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ILAESE - Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos MÓDULO I CURSO DE CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL CONCEPÇÃO E PRÁTICA SINDICAL 1

História do Movimento Sindical

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Estrutura sindical

ILAESE - Instituto Latino-Americano de Estudos Scio-Econmicos

MDULO I

CURSO DE CONCEPO E PRTICA SINDICALCONCEPO E PRTICA SINDICALIntroduoA opo por fazer um curso sobre concepo e prtica sindical, promovido pelo Sindicato, muitas vezes est sustentada exclusivamente por um desejo bastante positivo de conhecer um pouco do passado e da luta de nossa classe. No entanto, o que pretendemos com este curso vai um pouco alm. evidente que aqui se encontra presente a idia do conhecimento do passado. Porm, para um sindicato ou para qualquer tipo de entidade de classe, dos trabalhadores, o conhecimento sempre cmplice da ao. De uma ao que parte da reflexo sobre as experincias passadas, interferindo no presente, e que busca a construo de uma sociedade mais justa, num futuro, que esperamos, esteja prximo.

neste marco que gostaramos de introduzir o debate sobre a histria e o papel dos sindicatos brasileiros durante o sculo XX: entendendo-os como instrumentos de transformao social, apesar de nem sempre terem sido utilizados para este fim. Localizando-os como fruto das relaes capitalistas e, conseqentemente, buscando perceber as diversas foras que, no decorrer do sculo XX, atuaram e continuam atuando sobre nossas entidades na busca por descaracteriz-las como instrumentos de luta contra a explorao capitalista.

Alm disso, acreditamos que entender as alteraes pelas quais passaram nossos sindicatos neste sculo tarefa impossvel se no vista a partir de um contexto mais amplo. Cabe, portanto, afirmarmos que, por mais que o processo de atrelamento dos sindicatos brasileiros ao Estado esteja tambm relacionado s particularidades do desenvolvimento do capitalismo em nosso pas, este um fenmeno que ocorre, ao longo do sculo XX, no conjunto do globo. Um fenmeno relacionado constante tentativa por parte da patronal em derrotar a organizao dos trabalhadores, impondo limites ao seu funcionamento, transformando nossas entidades em parte integrante e subordinada s estruturas do Estado burgus.

Essa situao, com exceo do perodo de liberdade e autonomia sindical que marca as trs primeiras dcadas do sculo XX, e um breve perodo aberto pelas greves de 1978/1979, bastante clara no Brasil. A idia criada pelo governo Vargas, por exemplo, e incorporada por amplos setores do movimento sindical de Getlio como "pai dos pobres", explicita uma concepo que aponta o Estado como rbitro das relaes entre trabalho e capital, escondendo sua essncia de instrumento da classe dominante para controlar e oprimir os trabalhadores. Exemplos parecidos podem ser encontrados no governo Juscelino Kubitscheck, Joo Goulart e, dentre outros, no atual governo, de Lula. , portanto, a partir desta tica, que analisaremos a as diferentes formas de atuao sindical e as estruturas sindicais existentes, no Brasil, no decorrer do sculo XX. Para efeito de melhor compreenso, a histria do movimento sindical brasileiro, neste texto, foi considerada a partir de pelo menos quatro momentos fundamentais, que levam em considerao o norte poltico predominante de atuao em cada um deles. Anarco-sindicalismo (estrutura autnoma) - 1900/1930.

Sindicalismo baseado na colaborao de classes (1930/dc. 70).

Novo Sindicalismo - Nascido nas greves de 78/79.

Sindicalismo propositivo ou cidado - predominante na dcada de 90.

Apesar das diferentes formas de atuao predominantes em cada fase, ao longo do sculo XX, encontraremos apenas dois modelos de estrutura sindical. O primeiro, dominante at os anos 30, tinha por base a mais ampla liberdade e autonomia sindical. Os sindicatos funcionavam a partir de regras prprias, construdas, com plena autonomia, por seus integrantes. J a segunda forma de estrutura sindical, nascida durante o primeiro governo de Getlio Vargas e que em essncia permanece intocada at hoje, baseia-se no forte atrelamento dos organismos dos trabalhadores estrutura do Estado burgus.

Estrutura sindical

Conjunto de normas de funcionamento e organizao dos sindicatos

Livre e autnomoDois modelos de estrutura Atrelado ao EstadoO que veremos a seguir de que maneira as diferentes formas de ao sindical se entrelaam com as estruturas existentes, afirmando-as e, em alguns momentos, como ocorre com clareza no caso do sindicalismo de luta nascido no final dos anos 70, negando-as. Essa relao contraditria entre organizao sindical e atrelamento s estruturas do Estado burgus apontam para mais uma questo que pretendemos que seja objeto de nosso curso: em que medida o grau de subordinao e compromisso dos sindicatos ao Estado determinam e acentuam uma ao sindical que se distancia da prtica da luta direta, da existncia de democracia no interior de nossas entidades e da poltica de independncia em relao aos patres.

Por fim, outro objetivo do curso o de resgatar parte das inmeras e hericas lutas da classe trabalhadora brasileira. Uma histria recheada de mobilizaes e enfrentamentos contra a explorao capitalista, que vai contra uma espcie de senso comum no qual somos tidos como acomodados e sem disposio de luta. No texto que segue, abordaremos uma pequena parte dessa histria.

Em forma de desafio, conforme mencionado no incio desta introduo, esperamos fazer com que os debates suscitados pelo curso sirvam para que possamos viabilizar maneiras de construir a luta pela liberdade e autonomia sindical, antiga bandeira do movimento combativo e para que possamos converter nossas entidades, cada vez mais, em instrumentos de luta contra a explorao capitalista e por uma sociedade fundada na igualdade social. Luci Praun, cientista social,

integrante do corpo de cursistas do ILAESEFASE I (1900 1930)

I. O incio do sculo XX e a liberdade e autonomia sindicalA histria da organizao sindical brasileira do incio do sculo XX est diretamente relacionada presena dos imigrantes europeus em nosso pas. A primeira leva deles chega ao Brasil no final do sculo 19 embalada pelo sonho de "fazer a vida". So espanhis, italianos, alemes e portugueses entre outros, que vo parar, num primeiro momento, nas fazendas paulistas de caf em substituio a fora de trabalho escrava, numa poca em que a economia brasileira era baseada, predominantemente, no modelo agrrio-exportador.

Extremamente explorados por fazendeiros acostumados a todo tipo de desrespeito na relao com os escravos, parte dos imigrantes, pouco a pouco, vai abandonando o trabalho agrcola e se deslocando para a cidade. Na bagagem, vinda do continente europeu, alm de objetos pessoais, traziam experincia de vida, recordaes, idias socialistas e anarquistas. Predominante entre os imigrantes, o ideal anarquista aos poucos vai contaminado a jovem classe trabalhadora brasileira. refletindo essa situao que surgem as primeiras organizaes sindicais no Brasil. Uma delas, a COB (Confederao Operria Brasileira), nascida do I Congresso Operrio Brasileiro, realizado em 1906, no Rio de Janeiro, manteve em circulao um jornal, A Voz do Trabalhador, entre os anos de 1908 a 1915. Alis, concebidos como instrumento de organizao da classe trabalhadora, so diversos os jornais anarquistas e socialistas existentes na poca (Avanti; O Protesto; Novo Rumo; O Livre Pensador; A Terra Livre etc.).

Atenta movimentao daqueles novos habitantes, as autoridades governamentais no tardaram a agir. Segundo Christina Lopreato, "o primeiro registro policial sobre a atuao dos libertrios em solo paulista [...] data de 1893, quando foram presas vinte pessoas rotuladas de anarquistas e outras dez, identificadas como anarquistas e socialistas" (1997:10). Em 1907 e 1913 so aprovadas as primeiras leis no Congresso que visavam a deportao de estrangeiros considerados, na linguagem oficial, "indesejveis".

Nos anos seguintes, a represso no cessou. Ao contrrio, intensificou-se. O objetivo era o de destruir a forma de organizao do movimento que recm germinara e se espalhava dia-a-dia para outros estados brasileiros. Uma organizao baseada na plena liberdade e autonomia sindical e que, para desespero da classe dominante, defendia a destruio do Estado burgus, a construo de uma sociedade auto-gestionria e nenhuma confiana no parlamento. Como principal instrumento de mobilizao os anarquistas cultivavam a luta direta, cujo objetivo maior era a organizao da greve generalizada. No foram poucas as greves que ocorreram nos primeiros 30 anos do sculo XX. O incio da I Guerra Mundial contribuiu para agravar a situao de penria da classe trabalhadora brasileira. O aumento do desemprego e da misria serviu de mola propulsora de mais e mais lutas.

