40
Introdução aos Estudos Históricos Prof. Dr. Igor Lapsky HISTÓRIA

HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

Introdução aos Estudos Históricos

Prof. Dr. Igor Lapsky

HISTÓRIA

Page 2: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 3: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

Uni

vers

idad

e de

Per

nam

buco

- U

PEN

EAD

- N

úcle

o de

Edu

caçã

o a

Dis

tânc

ia

REITORProf. Pedro Henrique de Barros Falcão

VICE-REITORA

Profa. Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti

PRÓ-REITOR ADMINISTRAÇÃO E FINANÇASProf. Rivaldo Mendes de Albuquerque

PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOASProfa. Vera Rejane do Nascimento Gregório

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E CULTURAProf. Renato Medeiros de Moraes

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃOProf. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues

PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Profa. Maria Tereza Cartaxo Muniz

COORDENADOR GERALProf. Renato Medeiros de Moraes

COORDENADOR ADJUNTOProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

ASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERALProfa. Waldete Arantes

Valéria de Fátima Gonçalves

COORDENAÇÃO DE CURSOProf. Dr Karl Schurster V. de Souza

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICAProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICALProfa. Angela Maria Borges Cavalcanti

Profa. Eveline Mendes Costa LopesProfa. Geruza Viana da Silva

GERENTE DE PROJETOSValdemar Vieira de Melo

ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTEJosé Alexandro Viana Fonseca

COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃOProf. Marcos Leite

EQUIPE DE DESIGNAnita Sousa

COORDENAÇÃO DE SUPORTEAfonso Bione

Bruno Eduardo VasconcelosSeverino Sabino da Silva

EDIÇÃO 2017Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplaresAv. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro

Recife / PE - CEP. 50103-010Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664

Page 4: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 5: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS

Prof. Dr. Igor Lapsky

Carga horária: 60 horas

Apresentação da Disciplina

O curso de Introdução aos Estudos Históricos tem como objetivo deba-ter as temáticas iniciais relacionadas à pesquisa histórica, que servirão de base para as disciplinas do curso. Assim, discutiremos sobre a disci-plina História e o ofício do historiador, fatos históricos, fontes históricas e pesquisa.

Quando escolhemos o curso de História, muitas dúvidas (e, algumas vezes, até muitas cobranças!) pairam sobre nossa cabeça: qual é o nosso campo de trabalho? O que o historiador representa para a sociedade? Como funciona o fazer histórico? Para sermos bons profissionais, temos que ter boa memória e gravar todos os nomes e datas possíveis? Es-sas perguntas, dentre outras, sempre geram preocupação no estudante que, na maioria das vezes, é visto pela sociedade como um “dicionário ambulante”. Quem nunca passou por uma situação em que, ao dizer a escolha que fez para cursar no ensino superior, é testado por perguntas que demandam respostas rápidas, como se estivéssemos em um progra-ma de televisão, lutando pela grande premiação do dia? Nesse sentido, a disciplina, além de discutir conceitos, o campo e as etapas relacionadas à pesquisa histórica, também procurará auxiliar no início das respostas às indagações, com base em leituras de material relacionado à temática e debates a serem realizados nos fóruns de discussão da nossa disciplina.

Além de textos diversos, utilizaremos outros tipos de material, como obras audiovisuais e sítios eletrônicos para aprofundarmos determina-dos debates necessários para o desenvolvimento da disciplina.

Bons estudos!!

Page 6: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 7: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

7

CAP

ÍTU

LO 1

Objetivos Geral

• Compreender os debates sobre o conceito de História e o Ofício do historiador.

Objetivos Específicos

• Analisar obras específicas de historiadores do século XX.

• Discutir a relação entre tempo e História.

• Debater sobre o papel do historiador na sociedade.

Textos-base

BLOCH, Marc. Apologia da História ou Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. Capítulos 1 e 2.

BARROS, J. A. A Historiografia e os conceitos relacionados ao tempo. In: Dimensões, vol. 32, 2014. Pp. 240-266. ISSN: 2179-8869.

CROCE, Benedetto. História como História da Liberdade. Rio de Janei-ro: Topbooks, 2006.

O que é História?

Em toda primeira aula de História na escola, o professor questiona os alunos: “afinal, o que é História?” Da pergunta surgem uma série de debates conduzidos em sala de aula, em que a maioria dos alunos desen-volve a seguinte resposta: “História é o estudo do passado, professor!” Essa resposta nos leva a pensar sobre o tempo. Como podemos definir o passado? Um evento que ocorreu há 100 anos é tão passado quanto a última refeição que fizemos. Ambos já aconteceram. E como podemos definir o presente?

1. HISTÓRIA E O OFÍCIO DO HISTORIADOR

Prof. Dr. Igor Lapsky

Carga horária: 15 horas

Page 8: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

8

CAP

ÍTU

LO 1 Esse é uma pergunta que sempre foi feita e traz mudanças ao longo

do tempo. Na antiguidade, principalmente com as obras de Tucídides, Tácito e Tito Lívio, a História ensinava, ou seja, o passado era o grande professor, e trazia lições para o presente. Era a mestra da vida (magistral vitae). Assim, a tese de aprender com os erros do passado para evitá-los no presente era um elemento marcante naquele momento.

No século XVIII, com os iluministas e o contexto da Revolução Industrial, a noção de progresso tomou conta dos estudos históricos. Nesse senti-do, a História era concebida como uma evidência do progresso humano, oriundo das mudanças nos modelos de produção e sistemas da socie-dade. Com a escola positivista, principalmente no século XIX, a História passou a ser concebida como uma tradução objetiva da verdade1. Dessa visão, a busca incessante pelo arquivo se tornou uma realidade para o historiador: tudo que era pesquisado deveria ser embasado nas evidên-cias. O fato e o vestígio eram a base da escrita da História. Assim, se desenvolvia um modelo de História Factual, sem análises, constituída de uma sucessão de fatos.

Com o fortalecimento da Filosofia da História no século XIX, a visão po-sitivista passou a ser relativizada. Autores como Georg Wilhelm Friedri-ch Hegel e Karl Marx (este segundo, discípulo do primeiro) passaram a compreender a necessidade de análises: o espírito crítico fazer parte da História.

Na primeira metade do século XX, Marc Bloch, um dos historiadores mais importantes das últimas gerações de pesquisadores, talvez tenha a melhor definição para o conceito: “História é o estudo dos homens no tempo”2. O autor lutou nas duas guerras mundiais servindo o Estado--Maior do Exército francês, entrou para a resistência à invasão dos ale-mães à França em 1942 e foi preso em março de 1944. Foi fuzilado em junho do mesmo ano, após ser torturado pela polícia secreta alemã, a Gestapo. Bloch se destacou pela sua produção sobre História Medieval e Teoria da História, tendo como uma de suas principais obras o livro intitulado Apologia da História e o Ofício do Historiador, escrito em 1941 e publicado pela primeira vez em 1946, editado por Lucien Febvre, seu colega de trabalho.

O principal objetivo da obra é discutir o ofício do historiador e como se faz História. Para Bloch, é necessário pensarmos que a escrita da História se faz com base em um modelo científico, pautado no uso de fontes e na análise sobre delas. Tais análises dependem da experiência de vida

1 SILVA, K. V; SILVA, M. H. História. In: Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.2 BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

Page 9: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

9

CAP

ÍTU

LO 1de cada historiador. Assim, a visão de que o historiador é um ser que

fica trancado no escritório cercado de livros, ou que é um “escavador” de documentos em arquivos escuros deve ser superada: o trabalho com fontes é fundamental, conforme veremos em item específico adiante, mas a experiência de vida nos faz ter análises e críticas mais completas sobre o objeto de estudo. As experiências de Marc Bloch com as guerras mundiais certamente o fizeram ser um pesquisador mais crítico e com-bativo, ligado ao seu tempo, mesmo que escrevesse sobre um passado. O historiador é fruto do seu tempo, ele vive no presente e deve fazer parte dele: ir ao cinema, assistir a filmes do momento, ler livros novos, escutar música, frequentar teatro, conhecer culinárias distintas. Tudo isso faz parte da formação de um bom historiador e nos dá uma melhor compreensão do que é História.

