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Historia do Direito Romano 1º Semestre Direito Romano - Conjunto de normas que vigoram em Roma. Desde cerca de 1900 a 1950, verifica-se uma profunda crise do ensino e dos estudos (no seu aspecto jurídico) do Ius Romanum. Crise essa que foi superada em 1956, após o que o Direito se transformou numa parte integrante e essencial da formação de todo e qualquer Jurista. Hoje entende-se que, quanto mais intenso for o conhecimento do Ius Romanum mais nítida e mais firme será a consciencialização do nosso actual Direito. Noção de Ius Como geralmente acontece com as coisas difíceis, ainda hoje não se sabe concretamente a origem da palavra Ius Ius Iussum - Segundo uns vem de Iussum (ordenar, preceituar); Então o Ius significaria o que está preceituado ou ordenado. Yung - Para outros, deriva da palavra Yung segundo a qual Ius seria aquilo que foi determinado pelo juízes em Assembleia, visto serem estes a expressarem o pensar da comunidade. Ious Modernamente, e já antes, vários autores pensam que Ius tenha a sua origem na palavra Ious, algo procedente da divindade. Iustum - O Dr, Sebastião Cruz parece inclinar-se para Iustum. Logo Ius é tudo o que tem especial relação com o Justo. Âmbito da expressão Ius Romanum Ius Romanum Stricto Sensu = 753 a. C. 565 d.C. a) Ius Romanum Stricto Sensu = Ius Civile (Cives) + Ius Peregrini/ Gentium (Peregrinis)

Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

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Historia do Direito Romano

1º Semestre

Direito Romano - Conjunto de normas que vigoram em Roma.

Desde cerca de 1900 a 1950, verifica-se uma profunda crise do ensino e dos estudos

(no seu aspecto jurídico) do Ius Romanum. Crise essa que foi superada em 1956, após o

que o Direito se transformou numa parte integrante e essencial da formação de todo e

qualquer Jurista.

Hoje entende-se que, quanto mais intenso for o conhecimento do Ius Romanum mais nítida

e mais firme será a consciencialização do nosso actual Direito.

Noção de Ius

Como geralmente acontece com as coisas difíceis, ainda hoje não se sabe concretamente

a origem da palavra Ius

Ius

Iussum - Segundo uns vem de Iussum (ordenar, preceituar); Então o Ius significaria o que

está preceituado ou ordenado.

Yung - Para outros, deriva da palavra Yung segundo a qual Ius seria aquilo que foi

determinado pelo juízes em Assembleia, visto serem estes a expressarem o pensar da

comunidade.

Ious – Modernamente, e já antes, vários autores pensam que Ius tenha a sua origem na

palavra Ious, algo procedente da divindade.

Iustum - O Dr, Sebastião Cruz parece inclinar-se para Iustum. Logo Ius é tudo o que tem

especial relação com o Justo.

Âmbito da expressão Ius Romanum

Ius Romanum Stricto Sensu = 753 a. C. – 565 d.C.

a) Ius Romanum Stricto Sensu = Ius Civile (Cives) + Ius Peregrini/ Gentium (Peregrinis)

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Historia do Direito Romano

Costume

b) Ius Romanum Stricto Sensu = Ius Civile (Cives) Lex

iurisprudêntia

+ Ius Praetorium

(actividade do

magistrado Pretor)

A expressão Ius Romanum pode ser tomada em 3 acepções (sentidos):

1) Stricto Sensu

2) Lato Sensu

3) Sensu Latissimo

O Stricto Senso é igual ao conceito de Direito Romano, ou seja, é o conjunto de normas

jurídicas que vigoraram em Roma e seus territórios desde 753 a.C. a 565 d.C., ou seja

13 anos de existência.

O Lato Senso traduz na tradição romanista desde o Sec VI d.C. até à actualidade.

Pode dizer-se que a vida do Direito Romano termina no Sec. VI, mas a sua vivência

projecta-se até aos nossos dias.

O Senso Latissimo compreende tanto o Ius Romanum (Direito Romano Stricto Senso) como

a tradição romanista (Direito Romano Lato Senso), ou seja de 753 a.C. até aos dias de

hoje.

O objecto do nosso estudo será o Ius Romanum Stricto Sensu, ou seja, o conjunto de

normas jurídicas que iniciam a sua vigência no ano de formação de Roma, como cidade

(753 a. C. até à morte do primeiro dos mais importantes Imperadores do Império

Romano do Oriente – o Imperador Justiniano que morre em 565 d.C.).

A análise destes, quase 13 séculos de existência do Império Romano, far-se-á por

referência ás épocas históricas e políticas que se podem delimitar na vida deste Direito.

Noção de Ius Romanum por referência aos sistemas jurídicos que o compunham e

cujos critérios distintos radicavam:

a) No diferente grupo dos seus destinatários;

b) No diferente conjunto das respectivas fontes de Direito

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Historia do Direito Romano

Uma cabal noção de Direito Romano, não pode circunscrever-se à indicação do seu

período de vigência. Com efeito, atendendo à profunda relação existente entre este

Direito e o próprio Império, que levou Sebastião Cruz a afirmar “que o Direito Romano

era um verdadeiro Direito Imperial”, é natural que o Direito Romano tivesse tido uma

evolução quase que paralela com a do próprio Império.

Inicialmente, em Roma aplicava-se Direito Romano que significava apenas Ius Civile.

Assim, num primeiro momento que antecede a formação do império e em que o Direito

Romano tem por objectivo exclusivo regulamentar as relações jurídicas dos elementos da

sociedade de Roma, titulares de cidadania romana – o Direito Romano identificava-se

com o chamado Ius Civile (por Ius Civile deve entender-se o conjunto de normas

juridico-romanas aplicadas exclusivamente aos Cives (aos cidadãos romanos)).

Num segundo momento, que se inicia com a expansão territorial de Roma e a

consequente conquista de novos territórios e subordinação dos seus povos, coloca-se o

seguinte problema:

- Aqueles povos, aos quais Roma reconhece a possibilidade de manterem a sua

liberdade, ou seja, que não reduz a escravos, começavam a estabelecer relações

jurídicas com cidadãos romanos e necessidade regulamentar. Contudo, o Ius Civile não o

podia fazer porque não foi criado com esse objectivo, sendo assim, tornava-se

imperioso a criação de um outro sistema de normas, também juridico-romanas, mas cujos

destinatários já não eram exclusivamente os Cives, mas também, os Peregrinis. Surge

então, o Ius Peregrine que tal como o Ius Civile é Direito Romano, mas que visa

regulamentar a relação jurídica em que, pelo menos, uma das partes seja Peregrinis.

Periodização histórica do Ius Romanum

Ao longo dos 13 séculos de existência do Direito Romano destacam-se 4 fases

históricas.

Atendendo para o feito, a um critério que denominamos de jurídico-interno. Este critério

permite traçar uma espécie de ciclo genético na vida deste Direito.

Identificada a fase do seu nascimento ou formação que se apelida de Fase Arcaica,

seguida pela fase do seu desenvolvimento e auge que se chama de Clássica, à qual

sucede a fase da sua decadência denominada por Pós-Clássica e por último a da sua

codificação, que em homenagem à principal figura deste período e que se chama Fase

Justinianeia.

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Fase Arcaica

Inicia-se em 753 a.C. (ano de formação de Roma como cidade) e termina em 130 a.C.

(ano do aparecimento de uma das mais importantes leis do Direito Romano – Lex

Aebutia de Formulis), é a fase da formação das instituições jurídico-romanas, e por isso,

a sua característica é a imperfeição, sendo de referir que nesta fase, entre o Direito, a

Moral e a Religião existe uma espécie de continum, ou seja, pode mesmo dizer-se que

estes 3 mundos formam um todo.

A Fase Arcaica subdivide-se em 2 etapas:

1ª – (753 a.C. a 242 a.C.), denomina-se de período exclusivo dos Ius Civile.

2ª – (242 a.C. a 130 a.C.) é caracterizada pela coexistência do Ius Civile e do

Ius Peregrini ou Gentium (o ano de 242 a.C. marca o aparecimento do Magistrado

Pretor Peregrino, que tinha por função, resolver os litígios em que pelo menos umas das

partes era um Peregrini. Ora, da actuação deste Magistrado nasce um conjunto de

normas jurídico-romanas que constituíam o chamado Ius Peregrini.

Fase Clássica

Inicia-se em 130 a.C. e termina em 230 d.C., é o período de desenvolvimento e

apogeu do Direito Romano, pelo que a sua característica é a perfeição. Caracteriza-se

pela exactidão e perfeição, sendo que a grandeza do Ius Romanum encontra-se nesta

época. Em grande medida esta perfeição ficou a dever-se à actividade notável de

alguns Jurisconsultos Romanos que não só se manifestaram exemplares intérpretes deste

Direito, como o aplicaram de forma notável às situações da vida social, bem como

criaram normas para algum caso especial, não previsto nas normas já existentes, pelo

que se pode dizer que a ciência jurídica desta época, ou seja a Iurisprudêntia era muito

criadora.

De entre estes Jurisconsultos notáveis destacam-se dois: Ulpianus e Iulianus.

Segundo o Historiador Álvaro D’ors esta época subdivide-se em 3 fases:

1 – Fase pré-clássica – Período de grande desenvolvimento do Ius Romanum

2 – Fase clássica central – Período de maior esplendor e perfeição do Ius

Romanum

3 – Fase clássica tardia – Período em que já se nota uma certa decadência do Ius

Romanum, isto porque neste período os Jurisconsultos começaram a limitar-se ás obras

de compilação perdendo o génio criador.

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Fase Pós - Clássica

Inicia-se em 230 d.C. e termina em 530 d.C., é o período sem individualidade própria,

pois medeia entre a época Clássica e a Justinianeia, caracteriza-se pela decadência do

Ius Romanum, devido a factores vários, dentro dos quais se destaca, como característica

geral, a perda do génio criativo dos Jurisconsultos Romanum que deixam de produzir

obras novas, para passar a elaborar resumos das obras clássicas ou compilações, onde

repetem o que foi dito pelo Jurisconsultos Classicus.

A característica desta fase é a confusão jurídica quer a nível conceptual quer a nível

terminológico.

Muito importante (sai no teste)

Características especiais:

No Império Romano do Ocidente, o processo de decadência do Direito Romano atinge

um nível tal, que se fala mesmo de uma vulgarização deste Direito. Assim sendo, a

partir deste período e até à queda do Império Romano do Ocidente, o Direito que nele

vigorou foi chamado Direito Romano Vulgar. Como factores decisivos para o

aparecimento deste Direito Romano Vulgar encontram-se os seguintes:

a) A circunstância de nos territórios que constituíam o Império Romano do

Ocidente, existirem já povos a que convencionou chamar-se Povos

Autóctones, os quais dispunham de um Direito essencialmente de base

consuetudinária (de antigo uso), tendo havido uma natural mistura entre esse

Direito e o Direito Romano.

b) Ao facto de no Império Romano do Ocidente não existirem escolas de

Direito, o que justificava a profunda impreparação dos seus juristas,

incapazes de entender, interpretar e, em consequência, aplicar à prática

social, os textos do Direito Romano Clássico. Assim sendo, na prática jurídica

e forense, nesta parte do Império, e que se utilizavam eram traduções,

cópias e resumos imperfeitos e muitas vezes entre si contraditórios do Direito

Romano Clássico.

c) Ao facto desta parte do Império ter sido muito invadido por vários povos, a

que os Romanos chamavam Povos Bárbaros, de entre os quais se destacam

os Germânicos e que eram titulares de um Direito bem estruturado, que

acabou por sobrepor-se às referidas cópias imperfeitas dos textos de Direito

Romano Clássico.

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Historia do Direito Romano

d) Por último, a vulgarização do Direito foi uma expressão de um fenómeno

generalizado de vulgarização cultural, que se reflectiu também, por

exemplo, na utilização do Latim Vulgar.

Em conclusão, todos os referidos factores contribuíram decisivamente para um

empobrecimento a nível conceptual terminológico e estrutural do Direito Romano.

Diversamente no Império Romano do Oriente, o Direito Pós-Clássico não conduziu ao

Direito Romano Vulgar, porque devido à actividade do Imperador Justiniano se travou o

processo de decadência do Direito Romano

Fase Justinianeia

Inicia-se em 530 d.C. e termina no ano da morte do Imperador, em homenagem ao qual

esta fase existiu, referimo-nos ao Imperador Justiniano, que morre em 565 d.C.

Advertência inicial: em bom rigor, esta época histórica só existe para o Direito Romano

do Império do Oriente, caracterizado por um esforço de codificação do Direito Romano,

sobretudo clássico, cujo grande mentor foi o Imperador Justiniano, que tendo sido um

grande classicista, procurou pôr termo ao processo da decadência do Direito Romano,

mediante uma valorização do Direito produzido na época clássica.

Dentro desta sua finalidade, Justiniano encarregou um grupo de Juristas das Escolas de

Constantinopla e Beirute, com destaque para Triboniano, da feitura daquela que é

considerada a principal obra escrita deste Direito – O Corpus Iuris Civilis – C.I.C.

Para todos os historiadores do Direito Romano, esta obra representa a principal fonte

Cognoscendi do Direito Romano e, ao mandar elabora-la, Justiniano elaborou planos

que claramente demonstram que a sua intenção era a de proceder a uma selecção e

compilação de todo o Direito Romano produzido até si, dividindo em: Ius Romanum

Vetus e Ius Romanum Novum.

O primeiro é todo o Direito Romano produzido pelas suas diversas fontes (pelo costume)

quer na acepção de Mores Maiorum, quer as de consuetudo, pela Lex, quer em Stricto

Senso (na Lex Rogata; Plebiscito; Lex Dictae e Lex Datae), quer na Lato Sensu (pelos

Senatusconsultos e pelas Constituições Imperiais) e a Iurisprudêntia

Costume Mores Maiorum

Consuetudo

Lex Rogata

Lex Stricto Sensu Plebiscito

Lex Dictae

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Historia do Direito Romano

Lex Datae

Lato Sensu – Senatusconsultos (Constituição imperial)

Iurisprudêntia (= actual doutrina) até ao Séc. IV d.C.

Enquanto o Ius Romanum Novum é todo o Direito Romano produzido a partir do Séc. IV

d.C., sendo que este Direito produzido a partir do Séc. IV d.C. tinha como única fonte, as

Constituições Imperiais.

Com efeito, vivia-se já o período político do principado, que correspondia a uma

centralização de todos os poderes (incluindo o legislativo), na figura do Imperador, o

qual passou a produzir leis chamadas Constituições Imperiais.

Quanto à sua estrutura interna, esta obra encontrava-se dividida em 4 grandes partes:

A 1ª que, segundo a tradição, foi elaborada pelo próprio Justiniano, chamava-

se Institutiones, e consistiu numa espécie de manual introdutório para o estudo e

compreensão do Corpus Iuris Civilis.

A 2ª continha o Ius Romanum Vetus e muito particularmente o Ius Prodença da

época clássica chamava-se Digesto.

A 3ª continha o Ius Romanum Novum, ou seja, era uma compilação de

Constituições Imperiais e chamava-se Codex.