Dentre as mobilizaes desse perodo podemos destacar a Greve Geral de 1917, que teve como impulso a carestia, defasagem salarial e, inclusive, a revolta contra a adulterao de produtos alimentcios de primeira necessidade, como no caso do leite, ao qual era adicionado gua e polvilho (Lopreato, 1997:17).

Mas as reivindicaes no paravam por a. Fazia parte da pauta a defesa da regulamentao do trabalho infantil e feminino, jornada de 8 horas dirias, melhores condies de vida e trabalho. Ou seja, lutas que vinham se desenvolvendo tambm em outros pases e faziam parte das resolues da I Internacional.

Sendo assim, nas palavras de um importante dirigente anarquista, Edgard Leuenroth, o sindicato era entendido como "um organismo de resistncia e de luta dos interesses profissionais e econmicos do trabalhador, organizado, orientado e mantido pelos trabalhadores, sem interferncia de quem quer que seja" (Lopreato, 1997:12).

Contrrios organizao dos trabalhadores em partidos polticos, os anarquistas se viram cada vez mais isolados na medida em que chegavam ao Brasil as notcias do tomada do poder na Rssia pelo Partido Bolchevique. No entanto, apesar da aberta oposio, a idia vai ganhando fora a partir da Revoluo Russa de 1917. O prprio movimento anarquista se divide frente ao assunto. Parte de seus integrantes comea a aderir ao leninismo e a ajudam a fundar, em 1922, o Partido Comunista do Brasil. Dois anos depois o partido obtm o reconhecimento de "seo brasileira da Internacional Comunista", a III Internacional.

Reflexos na legislao sobre organizao sindical no perodo 1900 - 1930 (pouca regulamentao):1903Primeira lei sobre organizao sindical. Vinculada aos interesses patronais rurais, previa o direito de "profissionais da agricultura e indstrias rurais de qualquer gnero organizarem entre si sindicatos para estudo, custeio e defesa de suas terras".

1907Artigo 1 - " facultado aos profissionais organizarem entre si sindicatos, tendo por fim o estudo, a defesa dos interesses gerais da profisso e dos interesses profissionais de seus membros.

Artigo 2 - os sindicatos profissionais constituem-se livremente, sem autorizao do governo, bastando para obterem os favores da lei depositar no cartrio trs cpias dos estatutos.

Incentivos

Artigo 3 - Os sindicatos que se constiturem com esprito de harmonia entre patres e trabalhadores, como sejam os ligados por conselhos permanente de conciliao e arbitragem, destinados a dirimir divergncias e contestaes entre o capital e o trabalho, sero considerados como os representantes legais da classe integral dos homens do trabalho, e como tais podero ser consultados em todos os assuntos da profisso"

Aos poucos o peso do anarquismo no movimento sindical brasileiro vai diminuindo. Em que pese a tremenda represso desencadeada contra o movimento desde o incio do sculo, o declnio do sindicalismo de feio anarquista tambm est relacionado aos limites da ao poltica levada a cabo por essa corrente. Sua concepo de ao sindical baseada quase que exclusivamente nas reivindicaes imediatas da classe trabalhadora, cujo objetivo era o da construo de uma intensa e generalizada greve que levaria ao colapso do sistema capitalista, na verdade, acabou cumprindo um papel limitador tanto da organizao como da luta poltica - fator fundamental na disputa entre as classes.

A partir de 1930, com a intensificao de medidas governamentais que visavam destruir a liberdade autonomia sindical, o movimento anarquista brasileiro sofre o seu golpe definitivo.

FASE II (1930 1964)II. Atrelamento ao Estado e colaborao de classes

Em 1929 o mundo se v estremecido pela crise da bolsa de valores de Nova Iorque. No Brasil, como reflexo da crise, entra em colapso o modelo agrrio-exportador. A venda do caf cai drasticamente no mercado mundial. As exportaes encalham.

Imediatamente os trabalhadores brasileiros sentem, mais uma vez, os efeitos da crise: desemprego, salrios achatados, misria. Como resposta mais e mais greves, comcios, marchas, particularmente, em So Paulo e Rio de Janeiro. Uma das manifestaes, que ocorre no Rio de Janeiro em 1930, fica conhecida como Marcha contra a fome. A resposta do governo imediata: muita represso.

Ainda neste ano eclode um outro movimento que se encontrava em gestao desde meados da dcada de 20, que ficou conhecido como Revoluo de 1930 e culmina com a deposio de Washington Luiz e a posse de Getlio Vargas. Chega ao fim a Primeira Repblica (1889-1930). Para a classe dominante, se por um lado comea a se fortalecer a idia, encarnada por Getlio Vargas, de que a sada para a crise passa por incentivar a industrializao do pas, por outro tambm se consolida a de que chegada a hora de tentar dar um basta definitivo aos anarquistas e socialistas e constante movimentao reivindicatria dos trabalhadores, cuja direo era considerada parte da "ameaa vermelha" que rondava o mundo capitalista a partir da Revoluo Russa de 1917. Alm disso, toda aquela organizao e mobilizao constante, na prtica, constitua-se num empecilho aos projetos de industrializao nacional baseados no taylorismo/fordismo.

, portanto, com o objetivo de desmantelar a estrutura sindical livre e autnoma vigente e, sobretudo, as lutas por ela encaminhadas, que, a partir de 1931, so criadas leis que ao mesmo tempo em que garantem velhas reivindicaes dos trabalhadores (ver quadro sobre legislao, ano de 1932), estabelecem uma maior submisso do trabalho ao capital. Na verdade, a classe dominante, representada por Getlio, estabelece o jogo no qual era preciso entregar os anis para no perder os dedos. Se por um lado contemplava na lei antigas reivindicaes do movimento, buscando cont-lo, por outro, dava incio ao processo que culmina com a criao do imposto sindical em 1937 e com a CLT em 1943, retirando, gradativamente, das entidades sindicais dos trabalhadores a liberdade e autonomia frente ao Estado e, no menos importante, seu perfil de instrumento de organizao da luta. Fortalece-se, portanto, o sindicalismo amarelo (sindicalismo pelego, com dirigentes ligados ao governo e patres) e os sindicatos passam a ser considerados parte da estrutura do Estado.

Num primeiro momento a resposta da classe trabalhadora de resistncia. Somente 25% dos sindicatos do Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul aceitam as regras de atrelamento. Os sindicatos, agora dirigidos por anarquistas, comunistas (ligados ao PCB) e trotskistas, tentam continuar funcionando margem do atrelamento. No entanto, em 1934, o movimento sindical autnomo sente mais um duro golpe: Vargas determina que s se beneficiaro dos direitos trabalhistas previstos na lei os trabalhadores filiados aos sindicatos oficiais.

No ano seguinte, lanando mo da Lei de Segurana Nacional (LSN), Getlio Vargas intensifica ainda mais a represso ao movimento. A LSN, promulgada em 4 de abril de 1935, definia crimes contra a ordem poltica e social. Sua principal finalidade era transferir para uma legislao especial os crimes considerados contra a segurana do Estado, submetendo-os a um regime mais rigoroso, com o abandono das garantias processuais.

Apoiado na LSN, o governo fecha os sindicatos autnomos e prende suas lideranas. A represso aumenta ainda mais no segundo semestre daquele ano com a tentativa frustrada de insurreio, impulsionada pelo PCB, por meio de uma ao apoiada em setores das Foras Armadas e completamente desvinculada da mobilizao da classe trabalhadora, que ficou conhecida como Intentona Comunista. Dois anos depois, como desfecho de toda a represso imposta aos seus opositores, Getlio d um golpe e institui um governo ditatorial cujo perodo ficou conhecido como o do Estado Novo (1937-1945).

Inaugura-se na dcada de 30, conseqentemente, um novo momento do movimento sindical brasileiro no qual passa a predominar, mesmo que com variaes ocasionadas pela presso das mobilizaes (como as que ocorrem no final dos anos 50 e incio dos 60), um tipo de sindicalismo apoiado na colaborao de classes. Os sindicatos se convertem em rgos de sustentao das regras do jogo da ordem capitalista. A ideologia governamental a da paz social e, para "garanti-la", uma poltica de represso e atrelamento mediada por reconhecimento legal de antigas reivindicaes da classe trabalhadora brasileira. Reflexos na Legislao trabalhista e sindical entre 1930 - 1943:

1931Criao Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio.

