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História da Política Externa Brasileira DAESHR024-14SB/NAESHR024-14SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2018.II (Ano 3 do Golpe) Aula 14 5ª-feira, 19 de julho

História da Política Externa Brasileira · 2018. 7. 24. · A política externa do segundo governo Vargas 8 “Tratava-se, portanto, de um projeto de desenvolvimento capitalista,

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História da Política Externa Brasileira

DAESHR024-14SB/NAESHR024-14SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2018.II

(Ano 3 do Golpe)

Aula 14

5ª-feira, 19 de julho

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Aula 14 (5a-feira, 19 de julho): Vargas e o nacional desenvolvimentismo – “A Campanha do Petróleo é nosso”

Texto base

VIZENTINI, P. F. (1995) “Vargas e os limites do nacionalismo populista”, p. 53-119.

Texto complementar

GENTIL “O Petróleo é nosso’ – da Emenda Schoppel à Lei 2.004”. In: KUCINSKI, Bernardo (coord.), Petróleo: Contratos de Risco e Dependência, p. 149-171. São Paulo: Brasiliense, 1977.

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Contexto mundial

• Revolução Chinesa (1949)

• Acirramento da Guerra Fria (divisão da Alemanha,

1949)

• Bomba nuclear soviética (1949)

• Guerra da Coreia (1949)

• Guerra do Vietnã/Primeira Guerra da Indochina (1947-

1954)

• Bomba H EUA (1952); bomba H URSS (1955)

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Contexto nacional

• Vargas cria o PSD e o PTB em 1945

• Apoia Dutra nas eleições, mas rapidamente se

distancia e passa a criticá-lo

• Vargas se aproxima da burguesia nacional, dos

trabalhadores e de grupos de esquerda e nacionalistas

• Vargas vence as eleições presidenciais e assume o

governo em 1951

• Ministros das Relações Exteriores: João Neves da

Fontoura (1951-1953) e Vicente Rao (1953-1954)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “O último governo Vargas não apenas rompeu com os

parâmetros diplomáticos do Presidente Dutra, como

também iniciou um novo processo de encaminhamento

da política exterior que atingiu seu apogeu e sua

forma acabada em 1961 com a Política Externa

Independente”. (Vizentini 1995: 53)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “O projeto econômico do último governo Vargas foi o

nacional-desenvolvimentismo, calcado na

industrialização substitutiva de importações e bens

manufaturados. (...) A política exterior transforma-se

num instrumento destinado a reforçar o

desenvolvimento industrial, através de uma barganha

nacionalista com os EUA, em que o Brasil oferece

apoio estratégico em troca de apoio econômico”.

(Vizentini 1995: 116)

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“(...) Parece indiscutível que desde 1930 o governo

brasileiro começou a pôr em prática medidas que não

podem ser atribuídas ao acaso ou a meras reações aos

percalços da conjuntura. (...) Essas medidas não são

fragmentárias nem reativas; o elo que as une é apontar

para um devir que deveria ser construído: o

desenvolvimento nacional”. (Fonseca 2010: 55-56)

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“Tratava-se, portanto, de um projeto de desenvolvimento

capitalista, mas não conservador, posto que visava

fundamentalmente à transformação de marcos estruturais da

sociedade brasileira: de agrária para industrial, de rural para

urbana, de atrasada para desenvolvida, de subordinada

internacionalmente para mais autônoma, de exportadora

para voltada ao mercado interno, de altamente especializada

no mercado internacional para diversificada, e, finalmente, de

renda concentrada para mais bem distribuída”. (Fonseca 2010:

57)

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• “Durante os dois primeiros anos de seu segundo

governo, Vargas procurou estabelecer uma barganha

com os EUA, na qual oferecia apoio aos objetivos

estratégicos americanos em troca da ajuda econômica

ao desenvolvimento industrial”. (Vizentini 1995: 53)

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• “No entanto, em 1953 aprofunda-se a crise

econômica, e a oposição política, a mobilização

popular e as dificuldades do cenário internacional.