A 4ª, e última, mandada elaborar porque algumas Constituições Imperiais não

puderam ser compiladas no Codex, chamava-se Novellae.

“A título de nota, ler sobre o Corpus Iuris Civilis, pag. 35 a 37 do manual”

A periodização política do Ius Romanum

A intrínseca relação existente entre o Direito Romano e o Império Romano (Imperium)

Imperium – Poder de soberania ao qual ninguém se pode impor

Todo o Direito, sendo princípio constitutivo da acção social, emerge de uma sociedade,

à qual regressa, em seguida, com o intuito de a regular. Significa isto que, todo o

Direito é uma tradução normativa das especificações e das nucleares intenções de

validade da sociedade a que se encontra directamente relacionada.

O que acaba de se dizer, vale exemplarmente para o Direito Romano que sempre

apresentou uma profunda relação com o próprio Império Romano. Segundo Sebastião

Cruz “o Direito Romano foi um Direito tipicamente Imperial” é uma manifestação disto, o

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Historia do Direito Romano

facto de, o período de mais perfeição deste Direito ter coincidido com a maior

expansão e conciliação do Império Romano e seu poder politico, referimo-nos à época

clássica central.

A principal razão do ser desta intrínseca relação entre o Direito Romano e o Império

Romano reside no facto de “todo o Ius ser um Vis” isto é, todo o Direito necessita para

subsistir e ter efectividade de se fundar numa força que deve, contudo, entender-se

como aquilo a que os Romanos chamavam uma Auctóritas (menos uma autoridade e

mais uma legitimidade).

O critério adoptado;

Partindo das considerações que fizemos, o critério será o seguinte:

- Procurar-se-á determinar quais os órgãos ou estatutos políticos que, em Roma ao longo

de todo o referido período, detinham o poder de soberania a que se chamava de

Imperium

As várias formas políticas do Direito Romano

No início as formas políticas originárias resumiam-se: ou ao Estado-cidade, ou ao

Estado-território.

Estado-cidade – É um agrupamento de homens livres, estabelecidos sobre um pequeno

território, todos dispostos a defende-lo contra qualquer ingerência (interferência)

estranha e sobretudo onde igualmente todos detêm uma parcela igual de poder.

Estado-território – Agrupamento de homens onde só um exerce o poder de modo

absoluto e exclusivo.

As fases políticas:

- Monarquia (753 a.C. a 510 a.C.)

- República (510 a.C. a 27 a.C)

- Principado (território sujeito à jurisdição de um príncipe) (27 a.C. aos finais do Séc.III

d.C.)

- Dominado (Finais do Séc. III ao ano 476 d.C.)

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Historia do Direito Romano

Monarquia

Rei; Senado; Povo

1 – Rei

Patrícios

2 – Populus Romanus

Plebeus

3 - Senado

Quando em 753 a.C. Roma se constituiu como uma cidade, adopta, para o efeito, o

modelo de organização chamado Estado-Cidade, ou seja, a Civitas, que se caracteriza

pelo facto de todos os homens, que a constituem, deterem uma igual parcela de poder.

Nascendo como um Estado-Cidade colocava-se de imediato o problema da

representatividade desse poder, que se encontrava, de modo igual, repartido pelos

vários membros da comunidade.

A solução encontrada constituiu na criação do cargo de Rei, entendido como o Director

da Civitas, ou seja, aquele que detendo o poder de Império, deveria gerir os destinos

da cidade.

Em Roma, o cargo de Rei, sendo vitalício não era hereditário, ou seja, o Rei podia

indicar o seu sucessor, mas este só seria Rei, após a investidura pelo Populus Romanus,

reunindo num certo tipo de comícios, que se chamavam Comitia Curiata e ao acto de

investidura de alguém, no cargo de Rei, chamava-se Lex Curiata D’Imperium, isto

porque, para os romanos o poder (soberania) residia no povo que o transmitia ao Rei.

O Populus Romanus (Povo) era integrado por duas camadas distintas: uma mais

aristocrata, os Patrícios, e outra mais humilde, os Plebeus, que entre si apresentavam

manifestamente clivagens quanto à titularidade de Direitos e privilégios, ou seja os

Patrícios tinham todos os direitos e os Plebeus não, o que originou várias lutas.

Exemplo:

Até ao ano de 320 a.C. só os Patrícios podiam ser membros do Senado.

O Populus Romanus exercia os poderes que possuía, sempre e só, na medida em que se

reunisse em comícios ou assembleias populares, cujos mais importantes, nesta época,

Comitia

Curiata

Lex

Curiata

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Historia do Direito Romano

eram os comícios Curiata, onde se fazia a investidura do sucessor do Rei, em novo Rei,

consoante a sua finalidade, podia falar-se nos seguintes principais comícios:

a) Comitia Curiata

Aqueles em que se produzia a Lex Curiata D’Imperium – A investidura do sucessor do

Rei.

b) Comitia Centuriata

As centúrias eram agrupamentos de soldados e nestes comícios realizavam-se dois tipos

de acções:

Ou se procedia à eleição de Magistrados Ordinários hierarquicamente superiores

(Censor, Cônsul e Pretor)

Ou à votação de projectos de Lei elaborados por estes Magistrados e rogados ao povo

para que este os votasse favoravelmente.

c) Comitia Tributa

As Tribus eram divisões territoriais de carácter militar, utilizadas frequentemente pelos

Plebeus para construírem uma espécie de pequenos estados dentro do grande estado,

que era a cidade de Roma. Os chefes destas Tribus, que eram também os que

comandavam as lutas dos Plebeus. Lutas essas de igualdade com os Patrícios, ao qual se

chamavam de Tributos ou Plebe e mais tarde na fase da Republica desempenhavam o

papel de Magistrados.

d) Concilia Plebis

Eram comícios compostos, apenas, por Plebeus. Organizados com a finalidade de votar

projectos de Lei, elaborados pelas Tribunas da Plebe, que caso fossem objecto de uma

votação favorável, convertiam-se em normas jurídicas chamadas de Plebiscitos.

Quanto ao Senado, era durante a fase da Monarquia um órgão consultivo do Rei.

Inicialmente esta junta consultiva era constituída pelos Patres, fundadores da Civitas e

mais tarde pelos homens experimentados da vida que eram escolhidos apenas entre os

Patrícios. Tinham uma composição aristocrática, visto que, até ao ano de 320 a.C. com a

chamada Lex Oliva, só os Patrícios podiam integrar a composição do Senado, para

além dos seus poderes consultivos. Só mais tarde em 312 a.C., com a Lex Ovinia os

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Historia do Direito Romano

Plebeus ganham entrada definitiva chamando-se conscripti O Senado nesta fase detinha

os seguintes outros poderes:

a) Nomear a Interrex, isto é, aquele que desempenharia o cargo de Rei, no

lapso de tempo, desde a morte do antigo Rei até à investidura do novo Rei.

b) Conceder a aprovação às Leis votadas pelo povo nos comícios mediante a

Auctoritas patrum (aprovação)

c) Imanar pareceres que funcionavam, sem parecer vinculativo, perante as

consultas que lhes eram feitas e os quais se chamavam Senatusconsultum.

REPUBLICA

Magistraturas; Pretor; Senado; Povo

Vai desde, 510 a.C. a 27 a.C.

O elemento caracterizador da fase da Republica, são os Magistrados, desaparecendo,

obviamente, o cargo de Rei.

O termo Magistratus etimologicamente (estudo a origem e derivação das palavras)

significa, quer o cargo de governar (magistratura), quer a pessoa que exerce esse

cargo (magistrado).

As magistraturas – O poder supremo não reside nesta época num só Rei, mas sim, em

dois Cônsules, que são magistrados e exercem o seu poder por um ano e são eleitos

pelo povo.

Em Roma, os Magistrados eram dois tipos, consoante pertencessem ou não a uma

espécie de carreira diplomática, a que se chamavam Cursus Honorum.

Os que pertenciam aos Cursus Honorum designavam-se Magistrados Ordinários e os

outros Magistrados Extraordinários.

Quanto aos Magistrados Ordinários encontravam-se dentro desta cadeira diplomática

hierarquicamente organizados segundo um critério mais de dignidade do que

propriamente de poderes.

No topo da hierarquia estava o Censor, em 2º lugar estava o Cônsul, em 3º lugar o

Pretor, e 4º lugar o Edil Curul e por último o Questor.

Estes Magistrados Ordinários possuíam os seguintes poderes:

a) Poder de potestas, ou seja, poder de representar o Populus Romanum

mediante a elaboração de projectos de leis, cujas votações eram rogadas

pelo Magistrado proponente, no Populum reunido em comícios. Se essa

votação fosse favorável e em seguida o Senado concedesse essa aprovação,

nascia a Lex Rogata, que foi a mais importante da lei pública em Roma.

Page 12: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

b) Poder de Imperium, que era o poder de soberania que os Magistrados

elaboravam e ao qual nenhum cidadão se poderia opor (muito importante).

Este poder permitia ao Pretor, na resolução dos litígios à sua apreciação,

emanava ordens que eram acatadas pelas partes envolvidas nesse litígio.

Precisamente porque se fundava no Poder de Imperium. Como detinha o

poder de soberania que antes cabia ao Rei, continha as seguintes

faculdades:

- Comandar o exército

- Convocar o Senado

- Convocar a Assembleia Popular

- Administrar a Justiça.

No entanto, este poder é limitado por três circunstâncias muito importantes:

1. Temporalidade – Posto que cada magistratura durava apenas 1 ano

2. Pluralidade – dado que o poder se encontra repartido por várias

magistraturas.

3. Colegialidade – Visto que dentro de cada magistratura existia mais do

que um Magistrado. Os Magistrados Ordinários encontravam-se

hierarquicamente relacionados entre si, de onde resultava a seguinte

importante consequência: Todo o Magistrado hierarquicamente superior a

um outro possuía o poder de vetar ou até anular qualquer decisão ou

projecto de norma, elaborada pelo Magistrado que lhe era

hierarquicamente inferior. A este poder chamava-se Ius Intercessionis.

.

c) Poder Iurisdictio, era o poder de administrar a justiça de forma normal e

corrente. Era o poder principal do Pretor. Competia igualmente ao Edil Curul,

porém só para organizar os processos litigiosos, e também ao Questor, mas

só para administrar a justiça em causas criminais.

De todos os Magistrados Ordinários, apenas o Pretor reunia, em simultâneo, a

titularidade destes 3 poderes.

Page 13: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

O segundo tipo de Magistrados que existiram em Roma, na época da Republica, foram

os Magistrados Extraordinários, assim chamados por não pertencerem aos Cursus

Honorum e eram 3:

1- Os Tribunos da Plebe - eram normalmente chefe das rebeliões levadas a

cabo pelos Plebeus na sua constante luta por um regime de igualdade e privilégios com

os Patrícios. Os tribunos da plebe, sendo embora, Magistrados Extraordinários possuíam

de uma forma exemplar o Ius Intercessionis, porque podiam vetar ao até anular

qualquer decisão ou projecto de norma elaborado por um qualquer Magistrado

Ordinário. Para além deste poder, detinham um outro muito importante que consistia em

elaborar projectos de normas relativos a interesses próprios dos Plebeus que depois

eram apresentados e cuja votação era rogada a esses mesmos plebeus reunidos num

tipo especial de comício chamado os Concilia Plebis. Se estas normas fossem votadas

favoravelmente neste tipo de comícios (não eram em seguida apresentadas ao Senado

para aprovação) se convertiam em normas jurídicas de carácter legal chamadas de

Plebiscitos.

2 – Os Governadores da província (Ler Sebastião Cruz, pag. 76)

3 – O Ditador - Fazia parte de uma magistratura que para além de

extraordinária era excepcional, pois não fazia parte da vida normal e permanente de

Roma.

Nascia com a chamada Ius titum, isto é com a suspensão do ordenamento civil devido a

calamidades públicas, motivadas por uma crise política interna (ex. Revoltas populares)

ou externa (Guerras com o estrangeiro).

O Ditador concentrava em si todos os poderes da Civitas e assim o seu poder de

Imperium era um poder sem qualquer limitação.

Nota: O poder de Imperium só pertenceu ao Cônsul, ao Pretor e ao Ditador,

diferentemente ao que sucede com o poder de Potestas que é comum a todos os

Magistrados.

Quanto ao Pretor – Em 367 a.C. foi criada a Magistratura dos Pretores e, portanto, a

palavra Praetor passa a significar o Magistrado especialmente encarregue de

administrar a justiça, de uma forma normal e corrente, nas causas civis.

O Pretor presidia à primeira fase do processo jurídico romano, a chamada fase In Iure

onde se fazia a análise dos aspectos jurídicos da causa.

Page 14: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Na segunda fase do processo, a chamada Apud Iudicem, era feita a análise da questão

de facto (prova e sentença). Esta fase era presidida pelo Iudex, ou seja, um particular

diferente do Pretor.

Na fase inicial, apenas existia um Pretor, mas a partir do ano de 242 a.C. a

administração da justiça foi distribuída por 2 Pretores, o Pretor Urbano e o Pretor

Peregrino.

O Pretor Urbano tinha a seu cargo a organização dos processos cives nos quais

apenas interviessem cidadãos romanos, ou seja, apenas aplicava o Ius Civile.

O Pretor Peregrino tinha a seu cargo a organização dos processos em que, pelo

menos, uma das partes era Peregrini, ou seja, apenas aplicava o Ius Gentium.

Quanto ao Senado – Este é o órgão político por excelência da república, chamam-se

Senatus Populusque Romanus. Era constituído pelas pessoas mais importantes e influentes

da Civitas e tinha um verdadeiro carácter aristocrático.

O Senado não possuía poder de Imperium, mas tinha a Auctóritas, ou seja, o prestígio,

gozando de grande influência na sociedade.

As suas decisões jurídicas, os chamados Senatusconsulta, apesar de terem a forma de

meros conselhos, na prática eram verdadeiras ordens. No entanto a sua função mais

importante, dentro do campo jurídico era a de conceder a Auctóritas Patrum para que

as leis depois de votadas e aprovadas nos comícios - Comitia Centuriata, tivessem

validade.

Quanto ao Povo – É o terceiro elemento da Constituição política republicana. Reuniam-

se em Assembleia ou comícios com os seguintes poderes:

- Eleger os Magistrados

- Votar leis por eles propostas

- Funcionar como tribunal de última instância quando tinha lugar o Provocatio

ad Populum, que surgia quando qualquer cidadão, nos casos mais graves,

apelava para a Assembleia do povo (Comitia Centuriata) contra as decisões

dos Magistrados.

Page 15: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Na república há 3 espécies de comícios:

- Comitia Curiata

- Comitia Centuriata, que intervém na eleição dos cônsules, dos Pretores, dos

Ditadores e dos Censores e eram nos comícios que se procediam à votação das

Leis que estes Magistrados propunham.

- Comitia Tributa, onde se elegiam alguns Magistrados menores e votavam-se

certas Leis.

Para além destes três haviam os chamados Concilia Plebis, cujas decisões se

denominavam Plebiscitos.

