Historia de Portugal - Organizador José- engarrinha

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    Histria dePortugal

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    Coordenao Edi tor ial

    Irm Ja cinta Turolo G arcia

    Assessori a Admi ni str ati va

    Irm Teresa Ana Sofia tti

    Assessor i a Comerci al

    Irm urea de Almeida Nascimento

    Coor denao da Coleo Histri a

    Luiz Eugn io Vscio

    Assi stente de Produo Grfi ca

    Luzia Aparecida Bianchi

    Presidente do Conselho Curador

    Antonio Manoel dos Santos Silva

    Diretor-Presidente

    Jos Castilho Marques Neto

    Assessor-Editorial

    Jzio Hernan i Bomfim G utierre

    Conselh o Edi tor i al Acadmi co

    Aguinaldo J os Gon alveslvaro Oscar Campana

    Antonio Celso Wagn er Zan inCarlos Erivany Fan tinati

    Fausto ForestiJos Aluysio Reis de Andrade

    Marco Aurlio NogueiraMaria Sueli Parreira de Arruda

    Roberto KraenkelRosa Maria Feiteiro Cavalari

    Editor-Executivo

    Tulio Y. Ka w ata

    Edi tora Assi stent e

    Maria Dolores Prades

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    Histria dePortugalJos Tengarrinha (Org.)

    Jos MattosoMaria Helena da Cruz CoelhoHumberto Baquero MorenoAntnio Borges CoelhoAntnio Augusto Marques de AlmeidaAntnio Manuel Hespanha

    Maria do Rosrio Themudo BarataNuno Gonalo Freitas MonteiroFrancisco Calazans Falcon

    Jos Jobson de Andrade ArrudaMiriam Halpern Pereira

    Jaime ReisAmadeu Carvalho HomemA. H. de Oliveira Marques

    Joo MedinaLus Reis Torgal

    Jos Medeiros Ferreira

    Reviso tcnica

    Maria Helena Martins Cunha

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    H67399Histria de Portuga l / Jo s Matt oso [et

    al]; J os Tenga rrinh a, organ izador. --Ba uru, SP : EDUSC ; So Paulo, SP : UNESP;Portugal, PO : Instituto Cames, 2000.371p.; 23cm. -- (Coleo Histria)

    >ISBN UNESP 85-7139-278-0ISBN EDUSC 85-7460-010-5

    1. Portugal - Histria. I. Mattoso, Jos.II. Tengarrinha , J os. III. Ttulo. IV. Srie.

    CDD 946.9

    Copyright 2000 EDUSC

    Direitos de publicao reservados :Editora da Universidade do Sagrado Corao (EDUSC)

    Rua Irm Arminda , 10-5017044-160 Bauru SPTel. : (0xx14) 235-7111Fax: (0xx14) 235-7219

    Home page: www.usc.brE-mail: [email protected]

    Fundao Editora da UNESPPraa da S, 108

    01001-900 So Pa ulo SP

    Tel. : (0xx11) 232-7171Fax: (0xx11) 232-7172

    Home page: www.editora.unesp.brE-mail: [email protected]

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cm ara Bra sileira do Livro, SP, B rasil)

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    SUMRIO

    Captulo 17 A form a o da n acion alida de

    JosMattoso

    Captulo 219 O fin al da Ida de Mdia

    Maria Helena da Cruz Coelho

    Captulo 345 O princpio da poca Moderna

    Humberto Baquero Moreno

    Captulo 457 Os argonauta s portugueses e o seu velo de ouro (sculos XV-XVI)

    Antnio Borges CoelhoCaptulo 5

    77 Saberes e prticas de cincia n o Portugal dos DescobrimentosAntni o Augusto Marques de Almeida

    Captulo 687 Os bens eclesisticos na poca Moderna. B enefcios, padroados e

    comendasAntnio Manuel Hespanha

    Captulo 7105 Portugal e a Europa na poca ModernaMar ia do Rosrio Themudo Barata

    Captulo 8127 A consolidao da dina stia de Bragan a e o apogeu do Portugal

    barroco: centros de poder e trajetrias sociais (1668-1750)Nuno Gonalo Freitas Monteir o

    Captulo 9

    149 P om ba l e o Bra silFrancisco Calazans Fal con

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    Captulo 10167 O sentido da Colnia. Revisitando a crise do an tigo sistema colonial

    no Brasil (1780-1830)

    JosJobson de Andrade Arruda

    Captulo 11187 Contestao rura l e revoluo liberal em Portugal

    JosTengarrinha

    Captulo 12217 Diversidade e crescimento industrial

    Mir iam Halpern Pereir a

    Captulo 13241 Causas histricas do atraso econmico portugus

    Jaime Reis

    Captulo 14263 Jacobinos, liberais e democratas na edificao do Portugal

    contemporneoAmadeu Carvalho Homem

    Captulo 15283 Da Monarquia para a repblica

    A. H. de Oliveira Marques

    Captulo 16297 A democracia frgil: A Primeira Repblica Portuguesa (1910-1926)

    Joo Medina

    Captulo 17313 O Estado Novo. Facismo, Salazarismo e Europa

    Lus Reis Torgal

    Captulo 18339 Aps o 25 de Abril

    JosMedeiros Ferreira

    369 Autores

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    ANTECEDENTES

    Ao contrrio do que tentaram demonstrar as doutrinas nacionalis-tas dos an os 30 a 60, baseadas, de resto, em conceitos positivistas e rom n-

    ticos mu ito an teriores, n o possvel encon trar vestgios coerentes de umanacionalidade portuguesa antes da fundao do Estado. Aquilo que o pre-cedeu e que tem alguma coisa a ver com o fenmeno nacional reduz-se aum a persistente ecloso de pequena s formaes polticas tendencialmenteautonmicas na faixa ocidental da Pennsula Ibrica (em paralelo, de res-to, com formaes an logas nout ras regies peninsulares), q ue se verifica-ram desde a pr-histria at o sculo XII, mas q ue se caracterizam tam bmpelo seu carter descon tnuo e efmero. As dimen ses dos respectivos ter-ritrios eram norma lmente reduzidas, pois n o chegavam nun ca a abran-

    ger reas equivalentes a nenhuma das antigas provncias romanas. Antesda domina o romana , o pan orama predominante o da grande fragmen-tao territorial, ocasiona lmente compensada por coligaes conjunturais;durante ela, a organizao administrativa (que se deve considerar de tipocolonial) no chegou a absorver por completo a s divises tnicas, qu e rea-pareceram sob a forma de pequenos potenta dos locais desde q ue se esbo-roou o controle municipal, militar e fiscal exercido pelos seus rgos at ofim do Imprio.

    Como evidente, as sucessivas camadas de povos germnicos quedepois ocuparam o ocidente da Pen nsula ta mbm n o chegaram a u nifi-

    car o territrio por eles dominado; limitaram-se a fazer reverter para seubenefcio as imposies militares e fiscais que an teriormen te eram exigidaspelas autoridades romanas. Pode-se dizer aproximadamente o mesmo daocupao muulma na , q ue, de resto, foi muito efmera a norte do Douro,e que foi constantemente entrecortada por revoltas regionais e locais, al-gumas das quais mantiveram certos territrios como independentes du-rante dezenas de anos. A sua expresso concreta mais evidente foram osreinos taifas do Ocidente que mantiveram a sua autonomia durante ama ior parte do sculo XI. Entretan to, a norte do Mon dego, entre os scu-

    los VIII e XI, a ocupao asturiana e depois leonesa tam bm estava longede conseguir a inteira fidelidade no s dos potentados locais como tam-

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    captulo 1

    A FORMAODA NACIONALIDADE

    Jos Mattoso*

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    bm dos prprios representantes da monarquia; todos eles se comporta-vam freqentemente como senhores independentes.

    O territrio portugus pde, portanto, comparar-se a um puzzle

    constitudo por u m n m ero considervel de peas que se foram associan-do entre si de vrias maneiras, sem que os poderes superiores que a exer-ciam a autoridade tivessem sobre elas grande influncia. A sua principalestratgia consistia em manter a dominao, pactuando de formas vari-veis com os poderes regionais e locais, explorando as suas divises, ouqua ndo era possvel, extermina ndo revoltas demasiado ostensivas. A estaestratgia ope-se, evidentemente, a dos poderes inferiores que ora explo-ram a via da revolta a berta, ora a do pacto condicionado com os poderesrgios; ora se aliam com os parceiros do mesmo nvel, ora os combatem,recorrendo para isso, se necessrio, ao apoio dos delegados rgios, numjogo instvel, ditado por circunstncias ocasionais.

    O primeiro fato que se pode relacionar com a futura nacionalidadeportuguesa , por isso mesmo, aquele em que se verifica a associao dedois an tigos conda dos pertencentes cada um deles a uma provncia rom a-na diferente: o condado de Portucale, situa do n a a ntiga provncia da Ga -lcia, e o de Coimbra, na antiga provncia da Lusitnia. Formaram o queento se cha mou o Conda do Portucalense (o que pressupunh a a hege-monia do con dado do Norte sobre o do Sul), entregue pelo rei Afonso VIde Leo e Castela ao conde Henrique de Borgonha, como dote de casa-

    men to de sua filha ilegtima D . Teresa n o a no de 1096.

    CONDIES PARA O SUCESSO POLTICO DAPRIMEIRA FORMAO NACIONAL

    Uma grande parte do sucesso poltico deste acontecimento resulta deum an tecedente regional: a formao de poderes senhoriais de m bito local.De fato, durante o sculo XI certas linhagens concretamente as da Maia,

    Sousa, Ribadouro, Bragana, Baio e outras menos conhecidas tirarampartido da sua capacidade militar para alargarem o mbito dos seus territ-rios, desvincularem-se da autoridade dos condes de Portucale (descendentesde Vmara Peres), ligarem-se aos soberanos castelhano-leoneses da dinastianavarra (entre 1037 e 1091) e transmitirem os seus poderes numa linhanica dentro da mesma famlia. Foram essas linh agens que prestavam fide-lidade coroa castelha no-leonesa e, depois, a transferiram para o seu repre-sentante, o conde D. Henrique. Foram elas que asseguraram, portanto, umsuporte social au toridade semi-independen te do conde.

    Nada disso, porm, t eria sido suficiente para origina r um processode efetiva autonomia poltica se no se tivesse pouco tempo depois dado

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    um movimento mais amplo que criou condies favorveis ecloso deverdadeiros reinos de mbito inferior ao reino castelhano-leons, igual-men te a poiados por grupos a ristocrticos region ais. Tendo eles adquirido

    ma ior fora e independncia, em virtude do am biente de crise da mon ar-q uia e da recepo de no vos modelos mon rqu icos vindos de alm-Pire-neus (que se verificou desde a morte de Afonso VI em 1108 at coroa-o de Afonso VII em 1126), o seu apoio aos novos reinos foi essencialpara a sua consolidao.

    De fato, a s alteraes provocadas nos reinos cristos, depois da gran -de expan so territorial da segun da meta de do sculo XI custa do territ-rio islmico, levaram a grandes remodelaes internas. Os elementos daaristocracia, q ue tinh am podido ma nter as sua s linh agens por via sucess-ria nica, ao canalizarem para a guerra fronteiria todos os filhos que nosucediam n a chefia, com earam a organizar-se em troncos verticais ima -gem da casa real, o qu e permitia s ma is poderosas famlias man terem in-tactos atravs de vrias geraes os seus poderes locais solidamente apoia-dos em domnios fundirios. Mas os filhos segundos que enriqueciam naguerra e os cavaleiros fran cos ou de out ras regies que a cudiam fron tei-ra pretendiam tambm alcanar poderes prprios, comprando terras depequen os proprietrios ou ten tan do criar, por sua vez, um a a utoridade se-nh orial apoiada em foras militares.

