HOBSBAWM, A Era Das Revolucoes FICHAMENTO, TRECHOS CENTRAIS DO LIVRO

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HOBSBAWM, Eric J., A era das revoluções, Paz e Terra, 10 edição,1997 . fichamento do livro, contendo algumas poucas comparações com ideias de outros autores, em geral foi tentando ao máximo preservar as ideias do autor, mas não é um fichamento completametne literal, algumas ideias foram resumidas por mim, ainda assim grande parte se compõe de um fichamento literal tendo sido reproduzido exatamente a ideia do autor segundo a tradução da versão fichada.

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HOBSBAWM, Eric J., A era das revolues, Paz e Terra, 10 edio,1997 INTRODUO - As palavras seguintes foram criadas, ou ganharam seu sentido moderno, entre 1789 e 1848: - capitalismo, socialismo, ideologia, jornalismo; - classe mdia, classe trabalhadora; proletariado; - Liberal, conservador, nacionalidade; - aristocracia, cientista, engenheiro; - crise(econmica), greve; - As revolues industrial e francesas tiveram como conseqncia mais notvel o estabelecimento de um domnio do globo por uns poucos regimes ocidentais ( a ndia tornou-se uma provncia administrada pelos ingls, Os estados islmicos entraram em crise, frica partilhada, O grande imprio chins teve que abrir suas fronteiras em 1839-42;19 1 - O MUNDO NA DCADA DE 1780 final do sculo XVIII na Europa: - Perodo de prosperidade e expanso econmica; - pessoas menores e mais magras que hoje;24 - aperfeioamento de estradas e correios( predomnio entre grandes centros); - grande maioria analfabeta; - transporte por gua era mais fcil e barato, (Portos distantes estavam mais prximos que regies prximas separadas por terra); - Notcias chegavam por viajantes ou canais oficiais do estado e da Igreja; - vida essencialmente rural; Rssia, Escandinvia e Balcs 95% rural. Na Inglaterra, populao urbana ultrapassou a rural apenas em 1851; - Londres tinha 1 milho, Paris meio milho e 20 outras com mais de 100.000; - mas grande parte das cidades eram de provncia. Que apesar dos habitantes desprezarem o campo e vestirem-se diferente e serem mais letrados, eram quase to ignorantes do que se passava fora quanto os habitantes das aldeias;28 - Na Europa ocidental, ainda que o elo entre a posse de terras e o status de classe dominante continuasse de p, a sociedade rural era muito diferente. Unidade tpica tinha se tornado uma forma de arrendamento, mas ainda se devia provavelmente ao senhor local algumas obrigaes(como enviar o trigo para o moinho do senhor) alm do dzimo para Igreja, e impostos para o prncipe; - A agricultura europia ainda era assustadoramente ineficiente e destinada ao consumo local(exceto talvez o acar importado dos trpicos). Seus produtos eram ainda os tradicionais: trigo, cevada, aveia, centeio, gado de corte, cabra e seus laticnios, porcos, aves, frutas, legumes, vinho. As novas culturas importadas da Amrica ou de outras regies tropicais tinham feito algum progresso: Milho, batata ( a mais importante das novas colheitas, mas ainda comeando seu caminho, exceto talvez na Irlanda), fumo, o arroz( estavam penetrando na Europa mais eram de menor importncia);34 - Poucas reas desenvolveram rumo a uma agricultura capitalista. A Inglaterra era a principal . Onde havia: grande concentrao de terras dividida em arrendatrios mdios, controlando uma mo-de-obra contratada;33 - As atividades comerciais e industriais floresciam de forma exuberante; - A monarquia absoluta nunca conseguiu libertar-se da hierarquia dos nobres proprietrios, a qual pertencia;40 - O que aboliu as relaes agrrias feudais em toda a Europa ocidental e central foi a Revoluo Francesa, por ao direta, reao ou exemplo, e a revoluo de 1848; - Havia um conflito latente, que no podia ser resolvido dentro da estrutura dos regimes polticos existentes, exceto, claro, onde estes regimes j incorporassem o triunfo burgus, como na Gr-Bretanha; - O que deixou os regimes absolutismos ainda mais vulnerveis foi que eles estavam

