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História Das Teorias Da Comunicação

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ECONOMIA POLITICA

A economia política da comunicação começa a se desenvolver nos anos 60. Assume de início a forma de um questionamento sobre o desequilíbrio dos fluxos de informação e produtos culturais entre os países situados de um lado e de outro da linha demarcatória do "desenvolvimento".

A partir de 1975, a economia política se encami­nha para uma reflexão que não versa mais sobre a "indústria cultural", mas sobre as "indústrias cultu­rais". A passagem do singular ao plural revela o abandono de uma visão demasiado genérica dos sis­temas de comunicação. No momento em que as polí­ticas governamentais de democratização cultural e a idéia de serviço e monopólio públicos são confronta­das com a lógica comercial num mercado em vias de internacionalização, trata-se de penetrar na comple­xidade dessas diversas indústrias para tentar com­preender o processo crescente de valorização das ati­vidades culturais pelo capital.

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114 Histór,ia das t.eorias da comunicação

1. A dependência cultural

Integração mundial e troca desigual

Marx e seus epígonos mencionavam o caráter "re­volucionário" do capitalismo, cuja lei de sobrevivência é transformar continuamente as forças produtivas. Devido a essa expansão e a esse progresso permanen­tes·, esse regime cria, sem saber, as ·condições de sua própria queda, desenvolvendo as forças sociais e agu­çando suas contradições. O "desenvolvimento" de cada sociedade específica depende, antes de mais nada, da evolução de suas estruturas internas. Cada sociedade passa obrigatoriamente por etapas, ~ a história de cada uma responde a um "modelo sucessivo".

A essa visão .da história, economistas e historia­dores contrapõem um modelo sincrônico e simultâ­neo, objetando que a história do capitalismo em nu­merosos países não corresponde a esse esquema e que o "desenvolvimento" não é inelutável. Pois é mais ao "desenvolvimento do subdesenvolvimento" que se assiste em muitas regiões do mundo. A unidade de análise do capitalismo môderno não pode ser a socie­dade nacional, mas o "sistema-mundo", do qual as nações são meros componentes. Essa hipótese sobre a integração mundial, formulada pelo economista Paul Baran, em 1957, em seu Economia política do cresci­mento, vai ao encontro da hipótese do historiador Immanuel Wallerstein, em diálogo com o conceito de "economia-mundo" de Fernand Braudel.

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o conceito de "economia-mundo" define-se se-

Economia política 115

dado; a existência de um pólo, "centro do mundo"; zonas intermediárias em torno desse pivô central e de margens bastante amplas, que na divisão do tra­balho se acham subc5rdinadas e dependentes das ne­cessidades do centro. Esse esquema de relações tem um nome: a troca desigual. O capitalismo é uma "cria­ção da desigualdade do mundo" [Wallerstein, 1983) e só pode ser concebido num espaço desmedido, "uni­versalista". O mapa das "redes comerciais", cujas redes de comunicação constituem parte essencial, manifesta essa configuração centrípeta do mundo, com suas hierarquias e a coexistência de modos de produ-ção diferentes. \

Resultado de uma ruptura com as teses sobre a história do capitalismo moderno defendidas pelos clás­sicos do marxismo, a economia política da comunica­ção afasta-se também do esquema Leste-Oeste que "inarcou a sociologia da mídia americana. A polarização provocada pela guerra fria marca as clivagens operadas nas ciências sociais da comunicação. Lazarsfeld reco­nhçee-o ao inaugurar diante de seus colegas da Associa­ção Americana de Pesquisa da Opinião Pública (.A. .. APOR) o novo campo de pesquisas batizado de "comunicação internacional", e incita-os a reforçar seus laços com os "grupos e instituições que são os atores desse cenário soci<:1l" [Lazarsfeld, 1952). A visão do espaço internacio­nal corrio lugar de confronto entre dois blocos, entre duas ideologias, que animct a pesquisa e o desenvolvi­mento industrial e militar das novas tecnologias da in-formação e da comunicação (do computador do satéli­te), mobiliza também a maior parte da pesquisa fun-

