são, aliás, grandes "valores permanentes" que elevam a alma, enobrecem o coração e fortificam a vontade, dando expressão e valor à vida humana? Um vício das escolas espiritualistas, já o ponderou Jules Simon, é o "desdém pela multidão". Quer-se raciocinar entre si e refletir entre si. Evita de experimentar a sorte de todas as aristocracias que se estiolam no isolamento. Se se quer servir à humanidade, é preciso estar em comunhão com ela...       Certo, a doutrina de educação, que se apoia no respeito da personalidade humana, considerada não mais como meio, mas como fim em si mesmo, não poderia ser acusada de tentar, com a escola do trabalho, fazer do homem uma máquina, um instrumento exclusivamente apropriado a ganhar o salário e a produzir um resultado material num tempo dado. "A alma tem uma potência de milhões de cavalos, que levanta mais peso do que o vapor. Se todas as verdades matemáticas se perdessem, escreveu Lamartine, defendendo a causa da educação integral, o mundo industrial, o mundo material, sofreria sem duvida um detrimento imenso e um dano irreparável; mas, se o homem perdesse uma só das suas verdades morais, seria o próprio homem, seria a humanidade inteira que pereceria". Mas, a escola socializada não se organizou como um meio essencialmente social senão para transferir do plano da abstração ao da vida escolar em todas as suas manifestações, vivendo-as intensamente, essas virtudes e verdades morais, que contribuem para harmonizar os interesses individuais e os interesses coletivos. "Nós não somos antes homens e depois seres sociais, lembra-nos a voz insuspeita de Paul Bureau; somos seres sociais, por isto mesmo que somos homens, e a verdade está antes em que não há ato, pensamento, desejo, atitude, resolução, que tenham em nós sós seu princípio e seu termo e que realizem em nós somente a totalidade de seus efeitos".

      O Estado em face da educação       a) A educação, uma função essencialmente pública       Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decorre logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais. A educação que é uma das funções de que a família se vem despojando em proveito da sociedade política, rompeu os quadros do comunismo familiar e dos grupos específicos (instituições privadas), para se incorporar definitivamente entre as funções essenciais e primordiais do Estado. Esta restrição progressiva das atribuições da família, - que também deixou de ser "um centro de produção" para ser

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apenas um "centro de consumo", em face da nova concorrência dos grupos profissionais, nascidos precisamente em vista da proteção de interesses especializados", - fazendo-a perder constantemente em extensão, não lhe tirou a "função específica", dentro do "foco interior", embora cada vez mais estreito, em que ela se confinou. Ela é ainda o "quadro natural que sustenta socialmente o indivíduo, como o meio moral em que se disciplinam as tendências, onde nascem, começam a desenvolver-se e continuam a entreter-se as suas aspirações para o ideal". Por isto, o Estado, longe de prescindir da família, deve assentar o trabalho da educação no apoio que ela dá à escola e na colaboração efetiva entre pais e professores, entre os quais, nessa obra profundamente social, tem o dever de restabelecer a confiança e estreitar as relações, associando e pondo a serviço da obra comum essas duas forças sociais - a família e a escola, que operavam de todo indiferentes, senão em direções diversas e ás vezes opostas.

      b) A questão da escola única       Assentado o princípio do direito biológico de cada indivíduo à sua educação integral, cabe evidentemente ao Estado a organização dos meios de o tornar efetivo, por um plano geral de educação, de estrutura orgânica, que torne a escola acessível, em todos os seus graus, aos cidadãos a quem a estrutura social do país mantém em condições de inferioridade econômica para obter o máximo de desenvolvimento de acordo com as suas aptidões vitais. Chega-se, por esta forma, ao princípio da escola para todos, "escola comum ou única", que, tomado a rigor, só não ficará na contingência de sofrer quaisquer restrições, em países em que as reformas pedagógicas estão intimamente ligadas com a reconstrução fundamental das relações sociais. Em nosso regime político, o Estado não poderá, de certo, impedir que, graças à organização de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais privilegiadas assegurem a seus filhos uma educação de classe determinada; mas está no dever indeclinável de não admitir, dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma minoria, por um privilegio exclusivamente econômico. Afastada a idéia do monopólio da educação pelo Estado num país, em que o Estado, pela sua situação financeira não está ainda em condições de assumir a sua responsabilidade exclusiva, e em que, portanto, se torna necessário estimular, sob sua vigilância as instituições privadas idôneas, a "escola única" se entenderá, entre nós, não como "uma conscrição precoce", arrolando, da escola infantil à universidade, todos os brasileiros, e submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação idêntica, para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15, todas ao menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos.

      c) A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação       A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação são outros tantos

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princípios em que assenta a escola unificada e que decorrem tanto da subordinação à finalidade biológica da educação de todos os fins particulares e parciais (de classes, grupos ou crenças), como do reconhecimento do direito biológico que cada ser humano tem à educação. A laicidade, que coloca o ambiente escolar acima de crenças e disputas religiosas, alheio a todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a integridade da personalidade em formação, à pressão perturbadora da escola quando utilizada como instrumento de propaganda de seitas e doutrinas. A gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um princípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus, acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo gratuito. A obrigatoriedade que, por falta de escolas, ainda não passou do papel, nem em relação ao ensino primário, e se deve estender progressivamente até uma idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos 18 anos, é mais necessária ainda "na sociedade moderna em que o industrialismo e o desejo de exploração humana sacrificam e violentam a criança e o jovem", cuja educação é freqüentemente impedida ou mutilada pela ignorância dos pais ou responsáveis e pelas contingências econômicas. A escola unificada não permite ainda, entre alunos de um e outro sexo outras separações que não sejam as que aconselham as suas aptidões psicológicas e profissionais, estabelecendo em todas as instituições "a educação em comum" ou coeducação, que, pondo-os no mesmo pé de igualdade e envolvendo todo o processo educacional, torna mais econômica a organização da obra escolar e mais fácil a sua graduação.

      A função educacional       a) A unidade da função educacional       A consciência desses princípios fundamentais da laicidade, gratuidade e obrigatoriedade, consagrados na legislação universal, já penetrou profundamente os espíritos, como condições essenciais à organização de um regime escolar, lançado, em harmonia com os direitos do indivíduo, sobre as bases da unificação do ensino, com todas as suas conseqüências. De fato, se a educação se propõe, antes de tudo, a desenvolver ao máximo a capacidade vital do ser humano, deve ser considerada "uma só" a função educacional, cujos diferentes graus estão destinados a servir às diferentes fases de seu crescimento, "que são partes orgânicas de um todo que biologicamente deve ser levado à sua completa formação". Nenhum outro princípio poderia oferecer ao panorama das instituições escolares perspectivas mais largas, mais salutares e mais fecundas em conseqüências do que esse que decorre logicamente da finalidade biológica da educação. A seleção dos alunos nas suas aptidões naturais, a supressão de instituições criadoras de diferenças sobre base econômica, a incorporação dos estudos do magistério à universidade, a equiparação de mestres e professores em remuneração e trabalho, a correlação e a continuidade do ensino em todos os seus graus e a

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reação contra tudo que lhe quebra a coerência interna e a unidade vital, constituem o programa de uma política educacional, fundada sobre a aplicação do princípio unificador que modifica profundamente a estrutura intima e a organização dos elementos constitutivos do ensino e dos sistemas escolares.

      b) A autonomia da função educacional       Mas, subordinada a educação pública a interesses transitórios, caprichos pessoais ou apetites de partidos, será impossível ao Estado realizar a imensa tarefa que se propõe da formação integral das novas gerações. Não há sistema escolar cuja unidade e eficácia não estejam constantemente ameaçadas, senão reduzidas e anuladas, quando o Estado não o soube ou não o quis acautelar contra o assalto de poderes estranhos, capazes de impor à educação fins inteiramente contrários aos fins gerais que assinala a natureza em suas funções biológicas. Toda a impotência manifesta do sistema escolar atual e a insuficiência das soluções dadas às questões de caráter educativo não provam senão o desastre irreparável que resulta, para a educação pública, de influencias e intervenções estranhas que conseguiram sujeita-la a seus ideais secundários e interesses subalternos. Dai decorre a necessidade de uma ampla autonomia técnica, administrativa e econômica, com que os técnicos e educadores, que têm a responsabilidade e devem ter, por isto, a direção e administração da função educacional, tenham assegurados os meios materiais para poderem realizá-la. Esses meios, porém, não podem reduzir-se às verbas que, nos orçamentos, são consignadas a esse serviço público e, por isto, sujeitas às crises dos erários do Estado ou às oscilações" do interesse dos governos pela educação. A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um "fundo especial ou escolar", que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional, pelos próprios órgãos do ensino, incumbidos de sua direção.

      c) A descentralização       A organização da educação brasileira unitária sobre a base e os princípios do Estado, no espírito da verdadeira comunidade popular e no cuidado da unidade nacional, não implica um centralismo estéril e odioso, ao qual se opõem as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação crescente da escola aos interesses e às exigências regionais. Unidade não significa uniformidade. A unidade pressupõe multiplicidade. Por menos que pareça, à primeira vista, não é, pois, na centralização, mas na aplicação da doutrina federativa e descentralizadora, que teremos de buscar o meio de levar a cabo, em toda a República, uma obra metódica e coordenada, de acordo com um plano comum, de completa eficiência, tanto em intensidade como em extensão. À União, na capital, e aos estados, nos seus respectivos territórios, é que deve competir a educação em todos os graus, dentro dos princípios gerais fixados na nova constituição, que deve conter, com a definição de atribuições

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e deveres, os fundamentos da educação nacional. Ao governo central, pelo Ministério da Educação, caberá vigiar sobre a obediência a esses princípios, fazendo executar as orientações e os rumos gerais da função educacional, estabelecidos na carta constitucional e em leis ordinárias, socorrendo onde haja deficiência de meios, facilitando o intercâmbio pedagógico e cultural dos Estados e intensificando por todas as formas as suas relações espirituais. A unidade educativa, - essa obra imensa que a União terá de realizar sob pena de perecer como nacionalidade, se manifestará então como uma força viva, um espírito comum, um estado de ânimo nacional, nesse regime livre de intercâmbio, solidariedade e cooperação que, levando os Estados a evitar todo desperdício nas suas despesas escolares afim de produzir os maiores resultados com as menores despesas, abrirá margem a uma sucessão ininterrupta de esforços fecundos em criações e iniciativas.

      O processo educativo       O conceito e os fundamentos da educação nova       O desenvolvimento das ciências lançou as bases das doutrinas da nova educação, ajustando à finalidade fundamental e aos ideais que ela deve prosseguir os processos apropriados para realizá-los. A extensão e a riqueza que atualmente alcança por toda a parte o estudo científico e experimental da educação, a libertaram do empirismo, dando-lhe um caráter e um espírito nitidamente científico e organizando, em corpo de doutrina, numa série fecunda de pesquisas e experiências, os princípios da educação nova, pressentidos e às vezes formulados em rasgos de síntese, pela intuição luminosa de seus precursores. A nova doutrina, que não considera a função educacional como uma função de superposição ou de acréscimo, segundo a qual o educando é "modelado exteriormente" (escola tradicional), mas uma função complexa de ações e reações em que o espírito cresce de "dentro para fora", substitui o mecanismo pela vida (atividade funcional) e transfere para a criança e para o respeito de sua personalidade o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da educação. Considerando os processos mentais, como "funções vitais" e não como "processos em si mesmos", ela os subordina à vida, como meio de utilizá-la e de satisfazer as suas múltiplas necessidades materiais e espirituais. A escola, vista desse ângulo novo que nos dá o conceito funcional da educação, deve oferecer à criança um meio vivo e natural, "favorável ao intercâmbio de reações e experiências", em que ela, vivendo a sua vida própria, generosa e bela de criança, seja levada "ao trabalho e à ação por meios naturais que a vida suscita quando o trabalho e a ação convém aos seus interesses e às suas necessidades".       Nessa nova concepção da escola, que é uma reação contra as tendências exclusivamente passivas, intelectualistas e verbalistas da escola tradicional, a atividade que está na base de todos os seus trabalhos, é a atividade espontânea, alegre e fecunda, dirigida à satisfação das necessidades do próprio indivíduo. Na verdadeira educação funcional deve estar, pois, sempre presente, como elemento essencial e inerente à sua própria natureza, o

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problema não só da correspondência entre os graus do ensino e as etapas da evolução intelectual fixadas sobre a base dos interesses, como também da adaptação da atividade educativa às necessidades psicobiológicas do momento. O que distingue da escola tradicional a escola nova, não é, de fato, a predominância dos trabalhos de base manual e corporal, mas a presença, em todas as suas atividades, do fator psicobiológico do interesse, que é a primeira condição de uma atividade espontânea e o estímulo constante ao educando (criança, adolescente ou jovem) a buscar todos os recursos ao seu alcance, "graças à força de atração das necessidades profundamente sentidas". É certo que, deslocando-se por esta forma, para a criança e para os seus interesses, móveis e transitórios, a fonte de inspiração das atividades escolares, quebra-se a ordem que apresentavam os programas tradicionais, do ponto de vista da lógica formal dos adultos, para os pôr de acordo com a "lógica psicológica", isto é, com a lógica que se baseia na natureza e no funcionamento do espírito infantil.       Mas, para que a escola possa fornecer aos "impulsos interiores a ocasião e o meio de realizar-se", e abrir ao educando à sua energia de observar, experimentar e criar todas as atividades capazes de satisfazê-la, é preciso que ela seja reorganizada como um "mundo natural e social embrionário", um ambiente dinâmico em íntima conexão com a região e a comunidade. A escola que tem sido um aparelho formal e rígido, sem diferenciação regional, inteiramente desintegrado em relação ao meio social, passará a ser um organismo vivo, com uma estrutura social, organizada à maneira de uma comunidade palpitante pelas soluções de seus problemas. Mas, se a escola deve ser uma comunidade em miniatura, e se em toda a comunidade as atividades manuais, motoras ou construtoras "constituem as funções predominantes da vida", é natural que ela inicie os alunos nessas atividades, pondo-os em contato com o ambiente e com a vida ativa que os rodeia, para que eles possam, desta forma, possuí-la, apreciá-la e senti-la de acordo com as aptidões e possibilidades. "A vida da sociedade, observou Paulsen, se modifica em função da sua economia, e a energia individual e coletiva se manifesta pela sua produção material". A escola nova, que tem de obedecer a esta lei, deve ser reorganizada de maneira que o trabalho seja seu elemento formador, favorecendo a expansão das energias criadoras do educando, procurando estimular-lhe o próprio esforço como o elemento mais eficiente em sua educação e preparando-o, com o trabalho em grupos e todas as atividades pedagógicas e sociais, para fazê-lo penetrar na corrente do progresso material e espiritual da sociedade de que proveio e em que vai viver e lutar.

