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“Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del Trabajo en el Sur Global” “Labour Histories from the Global South” I Seminário Internacional de História do Trabalho V Jornada Nacional de História do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis 25-28 de Outubro de 2010 I Seminário Internacional de História do Trabalho - V Jornada Nacional de História do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 25-28 de Outubro de 2010. 1 A associação de trabalhadores difere daquela dos demais seres humanos? Adhemar Lourenço da Silva Jr. * Esta comunicação, como já enunciado no resumo, pretende responder à pergunta que está no título, acerca do caráter diferenciado (ou não) das associações voluntárias de trabalhadores. É comum na historiografia brasileira que os resumos sejam elaborados antes dos papers e este, particularmente, sofre de um segundo mal: por ter sido escrito em meados de maio de 2010, mas apresentado em outubro do mesmo ano, espero que venha a ganhar em sobriedade, procedimento que, conforme espero, seja capaz de limpar um pouco o aspecto provocativo do texto por ora elaborado. Esclarecer esse tipo de dimensão é importante, porque há dois objetivos nesta comunicação. O primeiro é proceder a uma crítica dos usos do termo ―identidade‖ na historiografia; o segundo desses objetivos é * Professor da Universidade Federal de Pelotas. Este texto deve às reflexões permitidas pela FAPERGS, por conta do financiamento da pesquisa O Associativismo no Rio Grande do Sul (1920-1950). O autor pede que este rascunho não seja citado, sem prévio contato, que pode ser feito pelo e-mail [email protected].

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ldquoHistoacuterias do Trabalho no Sul Globalrdquo ldquoHistorias del Trabajo en el Sur Globalrdquo ldquoLabour Histories from the Global Southrdquo I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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A associaccedilatildeo de trabalhadores difere daquela

dos demais seres humanos

Adhemar Lourenccedilo da Silva Jr

Esta comunicaccedilatildeo como jaacute enunciado no resumo pretende responder agrave pergunta

que estaacute no tiacutetulo acerca do caraacuteter diferenciado (ou natildeo) das associaccedilotildees voluntaacuterias de

trabalhadores Eacute comum na historiografia brasileira que os resumos sejam elaborados

antes dos papers e este particularmente sofre de um segundo mal por ter sido escrito em

meados de maio de 2010 mas apresentado em outubro do mesmo ano espero que venha a

ganhar em sobriedade procedimento que conforme espero seja capaz de limpar um

pouco o aspecto provocativo do texto por ora elaborado Esclarecer esse tipo de dimensatildeo

eacute importante porque haacute dois objetivos nesta comunicaccedilatildeo O primeiro eacute proceder a uma

criacutetica dos usos do termo ―identidade na historiografia o segundo desses objetivos eacute

Professor da Universidade Federal de Pelotas Este texto deve agraves reflexotildees permitidas pela FAPERGS por

conta do financiamento da pesquisa O Associativismo no Rio Grande do Sul (1920-1950) O autor pede que

este rascunho natildeo seja citado sem preacutevio contato que pode ser feito pelo e-mail adhemarjufpeledubr

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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saber se os trabalhadores que vimos abordando tecircm algo de especial e o que eacute este

―especial caso exista

Talvez o mais correto fosse dividir este paper em duas partes cada um

respondendo a um objetivo Contudo o incocircmodo que a ―identidade vem causando agrave

historiografia leva a priorizar o primeiro objetivo apenas esboccedilando os elementos que

responderiam ao segundo

Dito isto quero criticar os usos de ―identidade com base em 4 argumentos cada

um deles repetido e desenvolvido nas seccedilotildees a seguir

1 ndash ―Identidade eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de

histoacuteria do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ―histoacuteria

do movimento operaacuterio

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ―identidade a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila

3 ndash A ―percepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedila eacute muito mais simples de ser

investigado quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua

enunciaccedilatildeo tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ―identidade tende

a ser deixado de lado pela historiografia do trabalho

4 ndash Toda ―identidade enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com

claros intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ―identidade

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Como jaacute ficou claro este paper tem um caraacuteter de reflexatildeo metodoloacutegica soacute

possiacutevel pela circunstacircncia de haacute muito vir debatendo a questatildeo com diversos colegas

Enumeraacute-los tenderia agrave deselegacircncia quando certamente me esqueceria de algueacutem e

ademais creio que o resultado da discussatildeo que teremos a seguir pode ajudar a consolidar

revisar ou ratificar posiccedilotildees (trecircs alternativas a que tambeacutem este texto estaacute submetido)

Natildeo obstante eacute evidente que assumo eu as responsabilidades pelos equiacutevocos do texto que

segue

1 ndash ldquoIdentidaderdquo eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de histoacuteria

do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ldquohistoacuteria do

movimento operaacuteriordquo

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Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino

que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram

Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo

de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso

do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em

procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de

textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet

distribuiacutedos conforme o Quadro 1

Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo

Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs

―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000

―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000

Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010

Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o

extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a

origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute

francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o

descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a

uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo

que ela eacute

O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de

bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a

adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente

uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que

colegas teratildeo o que criticar

Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidade operaria 3180

identidad obrera 5990

labor identity 17900

labour identity 5950

identite ouvriere 9800

identidad trabajadora 439

identita dei lavoratori 390000

Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010

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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do

trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos

eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa

adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo

de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos

eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia

do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa

no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados

nos quadros anteriores

Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidad 442

identidad obrera 2

identidad trabajadora 1

identidade 280

identidade trabalhadora 2

identidade operaacuteria 0

identity 931

labor identity 11

labour identity 3

Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010

Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em

discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante

indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no

Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho

(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta

investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente

de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali

disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por

membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de

conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a

―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos

investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade

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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou

tese1

1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O

Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS

experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)

2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO

Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E

F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico

Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul

1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e

trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre

tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na

Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao

centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925

ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira

Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a

caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento

de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe

trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia

Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e

da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A

Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-

USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul

um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-

UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As

Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-

1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos

do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da

militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e

morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees

operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-

UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um

estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e

Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do

trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese

(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a

dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese

(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de

uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar

Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria

Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)

Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR

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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

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WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

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Page 2: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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saber se os trabalhadores que vimos abordando tecircm algo de especial e o que eacute este

―especial caso exista

Talvez o mais correto fosse dividir este paper em duas partes cada um

respondendo a um objetivo Contudo o incocircmodo que a ―identidade vem causando agrave

historiografia leva a priorizar o primeiro objetivo apenas esboccedilando os elementos que

responderiam ao segundo

Dito isto quero criticar os usos de ―identidade com base em 4 argumentos cada

um deles repetido e desenvolvido nas seccedilotildees a seguir

1 ndash ―Identidade eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de

histoacuteria do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ―histoacuteria

do movimento operaacuterio

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ―identidade a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila

3 ndash A ―percepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedila eacute muito mais simples de ser

investigado quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua

enunciaccedilatildeo tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ―identidade tende

a ser deixado de lado pela historiografia do trabalho

4 ndash Toda ―identidade enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com

claros intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ―identidade

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Como jaacute ficou claro este paper tem um caraacuteter de reflexatildeo metodoloacutegica soacute

possiacutevel pela circunstacircncia de haacute muito vir debatendo a questatildeo com diversos colegas

Enumeraacute-los tenderia agrave deselegacircncia quando certamente me esqueceria de algueacutem e

ademais creio que o resultado da discussatildeo que teremos a seguir pode ajudar a consolidar

revisar ou ratificar posiccedilotildees (trecircs alternativas a que tambeacutem este texto estaacute submetido)

Natildeo obstante eacute evidente que assumo eu as responsabilidades pelos equiacutevocos do texto que

segue

1 ndash ldquoIdentidaderdquo eacute um termo que tem promovido a atenccedilatildeo das pesquisas de histoacuteria

do trabalho para outros fenocircmenos que natildeo exclusivamente a claacutessica ldquohistoacuteria do

movimento operaacuteriordquo

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Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino

que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram

Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo

de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso

do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em

procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de

textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet

distribuiacutedos conforme o Quadro 1

Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo

Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs

―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000

―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000

Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010

Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o

extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a

origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute

francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o

descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a

uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo

que ela eacute

O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de

bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a

adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente

uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que

colegas teratildeo o que criticar

Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidade operaria 3180

identidad obrera 5990

labor identity 17900

labour identity 5950

identite ouvriere 9800

identidad trabajadora 439

identita dei lavoratori 390000

Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010

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4

Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do

trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos

eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa

adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo

de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos

eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia

do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa

no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados

nos quadros anteriores

Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidad 442

identidad obrera 2

identidad trabajadora 1

identidade 280

identidade trabalhadora 2

identidade operaacuteria 0

identity 931

labor identity 11

labour identity 3

Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010

Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em

discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante

indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no

Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho

(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta

investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente

de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali

disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por

membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de

conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a

―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos

investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade

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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou

tese1

1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O

Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS

experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)

2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO

Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E

F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico

Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul

1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e

trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre

tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na

Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao

centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925

ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira

Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a

caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento

de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe

trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia

Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e

da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A

Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-

USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul

um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-

UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As

Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-

1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos

do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da

militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e

morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees

operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-

UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um

estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e

Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do

trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese

(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a

dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese

(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de

uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar

Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria

Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)

Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR

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6

Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional

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22

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SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

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Page 3: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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3

Essa afirmaccedilatildeo estaacute muito longe de ser apenas uma impressatildeo subjetiva (imagino

que facilmente compartilhaacutevel entre noacutes) e as evidecircncias abaixo nocirc-lo demonstram