Os Plebiscitos no início não tinham carácter vinculativo, apenas a Lex Valeria Horacia de

449 a.C. se reconhece força obrigatória dos Plebiscitos mas apenas relativamente à

Plebe.

Mais tarde com a Lex Hortensia de 287 a.C. é que é reconhecida força obrigatória dos

Plebiscitos em relação a todo o Povo Romano, sendo equiparados às Leis comiciais.

Principado

Princeps; Senado; Povo

Vai desde 27 a.C. até 284 d.C. (Séc. III)

Se a Monarquia teve como elemento característico o Rei e a Republica os Magistrados,

o Principado quando plenamente instalado como nova forma de organização política

de Roma, tiveram como elemento polarizador o Princeps, ou Imperador.

Certa altura a Constituição política republicana torna-se insuficiente para as novas

realidades e entra em crises sucessivas devido a diversos factores:

- O alargamento extraordinário do poder de Roma

- O aparecimento de novas classes sociais

- Lutas entre classes de varia ordem

- Revolta dos escravos que pretendem a liberdade

O povo Romano desmoralizado com os seus políticos volta-se para Octávio César

Augusto, pois entendiam ser este o mais indicado para restabelecer a paz, a justiça, a

moral, a política e a economia, retirando, assim, o país do caos que se encontrava nos

últimos tempos.

Page 16: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Este ficou conhecido historicamente pela sua habilidade política, e em consequência,

pelo processo estratégico que desenvolveu para centralizar em si todos os poderes sem,

contudo, romper abruptamente com as estruturas políticas da República.

Octávio César Augusto aproveitando-se de todas estas circunstâncias, instaura uma nova

forma constitucional – O Principado, (ficando ainda conhecido como o Pacificador, pois

alcança uma paz duradoura que ficou conhecida na história como a Pax Augusta.).

Constituição política do Principado:

Princeps - A criação do Princeps é a grande novidade desta reforma constitucional, pois

é a figura central da nova Constituição política.

O Princeps não é um Magistrado, mas antes um novo órgão político de carácter

permanente investido de um Imperium especial de uma Tribunícia Potestas vitalícia que

compreendia todos os Direito e deveres de um Tribuno da Plebe.

Octávio César Augusto, com o seu talento político, vai concentrando, pouco a pouco, na

figura dos Princeps todos os poderes, apesar de as antigas magistraturas republicanas

se manterem, o seu poder é quase irrelevante, pois estão subordinadas ao Princeps.

No início o Senado tem uma certa importância, atendendo fundamentalmente à sua

posição aristocrática, Octávio César Augusto concede-lhes poder legislativo, pelo que só

a partir deste momento os Senatusconsultos passam a ter natureza de verdadeiras leis

do Ius Civile.

Contudo, a concessão de poder legislativo ao Senado foi também estratégica porque

visava, por um lado esvaziar o Populus Romanum deste poder, e por outro lado permitir

ao Imperador uma fácil conversão em leis de matérias que este pretendesse ver

aprovadas como tal.

É por este motivo que a breve trecho os Senatusconsultos deixam de ser normas jurídicas

de natureza legal produzidas pelo Senado, para se converterem nas chamadas

Oraciones Princeps, representando extensões da vontade do Imperador, que convoca o

Senado, expunha oralmente a matéria que pretendia ver convertida em lei, alcançando

esse seu objectivo sem quase nenhuma oposição, posto que tais matérias eram votadas

quase sempre sem previa discussão.

Pode-se assim dizer que a autoridade política do Senado foi gradualmente transferida

para o Princeps.

Povo – Os comícios mantêm-se mas com o decurso do tempo vão deixando de

funcionar, pois Octávio César Augusto retira-lhe o poder legislativo, pois este passa

Page 17: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

para o Senado conduzindo aqueles à extinção por inactividade, dado que, como foi

visto na época da Republica, os comícios populares existiam essencialmente para a

votação de propostas de normas elaboradas por Magistrados Ordinários (Lex Rogata)

ou extraordinários (Plebiscito), e a outra parte passa para o exército que é um elemento

novo que se vai afirmando cada vez mais decisivo e que fiscalizava quase tudo e

dependiam exclusivamente do Imperador.

É neste contexto que o Principado se implementa em Roma, e que o Imperador se

converte ele próprio num legislador.

As leis produzidas unilateralmente pelo Imperador chamavam-se Constituições

Imperiais.

A partir do Sec. IV d.C., as Constituições Imperiais, também conhecidas por Leges,

são em Roma a única fonte do Direito Romano.

A este Direito Romano, que se identificava como Constituições Imperiais, convencionou-se

chamar-se Ius Romanum Novum, e foi compilado na época Justinianeia, encontrando-se

no Codex e nos Novellae, que são partes integrantes do Corpus Iuris Civilis.

Dominado

Absolutismo

4ª Época política de Roma – 284 d.C. a 476 d.C.

Corresponde ao período historicamente conhecido de Baixo-império e é instalado em

Roma pelo Imperador Deocleciano.

Deocleciano subiu ao poder em 284 aclamado Imperador pelos seus companheiros de

armas, pois era um soldado severo, energético e autoritário.

Este inaugura um novo regime político proclamando-se Dominus, senhor único e Deus, daí

chamar-se a este período Dominado, ou Império Absoluto.

Auto intitulava-se Deus pois entendia que o poder provinha de uma investidura divina e

não de uma Lex Curiata d’ Imperium.

Estabelece-se, assim, uma forte rivalidade entre Deocleciano e o chefe da igreja, em

virtude da qual, Deocleciano ordenou uma violenta perseguição aos cristãos.

Factos principais da época do Dominado:

1) Reforma político-administrativa de Deocleciano

2) Reconhecimento de Deocleciano da impossibilidade de manter todo o império

sob seu único comando, havendo portanto, tendência para dividi-lo entre dois

Imperadores. Deocleciano no Oriente e Maximiano no Ocidente.

Page 18: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Constantino consegue mais tarde uma união de Império, mas por pouco tempo,

pois as divisões continuam a suceder.

O Império foi reunido pela última vez por Teodósio em 394 d.C. mas em 395

d.C., divide definitivamente o Império pelos seus dois filhos: Honório no Ocidente

e Arcádio no Oriente.

3) Dá-se o reconhecimento do cristianismo como religião oficial a partir do tempo

de Constantino.

4) O Dominado é também marcado pelas invasões barbaras.

Nota: Ver quadro no manual de págs. 82 a 87.

Fontes de Direito do Ius Civile

Classificação:

Exsistendi – Órgãos Produtores

Manifestandi – Modos de produção

Cognoscendi – Documentos escritos

Fontes Manifestandi do Ius Civile

I) Costume

- Até ao Sec. IV d.C. – Mores Maiorum

- Após o Sec. IV d.C. – Consuetudo

II) Lex

- Lex Privata (Não é um verdadeiro Direito)

A sua base é um negócio privado, surgiu antes da Lei Pública e trata-se

de um acto de disposição acerca de

uma coisa própria

- Lex pública

Page 19: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Consiste numa promessa solene da comunidade social, portanto

baseia-se num Negócio Jurídico

- Stricto Senso

a) Lex Rogata (plebeus/ Patrícios)

1º tipo de Lei publica, depois da Lei da XII Tábuas

b) Plebiscito (só plebeus)

c) Leges Datae e Dictae (para Sebastião Cruz não tem o

mesmo valor que as duas anteriores)

- Lato Senso

a) Senatusconsultos

b) Constituições Imperiais

III) Iurisprudêntia (= ciência do Direito; Doutrina)

1) A expressão Fontes do Direito foi introduzida no mundo jurídico por Cícero. Tendo-se,

desde então, generalizado a sua utilização com a seguinte significação:

- A de órgãos produtores do Direito – Exsistendi

- A de modos de manifestação do Direito – Manifestandi

- A de textos ou documentos escritos, onde se encontra compilado

o Direito – Cognoscendi

As Fontes de Direito do Ius Civile são, em consonância com o que se disse, classificados

em 3 grupos:

a) Fontes Exsistendi, isto é, órgãos produtores das normas jurídicas do Ius Civile.

Os quais, atendendo às diversas fases da periodização política deste Direito são:

a) o Populus Romanus;

b) o Rei;

c) os Magistrados Ordinários e Extraordinários;

d) o Senado;

e) o Imperador.

Por exemplo:

Page 20: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

No que toca à Lex Rogata, que é uma fonte Manifestandi do Ius Civile as suas fontes

Exsistendi são os Magistrados Ordinários, que a propõem. O Povo reunido em comícios

que a vota favoravelmente, e o Senado que lhe concede aprovação.

Quanto ao Plebiscito também fonte Manifestandi do Ius Civile. As suas fontes Exsistendi

são o Magistrado Extraordinário e Tribuno da Plebe que o propõe, e os Consilium plebis

que os votam.

Quanto ao Senatusconsultos a sua fonte Exsistendi é o Senado e quanto às constituições

imperiais a sua fonte Exsistendi é o Imperador.

As normas jurídicas de natureza consuetudinária do Ius Civile têm como fonte Exsistendi o

Populus Romanus e a natureza doutrinária tem essa fonte no Iurisprudêntia que numa

fase inicial era exclusivamente os sumos pontífices.

b) Fontes manifestandi são os modos de manifestação ou revelação (modos de

produção) deste Direito designadamente Costume, Lex, Iurisprudêntia.

c) Fontes Cognoscendi do Ius Civile são os documentos escritos onde este Direito se

encontra e que permite o seu conhecimento.

De entre as várias fontes Cognoscendi do Ius Civile destaca-se o Corpus Iuris Civiles

Fontes Manisfestandi do Ius Civile

I – Costume

O Costume, na ordem do tempo e até certo ponto na da importância, é a primeira fonte

Manisfestandi. A sua fonte Exsistendi é o Populus Romanum.

Temos de demonstrar 2 conceitos: O conceito moderno e o conceito Romano.

O conceito moderno corresponde ao consuetudo, no conceito romano o costume é o

Mores Maiorum.

Como todos os Direitos primitivos também o Direito Romano começou por ser um Direito

consuetudinário, Isto é, cujo o principal modo de formação era o Costume.

A questão que se coloca, era o de saber o que era o Costume para os Romanos nas

fontes jurídicas e extra-jurídicas romanas e aparecem 3 palavras para indicar a ideia

de Costume:

Page 21: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

1 – Usus

2 – Mores Maiorum

3 - Consuetudo

Conceito moderno (Consuetudo) e conceito Romano (Mores Maiorum)

A partir do Sec. IV d.C. e devido ao importante fenómeno e consequente automatização

do Direito em relação à moral e à religião. Cria-se em Roma um novo conceito de

Costume enquanto fonte de Direito, este que equivale ao actual conceito de Costume

existente no Direito da família Romano-germânica.

A esse conceito chamava-se Consuetudo que é uma palavra que surge na terminologia

jurídica mais ou menos na época pós – clássica, para traduzir a ideia de Costume como

uma observância constante e uniforme de uma regra de conduta pelos membros de uma

comunidade (elemento matérial da noção de Costume) devido à convicção da sua

obrigatoriedade jurídica (elemento psicológico-juridico da noção de costume)

Em Roma até ao Sec. IV d.C. o Costume, enquanto fonte de Direito, era entendido na

acepção de Mores Maiorum (uma condição inveterada que se impunha aos cidadãos

como norma e como fonte de normas nas suas relações recíprocas) com o seguinte

sentido “tradição de uma comprovada moralidade”. Este é o verdadeiro Costume

romano. Assim para os Romanos não existiam bens e maus Costumes, pois o Costume

Romano era algo sempre honesto, moral e digno de ser imitado, além disso se os Mores

Maiorum são a tradição de uma comprovada moralidade então não pode pensar-se

que o Direito Romano enquanto Direito consuetudinário tenha nascido espontaneamente.

Isto porque, para os romanos todas as novas regras ainda que impostas por novas

necessidades derivam dos antigos princípios. Assim competia aos Juristas descobrir e

revelar esses novos princípios contidos nos antigos, sendo esta a função da primitiva

ciência do Direito, ou seja da Iurisprudentia.

Na base deste conceito romano do Costume, encontra-se a profunda relação existente,

neste período, entre o Direito, a moral e a religião, enquanto dimensões integrantes e

reciprocamente inter-relacionadas da prática social. Com efeito compondo estas 3

dimensões.

Continum ininterrupto compreende-se que o mundo do Direito sofresse profundas

influências morais e religiosas. Uma dessas influências, dizia respeito ao conceito de

Page 22: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

costume, sendo que para os Romanos todas as práticas que fossem justas, honestas e

moralmente incontestáveis eram dignas de serem imitadas convertendo-se em costumes.

É também dentro deste contexto que o Direito Romano de base consuetudinária do

período em questão tivesse uma criação espontânea.

Com efeito neste período os novos princípios ainda que imergentes de novas

necessidades eram sempre retirados dos velhos princípios.

A esta actividade, que consistia em extraírem princípios de comprovada moralidade de

novas normas orientadoras da prática social, chamava-se Interpretatio e o Direito que

assim era criado chamava-se Ius Non Scriptum ou Direito não escrito.

Mores Maiorum e Ius non scriptum

A primitiva Interpretatio ou Iurisprudêntia - Como já se referiu a primitiva ciência do

Direito devia revelar e descobrir os novos princípios contidos nos antigos princípios, ou

seja, devia descobrir os Ius Continum no Mores Maiorum. Ora como nesta época o

Direito, a moral e a religião constituíam um todo, a função da Interpretatio cabia apenas

aos sacerdotes pontífices, sendo que estes se dedicavam exclusivamente à referida

Interpretatio, pelo que esta se identificava com a Iurisprudêntia.

Fase do Costume enquanto Mores Maiorum como fonte do Ius Romanum

1ª Etapa – Época arcaica (753 – 242 a.C.)

Nesta época temos de distinguir 2 períodos:

a) Antes da Lei da XII Tábuas – Os Mores Maiorum eram a única fonte do Ius

Romanum,

b) Após a lei da XII Tábua – Os Mores Maiorum ainda continuam como fonte

importante do Ius Romanum, sobretudo no que diz respeito a matérias de

Direito público. Quanto a Direito privado, agora a fonte principal é a Lei das

XII Tábuas, que tal como sucedia com os Mores Maiorum também era

necessário descobrir tudo o que nela continha. Por essa razão a Interpretatio

volta-se quase exclusivamente para a Lei da XII Tábua e só muito raramente

para os Mores Maiorum.

2ª Etapa – Ainda na Época arcaica (242 - 130 a.C.)

Nesta época o Costume só tem importância no Direito público.

Page 23: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

3ª Etapa – Época Clássica (130 a.C.- 230 d.C)

Nesta época, os Mores Maiorum quase desaparecem por completo como fonte

autónoma do Ius Romanum.

4ª Etapa – Época Pós-clássica (130 d.C. – 530 d.c.)

O Direito Romano sempre defendeu que a Lei (Lex) é uma das várias fontes de Direito,

mas não a única e nem sequer a mais importante.