Decreto 19.770 - Unicidade, direito de interveno em diretorias, assemblias e finanas dos sindicatos. Estatutos deveriam ser registrados e aprovados pelo Ministrio do Trabalho.

1932Greve dos Sapateiros e Ferrovirios. Mais categorias aderem.

Conquista da Lei de frias, jornada de 8 horas (48h/s), lei do salrio mnimo, regulamentao trabalho de mulheres e menores de 14 anos.

1934Decreto prev que s trabalhadores filiados aos Sindicatos oficiais tm direito legislao trabalhista.

1935Lei de Segurana Nacional / Estado de Stio.

1937Golpe de Getlio - Estado Novo.

1939/

1941Lei do Enquadramento e Lei do Imposto Sindical

Enquadramento - regulamentao das Confederaes / Federaes e Sindicatos

Imposto Sindical - financiamento da estrutura sindical: 5% Confederaes 15% Federaes 20% Ministrio do Trabalho 60% Sindicatos

Instituio do assistencialismo

Lei do salrio Mnimo (1940) / Criao da Justia do Trabalho (1941)

1943CLT - unio das leis e decretos desde 1930.

Podemos falar ento que a estrutura sindical consolidada em 1943, com a criao da CLT (Consolidao das Leis do Trabalho), construda ao longo dos 13 anos que a antecedem, extremamente verticalizada. Ou seja, em seu topo rgos confederativos, seguidos pelas federaes e sindicatos de base, organizados por categorias profissionais. As centrais sindicais, organizaes horizontais que possibilitam a juno de diversas categorias profissionais num mesmo rgo sindical, no so permitidas.

Mas essa no a nica forma de atrelamento. Na lei passa a constar tambm definies quanto s funes do sindicato: normas para o seu funcionamento (estatuto); fiscalizao do uso das finanas (controle das formas de arrecadao e da utilizao dos recursos); necessidade de solicitao de autorizao, junto ao Ministrio do Trabalho, para funcionamento, assim como a unicidade sindical. Outra importante forma de controle a instituio do imposto sindical. Com o imposto, acentuam-se as caractersticas assistencialistas dos sindicatos, que passam, neste momento, a fornecer atendimento mdico, odontolgico, advocatcio etc.Ao mesmo tempo em que cria regras de controle para movimento, o governo Vargas investe na indstria de base, criando as condies para a produo, a partir de meados dos anos 50, dos bens de consumo durveis, dentre os quais, o automvel. Aproveita para fazer propaganda da paz e harmonia social entre as classes, tentando converter as conquistas do movimento em concesses governamentais. Tais medidas, evidentemente, geraram um certo refluxo do movimento.Outro empecilho para a luta da classe trabalhadora diz respeito direo do movimento, que sofre muita influncia da poltica do PCB. O partido cresce e mantm, no perodo, uma poltica oscilante e sustentada na conciliao de classes. Em 1943, ainda durante o Estado Novo e aps sofrer duros golpes da ditadura como a priso de Prestes e a deportao de Olga Benrio para a Alemanha nazista, o PCB endossa e convoca os trabalhadores a apoiar o movimento que defendia uma nova constituinte com Getlio e, em nome de uma suposta "unidade nacional" com setores da classe dominante, tenta desestimular as greves. Com o enfraquecimento da ditadura getulista e a expresso poltica que a URSS havia assumido no cenrio mundial, a popularidade do Partido Comunista cresce bastante. Prestes, nas eleies de dezembro de 1945 eleito senador. O PCB elege ainda uma expressiva bancada de deputados estaduais e federais e chega a contar com 200 mil filiados. Em abril do mesmo ano (1945), fundado o MUT (Movimento Unificado dos Trabalhadores). No entanto, segundo Gianotti, apesar de constar do seu programa pontos como a defesa da "1) soberania das assemblias, ou seja, eliminao do representante obrigatrio do Ministrio do Trabalho; 2) eleio e posse dos eleitos sem depender da aprovao do Ministrio; 3) autonomia administrativa (...); 4) eliminao da padronizao dos estatutos dos sindicatos", a organizao, em nenhum momento, questiona os principais pontos da estrutura sindical criada pelo governo, no defendendo, por exemplo a ruptura com o Estado (1993: 28).

Em setembro do ano seguinte, 1946, rearticulada a CGTB (Confederao Geral dos Trabalhadores do Brasil). Apesar de desafiar o previsto na legislao, que impedia a existncia de centrais sindicais, na prtica, a CGTB tambm no rompe com o atrelamento imposto, mantendo-se no campo da conciliao entre as classes, defendida pelo PCB, e cedendo s imposies do governo. Naquele ano, tal posicionamento poltico se encontra expresso no programa das candidaturas comunistas, no qual consta a solicitao de que seja concedida "a ajuda decisiva do governo organizao sindical do proletariado... que unifique nacionalmente suas foras em uma confederao geral" (Gianotti, 1993:30).

Porm, a lua de mel com a burguesia e governo dura pouco. A II Guerra acabara e a idia de guerra fria ganha fora e se estende por todo o continente latino-americano. Em 1947, durante o governo Dutra (1946/1951), Armando Mazzo, eleito prefeito pelo PCB na cidade de Santo Andr (ABC Paulista) impedido de tomar posse. No mesmo ano o partido alvo de muita represso e posto na ilegalidade mais uma vez. Em janeiro de 1948, os mandatos de seus parlamentares so cassados. A linha poltica do partido ento muda: passam a propor greves.

Vale ressaltar que, apesar das oscilaes da direo, as greves no deixavam de ocorrer, variando apenas em intensidade. o caso da greve nacional dos bancrios em 1946, que conquista o piso salarial para a categoria; da greve dos ferrovirios de Minas Gerais e Rio de Janeiro, txteis, mineiros de So Joo Del Rei, mdicos, metalrgicos e engenheiros em 1948, envolvendo um total de 250 mil grevistas; da dos 300 mil, em So Paulo, no ano de 1953 e de tantas outras.

O ABC Paulista

Outro processo desencadeado na segunda metade dos anos 50, com a constituio de um parque industrial na regio do ABC Paulista, o da ocorrncia de um segundo fluxo de formao da classe dos trabalhadores assalariados brasileiros, desta vez no com imigrantes europeus, mas, basicamente, com migrantes nordestinos.

A configurao do pas aos poucos se altera. A populao urbana e a classe trabalhadora crescem junto com o processo de industrializao. Confira abaixo a alterao do peso entre populao rural e urbana no Brasil:

AnoPop. Rural (%)Pop. Urbana (%)

194068.831.2

195063.8436.16

196055.3344.67

197044.0855.92

198032.4167.59

199124.4175.59

200018.7581.25

Fonte: IBGE, Pnad 2000.O iderio norte-americano de modernidade se faz presente em toda a Amrica Latina por meio do que ficou conhecido como "Poltica de Boa Vizinhana". Para os Estados Unidos o continente tem valor estratgico no s como fornecedor de matria-prima, mas tambm como mercado consumidor de seus produtos.