Nessa condições, Vargas vê-se obrigado a acentuar os

elementos autônomos de sua política externa para

lograr manter a estratégia da barganha e dar

continuidade ao desenvolvimento industrial”. (Vizentini

1995: 54)

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• “Boa parte dos recursos necessários ao

desenvolvimento deveriam ser obtidos no plano

internacional, via comércio, empréstimos e

transferência de tecnologia, tendo em vista os limites

do setor interno”. (Vizentini 1995: 59)

• As duas escassezes fundamentais do

subdesenvolvimento: capital e tecnologia

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• “(...) O setor externo funcionava como um importante

instrumento na fase de afirmação do projeto

varguista, o que ensejava uma maior valorização da

política exterior. As relações com os Estados Unidos

constituíam, nesse sentido, o ponto crucial da

diplomacia e, mesmo, das possibilidades do

desenvolvimento industrial”. (Vizentini 1995: 60)

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• “Além da evidente maior valorização da política

exterior, o que as palavras de Vargas denotam

[Mensagem ao Congresso Nacional, 1951], de forma

sutil e indireta, é a necessidade do Brasil evitar uma

relação unicamente bilateral com os Estados Unidos”.

(Vizentini 1995: 62)

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• “A utilização da política exterior como um importante

instrumento do desenvolvimento industrial brasileiro

implicava reativar um alinhamento negociado com a

potência hegemônica, os EUA. A política externa

tentada por Vargas consistia em barganhar o apoio a

Washington no plano estratégico, em troca de

cooperação econômica e auxílio ao desenvolvimento

brasileiro”. (Vizentini 1995: 63)

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• “Essa atitude, contudo, revelava-se bastante

problemática, na medida em que a diplomacia norte-

americana regia-se pelo internacionalismo econômico,

o qual visava impedir o ressurgimento de regimes

capitalistas de expressão nacional ou regional (como o

dos países do Eixo, nos anos 30), bem como eliminar

obstáculos à livre circulação de bens, capitais e

serviços”. (Vizentini 1995: 63-64)

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• “A América Latina, por seu turno, era considerada

como uma região bastante segura sob controle

americano, e não uma área de disputa da Guerra Fria,

o que dava ensejo a um grande descaso de

Washington para com as reivindicações dos governos

locais. O Brasil, que durante uma década apoiara os

Estados Unidos, sentia-se o principal prejudicado por

essa atitude”. (Vizentini 1995: 64)

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• “A barganha varguista não apenas encontrava

dificuldades a longo prazo, pois o quadro internacional

da Guerra Fria era substancialmente diferente do que

antecedera ao desencadeamento da Segunda Guerra

Mundial, bem como, na conjuntura específica do início

dos anos 50, o clima de tensão e o monolitismo

dentro do bloco americano eram particularmente

acentuados”. (Vizentini 1995: 66)

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• “A bipolaridade então existente não se prestava a ser

explorada em termos de uma barganha pragmática.

Bem ao contrário, tendia a limitar tal possibilidade.

Finalmente, há que considerar que a maior parte da

classe dominante brasileira ainda estava marcada

pelos parâmetros diplomáticos do governo Dutra,

pautado pelo alinhamento automático com as

posições de Washington”. (Vizentini 1995: 66)

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• “A barganha diplomática com os Estados Unidos

também exprimiu-se com força na atuação da

Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o

desenvolvimento econômico [1951]. (...) O

desenvolvimento e a industrialização foram aceitos

como os objetivos principais, bem como a priorização

dos investimentos em infraestrutura, sobretudo

transportes e energia, dois dos mais graves pontos de

estrangulamento da economia”. (Vizentini 1995: 72-73)

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• “O Acordo Militar Brasil-Estados Unidos [1952] previa

o fornecimento de armas e equipamento bélico norte-

americano ao exército brasileiro. Em contrapartida, o

Brasil comprometia-se a exportar minerais

estratégicos para os EUA, a preço de mercado. Os

termos em que esses preciosos recursos naturais eram

fornecidos, contrariavam não apenas a postura dos

militares nacionalistas (...) como a orientação defendida

pelo Conselho Nacional de Pesquisa e pelo Conselho de

Segurança Nacional”. (Vizentini 1995: 53) 20

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• “Na questão das concessões aos Estados Unidos após

os rompantes nacionalistas da passagem do ano 1951

para 1952, Vargas não apenas cedeu quanto ao

Acordo Militar, como também em relação à política

nuclear e à representação diplomática brasileira em

Washington”. (Vizentini 1995: 80)