Outro autor importante para pensarmos sobre o conceito de História é o inglês Edward Hallet Carr. Em seu livro intitulado O que é História?, publi-cado em 1961, o autor faz análise sobre a disciplina, fortalecendo a ideia de que a História tem uma relação direta com as sociedades e o tempo3. Desenvolvendo os seus argumentos, Carr aponta os maiores erros que os historiadores podem cometer ao não ter cuidado com o processo de operação histórica, que podem gerar preconceitos e análises superficiais e equivocadas. O primeiro erro apontado por Carr é o anacronismo, que seria uma leitura temporal errada dos eventos. Por exemplo: é errado dizer que a democracia ateniense, com o seu modelo de pólis, é atrasada em relação à democracia republicana embasada nos Estados Unidos dos dias atuais. O modelo de sociedade e o desenvolvimento oriundo das re-voluções industriais e toda a dinâmica do capitalismo faz que esses dois sistemas políticos não possam ser comparados de forma direta, com os mesmos conceitos. A mesma coisa, que muitas vezes funciona de forma didática, mas é errada, é o uso de conceitos atualizados em eventos pas-sados. Por exemplo: não podemos utilizar o conceito de capitalismo ou de indústria em tempos anteriores à Formação dos Estados Nacionais, à Revolução Comercial e à Revolução Industrial.

O segundo erro é o etnocentrismo, uma forma de análise entre meios espaciais diferentes sem considerar suas especificidades ou adotando um padrão que não se encaixa para analisar um dos lados. Por exemplo: ao afirmar que os índios eram selvagens comparados aos portugueses e espanhóis nas Américas, durante o período das Grandes Navegações, é errado, pois não estamos considerando a complexidade das tribos indí-genas nem as especificidades delas. Assim, estamos olhando as tribos indígenas com os modelos sociais dos europeus. Uma das formas de evitar esse tipo de erro pelos historiadores é utilizar as ferramentas de análise da Antropologia, que tem como objeto central de estudo as dife-rentes sociedades existentes no globo terrestre.

3 CARR, E. H. O que é História? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

Page 10: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

10

CAP

ÍTU

LO 1 OS ERROS QUE NÃO PODEMOS COMETER COMO HISTORIADORES

E. H. CARR

ANACRONISMO TEMPO

ETNOCENTRISMO ESPAÇO/SOCIEDADE

História e tempo

Santo Agostinho, no livro XI das Confissões, pensava o tempo com base no caráter psicológico. O tempo é medido pelo homem, que o faz a partir de sua percepção (o dia e a noite, o sol e a lua) e das mudanças que ocorriam nos seres humanos com o avançar da idade. Dessa forma, Agostinho explicava o tempo valendo-se da tríade memória / lembran-ça, ação / intenção e espera / expectativa, ligados ao passado, presente e futuro. A memória tem relação direta entre presente e passado, por exemplo: você está em casa, arrumando seu armário, quando encontra uma caixa de papelão escrito “lembranças da infância”. Você abre e en-contra um álbum de fotografia de um evento importante da sua vida e, ao observar as fotos, você lembra o que aconteceu naquele dia, e, junto com a memória, uma série de emoções aflora, tornando a memória do passado viva naquele instante em que você está olhando as fotos. Assim, o passado é representado pela memória vivida no presente.

A outra relação que deve ser destacada é entre presente e futuro, por exemplo: você tem um compromisso, há muito tempo agendado, e está prestes a acontecer. Com isso, você fica ansioso, na expectativa de como será o que tanto espera. Nesse caso, temos uma amostra do que o futuro é: ele ainda não aconteceu, mas é representado pela expectativa gerada pelo presente.

O filósofo francês Paul Ricoeur, em sua obra intitulada Tempo e Narrativa, pensou o tempo com base em dois elementos centrais: o tempo estru-tural e o tempo vivido. O primeiro representa a consciência, apoiado na lógica da análise historiográfica, e o segundo a experiência, representado pela narrativa. O autor, nesse sentido, faz a relação direta entre tempo e História, visto que a disciplina é pautada no modelo narrativo, a cons-trução de um texto, pautado em análises em torno de fatos históricos4.

4 BARROS, José D’ Assunção. Tempo e Narrativa em Paul Ricoeur: Considerações sobre o círculo Hermenêutico. Revista de História e Estudos Culturais, vol. 9, ano IX, no. 1. 2012.

Page 11: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

11

CAP

ÍTU

LO 1Outro autor aqui destacado, que procurou discutir a relação entre tempo

e História, foi o francês Fernand Braudel. Ele ficou conhecido pela obra O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II, publicado em 1949, que busca analisar a região do mar Mediterrâneo durante no século XVI, com destaque para Filipe II (1527 – 1598), Rei da Espanha e de Portugal. Braudel analisou a relação entre tempo e História em duas categorias chamadas durações. A primeira, de curta duração, pode ser relacionada aos eventos: são efêmeros e geralmente possuem limitações temporais bem definidas. A segunda, de longa duração, é relacionada às estruturas, algo que deve ser compreendido tomando-se por base pro-cessos que não possuem limitações temporais definidas.

LONGA DURAÇÃO

• Estrutura.• Alterações profundas.• Não há definição de limite temporal.• Dependendo da análise, pode durar séculos,

CURTA DURAÇÃO

• Efêmeros.• Alterações pontuais.• Limites temporais definidos.

Tempo histórico e Tempo cronológico

Podemos dizer que o formato utilizado pelos pesquisadores das ciências humanas, sobretudo os historiadores, é o mesmo de um cronômetro de relógio? A resposta para a pergunta deve ser pensada valendo-se da com-preensão da História como o estudo do homem, suas mudanças em um determinado espaço temporal e local. Assim, o elemento central, como foi apontado anteriormente, é o ser humano.

Desse modo, vamos pensar o debate sobre tempo nas teses do físico ale-mão Albert Einstein (1879 – 1955). Um de seus trabalhos mais famosos é sobre a teoria da relatividade, em que o autor afirma que o tempo é relativo, pois depende da percepção humana: como sabemos que o tem-po passa? Com base na observação que fazemos sobre o dia e a noite, o envelhecimento e as situações que passamos no cotidiano.

Formalizemos um exemplo. Durante cinco horas do dia de um adoles-cente matriculado em uma escola, ele passa na sala de aula, lendo, es-crevendo e debatendo questões com os professores. Sabemos que esse período é separado em “tempo” para que as diferentes áreas possam ser trabalhadas. Supomos que a disciplina favorita de um estudante é Histó-ria (sim, vamos escolher algo óbvio!) e que ele não gosta de Matemática. Obviamente o estudante terá mais interesse nos conteúdos da disciplina

Page 12: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

12

CAP

ÍTU

LO 1 que gosta, fazendo que o tempo das aulas passe “mais rápido” para ele

que nos momentos em elementos da Matemática são trabalhados. Com certeza você já pensou nisso: em alguns momentos, o tempo passa mais rápido que em outros, mesmo sendo os mesmos 45 ou 50 minutos de cada aula. Isso nos prova a teoria de Einstein: o tempo é relativo e depen-de da percepção de cada ser humano.

Partindo desses pontos, podemos pensar sobre o tempo histórico. No ponto anterior, quando trabalhamos a relação tempo e História, vimos duas categorias formuladas pelo historiador Fernand Braudel (curta du-ração e longa duração) que nos mostra que o tempo histórico tem uma relação direta com os níveis de mudança que o ser humano realiza nas sociedades, alterando elementos que redefinem instituições e, ao mes-mo tempo, categorias de análise para o historiador.

O tempo cronológico é imparcial, ele é mensurado por números e apare-lhos que nos acompanham no cotidiano e organizam nossa vida: acorda-mos às 6h30m da manhã para realizar nossas atividades matinais, almo-çamos ao meio-dia e fazemos outras coisas à tarde, até às 18h. À noite, jantamos às 20h e dormimos às 22h30m. Percebemos, nesse exemplo de organização do dia a dia de uma pessoa, que o tempo cronológico não é relativo nem é oriundo de mudanças realizadas pelo ser humano. Os 45 minutos de uma aula ou 10 anos marcados em um calendário sempre terão os mesmos espaços de acordo com o formato cronológico.

O tempo histórico é relativo a ponto de afirmar que 50 anos podem ter ocorrido mais eventos importantes que em 100 anos. Isso dependerá da percepção do historiador e a preocupação sobre determinadas questões relacionadas à pesquisa feita por ele. A diferença entre tempo crono-lógico e tempo histórico não implica limitação do uso da cronologia na História. Essa ferramenta é fundamental para o desenvolvimento das pesquisas e nos ajuda a organizar dados e comparar elementos de acor-do com o seu espaço de tempo.

TEMPO CRONOLÓGICO

• Imparcial• Tem as mesmas unidades de medida.• Calendário e relógio.• É diferenciado pelas escalas temporais conhecidas.