Eacute visiacutevel a impressionante frequumlecircncia com que ―identidade aparece como termo

de largo uso tanto no discurso cientiacutefico quanto no discurso poliacutetico e mesmo no discurso

do senso comum com alguma instruccedilatildeo Uma evidecircncia clara dessa frequumlecircncia aparece em

procedimentos lexicomeacutetricos que aproveitam a facilidade de circulaccedilatildeo eletrocircnica de

textos Foram encontrados mais de 45 milhotildees de usos do termo em paacuteginas de internet

distribuiacutedos conforme o Quadro 1

Quadro 1 Ocorrecircncias do termo ldquoidentidaderdquo

Portuguecircs Espanhol Inglecircs Italiano Francecircs

―identidade eacute 117000 836000 2510000 385000 27900000

―identidade natildeo eacute 258000 125000 459000 282000 12800000

Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 27 abr 2010

Dois elementos chamam a atenccedilatildeo neste Quadro 1 O primeiro deles eacute o

extraordinaacuterio volume de referecircncias em francecircs para a ―identiteacute deixando evidente que a

origem ndash ou pelo menos o provaacutevel centro intelectual de onde proveacutem a preocupaccedilatildeo ndash eacute

francoacutefona Mas existe tambeacutem um segundo elemento relevante neste quadro 1 o

descompasso lusoacutefono no uso do termo uma vez que eacute dentre as liacutenguas analisadas a

uacutenica na qual com mais frequumlecircncia dizemos aquilo que ―identidade natildeo eacute do que aquilo

que ela eacute

O Quadro 2 tambeacutem efeito de uma pesquisa no Google traz evidecircncias de

bastante menor credibilidade porque natildeo incorpora a imensa gama de variedades que a

adjetivaccedilatildeo da ―identidade pode sofrer nas liacutenguas acima trabalhadas Eacute possivelmente

uma evidecircncia que apenas porque demandou trabalho aqui trago na certeza de que

colegas teratildeo o que criticar

Quadro 2 Ocorrecircncias de variantes de ldquoidentidade operaacuteriardquo

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidade operaria 3180

identidad obrera 5990

labor identity 17900

labour identity 5950

identite ouvriere 9800

identidad trabajadora 439

identita dei lavoratori 390000

Fonte Pesquisa Google (wwwgooglecom) em 09 maio 2010

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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do

trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos

eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa

adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo

de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos

eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia

do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa

no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados

nos quadros anteriores

Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidad 442

identidad obrera 2

identidad trabajadora 1

identidade 280

identidade trabalhadora 2

identidade operaacuteria 0

identity 931

labor identity 11

labour identity 3

Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010

Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em

discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante

indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no

Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho

(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta

investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente

de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali

disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por

membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de

conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a

―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos

investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade

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apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou

tese1

1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O

Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS

experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)

2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO

Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E

F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico

Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul

1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e

trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre

tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na

Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao

centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925

ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira

Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a

caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento

de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe

trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia

Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e

da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A

Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-

USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul

um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-

UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As

Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-

1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos

do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da

militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e

morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees

operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-

UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um

estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e

Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do

trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese

(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a

dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese

(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de

uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar

Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria

Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)

Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR

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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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Eacute evidente que a adjetivaccedilatildeo da ―identidade para os interesses da historiografia do

trabalho natildeo tem a mesma capacidade sedutora que o termo tem para os usos

eventualmente trazidos no Quadro 1 Mas eacute necessaacuterio distinguir o quanto dessa

adjetivaccedilatildeo eacute especiacutefica da produccedilatildeo acadecircmica ou ao contraacuterio proveacutem do mesmo tipo

de fonte que incorporamos agraves pesquisas Em que pese a relativa fragmentaccedilatildeo dos bancos

eletrocircnicos de teses o descompasso entre a produccedilatildeo acadecircmica (e nela a historiografia

do trabalho) e os discursos de outra natureza pode ser constatado a partir de uma pesquisa

no metabuscador Cyberthesisnet cujos nuacutemeros satildeo bem menores do que os apresentados

nos quadros anteriores

Quadro 3 Ocorrecircncia de vaacuterias expressotildees em trabalhos acadecircmicos

Termos da pesquisa Ocorrecircncias

identidad 442

identidad obrera 2

identidad trabajadora 1

identidade 280

identidade trabalhadora 2

identidade operaacuteria 0

identity 931

labor identity 11

labour identity 3

Fonte wwwcybertesisnet consultado em 09 maio 2010

Dada essa desproporccedilatildeo entre a frequumlecircncia do uso do termo ―identidade em

discursos de diferentes naturezas e seu uso na historiografia do trabalho eacute interessante

indagar ateacute que ponto esse toacutepico eacute relevante nas formas de escrever histoacuteria utilizadas no

Brasil Eacute neste ponto que o portal do GT Mundos do Trabalho

(httpwwwifchunicampbrmundosdotrabalho) se torna um dos principais aliados nesta

investigaccedilatildeo uma vez que ali estaacute consolidada a produccedilatildeo acadecircmica recente proveniente

de diferentes universidades abordando diferentes toacutepicos Agraves teses e dissertaccedilotildees ali

disponiacuteveis foram acrescentadas algumas outras que seja por terem sido orientadas por

membros do GT seja por ampliarem o universo empiacuterico para a diversidade capaz de

conferir maior credibilidade aos argumentos aqui enunciados permitem constatar que a

―identidade eacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo nossa Com efeito em 39 trabalhos acadecircmicos

investigados segundo o procedimento lexicomeacutetrico em 37 deles a palavra ―identidade

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5

apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou

tese1

1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O

Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS

experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)

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um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-

UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As

Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-

1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos

do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da

militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e

morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees

operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-

UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um

estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e

Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do

trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese

(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a

dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese

(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de

uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar

Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria

Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)

Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR

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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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15

a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002

OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo

da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul

nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003

OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho

mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash

UNICAMP) 2002

PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional

(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)

2008

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22

PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria

Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008

PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO

SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001

QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social

(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000

REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de

sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria

Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006

RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do

trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria ndash UnB) 2008

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981

SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores

urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008

SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo

(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007

SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas

(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de

Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)

Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008

THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute

VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto

(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008

VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008

VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2008

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

Page 5: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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5

apareceu 1418 vezes perfazendo uma meacutedia de quase 40 vezes em cada dissertaccedilatildeo ou

tese1

1 Os trabalhos nos quais ―identidade apareceu foram os seguintes ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O

Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007 ALVES Walter de Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS

experiecircncias de trabalho praacuteticas sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU)

2009 AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006 ARAUacuteJO NETO

Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos ferroviaacuterios da E

F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006 BARTZ Frederico

Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do Rio Grande do Sul

1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008 BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e

trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre

tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005 CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na

Primeira Repuacuteblica Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008 CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao

centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925

ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2005 CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira

Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010 CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a

caminho da Justiccedila do Trabalho leis e direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2007 ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento

de resistecircncia dos trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007 FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe

trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001 FRACCARO Glaucia

Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios da Central do Brasil e

da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008 KAREPOVS Dainis A

Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930) Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-

USP) 2002 KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul

um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-

UNICAMP) 2006 LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As

Associaccedilotildees voluntaacuterias de socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-

1932) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2009 LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria

mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre 1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo

em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999 MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos

do Socialismo os tipoacutegrafos e a construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife

dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2004 MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da

militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007 MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e

morte dos trabalhadores catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009 NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees

operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-

UNICAMP 2007) OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um

estudo comparativo da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e

Rio Grande do Sul nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2003 OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do

trabalho mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese

(Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a

dinacircmica agraacuteria tradicional (freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese

(Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP) 2008 PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de

uma Idea Lisboa (Histoacuteria Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008 QUEIROacuteS Ceacutesar

Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social (1895-1919) Porto

Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000 REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria

Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP)

Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006 RIBEIRO JUacuteNIOR

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6

Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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11

que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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12

incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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13

numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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14

formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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15

a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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16

entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

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SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

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em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

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VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

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Page 6: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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Para aleacutem do procedimento lexicomeacutetrico eacute faacutecil constatar que na maior parte das

vezes em que o termo aparece nos trabalhos ele natildeo excede importantes referecircncias

bibliograacuteficas plenamente recomendaacuteveis na historiografia do trabalho2 ou aparece em

meio a um tipo de pressa terminoloacutegica natildeo rararamente no interior da expressatildeo

―identidade eacutetnica que com isso tende a ser mais mencionada do que efetivamente

discutida3 Em todo caso o frequumlente uso do termo ―identidade natildeo pode ser ignorado ou

desprezado porque a partir dele pode-se perceber a profusatildeo de fenocircmenos que vem

sendo investigados pela historiografia do trabalho incorporando por exemplo aleacutem dos

claacutessicos sindicatos tambeacutem os clubes sociais desportivos carnavalescos religiosos que

de algum modo conformam aquilo que os grupos de trabalhadores satildeo

2 ndash Ao se incorporarem muitos fenocircmenos agrave ldquoidentidaderdquo a fortuna de seus usos

oscila entre a descriccedilatildeo e o significado geneacuterico de ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedilardquo

Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do trabalhador nacional Minas

Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash UnB) 2008 SENA

Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo (im)possiacutevel

1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007 SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades

de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas (estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-

1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002 SOUZA

Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados em Franca

(1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003 TELES Luciano Everton Costa A Vida

Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920) Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM)

2008 VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica

Rio Tinto (Paraiacuteba 1959-1964) Fortaleza Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008 VIVIAN Diego

Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da categoria dos vigias de

embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS)

2008 Os trabalhos onde o termo natildeo apareceu foram SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia

no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001 Eacute faacutecil constatar que 3 dos trabalhos acadecircmicos dispostos no Portal do GT natildeo foram avaliados por

conta de problemas teacutecnicos envolvendo os formatos de arquivo BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc

paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-

1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004 KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo

o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese

(Histoacuteria-UNICAMP) 2004 SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e

cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008 2 Como satildeo por exemplo as referecircncias de BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da

FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado

Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004 BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe

operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo

ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) pp111-124 set1991ago1992 3 BARTZ (op cit) e SIQUEIRA U (op cit) satildeo exemplos daqueles que mencionam FORTES (op cit) e

BILHAtildeO (op cit) por seu turno estatildeo entre os que discutem

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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11

que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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12

incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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Paul Veyne em seu ousado ―Como se escreve a histoacuteria foi capaz de intitular um

de seus capiacutetulos como ―Tudo eacute histoacuterico logo a histoacuteria natildeo existe4 Poderiacuteamos usar da

mesma argumentaccedilatildeo para nos perguntarmos sobre aquilo que natildeo eacute passiacutevel de

abordagem pelo termo ―identidade Ora o recorte que a liacutengua opera no real pode ateacute ser

fantasioso caso acreditemos que o real eacute um continuum natildeo obstante eacute dos poucos

recursos metodologicamente eficientes para produzirmos algum tipo de saber sobre esse

real Entatildeo eacute necessaacuterio que usemos a liacutengua para definir ndash e neste caso o termo ―definir

supotildee os jaacute mencionados recortes do real ndash mesmo que seja por exibiccedilatildeo aquilo a que nos

referimos

Eacute certo que existe uma parte da pesquisa e da proacutepria exposiccedilatildeo cientiacutefica que

comporta uma exibiccedilatildeo e isto tambeacutem vale para a historiografia5 Contudo muitas vezes

esse procedimento central de nossa praacutetica intelectual comparece nos textos

envergonhando-se de ser uma descriccedilatildeo termo que quase soa como insulto na criacutetica

historiograacutefica Satildeo nalguns desses casos que o insulto tende a ser evitado com o recurso

ao termo ―identidade Nessas condiccedilotildees a aparecircncia de conceito que tem o termo

funciona certamente como recurso linguumliacutestico da autoria da pesquisa e isso raramente

pode ser atribuiacutedo a algum tipo de maacute-feacute ou intento enganoso Creio que tende a ser efeito

de certo tipo de (e me perdoem o paradoxo aqui explicitado) ―senso comum acadecircmico

cuja atenccedilatildeo natildeo se volta a por exemplo usos do termo ―identidade que parecem

normais e aceitos mas que reage contra por exemplo o termo ―descriccedilatildeo

Parece claro que nada tenho contra a descriccedilatildeo e o caraacuteter do termo ―identidade

em alguns textos coincide (sem demeacuterito algum portanto) com essa qualificaccedilatildeo Uma

evidecircncia desse tipo de uso pode ser vista em dois exemplos (entre incontaacuteveis outros que

poderia utilizar) nos quais o termo pode ser facilmente descartado ou trocado por outro

que natildeo recenda a conceito sem que o argumento perca qualquer elemento de sua forccedila ou

fraqueza

ALVES T op cit 2007 p 23 ESPERANCcedilA op cit p 28

―Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de

funccedilotildees dentro da oficina terminava por criar uma

rede de relaccedilotildees que construiacutea uma identidade entre

―Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

4 VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008 p

25 e ss 5 SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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11

que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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12

incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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13

numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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14

formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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15

a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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16

entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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homens que se sentiam ao mesmo tempo graacuteficos-

artesatildeos e intelectuais pois comparados aos outros

operaacuterios dominavam a arte de ler e escrever

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas porque se

refere tambeacutem agrave identidade de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos Minha Traduccedilatildeo

Do impressor ao tipoacutegrafo a ramificaccedilatildeo de funccedilotildees

dentro da oficina terminava por criar uma rede de

relaccedilotildees entre homens que se sentiam ao mesmo

tempo graacuteficos-artesatildeos e intelectuais pois

comparados aos outros operaacuterios dominavam a arte

de ler e escrever

Minha Traduccedilatildeo

Nesta perspectiva a mudanccedila teacutecnica no setor

graacutefico que coincide com o movimento grevista aqui

examinado evidencia um momento extremamente

significativo para os trabalhadores atingidos por ela

natildeo apenas por envolver questotildees materiais

objetivas como salaacuterio e emprego mas por que se

refere tambeacutem agrave condiccedilatildeo de trabalhadores

especializados e ciosos de seu saber de ofiacutecio ndash caso

dos graacuteficos

O outro poacutelo ao qual o uso do termo ―identidade tambeacutem pode oscilar eacute algum

tipo de definiccedilatildeo geneacuterica que se refira a algo como ―percepccedilatildeo ou sentimento de

pertenccedila Isso tambeacutem aparece nas citaccedilotildees acima e de modo geral eacute assim que vem

sendo utilizado por aquelesaquelas historiadoreshistoriadoras que se ocupam em

minimamente definir o seu vocabulaacuterio baacutesico

No entanto existem vaacuterios problemas nos modos como isso eacute feito O primeiro e

mais grave eacute a utilizaccedilatildeo raacutepida ou melhor um tracircnsito brusco da famosa citaccedilatildeo de

Thompson (presente em muitos dos trabalhos acadecircmicos aqui abordados) ateacute algum tipo

de conceito ou definiccedilatildeo

Vou-me permitir citar na liacutengua original porque isso tambeacutem serve para continuar

o argumento

―And class happens when some men as a result of common

experiences (inherited or shared) feel and articulate the identity of their

interests as between themselves and as against other men whose

interests are different from (and usually opposed to) theirs6

A riqueza e a qualidade da obra de Thompson natildeo estatildeo em debate mas alguns

usos perversos de suas palavras que fazem como jaacute disse o tracircnsito brusco da ―identidade

de interesses (portanto interesses idecircnticos) agrave ―identidade de pessoas (pessoas

idecircnticas) Esse eacute certamente um tracircnsito brusco porque se o termo tivesse suficiente

relevacircncia o termo repetido na citaccedilatildeo natildeo seria aquilo que haacute de substantivo (―interests)

revelando que a versatildeo que mais faz sentido eacute aquela que adjetiva esses interesses Aleacutem

disso o termo natildeo aparece por exemplo no Iacutendice remissivo revelando quatildeo pouco ele eacute

6 THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976 p 9-10

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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relevante na narrativa Contudo alguns trabalhos incidem fazem esse tracircnsito brusco que

a meu ver natildeo faz efetivamente jus agrave obra de Thompson cujo horizonte retoma o caraacuteter

de ―agente dos seres humanos com respeito agrave sua histoacuteria

Um desses trabalhos eacute a tese de Isabel Bilhatildeo que como jaacute dito passa

rapidamente logo em suas primeiras paacuteginas da citaccedilatildeo de Thompson agrave reificaccedilatildeo do

conceito algo que alcanccedila o cume na citaccedilatildeo que segue ―Logo os grupos eacutetnicos natildeo

podem mais ser definidos isoladamente mas como entidades que emergem da

diferenciaccedilatildeo cultural dos grupos que interagem em um contexto dado7 Eacute como se a

autora depois de ler e citar Bourdieu passasse ao largo da decircixis dos discursos operaacuterios e

praticamente se limitasse a descrever tais discursos como se enunciados por esse ente

denominado ―identidade algo evidente quando a palavra ―salaacuterio algo material e

culturalmente imprescindiacutevel para pensar a condiccedilatildeo operaacuteria estivesse limitada agraves

citaccedilotildees natildeo sendo efetivamente incorporada agrave sua anaacutelise8

Existe ademais outro elemento importante nas referecircncias agrave ―identidade Como eacute

faacutecil verificar a tendecircncia de boa parte dos estudos e mesmo textos de outras aacutereas eacute a de

por meio do termo colocar em um mesmo foco as disposiccedilotildees e caracteriacutesticas coletivas e

individuais Eacute como se fosse um meio de perceber um variado rol de situaccedilotildees em que

falando-se de modo geral se percebesse a ―internalizaccedilatildeo pelos indiviacuteduos de disposiccedilotildees

e normas exteriores Mas como tambeacutem eacute faacutecil de perceber o proacuteprio modo como

construo meu discurso eacute debitaria de algum tipo de antropologia que admite a validade de

um objeto como por exemplo ―indiviacuteduos Este eacute um elemento da historiografia eacute

interessante porque estaria assentado nalguma pretensatildeo psicologizante do saber Alguns

dos trabalhos aqui analisados tambeacutem adotam essa pretensatildeo E mais uma vez apenas os

tomarei como evidecircncias que tendem a estar razoavelmente dispersas em outros tantos

textos

Talvez um dos mais expliacutecitos casos de pretensotildees psicologizantes exista na

dissertaccedilatildeo de Marcelo Antocircnio Chaves que passo a citar9

Nuacutemeros que montamos para agrupar e identificar os trabalhadores

e que paradoxalmente ocultam as identidades profundas daquelas

pessoas Ou seja natildeo obstante as fontes falarem dos trabalhadores elas

natildeo expressam necessariamente suas ―falas mas nos fornecem dados

7 BILHAtildeO op cit p 16-18 e 109 O mesmo trabalho foi editado e a paginaccedilatildeo corresponde agravegtgtgt

8 BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 p 116-117 9 CHAVES op cit p 96

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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bem ―objetivos que registram marcos importantes na vida dos

indiviacuteduos

Outras citaccedilotildees possiacuteveis podem ser encontradas nas (tambeacutem) dissertaccedilotildees de