      Plano de reconstrução educacional       a) As linhas gerais do plano       Ora, assentada a finalidade da educação e definidos os meios de ação ou processos de que necessita o indivíduo para o seu desenvolvimento integral, ficam fixados os princípios científicos sobre os quais se pode apoiar

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solidamente um sistema de educação. A aplicação desses princípios importa, como se vê, numa radical transformação da educação pública em todos os seus graus, tanto à luz do novo conceito de educação, como à vista das necessidades nacionais. No plano de reconstrução educacional, de que se esboçam aqui apenas as suas grandes linhas gerais, procuramos, antes de tudo, corrigir o erro capital que apresenta o atual sistema (se é que se pode chamar sistema), caracterizado pela falta de continuidade e articulação do ensino, em seus diversos graus, como se não fossem etapas de um mesmo processo, e cada um dos quais deve ter o seu "fim particular", próprio, dentro da "unidade do fim geral da educação" e dos princípios e métodos comuns a todos os graus e instituições educativas. De fato, o divorcio entre as entidades que mantêm o ensino primário e profissional e as que mantêm o ensino secundário e superior, vai concorrendo insensivelmente, como já observou um dos signatários deste manifesto, "para que se estabeleçam no Brasil, dois sistemas escolares paralelos, fechados em compartimentos estanques e incomunicáveis, diferentes nos seus objetivos culturais e sociais, e, por isto mesmo, instrumentos de estratificação social".       A escola primária que se estende sobre as instituições das escolas maternais e dos jardins de infância e constitui o problema fundamental das democracias, deve, pois, articular-se rigorosamente com a educação secundária unificada, que lhe sucede, em terceiro plano, para abrir acesso às escolas ou institutos superiores de especialização profissional ou de altos estudos. Ao espírito novo que já se apoderou do ensino primário não se poderia, porém, subtrair a escola secundária, em que se apresentam, colocadas no mesmo nível, a educação chamada "profissional" (de preferência manual ou mecânica) e a educação humanística ou científica (de preponderância intelectual), sobre uma base comum de três anos. A escola secundária deixará de ser assim a velha escola de "um grupo social", destinada a adaptar todas as inteligências a uma forma rígida de educação, para ser um aparelho flexível e vivo, organizado para ministrar a cultura geral e satisfazer às necessidades práticas de adaptação à variedade dos grupos sociais. É o mesmo princípio que faz alargar o campo educativo das Universidades, em que, ao lado das escolas destinadas ao preparo para as profissões chamadas "liberais", se devem introduzir, no sistema, as escolas de cultura especializada, para as profissões industriais e mercantis, propulsoras de nossa riqueza econômica e industrial. Mas esse princípio, dilatando o campo das universidades, para adaptá-las à variedade e às necessidades dos grupos sociais, tão longe está de lhes restringir a função cultural que tende a elevar constantemente as escolas de formação profissional, achegando-as às suas próprias fontes de renovação e agrupando-as em torno dos grandes núcleos de criação livre, de pesquisa científica e de cultura desinteressada.       A instrução pública não tem sido, entre nós, na justa observação de Alberto Torres, senão um "sistema de canais de êxodo da mocidade do campo para as cidades e da produção para o parasitismo". É preciso, para reagir contra esses males, já tão lucidamente apontados, pôr em via de solução o

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problema educacional das massas rurais e do elemento trabalhador da cidade e dos centros industriais já pela extensão da escola do trabalho educativo e da escola do trabalho profissional, baseada no exercício normal do trabalho em cooperação, já pela adaptação crescente dessas escolas (primária e secundária profissional) às necessidades regionais e às profissões e indústrias dominantes no meio. A nova política educacional rompendo, de um lado, contra a formação excessivamente literária de nossa cultura, para lhe dar um caráter científico e técnico, e contra esse espírito de desintegração da escola, em relação ao meio social, impõe reformas profundas, orientadas no sentido da produção e procura reforçar, por todos os meios, a intenção e o valor social da escola, sem negar a arte, a literatura e os valores culturais. A arte e a literatura tem efetivamente uma significação social, profunda e múltipla; a aproximação dos homens, a sua organização em uma coletividade unânime, a difusão de tais ou quais idéias sociais, de uma maneira "imaginada", e, portanto, eficaz, a extensão do raio visual do homem e o valor moral e educativo conferem certamente à arte uma enorme importância social. Mas, se, à medida que a riqueza do homem aumenta, o alimento ocupa um lugar cada vez mais fraco, os produtores intelectuais não passam para o primeiro plano senão quando as sociedades se organizam em sólidas bases econômicas.

      b) O ponto nevrálgico da questão       A estrutura do plano educacional corresponde, na hierarquia de suas instituições escolares (escola infantil ou pré-primária; primária; secundária e superior ou universitária) aos quatro grandes períodos que apresenta o desenvolvimento natural do ser humano. É uma reforma integral da organização e dos métodos de toda a educação nacional, dentro do mesmo espírito que substitui o conceito estático do ensino por um conceito dinâmico, fazendo um apelo, dos jardins de infância à Universidade, não à receptividade mas à atividade criadora do aluno. A partir da escola infantil (4 a 6 anos) à Universidade, com escala pela educação primária (7 a 12) e pela secundária (l2 a 18 anos), a "continuação ininterrupta de esforços criadores" deve levar à formação da personalidade integral do aluno e ao desenvolvimento de sua faculdade produtora e de seu poder criador, pela aplicação, na escola, para a aquisição ativa de conhecimentos, dos mesmos métodos (observação, pesquisa, e experiência), que segue o espírito maduro, nas investigações científicas. A escola secundária, unificada para se evitar o divórcio entre os trabalhadores manuais e intelectuais, terá uma sólida base comum de cultura geral (3 anos), para a posterior bifurcação (dos 15 aos 18), em seção de preponderância intelectual (com os 3 ciclos de humanidades modernas; ciências físicas e matemáticas; e ciências químicas e biológicas), e em seção de preferência manual, ramificada por sua vez, em ciclos, escolas ou cursos destinados à preparação às atividades profissionais, decorrentes da extração de matérias primas (escolas agrícolas, de mineração e de pesca) da elaboração das matérias primas (industriais e profissionais) e da distribuição dos produtos elaborados (transportes, comunicações e comércio).

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      Mas, montada, na sua estrutura tradicional, para a classe média (burguesia), enquanto a escola primária servia à classe popular, como se tivesse uma finalidade em si mesma, a escola secundária ou do 3º grau não forma apenas o reduto dos interesses de classe, que criaram e mantêm o dualismo dos sistemas escolares. É ainda nesse campo educativo que se levanta a controvérsia sobre o sentido de cultura geral e se põe o problema relativo à escolha do momento em que a matéria do ensino deve diversificar-se em ramos iniciais de especialização. Não admira, por isto, que a escola secundária seja, nas reformas escolares, o ponto nevrálgico da questão. Ora, a solução dada, neste plano, ao problema do ensino secundário, levantando os obstáculos opostos pela escola tradicional à interpenetração das classes sociais, se inspira na necessidade de adaptar essa educação à diversidade nascente de gostos e à variedade crescente de aptidões que a observação psicológica regista nos adolescentes e que "representam as únicas forças capazes de arrastar o espírito dos jovens à cultura superior". A escola do passado, com seu esforço inútil de abarcar a soma geral de conhecimentos, descurou a própria formação do espírito e a função que lhe cabia de conduzir o adolescente ao limiar das profissões e da vida. Sobre a base de uma cultura geral comum, em que importará menos a quantidade ou qualidade das matérias do que o "método de sua aquisição", a escola moderna estabelece para isto, depois dos 15 anos, o ponto em que o ensino se diversifica, para se adaptar já à diversidade crescente de aptidões e de gostos, já à variedade de formas de atividade social.

      c) O conceito moderno de Universidade e o problema universitário no Brasil       A educação superior que tem estado, no Brasil, exclusivamente a serviço das profissões "liberais" (engenharia, medicina e direito), não pode evidentemente erigir-se à altura de uma educação universitária, sem alargar para horizontes científicos e culturais a sua finalidade estritamente profissional e sem abrir os seus quadros rígidos à formação de todas as profissões que exijam conhecimentos científicos, elevando-as a todas a nível superior e tornando-se, pela flexibilidade de sua organização, acessível a todas. Ao lado das faculdades profissionais existentes, reorganizadas em novas bases, impõe-se a criação simultânea ou sucessiva, em cada quadro universitário, de faculdades de ciências sociais e econômicas; de ciências matemáticas, físicas e naturais, e de filosofia e letras que, atendendo à variedade de tipos mentais e das necessidades sociais, deverão abrir às universidades que se criarem ou se reorganizarem, um campo cada vez mais vasto de investigações científicas. A educação superior ou universitária, a partir dos 18 anos, inteiramente gratuita como as demais, deve tender, de fato, não somente à formação profissional e técnica, no seu máximo desenvolvimento, como à formação de pesquisadores, em todos os ramos de conhecimentos humanos. Ela deve ser organizada de maneira que possa desempenhar a tríplice função que lhe cabe de elaboradora ou criadora de

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ciência (investigação), docente ou transmissora de conhecimentos (ciência feita) e de vulgarizadora ou popularizadora, pelas instituições de extensão universitária, das ciências e das artes.       No entanto, com ser a pesquisa, na expressão de Coulter, o "sistema nervoso da Universidade", que estimula e domina qualquer outra função; com ser esse espírito de profundidade e universalidade, que imprime à educação superior um caráter universitário, pondo-a em condições de contribuir para o aperfeiçoamento constante do saber humano, a nossa educação superior nunca ultrapassou os limites e as ambições de formação profissional, a que se propõem as escolas de engenharia, de medicina e direito. Nessas instituições, organizadas antes para uma função docente, a ciência está inteiramente subordinada à arte ou à técnica da profissão a que servem, com o cuidado da aplicação imediata e próxima, de uma direção utilitária em vista de uma função pública ou de uma carreira privada. Ora, se, entre nós, vingam facilmente todas as fórmulas e frases feitas; se a nossa ilustração, mais variada e mais vasta do que no império, é hoje, na frase de Alberto Torres, "mais vaga, fluida, sem assento, incapaz de habilitar os espíritos a formar juízos e incapaz de lhes inspirar atos", é porque a nossa geração, além de perder a base de uma educação secundária sólida, posto que exclusivamente literária, se deixou infiltrar desse espírito enciclopédico em que o pensamento ganha em extensão o que perde em profundidade; em que da observação e da experiência, em que devia exercitar-se, se deslocou o pensamento para o hedonismo intelectual e para a ciência feita, e em que, finalmente, o período criador cede o lugar à erudição, e essa mesma quase sempre, entre nós, aparente e sem substância, dissimulando sob a superfície, às vezes brilhante, a absoluta falta de solidez de conhecimentos.       Nessa superficialidade de cultura, fácil e apressada, de autodidatas, cujas opiniões se mantêm prisioneiras de sistemas ou se matizam das tonalidades das mais variadas doutrinas, se tem de buscar as causas profundas da estreiteza e da flutuação dos espíritos e da indisciplina mental, quase anárquica, que revelamos em face de todos os problemas. Nem a primeira geração nascida com a república, no seu esforço heróico para adquirir a posse de si mesma, elevando-se acima de seu meio, conseguiu libertar-se de todos os males educativos de que se viciou a sua formação. A organização de Universidades é, pois, tanto mais necessária e urgente quanto mais pensarmos que só com essas instituições, a que cabe criar e difundir ideais políticos, sociais, morais e estéticos, é que podemos obter esse intensivo espírito comum, nas aspirações, nos ideais e nas lutas, esse "estado de ânimo nacional", capaz de dar força, eficácia e coerência à ação dos homens, sejam quais forem as divergências que possa estabelecer entre eles a diversidade de pontos de vista na solução dos problemas brasileiros. É a universidade, no conjunto de suas instituições de alta cultura, prepostas ao estudo científico dos grandes problemas nacionais, que nos dará os meios de combater a facilidade de tudo admitir; o ceticismo de nada escolher nem julgar; a falta de crítica, por falta de espírito de síntese; a indiferença ou a neutralidade no terreno das

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idéias; a ignorância "da mais humana de todas as operações intelectuais, que é a de tomar partido", e a tendência e o espírito fácil de substituir os princípios (ainda que provisórios) pelo paradoxo e pelo humor, esses recursos desesperados.

      d) O problema dos melhores       De fato, a Universidade, que se encontra no ápice de todas as instituições educativas, está destinada, nas sociedades modernas a desenvolver um papel cada vez mais importante na formação das elites de pensadores, sábios, cientistas, técnicos, e educadores, de que elas precisam para o estudo e solução de suas questões científicas, morais, intelectuais, políticas e econômicas. Se o problema fundamental das democracias é a educação das massas populares, os melhores e os mais capazes, por seleção, devem formar o vértice de uma pirâmide de base imensa. Certamente, o novo conceito de educação repele as elites formadas artificialmente "por diferenciação econômica" ou sob o critério da independência econômica, que não é nem pode ser hoje elemento necessário para fazer parte delas. A primeira condição para que uma elite desempenhe a sua missão e cumpra o seu dever é de ser "inteiramente aberta" e não somente de admitir todas as capacidades novas, como também de rejeitar implacavelmente de seu seio todos os indivíduos que não desempenham a função social que lhes é atribuída no interesse da coletividade. Mas, não há sociedade alguma que possa prescindir desse órgão especial e tanto mais perfeitas serão as sociedades quanto mais pesquisada e selecionada for a sua elite, quanto maior for a riqueza e a variedade de homens, de valor cultural substantivo, necessários para enfrentar a variedade dos problemas que põe a complexidade das sociedades modernas. Essa seleção que se deve processar não "por diferenciação econômica", mas "pela diferenciação de todas as capacidades", favorecida pela educação, mediante a ação biológica e funcional, não pode, não diremos completar-se, mas nem sequer realizar-se senão pela obra universitária que, elevando ao máximo o desenvolvimento dos indivíduos dentro de suas aptidões naturais e selecionando os mais capazes, lhes dá bastante força para exercer influência efetiva na sociedade e afetar, dessa forma, a consciência social.

      A unidade de formação de professores e a unidade de espírito       Ora, dessa elite deve fazer parte evidentemente o professorado de todos os graus, ao qual, escolhido como sendo um corpo de eleição, para uma função pública da mais alta importância, não se dá, nem nunca se deu no Brasil, a educação que uma elite pode e deve receber. A maior parte dele, entre nós, é recrutada em todas as carreiras, sem qualquer preparação profissional, como os professores do ensino secundário e os do ensino superior (engenharia, medicina, direito, etc.), entre os profissionais dessas carreiras, que receberam, uns e outros, do secundário a sua educação geral. O magistério primário, preparado em escolas especiais (escolas normais), de caráter mais propedêutico, e, as vezes misto, com seus cursos geral e de especialização

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profissional, não recebe, por via de regra, nesses estabelecimentos, de nível secundário, nem uma sólida preparação pedagógica, nem a educação geral em que ela deve basear-se. A preparação dos professores, como se vê, é tratada entre nós, de maneira diferente, quando não é inteiramente descuidada, como se a função educacional, de todas as funções públicas a mais importante, fosse a única para cujo exercício não houvesse necessidade de qualquer preparação profissional. Todos os professores, de todos os graus, cuja preparação geral se adquirirá nos estabelecimentos de ensino secundário, devem, no entanto, formar o seu espírito pedagógico, conjuntamente, nos cursos universitários, em faculdades ou escolas normais, elevadas ao nível superior e incorporadas às universidades. A tradição das hierarquias docentes, baseadas na diferenciação dos graus de ensino, e que a linguagem fixou em denominações diferentes (mestre, professor e catedrático), é inteiramente contrária ao princípio da unidade da função educacional, que, aplicado, às funções docentes, importa na incorporação dos estudos do magistério às universidades, e, portanto, na libertação espiritual e econômica do professor, mediante uma formação e remuneração equivalentes que lhe permitam manter, com a eficiência no trabalho, a dignidade e o prestígio indispensáveis aos educadores.       A formação universitária dos professores não é somente uma necessidade da função educativa, mas o único meio de, elevando-lhes em verticalidade a cultura, e abrindo-lhes a vida sobre todos os horizontes, estabelecer, entre todos, para a realização da obra educacional, uma compreensão recíproca, uma vida sentimental comum e um vigoroso espírito comum nas aspirações e nos ideais. Se o estado cultural dos adultos é que dá as diretrizes à formação da mocidade, não se poderá estabelecer uma função e educação unitária da mocidade, sem que haja unidade cultural naqueles que estão incumbidos de transmití-la. Nós não temos o feiticismo mas o princípio da unidade, que reconhecemos não ser possível senão quando se criou esse "espírito", esse "ideal comum", pela unificação, para todos os graus do ensino, da formação do magistério, que elevaria o valor dos estudos, em todos os graus, imprimiria mais lógica e harmonia às instituições, e corrigiria, tanto quanto humanamente possível, as injustiças da situação atual. Os professores de ensino primário e secundário, assim formados, em escolas ou cursos universitários, sobre a base de uma educação geral comum, dada em estabelecimentos de educação secundária, não fariam senão um só corpo com os do ensino superior, preparando a fusão sincera e cordial de todas as forças vivas do magistério. Entre os diversos graus do ensino, que guardariam a sua função específica, se estabeleceriam contatos estreitos que permitiriam as passagens de um ao outro nos momentos precisos, descobrindo as superioridade em gérmen, pondo-as em destaque e assegurando, de um ponto a outro dos estudos, a unidade do espírito sobre a base da unidade de formação dos professores.