Surge o consuetudo (Costume) como fonte de Direito e desempenhando a função de

correctivo da Lei, que nesta época era só a vontade do Imperador que se manifestava

nas Constituições Imperiais.

II – A Lei (Lex)

A lei enquanto fonte Manifestandi do Ius Civile, assumia duas acepções distintas

consoante se fundasse numa declaração solene baseada num compromisso entre os

sujeitos ou num compromisso entre o órgão que elaborava a lei (a sua fonte Exsistendi) e

a própria comunidade (Sponsio). À primeira chamava-se Lex privata e ela consistia na

base dos diversos negócios jurídicos celebrados em Roma porquanto vigorava o

princípio de que aquilo que os sujeitos diziam, valeria como Lei. A segunda chamava-se

Lex pública, sendo que nos inícios o principal género de Lex pública do Direito romano

era a Lei comicial, isto é, a lei votada pelo povo reunido em comícios.

Importante: É na votação da proposta de lei, elaborada por um Magistrado Ordinário

ou Extraordinário no exercício do respectivo poder de potestas, que se traduzia o

poder legislativo do Populus Romanus. Sendo por este exercício essencialmente durante

a fase da república e que lhe foi retirado por Octávio César Augusto durante a fase do

Principado. Dentro das leis comiciais existiam dois géneros, a chamada Lex Rogata e o

Plebiscito que entre si tinham as seguintes similitudes (semelhanças):

a) Provinham ambas de propostas elaboradas por Magistrados.

b) A sua votação era rogada, isto é, pedida de forma solene por estes mesmos

Magistrados, ao povo reunido em comícios. A este pedido solene de votação

chamava-se rogatio (pedido), porém entre a Lex Rogata e o Plebiscito,

existiam também grandes diferenças, nomeadamente, o facto de a Lex

Rogata ter sempre como Magistrado proponente, um Magistrado Ordinário

que ao elaborar a proposta de Lei exercia o seu poder de potestas, ou seja

de representação do Populus Romanus, enquanto que o Plebiscito era

Page 24: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

exclusivamente da iniciativa do Magistrado Extraordinário - Tribuno da

Plebe.

c) A Lex Rogata era votada pelo povo reunido ora nos Comitia Centuriata (se a

sua proposta fosse da autoria do censor, cônsul ou Pretor) ou nos comitia

tributa (se a sua proposta proviesse do Edil Curul ou Questor). Já o Plebiscito

só podia ser votado pelo Populus Romanus nos Concilia Plebis o que

significava que enquanto a Lex Rogata era votada quer por Plebeus quer

por Patrícios, os Plebiscitos só eram por Plebeus.

d) Por último a Lex Rogata envolvia no seu processo de formação três órgãos, o

Magistrado Ordinário que a propunha, o povo reunido em comícios que a

votava e o Senado que lhe conferia aprovação. Já o Plebiscito envolvia

apenas dois órgãos sendo que aquele que o produzia, o Magistrado

Extraordinário - tribuno da plebe, e aquele que a votava os Plebeus

reunidos nos Concilia Plebis.

e) Para finalizar, enquanto que a Lex Rogata observa os requisitos subjacentes

às várias fases do seu processo de formação, se convertia numa Lei com

carácter vinculativo para todo o Populus Romanus, já o Plebiscito,

inicialmente, apenas tinha carácter vinculativo para os Plebeus pelo que em

bom rigor não podia considerar-se uma autêntica Lei do Ius Civile.

Análise da 2ª fonte do Ius manifestandi – A Lex

1 - No Direito Romano a Lei entendia-se em duas acepções distintas, a Lex privata e a

Lex pública.

2 – O nosso objectivo de estudo será a Lex pública.

3 – A Lex pública em sentido estrito comportava as seguintes espécies:

a) Lex Rogata

b) Plebiscito

c) Leges Datae e Dictae

4 – Análise detalhada da primeira Lex pública e comicial do Direito Romano, a Lei das

XII tábuas.

4.1 – O seu valor, a sua divisão interna e o seu conteúdo.

4.2 - Consideração detalhada tábua III da lei das XII tábuas, que versava sobre as

consequências decorrentes do incumprimento voluntário da obrigação jurídica de pagar,

que da válida celebração de uma Stipulatio (de um negócio jurídico que consistia num

empréstimo em dinheiro) nascia para o sujeito responsável pela dívida.

Page 25: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

1 - No Direito Romano a Lei entendia-se em duas acepções distintas, a Lex privata e

a Lex pública.

Em Roma, nos inícios, a Lei enquanto fonte manifestandi do Direito Romano, era

entendida no sentido de Lex privata e de Lex pública. A Lex privata era a declaração

solene de valor normativo que tinha por base um negócio jurídico privado, na medida

em que, de acordo com um princípio consagrado no Direito Romano, quando alguém

celebrava um negócio jurídico, aquilo que ficava dito por palavras, valeria como

Direito, já a Lex pública era a declaração solene com valor normativo, que tinha na sua

base um compromisso entre o Magistrado que a propunha e a comunidade social que

reunida em comícios a votava. É da circunstância de ser votada pelo povo reunido em

comícios que resulta a sua natureza de Lei pública.

2 – O nosso objectivo de estudo será a Lex pública.

O nosso objecto de estudo será a Lei pública do Direito Romano, por análise das várias

espécies que esta Lei conheceu, quer quando entendida como Lei em sentido eStricto,

quer como Lei em sentido amplo.

3 – Em sentido estrito a lei pública subdividia-se nas seguintes espécies:

a) Lex Rogata

Terá sido a espécie mais usual de Lei pública do Direito Romano e traduzia uma

deliberação solene com valor normativo, proposta por um Magistrado Ordinário no

exercício do seu poder de Potestas, votada após a respectiva votação pelo povo

reunido nos comícios das centúrias e depois aprovado pelo Senado mediante a

concessão da Auctoritas Patrum. Tratava-se pois, de uma Lei pública e comicial que tinha

como fontes Exsistendi um Magistrado Ordinário, o Populus Romanum e o Senado.

Denominava-se de Lex Rogata porque para se converter em autêntica Lei, necessitava

ser favoravelmente votada pelo povo, reunido em comícios, e essa votação era

desencadeada por um pedido, um verdadeiro rogo, que ao comício popular era

dirigido pelo Magistrado proponente. O processo de formação de uma Lex Rogata

exigia a observância das seguintes fases:

1ª - Promulgatio – era a fase da afixação da proposta de Lei durante três

semanas num lugar público para que o povo a lesse e tomasse

conhecimento do seu conteúdo. A partir do momento em que a Lei era

Page 26: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

afixada (promulgada), a sua proposta tornava-se inalterável, sendo

portanto insusceptível de qualquer alteração.

2ª - Conciones – Decorridas as referidas três semanas, podiam convocar-se

reuniões sem carácter oficial nem jurídico, normalmente por iniciativa do

Magistrado proponente e com a finalidade de discutir o conteúdo da

proposta da norma. A estas reuniões chamavam-se Conciones, porque para

que alguém nelas falasse era necessário que o Magistrado, que a elas

presidia, concedesse a palavra. Os discursos favoráveis ao conteúdo da

norma chamavam-se suasiones e os desfavoráveis dissuasiones.

3ª - Rogatio – Celebradas ou não as conciones, o Magistrado proponente,

findo o prazo da promulgatio, rogava ao povo reunido nos comícios das

centúrias, a votação da proposta da norma, através da seguinte pergunta:

“Quereis e ordenais cidadãos?”. A fase da rogatio era verdadeiramente

essencial à validade do processo de formação da Lex Rogata, porque

permitia ao povo, reunido nos comícios, o exercício do seu poder legislativo

que se traduzia na faculdade de poder votar favoravelmente,

desfavoravelmente, ou abster-se de votar a proposta de lei.

4ª – Votação - Caso o Povo reunido nos comícios das Centúrias votasse

favoravelmente a proposta de Lei, tal como lhe tinha sido rogado pelo

Magistrado Ordinário proponente, esta proposta convertia-se numa

autêntica Lei que, no entanto, para entrar em vigor necessitava ainda a

aprovação do Senado.

Inicialmente a votação era oral tornando-se depois escrita e secreta por

força da Lex Papiria Tabellania

5ª – Aprovação pelo Senado - Depois de votada favoravelmente pelo Povo a

Lei era levada ao Senado para aprovação mediante a concepção da

Auctoritas Patrum.

Tornando-se então perfeita e apta para entrar em vigor o processo de

formação da Lex Rogata.

6ª Afixação – O processo de formação da Lex Rogata conclui-se com a

afixação da Lei no Fórum público, para meros efeitos de publicidade

(conhecimento) da mesma.

Era assim que nascia uma Lei.

b) Plebiscito

Foi outra das espécies de Lex Pública e comicial do Direito Romano.

Page 27: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Com efeito, tal como a Lex Rogata era uma deliberação solene com valor normativo que

resultava de um compromisso entre o Magistrado que a propunha e o Povo reunido em

comícios que a votava.

Tal também como a Lex Rogata, o Plebiscito via a sua votação ser rogada pelo

Magistrado proponente ao Povo.

Diferentemente da Lex Rogata, o Plebiscito era exclusivamente elaborado por um

Magistrado Extraordinário, o Tribuno da Plebe, votado pelo Povo reunido nos Concilia

Plebis e nunca sujeito à aprovação pelo Senado, o que significa que apenas possuía

duas fontes Exsistendi - O Tribuno da Plebe e os Concilia Plebis.

Também diversamente do que sucedia com a Lex Rogata, que após a aprovação

pelo Senado entrava em vigor com um carácter geral vinculando quer Patrícios, quer

Plebeus. O Plebiscito até ao ano de 287 a.C. apenas vinculava os Plebeus, pelo que

não possuía até ao referido ano a mesma dignidade normativa da Lex Rogata.

c) Leges Dictae e Datae

Até ao ano 242 a.C. em Roma prevaleciam as Leges Datae sendo que segundo o Dr.

Sebastião Cruz, do Sec. V ao Sec. III a.C. o Direito Romano apenas conheceu como

leis públicas e comiciais a Lex Rogata e o Plebiscito.

Após o Sec.III a.C. que sabe-se terem existido dois outros géneros de Leis públicas e

comiciais do Direito Romano - As Leges Datae e Dictae

As primeiras terão sido Leis proferidas por um Magistrado no exercício de um poder

especial que o Povo nele delegou e as segundas proferidas por um Magistrado no

exercício de poderes que lhe eram próprios.

Com a instituição do Principado, enquanto forma de organização política de Roma e

dentro da estratégia levada a cabo pelo Imperador Octávio César Augusto com

vista à centralização de todos os poderes na sua pessoa, os poderes legislativos são

retirados aos comícios populares para serem atribuídos ao Senado, o que conduz ao

desaparecimento daqueles por inactividade e em consequência ao igual

desaparecimento das Leis que nestes comícios eram produzidas – Lex Rogata e

Plebiscito.

A partir do Sec. I d.C. surge um outro tipo de Leis do Direito Romano produzidas

pelo Senado e a partir do Sec. IV vive-se em Roma o verdadeiro império das leis

produzidas pelo Imperador que se convertem na única fonte manifestandi do Ius

Civile.

Page 28: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

4 – Análise da Lei das XII Tábuas

Para o Dr. Sebastião Cruz a Lei das XII Tábuas terá sido a primeira Lei pública e

comicial do Direito Romano.

Se bem que existam na Doutrina certos autores que discordam do Dr. Sebastião Cruz

considerando que as primeiras Leis Públicas e comiciais do Direito Romano terão sido as

chamadas Leges Regiare e o Ius Papiriano que consistiam numa colectânea de leis

produzidas no Sec. VII a VI a.C. votadas favoravelmente em comícios populares sob

proposta de Rei e mais tarde compiladas pelo Sumo Pontífice Papirios.

O Dr. Sebastião Cruz considera, no entanto, que estas Leges Legiae terão sido na

verdade meros preceitos consuetudinários.

A Lei das XII Tábuas é assim para este autor entendida como a verdadeira primeira Lei

pública e comicial do Direito Romano.

Trata-se de uma Lei elaborada por volta do ano 450 a.C. por um organismo

especialmente eleito para este efeito, sendo depois votada pelo Povo reunido nos

comícios da Centúria e afixada no Fórum público e publicada em XII Tábuas de

madeira.

Pensa-se ter nascido de uma das várias rebeliões sociais desencadeadas pelos Plebeus

na sua constante luta por um regime de igualdade de Direitos com os Patrícios.

4.1 – O seu valor, a sua divisão interna e o seu conteúdo.

Quanto à sua divisão interna é uma Lei composta por 12 partes equivalentes às 12

tábuas em que foi publicada e cada uma dessas partes subdividia-se em várias Vis ou

fragmentos.

Da 1ª à 3ª regulamentam-se matérias de Processo Civil, da 4ª à 5ª o Direito da

Família e sucessões. Na 6ª versava-se sobre os negócios jurídicos, da 7ª à 12ª sobre

o Direito Penal.

Na sua Tábua III regulamentavam-se as consequências resultante do não cumprimento

voluntário (isto é, não imputável a um qualquer factor externo à própria vontade do

sujeito como ocorrerá num caso de estado de necessidade ou de perda de todos os

bens devido a uma catástrofe natural) da obrigação jurídica de pagar por parte do

sujeito responsável pela dívida.

Por sujeito responsável pela divida deve entender-se quer o sujeito que a contrai, isto é,

o devedor, quer o sujeito que perante o credor se responsabiliza pelo pagamento da

divida contraída pelo devedor, isto é, o fiador.

Page 29: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

4.2 - Consideração detalhada tábua III da lei das XII tábuas, que versava sobre

as consequências decorrentes do incumprimento voluntário da obrigação jurídica de

pagar, que da válida celebração de uma Stipulatio (de um negócio jurídico que

consistia num empréstimo em dinheiro) nascia para o sujeito responsável pela

dívida.

A obrigação jurídica de pagar é o correspectivo do Direito de exigir o pagamento,

sendo que, quer essa obrigação, quer este Direito, são os efeitos que se produzem na

esfera jurídica dos sujeitos envolvidos na válida celebração de um negócio jurídico que

consiste num empréstimo em dinheiro e que no Direito Romano chamava-se Stipulátio.

Segundo o disposto na 1ª Lei da Tábua III, sempre que o responsável pela divida não

cumpri-se voluntariamente com a sua obrigação jurídica de pagar, o credor levava-o a

tribunal, dando-se inicio à chamada acção declarativa. Esta tinha por finalidade,

declarar a existência da divida e, em consequência, do Direito do sujeito credor e a

obrigação do sujeito responsável pela divida.

Introduzido o pedido em tribunal iniciava-se o processo jurisdicional, que deve entender-

se como conjunto organizado de actos que se desenvolvem desde o momento em que o

pedido é introduzido em tribunal até ao momento em que ele é resolvido através da

emanação da Sentença.

O processo jurisdicional romano admitia duas fases:

1) Fase In Iure, era presidida pelo Pretor e nela se desenvolviam as principais

actividades que sustentavam a resolução do litígio, designadamente a análise da

natureza jurídica do pedido e a recolha e produção da prova.