    Esses movimentos associam -se ent o a agrupamentos regionais. Em

    torno de D. Urraca, sucessora de Afonso VI, renem-se entre si e opem-se uns aos outros os nobres castelhanos, leoneses, aragoneses e galegos,que se apiam alternadamente nos membros da famlia real desavindosent re si. A aristocracia nobre, resolvidos os seus problemas intern os, ao ab-sorver ou assimilar as foras externas de origem franca, sai reforada dacrise interna da monarquia. Em coligaes que j podemos chamar nacio-na is (de Castelha nos, Leoneses, Aragoneses ou Ga legos), a nobreza ensaiaformas de solidariedade e organiza a sua estrutura interna; esboa formasde relacionamento com os cavaleiros, quer pela concesso ou reconheci-

    men to de poderes quer pela vassalagem.Mas aqueles conjuntos de n obres qu e, depois de se terem reorgan i-zado socialmen te, prosseguem a luta con tra o Isl qu e asseguram ao seu futuro pas (cha memos-lhe a ssim) uma trajetria m ais segura. Assim, aGaliza n o chega a destacar-se de Leo, porque a sua nobreza s participana guerra externa quando se associa portuguesa ou castelhana; Leovai perdendo terreno face a Castela, m an tendo com ela um a unio prec-ria, q ue viria a desfazer-se entre 1157 e 1230, mas jogando sempre um pa -pel secundrio na luta antiislmica; Portugal, Castela e Arago, pelo con-trrio, ma ntendo um protagonismo constan te na mesma guerra, n o ces-

    sam de se desenvolver como monarquias independentes.

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    A FORMAO D A NACIONALIDADE

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    A situao de guerra assegura, portanto, um papel fundamentaltan to nobreza, q ue tendia a mon opolizar a s fun es militares, como smona rqu ias sob as quais ela se agrupa regionalmen te e que assum em sem-

    pre a chefia e a coordenao das grandes operaes guerreiras. Consti-tuem-se assim blocos fronteirios que asseguram a eficcia das operaes.A associa o entre um a classe social com fortes apoios fun dirios, com po-deres prprios e interessada na guerra, e os reis que a apoiam assegura a osdiversos reinos peninsulares um trajeto poltico duradouro.

    PORTUGAL E A GALIZA

    At 1128 verifica-se uma srie de acontecimentos polticos que pa-recem ligar os destinos de Portuga l aos da G aliza. O principal a forma ode um reino independente com Garcia I (1065-1071), que apesar da suaposterior apropriao pelo rei de Leo e Castela se ma nteve n ominalmen-te separado destes enquanto o mesmo rei Garcia esteve preso, at suamorte em 1091, e q ue continuou sob a forma de um condado en tregue aRaimun do a t 1096. A participao de a lgun s membros da a ristocracia ga-lega no combate ao Isl e a sua fixao em territrio portugus reforamesta aproximao. A separao de Portugal e Galiza, concretizada sob aforma de dois condados independentes um do outro, com a reduo da

    auto ridade de Raimundo apenas G aliza e a concesso de Portugal a Hen-rique, vem criar um h iato n esta poltica. Este hiato , porm, estava j laten -te, no plan o eclesistico, por cau sa da rivalidade ent re as ss de Braga e deCompostela, desde a restaurao da primeira em 1070. Verifica-se, assim,um a situa o caracterizada pela presena de dois movimentos contradit-rios, um que tende a manter a unio com a Galiza, outro que aponta jpara a separao. Note-se que o primeiro adm itia dua s solues, conform ese viesse a resolver por meio da hegemon ia da Ga liza ou da hegemon ia dePortugal. Note-se tambm que Henrique combateu pela segunda destas

    solues, pois esperava restaurar em seu favor o antigo reino da Galiza ede Portugal, como consta do acordo assinado com seu parente Raimundo,conhecido sob o nome de pacto sucessrio. A morte de Raimundo em1107 s podia ter acentuado tais objetivos. provvel que a rainha D.Teresa t ivesse ma nt ido a m esma idia depois da morte de Henrique(1112), e q ue isso explique a s sua s ligaes a Pedro Froilaz de Trava e aosseus filhos, dado o papel daq uele como tu tor do h erdeiro do tron o, Afon -so Raimundes (futuro Afonso VII).

    Este propsito, porm, veio a fracassar em virtude da conjugao dedua s sries de acontecimentos convergentes: por um lado , o fa to de ta nto

    D. Urraca como seu filho Afonso VII terem lutado denodadamente pelama nuten o da unidade da mon arqu ia castelha no-leonesa, com o persis-

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    tente a poio de Diego Gelmrez, arcebispo de Compostela, qu e via n essa so-luo o melhor apoio para as suas ambies de prelado da nica s apos-tlica do Ocidente alm da de Roma, e que pretendia ser a maior autori-

    dade espiritua l de toda a Pennsula; por out ro lado, pelo fato de os baresportucalenses e o a rcebispo de Braga terem percebido que a un io de Por-tugal e da G aliza sob a h egemon ia galega os man teria fatalmente nu ma si-tuao de inferioridade e de dependncia; para estes, portanto, era prefe-rvel manter Portugal como um condado sujeito diretamente ao rei deLeo e Castela do q ue restau rar o reino da Ga liza e Portugal, ainda que soba au torida de de D. Teresa (sobretudo se ela ficasse a dever a sua realezaefetiva a os Travas). Foi essa a soluo q ue de fa to se tornou possvel a par-tir da batalha de S. Mamede (1128), por meio da qual os bares portuca-lenses, com o a poio do a rcebispo de B raga, depois de terem obtido o apoioativo de Afonso Henriques, expulsaram do condado Ferno Peres de Tra-va e a rainha D. Teresa.

    Contudo , dada a importn cia da guerra externa no processo de for-mao das unidades territoriais nacionais da Pennsula, o que provavel-mente assegurou a efetiva durabilidade da autonomia portuguesa, reivin-dicada em S. Mamede, no foi tanto a opo que a nobreza portucalensetomou em favor de Afonso Henriques, ou melhor, contra o domnio querde Gelmrez, quer dos Travas, mas o fa to de a essa opo se ter seguido,numa seqncia irreversvel, a necessidade de assumirem o principal pa-

    pel da guerra antiislmica, relegando para segundo plano a atuao daaristocracia ga lega. verdade, porm, que n o o fizeram diretam ente, soba direo e com uma participao intensa das linhagens nortenhas, massob a direo de Afonso Henriques, a partir do mom ento em que ele, ape-na s trs an os depois de S. Mamede, se fixou em Coimbra e passou a toma rum papel extremam ente ativo na Reconqu ista.

    O ESPAO VITAL

    Preenchida a condio q ue permitiu a um grupo social os baresportucalenses e o m ais importante dos bispos desempenhar um papel a-tivo de primeiro plan o n a poltica peninsular, man tido o seu protagon ismodevida guerra externa, nem por isso se podia considerar garantida a in-dependncia de Portugua l. provavel qu e ela n o se tivesse podido man-ter se no se apoiasse num territrio dotado de recursos econmicos sufi-cientes para a suportar. O que, portanto, a assegurou na fase seguinte foia apropriao de novos espaos cujos recursos eram complementares dosdo n cleo inicial, e q ue este teve capacidade para dominar por intermdio

    de um quadro humano sujeito aos seus interesses. Ou seja, concreta-mente, o q ue, numa segunda fase, consolidou a capacidade au tonm ica de

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    Portugual foi a conq uista de Lisboa e de Santa rm e a posse dos seus res-pectivos alfozes. Este fato trouxe consigo a possibilidade de colocar na vi-gilncia e administrao dos novos territrios parentes da nobreza norte-

    nha que eram afastados da partilha hereditria nas terras de origem parano ameaarem a base material do poder familiar, ou subordinados seusque no podiam prosperar dentro dos seus domnios senhoriais. Assim sepermitia e propiciava a expanso da classe dominante sem que ela fosseafetada por uma crise de crescimento, dada a exiguidade do territrio emque ela exercia os seus poderes o Entre-Douro-e-Minho.

    Essa possibilidade, que assegurava uma certa unidade ao conjunto,sob a orientao poltica de um grande chefe militar, na pessoa de AfonsoHenriques, permitia tambm encontrar a forma de absorver outros exce-dentes demogrficos de Entre-Douro-e-Minho, que durante os sculos XIe XII no cessaram de aumentar. Os camponeses dali, demasiado aperta-dos num a rea fertil mas reduzida, procuravam n ova s terras para poderemsubsistir. A atrao das cidades muulmanas envolvidas por uma aura deprosperidade e de riqueza fa bulosa orientou boa parte destes excedentes,primeiro para as expedies de comba te, depois para a fixao na s cidades,logo a seguir para a ocupao do hinterlandestremenho, que a anterior si-tuao de guerra tinh a m an tido at ent o bastante despovoado.

    O afluxo ao litoral portugus e s cidades prximas dele de um a po-pulao que em boa parte reproduzia as estruturas implantadas no Entre-

    Douro-e-Minho, e que, portanto, ao mesmo tempo, expandia e fortaleciao n cleo inicial, ga ran tia-lhe, assim, a viabilidade de subsistncia e de au -ton omia . Ocupava as cidades do Ocidente a tlnt ico e, com elas, o domniodas vastas reas econmicas que elas controlavam. Organizava o seu con-jun to (Porto, Gu imares, B raga, Coimbra, Lisboa, Sa nta rm, vora) n umarede de trocas complementares cujas potencialidades exerciam sobre osseus diversos elementos um papel de estmulo, tanto pelas possibilidadesde escoamento da produo, como pela capacidade de abastecimento. Ascidades, por sua vez, ao concentrarem a populao, levavam ao desenvol-

    vimento das reas circundantes, anteriormente prejudicadas pela guerraquase contnua, para poderem assegurar o seu prprio abastecimento emprodutos alimentares e em ma trias primas. Por outro lado , a mesma con-centrao populacional obrigava a desenvolver a produo artesanal, paracom ela se poderem paga r os produtos vindos do cam po. Uma parte do ar-tesan ato destina-se ao apoio da s atividades militares, visto q ue a s cidadesda linh a do Tejo e a de vora continua ram am eaada s pelas incurses mu-ulmanas at 1217. A continuao da guerra para sul e sobretudo a con-quista de Badajoz pelos leoneses em 1229 ou 1230 (depois da frustrada in-vestida de Afonso Henriques em 1169), que destruiu o principal centro

    militar almada da fronteira ocidental, tiveram como resultado a seguran-a das cidades do litoral atlntico. Uma vez conseguida esta e ocupado

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    tam bm o Alentejo e o Algarve (1249), com a conseqen te pacificao dosmares devido destruio dos principais plos da pirataria sarracena, fica-va aberto o comrcio interna cional direto, por via ma rtima , sem ter de se

    recorrer mediao castelhana.Certos au tores (sobretudo Torqua to Soa res) cham ara m a aten o

    para o fato de assim se ter reconstitudo um con jun to q ue coincidia apro-ximadamente com trs antigos conventos jurdicos da poca romana(Bracara, Scalabis e Pax J ulia Braga, Sa nta rm e Beja). A diferena prin-cipal consistia em que eles estavam subordinados a provncias diferentes eque s sob adm inistrao portuguesa q ue os seus territrios passara m aformar um conjunto qu e no estava subordina do a nenh um plo polticonem econm ico externo.