TEMPO HISTÓRICO

• Relativo• Depende da percepção humana.• Homem como elemento central.• É mensurado e diferenciado pelas mudanças ocorridas nas sociedades

Page 13: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

13

CAP

ÍTU

LO 1É possível uma História do presente?

Ao pensarmos de forma geral que a História é o estudo do passado, podemos fazer algumas reflexões sobre a afirmativa: o historiador só es-tuda o passado? Ele não possui uma relação de análise com o presente? A resposta para essas duas questões pode ser desenvolvida na afirmativa de Marc Bloch exposta anteriormente: A História é o estudo dos homens no tempo. Nesse sentido, é possível uma História do presente e ela é ne-cessária para desenvolvermos análises sobre processos em andamento. Devemos lembrar que a História é escrita no presente, e não no passado, assim, segundo desenvolveu o filósofo e historiador italiano Benedetto Croce, Toda História é História Contemporânea5, pois os interesses e a vontade de pesquisar assuntos sobre qualquer período histórico se de-senvolvem no presente.

As exigências práticas que subjazem a todo juízo histórico dão a toda história o caráter de “história contemporânea”, porque, por mais remotos no tempo que possam parecer os acontecimentos aí relatados, a história na realidade se refere às necessidades presen-tes em que esses acontecimentos vibram6.

A discussão sobre uma História do Tempo Presente se fortaleceu ao lon-go do século XX. O estudo do presente era um elemento para os soci-ólogos, antropólogos, filósofos e jornalistas, que buscavam fatos para serem analisados. Os currículos de História das universidades, até os anos 1980, denominavam a História Contemporânea como a mais re-cente na periodização proposta pela escola francesa, mas terminava no final da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, os currículos de História nas universidades, nos anos 1990, consideravam História Contemporânea até a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas ascendeu ao poder, derrubando a política do café com leite, um monopólio do poder entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Após a Segunda Guerra Mundial e a Revolução de 1930, era presente e não deveria ser considerado como objeto de estudo do historiador.

Um dos primeiros a romper com essa análise foi Marc Bloch, quando, em 1941, escreveu um livro intitulado A estranha derrota, no qual ele fez uma análise dos motivos de a França ter perdido a guerra em 1940 para os alemães. Na obra, o autor analisa a sociedade francesa e o funciona-mento das forças armadas do país, concluindo naquele período que os franceses perderam a guerra por falta de apoio à resistência, que, cons-tituída majoritariamente de classes populares, não foi reforçada pelas

5 CROCE, Benedetto. História como História da Liberdade. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.6 Idem. P. 29.

Page 14: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

14

CAP

ÍTU

LO 1 classes mais abastadas, que decidiram apoiar a invasão dos alemães até a

instauração da República de Vichy, em 1941. Tal análise, muito polêmica na França até os dias atuais, foi desenvolvida nos estudos sobre a socie-dade francesa ao longo do século XIX e seu comportamento em relação às agendas conservadoras e revolucionárias.

A obra de Marc Bloch foi considerada uma das primeiras obras da Histó-ria do Tempo Presente e incentivou uma série de historiadores a produ-zirem análises semelhantes de fatos que ainda estavam acontecendo e que eram a base da constituição das sociedades. Assim, a partir dos anos 1970, assuntos como a colaboração com os nazistas para o extermínio dos judeus na Europa, durante os anos 1930 e 1940 e o funcionamento das sociedades berlinenses, durante a Guerra Fria, passaram a ser estu-dados pelos historiadores da época.

Na França, um dos assuntos mais polêmicos era a participação da so-ciedade no extermínio dos judeus. No final da guerra, não houve uma investigação sobre o assunto e poucos foram apontados como culpados pelo processo. Os estudos se desenvolveram nos anos 1960, com o Co-mitê da Segunda Guerra Mundial, que se desenvolveu e se tornou, em 1978, o Instituto de História do Tempo Presente (IHTP), liderado pelo historiador francês François Bédarida.

No Brasil, a noção de História do Tempo Presente se consolidou em 1994, com a criação do Laboratório de Estudos do Tempo Presente na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a coordenação do professor Francisco Carlos Teixeira da Silva. Os temas estudados se baseavam na pesquisa de arquivos relacionados ao governo Vargas e ao regime civil--militar, conflitos internacionais, fluxos migratórios, esportes e cinema e a América Latina. Portanto, é possível uma história do presente, que, pautada nos métodos de pesquisa desenvolvidos pelo historiador, é ca-paz de analisar processos em andamento.

Page 15: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

15

CAP

ÍTU

LO 22. FATO HISTÓRICO

Prof. Dr. Igor Lapsky

Carga horária: 15 horas

Objetivo Geral

• Compreender o conceito de fato histórico.

Objetivos Específicos

• Analisar a importância do papel da memória para a História.

• Compreender a objetividade no processo de análise da História.

• Compreender a relação entre fenômeno e fato histórico.

Textos-base

CERTEAU, M. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense universitária, 1982. Capítulos I e II

CARR, E. H. O historiador e seus fatos. In: O que é História? Rio de Ja-neiro: Paz e Terra, 1982.

O fato histórico: um debate sobre objetividade e memória Uma das dúvidas mais comuns quando começamos a estudar História é buscar a percepção do que é importante a ser estudado: o que deve ser considerado histórico? O que deve ser pertinente para ser lembrado por gerações futuras?

As perguntas nos levam a diversos pontos de discussão. O primeiro é sobre a capacidade do historiador em descrever o passado. Não é pos-sível pensarmos que temos a capacidade de escrever exatamente o que ocorreu no passado. Caso tivéssemos a tecnologia para desenvolver uma máquina do tempo, não poderíamos descrever fielmente como foi o passado. Quando contamos uma história, selecionamos elementos, de acordo com a nossa experiência, para serem destacados. Assim, se todos

Page 16: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

16

CAP

ÍTU

LO 2 nós voltássemos ao dia da queda da Bastilha na França, em 14 de julho

de 1789, por exemplo, cada um contaria aquele evento de forma dife-rente, destacando um ponto que chamou mais a atenção. Partindo dessa noção, o historiador nunca escreverá “tudo o que aconteceu” ou “o que realmente aconteceu”, não temos verdades absolutas em História. Isso, porém, não impede que o historiador tenha um compromisso com a verdade: ela é inalcançável, mas devemos tentar chegar o mais próximo possível dela!

Outro ponto importante a ser destacado é a questão da objetividade. Com a necessidade de se chegar o mais próximo possível da verdade, o historiador deve ter o compromisso de ser imparcial, não defender ne-nhuma posição em suas pesquisas. Essa visão, muito presente ao longo do século XIX e o século XX, deve ser relativizada. No papel de historia-dores, temos uma função social: lembrar à sociedade o que ela escolheu esquecer e procurar entender por que ocorreu o esquecimento de deter-minados elementos. Assim, segundo os ensinamentos de Marc Bloch e aprofundados por François Bédarida, ao formalizar o IHTP, o historiador deve ser combativo e se posicionar perante as questões da sociedade. Bloch lutou pela resistência francesa contra os nazistas, e Bédarida foi contrário ao movimento das universidades da França em não estudar o papel daquela sociedade no extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

O historiador não pode ser imparcial perante os problemas da socie-dade. Segundo vimos anteriormente, ele é fruto de seu tempo, possui interesses, e suas experiências pessoais são fundamentais para a leitura dos processos históricos. Assim, ele deve se posicionar de forma subje-tiva, mas respeitando e compreendendo as regras da escrita da História, pautadas no rigor metodológico e evitando os erros cruciais apontados por Carr, o anacronismo e o etnocentrismo.

A memória é um dos principais elementos trabalhados pelo historiador. Segundo Michel de Certeau, a História que fazemos é uma narrativa, ou seja, uma construção textual, embasada na utilização de fontes, anali-sadas com base em métodos científicos específicos. Nessa perspectiva, a memória tem papel fundamental em tal processo, uma vez que esta disciplina tem uma relação direta com o tempo. O ato de lembrar é uma construção social. Ela define a sociedade em que vivemos, pois esta-mos escolhendo o que deve e o que não deve ser lembrado pelo grupo social. Exemplo: se você fosse convidado para uma festa com todos os melhores recursos que podemos imaginar e, na semana seguinte, fosse perguntado sobre o evento, seria realizado uma seleção de elementos que merecem destaque, de acordo com o seu gosto pessoal. Se você gosta de dançar, provavelmente diria que a música era ótima e a pista de dança era o local mais animado. Mas se você não gosta, selecionaria outros destaques para contar (comida, bebida, organização).