- Os anos 60 e o golpe militarAo final dos anos 50 e incio dos 60, o clima de instabilidade geral, a comear pelo cenrio internacional. O fantasma da "ameaa comunista", criado pelo imperialismo norte-americano para justificar sua poltica de represso constante aos movimentos sociais, est presente por todos os lados e, evidentemente, o receio da burguesia no completamente sem sentido. Em 1959, Fidel Castro e Che Guevara levam frente a revoluo cubana. O impacto na Amrica Latina enorme. Para amplos setores do movimento e da intelectualidade fica clara a possibilidade, concretizada naquela revoluo, de implantao de um modelo econmico alternativo ao adotado at ento na maioria dos pases do continente latino-americano. Alm disso, o modelo de desenvolvimento baseado na crescente internacionalizao e dependncia das economias dos pases de terceiro mundo em relao aos pases imperialistas j comea a gerar insatisfaes. Ganha fora a idia da necessidade de uma forma de desenvolvimento alternativa, que fosse contra a crescente relao de dependncia (econmica, poltica e cultural) com a Amrica do Norte.

como parte desse processo que no Brasil as lutas se intensificam e, em convergncia com a poltica de conciliao do PCB, so incorporadas pauta do movimento reivindicaes de carter reformista-nacionalista: reformas de base (agrria, urbana, eleitoral etc.), medidas de proteo do pas frente entrada descontrolada do capital estrangeiro, ampliao do papel do Estado na economia etc. De fundo, permanece, por parte do PCB, a viso de unidade com a burguesia nacional e uma poltica de no deixar que as lutas dos trabalhadores avancem no sentido de questionar o poder institucionalizado, conforme expresso na fala de Rolando Fratti, dirigente do partido na regio do ABC, sobre as manifestaes contra a carestia:Tivemos uma grande luta contra a carestia em 1962, foi uma proposta do PCB e teve xito. Depois o PCB se assustou com esse troo e no repetiu, porque era para fazer anualmente. Em So Bernardo e Santo Andr houve passeata, comcio, o diabo. Mas o que aconteceu? Na Zona Norte do Rio de Janeiro, o povinho j vinha com tanto dio, que invadiu casas comerciais e liquidou alguns comerciantes, os mais odiados, os mais careiros, foi uma verdadeira insurreio que houve em toda a Baixada. Houve tentativas em Recife e em outros lugares, mas a direo se assustou com essa brincadeira e cancelou a comemorao desse dia. Voc v uma palavra de ordem justa ao que leva? (Oliva, 1987, p.100). Os movimentos contra a carestia, citados por Fratti, so expresso tambm da crescente crise econmica. A arrecadao do governo deficitria. A inflao cresce ano a ano (50% em 1962; 75% em 1963; com estimativa de 140% para 1964). Em contrapartida, as greves tambm aumentam (de 154, em 1962, para 302 em 1963).

Em meio efervescncia poltica, do final dos anos 50 para o incio dos 60, vrios organismos de ao sindical haviam surgido: o CPOS, o PUA, o PAC, o Frum Sindical de Debates de Santos (SP). Nasce tambm, em 1962, dirigido por lideranas do PCB e trabalhistas que apoiavam o governo de Joo Goulart (1961-1964), o CGG - Comando Geral de Greves, que um ms depois se converteria em CGT - Comando Geral dos Trabalhadores.

Na rea rural o clima tambm tenso: pssimas condies de trabalho, enfrentamento armado entre trabalhadores e latifundirios, assassinato de lideranas rurais. Nenhuma das conquistas dos trabalhadores urbanos haviam sido estendidas aos do campo. Os acordos entre os setores burgueses industrial e agrrio haviam mantido intacta a estrutura social no campo, assentada no grande latifndio e na mais completa ausncia de direitos para os trabalhadores.

A luta pela reforma agrria est, portanto, na ordem do dia, assim como a defesa da extenso dos direitos dos trabalhadores da cidade para os da rea rural. Duas organizaes expressam essa luta: as Ligas Camponesas (que j vinha atuando desde a dcada de 50) e a CONTAG - Confederao dos Trabalhadores da Agricultura, fundada em dezembro de 1963, sob a direo do PCB e setores de esquerda da igreja catlica (Toledo, 1993:73-79).

Mas no s a classe trabalhadora que cresce e se organiza. Uma poderosa classe mdia, beneficiada pela poltica de industrializao em andamento no pas, baseada na produo de bens de consumo durveis, tambm se mobiliza e participa atentamente do debate poltico sobre os rumos do pas. Um exemplo do engajamento poltico, conservador, de setores da classe mdia a Marcha da Famlia com Deus, pela Liberdade, que ocorre em So Paulo cerca de duas semanas antes do golpe. A Marcha uma resposta ao Ato da Central do Brasil /RJ, ocorrido em 13/03/1964, no qual a tnica dos discursos apontava para a defesa das reformas de base e de uma poltica de vis nacionalista.

O nmero de mobilizaes cresce a cada dia exercendo uma presso constante sobre o governo. O golpe , portanto, a sada encontrada por um setor da burguesia nacional, apoiado nas Foras Armadas, e com adeso de boa parte da classe mdia, para, mais uma vez, dar um basta constante luta dos trabalhadores.

A resistncia ao dos militares em 1964 praticamente nula, apesar das inmeras mobilizaes e greves que a classe trabalhadora realiza nos anos que antecedem ao golpe. A razo para tal situao, apontada por alguns historiadores, estaria relacionada ainda pouca organizao de base do movimento sindical. No entanto, em que pesem os problemas de organizao, no podemos deixar de apontar um elemento que julgamos essencial para entender a pouca reao ao golpe: a direo do movimento, fortemente influenciada pelo PCB e pela sua poltica de apoio e aliana com um suposto setor da burguesia nacional, faz com que os trabalhadores se tornem refns da classe dominante. A falta de independncia de classe e o profundo atrelamento e dependncia das entidades sindicais s estruturas do Estado burgus, fazem com que em meio ao golpe os trabalhadores se vejam destitudos no somente de direo prpria, como de um projeto poltico alternativo, dos trabalhadores. Conseqentemente, com o movimento sindicalo posto "sob controle" pela fora das armas, abre-se tambm a possibilidade de intensificar o processo de acumulao de capital a partir do aumento da explorao do trabalho. FASE III (1978 dcada de 80)III. Resistncia e nascimento do Novo SindicalismoQuatro anos aps o golpe, em 1968, trs importantes focos de resistncia ocorrem. O primeiro, em maro, desencadeado, no Rio de Janeiro, em funo do assassinato do estudante secundarista Edson Luiz de Lima Souto, em enfrentamento com a polcia. Sua morte d seqncia a uma srie de manifestaes que tm seu auge na passeata dos 100 mil em 26 de junho daquele ano. No ms seguinte so os metalrgicos da cidade de Contagem /MG que entram em greve. Em julho a vez dos trabalhadores de Osasco paralisarem seis importantes fbricas da cidade.

Em dezembro, acontece a resposta da ditadura militar. Alm da enorme represso a cada uma das tentativas de resistncia ao longo do ano, a edio do AI-5 (Ato Institucional n 5) inaugura no Pas um longo perodo de ausncia de qualquer tipo de liberdade e de muita represso.

Quanto aos organismos sindicais, apesar de no terem sido fechados, inicialmente tiveram sua atuao limitada s rotinas previstas na legislao j existente desde a era Vargas.

No incio dos anos 70, em consonncia com o auge chamado milagre econmico, o governo passa a estimular um modelo de atuao sindical caracterizado pela ao exclusivamente assistencial. A idia vigente, propagada pelo governo militar, era a de que primeiro seria necessrio o crescimento o bolo, para somente depois, dividi-lo. A propaganda de que os benefcios do milagre econmico no tardariam a ser sentidos pelos trabalhadores, aliada proposta (nada original) dos sindicatos assistenciais e a sua pronta aceitao pelas lideranas sindicais do perodo, teve como conseqncia um aumento considervel dos ndices de sindicalizao, tanto na rea urbana como rural (Frana, 2000).

Somente dez anos depois, em maio de 1978, presenciaremos o salto de qualidade de um longo processo de resistncia que se desenvolve durante os anos mais duros da ditadura. Com os nveis de explorao atingindo patamares insuportveis e com o fim do milagre econmico, a classe operria concentrada no ABC Paulista, rompe a barreira da legalidade e desencadeia um poderoso movimento que marcar profundamente a organizao sindical e poltica dos trabalhadores brasileiros. Concretiza-se, neste momento, uma ruptura entre a prtica das direes existentes no pr-64.

Essa ruptura no ocorre toa. A concentrao operria existente nas grandes montadoras do ABC, tpica das fbricas cuja organizao da produo baseava-se no fordismo / taylorismo, havia desencadeado, no decorrer dos anos, fruto da superexplorao daqueles trabalhadores, um processo de socializao das angstias, descontentamentos, desiluses.