    A CENTRALIZAO POLTICA

    Com o evidente, esse conjunto de fatos n o explica por si s a in-dependn cia n acional. Esta n o existiria sem um poder poltico que coor-denasse os interesses de um determinado grupo regional com o potencialecon mico de um a regio suficientemente diversificada , como a q ue a ca-bei de descrever. J vimos os antedentes da soluo poltica que acaboupor consolidar a separao entre o Cond ado Portucalense e a G aliza. Alu-

    dimos tambm ao fato de em 1131 Afonso Henriques se ter fixado emCoimbra e ter assum ido o coman do at ivo da guerra externa , com o a poio,embora n o n ecessariamen te com a participao ativa direta, dos chefesdas linhagens nortenhas. As necessidades da guerra levaram, porm,Afonso Henriques a encabear tambm outras foras, as dos concelhos,que constituam, por assim dizer, a fonte abastecedora dos efetivos dema ssa e a melhor garan tia da defesa fonteiria em caso de inva so. Essascomunidades no nobres, mas com verdadeira autonomia local, que ti-nham criado as suas estruturas peculiares numa espcie de terra de nin-

    gum entre as duas fronteiras, a crist e a muulmana, aliando-se oracom um lado ora com outro, que tinha m feito da pilhagem m odo de vida,aceitaram a autoridade rgia como forma de garantir uma parte da suaautonomia face crescente invaso senhorial dos bares de Entre-Dou-ro-e-Minho. Cedendo uma parte das suas prerrogativas ao rei nas reasmilitar, da justia e do fisco, evita vam a submisso aos poderes senh oriaisdos nobres e da Igreja. Podiam negociar com o rei o reconhecimento deimportantes privilgios e prometiam a colaborao dos seus exrcitos naluta antiislmica. A chefia militar do rei trouxe consigo, portanto, a asso-cia o dos con celhos e da nobreza senhorial. Essas comunida des, tenden-

    cialmente opostas umas s outras, podiam assim manter as suas posiessob a proteo do rei e evitar lutas estreis entre si. A formao de uma

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    unidade poltica possibilitou tambm a integrao das cidades organiza-das em concelhos no espao nacional, sem os sujeitar aos senhorios par-ticulares (excetuan do, at o sculo XIV, a s cidades do Porto e de B raga ) e,

    desde Afonso III (1248-1279), a sua subordinao poltica econmicaorienta da pela coroa.

    At 1211 pode-se dizer que o rei no impediu a consolidao dospoderes senh oriais no Norte, nem sequ er a sua expan so no Centro e Suldo Pa s (sobretudo de senhorios eclesisticos), e que ta mbm n o interveiona adm inistrao interna dos concelhos. Limitou-se a dirigir as operaesmilitares com os recursos que os concelhos e os senhores lhe forneciam esobretudo com as tropas que podia recrutar com os rendimentos dos do-mnios rgios. Ele prprio se considerava como um senhor. S algunsmembros da cria rgia, imbudos das idias jurdicas inspiradas no Direi-to Romano, atribuam-lhe, desde a dcada de 1190, autoridade de verda-deiro rei, e no apenas de primus inter pares. Para isso contribuiu, por umlado, a concepo, j antiga, da realeza como autoridade responsvel pelamanuteno da justia e da paz, acima da que os senhores e os concelhospodiam assegurar, e o verdadeiro carisma de guerreiro que os eclesisticosreconheciam em Afonso Henriques, e que seu filho Sancho I procuroutam bm m erecer.

    Apesar disso, n o se pode dizer que houvesse verdadeiramen te umEstado portugus at a morte de Sancho I. O seu verdadeiro fundador,

    como organ ismo poltico capaz de assegurar um a adm inistrao impessoale uma a utoridade a qu e mesmo os poderes senh oriais tinha m de se sujei-tar, independentemente de compromissos recprocos de vassalidade, foiAfonso II (1211-1223). Este, tentando, certamente, pr em prtica asidias do chanceler Julio, que iniciara as suas funes j em tempo deAfonso Henriques, e que criara uma verdadeira pliade de juristas comoseus auxiliares, e, por outro lado, influenciado pelo prprio processo dacentralizao da cria romana, que tambm inspirou Frederico II no go-verno da Siclia, comeou o seu reina do pela promulgao de um corpo de

    leis. Depois ocupou-se em monta r um a verdadeira a dministrao polticado territrio e em organizar as finanas da coroa com base na economiacitadina. De forma rudimentar, sem dvida, m as que tinha j em embrio,as funes estat ais, adian tava-se, assim, m aioria das mon arq uias feuda isdo Ocidente europeu.

    Apesar das violentas oposies que tal poltica suscitou da parte danobreza senhorial, e de vrios membros do alto clero, mas contando comum pequen o grupo de va ssalos fiis, Afonso II manteve a mesma o rienta -o a t ao fim da vida. As cises que se seguiram no seio da n obreza con-duziram, depois, durante o reinado de Sancho II (1223-1248), cuja fra-

    queza e indeciso contrastam fortemente com a firmeza da seu pai, a umaverdadeira anarquia social agravada pela crise da prpria nobreza. Esta,

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    sujeita a um rpido crescimento numrico, dificilmente pod ia a ssegurar atodos os seus membros, mesmo de condio inferior, o exerccio dos direi-tos senh oriais; a hesitao ent re a partilha hereditria e a inferiorizao su-

    cessria dos filhos segundos provocava o exa cerbam ento e a violncia dosmenos favorecidos, a constituio de bandos e o assalto aos indefesos. contenso da expanso senhorial entre 1211 e 1223, seguiu-se o seu de-senfreado crescimento entre 1223 e 1245, e ao mesmo tempo a perturba-o social e a an arq uia, sobretudo n as regies de regime senhorial (o Nor-te), acabando por a segurana do clero e dos seus bens. Assim se decidiuuma coligao de bispos e de nobres para solicitar ao papa Inocncio IV asubstituio de Sancho II por seu irm o Afonso III. Depois de uma guerracivil bastante violenta, Afonso III acabou por triunfar. O seu antecessormorreu no exlio em 1248.

    Depois do ensaio singularmente precoce de Afonso II, foi, de fato, apersistncia e a habilidade poltica de Afonso III (1248-1279) o que garan-tiu a efetiva supremacia e a independncia da realeza, assim como a mon -tagem emprica, ma s conseqente, dos orgos esta ta is. Passou a a dministrarrigorosamente os dom nios da coroa , criou um corpo legislativo, constituiuuma nobreza de corte fiel e submissa, enfraqueceu a nobreza senhorial,montou um a parelho judicial capa z de assegurar a justia sob o controle dosmeirinhos-mores, mesmo contra os senhores (nobres ou eclesisticos),acumulou rendimentos suficientes para garan tir a sua independncia eco-

    nmica face a outros poderes, cerceou os excessivos privilgios do clero econseguiu influenciar a escolha dos bispos. A sua obra foi depois continua-da por seu filho Dinis (1279-1325), que criou os corregedores para aperfei-oarem o sistema judicial, organizou o nota riado , formou um corpo de es-crives rgios junto dos concelhos, controlou as eleies dos magistradosmunicipais, recrutou um corpo regular de besteiros fornecidos pelos conce-lhos, cerceou os privilgios senh oriais, imps a noo de uma justia rgiacapaz de perseguir os crimes mesmo nos territrios imunes etc.

    Assim, a montagem de um aparelho estatal capaz de exercer uma

    influncia efetiva e verdadeiramente unificadora sobre todo o Pas, tiran-do o antecedente efmero de Afonso II, data efetivam enta da segun da m e-tade do sculo XIII. At essa altura, havia relaes entre as diversas comu-nidades que se sujeitava m au toridade do mesmo rei, havia tambm mo-vimentos de tropas e de populaes que abarcavam todo o territrio na-cional, ma s o Pa s era constitudo por um conjunto de unidades com um aconsidervel dose de independncia, ligadas entre si por vnculos tnues,e, como conjunto, destitudo de laos verdadeiram ente coerentes.

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    CONSCINCIA NACIONAL

    A delimitao poltica e econmica um elemento objetivo que dis-

    tingue de todas as outras a comun idade hum an a n ela inserida. Pa ra esta co-munidade constituir uma Nao ainda preciso q ue os seus membros ad-quiram a conscincia de formar uma coletividade tal que da resultem di-reitos e deveres igua is para todos, e cujos caracteres eles assum am como ex-presso da sua prpria identidade. Esta conscincia forma-se por um pro-cesso lento, que no envolve simultaneamente todos os sujeitos. Comeapor eclodir em m inorias capazes de conceber intelectualmente em que con-siste propriamente a Nao; depois esta idia vai se propagando lentamen-te a outros grupos, a t atingir a maioria dos habitan tes do Pa s. Em Portu-

    gal nota-se primeiro nos membros da chancelaria condal e rgia, depois nosclrigos do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a seguir noutros membrosda corte e em funcionrios da adm inistrao q ue se apresentam como de-legados do rei em todos os pontos do Pas, mais tarde nos restantes mem-bros do clero e das ordens militares e nas oligarq uias dos concelhos.

    As guerras com Castela e a Revoluo de 1383-1385, ao trazeremtropas estran geiras a Portugal, evidenciam a diferena entre os Portuguesese os outros, isto , aqueles que falavam outra lngua, tinham outros costu-mes e se comportavam como inimigos. Cem an os depois, a expanso u ltra-marina coloca muitos portugueses em face de gente ainda mais estranhaperan te a qu al eles se apresentam como irman ados pela vassalagem a ummesmo rei, sejam minhotos, alentejanos ou beires. A sujeio Espanha,no sculo seguinte, faz refletir sobre o que ser portugus e o que estarsujeito a uma adm inistrao n o portuguesa, pela mesma poca em que sepode ler nos Os lusadasa epopia mitificada de um povo capaz de chegaraos confins do mundo. E assim sucessivamente, at s exaltadas manifesta-es populares contra a Inglaterra por ocasio do Ultimatumde 1890, s co-memoraes nacionais dos vrios centenrios que fazem refletir nos feitoshericos de outrora, s revolues cuja vitria se atribui participao po-

    pular, propagan da ideolgica nacionalista dos an os 30 a 60. Tudo isso va iconsolidando e difundindo o conceito de Nao. preciso no esquecer,porm, que s os cidados capazes de ler podiam conhecer Os lusadas, eque s os que tinham feito o ensino primrio podiam compreender o queera a histria ptria e saber os direitos dos cidados. Ora a populao anal-fabeta s em pleno sculo XX deixa de constituir mais da metade do povoportugus. preciso, portan to, esperar a t um a poca bem recente para po-der admitir uma efetiva difuso da conscincia na ciona l em todas as cam a-das da populao, e em todos os pontos do seu territrio.

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    Maria Helena d a Cruz Coelho*

    O futuro D. Joo II conhecia o governo. Porque fora regente em1463, q ua ndo seu pai seguira n a cam panh a de Ma rrocos, em 1475, qua n-do o m ona rca dema nda ra Ca stela, e ainda em 1476-1477, qu an do esfor-adam ente Afonso V ruma ra Frana na busca de a poios externos.