Vinicius Donizete Rezende e de Oswaldo Acioly Maciel que pelo menos assume com

clareza a pretensatildeo psicologizante10

Basicamente tais identidades seriam entendidas como construccedilotildees

poliacuteticas e sociais que constroem subjetividades a partir da comunhatildeo de

vivecircncias interesses eou determinados objetivos em comum

Embora o autor destas linhas desgoste do psicologismo aplicado agrave Histoacuteria isso

natildeo eacute motivo para criticar a produccedilatildeo historiograacutefica Poreacutem existe um elemento que deve

levar pesquisadores e pesquisadoras a explicitar suas concepccedilotildees de ser humano para que

melhor possamos compreender o que estaacute em jogo em nossas produccedilotildees E esse elemento

eacute claro em um autor amiuacutede citado pelos interessados na ―identidade Stuart Hall11

Ele

demarca no pensamento de Freud uma das fontes das rupturas do ―sujeito do Iluminismo

Isso ocorreria porque a pretensatildeo de racionalidade e coerecircncia do sujeito impliacutecita e

razoavelmente assumida por todos os que tomam ―identidade como objeto tende a supor

um tipo de violecircncia psiacutequica nas narrativas de si um tipo de violecircncia raras vezes

enunciada nos estudos de ―identidade operaacuteria tal como aprofundado por Eduardo Leal

Cunha12

Com as formulaccedilotildees freudianas sobre o inconsciente e o

reconhecimento de uma realidade psiacutequica capaz de produzir efeitos

sobre a subjetividade tal narrativa soacute seria possiacutevel a partir de uma

permanente operaccedilatildeo de exclusatildeo dos conteuacutedos inaceitaacuteveis pelo eu

supressatildeo de afetos e produccedilatildeo de anguacutestia Tal modo de enunciaccedilatildeo de

si sobre o controle exclusivo do eu poderia ser assim considerado natildeo

um processo de subjetivaccedilatildeo mas sim uma forma de sujeiccedilatildeo mdash o que

seremos levados a discutir em seguida mdash e se articularia entatildeo mais

uma vez e natildeo por acaso agrave racionalidade repressiva que eacute para

Marcuse a forma privilegiada de controle das subjetividades no

capitalismo moderno

Este elemento seraacute retomado nos pontos a seguir mas por ora eacute prudente fazer um

importante reparo existe pelo menos um trabalho que escapa de quase todas as criacuteticas

10

REZENDE op Cit P 70 ―Dentre os trabalhadores mais velhos formados numa estrutura produtiva

anterior agrave grande induacutestria a identidade dos mesmos se constituiu sobretudo em torno do ofiacutecio que

exerceram desde os anos iniciais de vida MACIEL op cit p 28 11

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999 p 36-40 12

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora

(Rio de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 181

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11

que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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12

incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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13

numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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14

formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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15

a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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que aqui faccedilo que eacute a tese de Beatriz Ana Loner que ao contraacuterio de tantos outros a

autora natildeo toma a ―identidade como objeto mas a toma desde uma perspectiva

tipicamente nominalista que se limita a substituir um uso matizado de ―consciecircncia de

classe

―A utilizaccedilatildeo do conceito de consciecircncia de classe manteacutem na

teorizaccedilatildeo da maioria dos autores marxistas uma referecircncia iniludiacutevel agrave

questatildeo da transformaccedilatildeo revolucionaacuteria da sociedade tornando-se

muito difiacutecil sua utilizaccedilatildeo para os fins do presente trabalho no qual natildeo

se pretende imputar agrave classe operaacuteria qualquer finalidade ou objetivo

previamente determinado []

Para evitar a referecircncia acima assinalada preferiu-se utilizar o

conceito de identidade coletiva o qual se adequa melhor agraves necessidades

do estudo13

Para fechar este toacutepico basta assinalar que o termo ―identidade tal como vem

sendo usado na historiografia do trabalho brasileira (e me arrisco a dizer que talvez natildeo

seja um mal exclusivo nosso) justifica a descriccedilatildeo ou tende a substituir teorizaccedilotildees

explicaccedilotildees eou compreensotildees possiacuteveis e necessaacuterias em nossas pesquisas Com isso

vimos correndo o risco de evitar a reflexatildeo por meio do recurso a um termo ―apenas como

parte do [] vocabulaacuterio natildeo como parte da [] teoria14

3 ndash A ldquopercepccedilatildeo ou sentimento de pertenccedilardquo eacute muito mais simples de ser investigado

quando enunciado pelos nativos e corroborado objetivamente Caso sua enunciaccedilatildeo

tenha outra natureza (por exemplo eacutetnica) o caraacuteter dessa ldquoidentidaderdquo tende a ser

deixado de lado pela historiografia do trabalho

De certo modo este argumento continua o anterior mas destaca um elemento

tambeacutem importante que toma a liacutengua e outras ocorrecircncias de signos como objeto de

anaacutelise Eacute flagrante que muitos dos estudos interessados na ―identidade compreendem

suas fontes como manifestaccedilotildees expressivas passiacuteveis de decodificaccedilatildeo Poreacutem isso natildeo eacute

exclusivo dos estudos de ―identidade uma vez que haacute quase 200 anos compotildeem a

metodologia da pesquisa histoacuterica

Ao se tomarem signos como objetos de anaacutelise ndash sofrendo portanto de algum

modo influecircncias da ―virada linguumliacutestica (linguistic turn) ndash o descompasso entre a teoria

metodologia e as teacutecnicas de pesquisa se revela flagrante e o que eacute pior tendencialmente

13

LONER op cit p 29 14

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico

ao reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 13

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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13

numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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15

a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

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incapaz de dar conta daquilo que proclamou se natildeo como objeto no miacutenimo como

fonte15

Isso acontece por exemplo no frequumlente uso do termo ―indiacutecio ndash com oacutebvia

remissatildeo expliacutecita ou impliacutecita ao texto de Ginzburg ndash para justificar algo que natildeo passa

de uma evidecircncia de baixa credibilidade16

Isso aparece em vaacuterios trabalhos natildeo raro no

contraponto entre ―indiacutecio e evidecircncia ou demonstraccedilatildeo ou prova ou ainda proacuteximo de

expressotildees como ―talvez ―parece que Esse contraponto confirmando indiacutecio como um

tipo de evidecircncia de baixa credibilidade pode ser visto em trabalhos acadecircmicos que

pinccedilo ao acaso dentre os 37 que tambeacutem mencionam ―identidade

Alguns indiacutecios desses aspectos jaacute puderam ser observados na

narrativa que fizemos do processo que redundou na fundaccedilatildeo do Centro

Operaacuterio Mas agora eacute o momento de fazermos tais caracterizaccedilotildees de

modo mais sistemaacutetico

A importacircncia de se conquistar e obstruir a Rede de Viaccedilatildeo Paranaacute-

Santa Catarina por ser o principal acesso agrave regiatildeo Sul tambeacutem foi

referenciada pelo Delegado talvez isso seja indiacutecio da lembranccedila dos

acontecimentos de 30 e 32

as fontes nos datildeo indiacutecios imprecisos

Esses satildeo apenas alguns indiacutecios da circulaccedilatildeo de militantes no

Cone-Sul Se se aprofundar na anaacutelise recorrendo a outras fontes talvez

se chegue a uma melhor delimitaccedilatildeo do espaccedilo percorrido por esses

lutadores bem como a rede de solidariedade construiacuteda para dar suporte

agraves fugas

Esse fato relevante constitui-se um indiacutecio e evidecircncia de

experiecircncias vividas que natildeo podem ser reduzidas a um ―movimento

comunista de revoluccedilatildeo agraacuteria ou ―levante comunista17

Se satildeo de fato evidecircncias de baixa credibilidade estar-se-ia correto em

fundamentar muito dos estudos de ―identidade nelas As menccedilotildees ao ―paradigma

indiciaacuterio parecem aqui pouco contribuir para o debate mas tendo a afirmar de que este

indiacutecio de carecircncia reflexiva eacute passiacutevel de generalizaccedilatildeo para tambeacutem o tema da

―identidade uma vez que os excertos agora trazidos exibem o mesmo tipo de carecircncia

15

De certo modo isso coincide com PETERSEN Silvia Regina Ferraz Comentaacuterios sobre a conferecircncia

Histoacuteria Operaacuteria no Rio Grande do Sul proferida pela Profa Dra Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo

Leopoldo RS v SN 2001 p 89 16

Discuti com vagar o tema em SILVA Jr Definindo e indicando (op cit) p 136-138 17

Respectivamente CASTELLUCI op cit p 142 MONTEIRO op cit p 90 ARAUacuteJO NETO op cit

p 78 OLIVEIRA V op cit p 216 MOREIRA op cit p 13

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm[11]

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na Primeira Repuacuteblica

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numa aacuterea do saber que eacute a nossa que eacute a Histoacuteria Eacute portanto provaacutevel que esse tipo de

carecircncia se aprofunde quando transitamos para conceitos da antropologia da linguumliacutestica

da semioacutetica da psicologia etc

Para comeccedilar esse trajeto permito-me lanccedilar matildeo de alguns textos provenientes da