As aes de resistncia intensa explorao, que no auge da ditadura militar muitas vezes se manifestavam de maneira individual, com a falta ao trabalho, o murro na porta de vidro ou a briga com o chefe, aos poucos vo ocorrendo mediadas por em aes coletivas. Diferentes formas de mobilizao, que vo desde os abaixo-assinados e operaes de sabotagem da produo s paralisaes de curta durao, passam a conviver num mesmo espao fabril (Frederico, 1979; Antunes, 1992). Da para a exploso que tem incio em 1978 a partir da mobilizao na Scania e rapidamente se espalha pelo ABC Paulista, faltava apenas uma fasca. Quando ela ocorre, fruto do descontentamento com os ndices de reposio salarial, a greve e a conscincia do poder da classe trabalhadora toma conta da regio. Para uma melhor compreenso deste momento histrico, de ruptura do movimento nascido em 1978/1979 com ao sindical desenvolvida na fase anterior, precisamos ainda considerar mais trs elementos. O primeiro diz respeito composio da classe trabalhadora da regio. Como j foi apontado anteriormente, ela nasce em meio ao processo de industrializao iniciado nos anos 50 e parte do fluxo migratrio que vai alterando o perfil econmico do Pas. O outro diz respeito aos longos anos de ditadura militar que, de fato, fruto da represso intensa ao movimento, proporcionaram um distanciamento entre os antigos dirigentes sindicais e a nova direo. Por ltimo, a intensa explorao do trabalho no interior das fbricas de mdio e grande porte, aliada existncia de um Estado ditatorial, no abria espao para que a jovem classe operria do ABC semeasse qualquer tipo de iluso ou esperana tanto no Estado burgus como nos setores patronais.

Nesse sentido, se por um lado, no perodo anterior ao golpe, as lideranas dos trabalhadores, em grande parte ligadas ou influenciadas pelo PCB, balizavam sua poltica a partir de uma anlise que apontava para a necessidade de uma ampla frente com setores burgueses, considerados progressistas, a direo forjada no final da dcada de 70, se forma a partir de uma base que v na independncia de classe e na luta condio essencial para conquistar. Portanto, a prtica que nortear a fundao da CUT, em 1983, e, na mesma dcada, impulsionar a formao de inmeras oposies sindicais que visavam derrubar as direes pelegas, est fundamentalmente assentada na independncia de classe e na ruptura com as estruturas montadas a partir do Estado. Conseqentemente, passam a ser centrais na atuao do movimento sindical: a luta pela liberdade e autonomia sindical; a democratizao das relaes no interior das entidades sindicais com participao ampla da base nas decises; a defesa do sindicato enquanto instrumento de organizao da luta dos trabalhadores.Na dcada de 80, alm do poderoso movimento pelas Diretas, J!, os trabalhadores brasileiros so tambm protagonistas de inmeras greves (ver tabela abaixo), cujos mtodos de luta adotados variam entre a ocupao das fbricas, unificao de campanhas salariais de diversas categorias, greves gerais nacionais, s famosas operaes tartaruga, pipoca, vaca brava ou padro.

Expande-se, no perodo, a organizao sindical por meio da formao de centrais sindicais, cuja expresso maior ser a CUT, representante do que ficou denominado como Novo Sindicalismo. Tendncia grevista na segunda metade dos anos 80

19851986198719881989*

Nmero de greves843149322591914387

Dias parados4.635784218291178833474

Contingente paralisado6.635.1837.147.0208.303.1157.137.035620.148

Jornadas de trabalho perdidas**48.812.48432.188.67958.956.51063.495.1905.879.954

Mdia de dias parados7.34.57.18.99.7

* Os dados de 1989 so relativos aos meses de janeiro e fevereiro.

**Nmero de trabalhadores parados vezes a mdia de dias em greve.

Fonte: Comisso de Estatsticas Bsicas da rea do Trabalho e da Assessoria Econmica do Ministrio do Trabalho (Folha de So Paulo, 16/04/1989) in: Antunes, Ricardo. O Novo Sindicalismo no Brasil, So Paulo: Pontes, 1995, p.15.- A fundao da CUTEm 1981 acontece o I CONCLAT (I Conferncia Nacional da Classe Trabalhadora). O encontro rene 5.036 delegados vindos dos mais diversos ramos da classe trabalhadora (inclusive do setor rural) e 1.091 entidades sindicais. Na Conferncia, dois blocos, se fazem presentes. O primeiro era composto por setores das oposies sindicais e representantes ligados ao sindicalismo do ABC que refletiam a exploso grevista de 1978/1979. O segundo, denominado Unidade Sindical, expressando posies moderadas e conciliatrias frente ao governo, contava com a presena de dirigentes com origem no PCB, PC do B e MR-8.

Com posies polticas diferentes, a polarizao entre os dois blocos pode ser sintetizada em duas questes centrais: o debate em torno ao atrelamento ou no da estrutura sindical ao Estado e a opo poltico partidria que, no caso do bloco ligado ao Novo Sindicalismo, concretizava-se cada vez mais na fundao de um partido sem patres, o PT. O setor denominado Unidade Sindical chamava os trabalhadores a se organizarem em torno ao PMDB (antigo MDB) (Frana, 2000).

Em 1983, aps um ano de adiamento fruto das diferenas programticas, o que deveria ser um novo CONCLAT, unificado, se converte em dois eventos. O primeiro promovido em So Bernardo do Campo/SP pelos grupos ligados ao Novo Sindicalismo e representantes de trabalhadores rurais, no qual ser fundada a CUT (Central nica dos Trabalhadores). O segundo, realizado na Praia Grande/SP e impulsionado pelos integrantes da Unidade Sindical, se constituir no embrio da futura CGT (Central Geral dos Trabalhadores), fundada em 1986.

Duas centrais sindicais e dois projetos. Se por um lado a projeto predominante na ala ligada CGT foi o da continuidade da poltica de conciliao de classes existente no perodo anterior ao golpe e da manuteno intacta da estrutura sindical subordinada ao Estado, por outro, o sindicalismo expresso na CUT daqueles anos apontava para um outro caminho, conforme os artigos de seu primeiro estatuto, abaixo citados:

Art. 2 a CUT uma central sindical unitria classista, que luta pelos objetivos imediatos histricos dos trabalhadores, tendo a perspectiva de uma sociedade sem explorao, onde impere a democracia poltica, social e econmica (...);

Art. 4 (...) a CUT tem como tarefa avanar na unidade da classe trabalhadora e no na cooperao entre as classes sociais (exploradores e explorados), lutando por sua independncia econmica, poltica e organizativa;

Art. 6 a CUT luta pela mudana da estrutura sindical brasileira, corporativista, com o objetivo de conquistar liberdade e autonomia sindicais. A CUT luta pela transformao dos atuais sindicatos em entidades classistas e combativas, organizados a partir de seus locais de trabalho (In: Frana, 2000, p.35). Ligada fortemente mobilizao dos trabalhadores, durante a dcada de 1980, a CUT no pra de crescer. Em 1990, conforme tabela abaixo, havia aumentado em quase 150% o nmero de entidades filiadas. Tal crescimento ocorre em vrias direes. Uma delas a da conquista de diversas Entidades, que at ento se encontravam nas mos dos antigos pelegos. Prolifera-se pelo pas o movimento de oposies sindicais. Outra pela criao de novas entidades, como no caso dos servidores pblicos que conquistam o direito sindicalizao a partir da Constituio de 1988. Ou ainda pela adeso de entidades at ento sem vnculo com qualquer central sindical.PerodoN Entidades filiadasVariao (%)

Agosto de 1986284-

Setembro de 198845058,4

Junho de 19901.117148,2

Agosto de 19911.67950,3

Junho de 19931.91714,2

Fonte: Comim, lvaro. A experincia de organizao de centrais sindicais no Brasil In: Carlos Alberto Oliveira (e outros). O mundo do trabalho: crise e mudana no final do sculo. SP: Scritta / Cesit, 1994. Tabela citada por Teones Pimenta Frana, 2002, p.37.No final dos anos 80, seguindo um curso contrrio ao do crescimento da CUT, a CGT (fundada em 1986) se divide em duas centrais, de mesma sigla. Uma delas, a Central Geral dos Trabalhadores, tem sua frente Joaquinzo, um conhecido pelego ligado ao Sindicato dos Metalrgicos de So Paulo. A outra CGT a Confederao Geral dos Trabalhadores, cujo principal dirigente Antnio Magri, vinculado ao Sindicato dos Eletricitrios de So Paulo e que, durante o governo Collor, ocupou o cargo de Ministro do Trabalho.