    O futuro D. Joo II conhecia o pas. Porque como prncipe e re-gente vira crescer o poderio dos gran des senh ores q ue seu pai a cumu la-ra de benesses em terras, direitos e jurisdies. Porque ouvira as vozesq ue se erguiam em Cortes. Quer as da a ristocracia da m ercan cia, q ue cla-ma vam liberdades de com rcio e fiscais e a n o-con corrncia de estran -geiros, quer as da terratenncia que pugnavam por mo-de-obra, sal-rios baixos e defesas das culturas, ou a inda as da criao de gado q ue ro-gavam por fartas pastagens e bons mercados. Para, todas elas, em uns-sono, ouvir reclamar contra os poderes e opresses dos grandes, 1 contrao desregramento da corte, contra os abusos e prepotncias dos oficiais

    rgios qu e q ueriam impor o seu poder na localidade, livre de peias, e in-terveniente nos vrios aspectos do tecido socioeconmico. E seria maisatenta do n o q ue via, e n o pelo q ue escutava, qu e o princpe conh ece-ria a s qu eixas do povo laborioso qu e ama nh ava a terra, q ue internam en-te comerciava ou produzia artefatos.

    O futuro D. J oo II conh ecia, enfim, a poltica externa. Percorridapor equilbrios vrios, por entre mares e continentes. Consciente estavada correlao de foras castelha na s, tendo mesmo a corrido ao seu pai emToro, e sabia q ue o n osso forta lecimento n o Atln tico era a pedra de to-

    q ue do xa drez internaciona l, fosse na poltica de ocupao ma rroquina e na conq uista de Arzila a companh ara o seu progenitor fosse na explo-rao da costa africana, cuja direo assumira desde 1474, liderando, ex-clusivamente, os tratos africanos.

    Quan do, em 28 de agosto de 1481, sobe ao trono, tinha um proje-to poltico, tinha vontade de coloc-lo em prtica e sabia com o agir. Pron-tamente e pragmaticamente.

    De imediato ao saimento do senhor seu pai, no mosteiro da Ba-talha, convocou Cortes para vora. Que abrem a 12 de novembro, comtoda a pompa e solenidade da entronizao do poder real, oferecida emespetculo.2 Com novo e detalhado cerimonial distribuem-se os lugares

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    captulo 2

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    do rei e da corte rgia, do clero, da nobreza e dos procuradores dos con-celhos, que simbolizavam as hierarquias, na sua dignidade e honra, deuma sociedade hierarquizada, num corpo harmonioso, dirigido por um

    cabea, q ue o governa va, e con stitudo por um tronco e ps q ue o susten-tavam. A palavra, em discurso oficial, d forma intelectiva ao que se v esente. Pa ra logo em seguida se passar a o simb lico e de discursivo ao.De um poder mediatizado pela representao , q ue a vista e o ou vido per-cebem, a um poder em exerccio q ue a tinge a von tade e o corao.

    Ao seu rei e senhor a famlia real e os grandes tm de prestar me-na gem e jurar o bedincia pelas graas e bens dele recebidos e os procura-dores das cidades e vilas jurar lealdade e servio. 3 Ato habitual de jura-mento de fidelidade ao novo monarca se no fora o novo ritual de pala-vras e gestos. Que no agradou aos senhores. Em especial, e por todos,como o mais poderoso, ao duque de Bragana. 4

    Talvez no assim a os procura dores dos con celho s que, con hecendopor certo j o perfil do novo monarca, e aproveitando-se da conjunturafavorv el do incio de um ou tro reina do, pediram, metdica e programa -dam ente, reforma s na justia, n a fa zenda e n a defesa. Queriam ver dimi-nudos os poderes jurisdicionais dos senhores e eliminadas as opressesqu e infligiam aos povos, como n o menos pretendiam rgos rgios comfunes rigorosamente definidas e oficiais competentes e zelosos, nuncan o-cum pridores ou a busadores. Desejava m ver moderao na concesso

    de tenas, mora dias e assent am entos aos vassalos, criados e mora dores nacorte, devendo estes ser socialmente compatveis com essa mesma cortee nela servir convenientemente. Esperavam ver a defesa eficazmente as-sumida pelos que tinham especificamente tal misso, por ela recebendobenefcios. Mas pelo contrrio, no queriam recrutadores militares quesobrecarregassem os povos. Almejavam na persecuo dos seus interes-ses, que eram os dos maiores entre o povo , liberdades comerciais, afasta-mento de concorrentes estrangeiros ou judeus, domnio dos mesteirais,boas oportunidades na agricultura e criao de gado .

    De tudo isso se agrava m n um longo ro l de 172 captulos gerais, ob-tendo em 46,5% deles resposta favorvel do monarca.5 Ma s a lista acres-ceu-se ainda de mais 140 captulos especiais, visando sobremaneira osproblemas da adm inistrao, poltica e econom ia locais, q ue lograram al-can ar do mon arca uma percenta gem de 53,6% de respostas afirma tivas.6

    Decorridos uns escassos 7 meses7 e j os povos estavam de novosendo cham ados a Cortes, agora para San tarm. 8 Desta vez, a fim de con-triburem pa ra a remisso da s dvidas de seu pai, deven do ser cobrado u mpedido de 50 milhes. No parecem ter comparecido s mesma s o clero ea nobreza, conhecendo-se apenas a presena de doze concelhos. No en-

    tanto s de onze possumos captulos especiais, abran gendo o pa s de nor-te a sul, como se evidencia pelo mapa, e nenhuns gerais.

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    1 CORTES DE VORA DE 1490CONCELHOS COM CAPTULOS ESPECIAIS

    Barcelos (2)

    Braga (1)Bragana (7)

    M iranda do

    Douro (2)

    Guimares (1)

    Lamego (3)

    Aveiro (6)

    Coimbra (6)

    Coruche (1)

    Setbal (2)

    Elvas (4)

    Ol ivena (4)

    0 50 km

    Estremoz (3)

    Torres Vedras (5)

    Guarda (2)

    Silves (3)

    Lagos (8)

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    Do Entre Douro e Minho tiveram assento Ponte de Lima e Guima-res. Da Beira, Pinh el e Viseu. Do Alentejo, Monforte, Olivena , Vila Vio-sa e Serpa. Do Algarve, Loul, Faro e Silves. Ao todo so apresentados trin-

    ta a gravos, conhecendo-se a resposta apena s para 22.9 Quem m ais pediu fo-ram, respectivamente, Vila Viosa com oito captulos, e Loul com sete.

    As principais queixas visam ao econm ico. Depois certos estratos so-ciais, com destaque maior para os senh ores, e em seguida a administraocentral e muito escassamente a local, o que o grfico permite visualizar. 10

    A ma ior parte dos concelhos havia estado n as Cortes qu e h pou-co tinham chegado ao fim.11 A, em captulos gerais e especiais, tinhamsido postos os mais prementes problemas que sempre, aproveitando aconjun tura no va da a bertura de um reina do, se apresenta m ou retoma m.Para resolver, a gora, to-s a lguma s questes bem m ais especficas.

    Ainda e sempre uma crtica aos oficiais rgios. Fosse o alcaide dassacas q ue, a travs dos requeredores e escrives q ue colocava para escreve-rem o ouro e a prata trazidos pelos mercadores estrangeiros, os afastava

    dos nossos portos, como referem Faro (1) e Silves (1). Fosse o contador,que em Loul (5) no queria deixar os vizinhos trazerem bens de mouros,e em Ponte de Lima (1) pretendia dispor de uma casa para se aposentar.Mais genericamen te, Loul (2) queixava-se do grande n m ero de homensda escrita que havia na correio, tantas vezes para favorecer criados dossenh ores. Por sua vez Pinh el (1) e Viseu (1), em agravos exatamen te iguais,onde se ouvia com nitidez a voz das aristocracias locais, invectivaram con-tra o corregedor que obrigava os fidalgos, cavaleiros e escudeiros de linha-gem e os vassalos e cidados honrados a irem at a forca ou pelourinho,

    onde a justia se havia de fazer, chamados por prego, igualando-os emtodo com ho dito comum e no lhes guardando os privilgios.

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    Maria Helena da Cruz Coelho

    2 CORTES DE SANTARM DE 1482CAPTULOS ESPECIAIS

    Natureza dos requerimentos Total %

    Administrao central 7 23,3

    Administrao local 2 6,7

    Social 9 30,0

    Econmico 12 40,0

    Total geral 30 100,0

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    Esgrimiam estes nobres e grados com o argum ento de q ue pois diferem-ciadamente ham de servir vossa senhoria nas guerras no que a elles per-temcee em seus graos razoada cousa seria serem diferemciados dos meno-

    res. E porque a D. Joo II no interessa uma sociedade subvertida, masordeiramente hierarquizada, de pronto, defere tal pedido.

    Seria, tam bm, esta m esma elite que estava muito atenta aos des-mandos senhoriais, desejando v-los corrigidos. Queixas contra a fidal-guia se erguem pela voz sobretudo de Loul, mas tambm de Ponte deLima, G uimar es e Serpa.

    Loul (1), em expressivo e desassombrado artigo, a cusa D. Afon soV de t-los lanado em cativeiro, porque dera a vila em senhorio. E maisesclarece que se antes eram do du q ue de B ragan a, agora j os seus fidal-

    gos diziam q ue a vila era de sua heran a o q ue, senh or, muito sentimossermos de senhor e agora sermos dos servidores. Prontos estariam paraoutra terra rgia em que vivessem, se no esperassem ser libertos da su-jeio por D. Jo o, a q uem cha ma m nosso Messias . Mas a esperan a te-ria sido algo frustrada, quando o monarca adia a resposta para as cartas.Mais especificamente, acusava ainda esta vila Nuno Barreto, a quemAfon so V dera as dzima s do pescado do Porto de Farrobilha s, bem comoum alvar q ue lhe outorgava poderes de dar terras e ch os a q uem a q ui-sesse fazer casas, sobrepondo-se assim costumeira alada dos juzescomo sesmeiros, o que causava dios. Ainda, e de novo, o rei adia a res-posta para obter informaes do contador. E tambm este concelho (1),coincidindo no seu querer com o de Guimares (1), que apela para ocumprimen to do estipulad o nas Cortes de 1481-1482, reclaman do q ue oscorregedores e ouvidores dos senhores s estivessem nos cargos por 3an os. E aq ui o assentimento rgio claro, precisan do m esmo o q ue dei-xa ra exposto n os captulos gerais, j q ue, semelha na dos seus correge-dores, ta mbm estes deviam estar n o cargo a penas por um trinio, e or-denando que tal se assentasse nos captulos gerais.

    Por sua vez Ponte de Lima q ueria ver corroborada um a sentena do

    corregedor, a qual, cumprindo uma ordem rgia que deferia um pedidoconcelhio, mandara devassar todos os coutos, uma vez que no tempoda do a os seus possidentes, estes n o h av iam mostrado o respectivo privi-lgio. Aceita-se D. Joo, ainda que ressalve a possibilidade da apresenta-o de ra zes por quem se sentisse lesado. Serpa, por sua vez, especificaque os fidalgos tm terras defesas, sob determinadas penas, onde apas-centa o gado. Logo, se esse mesmo gado entrasse nas terras defesas doconcelho , deveria pagar idnticas penas. D. J oo II, na sua resposta, pa-rece ir mais longe. Apelando para captulos j determinados em Cortes,

    interdita aos que tinham coutadas a pastagem nas terras concelhias, es-pecifican do a inda q ue estas eram couta das do m esmo modo qu e as deles.