2) Apud Iudicem, era presidida por um particular – o Iudex, ao qual cabia emanar a

sentença.

Durante a Acção declarativa podiam ocorrer uma das seguintes duas situações:

a) O responsáveis pela divida confessava-a, obtendo-se assim um confessio In Iure,

logo na primeira fase do processo jurisdicional e não se transitando portanto

para a fase Apud Iudicem.

b) Não existindo qualquer confissão após a produção da prova na fase Apud

Iudicem, o Iudex emanava uma sentença condenado o responsável pela dívida

obtendo-se assim, uma Iudicatio.

Page 30: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Muito importante Quer o confessio In Iure, quer a Iudicatio assumem a natureza de verdadeiros títulos

executivos permitindo ao Pretor, em caso da insistência no incumprimento por parte do responsável pela dívida abrir acção executiva sem a necessidade de voltar a proceder à recolha e analise de qualquer prova.

De acordo com a 2ª Lei da Tábua III, após o confessio In Iure ou a emanação da Iudicatio é concedido ao responsável pela divida um período de 30 dias para que este

pague. Este período de 30 dias era entendido como um verdadeiro período de tréguas, desde logo, porque se proibia toda e qualquer espécie de vingança privada. Findo este

período e não ocorrendo o pagamento, o credor podia agarrar na pessoa do responsável pela divida levando-o de novo ao tribunal para se dar inicio à fase

executiva. A 3ª Lei da Tábua III dispunha que uma vez em tribunal, o responsável pela divida visse a sua pessoa ser adjudicada à pessoa do credor por força da Manius iniectio que o

Pretor proferia. Esta Manius iniectio permitia, portanto, o apoderamento físico da pessoa do responsável

pela dívida, pelo credor, que o levava para sua casa onde o mantinha em cárcere privado.

A 4ª Lei da Tábua III referia a situação de quase escravidão em que o responsável da dívida se passava a encontrar e em consequência a limitação do núcleo essencial dos

seus direitos de personalidade. Contudo também se referia nesta Lei que uma vez que o responsável da divida ainda conservava a sua condição de Sui Iuris, ele mantinha a capacidade de gozo e de

exercício de Direito sobre o seu património. O que lhe será essencial para o eventual exercício da primeira forma do Direito de pactar, tal como consagrado na 5ª Lei da

Tábua III. De acordo com esta 5ª Lei, o responsável pela dívida, de forma a evitar a fase final da

acção executiva, que traduzia a perda da sua condição de Sui Iuris e a consequente conversão em escravo, podia exercer com o sujeito credor o Direito de pactar mediante

uma das seguintes formas: a) Decidia, e comunicava tal decisão ao credor, pagar o montante da dívida, assim se auto-libertando (a partir da Lex Vallia – 160 a.C.);

b) Era resgatado por alguém; c) Decidia entregar-se ao credor como seu serviçal e criado para qualquer tipo de

função até que a dívida se considerasse paga, momento em que se libertaria. Se contudo, não fosse exercido este Direito de pactar, o responsável pela dívida

manter-se-ia preso durante mais 60 dias – período no qual seria levado a 3 feiras públicas consecutivas, onde o valor da sua divida era anunciado pelo Pretor na expectativa que algum familiar ou amigo paga-se resgatando, assim, o sujeito.

Se nada do que se acaba de descrever acontecesse, chegava-se à fase final da execução da dívida, que de acordo com a 6ª Lei da Tábua III, se traduzia na conversão

do sujeito em escravo e, em consequência, na sua transferência para o domínio do Direito de propriedade do credor que, enquanto proprietário, podia fazer do escravo o

que bem entende-se, isto é, podia usa-lo, vende-lo ou mata-lo e esquarteja-lo para efeitos de prevenção geral face aos demais sujeitos da sociedade Romana.

Acção declarativa

a) Confessio In Iure, na fase In-Iure (Pretor)

ou b) Iudicatio na fase Apud-Iudicem (particular – Iudex)

Acção executiva

Page 31: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

a) Manius Iniectio

b) Direito de Pactar …

Acto de se nexundare

c) 3ª Feiras Públicas d) Perda da condição de Sui Iuris e conversão em escravo

e) Transferência para a propriedade do credor enquanto um verdadeiro “Res”

Continuação da análise da Lei enquanto Fonte Manifestandi do Ius Civile A Lei em sentido amplo

Os Senatusconsultos

1) Noção de Senatusconsultos e a sua importância enquanto fonte Manifestandi do Ius Civile

Desde a criação de Roma como cidade – 753 a.C. as estruturas políticas romanas contavam com o Senado como um dos órgão titular do poder de soberania. No entanto,

até à fase do Principado, o Senado não dispunha de poder legislativo. Pelo que os Senatusconsultos, até à referida fase, tinham a acepção de respostas dadas pelo Senado ás consultas que lhes eram feitas sobre determinadas questões ou matérias, ou

seja, tinham carácter consultivo. Se bem que na transição da fase da monarquia para a da república os Senatusconsultos na prática deixassem de consistir em conselhos para se

converterem em ordens. Só no Principado (a partir do Sec. I a.C.) ganham carácter normativo transformando-se

em verdadeiras leis do Ius Civile, ou seja, fonte mediata de Direito. Tal ocorre dentro da estratégia desenvolvida pelo Imperador Octávio César Augusto

visando centralizar na sua pessoa todos os poderes, decidiu tirar o poder legislativo aos comícios populares, que acabam assim por desaparecer devido à sua inactividade e concedem esse poder ao Senado que sendo uma assembleia de natureza aristocrata

oferecia uma oposição às intenções do Imperador. A partir do Sec. I a.C. a acepção de Senatusconsultos é pois a de leis produzidas pelo

Senado. À medida que as estruturas próprias do Senado se vão consolidando na organização

política de Roma e que o Imperador vai aumentando os seus poderes os Senatusconsultos passam também a ser manifestações da vontade do Imperador, posto

que este sempre que pretendia ver uma determinada matéria convertida em Lei reunia o Senado, expunha oralmente as suas intenções e as leis eram por este órgão aprovadas quase sem prévia discussão.

Inicia-se a decadência aos Senatusconsultos enquanto fonte manifestandi do Ius Civile e estes passam a ser chamados de Orationes Princeps.

A partir do Sec. IV d.C. o Direito Romano é exclusivamente produzido pelo Imperador através das suas Constituições Imperiais, desaparecendo então qualquer tipo de Lei em

consequência os Senatusconsultos.

2 - Análise detalhada do Senatusconsultum Velleianum Senatusconsultum Velleianum Aplicava-se

Aos negócios jurídicos da Intercessio (intervenção favorável a favor de outrem) = Tipo de negócio jurídico celebrado por cidadãs romanas devido às falsas

promessas de casamento feitas pelo sujeito devedor

Não se aplicava

= Motivação para a

celebração do

negócio jurídico

Page 32: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

A qualquer outro regime jurídico, mesmo que celebrado pela cidadã romana

devido ao aliciamento feito através das falsas promessas de casamento.

Á Intercessio celebrada de má-fé por parte da cidadã romana, pois o

Senatusconsultos Velleianum protegia as mulheres enganadas mas não as enganadoras.

À Intercessio celebrada para a prossecução de um interesse patrimonial próprio por parte da cidadã romana.

2.1 – Trata-se de uma lei produzida pelo Senado por volta do ano 56 d.C. e que deve o seu nome ao facto de ter sido proposta pelo Cônsul Velleus.

2.2 – Na base da produção desta Lei pelo Senado, encontrava-se a intenção de proteger as cidadãs Romanas que tivessem sido levadas a responsabilizar-se por divida

ou dividas contraídas por um cidadão romano em virtude de falsas promessas de casamento que este lhes tivesse feito.

Proibiu a todas as mulheres, a pratica de actos de Intercessio a favor de qualquer homem, ou seja, proibiu que elas se responsabilizassem, e de qualquer forma, pelas

dividas contraídas por um homem. O Senado invocou, portanto, para justificar esta Lei, razões que se prendiam com a

fragilidade própria do sexo feminino e com princípios da sociedade romana que designadamente não consideravam ser conveniente que as mulheres desempenhassem cargos viris.

O objectivo desta Lei foi: - Proibindo a celebração do negócio jurídico da Intercessio às cidadãs romanas impedir

as frequentes situações de ruína patrimonial e pessoal, em que estas acabavam por cair, visto que normalmente não obtinham do sujeito devedor a realização das

promessas por ele feitas e quase sempre no momento em que o credor demandava alguém para o pagamento da divida optava pela cidadã intercedente visto esta dispor

de uma maior capacidade patrimonial.

2.3 – Âmbito de aplicação desta Lei

Como toda a norma jurídica também este Senatusconsultos possuía um específico âmbito de aplicação.

Só regulamentava as situações concretas em que: a) O negócio jurídico celebrado pela cidadã romana fosse uma Intercessio, ou

seja intervenção favorável a favor de outrem) b) A motivação que esteve na base da celebração desse negócio jurídico

tivesse sido o aliciamento sofrido pela referida cidadã através de falsas

promessas de casamento que lhe haviam sido feitas pelo sujeito devedor. Note-se que os dois referidos requisitos são cumulativos pelo que este Senatusconsultos

não se aplicava sempre que: a) Aos negócios jurídicos celebrados pela cidadã romana fossem um outro que

não a Intercessio e mesmo que tivessem existido as falsas promessas de casamento feitas pelo sujeito devedor (assim, por exemplo, se a cidadã romana convencida que se casaria com o sujeito devedor decidisse doar-lhe

um determinado bem ou quantia em dinheiro que o sujeito depois utilizaria para o pagamento da divida ainda que nesta hipótese a motivação e o fim

que levava a cidadã romana à celebração do negócio jurídico tivessem sido os mesmos que se exigem para a aplicação deste Senatusconsultos não

aplicará tal lei porque o negócio jurídico celebrado não foi uma Intercessio);

Page 33: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

b) Aos negócios jurídicos de Intercessio celebrados pela cidadã romana de má-

fé porque nesta hipótese a motivação que conduz à celebração do negócio jurídico reside num intuito deliberado e consciente de prejudicar o sujeito

credor e como o Direito nunca protege a má-fé não pode permitir-se a aplicação deste Senatusconsultos a este tipo de Intercessio.

c) Aos negócios jurídicos Intercessio celebrados pela cidadã romana com vista à

prossecução (prosseguimento) de um interesse próprio (tal acontecerá, por exemplo, se for ela própria também devedora do sujeito credor em causa e

se ao realizar a Intercessio a favor do cidadão devedor, ela obtiver do sujeito credor, por exemplo, a dilatação do prazo para o pagamento da sua

própria divida).

3) Noção de espécies de Intercessio

A Intercessio era o negócio jurídico pelo qual alguém (neste caso a cidadã romana) intercedia a favor de outrem responsabilizando-se pelas dívidas que esse outro havia

contraído. A consequência jurídica da válida celebração da Intercessio é tornar a cidadã

intercedente em sujeito responsável pelo pagamento da dívida, sendo assim, findo o prazo estabelecido o credor podia demandar a intercedente para o cumprimento da

obrigação jurídica de pagar. A Intercessio podia realizar-se através de uma das seguintes três espécies:

a) Intercessio cumulativa - o que ocorria sempre que a cidadã intercedente se

responsabilizava perante o credor pela dívida conjuntamente com o sujeito devedor. Sendo assim, passavam a ser dois os sujeitos responsáveis pela dívida e o credor podia

demandar um ou outro desses sujeitos. b) Intercessio privativa - ocorria sempre que a cidadã intercedente se obrigava

perante o credor no lugar do devedor cuja obrigação se extinguia. Sendo assim, só a cidadã intercedente era demandada para o cumprimento da dívida.

c) Intercessio tacita - ocorria sempre que a cidadã intercedente se obrigava perante o credor ab initio, isto é, desde o inicio, para que o sujeito devedor nem sequer aparecesse. Sendo assim, na prática só ela era demandada para o cumprimento da

dívida.

Nota importante A Intercessio no Direito Romano surge-nos com uma determinada acepção quando

pensado no contexto do Direito Privado, e uma outra quando pensada no contexto do Direito Público. No Direito privado a Intercessio é um negócio jurídico pelo qual alguém se

responsabiliza pelas dívidas de outrem. No Direito público é o poder que assistia ao Magistrado extraordinário – Tribuno da

Plebe, de vetar ou anular decisões tomadas por um qualquer Magistrado Ordinário sem que entre eles existisse uma relação de hierarquia (chamava-se a este poder Ius

Intercessionis)

4) Consequências da aplicação do Senatusconsultos Velleianum

Reunidos os requisitos cumulativos necessários para a aplicação desta Lei, essa Lei conduzia ao seguinte:

- O negócio jurídico da Intercessio que a cidadã romana tivesse celebrado por ter sido a tal conduzida, mediante falsas promessas de casamento que o sujeito devedor lhe

Page 34: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

havia feito não era considerado inválido face aos Ius Civile mas sobre ela impendia a

sanção da ineficácia. Sendo ineficaz esse negócio jurídico não produzia os seus efeitos típico, o que

significava que quando demanda pelo credor para pagar a cidadã intercedente podia recusar-se a faze-lo e sustentava esta sua recusa na protecção que lhe era conferida por este Senatusconsultos invocando a seu favor um exceptio Senatusconsultos velleianum

(a exceptio era uma das clausulas que integravam a formula processual que durante o processo jurisdicional finda a fase In Iure ou então, o Pretor podia, desde logo, inutilizar

o pedido do credor ao demandar a mulher intercessora, mediante a denegatio actiones. O Pretor regia e entregava ao Iudex para que este emanasse a sentença.

Esta cláusula continha alguma ou algumas circunstâncias que funcionavam como atenuantes do comportamento do sujeito demandado.

No caso concreto a exceptio invocava a existência do Senatusconsultos velleianum que visando proteger a cidadã intercedente introduzia uma excepção à regra segundo a qual todo aquele que se responsabiliza pela divida de outro, pode ser pelo credor, nas

mesmas condições esse outro demandado para o pagamento dessa dívida. Caso a cidadã romana tivesse pago, ignorando estar assistida pela protecção deste

Senatusconsultos, podia reclamar o que pagou, pois entendia-se que a mulher intercedente não ficava efectivamente obrigada, nem sequer contraia uma obrigação

natural.

Senatusconsultum Macedonianum (75 d.C.) Requisitos cumulativos:

a) Stipulatio (Tipo de negocio jurídico)

b) FiliusFamilia »»» Sujeito devedor c) Divida contraída para a prática de actos de imoralidade

FiliusFamilia: - Com PatérFamilia vivo

- Não pode ser emancipado Analise do Senatusconsultum Macedonianum

1 – Ano de entrada em vigor e razão de sua denominação. 2 – Razão de ser e noção de FiliusFamilia. 3 – Âmbito de aplicação

4 – Consequências da aplicação desta lei 5 – Formas de reacção do FiliusFamilia quando demandado para pagar.

6 – Pessoas a quem a protecção deste Senatusconsultos era concedida.