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116 História das teorias da comunicação

cionalista sobre a êümunicação internacional, como demonstra com eloqüência a pesquisa administrativa sobre as rádios governamentais. A própria abordagem difusionista dos problemas da comunicação, associada às·· estratégias de desenvolvimento-modernização no Terceiro Mundo, é inexplicável sem o pano de fundo dessa abordagem maniqueísta ditada pelo imperativo da "segurança nacional" (ver capítulo II, 2). É o que explica por que a análise funcionalista remete à doutri­na do departamento de Estado sobre o free flow of infor­mation, calcado sobre o princípio intangível da liber­dade de circulação das mercadorias, assimilando pura e simplesmente a liberdade de expressão comercial dos atores privados do mercado à liberdade de expressão em geral.

O imperialismo cultural

A nova visão do espaço mundial leva a uma reno­vação do estudo das relações internacionais em ma­téria de cultura e comunicação. Suscita inúmeras pesquisas que exemplificam a troca desigual dos di­versos produtos culturais.

Nos Estados Unidos, então às voltas com os con­flitos do sudeste asiático e as lutas contra-insurre­cionais em vários países do Terceiro Mundo, a ques­tão da dependência cultur:al alimenta a reflexão de um pesquisador como Herbert Schiller. Sua primeira obra, Mass Communications and American Empire, publicada em 1969, mas que contém artigos publica­do? desde 1965, inaugura uma longa série de pesqui­sas que,_ a partir d~ análise da imbriCé_\:Çào entre o

Econo1nia política 117

complexo mil}tar-industrial e a indústria da comu­nicação, resultam numa vasta denúncia da crescente privatização do espaço público nos Estados Unidos. No mesmo ano, Thomas Guback, professor na Uni­versidade de Illinois, publica The International Film Industry, que se tornou um clássico da análise elas estratégias de penetração das grandes firmas cine­matográficas americanas nos mercados europeus desde 1945. Schiller, professor da Universidade da Califórnia, próximo à tradição inaugurada por Wright Mills, definiu um conceito que animou tanto a pes­quisa como a ação, o de "imperialismo cultural": "O conjunto dos processos pelos quais uma sociedade é introduzida no sistema moderno mundial, e a manei­ra pela qual sua camada dirigente é levada, por fascí­nio, pressão, força ou corrupção, a moldar as institui­ções sociais para que correspondam aos valores e es­truturas do centro dominante do sistema, ou ainda

<para lhes servir de promotor dos mesmos" [Schillei~ 1976] . Um dos mais prestigiosos periódicos especializados dos Estados Unidos, o Journal of Communication, fundado em 1950, muda de orientação sob a direção de George Gerbner, professor da Universidade da Pensilvània, e passa a conceder em suas páginas amplo espaço aos de­bates sobre os grandes desequilíbrios mundiais em ma­téria de comunicação e sobre as mudanças ocorridas nos enfoques teóricos [Gerbne1~ 1983].

. Nos anos 70, a perspectiva crítica americana se enriquece com as contribuições de Stuart Ev.:en, que publica uma história do dispositivo publicitário, ain­da um dos raros estudos sobre os fundamentos da

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118 História das teoria!_da _comunicação

ideologia do conhi.i:nó associada a certa idéia de de­mocracia [Ewen, 1976].

Na Inglaterra, Peter Golding, da Universidade de Leicester, empreende uma crítica radical das teorias da modernizaçãó aplicadas à comunicação. Jeremy Tunstall demonstra que a matriz organizacional da mídia no mundo é ·fundamentalmente. americana, enquanto J. O. Boyd-Barrett e Michael Palmer des­crevem a anatomia das grandes agências de notícias internacionais. No norte da :$uropa, a questão da de­pendência cultural inspira, na Finlândia, estudos sobre o fluxo internacional de programas de televi­são [Nordesntreng e Varis, 1974], enquanto na Holanda surgem estudos sobre a corporate village e os valores socioculturais do "complexo comunicacional-indus­trial" [Hamelink, 1977]. A questão do fluxo de notí­cias motiva os trabalhos teóricos do sociólogo norue­guês Johan Galtung [1971] sobre as novas formas de imperialismo. Salvo raras exceções, a França perma­neceu relativamente ausente dessas pesquisas especí­ficas sobre os meios de comunicação de massa.