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    Mas a lm da conflituosidade com os senh ores, h avia a conflituosi-dade com outros protagonistas dos poderes concelhios.

    Vila Viosa (5 e 6), q ue se diz sobrecarregada de h om ens privilegia-

    dos, qu eria q ue os cristos novos no fossem isentos de servir dura nte 20an os, como o m an arca man dara, insinuando at q ue muitos, falsamente,haviam-se convertido. Da mesma maneira, espingardeiros e besteiros ououtros privilegiados, quando eram citados pelos juzes, por crimes ou d-vidas, eximiam-se de responder, alegando que s o deviam fazer peranteo a na del-mor, espingardeiro-mor ou mon teiro-mor, o q ue os deixava im-punes, j q ue era trabalhoso chegar a to distan tes julgadores. Desconh e-cendo-se as respostas aos pedidos deste concelho , n ada sabemos sobre asdeterminaes joaninas. Conhecemo-las, porm, para Olivena. E curio-sam ente a voz q ue pugna por este concelho, ta l como a q ue representouo a nterior de Vila Viosa, n o pa rece ser dema siado a feita s elites gover-na tivas. Assim, m uito sintom aticamente, Olivena afirma ter como m aiorriqueza as suas vinh as e olivais. Ma s nesses bens sofrem danos dos gados,porque os alcaides, grande e pequeno, e os que andam nos pelouros oudetm os ofcios, tm parte nas carniarias da vila, quer de cristos querde judeus. E, como dizem, fazem impun emente todo o m al, tan to por se-rem principais, como pela presso que advm do cargo e ofcio que de-sempenham. Roga, ento, por uma ordem rgia interditando a tais ho-men s a ca rniaria, pois, mesmo as mu ltas j decretadas pelo conde de Oli-

    vena12 com esse fim n o era m respeitadas. Aspectos a salienta r. Estes la-vradores das vinhas e oliviais pareciam ter o apoio do seu senhor, contraas exorbitn cias da s elites dirigentes. E tiveram t am bm o beneplcito r-gio, q ue pun ia os prevaricadores com 20 cruzados, semelhan a do q uese passav a em Estremoz.

    Os demais artigos apresentados visam a aspectos da administraolocal ou da econo mia concelhia.

    Faro (1 e 2) quer ter alcaide de seu foro e almotacaria no pescado,segun do os seus usos, o q ue o mona rca confirma . Mon forte (1) e Vila Vi-

    osa (3) luta m pelo respeito do seu privilgio de isen o de porta gem.Loul (2) est muito preocupada com o investimento que fez noPorto de Farrobilhas, pois seus moradores, apesar de se abastecerem navila, o qu e at faz subir os preos, no lhe trazem nenh um pescado, an -tes o exportam todo para Castela, o que no parece justo, ficando decidi-do q ue um a parte rumasse a Loul. Igualmente temiam (3) por ouvir di-zer que o soberano desse um esteiro do porto, onde a rrecada vam os na -vios, para se construrem azenhas, o que D. Joo II manda averiguar.

    Se a defesa do m ar a preocupao d os algarvios, a defesa da ter-ra ocupa Olivena e Vila Viosa. A primeira terra front eiria, tem acres-

    cido problema s. O a bastecimen to de lenha e ma deira a o concelho esta-

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    va dependente de Castela, que assim ditava as leis e condies que lheeram mais favorveis. Mas com o tempo, por inimizades e feridas dasguerras passada s, deixaram de enviar, pelo q ue o concelho rogava o pri-

    vilgio de se poder aba stecer em J urom enh a, Alan droa l e Terena , e po-der trazer lenha e ma deira pelos portos de Odiana , sem pagar portagem.D. Joo II compreende a situao e defere o pedido. Mas, como seutimbre, doutrina. Pondo a tnica que j esboara no deferimento aPon te de Lima sobre os cou tos na bilat eralidade. Assim Olivena ser-vir-se-ia das matas e charnecas pblicas como os moradores daqueleslugares, os quais, reciprocamente, vizinharam aos espaos pblicos deOlivena, no que tivessem necessidade. Por sua vez nas terras privadascomprariam a lenha e madeira, de acordo com a vontade dos seus do-no s. Porm, com o ta mbm seu u so, pe a deciso experincia, e as-sim ela ser vlida por 3 anos. Ainda Olivena, dividida entre os pro-ventos das vinha s e olivais e os do gado, fa z de novo ouvir a voz dos la-vradores. Que reclamavam contra as queimadas que os ovelheiros fa-ziam n aq ueles bens, pedindo o a oitam ento por tal crime. O crime m e-rece castigo, sabe-o D. J o o II. Mas n o a qu ele, na a ssun o do n orma -tivo da justia rgia. Os rus seriam presos e pagariam de cadeia 4.000reais, metade para as obras do muro e metade para quem os acusasse.Mas, para que ningum pecasse por ignorncia, esta ordem devia serapregoada no concelho. Remata, no entanto, deixando margem a que

    imperasse alm desta, segundo o direito ou ordenaes, alguma outrapena q ue n o fosse de dinh eiro.

    J vimos que em Vila Viosa igualmente se digladiavam terrate-nentes e criadores de gado. Mas este concelho de tudo se queixa. Noquer que entre vinho de fora no concelho, concorrenciando o dos vizi-nh os (8); n o q uer pagar custos to elevados na ba rca de J uromen ha (7);deseja acaba r com o tributo concelhio da sisa velha para incentivar o co-mrcio (4); no q ue ser obrigado a plan ta r am oreiras (2). E tudo isto,para alm dos agravos a que j aludimos. Pressente-se uma economia

    concelhia dividida en tre os lucros das tradiciona is culturas mediterrn icasda vinha e oliveira e os da criao do gado, onde, alm disso, as transa-es com erciais se pretendem ver dina mizad as.

    Expostos esses assuntos locais nas Cortes de Santarm de 1482,q ue obtiveram , no seu conjunto, um total de 56,7% de respostas favor-veis do soberan o, com o o grfico o dem on stra, o s povos assistiram, comoespectadores, ao agir do seu rei.

    Viram ou souberam do enforcam ento do 3. Duq ue de Braga na emjun ho de 1483.13 Mais teriam sabido q ue, n o a no seguinte, o prprio m o-narca matara o duque de Viseu e mandara executar muitos dos seus se-

    q ua zes. E q ue, a inda em 1485, gran des membros da fidalguia eram pre-sos, mortos ou se exilavam . Toda a sucesso das notcias, ma is ou men os

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    O FINAL DA IDADE MDIA

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    reais sobre con spiraes, impressiona riam o povo . E n o men os o deixa-riam temen te ao seu rei e senh or, estas atua es firmes e decididas de D.Joo II. Que tambm lhes conviriam . Atacan do o poder senh orial, esta-va o monarca fazendo diminuir as presses com que os senhores, por viade regra, sobrecarregavam os povos. E estes cada vez mais confiariamnum soberano q ue se impunh a e ou sava fazer frente a q uem n o lhe obe-decesse ou jura sse fidelidade, por m ais poderoso q ue fosse. Ca da vez ma isos povos reforariam a imagem do Messias, que Loul j propalara em1482. sua proteo se encomenda vam e do seu poder e man do n o du-vidavam. Na linguagem das formas rever-se-iam nessa simbolizao domona rca nu m pelican o, a cujas asas sabiam poder acolher-se como filhos.No menos enten deriam a sua vont ade, expressa por palavras, na divisaqu e para si toma ria por sua ley e por sua grey .

    A projeo dos feitos de alm-ma r aureolava m sempre e mais a suapessoa. Entre 1481-1482 construa-se a fortaleza de So Jorge da Minaque dava cobertura ao comrcio africano, assim vigiado e protegido mili-ta rmen te. As viagens de Diogo Co em 1482 e 1484 faziam avan ar o do-

    mnio portugus, q ue orgulhosamen te se assinalava com padres, at aoZaire e Serra Parda. Em 1488 Bartolomeu Dias, dobrando o continenteafrican o, o Cabo da Boa Esperan a, oferecia ao m ona rca a certeza de q ueo caminho para a ndia n o era u ma qu imera ma s uma realidade. Os s-ditos ouviriam, doravante, o seu senhor intitular-se rei de Portugal e dosAlgarves, daqum e dalm mar em frica e senhor de Guin. E nessedomnio de frica, D. Joo II reiterava ainda numa poltica marroquina,reforando o povoamento das suas praas, e ganhando a obedincia dosmouros de Azamor, embora menos bem-sucedidas fossem as expediesa Anaf em 1487-1489, visando construo da fortaleza da Graciosa,muito se investiu e pouco se conseguiu.

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    3 TIPOS DE RESPOSTASCORTES DE SANTARM DE 1482 CAPTULOS ESPECIAIS

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    Certo que, quando se abrem Cortes em vora, no ms de marode 1490, na seqn cia da s negociaes abertas em 1488 para o ca sam en-to do infante herdeiro, D. Joo II era um rei obedecido internamente e

    prestigiado no exterior. Por isso acalentou o sonho de, atravs do matri-mnio do seu filho Afonso com Isabel, filha dos Reis Ca tlicos, un ir nu mapaz dura doura os reinos de Portugal e Castela.

    um monarca repleto de esperana pelos frutos que a poltica ul-trama rina lhe prometia e pelo casam ento projetado para o seu filho comq ue v o lidar os povos nas Cortes de vora d e 1490.14 E o soberan o pede-lhes que se associem a o seu qu erer, sustenta nto as festas de casamen to doseu princpe, com o que entendessem, pela sua generosidade e com-preenso. Sem exigir, antes confiando, o soberano recebe dos procurado-res das cidades e vilas o com prometimen to de con triburem com 100.000

    cruzados. Um clima de abertura ao dilogo se instalara. E assim vemosD. Joo II deferir total, parcial ou condicionalmente quase 60% dos agra-vos gerais q ue lhe foram apresentados, para s indeferir cerca de 30%, oq ue o grfico demon stra.15

    O maior nmero de pedidos destina-se a precisar a eleio e ascompetncias ou a morigerar a busos dos oficiais rgios, sejam da justia desembargadores, corregedores, meirinhos da correio, oficiais da cor-reio, juzes de fora, juzes dos resduos e rfos16 , militares anadeldos besteiros17 fiscais siseiros das carnes, almotac-mor, alcaides dassacas e portageiros18 , ou da escrita escrives e tabelies.19 E, curiosa-ment e, todo os pedidos foram contemplados com deferimento s totais ouem parte e alguns sob condies. 20 Certas questes de ndole jurdica oujudicial se lhe juntaram, procurando os povos aliviar os gravames da

    complexidade judicial, m ostran do-se o mon arca a qu i ma is reservado, n oquerendo inovar,21 indeferindo22 ou sendo evasivo.23

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    4 TIPOS DE RESPOSTASCORTES DE VORA DE 1490 CAPTULOS GERAIS

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    A segund a m aior fa tia de pedidos diz respeito a o social. Ma s de as-sina lar qu e se calaram q ua se por completo as vozes contra as opresses dafida lguia. M uito prova velmente porq ue, suprim idos os grand es senh ores, a

    nobreza q ue ficara n o t inh a a m esma capacidade general izada de subjugaros hom ens, para alm da s at itudes rgias recom enda rem a conteno.E com uma nobreza assim controlada o monarca podia de novo

    agra ci-la. De n ota r, q ue n o cedeu ao s pedidos do Terceiro Estado n osentido de serem limitados os dotes de casamentos e arras da fidalguia(21),24 nem ta mpouco interdio da sua pou sada em vilas e lugares qu eno lhes pertencessem (24).