Vale ressaltar que no toa que frente a um processo to vigoroso de lutas e reorganizao do movimento no decorrer dos anos 80, ao contrrio do curso dos acontecimentos em diversos pases, inclusive nos do welfare state (nos quais h uma presena maior do Estado nas reas sociais), no Brasil a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores no vinga. O atraso de pelo menos 10 anos na implementao das medidas anti-sociais caractersticas do neoliberalismo atribudo, entre outros fatores, fora do movimento sindical brasileiro naquele perodo. FASE IV anos 90IV. A ofensiva neoliberal e o sindicalismo cidado e de negcios

A dcada de 90 no Brasil tem incio com a posse do primeiro presidente eleito diretamente aps o longo perodo de ditadura militar aberto em 1964. Embalada pelos discursos de modernizao amplamente disseminados pelos meios de comunicao de massa brasileiros, a candidatura e o breve mandato do presidente Fernando Collor se encaixava perfeitamente nos projetos neoliberais j em curso em vrios pases do mundo desde a dcada anterior.A idia de modernizao do Pas, largamente defendida naqueles anos, encontrava sua fiel equivalncia nas medidas de abertura comercial, privatizao, quebra de monoplio estatal, competitividade etc.

No entanto, apesar dar o pontap inicial na implantao dos chamados ajustes, o mandato de Collor, envolto em denncias de corrupo, dura pouco. Em dezembro de 1992, aps intensas mobilizaes, seu impeachment votado.

As principais medidas neoliberais, portanto, s se acentuaro sob a gesto de seu vice, Itamar Franco e, em particular, nos dois mandatos consecutivos de Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995, com o plano macroeconmico que ficou conhecido como Plano Real.Sob a batuta das metas do FMI e do Banco Mundial, as medidas adotadas no Brasil, em essncia, no diferiam das aplicadas nos demais pases latino-americanos e, de modo geral, nos de economia dependente. Centradas na abertura comercial progressiva, na desindexao salarial e nas reformas institucionais (flexibilizao da legislao trabalhista, privatizao, alterao do sistema previdencirio etc.), iam de encontro, por um lado, com o fenmeno que ficou conhecido como globalizao da economia. Por outro, de forma interligada, pretendiam ainda o controle da economia brasileira visando garantir as remessas de nosso dinheiro para o pagamento dos juros da dvida externa.

As conseqncias da adoo destas medidas so rapidamente sentidas. Tem incio no pas um processo de fechamento e falncia de um amplo setor de empresas e incorporao ou fuso de outras por mega-grupos empresariais mundiais.

Outro efeito, decorrente da diminuio do parque industrial e da intensificao das medidas de reestruturao da produo (que no caso do servio pblico atendem pelo nome de reforma administrativa), ser o do aumento do desemprego e das diversas formas de precarizao da fora de trabalho.

Alm do crescimento constante do ndice de trabalhadores jogados para o mercado de trabalho informal, mudanas na legislao trabalhista, efetuadas nos anos 80 e 90, passam a permitir diferentes formas de contratao da fora de trabalho. As possibilidades de contrato temporrio so ampliadas; a terceirizao utilizada como nunca antes. Entram em cena ainda o trabalho por tempo parcial, o uso indiscriminado de estagirios em substituio aos trabalhadores com registro em carteira ou concursados. No servio pblico instaura-se a febre das Frentes de Trabalho. Como conseqncia direta, a base sindical que anteriormente, mesmo no caso de sindicatos ligados iniciativa privada, era em sua composio geral relativamente estvel, na dcada de 1990 se v completamente fragmentada pelas diversas formas de contratao e categorias profissionais. Se isso no fosse suficiente, um exrcito cada vez maior de trabalhadores jogados na informalidade, se v alijado dos organismos de classe. A forma de organizao sindical extremamente verticalizada, construda durante o predomnio do fordismo-taylorismo, na qual os trabalhadores so organizados por categoria profissional (metalrgicos, bancrios, servidores pblicos etc), j no consegue responder nova configurao da classe trabalhadora. Em outras palavras, o sindicalismo (no mundo inteiro) passa a enfrentar uma poderosa crise de representatividade e norte poltico. E ser a resposta das direes sindicais frente a essa ofensiva do capital que inaugurar o perodo que estamos neste curso apontando como Quarta Fase.Mais um elemento, que no podemos deixar de considerar, o do impacto, no conjunto das direes do movimento, da queda do muro de Berlim (1989) e do desmantelamento do Estado Sovitico e dos demais pases integrantes do dito bloco comunista. Com a queda dos pases do Leste, alm da ofensiva no plano econmico e poltico, como vimos acima, a burguesia e seus aliados abriram uma outra frente de ataque aos trabalhadores: o colapso do bloco foi utilizado largamente pelos defensores do capitalismo para, ao menos no marco da propaganda ideolgica, o firmarem enquanto nica forma possvel de sociedade.- A resposta da cpula do sindicalismo cutistaUma das grandes novidades desta dcada foi, sem dvida, o giro dado pela direo majoritria da Central nica dos Trabalhadores em direo a um sindicalismo de conciliao com os patres.

Os primeiros sinais de mudana surgiram ainda no fim dos anos 80 com a idia do sindicalismo cidado e com as alteraes, no 3 Congresso, em 1988, no estatuto da Central, que modificaram as regras para eleio de delegados aos congressos nacionais.

Se antes todos os delegados aos congressos estaduais e nacionais eram eleitos diretamente pelas assemblias de base, aps a alterao do estatuto estas instncias indicavam apenas os que participariam dos congressos estaduais. Os delegados instncia nacional passaram ento a ser eleitos nos congressos estaduais.

Outra medida adotada foi a da mudana do clculo para determinar a quantidade de delegados aos congressos. Diferente do critrio anterior, no qual eram computados todos os trabalhadores da categoria para efeito de clculo, a partir daquele momento a quantidade de delegados deveria se basear apenas no nmero de sindicalizados.

Para se ter uma pequena idia do que estas alteraes estatutrias significaram, basta dizer que no congresso de 1988 os delegados de base representavam 50% do total de participantes. Em 1991, ficaram reduzidos a 17% do total de delegados, sendo que 83% da delegao do congresso era composta por dirigentes sindicais.

Outro dado, recente, que reflete o crescente distanciamento da central em relao base pode ser verificado no congresso de 2003. Neste congresso, o oitavo da vida da CUT, apenas 1.721 entidades filiadas, de um total de 3.353, participaram do evento. Quanto participao da delegao de base, mais uma queda. Segundo pesquisa realizada pelo CESIT desta vez o nmero de dirigentes sindicais atingiu 90% da delegao do congresso.

Muito alm de meras mudanas burocrticas durante os anos 90, o que de fato ocorre na Central uma progressiva mudana, por parte de um setor expressivo de sua direo, na concepo de ao sindical. No 4 Congresso, de 1991, a polmica e diviso interna em torno participao ou no no entendimento nacional chamado pelo governo Collor, exemplifica que o rumo de atuao da Central comeava a se alterar.

Da pra frente, no decorrer da dcada de 90, no faltam exemplos da mudana no norte de atuao poltica: Cmaras Setoriais; participao (em 1995) no acordo de reforma da previdncia de FHC; o peso crescente de verbas do FAT na sustentao da estrutura sindical; acordos que flexibilizam direitos e regulamentam, por meio de PDVs, demisses; defesa do sindicato orgnico etc.

- Mas afinal, o que estava acontecendo?Alm dos fatores internacionais j apontados no incio desta fase, outros elementos contriburam para a guinada da Central rumo conciliao de classes e ao crescente atrelamento ao Estado. Um deles foi o aumento do peso parlamentar do PT e a conquista das primeiras prefeituras ainda ao final dos anos 80, aproximando ainda mais amplos setores do movimento das estruturas do Estado. Outro diz respeito derrota eleitoral de Lula em 1989. Tais fatos impulsionam o fortalecimento, no bloco majoritrio da direo da CUT capitaneado pela corrente Articulao Sindical da idia de que o discurso radical e classista se convertera em empecilho para os projetos eleitorais.

Em maro de 1991, a fundao da Fora Sindical refora ainda mais a idia da necessidade de um tipo de sindicalismo propositivo, que na linguagem da central sindical recm nascida, organizada em torno do Sindicato dos Metalrgicos de So Paulo e na pessoa de Luiz Antnio Medeiros, era denominado de "sindicalismo de resultados". Segundo seu manifesto de fundao:

A criao de uma central sindical moderna e ativa, a Fora Sindical, surge, neste contexto de crise e mudanas, como uma necessidade imperiosa. Tanto os trabalhadores como a sociedade como um todo necessitam, precisam, exigem uma central sindical que no seja revolucionria, de um lado, ou submisso, de outro.Uma central que no seja, de um lado, apenas sustentao de algum projeto estatal ou, de outro, inimiga visceral tanto do Estado quanto do empresariado. (...)Pretende-se a busca permanente de um entendimento nacional, atravs de uma postura crtica e construtiva, e com base, sempre, em uma negociao de carter poltico geral (citado por Antunes, O Novo Sindicalismo, p.41). Para o setor majoritrio da CUT, portanto, estava colocado um novo desafio: o de se apresentar frente ao governo e patres de maneira to vivel como a central concorrente. Em essncia, nos anos 90, mais que a idia de participar de organismos tripartites, privilegiar a conciliao de classes e a negociao em detrimento da mobilizao dos trabalhadores, predomina na CUT, uma concepo de atuao baseada na lgica do mercado. prtica sindical, sob o argumento da necessidade de apresentar propostas viveis, foram incorporadas preocupaes com a produtividade, competitividade e lucratividade das empresas. Este passa a ser o limite imposto luta dos trabalhadores.