Região projetada para o centro das controvérsias sobre as estratégias de desenvoivimento no confrónto Norte/Sul, a América Latina irá desenvolver a "teo­ria da dependência". Essa teoria conhece numerosas variantes, que dependem da apreciação da margem de manobra e dd grau de autonomia creditados a cada nação em relação às determinações do sistema-mun­do. A ruptura com a sociologia funcionalista dos Estados Unidos, inieiada no começo da década de 60, consuma-se com uma geração de pesquisadores críti-

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cos [Pasquali, 1963; Schmucler, 1974; Capriles, 1976; Beltran, 1976; Beltran e Fox, 1980). Tentativas origi­nais de transformação social, como a do presidente socialista Salvador Allende no Chile (1970-1973), põem na ordem do dia a política de democratização da co­municação [Iviattelart A., 1974; Mattelart M., 1986].

Se a América Latina aparece na vanguarda nesse gênero ele estudos é porque ali se desencadeiam pro­cessos. de transformação que abalam as velhas con­cepções de agitação e propaganda e porque, nessa região do mundo, o desenvolvimento da mídia é en­tão bem mais importan~e do que em outras regiões do Terceiro Mundo. A América Latina não é a~nas o lugar de uma crítica radical das teorias da moderni­zação aplicadas à difusão de inovações junto aos cam­poneses, no âmbito de tímidas reformas agrárias, à política ele planejamento familiar ou ao ensino à dis­tância, mas produz também iniciativas que rompem com o modo vertical de transmissão dos "ideais" de desenvolvimento. Um exemplo disso é a obra dobra­sileiro Paulo Freire (1921-1997), Pedagogia do opri­mido'[1970], que exerceu profunda influência na ori­entação de estratégias dç comunicação popular e al­cançou difusão mundial. Essa pedagogia parte da si­tuação concreta em que vive o aluno; para f~zê-la emergir·prógressivamente como fonte de conhecimen­tos, numa troca entre educador e educando. Notemos que a América Latina distinguiu-se bastante cedo, e ele maneira constante, por sua reflexão sobre o vín­culo entre comunicação e organização popular.

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120 História das teorias da comunicaçiio

A Unesco e a nova ordem mundial da comunicação

Sustentado pelo movimento dos países não-ali­nhados, o debate sobre os desequilíbrios de fluxos e trocas atinge a comunidade internacional como um todo nos anos 70, década da "nova ordem mundial da informação e da comunicação" (NOMIC). A Unesco é seu principal foco de expressão. Iniciado em 1969, sob a presidência do francês Jean Maheu, o debate sobre a "comunicação em sentido único", que c.arac­teriza as relações Norte/Sul, desemboca, sob a presi­dência do senegalês Amadou Mahtar M'Bow, na cria­ção, em 1977' de uma comissão internacional para o estudo dos problemas da comunicação. Três anos depois, é publicada ª·versão final do relatório dessa comissão, presidida pelo irlandês Scan MacBride, fundador da Anistia Internacional, prêmio Nobel e prêmio Lenin da paz. Trata-se do primeiro documen­to oficial emitido sob os auspícios de um organismo representativo da comunidade internacional que re­conhece, expõe claramente a questão do desequilíbrio do fluxo e interroga-se sobre as estratégias a aplicar para remediar tal situação (múltiplos trabalhos e co~ferências sobre as "políticas culturais" e as "po­líticas nacionais de comunicação" realizaram-se nes­se contexto).