    Ma is firme se mostra cont ra a s pretenses das elites locais q ue q ue-riam dominar homens, afastar concorrentes e governar sem interfern-cias. Ou, se quisermos colocar a q uesto sob ou tro n gulo, D. J oo II ar-vora-se em defensor dos q ue realmente traba lham e aspiram a melhorescondies de vida.

    No permite que se obriguem os filhos dos lavradores a seguiremas profisses dos pais, interditando-lhes outro modo de vida, como, porexemplo, o artesanato (29).25 Adia a deciso do afastamento dos mestei-rais da c ma ra de Lisboa ou a restrio de os colocar apenas como colhei-ros e sem voz (12). No proibe o ofcio de alfeloeiro (37).26

    Em contrapartida nega o privilgio de cavaleiros, cidados, nobreshomens e escudeiros, com mais de 50 anos, poderem andar em bestas

    muares a vigiarem as suas fazendas e a tratarem dos seus negcios (42).E mesmo os pedidos sobre os judeu s, que iam no sentido de lhes restrin-gir as suas liberdades, interditando-lhes ofcios e arrendamentos (16), 27

    obrigand o-os a cita r os cristos peran te os juzes ordinrios (32) e con ce-dendo plena liberdade aos seus escravos (46) convertidos ao cristianis-mo,28 recebem t o-s deferimentos parciais ou cond iciona is.

    Tam bm pa rco na s regalias concedidas a a dministra o local, logos autonomias dos espaos concelhios em que esta aristocracia se movia.Atitude alis consentn ea com toda a sua a tua o centralizadora, em es-

    pecial na fase final do seu governo.29

    S parcialmente defere a interven-o dos concelhos da nomeao dos mamposteiros dos cativos (9) ou naeleio dos coudis e juzes dos rfos (35). E recusa, por completo, o pe-dido a fim de q ue o mon arca n o passasse cartas rgias de recomen daopara oficiais dos concelhos (25)30 ou de q ue o errio concelhio no supor-tasse as despesas da s obras na s prises (26). Com o, no q ue a o fisco d iz res-peito, n o an ui abolio das dzimas das sentenas (44), n o aceita mo-dificaes nos contribuintes dos 10 reais de Ceuta (34) e s sob certascondies consente que a tera seja utilizada para as obras dos muros(36). E se a este conjunto de pretenses sociais e administrativas

    frustradas por parte da gente n obre da governan a jun tarmos alguns ou-

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    tros indeferimentos em nvel econmico, completa-se o sentido do que-rer de um monarca que desejava ter todos os poderes e poderosos sujei-tos ao seu cont role e que os pequenos o vissem como seu defensor e pro-

    tetor.31

    Tenta ram os criadores de gado fugir fiscalizao das autoridadesrgias, o q ue lhes permitiria u m com rcio lcito ou ilcito de a nimais maisrent vel. Foi-lhes negado .32 Tenta ram os comercian tes elimina r os mono-plios das exporta es, mormente de cortia (18).33 Receberam u ma eva-siva. Quiseram ainda retornar aos pesos e medidas antigas (33). O pedi-do fo i indeferido. O sim rgio era dado com critrios. Nun ca a condescen-dncia devia interferir nos planos gerais do rei ou do reino.

    Dessas mesmas Cortes possumos um tot al de 60 captulos especiaisprovenientes dos interesses de 17 concelhos.34 Portan to o dobro dos agra-vos especiais apresentados nas anteriores Cortes de 1482. O longo espa-amento desta reunio, em relao anterior, assim o justificaria.

    Com grande generosidade o monarca defere totalmente 66,7% dospedidos, o q ue, jun tan do-lhes aq ueles a q ue an ui ainda qu e em parte ousob condies, perfaz o substancial monta nte de 86,6%, como o grfico oatesta. In defere expressam ente a penas 4 captulos e adia outros tantos. Al-canada a paz interna, acrescentando o prestgio e o proveito de um Por-tugal que crescia em frica e sonhada a concertao ibrica, D. Joo IIvia-se inclinado a favorecer os povos.

    Os captulos que visam aos problemas econmicos dos concelhospredominam , para depois se lhes seguirem os qu e dizem respeito admi-nistrao centra l e ao social e, por fim, se apresentarem os relat ivos ao fis-co e adm inistrao local, o q ue o qu adro melhor especifica.

    A crtica aos oficiais rgios no apresenta novidades em relao ao

    q ue sempre se reclam ava em Cortes um a a tua o da s autoridades den-

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    5 TIPOS DE RESPOSTASCORTES DE VORA DE 1490 CAPTULOS ESPECIAIS

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    tro da s suas ma rgens de competncias. Todavia verifica-se q ue se os exe-cutores da justia corregedores35 e juzes das sisas36 continua vam a servisados, agora so-nos maximamente os oficiais do fisco, em especial osalmoxa rifes. Este, em Lagos (3), fazia casas na ribeira e n o deixava espa-o para o s da vila carregarem m ercadorias, bem como fretava todas a s ca-

    ravelas para irem buscar trigo em Aores e lev-lo para a frica, deixan-do os vizinhos sem nenhuma para, em seu proveito, se abastecerem detrigo (5); enquanto em Aveiro (1) tirava a cadeia para alfndega,37 e emSilves (2) vivia fora da sede do almoxarifado, o que o devia fazer perdero ca rgo. Tam bm os oficiais dos pan os delgados q ueriam sisar os aveiren-ses (5), mesmo n os pan os que retirava m pa ra uso de suas casas.38 E os ofi-ciais rgios de Setbal (2) faziam estran ho s con luios. Depois de aos almo -creves terem sido con tad as a s sardinha s e pescados pelos oficiais da ribei-ra, e carregados os animais, quando iam pagar a sisa, certos oficiais, a pe-dido dos rendeiros judeus, queriam que eles declarassem, com juramen-to sobre os Evangelhos, o nmero de milheiros de sardinhas que leva-vam . Ora eles n o sabiam o q ue levavam , salvo o q ue lhes fora dito peloscontad ores, n em lhes parecia justo fa zer juram ento, estan do os Evange-lhos nas mos dos infiis, pedindo portanto o respeito pelo costume.

    Uma rede burocrtica ma is atuan te sobre a cobran a de direitos r-gios, mormente a que provinha das transaes comerciais, deixava me-nos liberdade de manobra aos comerciantes ou at os pressionava. Aper-tava -se o cerco da fiscalidade estatal. E a fazenda n o q ueria ver escaparos proventos de qualquer atividade. Assim se queixava Coimbra (2) de

    que o monteiro da mata do Boto no os deixava a matar pombos, ex-

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    6 CORTES DE VORA DE 1490CAPTULOS ESPECIAIS

    Natureza dos requerimentos Total %

    Administrao central 13 21,7

    Administrao local 7 11,7

    Social 12 20,0

    Econmico 19 31,7

    Fiscal 8 13,3

    Militar 1 1,6

    Total geral 60 100,0

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    pondo Lagos (4) que os oficiais rgios queriam penalizar os que traziamsesmarias por a proveitar, justifican do-se os povos com a s guerras, fomese pestes para o no ter feito, justificao aceita pelo monarca.

    Alm das au toridades delegada s do rei, ou tro poder externo a mea-ava pontua lmente certas cidades, vilas e luga res, o dos senh ores. Em ca-ptulos especiais, sintomaticamente, as queixas contra a fidalguia aumen-tam face a os gerais. Depois das mortes e perseguies dos gran des estabi-lizara-se o quadro da nobreza.39 Alguns filhos segundos das famlias tra-dicion ais receberam cargos e benefcios de D. Jo o II,40 outros de uma n o-breza mdia e baixa sedimentaram as suas posies na clientelagem e fi-delidade ao novo mon arca.41 A natu ral tendncia para os nobres estende-rem abusivamente os seus tentculos de poder e influncia em nvel lo-cal tende a manifestar-se. Ainda que, diga-se, exageradamente.

    A memria dos atos do duqu e de Bragana a inda perdurava. Bra-gana (5) expunha que o duque mandara tomar o dinheiro dos rfos,comprometendo-se o monarca a devolv-lo, se ele os havia sacado comalvar rgio.

    Lagos (1) acusava lvaro de Atade, que em doao rgia receberaa casa do sal por 12.000 reais, de no a abastecer de sal. Com o aumentoda pesca, mu itos iam buscar sal em Ca stela, o qu e ficava muito caro, pe-dindo o concelho pa ra o explorarem a partir de ma rinh as da zona , o qu e,sob certas condies, lhe ser concedido.42 Reclamava ainda (7) contra o

    privilgio real concedido ao comendador de Aljezur de aposentadoria navila, para ele e sua comitiva, por 3 meses ao an o, pedindo q ue ele alugas-se as casas e paga sse as roupas e comida. Toda via D . J o o II indefere o pe-dido, reiterando o privilgio por 3 anos, talvez o tempo do benefcio. Jno caso de Torres Vedra s (4), vila de ra inh as, qu e se dizia lesada pelasobras do mosteiro do Varatojo e pela estadia de vrios membros da fam-lia real, rogan do q ue a s aposenta dorias fossem paga s, D. J oo comprome-te-se a n o dar a lvars de aposenta doria para a vila du rante 5 an os.

    Agravo mais genrico expe ainda Lagos (2) contra a manobra de

    alguns moradores se fazerem vizinh os da vila do Infan te, buscan do, a ssimo cremos, a proteo dos herdeiros desta casa, por este meio se isentandodos encargos concelhios, mas tambm dos rgios. E aq ui o concelho aludeexpressam ente o rdem de D. Joo II para cada um fa zer quatro a lqueiresde biscoito para a bastecer a a rmada que seguiu para a frica na m isso deconstruir a fortaleza da Gra ciosa, tendo-se aq ueles escusado , bem como senegaram a contribuir para a taxa concelhia que iria subsidiar os trabalhosde vinda de gua doce vila e a construo de uma gafaria, poo e posti-gos. Muito claramente o soberano afirma que s admite privilegiados aquem ele tenha agraciado, a tudo compelindo os referidos.

    Ainda uma acusao expressa faz Silves (3) contra Diogo Nunesq ue devia ter o provento das dzimas reais e oprimia na sua cobran a, de

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    tal modo que os povos diziam ser isto pior que pagar as sisas em dobro.Por sua vez Lam ego (3) verbera contra o con de de Ma rialva 43 que tinhaos direitos reais da cidade e no respeitava as normas foraleiras da arre-

    cadao da portagem, apelando D. Joo II ao cumprimento do direitoconsuetudin rio. Arrecadar o m ximo, qu an do os direitos reais lhes eramdoados, tornava-se um imperativo dos senhores, o que explicava todosestes abusos.

    Num q ua dro ma is geral, Barcelos (1) d conta de ban dos de fidal-gos que erravam pela vila fazendo arruaa e aterrorizando as pessoas.Precisa D. Joo II que os fidalgos moradores na vila e termo no se po-dem lanar fora, mas aos demais restringe a estadia na vila a 5 dias.