      O papel da escola na vida e a sua função social       Mas, ao mesmo tempo que os progressos da psicologia aplicada à criança

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começaram a dar à educação bases científicas, os estudos sociológicos, definindo a posição da escola em face da vida, nos trouxeram uma consciência mais nítida da sua função social e da estreiteza relativa de seu círculo de ação. Compreende-se, à luz desses estudos, que a escola, campo específico de educação, não é um elemento estranho à sociedade humana, um elemento separado, mas "uma instituição social", um órgão feliz e vivo, no conjunto das instituições necessárias à vida, o lugar onde vivem a criança, a adolescência e a mocidade, de conformidade com os interesses e as alegrias profundas de sua natureza. A educação, porém, não se faz somente pela escola, cuja ação é favorecida ou contrariada, ampliada ou reduzida pelo jogo de forças inumeráveis que concorrem ao movimento das sociedades modernas. Numerosas e variadíssimas, são, de fato, as influências que formam o homem através da existência. "Há a herança que a escola da espécie, como já se escreveu; a família que é a escola dos pais; o ambiente social que é a escola da comunidade, e a maior de todas as escolas, a vida, com todos os seus imponderáveis e forças incalculáveis". Compreender, então, para empregar a imagem de C. Bouglé, que, na sociedade, a "zona luminosa é singularmente mais estreita que a zona de sombra; os pequenos focos de ação consciente que são as escolas, não são senão pontos na noite, e a noite que as cerca não é vazia, mas cheia e tanto mais inquietante; não é o silêncio e a imobilidade do deserto, mas o frêmito de uma floresta povoada".       Dessa concepção positiva da escola, como uma instituição social, limitada, na sua ação educativa, pela pluralidade e diversidade das forças que concorrem ao movimento das sociedades, resulta a necessidade de reorganizá-la, como um organismo maleável e vivo, aparelhado de um sistema de instituições susceptíveis de lhe alargar os limites e o raio de ação. As instituições periescolares e postescolares, de caráter educativo ou de assistência social, devem ser incorporadas em todos os sistemas de organização escolar para corrigirem essa insuficiência social, cada vez maior, das instituições educacionais. Essas instituições de educação e cultura, dos jardins de infância às escolas superiores, não exercem a ação intensa, larga e fecunda que são chamadas a desenvolver e não podem exercer senão por esse conjunto sistemático de medidas de projeção social da obra educativa além dos muros escolares. Cada escola, seja qual for o seu grau, dos jardins às universidades, deve, pois, reunir em tomo de si as famílias dos alunos, estimulando e aproveitando as iniciativas dos pais em favor da educação; constituindo sociedades de ex-alunos que mantenham relação constante com as escolas; utilizando, em seu proveito, os valiosos e múltiplos elementos materiais e espirituais da coletividade e despertando e desenvolvendo o poder de iniciativa e o espírito de cooperação social entre os pais, os professores, a imprensa e todas as demais instituições diretamente interessadas na obra da educação.       Pois, é impossível realizar-se em intensidade e extensão, uma sólida obra educacional, sem se rasgarem à escola aberturas no maior numero possível de direções e sem se multiplicarem os pontos de apoio de que ela precisa, para se

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desenvolver, recorrendo a comunidade como à fonte que lhes há de proporcionar todos os elementos necessários para elevar as condições materiais e espirituais das escolas. A consciência do verdadeiro papel da escola na sociedade impõe o dever de concentrar a ofensiva educacional sobre os núcleos sociais, como a família, os agrupamentos profissionais e a imprensa, para que o esforço da escola se possa realizar em convergência, numa obra solidária, com as outras instituições da comunidade. Mas, além de atrair para a obra comum as instituições que são destinadas, no sistema social geral, a fortificar-se mutuamente, a escola deve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitude possível, todos os recursos formidáveis, como a imprensa, o disco, o cinema e o rádio, com que a ciência, multiplicando-lhe a eficácia, acudiu à obra de educação e cultura e que assumem, em face das condições geográficas e da extensão territorial do país, uma importância capital. À escola antiga, presumida da importância do seu papel e fechada no seu exclusivismo acanhado e estéril, sem o indispensável complemento e concurso de todas as outras instituições sociais, se sucederá a escola moderna aparelhada de todos os recursos para estender e fecundar a sua ação na solidariedade com o meio social, em que então, e só então, se tornará capaz de influir, transformando-se num centro poderoso de criação, atração e irradiação de todas as forças e atividades educativas.

      A democracia, - um programa de longos deveres       Não alimentamos, de certo, ilusões sobre as dificuldades de toda a ordem que apresenta um plano de reconstrução educacional de tão grande alcance e de tão vastas proporções. Mas, temos, com a consciência profunda de uma por uma dessas dificuldades, a disposição obstinada de enfrentá-las, dispostos, como estamos, na defesa de nossos ideais educacionais, para as existências mais agitadas, mais rudes e mais fecundas em realidades, que um homem tenha vivido desde que há homens, aspirações e lutas. O próprio espírito que o informa de uma nova política educacional, com sentido unitário e de bases científicas, e que seria, em outros países, a maior fonte de seu prestígio, tornará esse plano suspeito aos olhos dos que, sob o pretexto e em nome do nacionalismo, persistem em manter a educação, no terreno de uma política empírica, à margem das correntes renovadoras de seu tempo. De mais, se os problemas de educação devem ser resolvidos de maneira científica, e se a ciência não tem pátria, nem varia, nos seus princípios, com os climas e as latitudes, a obra de educação deve ter, em toda a parte, uma "unidade fundamental", dentro da variedade de sistemas resultantes da adaptação a novos ambientes dessas idéias e aspirações que, sendo estruturalmente científicas e humanas, têm um caráter universal. É preciso, certamente, tempo para que as camadas mais profundas do magistério e da sociedade em geral sejam tocadas pelas doutrinas novas e seja esse contato bastante penetrante e fecundo para lhe modificar os pontos de vista e as atitudes em face do problema educacional, e para nos permitir as conquistas em globo ou por partes de todas as grandes aspirações que constituem a substância de uma

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nova política de educação.       Os obstáculos acumulados, porém, não nos abateram ainda nem poderão abater-nos a resolução firme de trabalhar pela reconstrução educacional no Brasil. Nós temos uma missão a cumprir: insensíveis à indiferença e à hostilidade, em luta aberta contra preconceitos e prevenções enraizadas, caminharemos progressivamente para o termo de nossa tarefa, sem abandonarmos o terreno das realidades, mas sem perdermos de vista os nossos ideais de reconstrução do Brasil, na base de uma educação inteiramente nova. A hora crítica e decisiva que vivemos, não nos permite hesitar um momento diante da tremenda tarefa que nos impõe a consciência, cada vez mais viva da necessidade de nos prepararmos para enfrentarmos com o evangelho da nova geração, a complexidade trágica dos problemas postos pelas sociedades modernas. "Não devemos submeter o nosso espírito. Devemos, antes de tudo proporcionar-nos um espírito firme e seguro; chegar a ser sérios em todas as coisas, e não continuar a viver frivolamente e como envoltos em bruma; devemos formar-nos princípios fixos e inabaláveis que sirvam para regular, de um modo firme, todos os nossos pensamentos e todas as nossas ações; vida e pensamento devem ser em nós outros de uma só peça e formar um todo penetrante e sólido. Devemos, em uma palavra, adquirir um caráter, e refletir, pelo movimento de nossas próprias idéias, sobre os grandes acontecimentos de nossos dias, sua relação conosco e o que podemos esperar deles. É preciso formar uma opinião clara e penetrante e responder a esses problemas sim ou não de um modo decidido e inabalável".       Essas palavras tão oportunas, que agora lembramos, escreveu-as Fichte há mais de um século, apontando à Alemanha, depois da derrota de Iena, o caminho de sua salvação pela obra educacional, em um daqueles famosos "discursos à nação alemã", pronunciados de sua cátedra, enquanto sob as janelas da Universidade, pelas ruas de Berlim, ressoavam os tambores franceses... Não são, de fato, senão as fortes convicções e a plena posse de si mesmos que fazem os grandes homens e os grandes povos. Toda a profunda renovação dos princípios que orientam a marcha dos povos precisa acompanhar-se de fundas transformações no regime educacional: as únicas revoluções fecundas são as que se fazem ou se consolidam pela educação, e é só pela educação que a doutrina democrática, utilizada como um princípio de desagregação moral e de indisciplina, poderá transformar-se numa fonte de esforço moral, de energia criadora, de solidariedade social e de espírito de cooperação. "O ideal da democracia que, - escrevia Gustave Belot em 1919, - parecia mecanismo político, torna-se princípio de vida moral e social, e o que parecia coisa feita e realizada revelou-se como um caminho a seguir e como um programa de longos deveres". Mas, de todos os deveres que incumbem ao Estado, o que exige maior capacidade de dedicação e justifica maior soma de sacrifícios; aquele com que não é possível transigir sem a perda irreparável de algumas gerações; aquele em cujo cumprimento os erros praticados se projetam mais longe nas suas conseqüências, agravando-se à medida que recuam no tempo; o dever mais alto, mais penoso e mais grave é, de certo, o

Page 81: História Da Educação

da educação que, dando ao povo a consciência de si mesmo e de seus destinos e a força para afirmar-se e realizá-los, entretém, cultiva e perpetua a identidade da consciência nacional, na sua comunhão íntima com a consciência humana.  

Fernando de Azevedo Afranio Peixoto A. de Sampaio Doria Anisio Spinola Teixeira M. Bergstrom Lourenço Filho Roquette Pinto J. G. Frota Pessôa Julio de Mesquita Filho Raul Briquet Mario Casassanta C. Delgado de Carvalho A. Ferreira de Almeida Jr. J. P. Fontenelle Roldão Lopes de Barros Noemy M. da Silveira Hermes Lima Attilio Vivacqua Francisco Venancio Filho Paulo Maranhão Cecilia Meirelles Edgar Sussekind de Mendonça Armanda Alvaro Alberto Garcia de Rezende Nobrega da Cunha Paschoal Lemme Raul Gomes.  

Período da Segunda República

Texto

Cronologia

Período da Nova República

Texto

 

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Page 82: História Da Educação

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

PERÍODO DO REGIME MILITAR  

 

DECRETO-LEI No 477 - de 26 de fevereiro de 1969

Define infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particulares, e dá outras providências.

O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o parágrafo 1o do Art. 2o do Ato Institucional no 5, de 13 de dezembro de 1968, decreta:

Art 1o Comete infração disciplinar o professor, aluno, funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino público ou particular que: I - Alicie ou incite a deflagração de movimento que tenha por finalidade a paralização de atividade escolar ou participe nesse movimento; II - Atente contra pessoas ou bens, tanto em prédio ou instalações, de qualquer natureza, dentro de estabelecimentos de ensino, como fora dele; III - Pratique atos destinados à organização de movimentos subversivos, passeatas, desfiles ou comícios não autorizados, ou dele participe; IV - Conduza ou realiza, confeccione, imprima, tenha em depósito, distribua material subversivo de qualquer natureza; V - Seqüestre ou mantenha em cárcere privado diretor, membro do corpo docente, funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino, agente de autoridade ou aluno; VI - Use dependência ou recinto escolar para fins de subversão ou para praticar ato contrário à moral ou à ordem pública.

§ 1o As infrações definidas neste artigo serão punidas:

Page 83: História Da Educação

I - Se se tratar de membro do corpo docente, funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino com pena de demissão ou dispensa, e a proibição de ser nomeado, admitido ou contratado por qualquer outro da mesma natureza pelo prazo de cinco anos; II - Se se tratar de aluno, com a pena de desligamento e a proibição de se matricular em qualquer outro estabelecimento de ensino por prazo de três (3) anos.

§ 2o Se o infrator for beneficiário de bolsa de estudo ou perceber qualquer ajuda do Poder Público, perdê-la-á, e não gozar de nenhum desses benefícios pelo prazo de cinco (5) anos. § 3o Se se tratar de bolsista estrangeiro será solicitada a sua imediata retirada do território nacional.

Art. 2o A apuração das infrações a que se refere este Decreto-Lei far-se-á mediante processo sumário a ser concluído no prazo improrrogável de vinte dias.

Parágrafo único. Havendo suspeita de prática de crime, o dirigente do estabelecimento de ensino providenciará, desde logo a instalação de inquérito policial.

Art. 3o O processo sumário será realizado por um funcionário ou empregado do estabelecimento de ensino, designado por seu dirigente, que procederá as diligências convenientes e citará o infrator para, no prazo de quarenta e oito horas, apresentar defesa. Se houver mais de um infrator o prazo será comum e de noventa e seis horas.

§ 1o O indicado será suspenso até o julgamento, de seu cargo, função ou emprego, ou, se for estudante, proibido de freqüentar as aulas, se o requerer o encarregado do processo. § 2o Se o infrator residir em local ignorado, ocultar-se para não receber a citação, ou citado, não se defender ser-lhe-á designado defensor para apresentar a defesa. § 3o Apresentada a defesa, o encarregado do processo elaborará relatório dentro de quarenta e oito horas, especificando a infração cometida, o autor e as razões de seu convencimento. § 4o Recebido o processo, o dirigente do estabelecimento proferirá decisão fundamentada, dentro de quarenta e oito horas, sob pena do crime definido no Art. 319 do Código Penal, além da sanção cominada no item I do § 1o do Art. 1o deste Decreto-Lei. § 5o Quando a infração estiver capitulada na Lei Penal, será remetida cópia dos atos à autoridade competente.

Art. 4o Comprovada a existência de dano patrimonial no estabelecimento de

Page 84: História Da Educação

ensino, o infrator ficará obrigado a ressarci-lo, independentemente das sanções disciplinares e criminais que, no caso, couberem.

Art. 5o O Ministro de Estado da Educação e Cultura expedirá, dentro de trinta dias, contados da data de sua publicação, instruções para a execução deste Decreto-Lei.

Art. 6o Este Decreto-Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.  

Período do Regime Militar

Texto

Cronologia

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A educação confessional protestante no Brasil

Stella Garrido

Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Licenciatura em História, do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Veiga de Almeida, sob orientação da professora Muza Clara Chaves Velasques.

RIO DE JANEIRO - 2005

Page 85: História Da Educação

AGRADECIMENTOS

Na elaboração deste trabalho devo minha gratidão a:

- A Deus que está sempre ao meu lado me guardando e me protegendo

mesmo quando eu não mereço. Foi Ele quem me criou e fez e por isso dedico

ao meu Senhor o melhor que posso ser.

- A minha família que sempre acreditou em mim e nunca duvidou da

minha capacidade. Cada bronca que tomei foram bem utilizados e ouvidos.

Afinal meu trabalho de conclusão de curso se tornou realidade.

- Ao professor José Luiz Bello que me ajudou muito nesse trabalho e me

fez confiar no meu potencial. Uma pessoa a qual eu admiro pelo

profissionalismo e ética, a qual irei me espelhar não só em minha profissão,

mas em toda a minha vida.

- Ao meu namorado Renan que com o seu amor conseguiu ouvir

repetidas vezes tudo o que eu falava sobre protestantismo e educação sempre

com um sorriso nos lábios. Além disso, ele me ensinou que é possível amar

mesmo quando achei que não era mais possível.

- A minha professora orientadora Muza Clara Chaves Velasques, que

apesar dos desencontros e do pouco tempo que tivemos disponível, sempre

me ajudou e se colocou a minha disposição.

- Aos meus amigos de verdade que sempre ajudaram a renovar as

minhas forças e compartilharam comigo meus momentos de sufoco e transe

intelectual, durante a realização desse trabalho, com a maior paciência.

Page 86: História Da Educação

“Ainda que não existisse alma, nem inferno, nem céu, seria preciso ter

escolas para satisfazer nossas necessidades como habitantes deste

mundo, (...).”

Martinho Lutero (1520)

RESUMO

O objetivo desta monografia é apresentar como se procedeu o surgimento da educação confessional protestante no Brasil, suas influências e raízes. Através de uma abordagem histórica sobre surgimento do protestantismo no mundo e posteriormente nas terras brasileiras. Esse trabalho tenta demonstrar de onde vem e de que forma se deu a influência do protestantismo na formação da pedagogia brasileira. Ao expor, a grande contribuição do protestantismo na educação do Brasil, destaca sua importância para o entendimento de nossa escola hoje.

