Hist_ria Do Brasil Aulas 19 a 40

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ApresentaoE

ste o seu livro de Histria do Brasil. Nele, voc encontrar os textos que serviram de base para os programas de TV. Como aproveitar ao mximo este livro? A primeira coisa que as pessoas que gostam dos livros fazem quando compram um folhe-lo sem pressa, sem maiores compromissos. Sugerimos que voc faa isso. Passe os olhos nele despretensiosamente. Veja como as aulas esto organizadas. J nesse primeiro contato, voc perceber que as aulas seguem um determinado modelo. Todas elas so divididas em sees. H tambm algumas interrupes no texto. Vejamos o que significa cada uma das sees e o porqu dessas interrupes. Cada aula dividida em trs sees.l

Na primeira seo, Abertura est enunciado o tema da aula. Muitas Abertura, vezes, um documento de poca abre essa seo. Leia com ateno esse documento. Nele esto contidas as questes que sero desenvolvidas no decorrer da aula. Outras vezes, as aulas comeam contando um determinado caso que se relaciona, de alguma forma, com o tema da aula. Na segunda seo, Movimento o tema da aula desenvolvido. Ali Movimento, aparecem os agentes sociais em ao, em movimento. O texto, em geral, dividido em trs ou quatro itens. Em cada um deles, procura-se explorar um determinado aspecto do tema. tambm nessa seo que o texto sofre algumas interrupes que tm por objetivo levar voc a pensar sobre um interrupes, determinado assunto relacionado ao tema da aula:

l

Em cada Pausa voc encontrar um exerccio-desafio para responder. Pausa,Consulte seus colegas e companheiros. Comente e discuta suas respostas. Como diz o ditado, duas cabeas pensam melhor que uma...

Em cada Em Tempo procuramos acrescentar alguma informao que Tempo,seja importante para o entendimento do texto. Por exemplo: dados numricos, trechos de documentos histricos significativos e assim por diante.l

Com a terceira seo, ltimas Palavras finalizamos o texto e levamos Palavras, voc para o tema da prxima aula.

Voc vai reparar tambm que em todas as aulas h algum tipo de ilustrao: mapas, desenhos, fotografias. Todo esse material tambm importante para o seu estudo. s vezes, uma boa imagem vale por muitas palavras. Queremos que voc fique atento interao entre texto e ilustraes. H algumas ilustraes que so importantes documentos de uma determinada poca. preciso que voc as explore em seus mnimos detalhes. Perceba a poca em que a ilustrao foi produzida, e guarde na memria o seu autor. Essas ilustraes so patrimnios da nossa cultura. Cuidar delas e valorizar seus autores preservar nosso patrimnio. Finalizado esse contato inicial com o seu livro, esperamos que voc faa muito bom proveito dele. Aceitamos, de bom grado, crticas, elogios e sugestes. Os autores

REALIZAO

- Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC) da Fundao Getlio Vargas. - Helena Bomeny

COORDENAO GERAL DO PROJETO CONCEPO E SUPERVISO

- Aline Lopes de Lacerda, Amrico Freire, Helena Bomeny, Marly Silva da Motta, Mnica Almeida Kornis - Amrico Freire, Helena Bomeny, Marly Silva da Motta

AUTORES DO VOLUME 1 AUTORES DO VOLUME 2

- Alexandra de Mello e Silva, Alzira Alves de Abreu, Amrico Freire, Celso Castro, Dulce Pandolfi, Fernando Lattman-Weltman, Letcia Pinheiro, Marieta de Moraes Ferreira, Mrio Grynszpan, Mnica Almeida Kornis, Mnica Velloso Dora Rocha

EDIO DO TEXTO ORIGINAL:

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Coronelismo e mundo ruralprimeira Repblica foi chamada de Repblica dos Fazendeiros ou Repblica dos Coronis . Coronis como os poderosos chefes regionais das telenovelas, a exemplo de Ramiro Bastos (Gabriela), Odorico Paraguau (O Bem-Amado) ou Sinhozinho Malta (Roque Santeiro). Tais figuras disputavam permanentemente o poder, entrando em conflito com os velhos e poderosos chefes polticos da regio e a quase sempre jovem oposio. Essas personagens foram e ainda so, em certas regies (mesmo que de forma pouco expressiva), figuras presentes na vida social brasileira deste sculo e nos ajudam a entender um pouco mais as caractersticas de nossa vida poltica. Nesta aula, vamos procurar responder seguinte questo: por que era to forte o poder dos coronis ?

Nesta aula

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Da Monarquia RepblicaO poder poltico das oligarquias estaduais tornou-se uma das principais caractersticas das primeiras dcadas republicanas. Como parte integrante dessas oligarquias estavam os coronis, que se originaram na poca do Imprio. Em 1831, para enfrentar as diversas rebelies que explodiam em algumas regies do pas e manter a ordem pblica, o governo da Regncia criou a Guarda Nacional . No combate onda de revoltas, deu aos poderosos de cada localidade do pas uma patente militar e uma misso: formar um exrcito de homens para enfrentar os revoltosos. Seus oficiais eram os fazendeiros, pessoas influentes, com muitas terras e escravos. Os coronis da Guarda Nacional, extinta em 1918, continuaram com essa denominao - o coron - atribuda espontaneamente pela populao quele que parecia deter em suas mos grande parcela do poder poltico e econmico. Em outras palavras, aqueles que a polulao via como os ricos e poderosos. Se as razes do coronelismo foram sedimentadas no Imprio, com a Repblica o coronel passou a ter outro papel dentro do novo sistema poltico. No Imprio, as eleies tinham muito pouca importncia. O Imperador, ao escolher o partido poltico que comporia o gabinete, decidia tambm que grupo local venceria as eleies. Na Primeira Repblica, era o controle poltico do eleitorado rural que definia a composio e a fora das oligarquias estaduais . O voto passava a ter um novo significado.

Durante a Primeira Repblica (1889 - 1930), o poder dos coronis esteve associado fora eleitoral que eles desempenhavam. Alcanou seu auge de influncia no perodo que se estende da presidncia de Campos Sales s vsperas da Revoluo de 1930.

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O presidente Campos Sales governou com muita oposio sua poltica econmica.

Coronelismo: compromisso poltico e relaes sociaisO coronel nem sempre era um grande fazendeiro. Havia os coronis cuja base de poder estava nas atividades comerciais, industriais e at no exerccio de algumas profisses liberais.. Mas era, antes de tudo, um chefe poltico de reconhecido poder econmico e prestgio junto ao governo estadual, poder esse que se reveleva na competncia para garantir eleies favorveis aos grupos situacionistas e fornecer benefcios sua clientela. Da parte do governo estadual, cabia dar carta branca ao chefe local governista em todos os assuntos relativos ao municpio, inclusive na nomeao de funcionrios estaduais do local. Para ganhar eleies, era preciso ter votos. Surgiram assim os cabos eleitorais, homens que, na condio de intermedirios entre o coronel e a populao, eram pagos para alistar eleitores, organizar a massa, mantendo-se em forma para os pleitos. Tinham o papel de formar um grande curral eleitoral, no qual os candidatos do coronel ou por ele indicados recebiam uma enxurrada de votos. Vistos pela prpria populao como intermedirios nas suas relaes com o Estado, os coronis buscavam uma relao firme e segura como seus protetores por intermdio da obteno de empregos, contratao de advogados, providncias mdicas ou hospitalares, escolas, socorro nas situaes de calamidade (a exemplo das secas no Nordeste) e proteo contra os inimigos (como os cangaceiros). Em geral, eram convocados para resolver questes diversas referentes a limites de propriedades, heranas, pagamentos atrasados, educao de crianas. Tinham ainda considervel influncia na indicao de seus protegidos para cargos pblicos, principalmente na esfera municipal. Era nesse campo que se estabeleciam as relaes sociais que teceram o cotidiano na vida do coronel e da gente das pequenas cidades, em diversas regies rurais do Brasil.

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Clavinote: pequena carabina

O Brasil da Primeira Repblica ou Repblica Velha, como seria denominada aps 1930 no era apenas a terra dos coronis e das oligarquias estaduais. O mundo rural, era tambm um mundo dos homens e das mulheres de mos marcadas pela enxada, pelo machado, pela foice e pelo lao de couro: trabalhadores das estncias do sul, que cuidavam do rebanho, cultivavam o trigo e as vinhas; lavradores de cafezais, das plantaes de cacau e tabaco; volantes dos seringais e castanheiras do norte; boiadeiros do serto; lavradores dos canaviais nordestinos, entre outros. Muitos eram trabalhadores rurais, sem legislao previdenciria e obrigados a entregar ao proprietrio quase a totalidade do fruto do seu trabalho. Junto a eles, compunham o cenrio social pequenos proprietrios das zonas rurais e habitantes das pequenas cidades de fisionomia basicamente rural. Esse povo formava a maior parte do eleitorado. Sob o aspecto poltico, o coronelismo pode ser definido como um sistema de troca eleitoral de um lado, proteo e favores, sobretudo econmicos; de outro, o voto seguro e controlado. Era o voto de cabresto. Porm, esse carter pacfico das relaes coronelsticas no era o nico. Alm da barganha, da troca, havia a opresso e a violncia, utilizados para captar e conservar votos, to empregados e usuais quanto os favores e benefcios. Em algumas situaes, a fora das armas era acionada, empregando-se as polcias particulares formadas por jagunos. Amparados pela autoridade do coronel, encarregavam-se de convencer os eleitores contrrios ou indecisos. Eram as chamadas eleies de clavinote , nas quais os eleitores votavam sob as vistas do jaguno. Afinal, o voto no era secreto. Assim, o novo regime, instaurado em 1889 e organizado politicamente na Constituio de 1891, ao mesmo tempo que permitiu a criao de mecanismos que favoreceram uma maior descentralizao do poder, no favoreceu a criao de um sistema eleitoral sem vcios e controlado pelo poder pblico. O voto dos eleitores transformado em mercadoria de troca entre os membros da sociedade daquela poca era manipulado e controlado pelos chefes da poltica nos estados e municpios. Essa foi, sem dvida, uma das marcas da vida poltica e social na Primeira Repblica, uma repblica de coronis.

6O tempo no praOs coronis, freqentemente vistos de maneira caricatural como fazendeiros, figuras rsticas, brutais e ignorantes, foram personagens da vida poltica brasileira que no desapareceram por completo aps os anos 30. Muitos sobrevivem ainda hoje, mesmo que como figuras isoladas.

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Relendo o textoLeia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure ver o que elas significam, no dicionrio e no vocabulrio da Unidade. 1. Releia D a M o n a r q u i a R e p b l i c a e identifique a origem do termo coronel. Releia Coronelismo: compromisso poltico e relaes sociais e identifique no texto as formas que os coronis encontraram para se afirmar como protetores da populao. D um novo ttulo a esta aula.

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Fazendo a HistriaLeia este texto com muita ateno.