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• “No tocante à ampliação do perfil das relações

exteriores do Brasil, o governo ensaiou uma política

de aproximação com a Europa Ocidental, Oriental e

Oriente Médio”. (Vizentini 1995: 83)

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• “A política petrolífera vinha sendo discutida já no

governo Dutra, quando o Clube Militar desencadeou a

‘Campanha do Petróleo’, através de um ciclo de debates

iniciados em 1947. A polêmica empolgou a sociedade

brasileira e logo dividiu a opinião pública e os meios de

comunicação em duas correntes ideológicas antagônicas,

os ‘nacionalistas’ e os ‘entreguistas’, conforme a posição

sobre a participação do capital estrangeiro num

programa de pesquisa, prospecção, produção,

refinamento e distribuição do petróleo”. (Vizentini 1995:

89)

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• “Durante o ano de 1953, a política externa brasileira, e

em particular as relações com os Estados Unidos,

conhecem uma progressiva deterioração. As razões

desse fenômeno foram tanto de ordem interna como

externa. (...) Dentro desse contexto difícil, a política

externa brasileira desempenhou um papel decisivo,

ousando formas novas de atuação, as quais Monica

Hirst classificou com muita propriedade como o

pragmatismo impossível”. (Vizentini 1995: 90)

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• “A eleição do General Dwight Eisenhower à presidência

dos Estados Unidos marcou fortemente as relações

internacionais a partir de 1953. (...) Eisenhower

pautou-se por um extremo conservadorismo,

anticomunismo e aversão ao nacionalismo emergente

do Terceiro Mundo, em particular da América Latina”.

(Vizentini 1995: 90-91)

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• “A evolução e o desfecho da questão petrolífera viriam

a afetar a política externa (...). O projeto elaborado pela

Assessoria Econômica da Presidência (...) conciliava-se

com os internasses internacionais, tanto por motivos

econômicos (...) como político-diplomáticos”. (Vizentini

1995: 93-94)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “O projeto, desde seu encaminhamento, provocou

tamanha repercussão e reação, que deixaram o

governo perplexo. Mobilizações de civis e militares

nacionalistas conduziam à formação de um vasto

movimento popular conhecido como Campanha do

Petróleo é Nosso. (...) As crescentes mobilizações (...)

fizeram da Campanha do Petróleo é Nosso um

elemento político de primeira ordem. Vargas obtinha

um valioso apoio para opor-se à política de

Washington”. (Vizentini 1995: 94) 27

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• “Esse espaço de barganha, no entanto, não foi

aproveitado pela diplomacia de Vargas. A razão desta

vacilação encontrava-se na radicalização do confronto

social interno. Vargas foi empurrado por este vigoroso

movimento, e em outubro de 1953 era criada a

Petrobrás, consagrando o monopólio estatal na

pesquisa, lavra e refinamento”. (Vizentini 1995: 94)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “Nesta conjuntura difícil, Vargas promove não uma

mudança ou ‘virada’ em sua política externa e interna,

mas um aprofundamento dessas, visando a fazer

frente às novas circunstâncias. Assim, esperava levar

adiante o projeto de desenvolvimento, enfrentando ou

contornando as pressões externas que visavam

obstaculizá-lo”. (Vizentini 1995: 96)

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• “Para fazer frente às novas necessidades políticas e

econômicas internas, Vargas lança três planos

nacionalistas: cria a Eletrobrás, a Petrobrás (...) e o Plano

de Valorização da Amazônia. (...) O caráter ‘nacionalista’

e mesmo ‘esquerdista’ de algumas das mudanças

políticas servia não apenas para reforçar a legitimidade

do governo, mas também constituiria um elemento mais

substancial e ousado de barganha com os EUA. Vargas

era arrastado pela lógica da escalada e pelas contradições

de seu projeto de desenvolvimento”. (Vizentini 1995: 97) 30

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• “No plano diplomático, Vargas procurou ampliar a