ABSTRACT

The objective of this monograph is to present as the appearance of the education Protestant confessional was proceeded in Brazil, your influences and roots. Through a historical approach on appearance of the Protestantism in the world and later in the Brazilian lands. That work tries to demonstrate from where it comes and that forms if he/she gave the influence of the Protestantism in the formation of the Brazilian pedagogy. When exposing, the great contribution of the Protestantism in the education of Brazil, detaches your importance for the understanding of our school today.

SUMÁRIO

1 Introdução

2 Origem do protestantismo2.1 No mundo

Page 87: História Da Educação

2.2 No Brasil

3 Os dogmas da igreja protestante

4 As escolas protestantes (histórico)4.1 Na Europa4.2 No Brasil

5 Primeiras escolas protestantes do Brasil

6 Conclusão

Referências

1 Introdução

A questão educacional sempre esteve intrinsecamente ligada a ética

protestante. Os livros sobre a história do protestantismo, referentes às

questões brasileiras ou globais, sempre trazem alguma referência sobre

assuntos pedagógicos. Porém livros que abordem somente a educação

protestante não são encontrados com tanta facilidade, entretanto, essa

“contribuição do protestantismo para a educação brasileira tem sido um tema

bastante pesquisado pelos estudiosos da área de história da educação”. .

(MESQUITA, 2001, p. 9).

Esse trabalho tem como objetivo esclarecer ao leitor os elos de ligação

da ética protestante com a educação e fornecer um panorama geral do

desenvolvimento desses. Explicitando assim, a importância da chegada do

protestantismo no Brasil para a transformação da pedagogia e da criação de

um novo conceito educacional.

O instrumental de coleta de dados utilizado na metodologia deste

trabalho foi a análise de conteúdo, onde foram lidos textos de livros, sites” da

Internet e artigos de revistas especializadas. Esse tema por ser algo que está

começando a ser desvendado apresenta uma bibliografia escassa e pouco

difundida.

Para entendermos a ligação entre educação e protestantismo

precisamos compreender como se deu o surgimento do último. Neste sentido,

Page 88: História Da Educação

buscamos O primeiro capítulo aborda o surgimento de uma Igreja Reformada e

a introdução do seu pensamento nas terras brasileiras.

Quando estudamos educação religiosa precisamos entender os dogmas

que envolvem a religião em questão para que possamos ter uma verdadeira

compreensão da mesma. Logo, no segundo capítulo, tratamos de explicitar os

dogmas da Igreja Protestante, buscando aí, as bases nos dando base para que

possamos entender a sua ética e o seu comportamento.

O capítulo de número três relata exatamente a ligação entre

protestantismo e educação, no Brasil e no mundo, tentando trazer ao leitor um

panorama geral do histórico da criação dessa escola renovada. Essa parte do

estudo tenta demonstrar como essas escolas não eram apenas meras

instituições educacionais, mas sim o meio que os missionários encontraram

para evangelizar e pregar suas doutrinas.

O último capítulo da pesquisa tem por finalidade apresentar as primeiras

escolas protestantes brasileiras que surgiram e contar um pouco da sua

implantação. Ele traz também algumas das principais características e

inovações implantadas nessas instituições educacionais, apresentando o

impacto que isso causou na sociedade da época.

2 Origem do protestantismo

2.1 No mundo

O século XVI é marcado por uma série de transformações na sociedade,

como a ascensão burguesa e a explosão das idéias humanistas. Outro

acontecimento importante que ocorre e também contribui para mudar o

panorama da época: a Reforma Protestante. Como o próprio nome já diz, esse

movimento surge para contestar e exigir a reforma da Igreja Católica. Na

verdade, com o desenvolvimento do humanismo, com os absurdos cometidos

pelo clero e com a desorganização administrativa da igreja (prática da simonia,

cobrança de impostos abusivos, venda de cargos eclesiásticos e de

Page 89: História Da Educação

indulgências) o catolicismo é contestado e seus dogmas são postos em

cheque. (AVALIAÇÃO).

O movimento da Reforma cria a base de uma nova religiosidade, o

protestantismo. Vários discursos são criados a partir de uma base única.

Entretanto, esse protestantismo pode variar tendo vertentes diferentes

dependendo da região e da época onde ele apareceu, mas todos eles são

opositores a Igreja Católica.

Os opositores do catolicismo aparecem até mesmo antes do século XVI,

como, por exemplo, haviam movimentos camponeses que lutavam pela terra, e

esses colocavam que a Igreja deveria ser mais justa e próxima de seus fieis,

propondo uma religião pura e primitiva, seguindo os valores básicos do

cristianismo, e até mesmo sem a figura institucional da igreja.

O marco inicial do movimento protestante acontece em 31 de Outubro

de 1517 quando o Monge Martinho Lutero afixa na porta da catedral de

Wittenberg 95 teses. Essas foram escritas por ele e apontam falhas e

contradições na instituição católica. A reforma Luterana não é única, há

também a Reforma Calvinista, Anglicana e a Anabatista (considerada uma

Reforma mais Radical).

Como já era de se esperar a Igreja Católica reage. Essa instituição

combate um movimento que procura conter a expansão do protestantismo. Na

verdade essa reformulação da Igreja Católica, que tem como marco referencial

o ano de 1517, já vinha sendo pensada, mas só se torna realidade com o

aparecimento dos reformados protestantes. A Contra Reforma então marca o

início de uma nova era do catolicismo.

Dentro da reforma da Igreja Católica acontece o Concílio de Trento.

Nessa reunião o papa negou os valores protestantes, proibiu a venda de

indulgências, criou seminário, instituiu o index (índice dos livros proibidos), cria

a “Companhia de Jesus” e manteve a inquisição.

Para entender a Reforma Protestante temos que primeiramente saber

em que contexto e porque ela se deu. Isso significa buscar suas bases que

estão fincadas no Humanismo. Esse Renascimento é “um prodigioso florescer

da vida, e em todas as formas que, embora as suas maiores manifestações se

tenham verificado de 1490 a 1560, não ficou limitada dentro destes marcos”.

(MOUSNIER, 1960, p. 17).

Page 90: História Da Educação

Esse período é marcado por uma nova forma de pensar, pela ascensão

da classe burguesa, desenvolvimento nas relações de produção de capital e

trabalho e pela formação dos Estados Absolutistas. O homem é posto como

centro das atenções e o pensamento científico começa a questionar algumas

afirmações vigentes até então, e dentre elas, as religiosas. Existia naquele

contexto a necessidade de uma nova religião mais sensível e que não fosse

tão mal compreendida e mal conhecida como o catolicismo. Muitos dos

pensadores da época apesar de replicarem muitos aspectos do sistema vigente

e até mesmo da igreja ocidental eram religiosos e tinham fé.

Uma vertente do pensamento humanista leva a uma maior reflexão do

papel da igreja e das verdades que ela pregava. A Europa se vê envolta numa

efervescência contestadora, o que acaba chegando nas bases da Igreja

Romana. Alguns pensadores como o humanista Erasmo e o boêmio de Praga,

João Hus se opunham a alguns preceitos e dogmas do catolicismo. Em sua

obra Elogio a Loucura, Erasmo critica a postura da igreja e relata que:

Os monges consideram não saber ler um sinal de sanidade. Zurzam os salmos nas igrejas como asnos. Não entendem uma só palavra do que dizem, mas imaginam ser o som agradável aos ouvidos dos santos. Os frades mendicantes fingem assemelhar-se aos Apóstolos, mas não passam de vagabundos imundos, ignorantes e ousados. (ERASMO DE ROTERDAN apud DOWNS, 1969, p. 16).

Erasmo não só critica a igreja em si, outrossim, sua postura diante a

educação. Ele aponta que o modelo escolar do seu tempo era estático,

formado pela memorização e repetição de conceitos sendo altamente

disciplinar e controlado pelos princípios católicos fazendo com que a

capacidade crítica e a criatividade do aluno fossem podadas. Essas ideais

também influenciam no movimento reformista.

Na verdade, apesar de alguns opositores, a Igreja Católica irá sentir

mesmo o peso das suas contradições quando o monge agostiniano e professor

de teologia Martinho Lutero afixa, em 31 de outubro de 1517, suas 95 teses na

porta da catedral de Wittenberg. Lutero não apenas deu nova vida à teologia

cristã ocidental, como a revolucionou. (OLSON, 2001, p. 379).

As 95 teses luteranas tinham como objetivo principal à reforma do

catolicismo, para que esse viesse a ser calcado verdadeiramente nas “leis de

Page 91: História Da Educação

Deus”. É clara a denúncia que as teses fazem quanto às atividades papais, a

venda de indulgências entre outros fatos desse gênero, mas numa análise mais

detalhada se vê que a real preocupação de Lutero é a parte teológica que trata

da salvação do homem. Pois ele percebe que a igreja não estava preocupada

com aquele que deveria ser seu principal objetivo. Um aspecto interessante

que é defendido pelo criador do luteranismo é que esse se pronuncia sobre a

questão escolar, defendendo e exaltando à importância dessa instituição e de

seus conteúdos programáticos. (LIENHARD, 2005. p. 68).

Em pouco tempo as idéias de Martinho Lutero se espalham pela Europa.

Em 1520 o papa Leão X indignado com a situação de celeuma causada por ele

excomunga-o, chamando-o de “javali selvagem na vinha do Senhor”. Essa

excomunhão marca definitivamente a divisão entre igreja católica e protestante.

O Humanismo e o Renascimento aceleraram a produção literária

marcando as transformações da época. Lutero se valendo disso, ao romper

com a Igreja Católica e ser acolhido pelos príncipes locais, traduz a Bíblia para

o alemão. Todo distanciamento imposto pelo catolicismo acaba, e o cidadão a

partir da tradução das escrituras, passa a ter viabilidade de interpretação

individual da sua fé.

A Bíblia torna-se o livro mais lido da Europa no século XVII. Na

Inglaterra, uma erupção religiosa aparece nos campos sociais. Essa

possibilidade de discussão leva ao homem a questionar. Isso irá alimentar o

discurso em cima da igualdade, da liberdade e de futuras revoluções,

outrossim, formando as minorias religiosas. Atrelado a isso o contexto social

estava se transformando e as mudanças iam muito além da questão religiosa.

O protestantismo quebra definitivamente o poder único da igreja

Romana Ocidental e com isso se cria uma nova religião com uma base única.

Apesar da reforma ter sido inaugurada pro Lutero outros reformadores vão

aparecer, e com eles novas igrejas, mas todas elas seguiam três princípios

básicos: “a salvação pela graça mediante a fé somente, a autoridade especial e

final das Escrituras e o sacerdócio de todos os crentes”. (OLSON, 2001, p.

407). Outras linhas protestantes mais relevantes que apareceram foram o

Calvinismo e o Anglicanismo.

O Calvinismo foi pensado por Ulrico Zuínglio e João Calvino, e é esse

segmento que organiza e agrupa em um corpo de doutrinas a teologia

Page 92: História Da Educação

protestante. Além disso, o calvinismo dispõe de uma metodologia que uni

regras severas de conduta e postura somado a uma dedicação veemente ao

trabalho.

O doutrina calvinista vai ao encontro com os interesses da burguesia,

quando diz que o trabalho enobrece o homem e garante que a acumulação de

capital não é pecado, mas sim uma recompensa divina. Por esse motivo, ela

vai ter grande influência na Europa onde a burguesia estava em franco

desenvolvimento e ao chegar na Inglaterra transforma-se em puritanismo. Esse

puritanismo vai ser a maior manifestação do protestantismo na Inglaterra sendo

a população inglesa puritana e não anglicana. O anglicanismo possui o mesmo

culto católico, só que dentro dessa religião o poder é transferido ao rei,

caracterizando-o como uma religião da nobreza.

A reforma anglicana é classificada como um desastre social.

(MOUSNIER, 1960, p. 96). Na verdade ela é feita pelo rei da Inglaterra

Henrique VIII e era uma forma de satisfazer os anseios desse soberano. O que

acontece é que Henrique VIII gostaria de se divorciar de Catarina de Aragão e

se casar novamente com Ana Bolena, só que o Papa se recusar a atender

esse pedido. Atrelada a essa discussão, a Igreja Católica era dona de uma

vasta extensão de terras inglesas e se o rei rompesse com ela confiscaria

todas essas áreas. Henrique VII casa-se com Ana Bolena, apodera-se das

propriedades católicas na Inglaterra e rompe definitivamente com o catolicismo

criando o anglicanismo.

2.2 No Brasil

Em 1500 os portugueses chegam na terra que viria a se tornar o Brasil

de hoje. O que acontece é que esses ibéricos quando desembarcam trouxeram

sua bagagem cultural e com ela está o catolicismo. Essa era a religião oficial

de Portugal e que exercia uma grande influência e poder no reino, e na colônia

não seria diferente. Entretanto a implantação do catolicismo demoraria alguns

anos até ser realizada nessa nova colônia.

Pero Vaz de Caminha ao descrever o Brasil ao rei de Portugal se mostra

preocupado com a evangelização dos indígenas e declara: “O melhor fruto que

Page 93: História Da Educação

nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a

principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. (CÉSAR, 2000. p.

23).

Os primeiros missionários católicos chegaram em março de 1545 com o

primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza.A religião católica então

será imposta a todos, e até mesmo os índios que habitavam a terra tem sua

liberdade de expressão reprimida e são forçados a catequese.

Apesar disso o Brasil passa por duas tentativas fracassadas de

implantação do protestantismo. A primeira delas acontece com os franceses

que se estabelecem no Rio de Janeiro de 1555 a 1560 e a segunda é tentativa

é feita pelos holandeses que se estabeleceram no Nordeste entre 1630 a 1654.

(MENDONÇA, VELASQUES FILHO, 1990, p. 12). Apesar disso, em 1557, foi

celebrado por calvinistas franceses no Rio de Janeiro, o primeiro culto

evangélico 57 anos depois da primeira missa católica. (GWERCMAN, 2004, p.

53-54). Só que essa era uma prática proibida, já que nos territórios

portugueses só eram permitidas práticas católicas.

Um fato importante que irá propiciar o crescimento da cultura protestante

é que o catolicismo teve um período de estagnação na colônia portuguesa.

Esse período representa a era do Marques de Pombal, sendo que um dos

pontos centrais da política pombalina foi expulsão dos jesuítas e o confisco dos

seus bens, tendo como conseqüência uma maior laicização do sistema vigente.

Essa medida terá um grande impacto sobre a colônia e “pode ser

compreendida no quadro dos objetivos de centralizar a administração

portuguesa e impedir áreas de atuação autônomas por ordens religiosas cujos

fins eram diversos dos da Coroa”. (FAUSTO, 2002, p. 60). Com isso a Igreja

Católica apesar de ser uma das instituições mais notórias e influentes do

período imperial acaba perdendo espaço. Além dessas conseqüências o Brasil

também sofre na questão da educação, afinal, o sistema já era precário e após

a expulsão dos jesuítas ele se torna praticamente inexistente. Para exemplificar

essa falta de preocupação com a educação podemos citar a falta de bibliotecas

públicas, universidades e um ensino primário pouco difundido.

A implantação de protestantismo irá se tornar aceita somente a partir do

século XIX com a assinatura do Tratado de Comércio e Navegação entre

Portugal e Inglaterra que é uma conseqüência da abertura dos portos as

Page 94: História Da Educação

nações amigas que acontece em 28 de Janeiro de 1808. Devido à invasão de

tropas napoleônicas nos países Ibéricos a família real portuguesa se refugia

em sua colônia mais próspera, o Brasil, e assim com a abertura dos portos as

nações amigas uma série de acontecimentos são desencadeados. Como a

Inglaterra era a maior potencia da época, exercendo uma grande influência

sobre as demais nações, ela assina em 1810 outro tratado, que é o de

Comércio e Navegação. Com essa abertura de comércio a outras nações

aparece a necessidade de “se criar alguma regulamentação legal para que os

estrangeiros realizassem seus cultos, ainda que de modo restrito”. (MAFRA,

2001. p. 13). Mas a liberdade religiosa só é legitimada de fato com a

Independência do Brasil e a Constituição de 1824, mas, ainda assim, era

obrigatória algumas restrições na realização das reuniões religiosas.