Numerosos fatores sabotaram o debate e trans­formaram-no em um diálogo de surdos: intransigência da América reaganiana, que procura impor a qual­quer custo sua tese do free flow of information; sobreposição de intei-esses entre os países çlo Sul, cm lutar por sua emancipaçà? cultural naéional,·e os paí-

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Economia política 121

ses do "bloco" comunista, que souberam habilmente utilizar essas demandas para opor-se a qualquer aber­tura de seus próprios sistemas de comunicação de massa; contradições no próprio interior do movimen­to dos países não-alinhados, onde alguns Estados do Terceiro Mundo, Jazendo uso desses debates interna­cionais como álibi, lavam as mãos em relação a suas próprias carências e compromissos em seu território nacional. Apesar desses limites, tais debates e os es­tudos por eles suscitados lançaram um grito de alar­me sobre a troca desigual dos fluxos de imagens e informações. Nessa ocasião, fizeram-se ouvir as vo­zes dessa parte majoritária do mundo cuja realidade é muitas vezes conhecida por rrieio dos filtros dos estudos realizados pelos peritos dos grandes países industriais. Dominantes nos hemiciclos internacionais, as referências da sociologia da modernização de ori­gem americana foram, no decorrer da década de 7 O, substituídas pelas representações de desenvolvimen­to formuladas por aqueles que se faziam sujeito do próprio desenvolvimento. Sem dúvida, a clivagem das teses contrapostas favoreceu, com freqüência, uma visão bipolar do planeta, um Norte dominante e dominador e um Sul subjugado. Os processos de mediação e os mediadores passaram em branco, e, com eles, o que constitui a complexidade do encon­tro, do "choque cultural",-como diria Edward T. Hall, entre as culturas singulares e o espaço-mundo. Em 1985, invocando uma ·deriva a afetar a "politização" dos problemas da comunicação, os Estados Unidos retiram-se da Unesco, logo seguidos pela Inglaterra. Os anos 80 vêem a questão da regulação das redes e

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das trocas migrar para a regulação dos organismos de vocação mais técnica, como o GATT (tratado geral sobre as tarifas aduaneiras e o comércio) (ver capítu­lo VII, 2).

2. As indústrias culturais

A diversidade da mercadoria

Irá surgir na Europa na segunda metade dos anos 70, o segundo foco da economia política clu comuni­cação. A questão das indústrias culturais ocupa o lugar central, e os pesquisadores franceses assumem papel de destaque. Sua postura é, em geral, decidida­mente crítica.

Em 1978 é publicada a obra da equipe de pesqui­sa dirigida por Bernard Miege intitulada Capitalisme et Industries culturelles. Os autoi·cs interrogam-se sobre a natureza da mercadoria cultural, e tentam responder à questão: "Que problemas específicos o capital encontra para produzir valor a partir d(l arte e da cultura?" Refutam a idéia, cara à escola de Fi~ank­furt, de que a produção da mercadoria cultural (livro, disco, cinema, televisão, jornal etc). responde a uma só e mesma lógica. Para eles, a indústria cultural não existe em si; é um conjunto compósito, constituído por elem.entos que se diferenciam fortemente uns dos outros, por setores que apresentam suas próprias leis de padronização. Essa segmentação das formas de rentabilização da indústria cultural pelo capitul tra­duz-se nas moclaliclácles de organização do trabalho, na caracterização dos próprios produtos e de seu con-

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Economia politica l •) ., _,)

teúclo, nos modos de institucionalização das diversas indústrias culturais (serviço público, relação públicoí privado etc.), no grau de concentração horizontal e vertical das empresas de produção e distribuiçào. ol\ ainda na maneira pela qual os consumidores ou usu~í­rios se apropriam de produtos e serviços.