Antropologia Em um deles Regina Weber18

nos alerta para as diferenccedilas na enunciaccedilatildeo

de termos capazes de expressar de algum modo aquilo que referi como ―percepccedilatildeo ou

sentimento de pertenccedila

Todos estamos de acordo quanto ao fato de que haacute uma diferenccedila

entre a fala de membros de uma comunidade ou grupo social tais como

as que satildeo captadas em gravadores pelos historiadores orais e o discurso

sistemaacutetico que segue padrotildees de um determinado campo cientiacutefico

produzido pelos intelectuais Nas ciecircncias humanas a dupla mais

representativa de tal diferenccedila eacute a constituiacuteda pelas figuras do ―nativo e

do ―antropoacutelogo

Esta diferenccedila eacute aquela que seraacute desenvolvida no toacutepico a seguir mas que tem um

impacto importante no modo como lemos as fontes que nos permitem abordar a

―identidade ou o discurso ―nativo aborda aquilo que queremos ou natildeo aborda Essa

constataccedilatildeo que beira a inocecircncia leiga sobre a pesquisa histoacuterica impotildee um cuidado

extremado no acircmbito dos possiacuteveis problemas de pesquisa Ocorre que a ―identidade

assume a plena consistecircncia de um problema natildeo quando ela eacute enunciada pelos nativos

mas quando natildeo eacute enunciada Se nos limitarmos agrave primeira alternativa as

problematizaccedilotildees possiacuteveis circulam tatildeo-somente no modo como satildeo enunciados os

discursos de nossas fontes incidindo repito agora no caraacuteter descritivo de algumas

pesquisas Poreacutem se a ―identidade de trabalhador (e congecircneres) natildeo eacute enunciada eacute neste

momento que podemos responder natildeo apenas ao ―como mas ao ―por quecirc da natildeo-

enunciaccedilatildeo

Se minha argumentaccedilatildeo estaacute correta eacute mister salientar que as construccedilotildees

narrativas sobre a ―consciecircncia de classe em que pese o fato de natildeo mais estar na moda

acadecircmica tendem a ter muito maior profundidade e solidez (independente de seu

conteuacutedo teleoloacutegico) porque procuram responder aos porquecircs da distacircncia entre o caso

empiacuterico e o tipo ideal lukaacutecsiano19

De todo modo mesmo perguntas adequadamente

18

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 jun 2006 p 189 19

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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formuladas com o interrogativo ―por quecirc nem sempre resultam em ―encontrar respostas

razoavelmente adequadas para elas20

Retornando agrave ―identidade a riqueza analiacutetica de uma pesquisa proviria com mais

facilidade de interrogaccedilotildees sobre a sua natildeo-enunciaccedilatildeo Esse tipo de riqueza proviria por

exemplo de natildeo-enunciaccedilatildeo da condiccedilatildeo de trabalhador por aqueles que estatildeo na condiccedilatildeo

de escravizado (se natildeo venho ignorando a bibliografia referente fruto de minha

ignoracircncia) que preferem se identificar de diferentes formas que talvez estejam muito

distantes dos operaacuterios de seu futuro Se isso eacute correto talvez diminuiacutessem os fossos ainda

existentes acerca do estudo do trabalho livre e do escravizado Ampliando o raciociacutenio a

interrogaccedilatildeo sobre a ausecircncia de enunciaccedilatildeo da ―identidade de trabalhador tambeacutem

poderia ser investigada no acircmbito do trabalho prisional e no acircmbito do trabalho domeacutestico

e satildeo esses tipos e campos de interrogaccedilatildeo que certamente ajudariam na constituiccedilatildeo de

uma ―identidade da historiografia do trabalho

Entretanto como trazido no comeccedilo do toacutepico onde fiz referecircncia agrave ―identidade

eacutetnica haveria muito a me ser objetado porque esta eacute sobretudo um dos temas que

melhor tem comparecido na historiografia do trabalho Entatildeo afirmar como faccedilo que

esse eacute um caso em que noacutes ignoramos a enunciaccedilatildeo de outras ―identidades seria para

dizer o miacutenimo ignoracircncia daquilo que li

Contudo existe um elemento que segue ratificando nossas carecircncias reflexivas e

que proveacutem de diversos estudos de ―identidade eacute aquilo que eu denominaria de

disposiccedilatildeo horizontal das ―identidades Natildeo sei se sua origem estaacute em Hall ou em

qualquer outro autor mas ela pode ser descrita como a crenccedila de que a ―identidade do

trabalhador pode ou natildeo colidir com outras ―identidades porque ao fim e ao cabo todas

elas por terem sido enunciadas (e apenas por terem sido retomando a argumentaccedilatildeo

acima) tecircm relevacircncia no mundo social Essa eacute uma concepccedilatildeo horizontal de ―identidade

porque percebe os fenocircmenos que recaem sob anaacutelise como em desfile lado-a-lado

enumeraacuteveis e quiccedilaacute equivalentes Se forem de fato equivalentes natildeo haveria motivo

para abordar uma uacutenica ―identidade e com efeito qualquer foco em quaisquer das

―identidades em desfile geraria os mesmos resultados de pesquisa

A esse respeito eacute possiacutevel identificar paradigmaticamente nos textos aqui

analisados duas posiccedilotildees A de Isabel Bilhatildeo eacute enunciada com clareza em sua conclusatildeo

20

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981 p 10

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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a de que a identidade operaacuteria no caso analisado eacute ―dominante embora conviva com

outras Eacute interessante perceber que essa eacute apenas a terceira vez em que a expressatildeo

―identidade dominante aparece no texto indicando um elemento dificilmente pensaacutevel

como central em sua argumentaccedilatildeo que apenas utiliza vaacuterias vezes o termo ―dominante

para se referir agraves elites e ao seu discurso21

O outro paradigma pode ser visto em

Alexandre Fortes tambeacutem em meio agrave discussatildeo sobre identidades eacutetnicas e as pensa como

―construccedilotildees imaginaacuterias que articulam muacuteltiplos elementos culturais tais como liacutengua

costumes tradiccedilotildees e religiatildeo servindo como uma poderosa base de auto-identificaccedilatildeo

para grupos sociais e indiviacuteduos22

Sua posiccedilatildeo estaacute afinada com boa parte da produccedilatildeo

das ciecircncias sociais que alerta contra a ―reificaccedilatildeo das ―identidades e verdade estaacute

interessado na comunidade de um bairro operaacuterio e natildeo especificamente na classe

operaacuteria

A citaccedilatildeo do trabalho de Fortes manteacutem uma interessante consonacircncia com um

excelente texto antropoloacutegico23

que jaacute tem 10 anos e que possivelmente foi lido por

apenas um dos autores de trabalhos analisados que eacute o mesmo autor destas linhas

Aleacutem disso esse termo identidade eacute o clichecirc ou roacutetulo mais laacutebil e

fluido que as Ciecircncias Sociais jamais adotaram Tudo quanto antes era

conhecido como filiaccedilatildeo fidelidade laccedilos viacutenculos pertenccedilas

lealdades padrotildees tradiccedilotildees culturais status papeacuteis atitude crenccedila

mentalidade condiccedilatildeo aspecto traccedilo caraacuteter etc tudo hoje recebe

levianamente o nome de identidade Ora uma noccedilatildeo que serve para

definir tudo natildeo define nada

Como eacute visiacutevel muito deste meu texto deve agrave leitura dessa interessante avaliaccedilatildeo

muitiacutessimo mais erudita e que contudo preserva a ―identificaccedilatildeo como conceito uacutetil

algo que tambeacutem aparece em Fortes e que a bem da verdade estaacute tambeacutem disperso em

uns quantos trabalhos acadecircmicos que o tomam como sinocircnimo de ―identidade E

podemos mais uma vez costurar o fechamento deste toacutepico com a citaccedilatildeo de Fortes que

toma identidade como ―construccedilatildeo imaginaacuteria para passar ao proacuteximo toacutepico

4 ndash Toda ldquoidentidaderdquo enunciada tem um caraacuteter ficcional senatildeo miacutetico com claros

intentos poliacuteticos O que os pesquisadores e pesquisadoras devemos fazer eacute a opccedilatildeo

21

BILHAtildeO op cit p 256 As outras vezes estatildeo na p 103 e com respeito a grupos eacutetnicos na p 113 22

FORTES op cit p 105 23

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado

na XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade

Brasiacutelia jul 2000 p 15

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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set1991ago1992

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2005

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Page 16: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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entre o discurso nativo e o discurso da ciecircncia onde nesse uacuteltimo caso a ldquoidentidaderdquo

pode ser fenocircmeno natildeo objeto de investigaccedilatildeo

Um dos autores certamente mais lidos pela historiografia do trabalho brasileira eacute