O protestantismo era conhecido como a religião da palavra devido à

ligação direta que eles tinham com o uso da Bíblia. Essa era distribuída em

Portugal e depois trazida ao Brasil, mas isso se dá de uma forma discreta a

partir de 1814. A chegada do primeiro correspondente da Sociedade Bíblica

Americana, o missionário metodista Daniel Parish Kidder, irá trazer algumas

inovações quanto ao uso das escrituras sagradas. Kidder dizia que a Bíblia

deveria ser usada como um manual de conduta nas escolas primárias,

publicando até mesmo em 12 de dezembro de 1837 um anúncio no Jornal do

Comércio que dizia:

Vende-se por 1$000 [um mil réis], na rua Direita, n° 114, o Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, traduzido pelo Ver. Padre Antonio Pereira de Figueiredo. Este livro é muito recomendável a todos os mestres e diretores de aulas e colégios do Império do Brasil, para o adotarem como livro de instrução para os seus alunos, porque nele se acha o tesouro mais precioso que o homem pode exigir neste mundo. Ele é a fonte de luz, a fonte da moral, a fonte de virtude, a fonte de sabedoria. (CÉSAR, 2000, p. 69).

Os protestantes quando chegam ao Brasil podem ser divididos em dois

grupos: o que vem para fixar suas igrejas e aqueles que vem para fazer

missões e evangelizar, o que seria respectivamente os europeus e os norte-

americanos, principalmente.

Os pioneiros, no que tange a questão institucional, que seria a formação

de fato de comunidades evangélicas permanentes, foram os imigrantes

Page 95: História Da Educação

alemães. Esses fixaram em pontos como Rio de Janeiro (Nova Friburgo –

1824) e Rio Grande do Sul com instituições luteranas, mas essa não foi a

principal forma difusão dessa nova forma de crença.

O protestantismo começa a chegar e a se difundir no Brasil realmente a

partir de 1850, com os primeiros missionários que vinham para essa terra com

a verdadeira intenção de propagar a sua fé. A tentativa de inserção dessa

religião no país fica sendo conhecida como “protestantismo missionário” e

trouxe para o Brasil as seguintes denominações: Congregacional,

Presbiteriana, Metodista, Batista e Episcopal.

A partir da segunda metade do século XIX, toda a América Latina

começa a sofrer modificações em detrimento de três fatores: “projeto liberal, o

predomínio da presença dos Estados Unidos e a entrada do protestantismo”.

(BONINO, 2002, p. 9). A ideologia proposta pelas Igrejas Protestantes servem

para ajudar nessa penetração norte americana no país na tentativa de

implantação de um modelo liberal. Essa influência era reflexo da Doutrina

Monroe que pregava América para os americanos.

As raízes do protestantismo brasileiro, principalmente o de missões, tem

suas bases fincadas na América do Norte. O que acontece é que por esse tipo

de instituição ser minoritária e sem tanta expressão, no seu princípio ele se

apóia nas igrejas norte-americanas. Isso porque quando o protestantismo

chega ao Brasil a situação é diferente de quando ele chegou na colônia

inglesa. Atualmente os movimentos neoconservadores e reformistas que

chegam na sociedade e nas igrejas norte-americanas, tentando restaurar

paradigmas antigos, as instituições Brasileiras procuram valores que nunca

fizeram parte da sociedade brasileira. Por isso alguns autores propõem a idéia

de que no Brasil o protestantismo foi recebido como vanguarda do progresso e

da modernidade. (MENDONÇA, VELASQUES FILHO, 1990, p. 13).

Essa nova religião que chegava na colônia lusitana mais influente

despertava curiosidade e o interesse das pessoas, e atrelado a isso o

protestantismo é visto pela elite intelectual republicana como modelo da

modernidade, o que vai estimular a sua aceitação. Um bom exemplo é que um

ano e meio depois de se organizar em um salão de reunião para os cultos

localizado na travessa do Ouvidor, a igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro

Page 96: História Da Educação

(1862) que tinha registrado 22 membros apresenta nas suas reuniões

religiosas cerca de 60 a 90 pessoas.

Algo que irá ajudar na difusão da nova idéia religiosa que pregava o

protestantismo é o fato do catolicismo ser visto como a religião da aristocracia

e as camadas mais humildes, e até mesmo ex-escravos viam nessa nova igreja

um lugar de recognição de sua honestidade e respeitabilidade.

É importante salientar que apesar do protestantismo ter sido difundido e,

até de um certo modo, aceito, ele enfrentou algumas barreiras, criou polêmicas

e, outrossim, encontrou resistências diante do catolicismo brasileiro. O jornal

presbiteriano Imprensa Evangélica de 1° de setembro de 1877, em seu artigo

“Os dous systemas” tenta demonstrar o antagonismo entre a religião católica e

protestante, colocando a amostra a superioridade da última através das

seguintes palavras:

O Protestante separa o Estado da Igreja; o Romano deseja que sejam reunidos. O Protestante edifica suas instituições sobre a vontade do povo; o Papal propõe edifica-las sobre a vontade do Papa. O Protestante segura a liberdade religiosa; o Papa exige que cada um entregue sua consciência ao cuidado de seu superior escolástico. O Protestante desenvolve as faculdades do entendimento por estimular o espírito de independência e vigor pessoal; o Papal esmaga este espírito por sua doutrina de obediência e submissão passiva. O Protestante já pôz o mundo na carreira do progresso e prosperidade; o Papal deseja prende-la e torna-lo atrazado por aquelles caminhos velhos e tortuosos, pelos quaes já tem infelizmente conduzido tantas nações ao naufrágio e desolação. (grafia de época). (BARBOSA, 2002, p. 62).

Após a era monárquica no Brasil inaugura-se o período republicano pelo

marechal Deodoro da Fonseca. Neste período de governo dele será

estabelecida a política do padroado, que depois da assinatura do Tratado de

Comércio e Navegação entre Portugal e Inglaterra, é uma medida fundamental

para o favorecimento da implantação do protestantismo em terras brasileiras.

Essa política é na verdade um decreto (nº 119-A, de 7/1/1890) que “em seu

Art.1o proíbe a autoridade federal e a dos estados federados de expedirem leis,

regulamentos ou atos administrativos que estabeleçam ou vetem alguma

religião, bem como de tratarem diferencialmente os habitantes do país, com

base em suas preferências religiosas ou opiniões filosóficas. Assegura, em seu

Page 97: História Da Educação

Art. 2o, a liberdade de culto, afirmando, no Art. 3o, que tal liberdade abrange

não apenas as práticas individuais, como também as das instituições. O Art.

4o. extingue o padroado e, finalmente, em seu 5o. e último artigo, o decreto

estabelece que todas as igrejas e confissões são pessoas jurídicas, podendo

adquirir bens”. (MUSEU).

A República rompe com o enlace com a Igreja criando assim um Estado

laico. Para exemplificar o desvencilhamento podemos citar a instituição do

casamento civil e secularização dos cemitérios, que passaram a ser

administrados pelos municípios. Com isso não havia mais a necessidade de se

ter uma vida totalmente pautada dentro da conduta religiosa católica, já que a

partir desse momento existia a liberdade de escolha entre outros tipos cultos.

Os missionários estrangeiros que vinham de outros países para poder pregar o

evangelho, ganhavam espaço para poderem exercer o objetivo maior que era

“arrebanhar almas para o Senhor pautados na verdadeira salvação”. Aí estava

o modelo protestante.

3 Os dogmas da igreja protestante

Para compreender a idéia protestante é fundamental que entremos na

questão dos seus dogmas, o que denota entender o conjunto das doutrinas e

filosofias que são apresentadas como imutáveis e imprescindíveis para essa

religião. O ponto fundamental da tese dogmática é que ela se apresenta como

algo essencial para se alcançar à real significação da idéia religiosa, como uma

expressão legítima da fé vigente que não admite discussão justamente porque

se coloca como algo definitivo.

Os dogmas do protestantismo que englobam todas as suas ramificações

e os diferem da igreja católica, são três princípios básicos: sola gratia et fides

(a salvação pela graça mediante a fé), sola Scriptura (as Escrituras acima de

todas as demais autoridades da fé e da prática cristã) e o sacerdócio de todos

os crentes. (OLSON, 2001, p. 380).

Page 98: História Da Educação

O monge Martinho Lutero será a maior referencia da reforma protestante

propriamente dita, entretanto caberá a João Calvino e Ulrico Zuínglio a

formulação da teologia dessa nova religião. Esses reformados calvinistas

deixam sua marca especificam quando elevam a condição do trabalho e o

encaixam dentro da visão do mundo protestante.

Um fato que merece consideração dentro dessa análise é que o

catolicismo prega uma idéia de asceticismo, desvalorizando o papel do homem

como agente modificador de seu próprio destino e salvação de sua alma,

dando a ele um caráter de resignação. O luteranismo também se encontra

numa situação parecida, pois diz que o processo de salvação dispensa a ação

humana por se basear no dogma paulino pela salvação pela fé. (WEBER,

2003, p. 21). Entretanto os calvinistas vão divulgar uma ideologia que prega

que a vida cotidiana deve ser santificada. Essa atitude transformaria o indivíduo

e o diferenciaria dos demais justamente porque o seu agir era vocacionado,

fazendo com que esse cidadão se sentisse obrigado a se aprimorar tanto

intelectualmente quanto profissionalmente, tornando-se assim, sendo um

exemplo de ética e de homem escolhido como um verdadeiro eleito de Deus.

Não há uma teologia protestante unificada, porque se prega uma

interpretação livre das Sagradas Escrituras e cada líder tinha seu modo e suas

peculiaridades de enxergarem a Bíblia. Entretanto, com toda diferença

apresentada, esses reformadores sustentavam os mesmos princípios e

difundiam basicamente as mesmas idéias.

A aceitação da Europa pelo calvinismo é facilmente entendida porque a

sociedade é burguesa e Calvino prega que: “O que engrandece e enobrece o

homem é o trabalho”. Com esse pensamento vigente a ação de acumular,

poupar e entesourar não é visto mais como ato pecaminoso e “historiadores de

economia consideram que Calvino e seus seguidores criaram as condições que

possibilitaram o aparecimento do capitalismo moderno”. (DOWNS, 1969, p. 26).

Ter uma boa educação fazia parte da crença do crescimento espiritual,

afinal, essa servia de base para um entendimento da sociedade e da

importância da figura santa de Deus. O estudo era elemento integrante para o

desenvolvimento da ética protestante.

Devido aos dogmas que a Igreja Reformada possui, pode se encontrar

dentro de sua ética um pensamento que os levam a crer na sua superioridade.

Page 99: História Da Educação

Em seu artigo “O romanismo e o progresso”, escrito em 21 de novembro de

1885, o rev. Eduardo Carlos Pereira faz a seguinte indagação:

Por que é que os países protestantes levam, geralmente, imensa vantagem aos países romanos, na instrução, na moralidade, na indústria, no comércio, na riqueza e na vida social? (PEREIRA apud BARBOSA, 2002, p. 62).

A religião protestante prega que há um caminho para a verdade, esse só

pode ser através de Cristo Jesus, e que só é possível alcançar-lo através

deles, isso é, colocam o protestantismo como algo legitimo e as outras religiões

como imperfeitas. Com isso tentam arrebanhar fiéis alegando que são

moralmente melhores e mais santificados.

4 As escolas protestantes (histórico)

4.1 Na Europa

Com a ascensão da burguesia no século XVI alguns costumes e valores

começam a vigorar. A pedagogia predominante da atualidade tem as suas

bases e muitos dos seus hábitos fincados justamente nesse período de

emergência burguesa.

Com a criação da Companhia de Jesus em 1534 muitas coisas

acontecem. Na verdade essa ordem religiosa é criada para poder controlar os

fiéis da igreja católica, já que esses vinham perdendo muitos de seus membros

com o aparecimento do protestantismo. Nesse período vai ser criada a escola

simultânea que atende a vários alunos e é organizada em classes.

Os protestantes não ficam estagnados quanto à questão educativa e são

fundamentais para a formação da pedagogia que encontramos até hoje. A

questão protestante estava diretamente ligada a educação já que essa religião

vai pregar como uma obrigação à leitura, compreensão e a interpretação das

sagradas escrituras para a salvação, mas isso só se tornará possível se o

indivíduo tiver instrução. Essa lógica será chamada de teísmo pedagógico, que

Page 100: História Da Educação

significa o saber funcionando como amparo da fé. Com essa idéia tomando

espaço começa a surgir à necessidade de uma educação geral e mais

abrangente já que todos deveriam ler a Bíblia, sem distinção e discriminação,

para poderem buscar a Deus em Suas palavras.

Lutero não somente atinge a igreja católica com suas críticas, mas

influencia a educação quando produz uma reestruturação no sistema de ensino

alemão inaugurando uma escola moderna. A idéia da escola pública e para

todos, organizada em três grandes ciclos (fundamental, médio e superior) e

voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de Lutero. (FERRARI,

2005, p. 30-32).

A educação era de fundamental importância dentro da concepção de

mundo de Martinho Lutero, e em uma de suas cartas a aos Prefeitos e

Conselheiros alemães ele escreve:

É realmente um pecado e uma vergonha que tenhamos de ser estimulados e incitados ao dever de educar nossas crianças e de considerar seus interesses mais sublimes, ao passo que a própria natureza dever-nos-ia impelir a isso e o exemplo dos brutos nos fornece variada instrução. Não há animal irracional que não cuide e instrua seu filhote no que este deve saber, exceção feita à avestruz, de quem diz Deus: “Ela (a fêmea avestruz) põe seus ovos na terra e os aquece na areia; e é dura para com seus filhotes, como se não fossem dela”. E de que adiantaria se possuíssemos e realizássemos tudo o mais, e nos tornássemos santos perfeitos, se negligenciássemos aquilo por que, essencialmente vivemos, a saber, cuidar dos jovens? Em minha opinião não há nenhuma outra ofensa visível que, aos olhos de Deus, seja um fardo tão pesado para o mundo e mereça castigo tão duro quanto a negligência na educação das crianças.

Os pais negligenciam esse dever por vários motivos. Em primeiro lugar, há alguns com tanta falta de piedade e honestidade que não cumpririam esse dever mesmo que pudessem, mas, como a fêmea da avestruz, têm coração duro em relação a sua própria prole e nada fazem por ela. Em segundo lugar, a grande maioria de pais não possui qualificação para isso e não compreende como as crianças devam ser criadas e ensinadas. Em terceiro lugar, mesmo que os pais fossem qualificados e estivessem dispostos a educar eles mesmo, em virtude de outras ocupações e deveres do lar não têm tempo para fazê-lo, de modo que a necessidade exige que tenhamos professores para as escolas públicas, a menos que cada genitor empregue um instrutor particular.

Portanto, será dever dos prefeitos e conselheiros ter o maior cuidado com os jovens. Pois dado que a felicidade, honra e vida da cidade estão entregues em suas mãos, eles seriam considerados covardes diante de Deus e do mundo

Page 101: História Da Educação

caso não buscassem, dia e noite, com todo o seu poder, o bem-estar e progresso da cidade. (LUTERO apud MAYER, 1976, p. 250-251).

A figura inaugural dentro da pedagogia protestante é Jan Amos

Komenský mais conhecido como Comenius. Esse homem nascido em 1592 é o

criador da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII. A

idéia de Comenius, a partir dessa nova estrutura na educação era formar uma

figura que se encaixasse nos moldes e nos padrões do “bom cristão”. Ele foi o

responsável por uma ruptura abrupta no modelo escolar. Pregava que o ensino

deveria abranger tudo de uma maneira geral e deveria ser oferecido a todas as

pessoas como, por exemplo, as meninas e os portadores de deficiência mental.

Ele traz uma série de inovações como a realia, que é a utilização de objetos e

experimentos para poder exemplificar a matéria para que o aluno tenha noção

real do que está aprendendo, a escola mista e o primeiro livro ilustrado.

Outro nome de expressão dentro da pedagogia protestante é Johann

Heinrich Pestalozzi (1746 a 1827). Esse homem idealizou e tentou difundir um

ensino mais humano baseado no amor e na afetividade. Pestalozzi irá se

utilizar das suas crenças e de seus valores para poder transformar a educação

em um verdadeiro ato de amor. Ele fundou várias escolas e nelas aplicou a

educação integral e aboliu provas, notas, castigos e recompensas

transformando a instituição em algo construtor de saber e laços afetivos por

isso se diz que “a disciplina exterior, na escola de Pestalozzi, era substituída

pelo cultivo da disciplina interior, essencial à moral protestante”. (ARCE apud

FERRARI, 2004). Suas idéias foram tão inovadoras que irão inspirar a grande

reforma educacional americana que acontece de 1830 a 1860, que é o período

onde os missionários dessa mesma região começam a evangelização em

terras brasileiras.