1 – Ano de entrada em vigor e razão de sua denominação. Trata-se de uma lei produzida pelo Senado para entrar em vigor em 75 d.C. Teve na base da sua formação a seguinte ocorrência, da qual derivou a sua denominação:

O FiliusFamilia Macedónio, devido ao endividamento em que se colocou por ter celebrado vários empréstimos em dinheiro, com vista à prática de actos de imoralidade,

acabou por matar o PatérFamilia, com vista a tornar-se ele próprio PatérFamilia, e a poder, assim, dispor livremente dos seus bens e pagar as suas dívidas.

2 – Razão de ser e noção de FiliusFamilia.

A razão de ser desta lei prende-se directamente com a estrutura típica da sociedade romana. Com efeito, esta sociedade encontrava-se organizada de modo a colocar o PatérFamilia como elemento nuclear, atribuindo-lhe a titularidade de todos os Direitos

relativos, quer aos elementos do grupo familiar, quer aos bens que integravam o património da família.

Page 35: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Sendo assim, qualquer acto de disposição ou de administração desses bens necessitava,

para ser juridicamente eficaz, de um prévio consentimento ou de uma ratificação à posteriori, por parte do PatérFamilia.

Compreende-se pois, que os negócios jurídicos celebrados pelos elementos restantes elementos da família só fossem juridicamente eficazes quando o PatérFamilia interviesse, consentindo-os ou ratificando-os.

Do que acaba de dizer-se, resulta que, no Direito Romano, a incapacidade de exercício de Direitos, resultasse, para além das situações de menoridade ou quaisquer outras,

justificativas da interdição ou inabilitação do sujeito, também da circunstancia do PatérFamilia estar vivo e de não ter havido a emancipação desse sujeito.

A noção de FiliusFamilia prende-se, portanto, com as condições que se acabaram de referir, pelo que é FiliusFamilia, todo o cidadão romano que tenha o seu Patér vivo, e

não se encontre emancipado, e isto independentemente da idade, do cargo profissional, e dos bens que eventualmente tenha herdado, lhe tenham sido doados, ou que ele tenha adquirido em virtude do rendimento do seu trabalho.

Nota: A emancipação é uma figura jurídica constituída para limitar os efeitos das

incapacidades dos sujeitos, porque permite que o incapaz, quando emancipado, se torne titular de uma mais ou menos ampla capacidade de exercício de Direitos.

No Direito Português a emancipação existe para conceder ao menor de 16 anos de idade a referida capacidade, e opera-se nos termos do disposto no Código Civil por

força do casamento. No Direito Romano a emancipação permitia ao FiliusFamilia que ainda tivesse o seu Patér vivo uma maior capacidade de exercício de Direitos.

A noção de FiliusFamilia não deve confundir-se com a menoridade. Esta ultima é relativa a todo o cidadão romano que não tenha feito 24 ou 25 anos, enquanto FiliusFamilia é

todo aquele que tem o Patér vivo e que não está emancipado, independentemente da idade.

3 – Âmbito de aplicação

O Senatusconsultos Macedonianum aplicava-se exclusivamente ao seguinte tipo de situação concreta: a) Aos negócios jurídicos que consistiam em emprestimos em dinheiro (Stipulatio)

b) Em que o sujeito devedor era um FiliusFamilia c) Sendo que a divida contraída visava permitir ao FiliusFamilia a prática de

actos de imoralidade.

Sendo assim, esta lei não se aplicava: a) A qualquer outro negocio jurídico celebrado pelo FiliusFamilia, e ainda que a

finalidade também fosse obter dinheiro para a pratica de actos de

imoralidade. b) À Stipulatio que o FiliusFamilia celebrasse, usando para tal de má-fé,

conseguindo, p. ex., convencer o credor de que já era um PatérFamilia. c) A todo o Stipulatio que o FiliusFamilia celebrasse com vista à prossecução de

outros fins que não a pratica de actos de imoralidade. 4 – Consequências da aplicação desta lei

Verificando-se cumulativamente os 3 requisitos necessários para aplicação desta lei, a consequência que se produzia era a seguinte: A Stipulatio não fazia nascer para o sujeito devedor, o FiliusFamilia, a obrigação

jurídico de pagar, mas tão só uma obrigação natural. A obrigação natural distingue-se da jurídica por não ser judicialmente exigível, visto fundamentar-se num mero dever

social, pelo que o sujeito a cumpre ou não, consoante assim o entender (a noção de

Page 36: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

obrigação natural que hoje encontramos consagrado no Artº 402º do C. Civil reporta-se

ao entendimento desta obrigação no Direito Romano).

5 – Formas de reacção do FiliusFamilia quando demandado para pagar. Quando demandado para pagar pelo credor, o FiliusFamilia, por estar protegido por esta lei, podia recusar-se a tal pagamento invocando uma Exceptio senatusconsulti

Macedoniani. Com efeito, tal como sucede com o Senatusconsultos Velleianum, também neste caso o

sujeito protegido, que é o FiliusFamilia, pode invocar a seu favor uma excepção à regra geral. Aqui, o Pretor podia, logo desde o início, não conceder a actio ao credor

(denegatio actiones) ou se concedesse a actio, poderia mais tarde conceder-lhe uma exceptio que inutilizava a pretensão do demandante (credor)

No domínio do Senatusconsultos Velleianum a regra era a seguinte:

- todo aquele que celebrasse uma Intercessio tornava-se responsável pelo

pagamento da divida, e a excepção era:

- que sempre que a Intercessio fosse celebrada por uma cidadã romana, porque aliciada por falsas promessas de casamento por parte do cidadão devedor, essa

cidadã não era considerada responsável pelo pagamento da divida.

No domínio do Senatusconsultos Macedonianum a regra é: - Todo aquele que celebra um negócio jurídico de Stipulatio na qualidade de

sujeito devedor, passa a ter a obrigação jurídica de pagar.

A excepção à regra é:

- Sempre que o sujeito devedor for um FiliusFamilia, e o empréstimo tiver sido contraído para a prática de actos de imoralidade, o sujeito devedor não tem uma

obrigação jurídica de pagar, mas tão somente uma obrigação natural. Note-se que, ao contrario do que sucede no domínio do Senatusconsultos Velleianum, a

protecção dada ao FiliusFamilia é menor, porque, enquanto naquele, a cidadã intercedente, se pagar pode repetir, já o FiliusFamilia se cumprir espontaneamente com

a sua obrigação natural de pagar, não pode depois repetir (esta proibição também se encontra actualmente consagrada no nosso Direito no Artº 403º do C. Civil).

6 – Pessoas a quem a protecção deste Senatusconsultos era concedida. Por força da sucessão, a posição contratual do sujeito que, falecendo, é o autor dessa

sucessão, transmite-se aos respectivos herdeiros. Esta regra, que se aplica também ao negócio jurídico de Stipulatio, e que traduz uma transmissão da dívida e da respectiva

obrigação jurídica de pagar, do autor da sucessão para os respectivos herdeiros, não se aplica no âmbito destas dívidas contraídas por um FiliusFamilia para a prática de

actos de imoralidade, pelo que a protecção concedida por esta lei aos FiliusFamilias se estende aos respectivos herdeiros.

Por outro lado, o FiliusFamilia, caso se tenha entretanto tornado PatérFamilia, ou caso tenha sido emancipado, continuará a não ter a obrigação jurídica de pagar a divida, excepto se a ratificar.

Por último, a protecção dada por esta lei ao FiliusFamilia também se estende ao respectivo Patér.

Page 37: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Constituições Imperiais

I) Edicta II) Rescripta

a) Epistolas b) Subscriptio

III) Mandata

IV) Decreta As Constituições Imperiais como fontes Manifestandi do Ius Civile

1 – Noção 2 – Evolução do seu valor jurídico

3 – Tipos de Constituições Imperiais, do Sec. I - Sec IV d.C., e do Sec. IV - Sec VI d.C.

1 – Noção As Constituições Imperiais eram leis do Direito Romano produzidas unilateralmente (directamente) pelo Imperador.

Quando analisadas quanto ao seu conteúdo, podiam ser decisões de varia natureza, como é o caso da Decreta, que eram decisões judiciais proferidas pelo Imperador, mas

que na tipologia da fonte Manifestandi do Ius Civile surgem na fonte Lei.

2 – Evolução do seu valor jurídico O Imperador ou Princeps surge dentro da estrutura política de Roma na fase do

Principado. Inicialmente, e de acordo com a estratégia adoptada por Octávio César Augusto, o Imperador não detinha poder legislativo. Com efeito, preparando o caminho para a centralização na sua pessoa de todos os

poderes, este Imperador retirou o poder legislativo aos comícios populares, e atribui-o ao Senado. Surgem então as primeiras leis emanadas por este órgão, os chamados

Senatusconsultos, que em breve se transformaram em verdadeiras expressões da vontade do Imperador, passando a designar-se por Orationes Princeps.

Durante o Sec. I, e até ao Sec. III d.C., as Constituições Imperiais não têm valor de Lei. Sendo na prática ordens dadas pelo Imperador, e acatadas sem qualquer oposição

pelo Populus Romanum. No Sec. III d.C., as Constituições Imperiais equiparam-se em verdadeiras leis, e a partir do Sec. IV constituem a única fonte do Ius Romanum. Vive-se então um período de

absolutismo da lei, entendida como a decisão do Imperador. As Constituições Imperiais foram, a mando do Imperador Justiniano, compiladas no

Codex e nas Novellae do Corpus Iuris Civilis. Esta obra do Direito Romano é uma colectânea de Ius e de Leges, sendo que por Ius, neste contexto, deve entender-se o Ius

Romanum Vetus, isto é, o Direito Romano produzido até ao Sec IV d.C. pelas seguintes fontes:

a) Costume, na acepção de Mores Maiorum e de Consuetudo.

b) Lei, designadamente as Lex Rogata, Datae e Dictae, Plebiscito, e Senatusconsultos.

c) E sobretudo Iurisprudentia

Na verdade, no Digesto encontram-se fundamentalmente fragmentos de obras dos Iurisprudentes da época clássica.

Quanto ao termo Leges, significa neste contexto, Ius Romanum Novum, isto é, Direito Romano produzido a partir do Sec IV d.C., exclusivamente pela fonte Constituições Imperiais.

3 – Tipos de Constituições Imperiais, do Sec. I - Sec IV d.C., e do Sec. IV - Sec VI d.C.

Durante o Sec I e até ao Sec. IV d.C., existiam 4 grandes tipos de Constituições Imperiais:

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Historia do Direito Romano

a) Edicta, eram Constituições Imperiais de carácter geral, emanadas pelo

Imperador no uso do seu importante poder de Ius Proconsulare Maius. b) Rescripta, eram Constituições Imperiais que consistiam em respostas dadas por

escrito pelo Imperador aos pedidos ou perguntas que lhe eram feitas, designadamente, por elementos Populus Romanum e por Magistrados. No primeiro dos referidos casos, as Rescripta chamavam-se Subscriptio, e quando o Imperador respondia

a perguntas que lhe eram feitas pelos Magistrados chamavam-se Epistolas. c) Mandata, eram Constituições Imperiais que consistiam em ordens ou instruções

dadas pelo Imperador aos Governadores de Província e a outros funcionários seus, pelo que revestiam a natureza de circulares sobre problemas administrativos.

d) Decreta, eram Constituições Imperiais que consistiam em decisões judiciais proferidas pelo Imperador na sua qualidade de Presidente dos Tribunais especiais que

neste período existiam em Roma. Após o Sec IV e até ao Sec. VI d.C., período que historicamente ficou conhecido por

Baixo-Império, surgem mais dois novos tipos de Constituições Imperiais: - as Adnotationes, e as Pragmaticae Sanctiones.

As primeiras eram Constituições Imperiais que consistiam numa nova forma de o Imperador responder aos pedidos que lhe eram feitos, inscrevendo nesses mesmos

pedidos um rescrito, pelo qual concedia determinados favores, como o da isenção de impostos. As segundas terão sido Constituições Imperiais de carácter regional.

Iurisprudêntia como fonte Manifestandi do Ius Civile

1 – Sentido de Iurisprudêntia para os romanos

2 – Evolução da Iurisprudêntia como fonte do Ius Civile 3 – Evolução histórica da Iurisprudêntia

3.1 – Desde a criação de Roma como cidade até ao Sec. IV a.C., a Iurisprudêntia era uma atribuição exclusiva dos sumos pontífices

3.2 – A partir do Sec. IV a.C. opera-se a laicização da Iurisprudêntia 3.3 – A partir do Império, e sobretudo de Octávio César Augusto, assiste-se à

universalização da Iurisprudêntia

1 – Sentido de Iurisprudêntia para os romanos

O Direito Romano era entendido como um problema prático em continuo processo de realização.

Com efeito, sendo um Direito profundamente comprometido com a Praxis social, realizava-se através da resolução dos casos concretos. É neste contexto que deve entender-se o sentido de Iurisprudêntia para os romanos. Na verdade, a Iurisprudêntia

romana, sendo a ciência do Direito, era também uma técnica, devido à sua natureza de ciência pratica.

Em Roma, o Direito entendia-se mergulhado no mundo dos valores que deviam orientar a pratica social, e sendo assim, a ciência que se ocupava do estudo do Direito era uma

Iurisprudêntia e não uma Iuris Sapientia, porque não tinha um carácter meramente teórico e especulativo, antes se concretizava numa actividade intelectual dirigida a descobrir o

que era justo, honesto, útil, na convivência humana. Para além desta finalidade, cabia também à Iurisprudêntia ensinar os homens como alcançar o justo e evitar o injusto, pelo que era uma ciência de natureza pratica.

2 – Evolução da Iurisprudêntia como fonte do Ius Civile

Inicialmente a Iurisprudêntia romana tinha por função nuclear a chamada Interpretatio.

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Historia do Direito Romano

Com efeito, cabia aos estudiosos do Direito indicar quais as matérias que deviam ser

juridicamente reguladas, interpretar as normas existentes, indicar o seu carácter moral ou ético, e referir quando é que a norma jurídica já não tinha qualquer razão de ser.

Sendo assim, a Iurisprudêntia foi na realidade a primeira fonte do Direito Romano. Contudo, durante a fase da Republica, a actividade da Iurisprudêntia não era oficialmente uma fonte de Direito, porque os responsa dos Iurisprudentes romanos nesta

fase não tinham carácter obrigatório nem vinculativo. É com Octávio César Augusto que esses responsa ganham pela primeira vez um carácter

obrigatório e vinculativo. Com efeito, dentro da sua estratégia de centralização de todos os poderes na sua

pessoa, este Imperador chamou para junto de si, e colocou ao seu serviço, os Magistrados mais inteligentes, concedendo-lhes o prestígio que eles não dispunham

anteriormente, Tal ocorreu através da atribuição do Ius respondendi ex autoritates princeps.

A partir do Imperador Adriano, Sec. II d.C. a Iurisprudentia cresce de importância, tornando-se oficialmente fonte imediata de Direito, porque os responsa dos

Iurisprudentes que tinham o poder de Ius respondendi ex auctoritaté Princeps passam a ser considerados como Leges, visto possuírem uma natureza vinculativa, quer

relativamente ao caso concreto em sede do qual foram emanados, quer relativamente a futuros casos, desde que semelhantes a esse.