Como salto de qualidade da tendncia em curso nos anos 90, assistimos tambm, a partir da vitria de Lula, as diversas reformas (nos moldes FHC) que o governo vem encaminhando, a crescente incorporao de dirigentes sindicais s estruturas do governo, assim como a participao direta deste setor na administrao de dois importantes fundos de penso: a Previ (o maior da Amrica Latina) e a Petros.

Alm disso, a prpria CUT comea a construir o projeto de criar o seu prprio Fundo de Penso, sem falar no acordo com os bancos para desconto de emprstimos em folha de pagamento. Aprofunda-se, dessa forma, o distanciamento da Central das estruturas sindicais de base, assim como, na prtica, a proximidade a um modelo de sindicalismo anteriormente rechaado: o sindicalismo atrelado e de negcios.

Na base deste modelo est o fato de que a sustentao financeira da CUT passa a no depender prioritariamente de sua relao com a base. A estrutura da central, atualmente, essencialmente garantida no somente pelos negcios, mas por sua relao com o governo. Na verdade, quanto mais prxima, atrelada e dependente da estrutura do Estado, necessariamente, mais conciliadora tende a ser a poltica defendida pelos dirigentes. Afinal, como propor enfrentamentos contra o governo e patres e, ao mesmo tempo, se beneficiar da estrutura do Estado burgus?

Para que tenhamos uma idia da dependncia da CUT com relao ao Estado, basta uma rpida olhada no oramento da Central. Em 98 a CUT arrecadou mais de 28 milhes de reais, deste total cerca de 4 milhes vieram de convnios. Em 1999, a CUT passou a arrecadar 54 milhes, quase o dobro, mas as verbas de convnios saltaram de quatro para 28 milhes de reais. Deste total, 21 milhes vieram do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

Convertida numa Central cada vez mais dependente do Estado, a CUT dos anos 90 passa a jogar na lata do lixo toda a histria de luta pela Autonomia e Liberdade Sindical que caracterizou sua histria.

Para aprofundarmos ainda mais nosso debate, vamos analisar um pouco a proposta de Reforma Sindical defendida pela Central nica dos Trabalhadores, Fora Sindical e CGT.- A Reforma SindicalOutro elemento importante que expressa a prtica sindical predominante neste perodo diz respeito proposta de reforma sindical acordada, recentemente, a partir do FNT (Frum Nacional do Trabalho), do qual participaram representantes da direo majoritria da CUT e dirigentes da Fora Sindical.

O papel que a CUT ter na Reforma Sindical e Trabalhista est profundamente vinculado a sua relao com o governo e sua dependncia das verbas do Estado. Longe de representarem os anseios expressos pelo sindicalismo que nasceu das greves de 78/79, as medidas propostas visam centralizar poderes na cpula das centrais, mantm o profundo atrelamento ao Estado e diminuem drasticamente o poder de deciso das instncias sindicais de base. Vejamos alguns exemplos:a) Liberdade e Autonomia Sindical

Desde a dcada de 30, com a estrutura sindical posta em prtica pelo governo Vargas, a efetiva defesa da liberdade e autonomia sindical s volta a ganhar fora no final dos anos 70. Naquele momento o debate sobre a necessidade do fim da unicidade imposta e de toda e qualquer interferncia do Estado nas formas de funcionamento das entidades dos trabalhadores se pe na ordem do dia. A idia central daquelas propostas era a de que somente os trabalhadores, organizados em suas reunies, assemblias e congressos, poderiam efetivamente decidir o melhor caminho a ser adotado, assim como qual sindicato ou diretoria gostariam de ter frente de suas lutas. Ou seja, devia prevalecer a democracia dos trabalhadores.

Fruto dessa concepo que, desafiando a lei, nasceu a CUT. Nos anos 80 a entidade cresceu dia aps dia seja com a adeso de sindicatos j existentes, seja por meio da retomada para as mos dos trabalhadores de entidades dirigidas pelos denominados "pelegos". Apesar de "ilegal", seu reconhecimento por parte dos trabalhadores sempre foi inquestionvel.

Mas o que essa histria toda tem que ver com o que est sendo proposto hoje? Infelizmente, nada.

Em primeiro lugar o atrelamento da estrutura sindical ao Estado est mais do que mantido. A proposta de reforma sindical mantm a interferncia nos estatutos das entidades, determina de cima para baixo qual sindicato representativo ou no, quem negocia ou no em nome dos trabalhadores e mantm a possibilidade de interveno nas entidades sindicais e cassao (pela cpula) da representatividade destes organismos. Na verdade, as mudanas propostas vo no sentido de piorar ainda mais a situao da classe trabalhadora e sua organizao. Entram em cena as centrais sindicais (agora legalizadas) e, na mesma proporo que o poder da cpula sindical aumenta, diminui o poder de deciso dos trabalhadores.

Tal fato no ocorre toa. Como a reforma sindical vem sendo concebida como a ante-sala da reforma trabalhista e, como j sabemos, os ataques que os patres e governo pretendem desferir contra as conquistas dos trabalhadores no so pequenos, quanto menos democracia sindical, melhor.

Um exemplo desta situao concretiza-se na proposta de negociao em dois nveis: superior e inferior. Por esta proposta o acordado em carter superior (entenda-se a o acordado pelas cpulas sindicais) no pode ser modificado pelas instncias de base dos sindicatos. Aos trabalhadores no restar outra alternativa a no ser a de acatar o negociado pela cpula sindical. Se somarmos a isso proposta de que o acordado prevalea sobre o legislado, o governo sequer vai ter muito trabalho com a reforma trabalhista.

b) A questo da representatividade

Apesar da histria ter demonstrado, como no caso da CUT, que representatividade e liberdade sindical, necessariamente, devem caminhar juntas, na proposta aprovada, quem decide o que representativo ou no so as centrais e governo.

Segundo o relatrio existem dois mecanismos para um sindicato ser reconhecido como representativo: o da representatividade comprovada e o da representatividade derivada. Para a primeira modalidade exigido o cumprimento de uma srie de regras. J no segundo caso as normas deixam de ser exigidas j que o sindicato vale-se, teoricamente, da representatividade da central.

Mas afinal, de que representatividade estamos falando? Desde quando o movimento do qual nasceu a CUT defendeu a existncia de um critrio de representatividade imposto pelo Estado? At que ponto esses critrios no facilitaro ainda mais que somente os sindicatos mais dceis aos patres consigam a representatividade e, conseqentemente, o direito de negociar em nome dos trabalhadores?

c) Sustentao financeira das entidadesA idia a de instituir, no lugar do imposto sindical (que desconta 3,3% do salrio no ms de maro), uma Contribuio de Negociao Coletiva, que pode atingir at 13% do salrio de todos os trabalhadores da base abrangida pela negociao. O dinheiro arrecadado ser dividido pelas diversas instncias da estrutura das Centrais, que ficaro com 10% do total arrecadado.

O grau de arrecadao promete ser bastante alto. Vale lembrar que a idia de negociar colocada na proposta de reforma sindical como uma obrigatoriedade que, caso no cumprida pode ter como conseqncia, para os sindicatos dos trabalhadores, a perda da representatividade. Conseqentemente, a arrecadao da nova contribuio estaria, por esta lgica, garantida.

Concluso: a defesa feita no passado de que a sustentao financeira das entidades deve refletir sua relao direta com a base tambm foi jogada na lata do lixo. c) A independncia de classe

No precisamos ir muito longe para perceber que h uma ntida linha de continuidade entre a prtica sindical predominante nos anos 90 (que tem seu ponto alto na atual proposta de reforma sindical) e a concepo que entende a estrutura sindical como um instrumento de colaborao de classes.