Por outro lado, há uma medida instituída no Concílio de Trento que é de

fundamental importância para a compreensão da pedagogia atual era a

permanência do Tribunal da Santa Inquisição, que havia sido criado em 1231.

Esse órgão que tinha como principal objetivo oprimir faz com que a educação

se tornasse algo seriamente disciplinar. A inquisição tanto do lado católico

quanto do lado protestante marca profundamente a desvalorização do erro,

Page 102: História Da Educação

pois isso era sinônimo de culpa e castigo. Esses valores serão passados para

a educação e seus traços mais marcantes podem ser visto até hoje.

4.2 No Brasil

Para se entender a influência da cultura protestante na educação

brasileira é preciso primeiramente saber como se deu o desenvolvimento da

questão educacional nessa colônia desde 1500.

O modelo educacional católico se estabelece através dos portugueses

com os padres católicos jesuítas que em 1549, 15 dias após da sua chegada

na colônia, fundam a primeira escola brasileira em Salvador. Esses membros

da Companhia de Jesus propagavam a fé católica e a educação, sendo os

responsáveis pela catequização das indígenas.

Os jesuítas permaneceram como mentores da educação brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777. No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional. (BELLO, 1998).

Diferente de outras colônias latino americanas que na época colonial já

possuíam até universidades, como por exemplo a Cidade do México e Lima, o

Brasil se encontrava em um panorama que pouco privilegiava a questão

educacional. Os membros da elite local que possuíam a oportunidade de

crescerem dentro do cerne intelectual viajavam para a Europa em busca de

uma verdadeira instrução, já que a colônia brasileira não apresentava uma

capacitação básica de qualidade no que tange a discussão pedagógica.

A chegada dos protestantes no Brasil irá dar um novo fôlego na questão

educacional brasileira. Com sua ética valorizando o ensino, o protestantismo

influenciará diretamente na reestruturação da escola no Brasil. Por serem

Page 103: História Da Educação

consideradas a religião da palavra, as doutrinas reformadas, oferecem o

acesso a escrita.

Na época em que as escolas protestantes chegam ao país, já haviam

por aqui núcleos educacionais. Um exemplo disso era o Colégio Pedro II uma

instiuição, que se originou do seminário dos Órfãos de São Pedro criado por

Frei Guadalupe em 1739, e que se transformou em uma escola secundária em

1837. (A CRIAÇÃO). Esse ato era uma tentativa de incentivo a educação

brasileira, entretanto as escolas que haviam no século XIX e início do XX eram

precárias e não alcançavam as camadas mais pobres, que constituíam a

maioria na sociedade, esse dado é comprovado quando se tem 1900 um índice

de 65% de brasileiros analfabetos. Em um aspecto geral as escola públicas

eram

Extremamente precárias, funcionavam em prédios adaptados e , muitas vezes, na residência do professor. As classes – com alunos de diferentes idades e graus de conhecimento e em número excessivo – eram atendidas por apenas um professor, em geral não habilitado a ministrar aulas. O currículo adotado não ia alem das primeiras letras, noções de gramática portuguesa, um pouco de aritmética, além de aulas avulsas de francês e latim. (ELIAS, 2005, p. 82).

A primeira escola dominical foi fundada no Brasil em 1855 em Petrópolis,

no Rio de Janeiro, pelo casal de missionários escoceses Sarah e Robert Kalley

1[1], e que tinha como objetivo proporcionando os ensinamentos bíblicos,

usando uma pedagogia inovadora. Muitas dessas escolas, que aconteciam nas

igrejas, ao invés de ensinar “a palavra de Deus” e as lições da Bíblia,

começaram a se transformar em classes de alfabetização. Esse fato irá mudar

o perfil dos fieis que freqüentavam a igreja, que terá as camadas populares se

juntando com a reduzida classe média baixa que já fazia parte do corpo de

membros.

1[1] O casal Kalley fundou em 1855 a escola dominical juntamente com a Igreja Evangélica Brasileira em Petrópolis. Eles tinham um estilo discreto de evangelização, que visava o bom entendimento com as pessoas de outras religiões para evitar um atrito de idéias, e receberam, algumas vezes, a visita do imperador D. Pedro II.

Page 104: História Da Educação

Dentro da questão educacional podemos apontar o apoio dado pela

doutrina calvinista quando ela afirmava que o homem é fruto do meio em que

vive e a melhor forma de construir bons cristãos era modificar esse meio

através de investimentos humanos, financeiros e culturais. Essa crença afirma

a idéia da ótica protestante valorizando a educação como meio de

transformação acreditando que essa “acabaria por transformar a sociedade

para melhor e inseri-la no corpus christianum”. (MENDONÇA; VELASQUES

FILHO, 1990, p. 32).

Num âmbito geral, a educação protestante serve como instrumento de

ligação e de aproximação da sociedade brasileira com as religiões reformadas,

ela é na verdade um grande instrumento de evangelização utilizado pelas

missões norte-americanas. Será esse êxito na área pedagógica produzida por

esses missionários que irá contribuir para a implantação do protestantismo no

Brasil. (BARBOSA, 2002, p. 55). Afinal a implantação de um sistema

educacional protestante era a melhor forma de evangelizar, porque nessas

escolas eles irão passar os seus valores, dogmas e conceitos de sociedade

tendo como conseqüência à formação de pessoas aptas e predispostas a

aceitarem a doutrina pregada por esses missionários reformistas.

O primeiro missionário presbiteriano chega ao Brasil em 1859 e dentre

as obras que realizou encontram-se a formação da primeira escola e o primeiro

seminário, outrossim, o primeiro jornal protestante que se chamava Imprensa

Evangélica, que circulou de 1864 até 1892. O nome desse homem era

Simonton e suas propostas para a evangelização eram:

1) A santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente; 2) é preciso inundar o Brasil de Bíblias, livros e folhetos; 3) cada crente deve comunicar o evangelho a outra pessoa; 4) é necessário formar um ministério nacional idôneo; 5) escolas paroquianas para os filhos dos crentes devem ser estabelecidas. (CÉSAR, 2000, p. 89).

Vale ressaltar que o protestantismo atraiu muito as massas populares,

mas nem tanto as elites. Para reverter esse quadro, a educação vai ser o

vínculo que os missionários encontraram para poderem penetrar nas classes

mais abastardas. Como a leitura da Bíblia é algo obrigatório para um

verdadeiro protestante, as camadas mais pobres tiveram a oportunidade de

Page 105: História Da Educação

aprender a ler nas escolas que se encontravam junto das igrejas. Entretanto

para as classes dominantes os protestantes irão construir os primeiros

colégios, que eram instituições voltadas somente para o ensino, mas que em

sua constituição tinha sua pedagogia baseada nas doutrinas das igrejas

renovadas.

O pensamento protestante era de que:

tais colégios prepararão o caminho para a marcha das Igrejas (...). Colégios fundados, nestes princípios, triunfarão sobre todo o inimigo e conquistarão a boa vontade até nossos adversários. Mandai missionários que estabeleçam colégios evangélicos, e o poder irresistível do Evangelho irá avante na América do Sul e a terra do Cruzeiro brilhará com a luz resplandecente do Reino de Cristo. (BAGBY apud BARBOSA, 2002, p. 56).

5 Primeiras escolas protestantes do Brasil

O aparecimento das primeiras instituições educacionais no Brasil deu-se

através da necessidade de evangelizar e também, como é o principio de toda

escola, promover o conhecimento. Esses colégios que começaram a aparecer

a partir da segunda metade do século XIX, irão proporcionar muitas mudanças

na pedagogia brasileira que são notórias até a atualidade.

Dentro das várias correntes missionárias que chegam as terras

brasileiras, a que mais se envolveu com as questões educacionais foram os

metodistas. Esses alegam não terem crescido tanto quanto os presbiterianos e

os batistas porque esqueceram um pouco da evangelização em uma

abordagem direta, para darem um espaço maior a educação, utilizando essa

como principal forma de pregar o evangelho. (MENDONÇA; VELASQUES

FILHO, 1990, p. 40). Contudo a primeira escola confessional protestante no

Brasil aparece em 1870, que é a Escola Americana de origem presbiteriana, já

a de origem metodista aparece em 1881, que é o conhecido Colégio

Piracicabano.

Em 1862 o missionário presbiteriano George Whitehill Chamberlain

chega ao Brasil e tem um contato direto com a obra de Simonton, juntando-se

a ela para o desenvolvimento dessas propostas. Seu envolvimento foi tão

grande que em 1866 ele resolve retornar aos Estados Unidos para que

Page 106: História Da Educação

pudesse aperfeiçoar-se e aprofundar-se em teologia, retornando dois anos

depois com a missionária Mary Annesley. Chamberlain retorna com a idéia de

fundar uma escola fundamentada na pedagogia confessional norte-americana.

Em 1870 ele então concretiza seu objetivo fundando em sua própria residência,

no bairro da Luz em São Paulo, a Escola América. Essa nova instituição

apresentava classes mistas com meninos e meninas e uma nova pedagogia

recebendo elogios até do imperador D. Pedro II, que a visitou em 1876 mesmo

sem poder reconhecê-la por fazer parte da uma doutrina contrária a Igreja

Católica. (O SONHO, 1998).

A importância fundação e do papel da Escola América em terras

brasileiras chegaram longe, e isso vai estimular e tocar o advogado Jonh

Theron Mackenzie a investir nessa instituição com uma doação em vida de

42.000 dólares e depois de sua morte deixou uma herança de 8.000 dólares.

Para que essa pudesse crescer e abrigar um curso superior de engenharia que

é inaugurado em 1896 fazendo com que a escola passasse a se chamar

Mackenzie College. (MACKENZIE).

A fundação da primeira escola metodista no Brasil se dá em 13 de

setembro de 1881 em Piracicaba, uma referência em educação que tinha a sua

frente a missionária Martha Hite Watts. Senhorita Watts fazia parte da

Woman’s Missionary Society da Igreja Metodista da sul dos Estados Unidos,

uma associação que foi de fundamental importância na fundação e

conservação das escolas confessionais brasileiras. Essa missionária chega ao

país devido a um pedido feito pelos irmãos Prudente de Moraes e Manoel de

Moraes ao um pastor metodista da cidade de Santa Bárbara d’Oeste, que

“requisitasse uma educadora metodista para abrir uma escola de pedagogia

inovadora, de modo a fazer frente à educação retrógrada das escolas da época

do Império”. (MESQUITA, 2001, p. 10-11).

O Colégio Piracicabano trás muitos aspectos inovadores em se tratando

de estrutura física, conceitos e práticas. Podemos observar essa características

nos:

prédios próprios, com arquitetura que os distinguia pelas salas amplas e construídas especificamente para o ensino. As classes eram mistas. As carteiras de estudante passaram a serem individuais. Havia salas especiais para música, geografia, com imensa quantidade de mapas, cartazes com

Page 107: História Da Educação

esqueleto do corpo humano, pesos e medidas para o ensino do sistema métrico, microscópios. E, já no colégio Piracicabano, as disciplinas eram latim, português, inglês, francês, gramática, caligrafia, aritmética, matemática, álgebra, geometria, astronomia, cosmografia, geografia, história universal, história do Brasil, história sagrada, literatura, botânica, física, química, zoologia, mineralogia, desenho, música, piano, costura, bordado e ginástica. (ELIAS, 2005, p. 82).

A escola de Piracicaba quebrar alguns paradigmas e vai servir de apoio

para que outras escolas metodistas venham a se fixar no país como: o Colégio

Americano de Petrópolis (1895), que foi a base para da construção do atual

Benett no Rio de Janeiro,e em Minas Gerais se tem a fundação do Colégio

Mineiro (1902) em Juiz de Fora e do Colégio Izabela Hendrix (1904) em Belo

Horizonte, sendo que todos esses foram regidos durante algum tempo pela

missionária Martha Watts.

A contribuição financeira da Woman’s Missionary Society para a

manutenção das escolas protestantes metodistas brasileiras era, em 1882,

equivalente a 5% do orçamento dedicado educação no estado de São Paulo,

isso era equivalente a US$ 12.500,00. (ELIAS, 2005, p. 82). Esses dados

expostos, pelo pesquisador Peri Mesquita, nos ajudam a entender o quanto às

instituições eram importantes para a implantação do protestantismo no Brasil,

afinal boa parte do dinheiro arrecadado nas igrejas norte-americanas eram

destinados para os departamentos de missões encontrados nessa terra.

Em 1887 é fundado a Escola do Alto no Rio de Janeiro por mulheres que

queriam propagar o ensino baseado no modelo metodista, entretanto essa era

uma escola mantida pela comunidade batista. Essa instituição devido a um

surto de febre amarela que estava ocorrendo naquele contexto se viu obrigada

a sair de sua sede indo para a cidade de Petrópolis. E será nessa cidade que a

Escola do Alto fundirá com a Colégio Americano fazendo surgir dessa junção a

Colégio Bennet, que voltar depois para a então capital do país, Rio de Janeiro,

e é fundado oficialmente em 1° de março de 1921. (MUSEU).

O kindergarten, o que traduzindo seria o nosso Jardim de Infância é

também uma herança dos protestantes norte americanos, sendo que os

metodistas foram os maiores difusores dessa idéia. Entretanto primeiro

estabelecimento com esse tipo de educação infantil vai ser a instituição privada

Page 108: História Da Educação

o Colégio Menezes Vieira (1875-1887), fundado no Rio de Janeiro pelo médico

e educador Dr. Joaquim José de Menezes Vieira. (MUSEU). Em 1877 o jardim

de infância irá surgir em São Paulo na Escola Americana iniciada por

protestantes batistas norte-americanos. Contudo o kindergarten irá tomar

notoriedade no Colégio Piracicabano que após um ano de funcionamento já

contabilizava 24 matrículas.

O número de escolas protestantes irá crescer após a proclamação da

República (15/11/1889) e conseqüentemente a criação de um Estado laico,

assim a religião oriunda das reformas passa a ser mais aceita e com isso

começa a ganhar uma maior difusão e notoriedade. Isso se deve também as

influências e ao estímulo que a pedagogia inovadora trouxe, afinal os colégios

confessionais era usados como instrumentos de evangelização.

6 Conclusão

Podemos afirmar que a influência do protestantismo na educação

brasileira apesar de ser bastante significativa, ainda é algo pouco difundida e

estudada. A criação das escolas confessionais ajudou no crescimento e

desenvolvimento educacional no Brasil, já que trouxeram para o país um novo

fôlego à pedagogia que, em outros países, já estava mais desenvolvida.

Procuramos perceber um pouco da contribuição à educação brasileira

após a chegada do protestantismo no Brasil e da implantação dos seus

conceitos. Neste sentido, percebemos que a educação protestante só pode ser

pensada, a partir de suas origens, dentro de um processo de afirmação das

bases de um projeto que parte do Estado Americano. A intenção clara era a de

assegurar o domínio religioso na América Latina. A partir daí, a análise da

educação protestante no Brasil mostra a influência calvinista como formatadora

da nova educação que chegava ao país. Educar passa a fazer parte de um

projeto maior de sociedade. As missões protestantes deram um sentido

ideológico para o projeto liberal norte americano no Brasil, que trouxe com ele

as escolas confessionais que eram um meio de penetração nas camadas

burguesas.

Page 109: História Da Educação

A educação protestante, desde a alfabetização, procurou inserir as

camadas populares neste projeto. Afinal, estava ali o vínculo de penetração do

discurso nas camadas populares. O protestantismo então absorve uma parte

da sociedade que não era muito assistida pela Igreja Católica e dá a essas

pessoas uma nova perspectiva de vida. Isso ocorre porque esses indivíduos se

tornam mais valorizados após obterem uma escolarização que antes da

chegada das Igrejas Reformadas não era disponível. Com isso o

protestantismo ganha novos fiéis para o seu rebanho, e vai aumentando sua

influência e divulgando suas idéias pela sociedade.