3 – Evolução histórica da Iurisprudêntia Inicialmente, no período que vai até o Sec IV a.C. em Roma o estudo do Direito era

entendido como um verdadeiro sacerdócio, porque era desprovido de qualquer carácter lucrativo.

Compreende-se pois que neste período inicial a Iurisprudêntia fosse uma atribuição exclusiva dos sumos pontífices, apenas estes podiam ser Iurisprudentes. A partir de

referido Sec. IV a.C. opera-se o processo de laicização da Iurisprudêntia, devido essencialmente aos seguintes 3 factores:

a) Ao surgimento da Lei das XII Tábuas, que foi a primeira lei escrita do Direito Romano, e nasceu de uma reivindicação dos plebeus por um regime de igualdade de tratamento com os patrícios.

b) Ao ensino público do Direito Romano que ficou a dever-se ao primeiro plebeu a ter o cargo de Pontífex Maximus (Tibério Coruncaneo).

c) Ao chamado Ius Flaviano, isto é, à primeira colectânea de formulas processuais redigida em Roma por um plebeu de nome Flávio, e que era

escriva de um sumo pontífice de nome Apio Cláudio. Este processo de laicização desemboca numa universalização da Iurisprudêntia a partir

do império, visto que Octávio César Augusto concede a alguns Iurisprudentes, e independentemente da sua condição social, a Ius respondendi ex auctoritaté princeps,

tornando-se a Iurisprudentia fonte oficial e imediata do Direito Romano.

Ius Praetorium

=> Parte mais importante do Ius Honorarium (todo o Ius Romanum non-Civile) Verbal

=> Única fonte de Direito – Actuação do Magistrado Pretor

a. 1ª fase – In Iure b. 2ª fase – Apud Iudicem

Page 40: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

=> Relação de complementariedade,. No sentido de correcção com o Ius Civile

(o Pretor corrige)

Lex Aebutia de formulis

escrita

formula processual

Aqui o Pretor é interprete da Lei, mas sobretudo defensor do Ius e da justiça, interpretando o Ius Civile e também corrigindo as suas aplicações injustas.

Pergunta e resposta para que a Stipulatio seja válida:

Credor: “Spondes Mihi dare?” Devedor: “Spondeo”

Até 130 a.C.

Ordens do Pretor (em poder d’Imperium) 1) Stipulatio Praetoriae a) ob dolum (dolo

b) ob metum (coação) 2) Restitutiones in integrum(RII) c) ob aetatem (menores de idade)

d) ob fraudem creditariam (fraude feita ao credor) e) ob errorem (erro desculpável)

3) Missions in possessiones – Embargos de bens 4) Interdicta

Exemplos: 1) Ordem dada pelo Pretor sempre e só a um litigio emergente de uma Stipulatio

2) Ordem dada pelo Pretor de restituir por inteiro, ou seja, desfazer o negócio jurídico. Dolo – prejuízo grave feito a alguém de propósito

3) Modo que o Pretor tem de sancionar alguém por não obedecer a uma ordem sua 4) Ordens provisórias que tinham que ser confirmadas pelo Juiz para produzir efeitos.

Expedientes do Pretor

Anteriores ao ano 130 a.C. e baseados no seu Poder D’Imperium (Poder de soberania a que os cidadãos não podiam opor-se)

1 – É uma ordem dada pelo Pretor logo é diferente da Stipulatio enquanto negócio jurídico;

2 – É uma ordem dada pelo Pretor relativa a um litígio emergente de Stipulatio que não foi validamente celebrada; 2.1 – A Stipulatio enquanto negócio jurídico: natureza, efeitos, requisitos

de validade face ao Ius Civile; 3 – Finalidade da Stipulatio Praetoriae

Expedientes do Pretor anteriores ao anos de 130 a.C. e baseado no seu poder

D’Imperium 1 - Introdução O Magistrado Ordinário Pretor Urbano detinha em simultâneo os 3 grandes poderes.

Poderes esses que em Roma se reconheciam aos Magistrados do Cursus Honorum: - Poder de Potestas

- Poder D’Imperium - Poder de Iurisdictio

Page 41: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

A principal função deste Magistrado consistia na resolução dos litígios concretos em que

ambas as partes eram Cives. Sempre que a sua intervenção fosse solicitada pelo sujeito, cujos interesses haviam sido

lesados na celebração do negócio jurídico, tratando-se de litígios em que ambas as partes tinham cidadania romana, tal significa que o ordenamento jurídico, no seio do qual se encontrava a regulamentação destes litígios era o Ius Civile.

Sendo assim, ao resolver o litígio sujeito à sua actuação, o Pretor, após análise dos factos, concedia ou negava, ao sujeito, faculdades ou prerrogativas jurídicas que

estavam consagradas no Ius Civile. Mt. Importante: O que acaba de se dizer, é essencialmente válido para a actuação do

Pretor até ao ano 130 a.C., posto que a partir deste ano, e devido a uma importante lei do Direito Romano, o Pretor passa a ter o poder de, em determinados litígios e para

a sua resolução, conceder ao sujeito Actiones Praetoriae, isto é, Direitos, poderes ou faculdades jurídicas que ele próprio, Pretor, cria. Exemplo:

Se em 128 a.C., Antonius, cidadão romano, celebrar com Bentus, cidadão romano, uma Stipulatio por força da qual se torna devedor da quantia de 10 mil sestércios, pelo

prazo de 20 dias e caso ocorra ao 10º dia do referido prazo, uma grande incêndio que coloca Antonius numa situação de empobrecimento total.

Então, quando demandado para pagar, por Bentus, o que poderá Antonius fazer? Tratando-se de uma situação que ocorre posteriormente ao ano de 130 a.C., se

Antonius solicitar a intervenção do Pretor, este baseando-se no seu Poder D’ Iurisdictio vai, aos analisar os factos em litígio, concluir que o não cumprimento da obrigação jurídica, por Antonius não lhe é imputável, pois decorre de uma catástrofe natural.

Imbuído do espírito de justiça, que o caracteriza e por neste período dispõe de uma maior autonomia relativamente ao Ius Civile, o Pretor vai resolver este litígio

concedendo aqui uma actio que ele próprio cria – Actio ficticiae, por força da qual o Pretor vai friccionar que o prazo para o pagamento da dívida não é de vinte dias, mas

sim, por exemplo, de um ano, de modo a que Antonius reúna as condições patrimoniais necessárias para o pagamento da divida.

Ora, esta dilatação do prazo a que o Pretor recorre para a resolução deste caso concreto é criado por ele próprio e não pelo Ius Civile.

Até ao ano de 130 a.C. na resolução dos litígios sujeitos à sua apreciação, o Pretor lançava mão de 4 expedientes, ou seja, emanava 4 tipos de ordens com vista à

resolução do litígio e fundamentava-as no seu poder D’Imperium se. Um poder de soberania ao qual nenhum cidadão de Roma se podia opor. Compreende-se que em

regra, as ordens do Pretor fossem acatadas pelos seus destinatários.

Expedientes do Pretor anteriores ao ano de 130 a.C. e baseados no seu poder

D’Imperium I – Stipulatio Praetoriae

1 – A Stipulatio Praetoriae era uma ordem dada pelo Pretor para a resolução de um litígio emergente de uma Stipulatio em cuja celebração não se havia observado

algum ou alguns dos requisitos de validade deste negócio jurídico exigidos pelo Ius Civile. 2 – Sendo uma ordem dada pelo Pretor, com base no seu poder D’ Imperium,

distinguia-se da Stipulatio que era um negócio jurídico, embora entre essa ordem e o negócio jurídico existisse uma relação intrínseca.

3 – Para bem compreender a Stipulatio Praetoriae é necessário caracterizar cabalmente o negócio jurídico da Stipulatio:

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Historia do Direito Romano

a) Era um negócio jurídico bilateral, porque celebrado entre duas partes;

b) Era um negócio jurídico de natureza obrigacional, porque a sua celebração nascia com a obrigação jurídica de pagar do sujeito devedor;

c) Era um negócio jurídico que tinha como efeitos típicos a criação de uma Actio ou de um direito para o sujeito credor e da correspectiva Obligatio do sujeito devedor;

d) Era um negócio jurídico que para ser validamente celebrado tinha de obedecer aos seguintes 6 requisitos cumulativos:

I) Requisitos de forma: consistia num negócio jurídico cuja forma se traduzia numa pergunta feita pelo credor “Spondes mihi dare?” e numa resposta dada

pelo devedor “Spondeo”. Sempre que o credor ou devedor não utilizassem estas palavras, mesmo que as

substituíssem por sinónimos, como é o caso de termo “promito” a Stipulatio considerava-se nula por vício de forma. II) Era um negócio jurídico oral/verbal, pelo que não podiam

validamente celebrar os menos de 7 anos, surdos e mudos. Se tal ocorresse a Stipulatio seria nula porque ferida de uma incapacidade do sujeito;

III) Era um negócio jurídico inter-presentes, pelo que se uma das partes se encontrasse ausente de Roma deveria fazer-se representar por alguém com

poderes para tal; IV) Entre a pergunta feita pelo credor e a resposta dada pelo

devedor não deve existir um tempo superior ao que é humanamente exigível para fazer uma pergunta e dar uma resposta; V) Era um negócio jurídico solene porque as partes invocavam os

Deuses como testemunhas; VI) Era um negócio jurídico abstracto porque o sujeito devedor

não tinha que indicar a razão pela qual contraía o empréstimo.

4 – Se dois cidadãos romanos ao celebrarem uma Stipulatio não observassem algum ou alguns destes requisitos de validade a Stipulatio seria nula face ao Ius Civile.

O que significava que o sujeito credor que havia efectivamente emprestado uma determinada soma em dinheiro, não tinha qualquer Direito para exigir o seu pagamento. Tal traduzia-se numa injustiça e a forma de reacção, ao dispor deste

sujeito, consistia em solicitar a intervenção do Pretor, o qual após a análise dos factos em litígio emanaria uma Stipulatio Praetoriae cuja finalidade era a seguinte:

- Ordenar ás partes que viessem à sua presença para celebrarem, de novo, a Stipulatio que haviam já celebrado de modo inválido.

Sendo assim, a consequência da utilização deste expediente, pelo Pretor, traduzia-se numa criação válida de vínculo jurídico entre o sujeito devedor e o sujeito credor.

II – Restitutiones in integrum (RII) (desvinculo do negócio)

1 – É uma ordem dada pelo Pretor com base no seu poder d’ Imperium e que significa restituir por inteiro, ou seja, era uma ordem contrária à Stipulatio Praetoriae,

pois há um negócio jurídico injusto mas válido. 2 – Tem portanto por finalidade, colocar as coisas tal como elas se encontravam

antes da celebração do negócio jurídico que lesou os interesses de uma das partes. 3 – A consequência da aplicação de uma RII pelo Pretor consiste em desfazer o negócio jurídico e desvincular, assim, os sujeitos que nele foram partes.

4 – Os negócios jurídicos bilaterais, a que se chamam contratos, são por excelência um acordo entre vontades livres e iguais.

Sendo assim, sempre que a vontade negocial de um dos sujeitos não for livremente constituída, tal afectará a validade do negócio jurídico.

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Historia do Direito Romano

As vontades negociais não são validamente constituídas sempre que na sua base exista

algum ou alguns dos seguintes elementos: a. Coacção “ob metum”

b. Má-fé c. Dolo – quando o suj. Foi enganado “ob dolum” d. Erro “ob errorem”

e. Incapacidade de exercício de Direito (menoridade) “ob aetatem” f. Simulação

g. Fraude “ob fraudem creditorum” 5 – Atendendo a estes vários elementos as RII subdividem-se nas seguintes

espécies:

a. RII OB METUM (Coacção) Era a ordem que o Pretor emanava, com vista a desfazer um negócio jurídico celebrado sob coacção.

Advertência: Para o Ius Civile a coacção não constituía condição de nulidade do negócio jurídico, contudo tratava-se de um vício da verdade, pelo que o Pretor, caso se provasse

a coacção e caso o sujeito coagido solicitasse a sua intervenção, afastava essa norma do Ius Civile e ordenava que o negócio jurídico se desfizesse.

b. RII OB DOLUM (dolo)

Era a ordem que o Pretor dava sempre que um negócio jurídico tivesse sido celebrado com dolo, ou seja, sempre que uma das partes tivesse deliberadamente induzido a outra à emanação da sua declaração negocial com intuito de a prejudicar.

c. RII OB ERROREM (erro)

Era a ordem que o Pretor dava, com vista a desfazer o negócio jurídico que um dos sujeitos tivesse celebrado porque se havia enganado. Contudo, esse erro ou engano

tinha de classificar-se como desculpável, o que só acontecia se não tivesse existido qualquer má-fé por parte do sujeito que se enganou.

d. RII OB AETATEM (Menoridade) Era a ordem que o Pretor dava, com vista a desfazer um negócio jurídico em que o

sujeito lesado era um menor de idade (24/25 anos)

e. RII OB FRAUDEM CREDITORUM (Fraude feita ao credor)

A RII ob fraudem creditorum é uma ordem emanada pelo Pretor com base no seu poder D’Imperium e a favor do sujeito credor e contra o sujeito devedor e o directo adquirente dos bens do devedor.

Stipulatio válida Doação ou venda fictícia

A B C Credor Devedor Directo adquirente dos bens do Dev.

Com a actuação do Pretor, este vai anular o negócio jurídico da doação ou venda

fictícia e restitui todos os bens de C a B. Para que o Pretor emanasse esta ordem, que tinha por finalidade desfazer o negócio jurídico de doação ou de venda fictícia, celebrado entre o sujeito devedor e o sujeito

directo adquirente dos bens era necessário que se encontrasse cumulativamente verificados os seguintes requisitos:

a) Má-fé do sujeito devedor, ou seja, intenção consciente de prejudicar o sujeito credor;

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Historia do Direito Romano

b) Má-fé do directo adquirente dos bens do devedor, ou seja, consciência das

intenções do devedor e participação activa das mesmas; c) Empobrecimento do sujeito devedor que tem de ser:

I) Provocado por si próprio e não por um qualquer estado de necessidade, uma catástrofe natural ou por um elemento exterior à sua vontade;

II) Empobrecimento total, com efeito se o devedor não transmitir na totalidade, através da doação ou venda fictícia, os seus bens ao

directo adquirente, ou se antes de decorrido o prazo para o pagamento da divida o devedor obtém uma qualquer titulo, algum

bem ou alguma soma em dinheiro, o credor far-se-á pagar com base nesse bem ou nessa soma em dinheiro;

III) Este empobrecimento tem de ser doloso, ou seja, o devedor tem de ter tido a intenção consciente de se empobrecer, para assim não cumprir com a sua obrigação jurídica de pagar.

d) Fraude feita ao credor, ou seja, prejuízo grave sofrido pelo sujeito credor com toda esta situação.