Qualquer pessoa desavisada que leia as premissas da organizao sindical do Relatrio da Comisso de Sistematizao do FNT pensar que se trata de algum documento escrito no auge do Estado Novo, durante o governo Getlio Vargas. L, no lugar de instrumento de defesa dos interesses de classe, os sindicatos passam a ter como diretriz "a promoo e a sustentao do dilogo social" enquanto "instrumentos fundamentais para o futuro virtuoso das relaes de trabalho no Brasil".

A pergunta que fica um tanto simples: essa reforma garantir um futuro virtuoso para quem? A cada ano, rapidamente, as pequenas conquistas salariais so corrodas e os trabalhadores levados a uma situao de crescente empobrecimento e desemprego.

Aos sindicatos, mais que instrumentos de defesa dos nveis salariais, cabe, para que de fato possam cumprir seu papel de ferramenta de luta e defesa dos interesses da classe trabalhadora, a tarefa de converterem-se em organismos a servio da transformao social. E isso, s possvel na medida em que suas estruturas estejam libertas de toda e qualquer interferncia do Estado. Submetidas apenas aos interesses da classe trabalhadora.

A nossa luta contra a explorao capitalista vai muito alm das batalhas pontuais desenvolvidas nas campanhas salariais. Passa pela defesa da independncia de classe, da democracia de base, de uma sociedade que ponha fim a toda e qualquer desigualdade social. E isso, como j vimos, no se alcanar pela via da conciliao de classes.

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No ano seguinte, proclamada a Repblica.

Modelo agrrio-exportador - A economia nacional, no comeo do sculo, estava predominantemente vinculada agricultura do caf. Existiam fbricas, evidentemente, mas a produo industrial era pequena e limitada aos bens de consumo assalariado, em particular, indstria txtil e alimentcia. Portanto, a atividade industrial, alm de no desempenhar papel predominante na economia nacional, era dependente do setor agrrio- exportador. Este ltimo, por sua vez, tambm mantinha uma forte relao de dependncia em relao economia dos pases imperialistas, fato este que ficou evidente com a crise mundial de 1929.

I Guerra Mundial (1914-1919) - Apesar da ao militar acontecer concentrada basicamente no continente europeu, este conflito se diferencia dos ocorridos anteriormente por envolver todas as grandes potncias e ter como objetivo, por parte dos pases diretamente envolvidos, a disputa pela hegemonia poltica, econmica e militar do globo. No Brasil, um dos efeitos imediatos da Guerra foi sentido com a queda das exportaes do caf o que gerou mais desemprego e misria entre os trabalhadores.

Coluna Prestes:

Em 1924 nasce a "Coluna Gacha", formada por 300 soldados liderados por Lus Carlos Prestes, a partir de um movimento na cidade de Santo ngelo/RS. Em 1925, a coluna soma-se a uma outra, Paulista, comandada por Miguel Costa. Unidas, cortam 13 estados brasileiros percorrendo uma distncia de 25 mil quilmetros e encerrando seu percurso em 1927, na Bolvia. O programa da Coluna, dentre outros temas, exigia o fim de "impostos exorbitantes", denunciava a "desonestidade administrativa" governamental e o mecanismo de controle, exercido pela classe dominante, por meio do "voto a descoberto" (Konder, 2003:53).

1917

No Brasil - Antes da greve geral de 1917 (nos dias 12, 13 e 14 de julho), ao menos duas importantes ondas grevistas ocorreram na cidade de So Paulo (1907 e 1912).

Naquele ano, aps a morte de um trabalhador em enfrentamento com a polcia o movimento se alastrou ainda mais. Os trs anos seguintes, de 1918 a 1920, foram marcados por uma intensa atividade grevista.

No mundo- Operrios e camponeses, dirigidos pelo Partido Bolchevique, chegam ao poder na Rssia. Esse fato ter reflexo mundial, no somente do ponto de vista ideolgico, mas na conquista de medidas de proteo aos direitos dos trabalhadores em diversos pases capitalistas.

Fordismo / taylorismo - Doutrinas desenvolvidas por Henry Ford (1863-1947) e F.W. Taylor (1856-1915) e impulsionadoras da fabricao em larga escala de bens padronizados (como, por exemplo, os automveis), que tinha por base, dentre outros mecanismos, o uso de mquinas especializadas e trabalhadores semi-qualificados, a no comunicao entre trabalhadores, criao da gerncia "cientfica", separao sistemtica entre concepo e execuo das tarefas e a criao das linhas de montagem, com controle absoluto do ritmo do trabalho.

A idia de unidade nacional defendida pelos PCs parte da concepo de que as burguesias nacionais teriam um papel revolucionrio no desenvolvimento das economias de pases considerados atrasados.

Coerente com essa posio, o PCB defendia que esse setor da classe dominante deveria ser tratado como aliado da classe trabalhadora e no como inimigo. Tal viso serviu de entrave no somente para o avano do socialismo no Brasil e no mundo, assim como para a atuao sindical cotidiana. No foram poucas as vezes nas quais o PCB conteve as mobilizaes em nome de sua poltica de unidade com a burguesia nacional.

Guerra Fria

Os governantes dos pases capitalistas, tendo sua frente os EUA, desenvolveram uma intensa campanha ideolgica que tem seu auge nas dcadas de 50 e 60, segundo a qual o mundo estaria dividido em dois grandes blocos: o capitalista e o comunista. Essa maneira de perceber a realidade, alm de camuflar a verdadeira diviso do mundo, em classes sociais antagnicas, esteve servio da defesa dos interesses capitalistas, incentivando a perseguio de opositores e servindo de justificativa, inclusive, para intervenes militares norte-americanas em pases que, segundo eles, estivessem sob a ameaa de revolues.

Plano Real

Os primeiros passos do Plano foram dados ainda em 1994 e constituram sua primeira fase As principais medidas, sustentadoras do Plano, foram por um lado a desindexao salarial e, por outro, equivalncia entre dlar e real. Como conseqncia o governo impulsionou ainda a abertura comercial, que tambm pretendia funcionar como mecanismo de controle dos preos / inflao. Na poca, frente do Ministrio da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

- DCADA DE 90: FORTALECE-SE O SINDICALISMO CIDADO

Predomina a ttica dos acordos por empresa.

Fundao da Fora Sindical - maro de 1991.

Reforo, para o setor majoritrio da Central, da necessidade de ocupar espao pela via

que privilegia a negociao / via propositiva.

Acordos das Cmaras Setoriais - maro de 1992 - 1 acordo Cmara Setorial Automobilstica

1992 / 1995 - 23 cmaras

Participao nos debates sobre reformas estruturais do Estado

Reforma Fiscal (apoio proposta da FIESP)

1995: apoio proposta de FHC para reforma da previdncia

Presso das correntes de esquerda fazem Vicentinho recuar

Acordos Coletivos - aumento, ano a ano, das clusulas de flexibilizao

Banco de Horas, Reduo de jornada e salrio, reestruturao das fbricas, clusulas financeiras vinculadas aos ndices de produtividade etc.

Sada da Volkswagen, dcada de 70, So Bernardo do Campo

Parque industrial - Ainda no incio da dcada de 50 o governo de Getlio Vargas (eleito) edita as primeiras medidas que visam inibir a importao de peas utilizadas na montagem de automveis que j fossem produzidas em territrio brasileiro. Em 1953 proibida a importao de veculos montados. No governo Juscelino Kubitschek ocorre o salto de qualidade: o Plano de Metas previa para o setor automobilstico, ao final de 5 anos, a nacionalizao de 90 a 95% da produo.

Milagre econmico - perodo entre 1968 e 1973, quando, sustentado em um volumoso endividamento externo, foram feitos pesados investimentos em infra-estrutura, nas indstrias de base, de transformao, equipamentos e bens durveis (veculos e eletrodomsticos). No incio da dcada de 70, a economia apresenta resultados excepcionais, com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo a 12% ao ano. Em meados da dcada de 70, a crise do petrleo e a alta internacional do dos juros desaceleram a expanso industrial e jogam o pas numa profunda crise, revelando que o tal "milagre" havia deixado de fora milhes de trabalhadores.

Para o nmero de greves e ndices de inflao , Elio Gaspari, A Ditadura Envergonhada, p. 48.

Cesit Centro de Estudos Sindicais e Econmicos do Trabalho, da Unicamp.