A relação entre História e memória é semelhante ao exemplo da festa: nós, como grupo social, escolhemos o que queremos lembrar sobre um

Page 17: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

17

CAP

ÍTU

LO 2determinado período, valorizando alguns elementos e ocultando outros.

Assim, fazemos uma opção conveniente com a nossa realidade. Nesse sentido, o historiador tem o objetivo de analisar a memória construída pelas sociedades sobre um período, pensando sobre os motivos de evi-denciar e esquecer determinadas questões.

A memória é também a representação de nossa política. Percebemos isso quando, em 2003, passou a ser obrigatório o ensino de História dos Povos Indígenas e de Cultura Afro-brasileira. Esses elementos estavam presentes nos livros didáticos anteriores à aprovação das leis que regu-lamentavam tal processo? Muito pouco. Havia, no coletivo da sociedade brasileira, uma valorização da cultura afro-brasileira e das tribos indíge-nas no país? Não, os ritos afro-brasileiros (com destaque para o sincre-tismo religioso) eram mal vistos e pouco valorizados e os indígenas eram tratados como exóticos, distantes do brasileiro. Com a aprovação das no-vas diretrizes de ensino no início do século XXI, as produções historiográ-ficas passaram a valorizar esses pontos, que não eram considerados em obras anteriores tidas como referência para o estudo de História do Bra-sil. Esse fator ocorreu graças à pressão de movimentos sociais que con-seguiram expor seus ideais para a sociedade e as instituições brasileiras.

Outro exemplo a ser destacado é o debate sobre o papel da mulher na sociedade. Com o fortalecimento do movimento feminista, principal-mente no pós-Segunda Guerra Mundial, a produção sobre a participação da mulher nos eventos históricos se tornou uma forma de evidenciar um movimento que se fortalecia e modificava suas bandeiras de acordo com o desenvolvimento das sociedades ocidentais. Aumentando o debate, as produções historiográficas sobre a temática se tornaram mais frequentes, consolidando grupos de estudos sobre gênero, que atualmente também estudam, dentre outras, as questões relacionadas à homossexualidade e à transexualidade.

Portanto, por mais que uma pessoa seja muito boa de lembrar coisas, ela nunca contará de forma imparcial o que aconteceu. A sua experiência de vida, aliado ao posicionamento que ela possui sobre a questão em debate será fundamental para a construção de sua memória sobre um determinado acontecimento. Tal ponto é de fundamental importância para nós historiadores, para evitar que possamos cair nas ciladas que a memória pode trazer para os estudos históricos.

Afinal, o que é importante para ser apontado como fato histórico?

Segundo E.H. Carr, o fato histórico depende de diversos fatores, e o his-toriador tem papel fundamental nesse processo. Assim, tudo depende do referencial: o fato histórico, nesse sentido, está relacionado direta-mente ao objeto de estudo do pesquisador7. Ou seja, o fato histórico é

7 CARR, E.H. O historiador e seus fatos. In: O que é História? Op. Cit. Pp. 36-55.

Page 18: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

18

CAP

ÍTU

LO 2 definido pelo historiador. Eles não são definidos como históricos por si

só. Para tal, eles devem passar por uma série de questionamentos que correspondem ao foco da pesquisa a ser realizada.

A importância de um fato sobre outro depende do foco adotado pelo historiador, o viés em que a temática será tratada. Se o foco da pesquisa trata de cultura no Brasil, durante os anos 1960, por exemplo, elementos de festivais de música, estreia de peças de teatro e lançamento de filmes terão mais evidência que outros aspectos provavelmente tratados por um historiador que pesquisa sobre o sistema político do período, o qual, entre diversos elementos, enfatiza o debate sobre o golpe civil-militar e o funcionamento das instituições, naquele momento, com base na publi-cação dos Atos Institucionais.

A concepção do fato histórico acompanha o conceito de História. No século XIX, os fatos históricos estiveram restritos aos processos po-líticos, as realizações das lideranças. Tais elementos consolidavam a noção de História Oficial, em que o historiador era um funcionário a serviço do Estado, cujo objetivo era recuperar a História do país como projeto de formação de uma identidade nacional. Com as novas abor-dagens desenvolvidas no século XX, outros elementos passaram a ser considerados como fatos. Hoje, podemos afirmar que há uma infini-dade de fatos históricos que depende da forma em que serão tratados pelo pesquisador. Benedetto Croce consolida a tese com base no es-tabelecimento da relação entre fato e juízo histórico. Segundo o autor

Não é suficiente dizer que a história é juízo histórico, é necessário acrescentar que todo juízo é um juízo histórico ou, simplesmente, história. Se o juízo é uma relação entre sujeito e um predicado, en-tão o sujeito ou o acontecimento, independentemente do que está sendo julgado, é sempre um fato histórico, um vir a ser, um pro-cesso em andamento, pois não há fatos imóveis, nem essas coisas podem ser imaginadas no mundo da realidade8.

Partindo da afirmação de Croce, tudo que é relacionado ao sujeito, no caso, o homem, pode ser considerado um fato histórico, pois fará parte das relações humanas em um determinado período de tempo e espaço.

8 CROCE, Benedetto. Op. Cit. P. 47.

Page 19: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

19

CAP

ÍTU

LO 3

Objetivo Geral

• Compreender a importância do uso de fontes para a pesquisa histórica

Objetivos Específicos

• Apresentar os diferentes tipos de fontes históricas.

• Debater sobre a forma de análise das fontes históricas.

Textos-base

SILVA, K. V; SILVA, M; H. Fonte Histórica. In: Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

PINSKY, Carla. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

O historiador e suas fontes

Fontes históricas é tudo que foi produzido pela humanidade em um de-vido espaço temporal e local, que serve de base para a construção do conhecimento histórico9. Elas são o material de trabalho principal para o pesquisador. Toda vez que apresentamos um objeto de estudo, a primei-ra pergunta que nos fazem é: quais são suas fontes? Atualmente, temos uma série de elementos que podem ser utilizados como material para a análise pelos historiadores, mas a resposta foi alterada ao longo do tem-po, junto com a evolução dos estudos históricos. Segundo a historiadora Maria de Lourdes Janotti,

3. FONTES HISTÓRICAS

Prof. Dr. Igor Lapsky

Carga horária: 15 horas

9 SILVA, K. V; SILVA, M. H. Fonte histórica. In: Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Con-texto, 2005. P. 158.

Page 20: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

20

CAP

ÍTU

LO 3

Durante o século XIX, período em que se consolidou a História como dis-ciplina acadêmica, com a importância da História Nacional, afirmava-se que os documentos emitidos pelo Estado eram os únicos tipos de fonte que os historiadores poderiam utilizar, uma vez que estes seriam oficiais e auxiliariam no desenvolvimento da história da nação. Essa concepção foi mudando quando surgiram novos problemas formulados pelos histo-riadores, especialmente na questão social. Assim, outras documentações passaram a ser consideradas fontes históricas, como cartas e periódicos. Com a virada historiográfica, na década de 1970, possibilitada graças à maior entrada de pessoas de diferentes camadas sociais nas universi-dades, antes controladas por uma pequena elite, novas opções foram apresentadas para realizar as pesquisas, como filmes, músicas, literatu-ra, obras de arte e elementos mais recentes como a internet e os jogos eletrônicos.

Quais são os tipos de fontes históricas utilizadas pelo historiador?

Atualmente, há uma série de tipos de fonte que podem ser utilizadas pelo historiador para realizar suas pesquisas, dependendo do enfoque dado a cada trabalho. Desde constituições de países até cartas pessoais, pergaminhos e redes sociais, jornais e jogos eletrônicos, apontamos a seguir algumas possibilidades de trabalho com fontes históricas:

• Documentos oficiais

Os documentos gerados pelo Estado são utilizados geralmente para in-vestigar as ações de instituições voltadas para o funcionamento da má-quina estatal. Objetos relacionados às guerras, relações internacionais, controle de doenças, sistemas de governo e regimes políticos geralmen-te são embasados nesse tipo de documentação. A maioria desses docu-mentos está localizada em arquivos públicos que podem ser consultados para desenvolver pesquisas sobre diversos assuntos.