Les Industries de l'imaginaire (1980], de Patricl' Flichy, dedica-se mais particularmente a compreen­der essa "cultura de onda", esse continuum de emis­sões:,- no qual cada elemento conta menos em si mesmo do que pelo conjunto da programação ofere­cida - que caracteriza a economia dq audiovisual. Interessando-se tanto pelas indústrias· do hardware (o que contém) como pelas do software (conteúdo), o autor aborda a formação dos usos sociais das máqui­nas de comunicar, a transformação das inovações tecnológicas em mercadorias, renovando desse modo as bases de uma história da técnica. Antes, as pes­quisas haviam analisado a interseção entre os plunos tecno-econõmicos e político-culturais, a fim de cll's­vendar a trama política do fato industrial e as bases industriais de um· novo sistema de controle social. Além disso, ao insistir na articulação entre o nível nacional e o nível multinacional, essas pesquisas enun­ciavam os limites do conceito de "imperialismo cultu-

. ral'', então em voga [Mattelart, A., 1976; 1\ilattelart, A. e M., 1979; Mattelart, A., e Piemme, 1980; Mattebn. A. e IvI. e Delcourt, 1983].

Em 1978, produz-se uma mudança nas esferas governamentais européias. A noção de "indústrias cu!-

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124 História das teorias da comzmicaçrio

turais", adotada pelos ministros europeus responsáveis pelos assuntos culturais, reunidos em Atenus, marca sua volta aos enunciados administrativos de um orga­nismo comunitário europeu: o Conselho da Europa.

Nos anos 80, essa problemática das indústrias cul­turais ganha realidades acadêmicas diversas. Em es­pecial, Québec [Lacroix e Lévesque, 198.6; Tremblay, 1990] e a Espanha [Bustamante e Zallo, 1988]. Desde os anos da ditadura franquista, alguns sociólogos haviam formado as bases de uma pesquisa crítica [Gubern, 1972; Moragas, 1976; Serrano, 1977].

A economia política pretendia suprir as carências 1 da semiologia da primeira geração, atenta antes de

mais nada aos discursos como conjuntos de u11iclacles fechadas sobre si mesmas e que contêm os princípios de sua construção. Implícita na França, essa finalida­de da economià política tornou-se francamente explí­cita na Grã-Bretanha, outro pólo da expressão dessa corrente. A economia política estimulou, naquele país, uma polêmica aberta com a corrente dos Cultural Studies, acusada privilegiar de maneira isolada o ní­vel ideológico [Garnham, 1983]. A revista Media, Culture and Society, criada em 1979, abriu suas pági­nas a essa discussão.

Em 1977, o canadense Dallas Smythe, em artigo provocador sobre a "cegueira" (Blindspot) de que a pesquisa crítica européia dava mostras em relação à

lógica econômica da televisão, irritara-se com os malefícios das teorias que só a vi<,l!'H como lugar ele produção de estratégias discursi\;as, de ideologia.

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Economia política 1~5

Smythe defendia a idéia contrária, de que a televisão é antes de mais nada, em qualquer contexto que seja, uma "produtora de audiências vendáveis aos publicitá­rios", e de que, no capitalismo contemporâneo, a au­diência constitui a fornrn mercantil dos produtos de comunicação. O pesquisador britânico Nicholas Gar­nham rebatia, dizendo que essa posição deixava de le­var em conta a dimensão política e cultural da televi­são, que lhe constitui tanto quanto sua lógica econômi­ca [Garnham, 1979]. O debate era tanto mais peti:inente ao confrontar duas experiências e dois modos de institucionalização da mídia eletrônica: o regime co­mercial e o serviço público, num momento em que se anunciavam na Europa os primeiros sinais de desregu­lamentaÇão e de privatização do audiovisual. Esse de­bate já se encetara na Itália, onde a desregulamentação precoce do se1-viço público precipitara a reflexão de pesquisadores reunidos em torno da revista Iko11 [Cesareo, 1974; Grandi e Richeri, 1976; Wolf, 1977].

De um setor industrial à "sociedade global"

O conceito de "sociedade de massa", associado ao ele cultura de massa, foi por muito tempo a referência dominante das controvérsias sobre a natureza da modernidade da mídia. A partir do final dos anos 60, ele perde esse estatuto de exclusividade: recebe no­vas denominações para caracterizar a sociedade tra­balhada pelas tecnologias ela informação e da comu­nicação. Esses neologismos recobrem algumas argu­mentações, doutrinas e teorias sobre a transfornrnçào de nossas sociedades.