Eleies na Roa Mrio Palmrio - Vila dos Confins Joo Soares estava com a razo: poltica s se ganha com muito dinheiro. A comear com o alistamento, que trabalhoso e caro: tem-se que ir atrs do eleitor, convenc-los a se alistarem e ensinar tudo, at a copiar o requerimento. Cabo de enxada engrossa as mos o lao de couro cru, machado e foice tambm. Caneta e lpis so ferramentas muito delicadas. A lida outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais. marcar o bezerro, curar bicheira, rachar pau de cerca, esticar arame farpado; roar invernada, arar o cho, capinar, colher... E quem perdeu tempo com leitura, com a escrita, em menino, acaba logo esquecendo-se do pouco que aprendeu. Ler o qu? Escrever o qu? Mas agora preciso: a eleio vem a, e o ttulo de eleitor rende a estima do patro, a gente vira pessoa. Acontece, tambm, que P-de-Meia no quer saber de histrias: cabo eleitoral alistador de gente, pago por cabea e tem que mostrar trabalho. Primeiro, a conversa pacienciosa, amaciando terreno; a luta depois: Minha vista anda que uma barbaridade. E de uns tempos para c, apanhei uma tremedeira que a mo no me pra demais quieta... O novato sua, desiste: Vai no, P-de-Meia. Mas o cabo jeitoso: no fora, no insiste, espera. S o tempo de passar a gastura que a caneta sempre d no principiante. To fcil... O requerimento j est pronto, rascunhado no papel almao a lpis fininho, fcil de apagar Joo Francisco de Oliveira, abaixo-assinado, brasileiro, residente... Depois do jantar, menos cansado, Joo Francisco tenta de novo. A mulher est perto, os filhos tambm. O roceiro lavou as mos, a lamparina queima a claridade dobrada, de bom pavio novo.

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Repega o servicinho: Sai da frente da luz, menino: Me d um copo dgua, Cota. Qual... minha vista no presta mesmo mais no. Besteira teimar... Pde-Meia no deixa passar o momento: Me d licena, Seu Joo. E pega no mozo cascudo, pesado. Vai guiando a bicha para cima e para baixo, vai caminhando com ela por sobre o papel; (...) J varamos um bom eito. Vamos descansar um pouco: ainda falta o Francisco, falta o de Oliveira... O trabalho no fcil, no senhor, leva tempo. Mas aos poucos Joo Francisco aprende a relaxar a mo, descobre que no carece de fazer tanta fora, j no molha de suor o papel. (...) E, quando o caboclo ruim de ensino, P-de-Meia quem enche todo papel, borrando-o de propsito, errando de velhaco, completando um perfeito e indiscutvel requerimento de eleitor de roa. Mas quando o caboclo jeitoso como Joo Francisco, P-de-Meia prefere carregar-lhe a mo durante o servio todo (...). A pena ringe alto, mais risca bem grosso, bonito... Pelo meio do caminho, j dono de si, Joo Francisco acha at de conversar, para mostrar desembarao. Este o que o tal de g? Gostei dele: uma simpatia de letra. E P-de-Meia, solcito: Pois est ficando um servio de gente, Seu Joo. O senhor at que tem jeito um letrao! O juiz vai gostar. Joo Soares estava com a razo. Eleio custa dinheiro. Um cabo eleitoral prtico assim como o P-de-Meia garantia o servio, mas cobrava vinte mil ris por cabea. E as despesas no ficavam s nisso: precisa fazer o registro dos eleitores, buscar a certido de nascimento ou de casamento fora do municpio quando o caboclo nasceu fora, entrega dos ttulos. L se vai um dinheiro! Depois bia o pagode. E conduo para muita gente, pois roceiro, quando viaja carrega famlia toda. A fila em frente do juiz se reveza, e isso custa mais um ajutrio ao P-de-Meia, cuja presena o eleitor exige para assisti-lo na hora de passar o recibo. L est ele, botando coragem no povo. No se afobe, capriche. Voc est implicando toa com o efe a letra facinha. Se no decorou direito a voltinha, deixa: o juiz no repara no...Agora faa o que pedido abaixo. 1. 2. Sublinhe no texto as tarefas que cabiam ao cabo eleitoral P-de-Meia. Substitua a expresso em destaque nesta frase por outra que tenha o mesmo significado: a eleio vem a, e o ttulo de eleitor rende a estima do patro, a gente vira pessoa . As eleies, hoje no Brasil, so muito diferentes daquelas de Eleies na R o a ? Justifique sua resposta.

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Expanso cafeeira e modernizaourante o Segundo Reinado (1840-1889), o que sustentava o Imprio brasileiro era outro imprio: o do caf. Veio a Repblica e o rei caf permaneceu, agora como a semente do progresso. O caf trouxe mquinas modernas, indstrias, bancos, ferrovias, grandes negcios, mas sobretudo divisas, na condio de principal produto de exportao do pas. Ao terminar o sculo XIX, o Brasil controlava o mercado cafeeiro mundial. O caf era o smbolo do pas no exterior. sobre esse tema que iremos tratar nesta aula, a partir da seguinte pergunta: qual a importncia do caf para a economia brasileira na Primeira Repblica?

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Nesta aula

A expanso cafeeiraPercorrendo o trajeto do Rio de Janeiro at So Paulo, em 1822, o botnico francs Auguste de Saint-Hilaire constatou a penetrao da lavoura cafeeira no vale do rio Paraba . A nova cultura, que recobria os arredores da cidade do Rio de Janeiro desde o final do sculo XVIII, comeava a avanar pelo territrio fluminense e paulista. Entre 1830 e 1870, a regio do vale do Paraba fluminense e paulista foi a grande produtora de caf no Brasil. No Rio de Janeiro, Vassouras era uma das cidades cafeeiras mais importantes. Penetrando pelo vale do Paraba, a onda verde dos cafezais chegou ao oeste paulista e Zona da Mata de Minas Gerais. A partir de 1870, o processo de expanso da lavoura cafeeira ganhou um poderoso impulso e transformou essas reas no centro dinmico da economia brasileira. Ao mesmo tempo, ocorreu um processo inverso de decadncia na produo de caf no vale do Paraba. As razes desse declnio foram, principalmente, a escassez de terras prprias para o cultivo, o esgotamento das reservas naturais por um sistema de explorao descuidado e os mtodos de desmatamento sem limites. A cultura do caf, predatria e intinerante, foi assim avanando, com os fazendeiros prosseguindo na derrubada de imensas florestas virgens, ricas em madeiras. Inicialmente o transporte do caf, como os demais produtos agrcolas do pas, era feito em lombo de burro. As despesas com o transporte das tropas, por caminhos cada vez mais distantes, exigiu a introduo das ferrovias. Assim, a expanso cafeeira deu origem a profundas transformaes nos transportes, com a implantao das primeiras estradas de ferro.

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Durante muito tempo, o caf como produto de exportao serviu de apoio economia brasileira.

Em So Paulo e Minas Gerais, as ferrovias anunciavam a fronteira verde. Junto delas surgiam cidades. A expanso cafeeira resultou, portanto, na ampliao das plantaes e na multiplicao dos municpios. No estado de So Paulo, apenas na ltima dcada do sculo XIX, foram criados 41 municpios, em regies de povoamento recente. Para garantir trabalhadores para essa expanso acelerada, a soluo encontrada pelos cafeicultores paulistas foi contar com o governo para incentivar a vinda de imigrantes para o trabalho nos cafezais da regio. O estado de So Paulo, e depois o prprio governo da Unio, tendo em vista a supremacia dos interesses da cafeicultura paulista, financiavam a passagem de famlias de imigrantes (especialmente italianos) para o Brasil, sua hospedagem e a viagem que precisavam fazer em territrio brasileiro. J no incio do sculo XX, tambm famlias japonesas viriam em grande nmero para a lavoura cafeeira da regio. Em So Paulo, o sistema de trabalho adotado nos cafezais foi o colonato . Compreendia uma remunerao fixa para a famlia de colonos pelo trato de um determinado nmero de cafezais. E essa remunerao variava de acordo com o nmero de ps de caf colhidos e o direito ao plantio de uma roa e criao de pequenos animais dentro da propriedade cafeeira. J a expanso cafeeira em Minas Gerais e nas reas mais novas do estado do Rio de Janeiro beneficiou-se do esvaziamento das antigas reas cafeeiras do vale do Paraba e contou quase sempre com famlias de trabalhadores brasileiros. O sistema de trabalho adotado nesses estados foi a parceria (diviso dos resultados da colheita da famlia do colono com o dono da terra, em geral deduzindo as despesas feitas pelo proprietrio). A parceria tambm previa o direito da famlia de trabalhadores ao plantio de uma roa e criao de pequenos animais dentro da propriedade cafeeira.

Crescimento industrial e urbanizaoNa fase republicana, o caf foi tambm o principal responsvel pelas rendas do governo federal, quase todas advindas do imposto de exportao. A supremacia das oligarquias de So Paulo e de Minas Gerais na poltica dos governadores fazia com que, de fato, se confundissem os interesses dos cafeicultores e os interesses do pas. A condio de quase monoplio mundial, que o Brasil detinha, permitia que o Estado comprasse os excedentes da produo cafeeira em caso de superproduo, evitando a baixa dos preos internacionais. Esse expediente, adotado pela primeira vez em 1906, seria repetido com freqncia durante toda a Velha Repblica. Isso fazia da cafeicultura verdadeiramente um negcio da China. Essa prosperidade da economia cafeeira teve efeitos multiplicadores. Direta ou indiretamente, o crescimento urbano e industrial do pas, concentrado nas reas cafeeiras desde meados do sculo XIX, tem a ver com a onda verde dos cafezais e, em especial, com as atividades de comercializao do caf. Em 1907, as cidades do Rio de Janeiro e de So Paulo j reuniam 49% dos estabelecimentos industriais do pas (33% no Rio de Janeiro e 16% em So Paulo).

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O porto de Santos foi sendo modernizado e aparelhado para atender exportao de bens produzidos na regio Sudeste, e acabou crescendo mais que o porto do Rio de Janeiro.

O comrcio em expanso fez crescer as cidades e, junto, vieram os bancos. O aumento populacional e a infra-estrutura urbana que se formava permitiram o surgimento de mercados locais que, desde o final do sculo XIX, fizeram surgir inmeras pequenas manufaturas. Muitas empregavam mquinas e em algumas trabalhavam dezenas de trabalhadores. As origens da indstria no Brasil nos levam a uma poca anterior a 1888/89 e, portanto, sociedade escravista do sculo XIX. Nas primeiras fbricas brasileiras, trabalhava um nmero considervel de escravos, muitas vezes ao lado dos operrios livres. No ltimo ano da Monarquia, em 1889, havia cerca de 600 estabelecimentos industriais, entre os quais figuravam indstrias de tecidos, de alimentos, de produtos qumicos, de vesturio, de madeira e de metalurgia.