Entretanto, há ainda a necessidade de se estudar mais esse tema pelo

seu grau de importância, não só para a história da educação, mas também

para que possamos entender e aprender com o fazer da educação nos outros

países de cultura protestante a dar um valor maior a nossa educação.

Devemos destacar ainda, que apesar do catolicismo ser a religião oficial

do país e de todos os percalços que o protestantismo passou para ser

implantado no Brasil, as escolas protestantes garantem o seu espaço e são

reconhecidas como instituições fundamentais para um reforma educacional.

O fato do esquecimento histórico a que ficaram relegadas as escolas

confessionais protestantes entende-se pelo fato da educação brasileira ter tido

a hegemonia da igreja católica, em suas diversas congregações, desde os

tempos dos jesuítas, a partir de 1549. Enquanto os livros de história da

educação valorizam as idéias da educação católica, marcando apenas o início

de funcionamento das escolas protestantes, outros segmentos religiosos

tiveram importância na educação brasileira, inclusive a protestante.

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Educação no Brasil: a História das rupturas

José Luiz de Paiva Bello

2001

Introdução

A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e

compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas.

A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao

território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses

trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as

populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer

educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações

indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu.

Page 113: História Da Educação

Num programa de entrevista na televisão o indigenísta Orlando Villas Boas

contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica

educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de

barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava

o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e,

novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão.

Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da

mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela

havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer."

Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os

índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste

seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das

construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.

Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os

costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos.

Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma

nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por

Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de

educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o

subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na

Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo.

Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras

brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação

anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias

Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua

iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns

autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma

complexidade maior.

A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver

que enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em

1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a

nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.

Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez

pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a

Page 114: História Da Educação

Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova

guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu uma processo de

evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo.

Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a

educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do

mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que freqüentam os bancos

escolares.

Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e

fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar neste texto.

Os períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de

importância histórica.

Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não

podemos considerar este trabalho como terminado. Novas rupturas estão acontecendo

no exato momento em que esse texto está sendo lido. A educação brasileira evolui em

saltos desordenados, em diversas direções.

Período Jesuítico (1549 - 1759)

A educação indígena foi interrompida com a chegada dos jesuítas. Os primeiros

chegaram ao território brasileiro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de

Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira,

em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos.

Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras

brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé

religiosa.

No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho

educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que

soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em

1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução

elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga)

e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).

Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os

costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas

Page 115: História Da Educação

as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de

Loiola, o Ratio Studiorum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do

curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o

curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes.

No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso

de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e

Naturais.

Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma

nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por

Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de educação, o

que se viu a seguir foi o mais absoluto caos.

No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17

colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras

instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação

brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já

implantado e consolidado como modelo educacional.

Período Pombalino (1760 - 1808)

Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199

do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica

baseada no Ratio Studiorum.

Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a

funcionar o Seminário Episcospal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro,

que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações

Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro.

Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de radicais diferenças de

objetivos com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o

proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se

encontrava diante de outras potências européias da época. Além disso, Lisboa passou

por um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A

educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou

Page 116: História Da Educação

seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da

fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.

Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as

escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de

Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a

funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com

professor único e uma não se articulava com as outras.

Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso

oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos

ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma taxação, ou um

imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de

exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos

sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal.

Os professores geralmente não tinham preparação para a função, já que eram

improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de

bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.

O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a

educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi

desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar

continuidade a um trabalho de educação.

Período Joanino (1808 – 1821)

A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situação

anterior. Para atender as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu

Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim

Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia.

Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a

ter uma complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as

idéias fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno

propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da História do

Brasil.

Page 117: História Da Educação

A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Para o

professor Lauro de Oliveira Lima (1921- ) "a 'abertura dos portos', além do

significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros'

(madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um

fenômeno chamado civilização e cultura".

Período Imperial (1822 - 1888)

D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a

Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art.

179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os

cidadãos".

Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método

Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensinava um grupo

de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor.

Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas

primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação

de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de

professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas.

Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a

ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em

1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve intenção de bons

resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação

brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios.

Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de

Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico

para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar

até o fim do Império para atingir tal objetivo.

Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto

pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão

escolheria não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de

Page 118: História Da Educação

sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se

criasse, no Brasil, um sistema educacional.

Período da Primeira República (1889 - 1929)

A República proclamada adotou o modelo político americano baseado no

sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia

positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a

liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Estes

princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira.

Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de

alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a

predominância literária pela científica.

Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os

princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que

o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino

enciclopédico.

O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a

biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da

científica.

A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se

tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte.

Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a

possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de freqüência.

Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de

assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão ao ensino superior para

as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educação

brasileira.

Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma João Luiz Alves

que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos

estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.

Page 119: História Da Educação

A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de

mudança das características políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o

Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do

Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a

1927).

Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas diversas reformas de

abrangência estadual, como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio

Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em

1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e

a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.

Período da Segunda República (1930 - 1936)

A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo

capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que

o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção industrial. A nova realidade

brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir

na educação. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde

Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino

secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram

conhecidos como "Reforma Francisco Campos".

Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados

educadores da época.

Em 1934 a nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira

vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos

Poderes Públicos.

Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi

criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as

normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.

Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a

Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma

Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação.

Page 120: História Da Educação

Período do Estado Novo (1937 - 1945)

Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 1937. A

orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto

sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas

atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino

pré-vocacional e profissional.

Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa

individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado

o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário

Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas

normais, primárias e secundárias.

No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, segundo a historiadora

Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação,

profundamente ricas no período anterior, entrem "numa espécie de hibernação". As

conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram

enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho

intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino

profissional para as classes mais desfavorecidas.

Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns

ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são

compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial –

SENAI e valoriza o ensino profissionalizante.

O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de curso primário,

quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou

científico. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o

ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa

divisão do ensino secundário, entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o

científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial.

Período da Nova República (1946 - 1963)

Page 121: História Da Educação

O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição

de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina

a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para

legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova Constituição

fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios

proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos

primeiros anos da década de 30.

Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino

Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial - SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução

de 1930.

Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro

Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de

reforma geral da educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador Lourenço

Filho, era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o

Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto

foi encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta ideológica em torno das

propostas apresentadas. Num primeiro momento as discussões estavam voltadas às

interpretações contraditórias das propostas constitucionais. Num momento posterior,

após a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais

marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do Estado quanto à educação,

inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e a participação das instituições

privadas de ensino.

Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de

dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as

reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino

no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos

brasileiros.

Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi

o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o

mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da

Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional

Carneiro Ribeiro), dando início a sua idéia de escola-classe e escola-parque; em 1952,

Page 122: História Da Educação

em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática

baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a

educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação

e Cultura; em 1961 a tem inicio uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada

pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos;

em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional

de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano

Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da

Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.

Período do Regime Militar (1964 - 1985)

Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a

educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e

subversivas".

O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua

proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades

foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e

alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes

proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores.

Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. Para acabar

com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas

não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.

Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de

Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método

Paulo Freire. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... Não

conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-

se a Fundação Educar.

É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular

contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é

instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A

Page 123: História Da Educação

característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho

profissionalizante.

Período da Abertura Política (1986 - 2003)

No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões educacionais já haviam

perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a

participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a

falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à

sala de aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e à dinâmica escolar

em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o

Regime Militar, profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico,

passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome do

saber pedagógico.

No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma nova LDB foi

encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano

seguinte o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em

1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acabou por ser aprovado

em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio.

Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente

marcante na educação, foi o trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo

Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória

extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação,

vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos

burocrático e mais político.

Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram executados

alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no Brasil,

contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos na área da

educação numa só administração.

O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e o seu "Provão", onde

os alunos das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber

seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de

Page 124: História Da Educação

presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração como

avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia

as regiões do país.

Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a

educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do

mundo, que é mais o de manter o "status quo", para aqueles que freqüentam os bancos

escolares, e menos de oferecer conhecimentos básicos, para serem aproveitados pelos

estudantes em suas vidas práticas.

Concluindo podemos dizer que a História da Educação Brasileira tem um

princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas

marcantes, onde em cada período determinado teve características próprias.

A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas inseridas no

processo, a educação brasileira não evoluiu muito no que se refere à questão da

qualidade. As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos

estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos

pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas

se propõem a ensinar. Somente uma avaliação realizada em 2002 mostrou que 59% dos

estudantes que concluíam a 4ª série do Ensino Fundamental não sabiam ler e escrever.

Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam sendo usados como

norma de ação, nossa educação só teve caráter nacional no período da Educação

jesuítica. Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas propostas desencontradas

que pouco contribuíram para o desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.

É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. E esperamos que ela

venha com propostas desvinculadas do modelo europeu de educação, criando soluções

novas em respeito às características brasileiras. Como fizeram os países do bloco

conhecidos como Tigres Asiáticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento

econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba que, por decisão política de

governo, erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula todos

os cidadãos cubanos.

Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria

implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades de nossa população e

que seja eficaz.

 Breve história da educação

Page 125: História Da Educação

      De maneira geral, pode-se dizer que educação é o processo pelo qual são transmitidos ao indivíduo os conhecimentos e atitudes necessários para que ele tenha condições de integrar-se à sociedade.

De certa forma, pode-se falar de educação em relação a certos animais, que ensinam os filhotes recém-nascidos a se adaptarem ao meio mais rapidamente do que o permitiriam seus condicionamentos genéticos. Mas é na espécie humana que se efetua um longo e complexo processo educativo, sem o qual o indivíduo não poderia sobreviver numa sociedade que transformou radicalmente as condições naturais de vida e que exige dele comportamentos muito superiores àqueles que são determinados pelos instintos.

A aprendizagem elementar é oferecida pela família. A instituição familiar pode apresentar formas muito diversas, de acordo com a sociedade em que esteja inserida, e a educação no seio familiar também é encaminhada de formas muito distintas. É possível dizer, porém, que, em quantas sociedades humanas existam ou tenham existido, o núcleo familiar sempre foi o primeiro passo, de incalculável importância em direção à

socialização da criança, ou seja, na transformação de um ser que ao nascer é regulado pelos instintos em membro participante de uma comunidade.

A relação familiar se reduz, em alguns casos, ao contato entre mãe e filho, mas, em geral, a família forma um grupo mais complexo, e pode chegar a ser muito numeroso. Habitualmente, o pai, a mãe e os demais parentes desempenham papéis diferentes, e a missão educadora de cada um fica contida dentro de certos limites.

A família ensina à criança o papel sexual, masculino ou feminino, que deverá exercer no futuro; indica a ela os sentimentos que deve alimentar, como o respeito e a submissão aos mais velhos e a proteção em relação aos irmãos menores; leva-a a assimilar o sistema de valores compartilhado por seus parentes; ensina-lhe algumas técnicas, que variam segundo a sociedade em que se ache inserida, necessárias para se proteger no ambiente circundante. Com a família, a criança aprende os rudimentos de uma linguagem que estruturará seus conhecimentos e sua maneira de pensar.

O grupo de iguais é uma formação social que muito contribui para o processo socializador da criança. Os jogos, as tarefas que realiza junto com outras crianças de sua idade e a troca de experiências que as crianças adquiriram individualmente produzem um efeito socializador importantíssimo, não apenas nas sociedades simples, mas também nas complexas formações sociais do mundo contemporâneo. A criança que não tem amigos manifestará, ao tornar-se adulta, outras carências sociais, já que lhe faltam algumas experiências fundamentais para o desenvolvimento da personalidade.

Nas sociedades mais simples, a aquisição de conhecimentos não exige estabelecimentos especialmente destinados às tarefas educativas. A aprendizagem se realiza naturalmente, pois a criança participa, de forma cada vez mais ativa, nos trabalhos comuns. Conforme cresce, o papel que desempenha na comunidade torna-se mais importante e definido. As instituições educacionais que exercem maior influência sobre a formação costumam estar vinculadas às práticas religiosas, às crenças mágicas e ao mundo mítico. Estreitamente ligados às atividades educativas estão os ritos de iniciação.

A divisão de trabalho é característica de sociedades que atingiram um grau mínimo de desenvolvimento. A primeira divisão de trabalho é determinada pelo sexo: não há sociedade primitiva em que homens e mulheres desempenhem exatamente as mesmas funções. A especialização dos membros da comunidade na execução de cada tarefa produtiva impõe aprendizados específicos. O adulto que sabe realizar determinado trabalho adota a criança, ou o jovem, como ajudante ou aprendiz, que colabora na realização do trabalho, ao mesmo tempo que aprende a fazê-lo. A questão educativa ultrapassa, nesses casos, o ambiente estritamente familiar. Começa nessas sociedades a diferenciação social e nelas já existem em embrião as instituições de transmissão de saber que prefiguram o que viria a ser, na civilização, a escola.

É principalmente na escola que se realiza a socialização intelectual da criança. A começar por sua própria estrutura espacial, a sala de aula é um modelo que mostra à criança como é a sociedade em que ela vai crescer e passar a vida. O lugar da autoridade é ocupado pelo professor, encarregado de fazer cumprir certas regras. A igualdade de condições em que se encontram os alunos é quebrada pelo aparecimento de líderes e por certa hierarquia que se estabelece entre eles, decorrente de valores desejáveis ou indesejáveis que aos poucos se instalam entre eles. A retribuição do esforço, ou o castigo pela inatividade, se dá pela atribuição de notas. As felicitações ou reprimendas distribuídas pelo educador; o espírito de competitividade intelectual ou física, que surge e é estimulado nos estudos como na prática de esportes; os horários rígidos de trabalho e recreação; e outros elementos próprios da rotina escolar transmitem à criança os valores pelos quais se rege o mundo dos adultos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 126: História Da Educação

Evolução das atividades educativas

Admite-se que, nas sociedades primitivas, formadas pelos remotos antepassados do homem contemporâneo, o processo educativo seria muito semelhante ao que os antropólogos de campo puderam estudar nas sociedades isoladas do mundo contemporâneo. A educação consistia, muito provavelmente, num processo sem solução de continuidade que, iniciado no interior do núcleo familiar, prosseguia nas atividades desempenhadas pelo grupo social, conforme as potencialidades físicas e intelectuais da criança fossem se desenvolvendo. Os sucessivos grupos educadores - o grupo de crianças, que compartilham e opõem suas experiências individuais; o grupo de adultos formado para realizar um trabalho coletivo (caça, agricultura, coleta de frutos silvestres ou cultivados, construção de canoas) - se encarregariam de transmitir ao indivíduo o saber necessário à sobrevivência. Desde pequena, a criança participaria da atividade coletiva, primeiro executando pequenas tarefas elementares de ajuda e logo aprendendo, progressivamente, os trabalhos mais complicados. Apenas o campo do sagrado, dos ritos e das crenças, juntamente com o das manifestações artísticas, exigiriam, ocasionalmente, uma especialização educativa, ou um trabalho exclusivo e qualitativamente distinto de todos os demais. Esse saber seria transmitido no interior de pequenos grupos, orientados pelo sacerdote, pelo xamã ou pelo conselho de anciãos.

A especialização de tarefas dentro da sociedade, à medida que esta se tornou mais complexa, levou à criação de sistemas de aprendizagem diferenciados. Mas foi sobretudo a cristalização na sociedade da divisão em classes sociais com interesses próprios e antagônicos que consagrou a educação como um dos meios mais eficazes para perenizar, ao longo das gerações, a divisão interna da sociedade. As castas sacerdotais e de servos surgidas nas primeiras grandes civilizações do Oriente Médio se baseavam com certeza no monopólio consciente da educação especializada, de tal forma que os conhecimentos acumulados socialmente se transmitiam apenas a uma pequena minoria de iniciados, que se perpetuava, dessa maneira, no poder. Os antigos egípcios, as civilizações mesopotâmicas e muitas culturas pré-colombianas adotaram esse sistema educativo. A invenção da escrita não fez senão reforçar os privilégios da minoria que tinha acesso ao saber.

Isso era indispensável para que a sociedade pudesse regular as atividades agrícolas, contabilizar e repartir a colheita, legislar, manter o favor dos deuses e organizar exércitos para preservar a ordem interna e defender o país contra inimigos externos.