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-126 Histoiiâ das ieorias da comunicação

O "global" ingressa na representação do mundo pelo viés da comunicação eletrônica. Duas obras, ambas publicadas em 1969, consagram a noção: War and Peace in the Global Village, de Marshall McLuhan (em colaboração com Quentin Fiore), e Between Two Ages. America's Role in the Technetronic. Era, de Zbigniew Brzezinski. A primeira descreve o efeito­-televisão da guerra do Vietnã, "primeira guerra televisual": com esse conflito, ao qual assistem ao vivo e de sua sala de jantar todos os lares america­nos, as audiências deixam, conforme consideram os autores, de ser espectadores passivos para se conver­ter em "participantes", e a dicotomia civis/militares desaparece. Em tempo de paz, a mídia eletrônica impulsiona o progresso em todos os países não-in­d ustrializados. O imperativo técnico comanda a transformação social. A "revolução da comunicação", slogan que nasce do outro lado do Atlântico, encarTe­ga-se de minar as últimas utopias de revolução política. A idéia do "fim das ideologias", cara a Daniel Bell, encontra assim um substituto nas representações cole- · tivas. A "aldeia global" inicia então sua carreira no imaginário do "todo planetário". Na seqüência, a no­ção acompanhará cada apocalipse mundial, cada "mundovisão". A Guerra do Golfo veio confinrní-la, ainda que, na ver'P,ade, a informação tenha sido estri­tamente controlada ~elos peritos militares.

O cientista político Z. Brzezinski, diretor do Ins­tituto de pesquisas sobre o comunismo na Universi­dade Columbia, prefere a expressão "cidade global". A conotação de retorno à comunidade e à intimidade

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Economia política 127

ligada à pequena cidade, parece-lhe pouco adaptada ao novo meio internacional, pois a tessitura das redes dessa sociedade, que ele batiza de "tecnetrônica", fruto do cruzamento entre o computador, a televisão e as telecomunicações, está em vias de transformar o mundo num "nó de relações interdependentes, nervo­sas, agitadas e tensas", portanto implicando o risco de isolamento e solidão para o indivíduo. A seus olhos, a primeira "so.ciedade global" da história já está em pleno andamento: trata-se dos Estados Unidos. Prin­cipal propagadora dessa "revolução tecnetrônica", essa sociedade "comunica" mais que qualquer ciutra, já que, como ele nota, 65% do conjunto das corimni­cações mundiais originam-se nela. É a única a propor um "modelo global de modernidade", esquemas de comportamento e valores universais por intermédio dos produtos de suas indústrias culturais, sem dúvi­da, mas té!mbém mediante suas "técnicas, métodos e práticas de organização novas". Diante dela, no mo­mento em que escreve Bzrezinski, no bloco dominado pela outra superpotência há tão-somente sociedades miseráveis que "exalam tédio". Essa noção de cidade e de sociedade global torna~ obsoleta a velha noção de "imperialismo" para designar as relações entre os Estados lJnidos e o resto do mundo. A "diplomacia do catiMoT;S-eria coisa do passado; o futuro caberia à "dip~loinacia das redes".

Em 1977, Marc Uri Porat, economista americano de origem francesa, publlca um relatório encomenda­do pelo governo dos Estados Unidos, primeiro estudo oficial a avaliar o peso da economia da informação

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Page 9: História Das Teorias Da Comunicação

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128 História das teorias da com.unicaçdo

sobre a sociedade americana: desde 1966, a infonnação representava 47% da força de trabalho e aproximada­mente a mesma proporção do produto interno bruto. Essas cifras só aumentaram. Porat dividiu a ''informa­ção" em três categorias fundamentais: a informação finança, seguros, compatibilidade e o conjunto estoca­do nas bases e bancos de dados; a informação cultural (alimentada pelos produtos das indústrias cuhurais); a informação conhecimento, ou o conjunto dos savoir­-faire (brevês, administração, conselho etc.). Em 1962, o economista americano Fritz Machlup, especialista no estudo dos balanços de pagamento, assumira a tarefa de avaliar para a economia americana a importância· das atividades de informação agrupadas no que ele chamava de the knowledge industry.