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Na dcada seguinte, 1890-1899, ocorreu a primeira expanso industrial significativa. Passamos a importar menos produtos de consumo leve, como vesturio, alimentos, tecidos etc., e mais mquinas e equipamentos industriais. O setor txtil era a base da indstria nesse perodo. As grandes indstrias da Primeira Repblica seriam, principalmente, do ramo de tecidos. Ao mesmo tempo em que proliferavam as manufaturas, formavam-se imprios industriais. Grandes fazendeiros de caf entraram para a atividade fabril, aplicando nesse setor o capital excedente (que sobrava) dos lucros da comercializao do produto. Cafeicultores de So Paulo, como os Prado e os Oliveira Penteado, chegaram ao sculo XX, dedicando-se a bancos, fbricas de vidro, vesturio e tecelagens. Prsperos comerciantes tambm comearam a participar das atividades industriais, como o carioca Eugnio Mariz de Oliveira, que dirigiu a Tecelagem Votorantim em So Paulo. Outros grandes capites de indstria eram imigrantes que nunca precisaram passar pela enxada ou pela fbrica. Deviam sua fortuna inicial ao comrcio, sobretudo de importao. A ao urbanizadora do caf permitiu tambm a modernizao das grandes cidades. Nelas surgiram bancos e ampliaram-se os portos e os servios urbanos. O aparecimento das grandes cidades, medida que avanava o processo de urbanizao, exigia a realizao de uma srie de obras transportes, luz eltrica, gua e esgoto etc. para cuja execuo tornavam-se necessrias grandes somas de dinheiro, conseguidas basicamente por meio de emprstimos externos (obtidos fora do pas). Muitos dos servios de grande vulto, ligados infraestrutura urbana que ia se desenvolvendo, pertenciam a empresas estrangeiras. Uma delas era a canadense Light e Power Co ., proprietria de companhias de gs, gua, esgotos, luz e energia eltrica, transportes urbanos e telefones, no Rio de Janeiro e em So Paulo. A luz eltrica substitua o lampio a gs, enquanto o bonde aposentava a tropa de burros na cidade. Um slogan da poca do Imprio dizia: o caf dar para tudo. O Brasil tornou-se uma Repblica e o caf afirmou-se como principal produto econmico do pas. Expandindo-se em ondas verdes, os cafezais ocuparam enormes territrios no Rio de Janeiro e em So Paulo, Minas Gerais e outros estados. Da surgiu uma nova classe dirigente, mais poderosa que os antigos bares do acar. Na sua marcha, o caf foi criando cidades e fazendo fortunas. Em grande parte, o processo de crescimento urbano e industrial brasileiro esteve, sem dvida, associado aos caminhos que o caf foi percorrendo na regio Centro-Sul do pas.

6O tempo no praNa Primeira Repblica, o crescimento das atividades industriais ocorreu dentro de um pas agrrio: uma repblica de plantadores. Sem perder suas caractersticas agrrias e somente a partir dos anos 30, o pas viveria um processo de industrializao efetivo, promovido em boa parte pelo prprio Estado.

Relendo o textoLeia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure ver o que elas significam, no vocabulrio da Unidade e no dicionrio. 1. Releia A expanso cafeeira e: a) identifique as razes do declnio da lavoura cafeeira no vale do Paraba; b) retire do texto o trecho que trata da importncia das ferrovias para a expanso da lavoura cafeeira; c) identifique as duas formas de trabalho adotados na lavoura cafeeira. Releia Crescimento industrial e urbanizao e: a) retire do texto o trecho que trata dos investimentos cafeeiros na indstria; urbanizao. b) retire do texto um trecho que relacione expanso cafeeira e urbanizao 3. D um novo ttulo a esta aula.

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Fazendo a HistriaLeia com ateno o texto abaixo e faa os exerccios: (...) o Brasil o pas que atualmente produz 3/5 partes do total desse artigo [o caf], e por isso assumiu uma espcie de monoplio; e a produo de qualquer mercadoria em tais condies faz pesar a imposio sobre o consumidor, que tem de sujeitar-se aos preos dos mercados produtores. A posio de preo de caf nos dois ltimos anos tem sido lisonjeira. O aumento progressivo do consumo, a produo diminuta de quase todos os centros produtores, fizeram subir os preos a quase 80%. A riqueza incontestavelmente maior em todas as classes ou a abundncia do dinheiro fizeram, apesar dos preos sempre crescentes, entrar o caf no uso domstico da classe menos abastada e at da proletria; e hoje pode-se considerar esse gnero como artigo de alimentao necessrio para os habitantes de ambos os hemisfrios. Fonte: jornal A Provncia de So Paulo .

1.

Extraia do documento o trecho que descreve os fatores que permitiram o aumento do preo do caf. Segundo o documento, quem eram os consumidores do caf brasileiro?

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Panorama da Repblica Velha - Parte 1esta aula e na seguinte vamos fazer um panorama da Primeira Repblica, conhecer seus presidentes e os principais acontecimentos polticos, culturais e sociais. Tambm vamos conhecer alguns dos principais intelectuais do perodo, as idias e a viso que tinham do Brasil e sua gente. A Primeira Repblica estende-se de 1889 a 1930. Teve, ao todo, treze presidentes. possvel dividi-la em duas fases: a militar e a oligrquica.

Nesta aula

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A Repblica da EspadaA fase militar tambm chamada de Repblica da Espada por ser comandada por militares, e vai de 1889 a 1894. O marechal Deodoro da Fonseca (18891891) esteve frente do governo provisrio que se inicia com a proclamao e, depois, foi eleito pelo Congresso Constituinte. Por causa de seu autoritarismo, fechou o congresso. Mas foi deposto, tendo assumido em seu lugar o vicepresidente, o marechal Floriano Peixoto (1891-1894). Esses dois primeiros presidentes do Brasil tinham em comum, alm de serem militares, o fato de terem nascido em Alagoas e uma mentalidade positivista. Isso quer dizer que eram influenciados pelas idias do filsofo francs Augusto Comte, chamadas de positivismo. Tais idias tinham contribudo muito para a derrubada da Monarquia e estavam bastante difundidas entre os jovens oficiais do Exrcito Nacional. Em poucas palavras podemos dizer que os positivistas preocupavam-se em estabelecer os direitos civis e sociais, como educao e sade, mas no achavam importante defender os direitos polticos, como o voto e a organizao partidria. Para eles, o Governo representava a Ptria e sozinho devia proteger as famlias, como se fosse o pai de todos. O lema positivista Ordem e Progresso , inscrito na bandeira republicana, parecia querer impedir as muitas opinies sobre a nova ordem estabelecida e contestaes contra ela. Mas nem todos queriam uma Repblica positivista. Havia tambm os republicanos conservadores-liberais, que representavam os fazendeiros de caf. Eles formavam a maioria no Congresso Constituinte e influiram na Constituio republicana defendendo os interesses e privilgios dos donos de terras e dos negociantes e banqueiros. Foram responsveis tambm, pelo nome oficial: Repblica dos Estados Unidos do Brasil .

Outro grupo, o dos republicanos radicais, liderados por Silva Jardim e Lopes Trovo, lutava para assegurar tanto os direitos civis quanto os direitos polticos do povo. Os radicais eram considerados pelos conservadores como exaltados, idealistas e at inimigos da ordem, pois queriam, alm de sade e educao fornecidas pelo Estado, o direito a terras para todos.

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A Revoluo FederalistaComo as provncias, agora chamadas de estados, eram unidades autnomas e podiam organizar suas prprias Constituies, esses debates ganharam cores regionais, produzindo, a partir do Rio Grande do Sul, a chamada Revoluo Federalista. O conflito foi ocasionado pela oposio entre os republicanos histricos, adeptos do positivismo e organizados no Partido Republicano Riograndense PRR, e os liberais, do Partido Federalista, que defendiam a revogao da constituio estadual e a instaurao de um governo parlamentar. Foi uma guerra sangrenta cujo ponto alto ocorreu em 1893, quando colunas federalistas avanaram sobre Santa Catarina, juntando-se ali aos integrantes da Revolta da Armada , que haviam ocupado a capital. A Revolta da Armada resultou da rivalidade entre a Marinha e o Exrcito. O almirante Custdio de Melo supunha que iria suceder a Floriano peixoto na Presidncia da Repblica. Contra essas rebelies, o governo de Floriano agiu energicamente, graas ao apoio do Exrcito e do Partido Republicano Paulista. Floriano, chamado de Marechal de Ferro, consolidou o novo regime e garantiu a sucesso presidencial que levou ao poder a oligarquia cafeeira. Os lderes da cafeicultua o haviam sustentado nos momentos decisivos. Em sua homenagem, a capital de Santa Catarina, Desterro, teve seu nome mudado para Florianpolis.

Prudente de Morais foi o primeiro presidente civil da Repblica.

A repblica oligrquicaA eleio de Prudente de Morais, em 1894, para suceder ao marechal Floriano Peixoto, marcou o fim dos militares na presidncia durante a Primeira Repblica. Exceo a isso foi o marechal Hermes da Fonseca, eleito para o perodo de 1910-1914.

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21Oligarquia: palavra grega que significa governo de poucas pessoas, pertencentes a uma classe ou uma famlia.

Natural de Itu (So Paulo) e representante da oligarquia cafeeira, Prudente de Morais ficou conhecido como pacificador por anistiar os rebeldes da Revoluo Federalista e da Revolta da Armada. Prudente, porm, enfrentou a forte oposio dos republicanos exaltados, conhecidos como jacobinos, no Rio de Janeiro. Os jacobinos derivaram seu nome de uma das correntes mais radicais da Revoluo Francesa. Outro conflito que tambm abalou seu governo foi a Revolta de Canudos , ao norte do serto da Bahia. Em 1893, ali se formou um povoado com 20 a 30 mil habitantes liderados por Antnio Conselheiro , que exaltava a religiosidade do povo e preparava a volta Monarquia. O governo republicano enviou uma expedio de mais de oito mil homens que arrasou o arraial em 1897. A poltica dos governadores A Repblica herdou do Imprio uma grande dvida externa. Os gastos das campanhas militares haviam esgotado o Tesouro. A dvida cresceu cerca de 30% entre 1890 e 1897. Campos Sales (1898-1901) assumiu a presidncia de um pas em crise. Antes mesmo de tomar posse, foi a Londres negociar com a Casa Rothschild um emprstimo de consolidao da dvida externa brasileira. Republicano histrico, Campos Sales implementou uma das polticas financeira mais rigorosas da Histria da Repblica brasileira. Por isso, deixou o Palcio do Catete debaixo de manifestaes pblicas. Na presidncia, implementou a chamada poltica dos governadores, um federalismo peculiar, baseado em alianas e trocas de favores polticos. Essa poltica favorecia a consolidao das oligarquias regionais. O povo, principalmente do interior, estava submetido ao coronelismo e ao banditismo. A impunidade e a fraude poltica marcaram esse perodo. Alm dos coronis, havia tambm a Comisso de Verificao, para garantir o resultado favorvel das eleies. O voto no era secreto e a maioria dos eleitores estava sujeita presso dos chefes polticos. A Repblica brasileira era dominada por diversas oligarquias estaduais, principalmente de So Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Em 1898, enquanto Santos Dumont encantava a cidade de Paris com seus bales tripulados, chegava ao Brasil uma nova maravilha: o cinema. Em 1900 inaugurada a primeira linha de bonde eltrico. Rodrigues Alves (1902-1906) As sucesses presidenciais da jovem repblica transcorreram em clima ameno. As famlias de Campos Sales e Rodrigues Alves eram amigas. Uma grande cordialidade as unia. Tambm paulista, nascido em Guaratinguet, Rodrigues Alves assumiu a presidncia da Repblica com um propsito: fazer do Rio de Janeiro o carto de visitas do Brasil para atrair o capital estrangeiro. Para isso, escolheu para prefeito da Capital o engenheiro Francisco Pereira Passos. A idia era dar cidade a aparncia de uma metrpole nos moldes de capital francesa. O centro da cidade sofreu uma remodelao arquitetnica e urbana inspirada em Paris.