Hobsbawm e nas bibliografias dos trabalhos analisados muitas vezes seu nome eacute

encontrado No entanto apenas dois trabalhos elencam em sua bibliografia sem citar ou

discutir o Sobre Histoacuteria coletacircnea de artigos onde aparece um texto que se foi lido foi

solenemente ignorado ―Natildeo basta a histoacuteria de identidade24

O autor recompotildee uma seacuterie

de outros argumentos jaacute desenvolvidos em sua obra mas tem no texto a preocupaccedilatildeo

central de reivindicar para historiografia a necessidade do respeito agrave evidencia em lugar

dos discursos memorialistas Esses podem ser objeto de investigaccedilatildeo mas natildeo tecircm a

mesma natureza do discurso histoacuterico que pode ateacute natildeo ser cientiacutefico mas muito dista da

ficccedilatildeo propriamente dita Natildeo penso que esse argumento seja recusaacutevel na historiografia

do trabalho mas em uma seacuterie de passagens Hobsbawm destaca o caraacuteter inventado e

mesmo perigoso da ―identidade sobretudo nacional mas natildeo somente como revelado

em vaacuterios trechos25

Eacute inevitaacutevel que a versatildeo nacionalista de sua histoacuteria consista de

anacronismo omissatildeo descontextualizaccedilatildeo e em casos extremos

mentiras Em um grau menor isso eacute verdade para todas as formas de

histoacuteria de identidade antigas ou recentes

Hoje o seu papel puacuteblico mais importante [dos historiadores] eacute

praticar seu ofiacutecio de forma a constituir pour la nationaliteacute (e para todas

as demais ideologias de identidade coletiva) un danger

As safras que cultivamos em nossos campos podem terminar como

alguma versatildeo do oacutepio do povo

Em outras tantas criacuteticas o alvo natildeo eacute apenas a ―reificaccedilatildeo dos discursos de

―identidade (inclusive em Stuart Hall) mas a necessidade de distinccedilatildeo entre um discurso

proacuteprio do ―nativo (independente do quanto o termo agora funcione como metaacutefora) e

uma linguagem que guarde no miacutenimo algum distanciamento26

E isso deve acontecer na

maior parte das vezes porque os discursos de ―identidade tecircm sempre por objetivo o

enunciar o direito agrave existecircncia e reconhecimento de algum grupo Assim a emergecircncia

desses discursos supotildee algum tipo de mudanccedila em alguma esfera (por exemplo cultural

24

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292 Os textos que elencam o Sobre Histoacuteria na Bibliografia satildeo os de BILHAtildeO op cit E o de

TELES op cit 25

Ibidem respectivamente p 285 288-289 291 26

HALL op cit p 38 CUNHA loc cit WEBER p 190

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

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social econocircmica poliacutetica e pode ser mais do que uma) que soacute pode ser percebida

historicamente quando comparadas as condiccedilotildees anteriores e posteriores a essa

emergecircncia Caso contraacuterio nos limitaremos a descrever a ―identidade

Eacute patente que a estabilidade e a permanecircncia no tempo dos discursos de

―identidade no mais das vezes tecircm uma pretensatildeo poliacutetica (tomando poliacutetica em sentido

amplo capaz de se desenvolver em diferentes campos da sociedade) porque reivindica

para o grupo a capacidade de pelo menos partilhar dos mecanismos de dominaccedilatildeo E

considero sintomaacutetico que muitos dos autores aqui abordados provenham do Rio Grande

do Sul talvez porque nesse estado (onde tambeacutem vivo) haacute eloquumlecircncia e profusatildeo de

discursos identitaacuterios sobretudo os focados na comparaccedilatildeo entre o estado e o paiacutes O

sentido poliacutetico dos discursos identitaacuterios poreacutem deveria acometer os historiadores do

trabalho com uma preocupaccedilatildeo eacutetica Se os discursos identitaacuterios dos trabalhadores satildeo

mitos que facultam a accedilatildeo poliacutetica e ademais eacute improvaacutevel que exista algum historiador

do trabalho que natildeo tenha no miacutenimo tendecircncias poliacutetica de esquerda como eacute possiacutevel

sabotar a pretensatildeo dos nossos objetos de pesquisa por meio da desconstruccedilatildeo destruiccedilatildeo

desmitificaccedilatildeo etc de suas construccedilotildees Talvez seja essa uma das razotildees para a

preferecircncia de uso do termo inclusive na historiografia E talvez um dos usos mais

confortaacuteveis capazes de evitar o dilema eacutetico seja o descrever e usar o termo que como jaacute

demonstrado no iniacutecio do Toacutepico 1 eacute de largo uso hodierno Isso significaria falar como

os ―nativos talvez na esperanccedila de falar com esses ―nativos Creio que Hobsbawm

fornece suficientes argumentos em contraacuterio porque avalia que a qualidade do trabalho

historiograacutefico supotildee o compromisso com a verdade e talvez seja isso que podemos de

fato oferecer aos nossos ―nativos Oferecer-lhes a ratificaccedilatildeo da ―identidade pelo

discurso cientiacutefico acrescenta pouco aos discursos que a proacutepria classe eacute capaz de produzir

e acrescenta pouco tambeacutem agrave historiografia que ao descrever por meio do psicologismo

os procedimentos intencionais dos heroacuteis natildeo estaria muito afastada dos procedimentos da

escola metoacutedica apenas cambiando a individualidade dos heroacuteis nacionais pela classe

Haacute poucas duacutevidas de que o termo ―identidade designa um conjunto de

fenocircmenos que merecem nossa atenccedilatildeo Mas fenocircmenos natildeo tecircm a mesma natureza dos

objetos e existe o risco de que a ausecircncia de distinccedilatildeo crie uma historiografia que ao

inveacutes de tomar a Sociedade a Classe o Capital o Partido a Consciecircncia os seres

humanos (e a lista pode ser aumentada segundo a preferecircncia) como sujeitos do processo

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na

Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007

ALVES Walter De Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS experiecircncias de trabalho praacuteticas

sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU) 2009

AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006

ARAUacuteJO NETO Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos

ferroviaacuterios da E F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006

BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do

Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008

BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria institucional nos estudos

do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe

Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004

BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade

ou legitimidade Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo ANPUH-Marco Zero 12 (23 e 24) p 111-124

set1991ago1992

BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-

alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005

BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade

integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004

CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na Primeira Repuacuteblica

Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008

CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro

complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925 ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP)

2005

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21

CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e

estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010

CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e

direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2007

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico ao

reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 7-22

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora (Rio

de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186

ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos

trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007

FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas

Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001

FRACCARO Glaucia Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios

da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

1998 p 281-292

KAREPOVS Dainis A Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930)

Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-USP) 2002

KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos

soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004

KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul um retrato da

sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-UNICAMP)

2006

LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de

socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2009

LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre

1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm

MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a

construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE)

2004

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na

XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia

jul 2000

MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo

Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007

MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores

catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009

NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-

1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)

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(Histoacuteria-UPF) 2002

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da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul

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OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho

mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash

UNICAMP) 2002

PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional

(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)

2008

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22

PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria

Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008

PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO

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QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social

(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000

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sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria

Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006

RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do

trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria ndash UnB) 2008

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981

SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores

urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008

SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo

(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007

SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas

(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de

Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)

Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008

THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute

VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto

(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008

VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008

VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2008

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

Page 18: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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histoacuterico tome a ―identidade como sujeito que erguida agrave posiccedilatildeo de objeto pode

configurar uma estrutura mais poderosa da qual proveacutem toda transformaccedilatildeo

Mais vale pensaacute-la como o nome de um conjunto de fenocircmenos ou quando muito

uma noccedilatildeo capaz de dirigir nossa atenccedilatildeo a fontes de pesquisa diferentes daquelas que

vecircm sendo trabalhadas E esse eacute de fato o meacuterito da historiografia da ―identidade Mas

se eacute fenocircmeno ou noccedilatildeo a tarefa cientiacutefica da historiografia eacute organizar catalogar dispor

definir perceber e hierarquizar efeitos e causas27

5 ndash As associaccedilotildees de trabalhadores diferem daquelas dos demais seres humanos

Como jaacute antecipado jaacute muito me excedi na discussatildeo da ―identidade Mas agora

depois dessa discussatildeo a relevacircncia da pergunta parece clara E de resto a interrogaccedilatildeo

sobre associaccedilotildees voluntaacuterias aparece em textos jaacute antes mencionados28

E satildeo duas as

respostas que dou que seratildeo o suficiente geneacutericas por conta do espaccedilo disponiacutevel e

porque a pesquisa que vecircm motivando as reflexotildees ateacute agora empreendidas ainda natildeo

terminou

A primeira eacute que sim que as associaccedilotildees voluntaacuterias de trabalhadores satildeo

diferentes de outras por conta da condiccedilatildeo de classe de seus associados e dos interesses de

classe quando enunciados A condiccedilatildeo de classe dos associados eacute relevante para

pensarmos que no caso padratildeo do trabalhador manual assalariado existem dois fatores

que condicionam e eventualmente limitam a associaccedilatildeo O primeiro deles satildeo os ganhos

dos sujeitos que funcionam como limitaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo a tantas associaccedilotildees quantas se

quiser Este eacute um dos principais problemas de considerar aquilo que denominei de

―disposiccedilatildeo horizontal das identidades porque se essa ―identidade eacute muacuteltipla e

contingente ela natildeo pode servir para explicar porque tal associaccedilatildeo foi escolhida pelo

27

Neste sentido confesso que me frustraram as eventuais criacuteticas a meu mais importante trabalho que eacute a

tese aqui referenciada Posso ter incorrido em erro mas certamente natildeo em desatenccedilatildeo agraves pretensotildees

cientiacuteficas ao classificar elementos da ―ordem material e ―ordem espiritual na imputaccedilatildeo causal das

sociedades de socorros muacutetuos NOMELINI (op cit p 15) e LEUCHTENBERGER (op cit p 11)

recusam as categorias e se contentam como diz a uacuteltima em ―compreender identidade de maneira histoacuterica

e portanto em constante transformaccedilatildeo mudando-se e ampliando-se de acordo com as relaccedilotildees

desenvolvidas e as experiecircncias vivenciadas pelos sujeitos de forma que como aponta Paula Nomelini um

agente histoacuterico pode identificar-se de diferentes maneiras simultaneamente sem que uma exclua a outralsquo