    Quan do a fidalguia desempenha va altos cargos, como em Estremoz(3), na pessoa do seu alcaide-mor que era conde, 44 ento os perigos tra-duzem-se em interferncia na administrao concelhia. Assim, quandoha via fugas da priso, o juiz por certo juiz de fora45 , por ordem do al-caide, ma nda va os vereadores tomar a chave da cadeia e gua rdar os pre-sos. Logo os homen s bon s, vexados e obrigados, negavam-se ao exercciode tais cargos. Era ta mbm u m abuso sobre a priso do concelho, a afron-ta que a Guarda (2) aduzia contra o seu bispo, que a utilizava em vez dasua prpria, nico agravo contra a clerezia nestas Cortes. 46

    A vida interna dos con celhos, do seu a parelho governativo s sua sfinanas, medidas econmicas ou problemas sociais, emerge tambm em

    vrios agravos.O concelho de Silves (1) requer a liberdade de eleger em cmaracorretores, os qu ais lhe gara ntiam um melhor controle de compra e ven-da de mercadorias, o que o soberano consente at ao nmero de quatro.Em Extremoz (2) ser a voz da elite governativa qu e se ergue para con-denar o modo de atuar de dois aposentadores eleitos pelo povo que atroa m toda a terra, pedindo logo qu e se escolhesse, por eleio, um dopovo e outro escudeiro, talvez assim se amoldando melhor o cargo s cli-vagens sociais existentes. Mais alto se erguem as mesma vozes (1) contraa say oria de serem 12 hom ens dos mesteres a receberem a s teras paraos muros e as coimas dos gados. Num a q ua lquer conjuntura favorvel, ha-viam os mesteres conseguido estas cobran as, que perpetuava m, fa zendo-se eleger em sua s casas e roda ndo entre si sapateiros, teceles e outros of-cios, no q ue, como bem sabemos, reproduziam as estratgias de poder daselites. S o a inda acusados de n o desempenh arem os seus mesteres depoisde serem eleitos, alm de, h 18 anos, no darem conta do dinheiro arre-cadado, nem terem feito obras. Mas o seu reinado parece estar chegan-do ao fim. O monarca acede ao pedido dos governantes de Extremoz. De-termina que os cobradores fossem apenas dois, eleitos em cmara pelos

    juzes e oficiais, e s deviam correr a terra por mandado dos oficiais e es-tando presente um tabelio que tudo anotasse. provvel que houvesse

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    de fato u m a buso. Mas o ma ior seria, sem dvida , os mecnicos terem con-seguido lugares no aparelho governativo, e sobremaneira de cobrana,nu ma poca em que por toda s as Cortes se atra vessava m a s vozes das eli-

    tes dirigentes contra a intromisso dos mesteres na governana.Outros grupos sociais interferiam com a administrao concelhia.Assim, em Torres Vedra s (1), un s quant os que se queriam privilegiado s besteiros da cmara e do conto, moedeiros e ainda jugadeiros e caseirosdo clero ou fidalguia escusavam-se dos encargos concelhios, no que omonarca no consente. Aqui advogava-se com privilgios. Noutros casoscom distncia. Os homens do termo, que viam nos oficiais da sua sedeapenas dominncias e no esperavam haver por eles defendidos os seusinteresses nas mais altas instncias, negavam-se a contribuir para as fin-tas que os concelhos lanavam a fim de custearem os procuradores sCortes. Assim o declarava Braga (1), enumerando os termos que deseja-va ver compelidos, e Lamego (1), que pretendia estender este encargomesmo a todo o almoxa rifado, ou , pelo men os, aos concelhos duas lguasem redor, dos qua is se sent ia cabea. E daq ui ressalta m claramen te as pre-ponderncias de alguns concelhos mais poderosos em face de outros quegravitavam na sua rbita, como o jogo de influncias e presses dos ho-mens da cidade sobre os do termo.

    E peran te esta rea l situa o vivida, por vezes h acordos, outras ve-zes engan os. Com o s hom ens do termo o concelho d e Braga na h avia fei-

    to um pacto (3) no serviam nos encargos concelhios, remindo essaobrigao com o pagam ento de 4 alqu eires de centeio an ua is. Mas eramtambm esses mesmos hom ens (6), ta lvez com um certo poder econ m i-co, q ue se conluiava m com a lgun s amigos e na s sua s casas citadinas ven-diam as mercadorias para n o paga r sisa, iseno de q ue s deviam des-frutar os que tinh am casa prpria n a cidade.

    Todo s queria m fruir da s liberdades concelhias, poucos desejava m,todavia, suportar as obras comuns e as finanas locais, buscando escusas,como j v imos no ca so particula r das despesas extrao rdin rias dos procu-

    rado res s Cortes. Alm de q ue a interseo en tre finan as interna s e fis-calizao estava sempre presente.Justam ente o concelho de Bragana (3), que recebia dos homens do

    termo os quatro alqueires de centeio, que os isentava dos encargos, acusa-va o juiz dos resduos de lhe querer levar a tera desse po para as obras, oque n o lhe parecia justo e o mona rca a ssim o corrobora porque n o setratava de um a renda perma nente de concelho. Tam bm G uimares (1),com a escassa renda de 4.000 reais, que, como dizia, gastava toda na festado Corpo de Deus, pusera um imposto de 1 ceitil por can ada , no vinh o a ta-bernado da vila e termo, rogando ao monarca que, dos 10.000 ou

    12.000 reais que estimavam poder arrecada r, no pagasse o tero, pois j ti-nh a de dar 2.000 reais para o relego, no q ue tam bm D. Joo II concorda.

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    A tera era pesado t ributo a solver coroa . No poucas vezes se er-gue, ento, a voz dos concelhos para rogar ao soberano que a mesma fi-que no concelho para servir s obras comuns. Nestas Cortes pediram-no

    Aveiro (4), Coruche (1), Setbal (1) e Torres Vedras (2). D. J o o II defe-re caso a caso, talvez com conhecimento das situaes concretas. Conce-de iseno por 5 anos a Aveiro e Coruche e nega-a aos outros dois con-celhos. Igualmente dura para os vizinhos era a contribuio para os pedi-dos, sobretudo porque a sua cobran a da va motivo m uitas vezes a exces-sos. Logo o concelho de Bragan a (7) qu er ser declarado com o pago dos8.000 reais da sua parte n o pedido dos 50 milhes. Por sua vez Aveiro (6)diz haver um saldo, n a an terior percepo do pedido de 40 milhes qu eagora desejava ver descontado na cobran a deste.

    Um governo concelhio aten to devia zelar pelo q ue se arrecadava e sepagava . Igua lmente devia ser dinm ico na defesa dos interesses econ micosprprios, penh or da riqu eza local. Con forme os contextos, ouvimo s ento pe-didos qu e tenta m v alorizar o comrcio, a criao de gado o u a agricultura.

    No q ue s transaes diz respeito n o se queriam perder, em primei-ro lugar, as liberdades foraleiras e depois os tributos legais que sobre asmesmas impendiam e alguns, fraudulentamente, procuravam ludibriar.Fosse vendendo fora da cidade como fazia uns quantos que comerciavamsal e pescado pelos termos de Aveiro (2), fosse trazendo os bens para a sededo con celho , a fim de se aproveitar das isenes a praticada s, como agiam

    os de Bra gan a. Desejava m os concelhos ter lugares de venda cativos e pri-vilegiados. Barcelos (2) qu eria um mercado m ensal, onde os do termo fos-sem obrigados a ir comerciar. Lamego (2) pedia a iseno da sisa por 15dias para a sua feira. A ambos os pedidos acede o mon arca.

    E para que o comrcio interno fosse uma realidade, era preciso ha-ver produtos. Que deviam ser importados qu an do faltava m. Que se qu e-riam defendidos com prioridades de venda. Por isso Lagos (6) deseja al-can ar e consegue-o a liberdade d e ir buscar trigo ao Norte da frica,a Ma zago e Ca sa do Ca valeiro, onde ele barato, pois, como argum en-ta, se os catelhan os assim o fa ziam , ma is lhe parecia razo vel que ta mbmeles o pudessem ir buscar. Como no queriam que os pescadores da vilavendessem toda a sardinha aos castelha nos (8), o que estes faziam a t aum preo mais barato,47 mas antes exigiam que a trouxessem vila poresse mesmo preo, para depois servir de moeda de troca com os almocre-ves q ue at a acarretava m o trigo.

    Prioridade de venda, sem concorrncia, se requeria para o vinhoque devia abundar e, no sendo de boa qualidade, podia azedar antes dedar qu aisquer lucros. Coimbra (1) pretende qu e lhe respeitem os 4 meses maio, jun ho, julho e a gosto em qu e os vizinh os tinh am direito ven-

    da. E tam bm este concelho, de um a artificiosa ma neira, pede a defesa do

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    comrcio do azeite, a sua outra riqueza. Queria manter as suas medidasprprias, ma iores que a s dos dema is concelhos, o q ue n o incentivava osvizinhos a compr-lo no exterior. Outros concelhos acusavam a concor-

    rncia do vinho de fora, que essencialmente era comprado pelos estalaja-deiros, tanto em Bragana (4), como na Guarda (1), que se viram seve-ramente acusados.

    Mas a defesa da agricultura tinha outra s frentes, sendo a princi-pal o conflito com a caa e criao de gado. Coimbra (3) pede assim ainterdio da caa s codorna s, no s milhos. B ragan a (2), porqu e ter-ra de lavras, pretende ter uma rea coutada onde, sem danos, possacriar os bois, porque na indissolubilidade do binmio animal-terra, denenhum pode prescindir. Mas a rivalidade gado-agricultura por vezesdifcil de gerir. Assim em Elvas, qu e apresent a q ua tro ca ptulos a fim demorigerar o s abusos q ue os a nima is faziam na s vinh as e olivais, sentin-do-se o peso dos criadores, mais ricos e poderosos, em face dos agricul-tores. Ou, sejamos cautelosos, estava o discurso a ser proferido por la-vradores que en egreciam o q ua dro? A seu lado se coloca, porm, o mo-na rca, deferindo todo s os pedidos. E eram precisam ente esses criadoresq ue n o desejava m ver anu almente o seu gado a rrolado pelo alcaide dassacas, como o clam ava Miran da do D ouro (2). Expunha qu e, em tal cir-cunstncia, no se entrava em linh a de conta com aq uele que m orria ouo lobo comia, mas no escondia que tambm podia ser vendido a pas-

    sadores, embora para tal pedisse penas. No foi o monarca sensvel aosargum entos e indeferiu o pedido.

    Castela era, para as terras fronteirias, ora uma ameaa, ora umaoportunidade. Nada melhor, n estes lugares afronta dos, do q ue a bilatera-lidade no agir. Logo expe Olivena (2) que os castelhanos deviam poderlevar para a sua terra m etade do trigo qu e aq ui cultivavam , j q ue o mes-mo era facultado a os portugueses qu e trabalhava m, em Ca stela, o q ue D.J oo II permite por 3 an os.

    Finalmente, em dois captulos, os concelhos fazem eco das suas

    preocupaes com a sade pblica. Coimbra (4) queria ver todos os seushospitais num s, at para evitar que s custas dele mais se suportassemos provedores que os pobres. Tal pedido estava em perfeita con sonnciacom a poltica rgia, prontificando-se D. Joo II a escrever ao bispo paraque se cumprisse. Olivena (4) tinha outro problema um judeu gafo,q ue era siseiro, andava por entre os cristos cobrando a sisa. Quase pode-ram os dizer dois ma les num s h omem . Mas para a difuso da do en-a, pelo cont gio, q ue o concelho apela para o afastar. E o soberano cor-robora-o, numa resposta lmpida e direta se he gafo nom h por quean de nem estee na villa comversan do com os saa os, a q ue esta enfirme-

    dade he oudyosa.