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Na modernizao do Rio de Janeiro, foi criada a Avenida Central, no corao da cidade.

Para isso, boa parte da velha cidade colonial foi destruda. As estreitas vielas sucumbiram para dar lugar s largas avenidas, s modernas lojas, aos cafs elegantes. Os tradicionais quiosques e os cortios freqentados pelo povo tambm foram destrudos. Lado a lado com a remodelao da cidade estava a ao do sanitarista Oswaldo Cruz que tentava combater as doenas contagiosas que assolavam a capital na poca de vero. Oswaldo Cruz revolucionou a Sade Pblica combatendo a febre amarela e a varola. A campanha da vacina obrigatria foi fortemente rejeitada por parte da populao, que se amotinou na chamada Revolta da Vacina (1904). Mas o papai grande, como era chamado, deixou o governo aclamado pelo povo. A inaugurao da Avenida Central (atual Rio Branco) em 15 de novembro de 1905 foi um evento memorvel. Lima Barreto e a Repblica do Avesso Conhecido como escritor maldito pela intensa crtica que fazia aos dirigentes do pas, Lima Barreto protestou contra o projeto de modernizao da cidade do Rio de Janeiro, denunciando que a cidade moderna, que ento se construa, estava sendo erguida s custas da destruio do que j existia e da expulso da populao pobre, que j no mais podia circular livremente pelo centro da cidade. Apenas para construir a Avenida Central foram demolidas 1.681 habitaes e quase 20 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar para os subrbios ou para os morros mais prximos. Um dos morros mais habitados era o morro da Favela, que acabou dando o nome a todos os demais morros habitados pelos pobres da cidade. Para o autor, o governo republicano estimulava a separao de dois mundos que no podiam viver separados, pois um dependia do outro: o mundo dos privilegiados e o mundo dos deserdados, ou, nas palavras do prprio autor, a cidade europia e a cidade indgena . Sobre o ritmo acelerado da reforma urbana, Lima Barreto escreveu:

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Como isso mudou. Ento, de uns tempos para c, parece que essa gente est doida; botam abaixo, derrubam casas, levantam outras, tapam as ruas, abrem outras... esto doidos. Do livro: Recordaes do Escrivo Isaas Caminha .

Lima Barreto valorizava o passado e o presente da Histria brasileira, procurando integrar todos os seus elementos, sem distino racial ou social. Com seu trabalho de escritor, Lima Barreto conseguia mostrar aos leitores de sua poca, e tambm aos de hoje, a fragilidade do padro de civilizao imposto pela Repblica que se iniciava. Segundo o autor, essa era uma Repblica que se colocava acima de seu povo.

6O tempo no praA busca de uma nao brasileira continuaria. De um lado estava o desafio de encontrar solues para os problemas nacionais e a inteno de modernizar a cidade; de outro lado, a preocupao de integrar o homem do campo, com suas diversas etnias e culturas, na formao do povo brasileiro.

Exerccios

Relendo o textoLeia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure ver o que elas significam, no dicionrio e no vocabulrio da Unidade. 1. Releia A Repblica da Espada e responda: a) por que o perodo que vai de 1889 a 1894 chamado de Repblica da Espada? b) no incio da Repblica trs grupos influenciaram a nova constituio: os positivistas, os conservadores-liberais e os republicanos radicais. Quais as diferenas entre eles? Releia A Revoluo Federalista e responda: em que consistia a poltica dos governadores? Releia A repblica oligrquica e faa uma crtica ao papel do governo quando tentou civilizar a cidade do Rio de Janeiro, e diga: a) o que o governo fez; b) como o governo agiu; c) o que o governo deveria ter feito. 4. Releia Lima Barreto e a Repblica do Avesso e explique a opinio de Lima Barreto sobre a Repblica do seu tempo: uma Repblica que se colocava acima de seu povo. D um novo ttulo a esta aula.

2.

3.

5.

Fazendo a HistriaDocumento 1 Se houvesse liberdade de expresso e respeito aos interesses da maioria da populao, a poltica de Campos Sales, geradora do desemprego e da carestia, jamais teria sido posta em prtica. Se houvesse democracia poltica, a modernizao do Rio de Janeiro seria planejada de forma a no lanar milhares de homens, mulheres e crianas ao desabrigo. Se houvesse democracia, a polcia no expulsaria a cacetadas um sujeito da casa em que morava com a famlia, enquanto uma turma de demolio botava as paredes abaixo! E quando ele e outros iguais a ele perdem a pacincia e comeam a espancar policiais, so chamados de violentos e perigosos! Se o sistema fosse democrtico, o governo que seria vigiado, e no a multido...Jos Carlos Pires de Moura. Histria do Brasil II . So Paulo, 1982, Marco Editorial, pg. 31.

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1.

O texto acima fala de dois acontecimentos da Repblica oligrquica. Quais foram eles? Explique-os.

Documento 2 O texto abaixo foi escrito por um cronista da revista Fon-Fon , muito lida no incio do sculo. A populao do Rio, que, na sua quase unanimidade, felizmente ama o asseio e a compostura, espera ansiosa pela terminao desse hbito selvagem e abjeto, que nos impunham as sovaqueiras soadas, e apenas defendidas por uma simples camisa de meia rota, e enojantemente suja, pelo nariz do prximo, e do vexame de uma scia de cafajestes, em ps no cho (sob o pretexto hipcrita de pobreza, quando o calado est hoje a 5$ o par, e h de todos os preos) pelas ruas mais centrais e limpas de uma grande cidade... Na Europa, ningum, absolutamente ningum, tem a insolncia e o despudor de vir para as ruas de Paris, Berlim, Roma, Lisboa etc., em ps no cho, e desavergonhadamente, em mangas de camisa. 1. 2. Voc concorda com o autor do texto? Qual a sua opinio sobre os hbitos da populao de sua cidade?

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Panorama da Repblica Velha - Parte 2amos concluir o panorama geral da Repblica Velha iniciado na aula anterior. Comeamos pela viso que a elite tinha da populao brasileira. Viso essa nada original, pois vinha enlatada da Europa, junto com as mercadorias importadas. Conheceremos mais dois intelectuais brasileiros que escreveram em defesa da nossa nacionalidade e, no final, veremos os acontecimentos puseram fim nessa velha, muito velha Repblica.

Nesta aula

V

Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos...Como vimos na aula passada, no entender da elite e dos intelectuais a ela ligados, o Brasil deveria ser civilizado segundo os padres europeus. Esses intelectuais, influenciados pelas teorias cientficas da poca, adaptavam as teorias racistas em moda na Europa sua compreenso do Brasil. Uma das teorias aceitas era o chamado darwinismo social, baseado na crena da inferioridade dos no brancos. Essa teoria, que tentava reforar cientificamente o preconceito racial, servia aos interesses de dominao dos pases industrializados da Europa, que nessa poca haviam recolonizado extensas reas de populaes no brancas, em todo o planeta. Os intelectuais que se deixavam levar por essas idias achavam difcil conciliar a mestiagem, da qual ns brasileiros somos fruto, com a necessidade de ter idias positivas sobre a nacionalidade brasileira. Em outras palavras, se a maioria da populao que no era branca, no era considerada, nesse caso quem era o povo brasileiro ou como form-lo? E, por fim, como construir a nao moderna? Mas nem todos pensavam assim. Entre os mais importantes crticos do racismo destacou-se o poltico e jurista fluminense Alberto Torres. Para ele, as diversas variedades humanas, habitantes do nosso solo, so capazes de atingir o mais alto grau de aperfeioamento moral, e intelectual, atingido por qualquer outra raa (...) Podemos afirmar, que o negro puro, e o ndio puro, so suceptveis de se elevar mais alta cultura . (de O problema Nacional Brasileiro .) Alberto Torres defendia, ainda, as riquezas nacionais contra o domnio externo e afirmava que o brasileiro, salvo restrita faixa de privilegiados, seja ele branco negro o ndio, o estrangeiro desta terra. (Jornal A poca , 4/12/1915.)

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22Monteiro Lobato criou uma infinidade de personagens em seus livros. Mas Jeca Tatu destacou-se por ser o retrato do homem do campo no Brasil.

Monteiro Lobato foi outro importante intelectual brasileiro a defender sua gente. Imortalizado na literatura infantil pelos personagens do Stio do Picapau Amarelo , em suas primeiras obras descrevia os hbitos da populao rural, por meio de um personagem que se tornou famoso: o caipira Jeca Tatu. Entre 1910 e 1915, Monteiro Lobato explicava a situao miservel do caipira, por sua ignorncia e preguia, pois o Jeca Tatu s obedecia a uma lei, a lei do menor esforo. No entanto, a partir de 1918, com a publicao de um novo livro, Urups, Lobato procurou reconciliar-se com o caipira, afirmando que o Jeca no assim, est assim. Nesse livro, o autor valoriza o caipira, declarando o seguinte: Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenas tremendas. Est provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoolgico da pior espcie. essa bicharada cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que no... s tudo isso sem tirar uma vrgula, mas ainda s a melhor coisa desta terra. Monteiro Lobato passou a entender os problemas do homem do campo como um problema social, e no como um problema racial. A partir de ento, ele se tornou um dos maiores defensores de uma poltica de sade para as reas rurais. E, junto com ele, outros intelectuais, especialmente os mdicos, abraaram a causa do saneamento como bandeira de salvao nacional.

A poltica do caf-com-leiteO governo do presidente Afondo Pena (1906-1909), mineiro de Santa Brbara, sacramenta o acordo das oligarquias de Minas Gerais e de So Paulo. Com a chamada poltica do caf-com-leite , os dois estados apoiavam um nico candidato Presidncia. Antes de ser presidente da Repblica, Afondo Pena governou o estado de Minas Gerais e deu incio construo de Belo Horizonte. Na Presidncia, a fim de incentivar os negcios e a indstria nacional, elevou as taxas de importao, dificultando a entrada de produtos estrangeiros. Mas os imigrantes continuaram a ser bem recebidos: no seu governo entraram os primeiros japoneses e milhares de srio-libaneses.

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O grande acontecimento de governo foi a Exposio Nacional de 1908, na Praia Vermelha (Rio de Janeiro), com o objetivo de atrair turistas e capitais estrangeiros para o pas. No plano internacional, dois brasileiros colocaram o Brasil em evidncia: Santos Dumont e Rui Barbosa. Em 1906 , Alberto Santos Dumont causou espanto e admirao ao voar em torno da Torre Eiffel (Paris, Frana) com um aparelho mais pesado que o ar. Era o 14-Bis, o primeiro avio inventado.

Santos Dumont fez voar o seu 14-Bis, em 1906.