autonomia brasileira e a projeção externa do país,

especialmente junto ao Terceiro Mundo. Por falta de

meios, de vontade política e de condições externas

favoráveis, essa radicalização das relações exteriores

não ultrapassará o plano das intenções e do discurso,

certamente também pensando em uma estratégia de

barganha”. (Vizentini 1995: 97)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “Mais séria foi a elevação do perfil do discurso

diplomático nas questões do desenvolvimento, do

comércio exterior e da maior valorização dos espaços

multilaterais, como a ONU, a OEA e a CEPAL. Os temas

da política externa começam a ter um peso progressivo

na vida nacional, entrando para o centro do debate e

sendo diretamente influenciada por grupos não ligados

ao aparelho de Estado”. (Vizentini 1995: 97-98)

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• “Ao lado da valorização das relações multilaterais e das

organizações regionais e internacionais, a diplomacia

brasileira buscou ampliar sua dimensão mundial”.

(Vizentini 1995: 101)

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A política externa do segundo governo Vargas

• Affair Pacto ABC: “A 4 de abril de 1954 o ex-ministro

das Relações Exteriores João Neves da Fontoura (...)

acusou Getúlio Vargas e Juan Péron de articularem uma

aliança entre Argentina, Brasil e Chile. (...) A

importância dessa questão, entretanto, estava muito

mais na utilização que dela fez a oposição”. (Vizentini

1995: 105-106)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “A burguesia industrial, que Vargas representava, via

muito mais complementaridade que antagonismo

entre os ‘interesses nacionais’ e o capital estrangeiro.

Para o presidente, desde que bem administrado e

disciplinado, o capital forâneo seria um importante

apoio ao desenvolvimento nacional. Tratava-se

conscientemente de construir um capitalismo

associado, uma vez que inexistia ‘capitalismo nacional

ou capitalismo num só país’ (Fonseca)”. (Vizentini 1995:

114) 35

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A política externa do segundo governo Vargas

• “O que havia, então, de nacionalismo em sentido

estrito dentro do projeto varguista? Por que o

antagonismo dos EUA? [Devido à hegemonia dos EUA,

ao liberalismo econômico, a Eisenhower e à

desimportância da AL durante a Guerra Fria], a situação

torna-se particularmente difícil para o projeto

varguista de industrialização”. (Vizentini 1995: 114-15)

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• “É aí que sua política externa busca configurar-se como

nacionalista, barganhando o alinhamento estratégico

com Washington em troca de um tratamento

preferencial para o Brasil, com ajuda ao

desenvolvimento. O problema era que os EUA

supunham este alinhamento de forma incondicional”.

(Vizentini 1995: 115)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “Face a esta situação, a política externa brasileira vai

buscar criar brechas para estabelecer uma barganha

pragmática. Quando falava em independência, Vargas

referia-se ao aproveitamento dessas brechas”.

(Vizentini 1995: 115)

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A política externa do segundo governo Vargas

• “Apesar dessas limitações, a diplomacia e o nacionalismo

de Vargas apresentavam facetas novas e estratégicas. Ao

ensaiar a desobediência face ao alinhamento

tradicional, o Brasil buscava atrair a atenção dos EUA e

negociar seu realinhamento em novas bases que

permitissem o desenvolvimento. A política externa de

Vargas não buscava acabar com a dependência, mas

alterar seu perfil de forma mais favorável ao Brasil.

Tratava-se da estruturaração de uma autêntica política

externa para o desenvolvimento”. (Vizentini 1995: 115) 39

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A política externa do segundo governo Vargas

• “As contingências históricas e o cenário mundial da

primeira metade da década de 50 levaram ao fracasso

relativo da diplomacia de Vargas. Mas essa trazia em

si elementos novos, como a vinculação entre a política

externa e o desenvolvimento econômico, e a

necessidade de projetar a inserção internacional do

Brasil, superando a órbita puramente regional”.

(Vizentini 1995: 116)

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A política externa do segundo governo Vargas

• Esses elementos, interrompidos com o suicídio de

Vargas, vão culminar na Política Externa Independente

de Jânio e Jango (1961-1964).

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