O uso das fontes também tem uma história porque os interesses dos historiadores variaram no tempo e no espaço, em relação direta com as circunstâncias de suas trajetórias pessoais e com suas iden-tidades culturais. Ser historiador do passado ou do presente, além de outras qualidades, sempre exigiu erudição e sensibilidade no tra-tamento de fontes, pois delas depende a construção convincente de seu discurso.10

10 JANOTTI, Maria de Lourdes. O livro Fontes Históricas como fonte. In: PINSKY, Carla (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. P. 9.

Page 21: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

21

CAP

ÍTU

LO 3Os documentos podem ser considerados sigilosos e não podem ser con-

sultados, caso as instituições do Estado os considerem como perigosos para os interesses nacionais. De acordo com a Lei de Acesso à Informa-ção no. 12527, aprovada em novembro de 2011, no Brasil, os documen-tos sigilosos possuem três categorias:

1. Ultrassecreta: documentos ficam sob restrição de consulta por até 25 anos.

2. Secreta: documentos ficam sob restrição de consulta por até 15 anos.

3. Reservada: documentos ficam sob restrição de consulta por até 5 anos.

Em alguns casos, há uma pressão popular pela liberação do acesso às in-formações sobre determinados assuntos. No caso do Brasil, a demanda pela abertura dos arquivos do regime civil-militar entre 1964 e 1985 foi fomentada pelos historiadores e por grupos de familiares que perderam parentes no período. Em 2011, foi criada a Comissão Nacional da Verda-de, com base na lei 12528, aprovada no mês de novembro, e instituída em 2012. Foram dois anos de trabalhos com documentos, entrevistas e debates na área acadêmica que resultaram na publicação do Relató-rio Final, em dezembro de 2014, que pode ser consultado na página da comissão: www.cnv.gov.br. Outros grupos, a exemplo de Memórias Reveladas, procuraram e catalogaram documentos em arquivos públicos no país, possibilitando a produção de artigos e livros sobre o Regime civil-militar.

A documentação aberta para consulta, geralmente, está disponível em arquivos públicos, mas, em muitos casos, a estrutura do local não é ade-quada para o arquivamento, e muitos documentos se perdem ou são danificados a ponto de não serem mais legíveis, principalmente os mais antigos, como os dos séculos XVI, XVII e XVIII. Além disso, há dificuldade de o historiador ir aos arquivos para procurar determinados documen-tos, uma vez que ele precisa planejar o deslocamento de acordo com a etapa de pesquisa, as normas de funcionamento do local e a verba disponível para visitar os arquivos (viagens, custo para impressão). Para tal, diversos projetos vêm sendo desenvolvidos para a digitalização dos arquivos a fim de criar um acervo de consulta virtual, em que o pesqui-sador não precisará se deslocar para ter contato com a documentação. A metodologia de catalogação virtual, muito estruturada em países da Europa e nos Estados Unidos, tem sido desenvolvida pela Biblioteca Na-cional, localizada na cidade do Rio de Janeiro (bndigital.bn.gov.br).

Page 22: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

22

CAP

ÍTU

LO 3

• Jornais

Os periódicos são uma das fontes mais utilizadas pelos historiadores, pois eles permitem que a pesquisa sobre um determinado cotidiano seja realizada. Passaram a ser utilizados no século XX, principalmente com a ascensão da História Social, cujo foco é o estudo das relações sociais, representadas por ações do nosso cotidiano. No Brasil, pesquisas sobre a Segunda Guerra Mundial e o Golpe Civil-Militar são realizadas, em muitas ocasiões, utilizando jornais de grande porte, selecionando o con-teúdo existente nesses periódicos de acordo com o foco de cada estudo.

Fonte: Site da Biblioteca Nacional Digital. Lá você pode encontrar uma série de documentos relacionados à História do Brasil desde o século XVI.

Fonte:Editorial do jornal O Globo, de 2 de Abril de 1964. Disponível em: http://memoria.oglobo.globo.com/erros-e-acusacoes-falsas/apoio-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-12695226

Acesso em 24/03/2017. Todos os direitos reservados

Page 23: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

23

CAP

ÍTU

LO 3Ao pesquisarmos esse tipo de fonte, o historiador deve sempre lembrar

que os periódicos possuem uma equipe editorial que, por sua vez, está ligada às organizações que financiam os jornais. Deverá seguir uma linha editorial que sempre possuirá um lugar de fala, defendendo pontos que podem divergir entre os jornais que lemos. Portanto, é importante que, ao pesquisarmos notícias sobre determinado fato (no caso anterior, o golpe civil-militar), devemos utilizar jornais com linhas editoriais e posi-ções distintas, possibilitando que não caiamos no erro de acreditar em um determinado discurso, conforme podemos ver no exemplo da ima-gem postada.

• Obras literárias

A literatura é fundamental para as nossas pesquisas. As histórias desen-volvidas pelos escritores na obra literária possuem uma relação direta com o período vivido e, consequentemente, significam uma represen-tação das relações sociais de uma determinada época. Nesse sentido, as obras literárias discutem temas importantes e, dependendo do foco da pesquisa, podem ser relacionadas às questões políticas, culturais e sociais. São analisadas de forma individual, obra e autor, ou trabalhadas inseridas em um movimento literário.

Um dos trabalhos mais importantes da historiografia sobre a relação en-tre obras literárias e fatos históricos é o do historiador americano Robert Darnton. Especialista em História Cultural, o autor escreveu diversos li-vros, a exemplo de Boemia Literária e a Revolução, sobre o papel da literatura francesa, no final do século XVIII e como ela contribuiu para a disseminação das ideias iluministas que fundamentaram a Revolução no país. Para desenvolver suas pesquisas, o autor utilizou diversas obras literárias do período, que foram analisadas no contexto político e social anterior à Revolução Francesa.

No Brasil, obras de autores como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado são utilizadas com frequência pelos historiadores para ana-lisar as relações sociais dos períodos em que os escritores desenvolve-ram seus trabalhos. Além disso, estudamos o movimento antropofágico, um dos pontos mais significativos oriundos da Semana de Arte Moderna de 1922, ligado ao contexto político do país naquele período.

• Obras artísticas

A arte é fundamental para o historiador. Em diversos casos, jornais, obras literárias e documentos não conseguem fornecer elementos para o his-toriador concretizar suas análises, e as obras artísticas nos auxiliam a complementar tal processo. Dessa forma, elementos como fotografia, pintura, gravura, escultura auxiliam o historiador a perceber a concre-tização das relações sociais e o imaginário de uma determinada época. Um exemplo a ser destacado são os estudos sobre as aquarelas de Jean--Baptiste Debret, artista que veio ao Brasil no início do século XIX com a missão francesa trazida pela Família Real Portuguesa. Debret produziu

Page 24: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

24

CAP

ÍTU

LO 3 uma série de aquarelas para retratar o cotidiano da cidade do Rio de Ja-

neiro no século XIX, mostrando em imagens o funcionamento da venda de escravos, a diferenciação entre negros escravos, negros de família rica e brancos, além dos costumes daquela sociedade. As aquarelas de Debret auxiliam o pesquisador desenvolver seus estudos sobre o perío-do e nos aproxima do objeto estudado. Igualmente podemos dizer das esculturas gregas e romanas produzidas na Antiguidade: sem elas, terí-amos somente livros e vestígios de campos arqueológicos para analisar aquelas sociedades, limitando a pesquisa.

• Filme

Os filmes passaram a ser utilizados de forma concreta pelos historiado-res a partir dos anos 1970, quando a corrente da Nova História passou a considerar novos tipos de fontes para o desenvolvimento das pesquisas. O primeiro autor a defender a legitimidade do uso de filmes como fontes de análise para estudos históricos foi o francês Marc Ferro, no artigo “O filme: uma contra-análise da sociedade?” publicado no início dos anos 1970. O autor defendia a tese de que os filmes eram legítimos, mesmo não tivessem compromisso com a verdade.

Ferro montou um esquema metodológico de análise fílmica, permitindo que os demais historiadores pudessem trabalhar sobre aquele modelo. O primeiro passo foi definir o filme: para o autor, uma obra cinemato-gráfica possui o conteúdo aparente, elementos que podemos observar, e conteúdo latente, a mensagem oriunda da composição dos diferentes itens que compõem a produção de um filme. Tal mensagem é dotada de ideologia, fazendo o filme sempre ter um conteúdo político.

Os limites de trabalho de Ferro residiam na falta de possibilidade em analisar filmes não históricos. Os exemplos desenvolvidos pelo autor eram baseados em documentários sobre a Revolução Russa, que pos-suem uma ligação direta com um fato histórico. Com a produção de novas obras sobre a relação História e Cinema, novas categorias de filme passaram a ser utilizadas, fazendo que seja possível trabalhar filmes de ficção de grande bilheteria, que serão relacionados ao seu lugar de fala.