Rui Barbosa Em 1907, na Conferncia da Paz, em Haia (Holanda), o delegado brasileiro Rui Barbosa destaca-se como um dos sete sbios, defendendo a adoo do arbitramento nos conflitos internacionais e a igualdade das naes na Corte de Arbitramento. O princpio do arbitramento, j utilizado pelo Brasil em diversas ocasies, evita a guerra quando dois pases disputam alguma coisa, pois esses pases submetem-se deciso dos rbitros escolhidos por eles mesmos. O Convnio de Taubat (1906) A produo de caf havia aumentado muito e, por causa dessa superproduo, o preo estava baixo demais. Para solucionar o problema, os governadores de So Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, com aprovao do Congresso Nacional, tomaram emprstimos no exterior para comprar e estocar caf. Com essas medidas, tomadas no que ficou conhecido como Convnio de Taubat , mantinha-se o preo e garantia-se os lucros da oligarquia cafeeira que, afinal, controlava os destinos do pas. Uma crise poltica, iniciada com a rejeio ao nome que ele indicou para ser seu sucessor, desgastou o presidente Afonso Pena e contribuiu para a sua morte, em 1909. O vice-presidente assumiu a Presidncia por dezessete meses, para completar o mandato. Nilo Peanha (1909-1910), natural de Campos (Rio de Janeiro), tentou fazer um governo equilibrado, sob o lema paz e amor. No entanto, foi atacado pelos partidrios dos dois candidatos presidncia da Repblica: o marechal Hermes da Fonseca e Rui Barbosa. A principal iniciativa do seu governo foi a criao do Servio Nacional de Proteo ao ndio sob a direo de Cndido Rondon. Pela primeira vez, o Brasil viveu o clima de uma campanha eleitoral. Um grande duelo poltico se travou entre os civilistas, que apoiavam Rui Barbosa, e os hermistas, que apoiavam o Hermes da Fonseca. As eleies foram fraudadas, como todas as outras, mas houve intensa participao popular.

O marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), nascido em So Gabriel (Rio Grande do Sul), teve uma imponente recepo ao chegar Capital para assumir a Presidncia, a 15 de Novembro de 1910. Contudo, passada uma semana, a baa de Guanabara j se agitava, com a Revolta da Chibata e o levante do Batalho Naval. As foras legais bombardearam o Batalho, deixando um saldo de mais de 500 mortos. Os marinheiros revoltados contra os castigos corporais, ainda vigentes na Armada, foram atendidos e anistiados, inicialmente, para depois serem fuzilados e deportados. Assim, foram prontamente sufocadas essas rebelies. Na poltica interna, teve grande destaque o senador Pinheiro Machado, amigo do presidente. A inabilidade poltica de ambos, na tentativa de derrubar oligarquias regionais que no apoiavam o poder central, ocasionou muita violncia e derramamento de sangue, principalmente em Recife e Salvador. E foi um completo fracasso a chamada poltica das salvaes , com a qual o presidente Hermes da Fonseca pretendia moralizar o pas. Tambm nesse governo eclodiram a Revolta do Contestado , numa regio disputada pelos estados de Santa Catarina e Paran, e a Revolta dos Sertanejos de Juazeiro (Cear), regio influenciada pelo Padre Ccero. Em ambos os casos, os camponeses foram duramente reprimidos pelas foras federais.

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J no incio do sculo, Rondon penetrava o interior do pas, fazendo contato com indgenas, o que resultou na fundao do Servio Nacional de Proteo ao ndio.

O marechal Hermes da Fonseca foi criticado e achincalhado pela imprensa e pela opinio pblica. Tendo falecido sua esposa, Dona Orsina da Fonseca, casou-se, aos 58 anos, com Nair de Teff, de 28, que ficara clebre por ser a primeira mulher caricaturista da imprensa brasileira. Ela foi responsvel por um toque de descontrao e modernidade na vida palaciana. O marechal, que gostava das coisas brasileiras, recebeu um rancho carnavalesco no palcio do Catete, e deu um sarau no qual a cantora Chiquinha Gonzaga apresentou uma dana chamada corta-jaca, considerada muito indecente. Isso foi motivo de escndalo para a sociedade da poca. Graas ao marechal, em 1912 o povo brincou dois carnavais. Como o Visconde do Rio Branco morreu em fevereiro, s vsperas do carnaval, o governo homenageou o grande ministro, determinando a transferncia do carnaval para abril. No deu outra! O povo aproveitou no s o carnaval tradicional de fevereiro como o oficial, em abril.

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Venceslau Brs (1914-1918) O governo desse mineiro, natural de Brazpolis, foi marcado pela guerra e pela peste. A guerra interna contra os camponeses do Contestado s terminou em 1916, deixando um saldo de mais de vinte mil mortos. A Primeira Guerra Mundial, que durou o exato perodo de seu mandato, logo trouxe graves dificuldades econmicas para o pas. Contudo, possibilitou certo desenvolvimento da atividade industrial, na tentativa de substituir por produtos nacionais, aquilo que era comprado no exterior. Aumentaram, tambm, as exportaes de alimentos para os pases aliados que estavam em guerra: Inglaterra, Frana e Estados Unidos. S que isso acabou nos custando caro, pois, em outubro de 1917, quatro navios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemes, levando o presidente Venceslau Brs, a declarar guerra ao Imprio Alemo. Porm, a participao brasileira na guerra foi muito modesta. Alm de continuar dando apoio, com alimentos e matrias-primas, seguiram para o conflito um grupo de aviadores e alguns navios de guerra que fizeram patrulhamento na costa africana , em 1918. A peste que assolou o mundo, no final da Segunda Guerra, foi a gripe espanhola. S na cidade do Rio de Janeiro morreram cerca de seis mil pessoas. Durante o governo Venceslau Brs ocorreram tambm muitas manifestaes populares contra a carestia e os salrios baixos. Alm de greves em vrios estados, destaca-se a primeira greve geral do pas, em So Paulo.

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Os trabalhadores organizavam-se e faziam seus congressos.

Delfim Moreira (1918-1919) Para suceder o presidente Venceslau Brs, foi eleito Rodrigues Alves, que j ocupara o cargo de 1902 a 1906. O ex-presidente, j com 70 anos, combalido pela gripe espanhola, faleceu antes de tomar posse. Drama que se repetiu com Tancredo Neves, em 1985. O vice-presidente eleito, assumiu por um perodo,de menos de oito meses, at que se realizou nova eleio.

O curto governo do vice-presidente Delfim Moreira, nascido em Cristina (Minas Gerais), ficou conhecido como regncia republicana. A oligarquia cafeeira divergiu a propsito da sucesso, de modo que resolveu apoiar um candidato que no fosse paulista nem mineiro. Mas ficou acertado que os prximos presidentes seriam um mineiro e, em seguida, um paulista, como de fato ocorreu, dando origem ao termo poltica do caf-com-leite . Nessa eleio, Rui Barbosa foi mais uma vez candidato. Apesar de vencer nas capitais, onde as pessoas tinham mais liberdade para votar, a vitria coube a Epitcio Pessoa, que era apoiado pelos coronis. Nessa poca a populao rural era muito maior que a urbana.

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A crise da dominao oligrquicaEpitcio Pessoa (1919-1922) Durante o governo Epitcio Pessoa, que era natural de Umbuzeiro (Paraba), foi criada a primeira universidade brasileira, no Rio de Janeiro. Em So Paulo, realizou-se a Semana de Arte Moderna. Surgiam as primeiras manifestaes feministas que reivindicavam o direito ao voto. Foi criado o Partido Comunista Brasileiro. Realizou-se uma grande exposio internacional por ocasio do centenrio da Independncia. O movimento tenentista A grande inovao do governo Epitcio Pessoa foi a nomeao de ministros civis para os ministrios militares. Essa medida desagradou a oficialidade, que passou a fazer oposio ao governo. Criou-se, ento, no Exrcito, uma corrente anti-oligrquica que deu incio a uma srie de rebelies militares, que marcaram os anos 20. Houve uma conspirao militar, logo sufocada, durante a qual foi preso o expresidente marechal Hermes da Fonseca. Essa atitude desencadeou o levante de tenentes em vrios quartis. Alguns oficiais do Forte de Copacabana saram s ruas para enfrentar as tropas governistas. Dos Dezoito do Forte, como ficaram conhecidos, sobreviveram apenas dois. Esse episdio conferiu imensa simpatia ao movimento tenentista, e aumentou a oposio ao governo oligrquico. Artur Bernardes (1922-1926) Como estava combinado, foi escolhido um mineiro, de Viosa, para ocupar a presidncia. Esse tipo de eleio, com as cartas marcadas, despertava cada vez mais a repulsa do povo e, principalmente, do Exrcito. No Rio Grande do Sul, eclodiu um violento conflito contra o presidente do estado, Borges de Medeiros, que se elegera pela quinta vez. Em So Paulo, em 1924, militares rebeldes tomaram o poder, e a cidade foi brutalmente bombardeada por tropas federais, at com o uso de avies, o que provocou mortes e destruio. Os revoltosos deixaram a capital para evitar mais danos populao. E, fortalecidos por um contingente que veio do sul, forma-

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ram um grupo, liderado por Lus Carlos Prestes, que ficou conhecido como a Coluna Prestes , que durante trs anos percorreu o pas. Artur Bernardes manteve o estado de stio durante a maior parte de seu governo. Somente com censura imprensa, intervenes e violenta represso policial foi possvel garantir a poltica do caf-com-leite.

Lus Carlos Prestes e Juarez Tvora tambm se juntaram ao movimento tenentista.

Washington Luiz (1926-1930) Natural de Maca (Rio de Janeiro), o ex-presidente do estado de So Paulo tornou-se o ltimo presidente da Repblica Velha. Sob o lema governar abrir estradas fez a ligao Rio-So Paulo. No final de seu governo, a crise econmica internacional fez despencar o preo do caf. Falida, a oligarquia cafeeira no teve foras para garantir a posse de mais um presidente. Em 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Lus foi deposto pelas foras da Revoluo.

6O tempo no praA Repblica no Brasil j nasceu velha. Nasceu de um golpe militar, sem a menor participao popular. Apesar de ter uma Constituio liberal, manteve o povo afastado das decises do poder. A oligarquia cafeeira controlava o pas por intermdio do coronelismo, na rea regional; da poltica dos governadores, na rea estadual; e da poltica do caf-com-leite, na rea federal. Isso permaneceu assim, at que as foras da Revoluo de 30 romperam essa dominao.

Relendo o textoLeia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure ver o que elas significam, no dicionrio e no vocabulrio da Unidade. 1. Releia Alguns ainda se envergonhavam de seu povo, mas nem todos... e explique: a) a quem interessava a difuso da idia da superioridade dos brancos; b) a afirmao de Alberto Torres: o brasileiro o estrangeiro desta terra; c) como Monteiro Lobato mudou de idia sobre o Jeca-Tatu. 2. Releia A poltica do caf-com-leite e responda: por que, apesar da superproduo de caf, os fazendeiros continuavam a expandir as plantaes? Releia A crise da dominao oligrquica e responda: a) o que foi o movimento tenentista; b) como surgiu a Coluna Prestes? 4. D um novo ttulo a esta aula.

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3.

Fazendo a Histria Escrevendo sobre a vida e faanhas de Hubert Hervey, alto funcionrio da British South African Chartered Co., o conde Grey acaba concluindo que o branco, e particularmente o ingls, o nico que sabe governar, o que lhe outorga direitos indiscutveis para dominar as raas de cor, evidentemente inferiores: Provavelmente todo mundo estar de acordo que um ingls tem direito a considerar que sua forma de entender o mundo e a vida melhor do que a de um hotentote, ou um maori, e ningum se opor, em princpio, a que a Inglaterra faa o possvel para impor, a esses selvagens, os critrios e modos de pensar ingleses, posto que so melhores, e mais elevados. H alguma possibilidade, por remota que seja, de que num futuro previsvel possa desaparecer o abismo que agora separa os brancos dos negros? Pode haver alguma dvida de que o homem branco deve impor, e impor, sua civilizao superior s raas de cor? Bruit, Hector H. Bruit O Imperialismo , So Paulo, Editora Atual, 1986. pgs. 9-10

Discuta com seus amigos as idias deste texto, sobre o imperialismo das naes europias industrializadas e suas conseqncias no Brasil.