Isso eacute um argumento comum agrave historiografia do trabalho que eleva a contingecircncia de variaacutevel de anaacutelise

tiacutepica da pesquisa histoacuterica a objeto 28

Aleacutem de BATALHA op cit o mesmo autor embora nada fale de ―identidade fala com muito acuidade

das associaccedilotildees BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria

institucional nos estudos do movimento operaacuterio Anos 90 n 8 dezembro 1997 p 91-99

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na

Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007

ALVES Walter De Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS experiecircncias de trabalho praacuteticas

sociais e atuaccedilotildees poliacuteticas Uberlacircndia dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFU) 2009

AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006

ARAUacuteJO NETO Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos

ferroviaacuterios da E F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006

BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do

Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008

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Page 19: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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trabalhador em lugar de outra Em suma a ―identidade (ou melhor dizendo a

identificaccedilatildeo) eacute efeito da associaccedilatildeo voluntaacuteria eacute natildeo causa Do mesmo modo as

limitaccedilotildees de tempo satildeo relevantes para saber por que natildeo existem tantas filiaccedilotildees quanto

desejos especialmente porque o trabalho assalariado usualmente consome parte

consideraacutevel de seu tempo Claro que esses elementos materiais da(s) classe(s) podem

variar e ser especialmente problemaacuteticos quando as identificaccedilotildees agrupam sujeitos em

condiccedilotildees sociais distintas assalariados por peccedila ou por tempo autocircnomos ou assalariados

(e eventualmente patrotildees) etc Entatildeo eacute conhecida no Rio Grande do Sul a disputa entre

Sindicatos Rurais e Sindicatos de Trabalhadores Rurais que segundo os latifundiaacuterios

deveriam agregar apenas os assalariados e que hoje em dia agregam assalariados e

pequenos produtores29

Neste sentido descrever a contingecircncia avanccedila pouco na

conformaccedilatildeo teoacuterica acerca do peso da condiccedilatildeo social na conformaccedilatildeo de associaccedilotildees

que deve apenas preceder a tentativa de teorizar

Da mesma forma o estudo dos interesses de classe ndash e natildeo os estou reificando

porque suponho sua enunciaccedilatildeo ndash eacute relevante porque as pretensotildees e as possibilidades de

ascensatildeo social podem configurar estrateacutegias privadas e puacuteblicas amiuacutede misturadas que

podem levar trabalhadores a grupos religiosos por exemplo de diferentes naturezas

Desse modo a enunciaccedilatildeo de interesses que satildeo atribuiacutedos agrave classe pensada como sujeito

coletivo estaacute normalmente associada aos discursos de ―identidade porque se natildeo for

explicitado de certo modo o mito os mesmos trabalhadores podem estar num sindicato

como poderiam estar numa mutual aberta ou numa loja maccedilocircnica

Contudo existe tambeacutem outra resposta agrave questatildeo que encima este toacutepico E eacute a

resposta negativa sobre a diferenccedila na associaccedilatildeo de trabalhadores Alguns elementos que

supotildeem outras possibilidades jaacute foram enunciados acima mas posso resumi-los em trecircs

pontos sobre os quais serei muito breve O primeiro eacute que limites de ganhos existem em

qualquer grupo social quando eacute um princiacutepio de Economia a escassez Eacute certo que para a

burguesia esses limites satildeo bem mais dilatados (portanto menores) do que para o

proletariado e talvez por isso os membros das elites normalmente tenham vaacuterios viacutenculos

associativos tambeacutem porque dispotildeem de mais tempo Do mesmo modo interesses

existem em quaisquer associaccedilotildees voluntaacuterias e a pesquisa histoacuterica tende a se limitar

29

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002 p 79-80

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na

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Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)

Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008

THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute

VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto

(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008

VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008

VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2008

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

Page 20: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

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agravequelas que estatildeo explicitas nas finalidades de estatutos E por fim um elemento que natildeo

apareceu na resposta positiva foram os procedimentos de gestatildeo algo que tambeacutem

existem em qualquer associaccedilatildeo voluntaacuteria Conhecer cargos mandatos forma de escolha

etc poderia revelar que por exemplo como imagino as associaccedilotildees de trabalhadores

sejam formalmente mais democraacuteticas do que grupos religiosos uma vez que nestes pode

haver criteacuterios sacros para a lideranccedila

Espero que natildeo se diga que este paper natildeo tem conclusatildeo apenas porque aponto

duas possibilidades de resposta que estas sim dependem da contingecircncia enquanto natildeo

formalizarmos melhor a teoria Este texto quer colaborar nesse sentido ao propor a

discussatildeo metodoloacutegica que do mesmo modo que supotildee a diferenccedila dos trabalhadores

tenta estabelecer criteacuterios de comparaccedilatildeo que quiccedilaacute permitam saber se existe ou natildeo algo

que seja dos trabalhadores E a conclusatildeo eacute que se existe esse algo que os trabalhadores

tecircm certamente natildeo eacute a ―identidade uma vez que eles satildeo se pensam se dizem se

representam etc enunciar os processos de identificaccedilatildeo com verbos atende melhor agrave ideacuteia

de processo e extingue a necessidade da referecircncia a essa ―(id)entidade

Bibliografia ALVES Teresa Vitoacuteria Fernandes O Graacutephico‟ Representaccedilotildees da vida e da sociedade do Brasil na

Primeira Repuacuteblica Juiz de Fora dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFJF) 2007

ALVES Walter De Assis Trabalhadores tecircxteis em Trecircs Lagoas-MS experiecircncias de trabalho praacuteticas

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AMORIM Ailana Cristina de Relaccedilotildees intra-classe solidariedade e conflito na formaccedilatildeo da classe

operaacuteria no Rio Grande do Sul Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2006

ARAUacuteJO NETO Adalberto Coutinho de Entre a revoluccedilatildeo e o corporativismo a experiecircncia sindical dos

ferroviaacuterios da E F Sorocabana nos anos 1930 Satildeo Paulo dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-USP) 2006

BARTZ Frederico Duarte O Horizonte Vermelho o impacto da revoluccedilatildeo russa no movimento operaacuterio do

Rio Grande do Sul 1917-1920 Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2008

BATALHA Claacuteudio H M Vida associativa por uma nova abordagem da histoacuteria institucional nos estudos

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BATALHA Claacuteudio H SILVA Fernando Teixeira da FORTES Alexandre (orgs) Culturas de Classe

Identidade e Diversidade na Formaccedilatildeo do Operariado Campinas Satildeo Paulo Ed UNICAMP 2004

BATALHA Claacuteudio Henrique de Moraes Identidade da classe operaacuteria no Brasil (1880-1920) atipicidade

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set1991ago1992

BILHAtildeO Isabel Aparecida Identidade e trabalho anaacutelise da construccedilatildeo identitaacuteria dos operaacuterios porto-

alegrenses (1896 a 1920) Porto Alegre tese (Histoacuteria-UFRGS) 2005

BOURDIEU Pierre A identidade e arepresentaccedilatildeo Elementos para uma reflexatildeo criacutetica sobre a ideacuteia de

regiatildeo In O Poder Simboacutelico 11 Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BRUSANTIN Beatriz de Miranda Anauecirc paulista um estudo sobre a praacutetica poliacutetica da primeira ―cidade

integralista do estado de Satildeo Paulo (1932-1943) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2004

CASTELLUCCI Aldrin A S Trabalhadores maacutequina poliacutetica e eleiccedilotildees na Primeira Repuacuteblica

Salvador tese (Histoacuteria-UFBA) 2008

CHAVES Marcelo Antonio Da periferia ao centro da(o) capital perfil dos trabalhadores do primeiro

complexo cimenteiro do Brasil Satildeo Paulo 1925 ndash 1945 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP)

2005

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CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e

estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010

CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e

direitos na cidade de Satildeo Paulo 1953 a 1964 Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2007

COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico ao

reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 7-22

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora (Rio

de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186

ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos

trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007

FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas

Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001

FRACCARO Glaucia Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios

da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999

HOBSBAWM Eric Natildeo basta a histoacuteria de identidade Sobre histoacuteria Satildeo Paulo Companhia das Letras

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KAREPOVS Dainis A Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930)

Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-USP) 2002

KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos

soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004

KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul um retrato da

sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945) Campinas tese (Histoacuteria Social do Trabalho-UNICAMP)

2006

LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de

socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2009

LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre

1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm

MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a

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2004

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na

XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia

jul 2000

MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo

Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007

MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores

catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009

NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-

1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002

OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo

da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul

nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003

OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho

mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash

UNICAMP) 2002

PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional

(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)

2008

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria

Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008

PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO

SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001

QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social

(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000

REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de

sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria

Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006

RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do

trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria ndash UnB) 2008

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981

SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores

urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008

SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo

(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007

SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas

(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de

Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute

VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto

(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008

VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008

VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2008

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

Page 21: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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CORREcircA Anderson Romaacuterio Pereira Movimento operaacuterio em Alegrete a presenccedila de imigrantes e

estrangeiros (1897 ndash 1929) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-PUCRS) 2010

CORREcircA Larissa Rosa Trabalhadores tecircxteis e metaluacutergicos a caminho da Justiccedila do Trabalho leis e