• Música

O trabalho do historiador com música também se desenvolveu com a renovação dos estudos históricos a partir da segunda metade do século XX. Diversos autores no Brasil, como o professor Marcos Napolitano, realizaram pesquisas relacionadas aos gêneros musicais no país e como as músicas fizeram parte da formação de identidades e movimentos po-líticos. O samba, como cultura boêmia dos anos 1930 e 1940 no Rio de Janeiro, a tropicália, desenvolvida no período dos festivais de música na segunda metade da década de 1960, e o Rock n’ Roll, símbolo de uma geração de rebeldia, que se manifestou contra guerras e costumes das sociedades ocidentais, são movimentos estudados com base nas can-ções, no artista e nos festivais que se tornaram ícone para as gerações,

Page 25: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

25

CAP

ÍTU

LO 3como os eventos organizados pela Record, nos anos 1960 no Brasil, e o

Woodstock, nos Estados Unidos, em 1969.

• Internet

A partir de 1994, com a venda da internet para a população norte-ame-ricana pela companhia American Online (AOL), a popularização do ser-viço, que havia sido criado para fins militares nos anos 1950 e levado às universidades nos anos 1980, auxiliou na divulgação de produções e materiais para o pesquisador. Com os sites de busca, como o Altavista nos anos 1990 e o Google a partir dos anos 2000, fizeram que o padrão de pesquisa fosse alterado: antes, estudávamos com enciclopédias, que eram um símbolo de ostentação de conhecimento das famílias, e agora pesquisamos qualquer assunto em segundos.

A evolução da tecnologia da informação facilita o acesso às informações. Hoje, em sua casa, você pode realizar pesquisas nos arquivos norte-ame-ricanos e europeus, muitas vezes sem precisar de autorização das ins-tituições a ser pesquisadas. Também facilitou o estudo sobre diferentes temáticas de forma mais rápida. Porém a facilidade de acesso às fontes e o excesso de informação podem prejudicar o foco do pesquisador. Além disso, é necessário que as informações coletadas na internet sejam reali-zadas em páginas confiáveis, que não induzirão estudantes e professores ao erro sobre determinados assuntos. Devemos tomar cuidado com os conteúdos, visto que muitos são tratados superficialmente e acabam nos prejudicando.

Com o aumento do número de usuários com acesso à internet banda larga, as redes sociais passaram a ser um elemento central no cotidiano das pessoas. Embora muitas vezes pensemos que a discussão travada em sites e redes sociais sobre diversos assuntos é superficial (algumas vezes, absurdas!), ela nos fornece uma visão geral de como pensa de-terminada parcela da sociedade que utiliza esse meio de comunicação. Assim, é possível determinar, como fonte histórica, a discussão sobre o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 ou as eleições presidenciais de 2014, quando surgiu uma série de debates que nos possibilitaram pensar sobre o posicionamento de pessoas de diferentes camadas so-ciais e regiões do país.

Além das redes sociais, temos os sites de grupos de extrema-direita que fornecem material de propaganda, leitura e mensagens de ódio contra diferentes grupos da sociedade. Essas páginas organizam sua atuação e possibilitam a captação de mais adeptos. Embora a maioria dos sites não esteja presente nos principais mecanismos de busca, é possível localizá--los em outros meios. No Brasil, existem grupos de estudo que acompa-nham os casos de intolerância na internet, a partir da busca de sites de grupos de extrema-direita e o armazenamento de informações. Como as páginas são rapidamente desativadas por infringir as leis em diversos pa-íses, os pesquisadores utilizam ferramentas permitindo salvar as páginas e seus conteúdos de forma integral.

Page 26: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

26

CAP

ÍTU

LO 3 Portanto, a internet é um meio de comunicação de disputas, que permite

a construção de memórias de diferentes assuntos. Para o historiador, representa uma riqueza de fontes a serem trabalhadas, mas que devem ser analisadas com cuidado e organizadas para que o conteúdo não seja perdido.

• Jogos eletrônicos

A História é uma narrativa do presente sobre o passado, considerando elementos específicos a serem tratados de acordo com o foco do histo-riador. Os jogos eletrônicos funcionam da mesma forma, principalmente os que trabalham com remontagens de eventos históricos. Com o desen-volvimento da indústria dos jogos eletrônicos, as histórias passaram a se tornar mais complexas, com a contratação de equipes especializadas em programar partes específicas dos personagens e paisagens, e montar o roteiro e a trilha sonora, fundamentais para que o jogador tenha o má-ximo de experiência com o jogo. Um dos profissionais contratados para a equipe de desenvolvimento é um historiador, que funcionará como um consultor da narrativa, da indumentária utilizada e da paisagem das cidades.

Trabalhos de historiadores que analisam a narrativa sobre o passado têm sido desenvolvidos no meio dos games, principalmente com jogos de guerra, como a série Medal of Honor, e os que trabalham com períodos históricos como elemento central para o desenvolvimento da narrativa, como a série Assassin’s Creed. Embora os jogos não tenham um com-promisso com a verdade, eles, em muitos casos, são adotados como uma das formas de narrativa sobre o passado; além disso, são utilizados como um instrumento pedagógico, que aproxima o conteúdo trabalhado em sala de aula da realidade dos estudantes, que, dependendo da faixa etária e da possibilidade de acesso aos aparelhos eletrônicos, se interes-sam e conhecem os jogos.

Para a utilização desses tipos de jogo como fonte histórica, é necessário que o pesquisador compreenda como a narrativa é construída, conside-rando o seu contexto de produção. Além do mais, a recepção do jogo pelos consumidores, o diálogo com o presente também devem ser anali-sados pelo historiador, pois muitos adolescentes assumem a narrativa do jogo como verdade, levando a alguns perigos sobre como percebemos um determinado fato histórico. Isso ocorreu com a série Assassin’s Creed em 2015, quando lançou uma história sobre a Revolução Francesa, em que o povo foi retratado como baderneiro e selvagem, que usava a vio-lência sobre a alta sociedade em Paris. O jogo gerou polêmica na França, quando os franceses criticaram a equipe de desenvolvimento, especial-mente o historiador contratado pela empresa.

Portanto, os jogos eletrônicos devem ser utilizados pelo historiador, pois é uma das ferramentas que utilizamos para saber como a sociedade do tempo presente pensa no passado, de acordo com os seus anseios e posicionamentos políticos.

Page 27: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

27

CAP

ÍTU

LO 3Fonte como “lugar de fala”

Possuir fontes históricas é um elemento central para qualquer pesquisa, porém não é o único. Segundo Marc Bloch e E.H. Carr, as fontes devem ser analisadas pelo historiador, passar por um interrogatório, em que poderemos saber qual é o “lugar de fala” daquela fonte (elas foram pro-duzidas por quem? Qual é o seu público alvo?). O conjunto de questões que contribuirá para a análise das fontes deve ser o mais completo pos-sível, evitando que as fontes conduzam o historiador para um discurso assumido, sem crítica.

Marc Bloch nos ensinou que, quanto mais experiente o historiador mais ele poderá fazer questões mais complexas sobre as fontes escolhidas, tornando sua análise mais sólida e completa11. A experiência, nesse caso, é a vivência do historiador e não o quanto ele estudou sobre uma de-terminada temática. Portanto, além de ler muito, temos que viver: ir ao cinema, teatro, balé e ópera; viajar e conhecer lugares novos, observar o cotidiano das pessoas, conversar e saber o que há de novo. Não pode-mos nunca rejeitar as novidades, pois elas nos permitirão novas possibi-lidades de análise sobre um determinado fato histórico.

11 BLOCH, Marc. Op. Cit.

Page 28: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 29: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

29

CAP

ÍTU

LO 44. PESQUISA EM HISTÓRIA

Prof. Dr. Igor Lapsky

Carga horária: 15 horas

Objetivo Geral

• Compreender, de forma introdutória, como funciona o processo de pesquisa em História.

Objetivos Específicos

• Analisar a importância do debate teórico para a pesquisa.

• Aprender sobre os principais campos da História.

• Compreender, de forma introdutória, o papel da metodologia para os pesquisadores.

Textos-base

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2010.

BOUTIER, Jean (org.); JULIA, Dominique (org.). Passados recompostos: campos e canteiros da História. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Editora FGV, 1998.