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Em busca da cidadaniaE

Nesta aula

m aulas anteriores, voc percebeu que a vida poltica na Primeira Repblica baseava-se fundamentalmente nos acordos entre os diversos grupos oligrquicos. No havia grande interesse em assegurar espaos polticos para a maioria da populao. Apesar disso, ocorreram diversos movimentos populares na cidade e no campo, que apresentaram diferentes formas de atuao frente Repblica Oligrquica. Nesta aula estudaremos alguns dos movimentos mais importantes.

Os movimentos sociais urbanosNo final do sculo XIX e no incio do sculo XX, a indstria j era uma realidade marcante em cidades como o Rio de Janeiro e So Paulo. Parcela considervel dos trabalhadores das indstrias o operariado era proveniente das camadas mais pobres da populao urbana. Como a Constituio de 1891 concedia o direito de voto apenas aos brasileiros natos e alfabetizados, a grande maioria do operariado formado por estrangeiros imigrantes e/ou analfabetos ficava excluda da participao nas eleies.O Viaduto do Ch e o Teatro Municipal mostravam o desenvolvimento de So Paulo.

Buscando reagir a essa situao, os trabalhadores se organizaram e se rebelaram em defesa de seus direitos, em movimentos nem sempre vitoriosos. No espao da cidade, sua posio era a de personagens polticos em busca da conquista da cidadania. O primeiro partido operrio do Brasil surgiu em fevereiro de 1890, no Rio de Janeiro, numa reunio com cerca de 120 trabalhadores, que decidiram editar o jornal Echo Popular (echo = eco). No Sul, no Norte, no Nordeste, nessa mesma poca, formavam-se diversos ncleos e grupos socialistas que se autodenominavam partidos e que publicavam vrios jornais operrios. Entre 1890 e 1910, surgiram dezenas de organizaes socialistas em vrias regies do pas, mas todas tiveram vida curta. No existia uma tendncia majoritria que fosse capaz de reunir os diferentes grupos. Os primeiros anos do sculo XX representaram o incio da ascenso do movimento operrio no Brasil, com o aumento do nmero de greves, o aparecimento dos primeiros sindicatos e o fortalecimento de novos grupos polticos, em especial os anarquistas. Esses grupos tornaram-se uma tendncia majoritria no conjunto do movimento operrio de certas cidades, no estado do Rio de Janeiro e, principalmente, no de So Paulo. Os anarquistas, imigrantes ou brasileiros, eram defensores das idias e das prticas libertrias.

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Mas, afinal, o que ser anarquista?Ser anarquista negar e combater a autoridade do Estado ou qualquer forma de poder ou organizao que represente o Estado; ter uma atitude libertria individual. Os anarquistas desejavam criar uma sociedade igualitria e fraternal, baseada em experincias do tipo comunitrio, a exemplo de cooperativas. Para isso, era necessrio organizar os trabalhadores, de forma voluntria, em associaes que garantissem participao e que tivessem nveis de autonomia entre si. Numa Repblica que ignorava os operrios como agentes polticos, a liderana anarquista tentava ignorar o Estado. Dentro da corrente anarquista, os anarco-sindicalistas viam o sindicato como meio e fim da ao libertria e a greve geral como a arma decisiva, capaz, por si s, de fazer surgir a nova sociedade igualitria. Portanto, a luta dos anarquistas era uma luta poltica em busca de novas formas de organizao da sociedade. No Primeiro Congresso Operrio Brasileiro, em 1906, no Rio de Janeiro, os anarco-sindicalistas dominaram a cena, aprovando a criao da Confederao Operria Brasileira (COB) contra a proposta dos delegados socialistas de criar um partido. Ao mesmo tempo, aprovaram a campanha de agitao imediata dirias. contra o servio militar e pela jornada de trabalho de 8 horas dirias Comeava a se desenhar a presena marcante dos anarquistas na direo do movimento operrio. A partir de ento, os sucessos e insucessos desse movimento teriam sempre a marca do anarquismo. As comemoraes do 1 de Maio de 1907, em So Paulo e em outras cidades, resultaram numa srie de lutas pela jornada de 8 horas de trabalho dirio e por melhores condies de trabalho e de vida para os operrios. Depois de um perodo de declnio do movimento, o ano de 1912 seria marcado por vrias greves por causa do agravamento das condies de vida dos trabalhadores. Em So Paulo, no mesmo ano, anarquistas e socialistas criavam o Comit de Agitao Contra a Carestia da Vida, que realizava comcios em vrios bairros operrios.

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Nos meses de junho e julho de 1917, uma greve geral paralisou completamente a cidade de So Paulo, colocando frente a frente o movimento operrio (que era organizado principalmente pelas lideranas anarquistas) e os setores dominantes (que representavam a represso do Estado). De um lado, 50 mil grevistas armados com pedras e protegidos por barricadas; de outro, tropas armadas com fuzis e metralhadoras. A greve ganhara dimenses maiores, incorporando outros setores populares. Anarquistas e Governo foram forados negociao. Depois, a represso foi intensificada. A polcia de So Paulo fechou todas as sedes das ligas e unies operrias da cidade. Entre 1919 e 1920, diversos militantes operrios anarquistas foram deportados para seus pases. Apesar disso, na dcada de 1920 (que estudaremos no prximo mdulo), os trabalhadores urbanos e o movimento operrio continuariam no centro da chamada questo social .

A imprensa brincava com a obrigatoriedade da vacinao.

A revolta da vacinaO Rio de Janeiro do comeo do sculo, sede do governo, era uma cidade bonita e envolvente como uma mulher apaixonada , nos dizeres de Benjamin Constant. Mas apresentava muitos problemas com suas doenas, suas ruas estreitas e sua massa desordeira, que exigiam alguma adaptao aos novos tempos. Aquela cidade era o Rio de Janeiro popular, repleto de mercados, biscates e pequenos expedientes para a sobrevivncia cotidiana. Para as autoridades, era uma realidade que precisava ser mudada. Precisava-se modernizar a capital da Repblica, apagando da cidade os traos dos tempos coloniais. Junto com a remodelao urbanstica da cidade, o governo Rodrigues Alves (1902-1906) desenvolveu um programa de saneamento destinado a livrar a populao de doenas, como a peste bubnica e a varola. No final de outubro de 1904, por iniciativa de Oswaldo Cruz, Diretor da Sude Pblica, o Congresso Nacional aprovou a lei que tornava obrigatria a vacina contra a varola. A medida tornava-se urgente em funo do avano da epidemia na cidade: o total de mortos pela varola alcanou o nmero de 4.201 naquele mesmo ano.

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23Oswaldo Cruz foi ridicularizado em vrias caricaturas da poca.

Para iniciar a vacinao obrigatria faltava apenas a aprovao do regulamento proposto pelo governo ao Congresso Nacional. Os grupos de oposio, que discordavam do carter obrigatrio da vacinao, passaram a denunciar na imprensa os termos do regulamento, que permitia aos funcionrios do governo invadir, vistoriar, fiscalizar e demolir casas e construes. No seriam permitidos recursos Justia. Em importantes jornais da cidade, a oposio denunciava a ditadura sanitria e pregava a suspenso daquela lei arbitrria e monstruosa. A populao temia os efeitos de uma vacina que pouco conhecia e estava revoltada com os mtodos pelos quais as autoridades propunham desenvolver aquele programa de saneamento. No tardou muito e, no dia 10 de novembro de 1904, explodia no Rio uma revolta popular contra a obrigatoriedade da vacina e contra as medidas oficiais de saneamento. Durante mais de uma semana, as ruas da capital encheram-se de barricadas. Bondes foram incendiados, lojas depredadas e saqueadas, postes de iluminao destrudos. As autoridades perderam temporariamente o controle da situao na regio central e nos bairros mais densamente habitados por grupos populares.

Quem eram os revoltosos?A composio da populao rebelada, que variou de acordo com o desenrolar dos acontecimentos, reunia operrios, inclusive do estado (como martimos e trabalhadores dos transportes urbanos), lderes anarquistas e socialistas, comerciantes, estudantes, militares e aqueles setores identificados pelos poderes oficiais como os desordeiros capoeiras, desempregados, vadios, jogadores. Isto , um exrcito de excludos ou deserdados que representavam uma boa parcela da populao. A presena dos trabalhadores organizados, no entanto, foi significativa pelo esforo de mobilizao do Centro das Classes Operrias , onde se reunia a Liga Contra a Vacina Obrigatria .

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O governo agiu rapidamente contra a revolta. A polcia e tropas do Exrcito, da Marinha e dos Bombeiros enfrentaram a resistncia da populao em bairros populares do Rio de Janeiro, como a Sade e o Sacramento. Aps retomar o controle da cidade, o governo prendeu centenas de pessoas e as despachou para o Acre, onde seriam submetidas a trabalhos forados. Segundo dados policiais, a Revolta teve 90 baixas entre os revoltosos: 23 mortos e 67 feridos. Do total, 36 eram operrios. A obrigatoriedade da vacina foi, porm, temporariamente revogada.

Movimentos sociais ruraisA presena poltica dos setores populares durante a Primeira Repblica no se limitou a movimentos organizados dos trabalhadores urbanos e a outras diversas manifestaes de resistncia que tiveram como palco a cidade. Na rea rural, os setores populares tambm se manifestaram de alguma forma. No final do sculo XIX, entre 1895 e 1897, milhares de sertanejos liderados por Antnio Mendes Maciel, o Antnio Conselheiro , reuniram-se no interior da Bahia, numa fazenda abandonada que deu origem ao povoado de Belo Monte ou Arraial de Canudos .

Os revoltosos de Canudos eram uma ameaa aos coronis.

O que levava essa gente a se reunir em Canudos? Entre outras razes certamente estavam a falta de perspectivas daqueles homens e mulheres, num mundo rural dominado pelos coronis, e as promessas de salvao feitas por Conselheiro. Para ele, a Repblica era a raiz dos males que afligiam as populaes sertanejas. Em Canudos, a propriedade era coletiva e no eram pagos impostos ao governo.