A actuação do Pretor caso na cadeia de transmissão dos bens do sujeito devedor intervindo um ou mais ulteriores adquirentes dos bens do devedor

Numa hipótese deste género a actuação do Pretor orientar-se-á pelos seguintes critérios:

1) Se o negócio jurídico celebrado entre o directo e o ulterior adquirente dos bens do devedor tiver natureza gratuita, isto é, se for uma doação, a actuação do Pretor traduzir-se-á sempre numa ordem que visa desfazer essa doação,

independentemente de o ulterior adquirente se encontrar de boa ou má-fé – a essa ordem chama-se Interdictum utile

Stipulatio válida Doação ou venda fictícia

A B C D Boa-fé Credor Devedor Directo adquirente Ulterior adq.

dos bens do Dev. Dos bens do Dev

Interdictum utile

2) Se o negócio jurídico celebrado entre o directo adquirente e o ulterior adquirente dos bens do devedor tiver natureza onerosa, isto é, se for uma compra e venda, é

necessário atender à boa ou má-fé do ulterior adquirente. Com efeito, se o ulterior adquirente estiver de boa-fé a compra e venda matem-se válida e eficaz, mas se o ulterior adquirente estiver de má-fé a compra e

venda irá desfazer-se por força de uma ordem emanada pelo Pretor e a que se chama Interdictum fraudatorium

Stipulatio válida Venda

A B C D má-fé Credor Devedor Directo adquirente Ulterior adq.

dos bens do Dev. Dos bens do Dev

Interdictum fraudatorium

III – Missiones in possessiones (embargo de bens)

Page 45: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

Era uma ordem dada pelo Pretor, com base no seu poder D’Imperium e que funcionava

como um modo de sancionar o cidadão romano que houvesse desrespeitado uma outra ordem que lhe tivesse sido dirigida pelo Pretor.

As Missiones in possessiones são a origem da actual figura do embargo de bens e produziam as seguintes consequências: - Em face do incumprimento por parte de sujeito devedor de uma ordem que era

dada pelo Pretor para que ele cumprisse com a sua obrigação jurídica de pagar, o Pretor tendo em conta o montante da dívida em causa, determinaria que algum ou

alguns dos bens do devedor se transferissem para o sujeito credor, com poderes de administração e fruição até que a divida se considerasse paga, momento em que o bem

ou bens embargados retornariam à propriedade do sujeito devedor. Isto significa que, as Missiones in Possessiones não operavam a transferência do Direito

de propriedade do sujeito devedor para o sujeito credor, que o mesmo é dizer, o bem ou bens, objecto do embargo eram transmitidos ao credor com meros poderes de administração e fruição e já não com poderes de disposição.

IV – Interdicta

Interdicta Posse = poder de facto Tratava-se de ordens dadas pelo Pretor, com base no seu poder D’Imperium que se

distinguiam das demais por terem um carácter provisório. Com efeito, estas ordens do Pretor necessitavam de ser confirmadas posteriormente

pelo Juiz. Eram ordens que este Magistrado utilizava para resolver situações com aparência jurídica e cuja não resolução colocaria em perigo a paz jurídica da comunidade.

Interdicta relativa à posse

Sobre qualquer coisa móvel ou imóvel recaem vários Direitos reais, em que o principal é o Direito de propriedade e também um poder de facto a que se chama posse.

A posse não é portanto um Direito, mas tem implicações jurídicas importantes, de entre as quais se destaca a seguinte:

- Sempre que um sujeito tem a posse pacífica de uma coisa, de modo ininterrupto por um período de tempo que no Direito Romano era de 40 anos e no Direito Português é de 20 anos. Então por força da chamada uso capião esse sujeito tornava-se

proprietário dessa coisa. Por outro lado, atendendo ao modo como a posse é obtida, fala-se de posse pacífica

que é aquela em que o sujeito actua de boa-fé. De posse clandestina que é aquela em que o sujeito adquire a posse sobre a coisa ou porque utilizou a violência ou porque

convenceu o possuidor legítimo através de insistentes pedidos a ceder-lhe a coisa. Sendo que nesta última hipótese se fale de posse obtida a título precário.

No Direito Romano as situações relativas à posse das quais emergem litígios só podiam resolver-se mediante a intervenção do Pretor.

Interdicta Possessiones

1) Interdicta Retinendae Possessiones a) Uti Possidetis

b) Utrubi 2) Interdicta Recuperandae Possessiones

a) Ad Precário b) Unde Vi c) Vi armata

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Historia do Direito Romano

As ordens que o Pretor emanava para a resolução destes litígios específicos chamavam-se Interdicta possessiones e subdividiam-se em 2 tipos:

a) Interdicta Retinendae Possessiones eram ordens de natureza proibitória que o Pretor emanava sempre que pretendia proibir que alguém que detinha uma posse pacífica fosse nela perturbado por outrem. Se a coisa possuída fosse um

bem imóvel, a Interdicta Retinendae Possessiones chamava-se Uti Possidetis. Se a coisa possuída fosse um bem móvel a Interdicta Retinendae Possessiones chamava-

se Utrubi.

b) Interdicta Recuperandae Possessiones eram ordens dadas pelo Pretor, com base no seu poder D’Imperium e de natureza restituitória, visava obrigar aquele que

havia obtido a posse de uma coisa, de forma não pacifica, a restituir essa coisa (recuperar a posse). A obtenção da posse de forma não pacifica podia realizar-se numa das

seguintes situações: 1) Sempre que o possuidor da coisa cedendo a insistentes pedidos de um

outro sujeito, lhe transmitisse a posse dessa coisa e caso posterior este possuidor, a título precário, se recusasse a restituir a coiso, o Pretor

interviria a favor do 1º possuidor emanando uma ordem que se chamava Interdicta Recuperandae Possessiones Ad Precário

2) Sempre que alguém tivesse obtido pela violência a posse de uma coisa, recusando-se depois a restitui-la o Pretor emanaria uma ordem, com vista a essa restituição chamada Interdicta Recuperandae Possessiones Unde Vi.

3) Sempre que alguém perdesse a posse de uma coisa devido ao uso de violência e posteriormente organizando um grupo de homens armados,

que o mesmo é dizer recorrendo à via armada, obtivesse a posse dessa mesma coisa. Caso o primeiro dos sujeitos envolvidos solicitasse a

intervenção do Pretor, este magistrado, ponderando o grau de violência utilizado por ambos os sujeitos emanaria uma ordem, com vista à

restituição da coisa para o sujeito que foi objecto da violência mais grave e essa ordem chamava-se Interdicta Recuperandae Possessiones Vi armata

Expedientes do Pretor posteriores ao ano de 130 a.C. e baseados no seu poder D’Iurisdictio

O Pretor cria Direito nos vários casos não previstos pelo Ius Civile, onde o Pretor concede uma actio própria (Actio Praetoriae), criando assim directamente Ius.

Ano 130 a.C. = Lex Aebutia de Formulis Impotência: Introduz uma nova forma de

processar = Agere per formulas Atribuição ao Pretor de novos expedientes

1) Denegatio actiones 2) Exceptio

3) Actiones Praetoriae (com estas o Pretor pela 1ª vez cria Ius Praetorium de forma directa)

a) Actio in Factum Conceptae (tem a mesma finalidade da Stipulatio Praetoriae)

b) Actio Ficticiae c) Actio Utile d) Actio Adiecticiae Qualitis

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Historia do Direito Romano

Com efeito, este ano assinala o surgimento de uma importante Lei do Ius Civile, a chamada Lex Aebutia de Formulis. Esta Lei apresenta uma dupla importância que cumpre

considerar: 1) No domínio do processo jurisdicional romano a Lex Aebutia de Formulis, vai

introduzir uma nova forma de processar, a que se chama agere per formulas.

Tal significa que o processo jurisdicional romano, que até então era oral, passa a ser todo ele escrito. Mantém-se a sua divisão em duas fases:

- A fase In Iure e a fase Apud Iudicem, mas doravante o Pretor, no final da fase In Iure, elabora um documento escrito, que apresenta ao Iudex e com

base no qual este emana a sentença. Este documento escrito é a fórmula processual, sendo que, consoante o tipo de

pedido introduzido em Tribunal, assim se apresenta a redacção da formula processual.

A fórmula processual romana era integrada pelas seguintes cláusulas: 1) Cláusulas ordinárias

a) Intentio – onde se esclarecia a causa de pedir b) Condemnatio – onde se indicava ao Iudex se ele deveria condenar ou

absolver o sujeito demandado 2) Cláusulas eventuais

a) Demonstratio – onde se clarificava a Intentio b) Adiudicatio – utilizada apenas quando se tratava de uma acção para

divisão de uma coisa comum

3) Cláusulas extraordinárias a) Exceptio – cláusula a favor do sujeito demandado que operava como

uma espécie de circunstância atenuante para o comportamento violador

b) Praescriptio – era uma cláusula concedia a favor do sujeito demandante.

A Lex Aebutia de formulis tem também uma particular importância no que toca à

actuação do Magistrado Pretor, na medida em que funda a atribuição de novos expedientes, com base no seu poder D’Iurisdictio.

Quanto a estes novos expedientes cumpre fazer as seguintes advertências: a) Não substituem as anteriores, antes se lhes acrescentam.

Sendo que, o que se acaba de dizer admite, no entanto, a seguinte excepção: O expediente Stipulatio Praetoriae que o Pretor utilizava para num ano anterior a 130 a.C. resolver um litígio emergente de uma Stipulatio invalidamente celebrada é

substituída pelo expediente Actio in Factum Conceptae se esse litígio ocorrer num ano posterior a 130 a.C.

b) Os novos expedientes dos Pretor já não se fundam no poder D’Imperium mas sim, no poder D’Iurisdictio, ou seja, no poder de administrar, de modo corrente, a

Justiça. c) No leque destes novos expedientes surgem as chamadas Actiones Praetoriae e

o aparecimento deste tipo de Actiones tem a seguinte grande importância: - Até ao ano de 130 a.C. o Pretor sempre que a sua intervenção era solicitada, intervinha, resolvendo o litígio concreto mediante a concepção ou a negação de Direitos,

poderes ou faculdades jurídicas que se encontravam consagrados no Ius Civile. Isto significa que a actuação do Pretor, no período anterior ao ano 130 a.C. se traduzia,

exclusivamente, na concepção ou negação de Actiones Civiles.

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Historia do Direito Romano

Diferentemente, a partir do ano 130 a.C. ainda que apenas para 4 tipos de situações

específicas, o Pretor já pode, pela 1ª vez conceder ao sujeito, que solicita a sua intervenção, um Direito, poder ou faculdade que não está plasmado no Ius Civile , pelo

que, é portanto criado ab inicio pelo próprio Pretor. Quer isto dizer, que após o ano 130 a.C., pela 1ª vez o Pretor concede Actiones Praetoriae e neste sentido cria de forma directa “Ius Praetoriae”.

Exemplo: Stipulatio validamente celebrada

Empobrecimento do devedor provocado por uma catástrofe natural, consequente impossibilidade de cumprir com a obrigação judicial de pagar.

Se esta situação ocorrer posteriormente ao ano 130 a.C., o Pretor, ponderando os interesses de ambas as partes envolvidas, posto que o devedor não cumpre devido a

um elemento exterior à sua vontade, vai criar uma Actio própria, que não está consagrada no Ius Civile, e por força da qual, dilata o prazo para o pagamento da dívida em prol da Justiça.

Esta Actio, que se traduz, na prática, em permitir ao devedor uma maior tempo para pagamento da divida, chama-se Actio Ficticiae e através dela, o Pretor cria, de forma

directa Ius Praetariae.

Denegatio Actiones – Trata-se de um expediente que o Pretor utilizava, sempre que negava liminarmente ao sujeito a Actio Civilis.

Exceptio – Era um expediente que o Pretor utilizava, sempre que tendo concedido, ao sujeito, uma Actio Civilis, posteriormente, durante a fase in iure, concluía pela

necessidade de frustrar ou inutilizar a Actio que havia sido concedida ao sujeito. A Exceptio era uma cláusula que o Pretor introduzia na forma processual, e na qual

referia alguma circunstância a favor do demandado, ou seja, inutilizava a pretenção do sujeito demandante.

Exemplo: Mancipatio (transferência de propriedade) realizada sob coacção, não entrega da

coisa pelo sujeito vendedor - Incumprimento contratual - Solicitação da intervenção do Pretor pelo sujeito comprador

Concepção a este de uma Actio Civilis, por força da qual o Direito de propriedade sobre a coisa se transfere da esfera jurídica do vendedor para a do comprador.

Porém, no decurso da fase In Iure, o Pretor apercebe-se e prova a existência de coacção, pelo que utiliza uma Exceptio para frustrar a Actio concedida ao sujeito

comprador e para atenuar o comportamento do sujeito vendedor justificando a não entrega da coisa.

Nota: Quer no âmbito do Senatusconsultos Macedonianum quer no de Velleianum sempre que o Filliusfamilia e a cidadã intercedente se pretendia eximir ao cumprimento da

obrigação jurídica de pagar, alegavam a protecção destes Senatusconsultos, invocando a seu favor uma Exceptio.

Actiones Praetoriae

1) Actiones in Factum conceptae – Trata-se de uma Actio criada pelo próprio Pretor sempre que lhe cumpre resolver um litígio idêntico àquele que lhe é apresentado no período anterior a 130 a.C., e para a

resolução do qual, o Pretor utilizava uma Stipulatio Praetoriae. Tratava-se, como o próprio termo indica, de uma Actio que o próprio Pretor cria

para dar protecção jurídica a uma situação que merece essa protecção, e não a tem da parte do Ius Civile.

Page 49: Historia do direito romano ( 1.º Semestre )

Historia do Direito Romano

2) Actiones Ficticiae – Trata-se de uma Actio que o Pretor cria por recurso à

ficção, isto é, alterando ou introduzindo, na situação concreta, um elemento novo (P.ex. dilatações de prazo para o pagamento de uma

dívida). Sendo que Pretor, assim, actua para a realização da Justiça e não para o favorecimento de uma das partes do litígio.

3) Actiones Utiles – É uma Actio que o Pretor cria, sempre que utiliza a

analogia, ou seja, sempre que para a resolução do litigio, submetido à sua apreciação, o Pretor recorre à solução que para um caso semelhante

o Ius Civile consagra. 4) Actiones adiecticiae qualitatis – Trata-se de uma Actio que o Pretor cria,

sempre que pretende responsabilizar, total ou parcialmente, o PaterFamilia por uma dívida contraída por uma Filliusfamilia ou por um

Cervos. Exemplo: O cidadão A, filho do comerciante Bentus, na qualidade de gerente do estabelecimento

comercial do seu pai, contrai, perante o cidadão romano C, uma dívida no valor de 20 mil sestércios. Dinheiro que, efectivamente, utiliza para que a gerência do referido

estabelecimento comercial. Quando demandado por C para pagar, A, enquanto Filliusfamilia, não o pode fazer. C solicita a intervenção do Pretor e este Magistrado,

provado que fica, que a divida foi contraída para a gerência do estabelecimento comercial de B, concede a C, uma Actio Adiecticiae qualitatis, de forma a responsabilizar

B totalmente, pela referida dívida, na hipótese em concreto. Esta Actio diz-se institutória.