As etapas de uma pesquisa

Ser historiador é ser um pesquisador em constante atividade. Nas univer-sidades, mesmo se o curso for voltado para a formação de professores, será pedido ao estudante o cumprimento das atividades acadêmicas, que envolvem ensino, pesquisa e extensão. Segundo o filósofo italiano Um-berto Eco (1932 – 2016)12, o ritual de “entrega da tese” (no caso da gra-duação, um trabalho de conclusão de curso) é o principal momento em

12 ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: perspectiva, 2010.

Page 30: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

30

CAP

ÍTU

LO 4 que o universitário percebe a superação de uma etapa em sua formação.

Sempre somos requisitados para discutir questões que muitas vezes não fazem parte do nosso conhecimento. Não se preocupe, isso é absoluta-mente normal. É impossível, por melhor formado que seja o historiador, ele saber de toda a História. Além disso, não há livros de qualidade que trabalhem a História em todos os seus períodos. Isso ocorre por causa da especialização que vamos desenvolvendo ao longo do curso.

O processo de especialização nas pesquisas se consolidou no século XX, quando se desenvolveu uma série de campos de estudo para o historia-dor, graças à possibilidade de utilizar ferramentas de análise de outras áreas em fatos históricos. Esse movimento foi defendido por Marc Blo-ch e Lucien Febvre, que, em 1929, lançaram a revista Annales (Annales d’histoire économique et sociale) (quase um manifesto) em que um dos principais pontos a serem defendidos era o uso de cadeiras como as Ci-ências Sociais, que se desenvolveu com os estudos de Émile Durkheim (1858 – 1917) a partir da segunda metade do século XIX, para analisar as sociedades, superando a preponderância da História Política. A es-pecialização do historiador se dá com base nas questões pessoais: na maior parte dos casos, escolhemos assuntos que sejam de nosso gosto ou que tenham alguma relação com nossas vidas. Daí, retornamos e consolidamos o argumento de Benedetto Croce, desenvolvido no curso em momentos anteriores, quando afirmamos que o estudo do passado tem uma relação direta com o nosso presente. Nesse sentido, se você gosta mais de História Antiga, buscará pesquisar sobre assuntos volta-dos para o período, escrevendo diversos trabalhos ao longo de sua vida acadêmica. Essa escolha não significa que você deverá somente estudar o que tem mais afinidade ao longo do curso. É importante ler e aprender sobre todos os períodos para que você possa escolher o que gostaria de pesquisar quando for o momento.

A pesquisa em História possui uma série de etapas, que devem ser se-guidas para que o historiador possa estabelecer um foco para os seus estudos. Há muitos assuntos interessantes quando escolhemos algum elemento para ser estudado, e a abundância de fontes pode nos desviar dos nossos estudos. Além disso, segundo o historiador Michel de Cer-teau13, a escrita da História é baseada em narrativa e, como todo texto desse gênero, deve ter organização para que tenha coerência e coesão.

O primeiro ponto a ser selecionado pelo pesquisador é a área em que vai desenvolver sua pesquisa. Vamos trabalhar História Antiga, Moderna, Contemporânea ou o Tempo Presente? Vai ser Brasil, América Latina, Estados Unidos, Europa ou os Países Orientais? Essa decisão é pessoal e vai de acordo com o gosto de cada um.

13 CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

Page 31: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

31

CAP

ÍTU

LO 4Ao escolhermos a área, vamos começar a ler sobre diversos elementos

que nos chamam mais a atenção. Exemplo: se você gosta de História Contemporânea, vai começar a recortar o seu interesse e você descobriu que sua parte preferida é a Segunda Guerra Mundial. Dá área, você então escolheu um assunto específico.

A opção por um assunto não significa que o recorte para uma pesquisa está realizado de forma completa. Para prosseguirmos, porém, com as nossas escolhas, é importante que seja feita uma pesquisa de base, que consiste em um estudo das principais obras escritas sobre o assunto. No caso da Segunda Guerra Mundial, o pesquisador deverá ler autores que são tidos como referência. Quanto maior for a carga de leitura, maiores serão as possibilidades de atentarmos para os pontos mais específicos que nos interessam.

Com a leitura da historiografia sobre o assunto, vamos escolher um tema dentro do assunto. No caso de sua escolha anterior, a Segunda Guerra Mundial, suponhamos que o tema optado seja a participação dos Estados Unidos na guerra. Daí continua sendo necessário o estudo do tema para pensarmos no próximo passo do desenvolvimento da nossa pesquisa.

O último recorte dado, o mais específico, é o objeto. Esse será o foco central de sua pesquisa. Se escolhermos como tema “a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial”, vamos especificar e esco-lher, por exemplo, “a propaganda política norte-americana no período da guerra”.

Definido todos os recortes, precisamos pensar sobre os nossos objeti-vos. Quais são as suas intenções ao estudar o objeto escolhido? Como você pode constatar nesta apostila, os objetivos sempre são escritos em tópicos e com verbos no infinitivo. Os objetivos de nossas pesquisas são assim separados, em gerais, que serão o elemento central de seu trabalho; e específicos, que servem de acessórios para desenvolvermos o foco escolhido.

O segundo ponto que devemos estabelecer após os recortes é apresen-tar as fontes utilizadas. Dentro de todos os tipos apresentados no tópico anterior deste curso, quais são as fontes? Vamos utilizar documentos estatais, filmes, cartazes de propaganda, programas de rádio? Nesse mo-mento, o pesquisador deverá descrever as suas fontes, considerando os seus lugares de fala. Essas descrições, junto com uma breve análise delas, nos auxiliam na justificativa do uso de cada uma delas.

Após a descrição das fontes, passamos para o trabalho com elementos teóricos e metodológicos, fundamentais para o desenvolvimento da aná-lise das fontes. Sem teoria e método, reforçaríamos uma História factual, em que as questões apontadas fossem trabalhadas sem crítica, tornando a pesquisa superficial e com maior possibilidade de erro. Assim, apon-taremos quais serão os conceitos principais e como trabalharemos as fontes históricas ao longo da pesquisa.

Page 32: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

32

CAP

ÍTU

LO 4 Além da organização do objeto, fontes e formato de trabalho, o pesqui-

sador deve organizar um cronograma, para que ele possa estabelecer metas com o intuito de organizar sua pesquisa. Na maioria, o cronogra-ma é fixado em meses divididos entre o período total em que a pesquisa será realizada.

Organização da pesquisa - recortes e procedimentos

Em todas as etapas listadas acima, o pesquisador participa de um tra-balho coletivo, embora o produto final seja individual na maioria dos casos. Debate em grupos de estudo, indicação de leituras pelos colegas e revisão do trabalho fazem parte do processo de desenvolvimento de uma pesquisa consolidada.

Os campos da História

De acordo com o que estudamos ao longo do curso, é possível afirmar que a História não é uma disciplina uníssona, ou seja, não há uma his-tória, temos diversas histórias a serem produzidas diante de um mesmo fato. Para isso, é fundamental que compreendamos os campos da Histó-ria, evidências que nos mostram que há diversas modalidades de produ-ção do conhecimento histórico.

A argumentação sobre uma história multilateral pode ser exemplificada com o exemplo que vimos anteriormente sobre a máquina do tempo: um grupo de três pessoas é enviado de volta para a Segunda Guerra Mundial. O primeiro tem como foco análise das relações sociais naque-le período; já o segundo busca compreender os sistemas econômicos dos países que foram envolvidos no conflito; e o terceiro quer analisar as relações diplomáticas entre as principais potências daquele período. Quando voltarem ao presente, os três falarão da Segunda Guerra Mun-dial, mas enfatizarão os seus objetivos com aquela viagem.

Graças à grande variedade de campos da História e as diferentes for-mas de trabalhá-los, as temáticas nunca se esgotarão para os historia-dores. Sempre haverá algum elemento a ser destacado em pesquisas inéditas, nem que seja um novo método utilizado para fontes previa-mente analisadas.