É bastante conhecido o sistema educativo da Grécia clássica. No século V a.C., ocorreu uma verdadeira revolução, quando o trabalho educador dos sofistas começou a difundir, baseado no método dialético, o ceticismo e a análise crítica das matérias em que os jovens atenienses eram educados. Sócrates transformou-se, para sempre, num modelo de educador. A civilização clássica greco-romana deve sua importância histórica a um sistema educativo que, mesmo sendo privilégio de uma minoria, favorecia o pensamento crítico individual e se distanciava do modelo de casta fechada, orientado para a manutenção do saber como algo secreto, oferecido pelos deuses, que havia caracterizado as civilizações anteriores. Seria difícil determinar qual foi a causa e qual o efeito; mas a implantação do sistema educativo liberal e o florescimento do pensamento e das artes são historicamente coincidentes.

Desde o início de sua expansão, o cristianismo tentou adequar sua concepção de mundo à que predominava no Império Romano, na ocasião de seu surgimento. Muitos autores adeptos da nova religião desenvolveram, na teoria e na prática, novas idéias educativas que buscavam moldar o homem segundo a cosmovisão cristã. Mas a civilização greco-romana afundava irremediavelmente no obscurantismo medieval, e nessa fase histórica não sobreviveu nenhum dos projetos educativos dos doutores da igreja.

A Idade Média começou assim que se arruinou o sistema político, econômico, social e cultural que havia unificado o mundo mediterrâneo e a Europa ocidental sob o domínio de Roma. Embora o cristianismo, já dominante no decadente Império Romano, tenha se imposto finalmente aos diversos povos bárbaros que dominaram a Europa, os mecanismos de transmissão de conhecimento foram interrompidos, em grande parte, ao se desorganizar a vida intelectual. Apenas a igreja, e dentro dela as ordens monásticas, conseguiram preservar a cultura do mundo antigo, ainda que de forma parcial e com significados e conteúdos freqüentemente distorcidos. Boa parte da herança cultural greco-romana caiu no esquecimento ou desapareceu. Dessa maneira, perdeu-se o vínculo com a tradição cultural mais rica que até então a humanidade havia produzido, o que representou um retrocesso.

Na Idade Média européia, o ensino foi ministrado praticamente na clandestinidade. Em todo esse período existiu um restrito número de escolas, em mosteiros e sedes episcopais, e nelas se educavam pouquíssimos alunos, dentro de um sistema de pensamento muito fechado, estático e dominado pela religião. Isso deu origem a uma casta letrada, que transmitia o saber quase que como segredo, conforme ocorria nas antigas civilizações do Oriente Médio. Raramente os alunos pertenciam à nobreza guerreira, para a qual as artes e as letras constituíam, na verdade, um adorno inútil. Em contrapartida,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 127: História Da Educação

as escolas se destinavam a preparar sacerdotes para a igreja ou a instruir indivíduos para o reduzido corpo de funcionários imperial, que recebeu considerável impulso quando Carlos Magno tentou restabelecer a unidade política européia.

Os últimos séculos da Idade Média experimentaram um prodigioso desenvolvimento social e cultural. A partir do século XI, a extraordinária expansão das universidades mudou radicalmente as condições de ensino no continente. A universidade medieval continuava dominada por um sistema ideológico rígido, tradicional, baseado fundamentalmente na teologia, mas levava em si o germe de uma incontrolável expansão do saber. Quando o pensamento aristotélico foi incorporado ao acervo cultural dominante, após uma ausência de muitos séculos, a semente do racionalismo ficou firmemente implantada na instituição medieval de ensino. O espírito crítico tinha que se desenvolver até assumir sua forma moderna no Renascimento.

O grande impulso que a cultura européia recebeu nos últimos séculos da Idade Média desaguou no pré-Renascimento. As universidades viveram um período áureo, o estudo do grego clássico recebeu um impulso decisivo e, em Florença, surgiu a primeira academia platônica, que foi seguida de outras nas principais cidades italianas. As novas correntes de pensamento, criadas pelos humanistas, impregnaram uma Europa otimista e plena de vitalidade, disposta a substituir o rigor técnico medieval por outra forma de cultura. A educação retomou os antigos ideais clássicos que defendiam a conjunção harmoniosa do homem com a natureza. Os grandes pensadores eram também, em sua maior parte, mestres solicitados, e percorriam incansavelmente a Europa, difundindo idéias. O continente parecia viver em estado de debate constante, como se as distâncias tivessem sido infinitamente encurtadas. Mas o período otimista da primeira fase do Renascimento duraria muito poucos anos.

A Reforma religiosa, acontecimento plenamente identificado com o espírito renascentista, acarretou uma reação católica que representou um verdadeiro retrocesso. Costuma-se dar como sua data inicial o ano de 1517, em que Martinho Lutero expôs em público, pela primeira vez, sua contestação à doutrina eclesiástica das indulgências. A partir desse ano, tudo foi diferente. A Europa mergulhou numa guerra civil permanente que esgotaria os recursos do continente por um século e meio, e levantaram-se duras fronteiras ideológicas cujo papel era dificultar a difusão do pensamento. As lutas religiosas não tardaram a paralisar o otimismo renascentista, e as instituições eclesiásticas e estatais começaram a se assustar. A liberdade de que tinham desfrutado os educadores na época imediatamente anterior foi cortada pela raiz, e no mundo católico teve início uma profunda decadência das universidades, que se tornaram baluartes do pensamento teológico medieval. Não teve melhor sorte a filosofia na maioria dos países protestantes, nos quais também não se toleraram dissidências ideológicas até o momento em que, em alguns deles, foi preciso apelar à tolerância para frear a guerra civil. As pequenas ilhas de permissividade tornaram-se berço das principais idéias inovadoras que surgiriam na Europa.

Os efeitos da Reforma na educação se fizeram sentir a longo prazo. Talvez o mais importante deles tenha sido a extensão do ensino primário. Efetivamente, para se ter acesso direto às Sagradas Escrituras, era preciso saber ler. O próprio Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, para estimular sua leitura. O latim, idioma internacional dos humanistas, foi logo relegado a segundo plano perante o florescimento dos idiomas nacionais. Todo o movimento da Reforma, associado ao advento da imprensa, favoreceu a alfabetização de setores cada vez mais amplos da população, que tiveram acesso aos livros, cada vez mais baratos.

Com a Contra-Reforma, os países católicos ganharam novas instituições de educação: os colégios. Os jesuítas, seguidos de perto por outras congregações e ordens religiosas, criaram um modelo de instituição educacional destinada aos filhos das classes privilegiadas, para o que se desenvolveram métodos educacionais de grande refinamento psicológico. A Igreja Católica, por sua vez, começou a organizar de forma rigorosa a formação de sacerdotes, criando para isso os seminários.

A extensão da educação, apoiada em novos recursos técnicos, entre os quais teve importância fundamental a imprensa, foi intensa ao longo da modernidade européia. Os aparelhos de estado absorviam um número cada vez maior de funcionários letrados. Reis, governadores, bispos e autoridades municipais precisavam cercar-se de um grande staff de escrivãos, juristas e técnicos. As novas formas de vida obrigavam cada vez mais pessoas a educarem-se. Já não se podia capitanear um galeão sem saber decifrar as cartas náuticas, nem manipular os instrumentos de precisão ou escrever o diário de bordo sem conhecer as letras. Da mesma maneira, não se podia governar uma cidade ou dirigir um exército sem saber ler, interpretar e redigir documentos, nem levantar uma fortificação sem recorrer a cálculos de balística. O ideal da educação renascentista tinha sido o de formar no homem um espírito livre, capaz de dominar todos os campos do conhecimento, desde a arte até a ciência. Mas logo se viu que isso seria impossível. O desenvolvimento das técnicas, adiantando-se muitas vezes ao das ciências puras, impôs a especialização dos saberes, num mundo em que a arquitetura, a arte da guerra, a navegação e as finanças ficavam cada vez mais em mãos de um grupo reduzido de especialistas.

Em meados do século XVII, a Paz de Vestfália pôs fim ao longo período de lutas religiosas que havia dividido a Europa em grupos irreconciliáveis. Um novo espírito surgiu e encontrou terreno propício nas camadas mais cultas da sociedade, primeiro na Inglaterra e logo depois no continente. A religião, que ainda era oficialmente determinante nos sistemas políticos, perdeu o controle sobre as ideologias, e as grandes filosofias da época se constituíram fora de sua influência.

O empirismo e o racionalismo ingleses tiveram grande repercussão entre os intelectuais que

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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elaboraram a Enciclopédia francesa, obra-prima da literatura didática. O século XVIII europeu, que foi chamado o século da educação, caracterizou-se pelo surgimento de um novo espírito otimista, baseado na idéia de progresso e na constatação de que o espírito científico estava levando a humanidade a uma situação sem retorno, que se delineava como crescimento qualitativo e quantitativo que invalidava todas as ideologias anteriores. Pela primeira vez na história se acreditava ser possível conseguir, graças ao progresso da ciência e ao avanço da razão, o aperfeiçoamento do espírito humano e a melhora das condições materiais até que estas se aproximassem de algo semelhante ao paraíso terrestre, o que invalidaria para sempre as promessas da religião.

Se o otimismo dos iluministas parece excessivo, é certo que o homem contemporâneo, embora tenha demonstrado que sua natureza não se aproxima tão facilmente da perfeição, como acreditavam os pensadores do século XVIII, é produto das idéias e convicções daqueles pensadores e vive num mundo que resulta diretamente dessas idéias.

O Iluminismo foi um grande movimento ideológico e cultural do qual participaram as maiores inteligências da época, de Jean-Jacques Rousseau a Immanuel Kant. Esse movimento ganhou corpo ao mesmo tempo que uma onda revolucionária transformava a vida material do homem europeu: a revolução industrial, econômica, científica e cultural. A revolução política não foi senão um componente a mais e uma resultante das anteriores, e abriu o caminho para pôr em prática na sociedade do século XIX as idéias dominantes do século anterior.

Os iluministas tiveram plena consciência da necessidade de reformar e expandir a educação a todos os níveis para chegar a um mundo mais sábio e mais justo. A tese segundo a qual o homem é bom por natureza mas uma educação equivocada o perverte foi celebrizada por Rousseau, que propôs um novo modelo de educação, baseado no desenvolvimento dos dons naturais da criança, que outros autores retomaram e que ainda hoje continua a exercer influência na pedagogia. Outros grandes iluministas, ideologicamente bastante divergentes de Rousseau, expuseram suas próprias teorias pedagógicas, muitas das quais seriam postas em prática no século seguinte, uma vez eliminados os obstáculos que as instituições sociais e políticas do Antigo Regime impunham à transformação do ensino.

O primeiro programa organizado de escolarização universal foi criado pelo tcheco Comenius, que em meados do século XVII preconizou uma escola elementar à qual todos - ricos, pobres, homens e mulheres - teriam acesso e a partir da qual seriam selecionados os indivíduos mais capacitados a cursar os ensinos superiores. A democratização do ensino, no entanto, tardaria ainda vários séculos para se tornar realidade.

Uma das aspirações dos governos burgueses europeus do século XIX foi a de levar toda a população infantil à escola. Esse processo se deu muito lentamente. Antes disso, foram postos em prática projetos de instituições de ensino secundário, priorização compreensível num sistema dominado pelas classes abastadas, preocupadas com o futuro de seus filhos e com a perpetuação do sistema. Mas a pressão da classe trabalhadora e também a necessidade de qualificar mão-de-obra para as atividades industriais cada vez mais exigentes motivaram a progressiva democratização do ensino. Dessa forma, no final do século XIX, a maior parte dos países industrializados tinha conseguido atrair para a escola quase toda a população infantil, e a taxa de analfabetismo tinha sido reduzida drasticamente.

No século XX, a educação primária foi levada a grandes contingentes populacionais em todo o mundo. Os países latino-americanos, assim como os que emergiram no meado do século ao concluir-se o processo de descolonização, efetuaram ingentes esforços no campo da educação, com o apoio, em muitos casos, de organizações internacionais como a UNESCO, e conscientes da necessidade de diminuir a desvantagem em relação às nações mais industrializadas. Muitos países pobres, no entanto, nos últimos anos do século XX, estavam longe de ver realizada a aspiração de alfabetizar toda a população. A explosão demográfica e o atraso contribuíram para dificultar ainda mais o esforço de alfabetização.

Em conseqüência da democratização do ensino primário, produziu-se em todos os países uma maior demanda pelo ensino médio e superior, que suscitou, na segunda metade do século XX, um problema universal: a universidade, criada para educar uma minoria seleta, não dava conta de admitir a grande quantidade de alunos que lutavam por chegar às salas de aula. Outro aspecto do mesmo problema é o baixo nível do ensino ministrado por muitas escolas de nível superior, em decorrência da massificação.

Os teóricos da educação continuaram seu trabalho, aprofundando-se cada vez mais no estudo da psicologia infantil e das relações sociais que se estabelecem na escola, muitos deles denunciando a dependência da escola em relação ao sistema social em que está imersa, cujos problemas ela tende a reproduzir. Ao longo do século, a tendência geral foi favorável à limitação do autoritarismo na escola e ao aumento da liberdade de ação da criança, para que dê livre curso a sua criatividade. Fomentou-se a atividade física - ginástica, esportes - depois que se tomou consciência da importância dessas atividades para a boa saúde física da criança, para a formação de sua personalidade e para o desenvolvimento da sociabilidade.

Nos últimos anos do século, o novo problema com que a educação se defrontou estava relacionado às transformações sofridas pelos meios de comunicação. Delineou-se uma situação paradoxal: enquanto a educação que se oferecia era quase totalmente baseada no universo literário, a maior parte das crianças, feliz ou infelizmente, recebia muito mais informações por meios audiovisuais do que

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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impressos. Embora na década de 1980 alguns países tenham começado a introduzir nos planos de estudo escolares as novas tecnologias, como o uso de computadores, a situação paradoxal permanecia. Os próprios educadores estavam formados para ministrar um ensino baseado em técnicas pedagógicas e em conteúdos tradicionais. Já se discutia, no entanto, a necessidade de incorporar as novas disciplinas aos currículos escolares, pois o mercado de trabalho estava cada vez mais a exigir familiaridade com a informática em quase todas as áreas. A generalização da informática teve conseqüências importantes para a educação, especialmente nas áreas profissionalizantes.

Fundamentos psicológicos, sociológicos e antropológicos da educação

Existem vários pontos de contato entre as ciências da educação e outras áreas das ciências humanas, entre as quais a psicologia. O conhecimento das aptidões da criança, suas atitudes perante os fenômenos que fazem parte de seu universo, sua percepção desse universo, a maneira como se dão suas relações interpessoais e tudo o que se refere à formação de sua personalidade e à aprendizagem são questões que interessam, ao mesmo tempo, à psicologia e à pedagogia.

Do mesmo modo, boa parte dos estudos propostos pela antropologia e pela sociologia está encaminhada para esclarecer a forma que adotam e a maneira como atuam os diversos sistemas de aprendizagem e de aculturação que constituem o alicerce educacional das sociedades, sejam elas "primitivas", e nesse caso objeto de estudo da antropologia, ou "civilizadas", terreno abordado pela sociologia. Algumas questões importantes tratadas pelos sociólogos, por exemplo, dizem respeito à influência das mudanças educacionais na estrutura social, à relação entre educação e desenvolvimento econômico, à forma como os diversos sistemas educacionais podem sustentar ou, ao contrário, derrubar os sistemas de poder, às disfunções sociais criadas por novos métodos de ensino, às resistências à mudança educacional por parte dos poderes sociais tradicionais e a muitos outros temas.

Em países como o Brasil, de grandes desigualdades sociais, as relações entre educação e as questões psico-sociológicas são ainda mais visíveis. A pobreza afasta a criança da escola, lançando-a prematuramente e sem qualificação no mercado de trabalho, aumentando o contingente de subempregados. Nos piores casos, apoiada pelo espírito contestatário próprio da adolescência, a falta de escolarização abre para o jovem o caminho do crime. À desagregação familiar nas camadas mais pobres da população se segue freqüentemente a evasão escolar, pela necessidade de trabalhar ou pela simples falta de incentivo.

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REFERÊNCIAS

LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969. 363 p.

PILLETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino de 1o grau. 22. ed. São Paulo: Ática, 1996.

________ . Estrutura e funcionamento do ensino de 2o grau. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.

________ . História da educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996a.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.