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COSTA Emilia Viotti da Novos puacuteblicos novas poliacuteticas novas histoacuterias do reducionismo econocircmico ao

reducionismo cultural em busca da dialeacutetica Anos 90 Porto Alegre n 10 dez 1998 p 7-22

CUNHA Eduardo Leal Uma leitura freudiana da categoria de identidade em Anthony Giddens Aacutegora (Rio

de Janeiro) v X n 2 juldez 2007 p 171-186

ESPERANCcedilA Clarice Gontarski A greve da oficina de chumbo O movimento de resistecircncia dos

trabalhadores da Empresa Jornaliacutestica Caldas Juacutenior (Porto Alegre 1983-1984) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2007

FORTES Alexandre bdquoNoacutes do Quarto Distritohellip‟ A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas

Tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2001

FRACCARO Glaucia Cristina Frandian Morigerados e revoltados Trabalho e organizaccedilatildeo de ferroviaacuterios

da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UNICAMP) 2008

HALL Stuart A identidade cultural na pos-modernidade 3ed Rio de Janeiro DPampA 1999

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1998 p 281-292

KAREPOVS Dainis A Esquerda e o Parlamento no Brasil o Bloco Operaacuterio e Camponecircs (1924-1930)

Satildeo Paulo Tese (Histoacuteria-USP) 2002

KONRAD Diorge Alceno O fantasma do medo o Rio Grande do Sul a repressatildeo policial e os movimentos

soacutecio-poliacuteticos (1930-1937) Campinas tese (Histoacuteria-UNICAMP) 2004

KONRAD Glaucia Vieira Ramos Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul um retrato da

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2006

LEUCHTENBERGER Rafaela ldquoO Laacutebaro protetor da classe operaacuteriardquo As Associaccedilotildees voluntaacuterias de

socorros-muacutetuos dos trabalhadores em Florianoacutepolis ndash Santa Catarina (1886-1932) Campinas dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UNICAMP) 2009

LONER Beatriz Ana Classe operaacuteria mobilizaccedilatildeo e organizaccedilatildeo em Pelotas 1888 ndash 1937 Porto Alegre

1999 Tese (Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia) ndash IFCH UFRGS 1999

LUKAacuteCS Georg Histoacuteria e Consciecircncia de Classe sl Ed PCUS 1960 (consultado online em 10 mar

2010 e disponiacutevel em httpwwwmarxistsorgportugueslukacs1920conscienciacap01htm

MACIEL Osvaldo Batista Acioly Filhos do Trabalho Apoacutestolos do Socialismo os tipoacutegrafos e a

construccedilatildeo de uma identidade de classe em Maceioacute (18951905) Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE)

2004

MENEZES Eduardo Diatahy B de Menezes Criacutetica da noccedilatildeo de identidade cultural Paper apresentado na

XXII Reuniatildeo Brasileira de Antropologia Simpoacutesio 02 ―Subjetividade Identidade e Brasilidade Brasiacutelia

jul 2000

MONTEIRO Claudia ldquoFora dos trilhosrdquo as experiecircncias da militacircncia comunista na rede de viaccedilatildeo

Paranaacute-Santa Catarina (1934-1945) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2007

MORAIS Naacutegila Maia de ldquoTodo cais eacute uma saudade de pedrardquo repressatildeo e morte dos trabalhadores

catraieiros (1903-1904) Fortaleza dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UFCE) 2009

MOREIRA Vagner Joseacute Memoacuterias e histoacuterias de trabalhadores em luta pela terra Fernandoacutepolis-SP

1946-1964 Uberlacircndia tese (Histoacuteria ndash UFU) 2009

NOMELINI Paula Christina Bin Associaccedilotildees operaacuterias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-

1930) Dissertaccedilatildeo de mestrado (Histoacuteria-UNICAMP 2007)

NORA Helenice Aparecida Derkoski Dalla A organizaccedilatildeo sindical rural no Rio Grande do Sul e o

surgimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen Passo Fundo dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UPF) 2002

OLIVEIRA Tiago Bernardon de Mobilizaccedilatildeo operaacuteria na Repuacuteblica excludente Um estudo comparativo

da relaccedilatildeo entre Estado e movimento operaacuterio nos casos de Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio Grande do Sul

nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2003

OLIVEIRA Vitor Wagner Neto de Entre o Prata e Mato Grosso uma viagem pelo mundo do trabalho

mariacutetimo de 1910 a 1930 (Buenos Aires Montevideacuteu Assunccedilatildeo e Corumbaacute) Campinas tese (Histoacuteria ndash

UNICAMP) 2002

PEDROZA Manoela da Silva Engenhocas da moral Uma leitura sobre a dinacircmica agraacuteria tradicional

(freguesia de Campo Grande Rio de Janeiro seacuteculo XIX) Campinas tese (Ciecircncias Sociais ndash UNICAMP)

2008

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Contemporacircnea ndash Universidade Nova de Lisboa) 2008

PETERSEN S R F Comentaacuterios sobre a conferecircncia HISTOacuteRIA OPERAacuteRIA NO RIO GRANDE DO

SUL proferida pela Profa Beatriz Loner Histoacuteria Unisinos Satildeo Leopoldo RS v SN p 81-92 2001

QUEIROacuteS Ceacutesar Augusto B O Governo do Partido Republicano Rio-Grandense e a Questatildeo Social

(1895-1919) Porto Alegre dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFRGS) 2000

REZENDE Viniacutecius Donizete de Anocircnimas da Histoacuteria Relaccedilotildees de trabalho e atuaccedilatildeo poliacutetica de

sapateiras entre as deacutecadas de 1950 e 1980 (Franca ndash SP) Franca dissertaccedilatildeo (Faculdade de Histoacuteria

Direito e Serviccedilo Social - UNESP) 2006

RIBEIRO JUacuteNIOR Florisvaldo Paulo O mundo do trabalho na ordem republicana a invenccedilatildeo do

trabalhador nacional Minas Gerais 1888-1928 Brasiacutelia dissertaccedilatildeo (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Histoacuteria ndash UnB) 2008

RUDEacute George A multidatildeo na histoacuteria Rio de Janeiro Campus 1981

SANTOS Carlos Augusto Pereira dos Entre o porto e a estaccedilatildeo cotidiano e cultura dos trabalhadores

urbanos de Camocim-CE 1920-1970 Recife tese (Histoacuteria-UFPE) 2008

SENA Juacutenior Carlos Zacarias F de Os comunistas e os dilemas da Uniatildeo Nacional na revoluccedilatildeo

(im)possiacutevel 1936-1948 Recife dissertaccedilatildeo (Histoacuteria UFPE) 2007

SILVA JR Adhemar Lourenccedilo da As sociedades de socorros muacutetuos estrateacutegias privadas e puacuteblicas

(estudo centrado no Rio Grande do Sul ndash Brasil 1854-1940) Porto Alegre Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

do Rio Grande do Sul 2004 (tese de doutorado)

SILVA Jr Adhemar Lourenccedilo da Definindo e indicando Meacutetis (UCS) v 6 p 121-139 2007

SILVA Daniel Martins de Lima Ativismo de miacutedia no Brasil o anarquismo na belle eacutepoque Rio de

Janeiro dissertaccedilatildeo (Comunicaccedilatildeo-UERJ) 2009

SIQUEIRA Elcio Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus contribuiccedilatildeo para uma histoacuteria da

induacutestria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) Araraquara dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Econocircmica-UNESP)

2001

SIQUEIRA Uassyr de Clubes e Sociedades dos Trabalhadores do Bom Retiro Organizaccedilatildeo lutas e lazer

em um bairro paulistano (1915-1924) Campinas dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNICAMP) 2002

SOUZA Samuel Fernando de Na esteira do conflito Trabalhadores e trabalho na produccedilatildeo de calccedilados

em Franca (1970-1980) Franca dissertaccedilatildeo (Histoacuteria ndash UNESP) 2003

TELES Luciano Everton Costa A Vida Operaacuteria em Manaus Imprensa e Mundos do Trabalho (1920)

Manaus dissertaccedilatildeo (Histoacuteria-UFAM) 2008

THOMPSON E P The Making of the English Working Class London Penguin 1976

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAacute

VALE Eltern Campina Tecendo Fios Fazendo Histoacuteria A Atuaccedilatildeo Operaacuteria na Cidade-Faacutebrica Rio Tinto

(Paraiacuteba 1959-1964) Dissertaccedilatildeo (Histoacuteria Social ndash UFCE) 2008

VEYNE Paul Como se escreve a histoacuteria e Foucault revoluciona a histoacuteria 4 Ed Brasiacutelia UnB 2008

VIVIAN Diego Luiz Induacutestria portuaacuteria sul-rio-grandense Portos transgressotildees e a formaccedilatildeo da

categoria dos vigias de embarcaccedilotildees em Porto Alegre e Rio Grande (1956-1964) Porto Alegre dissertaccedilatildeo

(Histoacuteria-UFRGS) 2008

WEBER Regina Entre o ―primordial e o ―construiacutedo as identidades sob anaacutelise Estudos Ibero-

Americanos PUCRS v XXXII n 1 p 189-197 jun 2006

Page 22: “Histórias do Trabalho no Sul Global” “Historias del ...guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/123456789/884/3/A associacao de... · É comum na historiografia brasileira que os resumos

I Seminaacuterio Internacional de Histoacuteria do Trabalho - V Jornada Nacional de Histoacuteria do Trabalho Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 25-28 de Outubro de 2010

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PEREIRA Joana Dias Sindicalismo Revolucionaacuterio ndash a histoacuteria de uma Idea Lisboa (Histoacuteria

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