Page 33: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

33

CAP

ÍTU

LO 4Segundo o historiador José D’Assunção Barros, há uma infinidade de

campos na História que demanda uma série de estudos, e visto a com-plexidade das pesquisas, os trabalhos não são limitados a um único cam-po. Para Barros

Ouve-se falar em História Cultural, em História das Mentalidades, em História do Imaginário, em Microhistória, em História Serial, em História Quantitativa ... o que define estes e outros campos? Nota-se não raramente uma grande confusão entre algumas destas modalidades de História, e uma expressiva dificuldade dos interes-sados em História em situar um trabalho historiográfico qualquer dentro de um destes campos. Veremos que na verdade isto não é possível, já que a ampla maioria dos bons trabalhos historiográficos situa-se na verdade em uma interconexão de modalidades. Se são bons, são complexos. E se são complexos, hão de comportar algum tipo de ligação de saberes, seja os interiores ou exteriores ao saber historiográfico.14

Dentre os diversos campos trabalhados pelos historiadores, existem os que são relacionados com questões macro, englobando outros campos:

• História PolíticaO campo foi dominante no século XIX quando a maioria dos historiado-res eram funcionários públicos e suas pesquisas tinham como objetivo o desenvolvimento da História Nacional, possibilitando a construção de uma identidade coletiva. Nesse sentido, a História Política era pautada no Estado e suas lideranças. No século XX, quando a História foi repensada com base nas diversas propostas, que consideravam a sociedade como um ator importante a ser analisado, a História Política foi remodelada. Um dos principais autores sobre temática foi o historiador francês René Rémond, que organizou a obra intitulada “Por um História Política”15, que traz novos elementos discutidos sob o âmbito desse campo.

• História EconômicaA Economia foi uma das principais preocupações no século XX. Com a crise de 1929 e a ascensão dos grupos de esquerda, o estudo sobre o sistema capitalista foi retomado, principalmente a partir dos anos 1950, no contexto da Guerra Fria, quando dois modelos políticos e econômicos concorriam pela liderança do globo terrestre. Nesse sentido, escritos so-bre a formação e desenvolvimento do capitalismo foram desenvolvidos, principalmente pelos historiadores que integravam os Annales. A Histó-

14 BARROS, José D’ Assunção. Os Campos da História – uma introdução às especialidades da His-tória. In: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.16, p. 17 -35, dez. 2004 - ISSN: 1676-2584. P.1.15 RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

Page 34: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

34

CAP

ÍTU

LO 4 ria Econômica avançou em discussões sobre as crises do capitalismo, de-

senvolvendo a tese de que o sistema econômico possui ciclos de apogeu e crise desde o século XVI, com diferentes países liderando a economia mundial durante os diferentes ciclos16.

• História SocialO campo tem como elemento central o estudo das relações sociais e como a sociedade funciona ao longo dos diferentes períodos da História. Desenvolveu-se ao longo do século XX, principalmente com a análise do movimento operário. Um dos principais historiadores que produziu tra-balhos nesse âmbito foi o inglês Edward Palmer Thompson17, que apre-sentou teses sobre a formação da classe operária inglesa no contexto das Revoluções Industriais na Inglaterra. Suas análises serviram de base para todos os historiadores que trabalham com o campo.

• História CulturalDesenvolvido a partir da segunda metade do século XX, o campo tem como objetivo analisar a cultura em diferentes espaços temporais e lo-cais. Ela abrange uma série de questões importantes, fundamentando estudos sobre a criação de imaginários e costumes que permeiam uma sociedade. A História Cultural é fundamental para compreendermos os estudos sobre alteridade, a análise do “outro”, uma das questões mais discutidas no conflito entre oriente e ocidente, principalmente após os atentados em 11 de setembro de 2001. Um dos principais historiadores do campo é Peter Burke, que escreveu uma obra intitulada “O que é História Cultural?”18.

Os métodos em História

A forma como trabalhamos com as fontes utilizadas para a pesquisa é o diferencial do historiador. Os métodos permitem que nós estabeleçamos análises sobre as fontes, desenvolvendo um trabalho crítico e consolida-do, e não um compêndio de material e fato.

Existem diversos métodos para trabalhar com as fontes antes citadas. Em alguns casos, os trabalhos com o mesmo tipo de fonte podem ser diferentes, dependendo da metodologia utilizada pelo pesquisador. Os principais métodos a serem utilizados são:

• Análise de conteúdoUm dos métodos mais utilizados pelos historiadores para analisar as fon-tes. A compreensão sobre a leitura dos documentos é fundamental para estudarmos a fonte. O método se desmembra em outros tipos, como

16 ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.17 THOMPSON, E. P. Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. 3 volumes.18 BURKE, Peter. O que é História Cultural?. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Page 35: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

35

CAP

ÍTU

LO 4a análise do discurso, importante para a leitura do material, analisan-

do o que está presente e, principalmente, o que está ausente na fonte selecionada.

Outro tipo que se desdobra dessa categoria é a análise fílmica, a partir do estudo da linguagem cinematográfica, composta por elementos textuais e visuais, como portadora de significados importantes, relacionados a um determinado posicionamento político.

• História OralMétodo utilizado para entrevistas, como as realizadas com ex-comba-tentes ou judeus sobreviventes dos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. A forma de planejar as entrevistas e os cuida-dos que o historiador deve ter ao interagir com os entrevistados é uma das maiores preocupações, pois se não houver um estudo minucioso e um questionário bem organizado, há um risco de a pesquisa seguir os rumos da memória do entrevistado, que, como dissemos anteriormente, é construída de acordo com diversos elementos.

• Análises quantitativasUtilizado principalmente no campo da História Contemporânea, em que as fontes centrais são dados e tabelas de valores e suas mudanças ao longo de um determinado período. Análise de estatísticas e leitura de gráficos e tabelas, indicando percentuais e comparando as alterações são relacionadas a um determinado contexto para a compreensão das fontes.

• ComparaçãoO método comparativo é oriundo das Ciências Sociais. Desde seu início, com Émile Durkheim na segunda metade do século XIX, as sociedades são estudadas com base em métodos comparativos, permitindo que o pesquisador amplie seus estudos. Na História, o método é utilizado para analisarmos as diferenças e semelhanças de determinadas sociedades, em diferentes espaços e períodos, e possibilitarmos a elaboração de ca-tegorias de análise e propormos estudos tomando-se por base as temáti-cas, superando a concepção cronológica da História.

Os demais tipos e os desdobramentos dos métodos citados anterior-mente serão trabalhados nas disciplinas de metodologia do nosso curso, para as quais serão feitas propostas de leitura a respeito das formas de uso das fontes históricas e a operacionalização das pesquisas.

Considerações finais

Estudamos, ao longo do curso de Introdução aos Estudos Históricos, o conceito de História e o ofício do historiador, tendo como objetivo mu-dar a visão sobre o nosso ofício. Conforme foi trabalhado ao longo do curso, o historiador é fruto de seu tempo e não deve ser visto como um ser humano que está restrito aos arquivos e às bibliotecas. Temos que nos atualizarmos com informações, dados, novos tipos de fontes e mé-

Page 36: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

36

CAP

ÍTU

LO 4 todos de trabalho. Só assim poderemos realizar pesquisas aprofundadas

sobre as diferentes temáticas selecionadas.

A compreensão sobre fato histórico, fontes e etapas de uma pesquisa é importante para você que está iniciando o curso de História. Muitos debates realizados na disciplina servirão de base para as próximas eta-pas, em que serão encorajados a trabalhar com temáticas específicas e analisar fontes relacionadas aos assuntos escolhidos pelos professores.

Bibliografia

BARROS, José D’ Assunção. Tempo e Narrativa em Paul Ricoeur: Consi-derações sobre o círculo Hermenêutico. Revista de História e Estudos Culturais, vol. 9, ano IX, no. 1. 2012.

_________________. A Historiografia e os conceitos relacionados ao tempo. In: Dimensões, vol. 32, 2014. Pp. 240-266. ISSN: 2179-8869.

BRIGNOLI, H; CARDOSO, C. F. S. Os métodos da História. São Paulo: Graal, 2002.

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

BOUTIER, Jean (org.); JULIA, Dominique (org.). Passados recompostos: campos e canteiros da História. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Editora FGV, 1998.

CARR, E. H. O que é História? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Univer-sitária, 1982.

CROCE, Benedetto. História como História da Liberdade. Rio de Janei-ro: Topbooks, 2006.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: perspectiva, 2010.

PINSKY, Carla (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

SILVA, K. V; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

SILVA, F.C.T. Vox Voces: rememorar. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.

Page 37: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,

37

CAP

ÍTU

LO 4Filmografia

Uma cidade sem passado (Das schreckliche Mädchen, Michael Verhoe-ven, Alemanha, 1990, 94 min).

Negação (Denial, Mick Jackson, EUA/GB, 2016, 109 min).

O nome da rosa (The name of the rose, EUA, 1986, 130 min).

Page 38: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 39: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,
Page 40: HISTÓRIA Introdução aos Estudos Históricosww1.ead.upe.br/.../2016/html5/historia/introd_estudos_historicos.pdf · plina História e o ofício do historiador, fatos históricos,