Nesses anos 70, acumulam-se nos grandes países industriais os relatórios oficiais sobre. o futuro da "sociedade da informação". Em 1978, é publicada A informatizáção da sociedade, de Simon Nora e Alain Mine. Inaugurando o termo "telemática" (que trnduz a crescente interpenetração entre os computadores e as telecomunicações), esse relatório propõe apostar nas novas tecnologias da informação e da comunica­ção para sair da crise econômica e política, qualifi­cada de "crise de civilização". Graças a um "novo modo global de regulação da sociedade", o "sistema nervoso das Organizações e da sociedade como um todo" deveria "recriar uma ágora informacional, ampliada para às dimensões da nação moderna" e defxar desabrochar a "abundânçia da sociedade ci~ vil". Mas eles previnem: o perigo vem do exterior.

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Economia política 129

Para as soeiedades americanas, jamais descuidar da organização dos bancos de dados, essa "memória coletiva", é um "imperativo de soberania".

Dessa forma, progressivos deslocamentos se ope­raram: de uma significação centrada sobretudo na mídia, a comunicação pouco a pouco assumiu uma definição totalizante, mesclando tecnologias múltiplas destinadas a estruturar uma "nova sociedade". Na França, a introdução de temas suscitados pelas teleco­municações na pesquisa sociológica é assinalada por um colóquio, Ciências Humanas e Telecomunicações. Organizado em Paris em abril de 1977, por iniciativa do Centro Nacional de Estudos das Telecomunica­ções (CNET) em colaboração com o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), associa pesquisadores e engenheiros das telecomunicações a especialistas americanos como Marc Uri Porat e Ithiel de Sola Pool. Nas atas publicadas sob o título Les Réseaux pensants [Giraud et al., 1978], uma contribuição causa impac­to, a de um jovem pesquisador, Yves Stourdzé, pre­maturamente morto alguns anos depois, sobre a "Genealogia das telecomunicações francesas". Rom­pendo com uma orientação estritamente econômica. ele introduz reflexões sobre o clima filosófico, cultu­ral e institucional que explica as formas assumidas pelo monopólio público na França ao longo da histó­ria, também demonstrando como a inovação .técnica em matéria de comunicação foi em grande parte con­dicionada por esse contexto histórico cristalizado em sistemas de representação do poder, em atitudes men­tais e práticas administrativas .

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Page 10: História Das Teorias Da Comunicação

130 História das teorias da comunicação

A maior parte das intervenções consagrava a idéia de uma sociedade que se tornou transparente em virtu­de da "economia infonnacional". Variante do mito téc­nico que o filósofo Jacques Ellul (1912-1994) - isolado e inclassificável no panorama teórico francês -, pres­sentira na década de 50 em sua obra La Technique ou l'enjeu du siecle (1954] -, e sobre o qual vÓltava a tratar, precisamente em 1977, em Le Systeme technicien '--, insistia no fato de que a técnica, como passara do estatuto de meio ao de criadora de um meio artificial, tornava-se um "sistema", graças à conexão inter­técnica possibilitada pela informática. A seu ver, urgia refletir sobre a função de regulação social que ela assumiria daí por diante.

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O RETORNO DO COTIDIANO

Em reação às teorias estruturais-funcionalistas que por muito tempo dominaram a cena sociológica, progressivamente se afirmaram metodologias que consagravam outras unidades de análise, a pessoa, o grupo, as relações intersubjetivas na experiência da vida cotidiana. Essas metodologias fizeram ressurgir debates - existentes desde o início das ciências do homem e da sociedade - sobre o risco de reificar os fatos sociais, sobre o papel do ator em relação ao sistema e o grau de autonomia das audiências diante do dispositivo de comunicação.

1. o movimento intersubjetivo

Etnometodologias

As correntes reunidas sob o termo de sociologias interpretativas (interacionismo simbólico, fenomeno-

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