O crescimento e a organizao dessa comunidade foi aos poucos incomodando os grandes proprietrios rurais e o governo. Em 1897, foras militares leais ao governo, aps trs tentativas fracassadas e contando com milhares de homens, cercou o arraial, bombardeando-o durante horas seguidas. Seu lder foi morto e a populao de Canudos, dizimada. Foi sobre esse episdio que Euclides da Cunha escreveu seu grande livro, Os Sertes . Os problemas que impulsionaram Canudos e outros movimentos rurais no tiveram como palco apenas o Nordeste. No sul do pas, do incio do sculo XX, em torno da posse de uma regio reclamada pelos estados de Santa Catarina e do Paran, ocorreu a Guerra do Contestado . Na rea contestada, rica em erva-mate e madeira, viviam milhares de pessoas que cultivavam a terra, sem o ttulo de propriedade. Eram posseiros. Por volta de 1911, duas empresas estrangeiras, interessadas na construo de uma ferrovia e na instalao de serrarias, passaram a ocupar as terras com o apoio do governo e dos coronis. Comeava o processo de expulso dos posseiros da regio. Separados de suas terras, rejeitados pela populao das cidades, eles perambulavam sem rumo pelo interior. Nesse quadro, surgiram os homens santos, os monges, com os quais o povo ia procurar a soluo para os seus males. Um desses monges, que atuavam tambm como curandeiros, era Jos Maria que dizia ser eleito por Deus para construir, na Terra, um reino divino: a Monarquia Celeste. O centro das tenses era a regio de Taquaruu, onde estavam os escritrios de uma das empresas estrangeiras (Brazil Railway ). A partir de 1912, algumas centenas de fiis do monge Jos Maria fixaram-se ali, dando origem a uma aldeia sagrada. Logo comearam as perseguies e os ataques do Exrcito, da polcia e dos jagunos dos coronis, que obrigaram os fiis a se dispersarem para o Irani, outra regio contestada. A morte de Jos Maria pelas foras governamentais fez com que seus seguidores se reunissem novamente em Taquaruu. O grupo inicial de fiis foi crescendo, tomando grandes propores. Os rebeldes passaram a adotar medidas mais radicais, como o incndio de estaes e serrarias das empresas na regio. Eles lutavam de forma muito violenta, como numa guerra santa, e assustaram as autoridades civis e militares da poca. Os ataques das tropas oficiais se sucederam e, no final de 1915, a rebelio sertaneja foi liquidada, restando apenas pequenos grupos esparsos. No ano seguinte, o ltimo de seus lderes caiu prisioneiro.

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6Todos esses movimentos ocorreram na Repblica das Oligarquias, que se mostrou incapaz de integrar os setores populares vida poltica do pas. A dcada de 1920 anunciaria tempos de crise da Repblica Oligrquica. Mas, apenas a partir da Revoluo de 1930 seriam realizadas profundas reformas polticas, econmicas e sociais, que tiveram como um dos seus principais objetivos a incorporao das massas trabalhadoras ao projeto poltico do novo governo.

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Exerccios A U L A

Relendo o textoLeia mais uma vez o texto da aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure ver o que elas significam, no vocabulrio da Unidade ou no dicionrio. 1. Releia O s m o v i m e n t o s s o c i a i s u r b a n o s e M a s , a f i n a l , o q u e s e r anarquista? e responda: Quem eram os anarquistas? O que eles defendiam? Releia A revolta da vacina e extraia do texto trechos que caracterizem a cidade do Rio de Janeiro nos primeiros tempos da Repblica. Releia A revolta da vacina e Quem eram os revoltosos? e identifique os setores sociais envolvidos na rebelio. Releia Movimentos sociais rurais e extraia do texto o trecho que trata da disputa pelas terras da Regio do Contestado. D um novo ttulo a esta aula.

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2.

3.

4.

5.

Fazendo a HistriaReproduzimos, abaixo, parte do discurso de um lder da Revolta do Contestado. Leia o documento com ateno e faa o que se pede. Documento A Vocs se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenas, uma idia, um conselho para seus padecimentos. As autoridades no fazem nada e no querem que ningum faa (...) Eles tm cobia por terras, por gente, por amigos e por compadres. Os mandes esto trazendo gente de l de fora e do tudo aos estrangeiros (...) Os gavies esto chegando e querem os pintinhos. Aprontem-se que vai haver guerra feia. Discurso do Monge Jos Maria, lder do Contestado, citado na coleo Nosso Sculo , Vol. 2, pg. 21

1.

Retire do texto as expresses utilizadas pelo monge Jos Maria que correspondem aos seguintes agentes: a) governo; b) Brazil Railway; c) coronis; d) sertanejos.

2.

Tomando por base o texto da aula, explique o significado da frase: Eles tm cobia por terras .

Agora leia com ateno o memorial de reclamaes apresentado pelo Comit de Defesa Proletria (dos operrios) durante a greve geral de 1917 e faa o que se pede. Documento B o seguinte o memorial de reclamaes apresentadas pelo Comit de Defesa Proletria e que o proletariado continua a sustentar. Os representantes das ligas operrias, das corporaes em greve e das associaes poltico-sociais que compem o Comit de Defesa Proletria, reunidos na noite de 11 de julho, depois de consultadas as entidades de que fazem parte, expondo as aspiraes no s da massa operria em greve como as aspiraes de toda a populao angustiada por prementes necessidades, considerando a insuficincia do Estado no providenciar de outra forma que no seja pela represso violenta, tornam pblicos os fins imediatos que a atual agitao se prope, formulando da maneira que segue as condies de trabalho que, oportunamente, sero examinadas nos seus detalhes: 1 Que sejam postas em liberdade todas as pessoas detidas por motivos de greve; 2 Que seja respeitado do modo mais absoluto o direito de associao para os trabalhadores; 3 Que nenhum operrio seja dispensado por haver participado ativa e ostensivamente no movimento grevista; 4 Que seja abolida de fato a explorao do trabalho dos menores de 14 anos nas fbricas, oficinas etc.; 5 Que os trabalhadores com menos de 18 anos no sejam ocupados em trabalhos noturnos; 6 Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres; 7 Aumento de 35% nos salrios inferiores a 5$000 e de 25% para os mais elevados; 8 Que o pagamento dos salrios seja efetuado pontualmente, cada 15 dias e, o mais tardar, cinco dias aps o vencimento; 9 Que seja garantido aos operrios trabalho permanente; 10 Jornada de oito horas e semana inglesa; 11 Aumento de 50% em todo o trabalho extraordinrio. O Comit de Defesa Proletria cr haver encontrado o caminho para uma soluo honesta e possvel. Esta soluo ter, certamente, o apoio de todos aqueles que no forem surdos aos protestos da fome. O que reclamam os operrios, A Plebe, n 6, 21.7.1917, pg. 3 (AEL). Extrado do livro A Classe Operria no Brasil 1889-1930 - Documentos, Vol. 1 (Org. Paulo Srgio Pinheiro e Michael Mall) Ed. Alfa Omega, SP, 1979.

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1.

Retire do documento as reclamaes que dizem respeito ao tratamento dispensado aos trabalhadores envolvidos em associaes ou em movimentos operrios. Destaque as principais reclamaes relativas ao trabalho de mulheres e crianas.

2.

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MDULO 7

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Anos 20, anos de criseA

Apresentao do Mdulo 7

Atores sociais ou polticos: indivduos que agem socialmente ou politicamente, interferindo nos rumos da sociedade.

partir da dcada de 1920, muita coisa comeou a mudar na Repblica do Brasil. A marginalizao poltica da maioria da populao, caracterstica da Repblica Oligrquica, era cada vez mais questionada. Era cada vez mais difcil ignorar os novos atores, que insistiam em se fazer presentes na cena poltica, assim como suas reivindicaes. Neste mdulo vamos conhecer esses novos atores e os caminhos cheios de conflitos que trilharam. Caminhos autoritrios, que apenas em 1942 comeariam a ter seus rumos alterados. Apesar disso, entre 1920 e 1942, tanto os trabalhadores urbanos quanto seus direitos civis, sociais e polticos estiveram no centro das questes polticas daquele tempo. Um tempo marcado pelo crescimento das cidades e da indstria, pelo fortalecimento do Estado na figura do presidente Getlio Vargas e pela incorporao dos trabalhadores urbanos no jogo poltico.

A modernizao do pas prosseguia, com indstrias tocadas por operrios cada vez mais politizados.

O Estado de Stio era uma medida, prevista na Constituio de 1891, que permitia ao governo federal (Poder Executivo) suspender quase todos os direitos civis e polticos dos cidados brasileiros e aumentar seu prprio poder. Para isso, era preciso a aprovao do Poder Legislativo (Cmara e Senado), sempre que se considerasse a ordem pblica fortemente ameaada. Boa parte dos anos 20 no Brasil, especialmente durante o governo do presidente Artur Bernardes (1922-1926), foi vivida com o Estado de Stio decretado. Nesta aula vamos tentar entender por que os anos 20 deste sculo so lembrados como anos de crise .

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Tempo de permanncias e mudanasNa dcada de 1920, novos personagens comeavam a se fazer presentes no cenrio da nossa Histria e fariam entrar em crise a Repblica Oligrquica e a ordem constitucional de 1891. Entretanto, a Constituio de 1891 permaneceu em vigor at 1930. Durante a dcada de 1920 foram empossados na Presidncia da Repblica, sucessivamente: Epitcio Pessoa (que governou de 1919 a 1922), Artur Bernardes (19221926) e Washington Lus (1926-1930). Todos os trs deram prosseguimento ooltica dos governadores . Portanto, permanecia a poltica do caf-com-leite (predomnio das oligarquias paulista e mineira), a preponderncia dos grandes fazendeiros, em especial dos cafeicultores paulistas, o coronelismo e a represso s manifestaes populares. Alm disso, a poltica econmica desses governantes estava to direcionada proteo dos interesses cafeeiros que quase no se preocupava com o desenvolvimento das outras atividades econmicas do pas. Esse era o caso das indstrias e das atividades agropecurias, voltadas para o mercado interno, que vinham ganhando importncia com o crescimento das cidades. Durante os anos 20, o governo sustentou, de forma permanente, os altos lucros dos fazendeiros de caf, comprando os excedentes do produto nos negcios com o mercado externo. Mas, apesar de tudo, a indstria seguia seu curso. Entre 1914 e 1918 ocorreu uma grande guerra entre os pases industrializados da Europa. Como os interesses europeus se espalhavam por quase todo o mundo, essa guerra ficou conhecida como Primeira Guerra Mundial. Durante a guerra, e logo depois dela, ficou quase impossvel importar alguns artigos industrializados da Europa. Sem a concorrncia dos importados, as indstrias brasileiras comearam a produzir novos artigos e a fabricar mais daqueles que j eram produzidos aqui, fortalecendo bastante o crescimento industrial.

Crescem as cidades, surgem novos atores sociaisCom o crescimento urbano na dcada de 1920, vieram cena dois importantes grupos sociais: o dos empresrios industriais e o do operariado urbano. Desde o incio do sculo, os interesses dos industriais de vrios pontos do pas se articulavam no Centro Industrial do Brasil CIB e no Centro das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro CIERJ, at ento os principais do pas.