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    No jogo do pedir e do dar, j luga r comum a firmar-se que pesamos argumentos. Expostas ficaram j muitas das razes que invocaram ospovos ou da s funda menta es qu e alicerara m a resposta rgia.

    Mas vale a pena ainda realar alguns pormenores. Pondo em evi-dncia, no pedir, Coimbra, aquele concelho que esgrime mais sistemati-camente com um filosofia argumentativa. Se pugna por ver respeitadaum a sua liberdade expe q ue as mercees feitas sem o feito n am aprovei-tam.48 Se quer acesso caa numa mata, lembra que cada anno (ela)pasa e vem pera soportamento e mantymento da dicta cydade e comar-ca; todavia se a deseja impedir em terras de lavoura, logo aduz que asnov idades e fruitos per qu e se toda a gente governa e ma ntem, a princy-pall he a do pam que he de conservar e nam de destruir. 49 E, finalmen-te, se almejava ver respeitadas as suas medidas de azeite, recordava que as cidades e villas de vosos reyn os damt ygam ente usarom an tre sy fazerposturas e vereaaom e medidas segundo sentya m q ue era m ais proveitoda terra e bem commum a seu viver.50

    Uma boa argumentao no deixaria por certo insensvel o julga-dor. Coimbra tu do viu deferido, a t mesmo o can dente problema das me-didas, ainda q ue as requ eridas n o fossem de po ou vinho, sobre as quaiso monarca j legislara em captulos gerais.

    A destacar, por fim, um argumento de crtica interna, por parte doconcelho de Miran da do Douro. Crtica a um a elite dirigente ou, m ais ge-

    nericamente, a expresso de uma culpabilidade coletiva. Assim, quandorefere que o corregedor no respeita os homiziados, prendendo-os, dizque ele assim age, por um lado porque eles so pobres e no entendemnem sabem requ erer o seu direito, ma s por outro por o concelho ser fro-xo e doer lhe pouco o mall alheo pera escusar estes ynnocentes. 51 Pedi-r e obter um couto de homiziados privilegiados, como o de Freixo deEspada C inta, para a t erra m elhor se povoa r.

    D. Joo II, como dissemos, deferiu quase 90% dos captulos espe-ciais da Cortes de 1490. Mas sobremaneira norteou-se por uma polticana s suas decises. D prova s evidentes de que segue um programa gover-na tivo. As Cortes servem-lhe pa ra o dar a con hecer aos povos em discur-so e em ato. Sem perder a oportunidade de, neste contato direto com oTerceiro Estado, poder ser tambm o senh or da graa, do privilgio, favo -recendo uma parte qualquer que, pela razo ou corao, lhe parecessemerecer o benefcio.

    Na generalidade as suas respostas so um espelho de clareza, obje-tividade e sensatez. Exige o respeito pelas orden aes do reino e pelos ca-ptulos gerais j resolvidos em Cortes. Em alguns casos defere tempora-riam ente, como q ue pondo prova, tan to a sua deciso como o compor-

    tamen to dos povos. A experincia parece j ser a ma dre de todas as cou-sas. Ch ega, em a lgun s casos, a dar m ais do que o pedido.

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    Pontualizemos.Merece-lhe a fiscalidade uma particular aten o deliberativa , cns-

    cio de que n o pode lesar o errio rgio nem to pouco agrava r dema-

    siado os seus sditos. Vejamos o caso especfico das teras.Torres Vedras diz ser um concelho de pou ca ren da , pedindo ent o

    a tera para fa zer perante seus encargos. No o pode o mon arca a ceitar porque a tera se nam deve dar a nynguem por ser cousa de bem com-mu m . Ma s, senh or da graa e cabea qu e dirige o corpo social do reino,acrescenta se hou ver alguma outra renda com qu e possa a juda r, pron-tificar-se- a faz-lo, e porventura o concelho abrisse as vrzeas poderiada colher renda s, q ue desde j se comprometia a n o on erar com a ter-a. Pa rece-no s, de todo , completa esta resposta em n om e de uma lei ge-ral, nega; a bem do local, promete e incentiva, ma s de uma forma m ui-to precisa, garan te de um a concretizao.

    Sabe q ue D. Joo II necessita dos pedidos. Mas n o desconh ece qu eessas remessas so fardo que agrava o j difcil cotidiano dos povos. As-sim, numa ponderada deciso, consente que Aveiro no se lanasse emobras no an o de 1490, como lhe ha via ordena do o corregedor, para se re-fazer do contributo q ue coroa tinha de versar.

    Tal com o j o pressent imos para os captulos gerais, tambm n estesespeciais parece estar a o lado dos estratos sociais que mais necessitam deapoio. Agora, sobremaneira, os lavradores diante dos criadores de gado,

    como referimos. E para sustentar um Portugal moderno, aberto a vian-da ntes e mercadores, sabia q ue eram im prescind veis as estala gens, pelasquais sempre pugnaram os mais esclarecidos governantes, a saber o re-gente D. Pedro. Logo, q ua ndo os concelhos se erguem em clamores con-tra os estalajadeiros, D. Joo II afirma que no so de vedar as estala-gens , ma s apenas os abusos dos estalajadeiros, enu meran do-os um a umpara os conden ar.52 De novo o sentido do particular n o o fa z perder a vi-so am pla do bem geral.

    No q uer ver cometidos erros por ignorncia ou a coberto da igno-

    rncia. Queixando-se Bragana dos exageros dos requeredores de Ceutas,manda que se cumpra o regimento antigo e que os oficiais o leiam parano poderem ser enganados, exigindo das partes plena conscincia dosfatos.53 As cobranas so para se cumprirem, mas no para se ultrapassa-rem, tantas vezes em proveito dos prprios cobradores.

    Finalmente chega a conceder mais que o requerido. Guimaresq ueria iseno da tera pa ra certo imposto concelhio q ue estava lanan -do n ovam ente. Essa graa dada a ele e ainda a renda do verde e outra ssemelha ntes, se as hou vesse.

    D. Joo II no ter desiludido os seus concelhos. Se a poltica joa-

    nin a se delineou sem comprom issos sociais,54 segundo um plan o pessoaldo monarca, ela serviu os interesses do Terceiro Esta do.

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    A presso da fidalguia sobre os povos aliviou-se. A guerra entrePortugal e Ca stela acaba ra, a branda ndo o jugo frreo dos pedidos. A ma -nuteno das praas marroquinas e a expanso pela costa africana exi-

    giam sacrifcios de pessoas e de dinheiro, mas ofereciam mais postos deabastecimento e aumentavam os locais e produtos para o comrcio. Aburguesia conhecia novos e promissores negcios. O renovado dinamis-mo econmico de Portu gal prometia melhores condies de vida . Todos abuscariam. Assim os mesteirais ou filhos de lavradores, a quem o monar-ca n o n ega essa ascenso.

    D. Joo II recusava-se ao livre arbtrio e ao favorecimento de unsquantos. A leie a greipor q ue se pau ta va serviam os interesses do Tercei-ro Estado. Aps o duro perodo de governo d o African o, os con celhos es-peravam o Messias. Cremos poder afirmar que, pelo menos durante al-gum tempo do reinado de D. Joo II, os concelhos acreditaram que oMessias, a um tempo poderoso e protetor, havia chegado.

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    NOTAS1. Leia-se, sobre este tema, a sntese de COELHO, M. H. da C. O peso dos privilegiados em

    Po rtuga l. In : CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTRIA, EL TRATADO DE TORD ESIL-LAS Y SU POCA , I, 1995, Ma drid. p.291-314.

    2. Estas Cortes foram j largamente estudadas, pelo que para alguns estudos mais atualiza-dos remetemo s o leitor, neles se encon tran do, a lis, referncia bibliografia an terior. Assim,e seguindo u ma ordem crono lgica, v eja-se a primeira parte, da responsabilidad e da primei-ra a utora , do a rtigo de G OMES, A. A. A., COSTA, R. As Cortes de 1481-1482: uma aborda -gem preliminar. Estudos MedievaisPorto, 1983-1984, p.151-79, em qu e se aborda o con te-do dos captulos gerais e as respectivas deliberaes rgias. Consulte-se depois a obra maiscompleta sobre captulos gerais de Cortes de SOUSA, A. de, 1990. 2v., q ue n o primeiro vo-lume, en tre a s pginas 420-6, refere-se aos aspectos forma is das mesmas, para no segun dovolum e, entre a s pginas 445-87, dar-nos o resumo dos seus 172 captulos e o t eor da s res-postas do monarca. Finalmente tambm MENDONA, M. D. Joo II : um percurso humano e

    polti co nas or igens da modernidade em Portugal. Lisboa: Estampa, 1991. p.195-249, estuda as

    preliminares da convocao e abertura destas Cortes, bem como analisa os assuntos dos ca-ptulos gerais e respostas do m ona rca. O n osso estudo indicar, ba sicamen te, sobre os cap-tulos especiais das Cortes de 1482, nicos que nos chegaram, e at agora no estudados, eas Cortes da vora 1490, quer nos seus captulos gerais, quer nos especiais, estes ltimostambm n o an alisados at o momento.

    3. Veja-se em CHAVES, . L. de. Li vro de Apontamentos (1438-1489). Cdice 443 da C olecoPombalina da B. N. L., introduo e transcrio de SALGADO, A. M., SALGADO, A. J. Lis-boa : Impren sa Naciona l, Casa da M oeda , 1984; o discurso de LUCENA, V. F. de. A forma da smenagens, a planta das Cortes e o instrumento das Cortes, nas folhas 10 v., 40v.-51.

    4. PINA, R. de Chronica del-rei Dom Joo II . In:___. Crnicas de Rui de Pina. Porto: Lello &Irm o-Editores, 1977. cap.V. (Int rodu o e reviso d e Almeida , M. L. de).

    5. Estes valores foram calculados a partir da obra de Armindo de Sousa.6. O estudo desenvolvido do contedo destes captulos especiais, dos grupos sociais e pes-soas neles visados, bem como das respostas rgias compreende a Segunda parte, da respon-sabilidade da segun da au tora , do a rtigo citad o de ANDRADE, A. A., G OMES, R. C. As Cor-tes de 1481-1482: uma abordagem preliminar. p.181-212.

    7. Cortes comeadas em novembro e terminadas antes do Natal desse mesmo ano de 1482(Armindo de Sousa, op. cit., p.426-29).

    8. SOUSA, A. de, op. cit., p.426-29, refere-se aos aspectos formais de reunio destas Cortes,bem com o o faz M ENDONA, M., op. cit., p.249-53, mas n enh um dos referidos au tores sedebrua sobre a anlise dos captulos especiais.

    9. Discrimina nd o, so: 3 captulos de Faro (TT Odia na , liv. 2, f. 270); 1 de G uimar es (TT-

    Alm D ouro, liv. 4, f. 241); 7 de Loul (TT Ch an c. D. J o o II, liv. 23, f. 106-7; Odian a, liv.2, f. 50-50v); 1 de Mo nfo rte (TT Cha nc. D . J o o II, liv. 23, f. 20); 4 de Olivena (TT Odia-na , liv. 2, f. 192-4); 1 de Pinh el (TT Beira , liv. 1, f. 158v-159); 2 d