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Durante os anos 20, aumentaram as associaes entre os empresrios das indstrias. Eles perceberam, principalmente aps a Primeira Guerra Mundial, que era importante limitar, pela cobrana de impostos, a importao de produtos industrializados concorrentes e, ao mesmo tempo, facilitar a compra no exterior de mquinas e equipamentos para suas fbricas. Nesse contexto, foi criado em 1928 o Centro das Indstrias do Estado de So Paulo CIESP , que teve atuao destacada na elaborao da poltica industrial brasileira nos anos 30. Tambm os operrios se fizeram presentes, de forma diferente, na cena poltica dos anos 10 e 20. Aps as grandes greves de 1917 e 1918, intensificou-se ainda mais a represso policial sobre os sindicatos e os jornais operrios, especialmente aqueles de orientao anarquista. Ao mesmo tempo, na dcada de 20, apareceram as primeiras tentativas do governo para interferir nas relaes de trabalho, com a elaborao de leis. Datam dos anos 20 as primeiras leis sociais voltadas para o trabalhador , como a lei sobre acidentes de trabalho (1919); a lei Eli Chaves, sobre aposentadoria (1923); e a Lei de Frias (1926). Era o reconhecimento de que a questo operria existia e de que os movimentos dos trabalhadores produziam mudanas. Mas o governo no pressionava para que as leis fossem colocadas em prtica e os empresrios reagiam. Assim, tal legislao pouco alterou a situao da classe operria. Alm disso, na Europa, durante a Primeira Guerra Mundial, uma revoluo feita por operrios e camponeses tomou o poder na Rssia em 1917. A chamada Revoluo Russa , liderada pelo Partido Comunista, teve influncia nos movimentos operrios em todo o mundo. No Brasil, o Partido Comunista foi criado em 1922 e, desde ento, tornou-se fora importante no movimento operrio brasileiro, junto dos anarquistas e socialistas. No entanto, comunistas e socialistas tinham idias diferentes das idias anarquistas sobre a importncia dos partidos polticos e das eleies para os interesses operrios. Em 1928, lideranas operrias, socialistas e comunistas, formaram o Bloco Operrio e Campons, buscando influir nas eleies que se aproximavam. Havia grupos de intelectuais que comeavam a criticar a ordem oligrquica dominante e que expressavam, pelas artes plsticas, msica e literatura, seu desejo de mudana. Esses grupos participaram do Movimento Modernista . Em busca da alma do povo brasileiro, as teorias racistas comearam a perder adeptos, bem como a imitao pura e simples de tudo que fosse europeu. Outros intelectuais entendiam que o Brasil precisava de um Estado forte e intervencionista (com muitos poderes para interferir na vida das pessoas). Criticando o poder dos coronis sobre o eleitorado rural e a poltica dos governadores , esses intelectuais acreditavam que s um governo forte seria capaz de guiar o povo e de resolver os problemas do pas. A experincia da Primeira Repblica era, para eles, o melhor exemplo de falncia da democracia liberal. O descontentamento com a poltica da Primeira Repblica atingia de forma tambm marcante alguns grupos de militares do Exrcito brasileiro. Seus oficiais, especialmente os mais jovens (os tenentes), lanaram-se num movimento, conhecido como Tenentismo , que promoveu revoltas e rebelies em vrios estados e cidades do pas. A Revolta do Forte de Copacabana , no Rio de Janeiro, em 1922, marcou o incio do Movimento Tenentista. Numa manifestao pelo cumprimento das leis constitucionais e pelo fim da corrupo, dezenas de tenentes enfrentaram as tropas do governo. Dezesseis deles foram mortos.

Dois anos depois (1924) ocorreu novo levante tenentista, desta vez em So Paulo, seguido de revoltas em Minas Gerais, Sergipe, Par e Rio Grande do Sul. Todas foram sufocadas pelo governo. Os revoltosos de So Paulo e do Rio Grande do Sul conseguiram fugir e formaram a Coluna Prestes . A Coluna chegou a reunir entre 800 e 1.000 integrantes. Sob a liderana de Lus Carlos Prestes e Miguel Costa, seus participantes percorreram, durante dois anos, cerca de 24 mil quilmetros pelo interior do Brasil. A Coluna Prestes esperava mobilizar a populao para uma revolta militar contra o governo, o que no aconteceu. Nem sempre os integrantes da Coluna eram bem aceitos ou compreendidos pela populao do interior. Tiveram de enfrentar, tambm, os ataques das foras governistas e at mesmo dos capangas dos coronis. Mas, nas cidades, o prestgio dos revoltosos crescia. Lus Carlos Prestes era chamado pelos jornais de O Cavaleiro da Esperana.

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Lus Carlos Prestes passou a ser chamado de O Cavaleiro da Esperana.

Do descontentamento crise poltica: a Revoluo de 30Final dos anos 20. O governo Washington Lus chegava ao fim de seu mandato. Era hora de indicar o sucessor. Como determinava a poltica do cafcom-leite , era a vez de Minas Gerais indicar o Presidente da Repblica. Porm, o indicado por Washington Lus foi novamente um paulista Jlio Prestes. Era o rompimento entre Minas Gerais e So Paulo. Essa crise abriu espao para um candidato de oposio: o gacho Getlio Dorneles Vargas, tendo como vice o presidente do estado da Paraba, Joo Pessoa. Getlio Vargas e Joo Pessoa foram apoiados pela Aliana Liberal , que reunia os partidos republicanos de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da Paraba.

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O programa de governo da Aliana Liberal inclua o estabelecimento do voto secreto, a Justia Eleitoral e a anistia poltica. Com isso, ela conquistou a simpatia da populao das grandes cidades, bem como o apoio dos tenentes. A candidatura de Getlio Vargas agradava tambm aos interesses das oligarquias ligadas ao mercado interno, como os pecuaristas mineiros e gachos. Apesar de todo o apoio obtido pela Aliana Liberal, foi mesmo o paulista Jlio Prestes quem se elegeu, obtendo a maioria dos votos. Como era de costume, os canditados a deputados em minoria (eleitos pela Aliana Liberal) no tiveram suas eleies reconhecidas pelo Poder Legislativo. No satisfeito, Washington Lus ainda deu apoio revolta do municpio de Princesa, na Paraba, contra o governo Joo Pessoa. O assassinato de Joo Pessoa precipitou a crise. A atitude do governo Washington Lus convenceu as oligarquias derrotadas de que era preciso romper com a ordem constitucional. Antnio Carlos de Andrada, presidente do estado de Minas Gerais, obteve apoio para a idia com as seguintes palavras: preciso fazer a revoluo antes que o povo a faa . Assim, no dia 3 de outubro de 1930, iniciou-se um movimento polticomilitar para a derrubada do Governo. Diante do crescimento do movimento em . todo pas, o Alto Comando das Foras Armadas decidiu interferir e promoveu a deposio de Washington Lus da Presidncia da Repblica. No dia 23 daquele mesmo ms, Getlio Vargas chegava ao Rio de Janeiro como chefe do governo provisrio.

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Os acontecimentos que resultaram na queda de Washington Lus e na posse de Getlio Vargas como Presidente da Repblica ficaram conhecidos como a Revoluo de 30 . Com ela, rompia-se definitivamente a ordem constitucional que vigorava desde 1891. A Aliana Liberal reunia vrios setores da sociedade brasileira, unidos pela crtica ordem oligrquica, mas bem diferentes entre si. Seria possvel ao governo revolucionrio atender a interesses to diferentes?

Relendo o textoLeia novamente o texto desta aula, sublinhe as palavras que no entendeu e procure seu significado, no dicionrio ou no vocabulrio da Unidade.

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1.

Releia Tempo de permanncias e mudanas e identifique uma caracterstica de continuidade e outra de mudana da dcada de 1920. Releia Crescem as cidades, surgem novos atores sociais e identifique dois novos atores sociais no cenrio poltico dos anos 20. Releia Do descontentamento crise poltica: a Revoluo de 30 e reproduza o trecho que descreve o programa poltico da Aliana Liberal. D um novo ttulo a esta aula.

2.

3.

4.

Fazendo a HistriaAntnio Carlos de Andrada, presidente do estado de Minas Gerais, seria o sucessor natural de Washington Lus, dentro da poltica do caf-com-leite. No entanto, esse poltico passou a fazer parte da Aliana Liberal. E dele a seguinte frase: Faamos a Revoluo, antes que o povo a faa. Agora, responda: 1. 2. O que expressa a frase do presidente de Minas Gerais? Por que o povo no deveria fazer a Revoluo?

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Cidadania: da dcada de 1930 ao Estado Novoutubro de l930. Podia-se dizer, na poca, que os gachos amarravam seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro. O poder comeava a mudar de mos. No dia 24 daquele ms, a Junta Governativa, formada por trs militares que haviam deposto o presidente Washington Lus, entregou o poder a Getlio Vargas. No dia 3 de novembro, ao assumir a presidncia, Getlio prometia construir uma ptria nova(...),onde todos os seus filhos sejam iguais e dizia ainda que a revoluo que fizeram foi fruto da vontade do povo, que agora senhor do seu destino(...). Pelas ondas das rdios, que funcionavam desde o incio dos anos 20, o pas inteiro ouvia Getlio. Um pas cada vez mais urbano, industrial, diferente daquele dos tempos da Repblica Velha. Um pas que aguardava do novo governo a confirmao das promessas de democracia, liberdade e reformas polticas e sociais. Mas eram vrias e diferentes as foras polticas que apoiavam o novo presidente do governo provisrio, Getlio Vargas. A disputa entre essas diferentes foras e seus respectivos projetos de organizao social e poltica do pas so o tema da nossa aula.

Nesta aula

O

Com Washington Lus, praticamente termina a Repblica Velha.

Do governo provisrio Constituio de l934Ao assumir o governo provisrio da Repblica, Getlio Vargas tirou do poder a oligarquia paulista, fechou o Congresso Nacional, as Assemblias Legislativas estaduais e os partidos polticos; e destituiu os governadores, nomeando para os estados gente de sua confiana os interventores. Chegava ao fim a ordem constitucional de 1891. A estratgia poltica de Vargas procurava satisfazer tanto s lideranas oligrquicas dos diversos estados que o apoiavam quanto aos tenentes, seus principais aliados na vitria e na consolidao do movimento poltico-militar de 1930, que o colocaram no poder. Os tenentes se diziam portadores das bandeiras da moralidade e das reformas que as massas urbanas tanto desejavam. No entanto, viviam o dilema de dividir o poder com os velhos polticos das oligarquias, muitos deles inimigos de vspera. Os conflitos e as acomodaes que envolviam os tenentes e as oligarquias marcaram os primeiros anos do governo provisrio. Getlio, por seu lado, tentava equilibrar cada uma das influncias, aumentando seu prprio poder. De fato, o que prevaleceu foi a tendncia para o fortalecimento do Poder Executivo. Desse modo, desde os primeiros atos do novo governo, comeou a se constituir um Estado forte e centralizado, cuja presena na vida da populao foi crescente. Um Estado que, ao se organizar, incorporava e dava novo sentido a antigas reivindicaes da sociedade civil. Ainda em 1930 foram criados o Ministrio do Trabalho, da Indstria e do Comrcio; e o da Educao e da Sade Pblica. A criao do Ministrio do Trabalho representava a tentativa do Estado de intervir de fato nas relaes trabalhistas. O governo regulamentou o trabalho feminino e do menor, bem como a jornada de oito horas antigas bandeiras de luta do movimento operrio.

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Inimigos da vspera: gente que, antes, era inimiga.

Getlio Vargas surge no cenrio poltico brasileiro e ali permanece durante trs dcadas.

Com o tempo, algumas lideranas oligrquicas (de So Paulo, principalmente) passaram a defender a volta normalidade poltica, com uma Assemblia Constituinte livremente eleita pelo povo. J os tenentes defendiam a ditadura como nica forma de realizar as reformas necessrias ao pas. Em So Paulo (que tinha um tenente como interventor), os antigos partidos polticos descontentes formaram uma Frente nica , protestando contra as manobras de Vargas e exigindo uma nova Constituio para o pas.

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A Revoluo de 30 mostra o caminho do Estado Novo, rompendo-se a chamada repblica oligrquica.

Em resposta a essa presso, em fevereiro de 1932, Vargas dava os primeiros passos para a volta da normalidade poltica, convocando eleies para uma Assem