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sujeitos a presses de trs lados: novas foras, aristocracia que cada vez aumentava mais a resistncia na preservao de seus privilgios, e dos inimigos estrangeiros;40 - Os estados colonizadores enfrentaram movimentos de dissidncia provincial(Blgica), e colonial(Amrica), mas essa dissidncia no foi fatal, em si mesma. As velhas monarquias podiam sobreviver a perda de uma provncia ou duas;40 - O que tornou a situao explosiva foi a rivalidade internacional, assim mesmo porque a guerra testava os recursos do estado. E quando no conseguiam suportar os estados caam; 2 - A Revoluo industrial Desta vala imunda a maior corrente da indstria humana flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto imundo jorra ouro puro. Aqui a humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade aqui a civilizao faz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem. (A. De Tocqueville a respeito de Manchester em 1835) Foi somente na dcada de 1830 que os efeitos da Revoluo industrial comearam a ser sentidos fora da Inglaterra, a tal ponto que a literatura e as artes ficaram obsedadas pela ascenso do capitalismo;43 A certa altura da dcada de 1780(quando os ndices estatsticos deram uma guinada repentina), a revoluo industrial explodiu, pela primeira vez na histria da humanidade, foram retirados os grilhes do poder produtivo(estrutura social pr-industrial, tecnologia e cincias deficientes) das sociedades humanas, que da em diante se tornaram capazes da multiplicao rpida, constante, e at o presente ilimitada, de homens, mercadorias e servios. Hoje os economistas chamam isto de partida para o crescimento auto-sustentvel. Essa partida terminou com a construo das ferrovias e da indstria pesada na GrBretanha na dcada de 1840;45 Em cincias naturais os franceses estavam seguramente a frente dos ingleses, ento o avano britnico no se deveu a superioridade tecnolgica britnica;45 Os franceses produziram inventos mais originais, como o tear de Jacquard de 1804 e melhores navios. Os alemes tinham instituies de treinamento tcnicos mais avanados;46 A educao inglesa era uma piada de mau gosto, embora fosse compensada pelas universidades escocesas calvinistas( onde vieram jovens brilhantes como James Watt, Thomas Telford); Oxford e Cambridge, as duas nicas universidades inglesas, eram intelectualmente nulas, como eram tambm as escolas pblicas, exceto as criadas pelos dissidentes que foram excludos do sistema educacional (anglicano). Programa de alfabetizao de massa na Inglaterra foi lanado somente no incio do sculo XIX; Para se fazer a Revoluo Industrial, no foi necessrio grandes invenes. Nem mesmo a mquina cientificamente mais sofisticada, a mquina a vapor rotativa de James Watt(1784) (NO) necessitava de mais conhecimentos de fsica do que os disponveis ento h quase um sculo - teoria adequada das mquinas a vapor s foi desenvolvida ex post facto pelo francs Carnot na dcada de 1820;46(rever no livro) Mas as condies adequadas estavam visivelmente presentes na Gr-Bretanha: - Revoluo Burguesa; - Manufaturas; - Frota mercante; - melhoria dos portos e vias navegveis; - estradas; - lucro privado e desenvolvimento econmico tinham sido aceitos como supremos objetivos do governo; - Proprietrios com esprito comercial j quase monopolizavam a terra, que era cultivada por arrendatrios empregando camponeses; - No se podia falar em um campesinato britnico da mesma maneira que se podia falar em um campesinato francs, alemo ou russo;

- atividades agrcolas dirigiam-se predominantemente para o comrcio; - Agricultura estava preparada para realizar as 3 funes fundamentais numa era de industrializao: - Aumentar a produtividade para alimentar uma populao no agrcola em crescimento; - fornecer mo-de-obra; - conseguir acumular capital para direcion-lo a atividades mais modernas; - 2 outras funes eram menos importantes na Gr-Bretanha: mercado consumidor e auferir rendas de exportao para garantir importao de capital; O crescimento industrial foi comandado por fabricantes de produtos de consumo de massa( principalmente, mas no s, txteis), pois mercado para esses produtos j existia(domstico e principalmente colonial). Mas a expanso industrial britnica foi capaz de demonstrar que a criao de um sistema fabril que produzisse em grande escala e custos decrescentes poderia criar seu prprio mercado. Rompendo com a idia que se tinha que o grande lucro estava nas atividades comerciais. O sucesso das indstrias inglesas logo foi estendido para a Europa e a Amrica, as quais entre 1789 e 1848 foram inundadas pelas mquinas, especialistas e investimentos vindos da GrBretanha;49 A indstria algodoeira britnica (cuja matria-prima vinha das colnias) inicialmente no conseguiu tomar o mercado dos tecidos indianos de algodo, chita. Mas o poderoso interesse do comrcio lanfero imps restries aos tecidos de algodo indiano. E como o algodo era mais barato que a l, essa indstria conseguiu conquistar o mercado domstico pequeno porm til. Para depois conseguir expandir-se no ultramar. A indstria algodoeira desenvolveu-se subordinada ao comrcio colonial. E a escravido e o algodo marcharam juntos. Os escravos eram inicialmente trocados por tecidos indianos, mas quando este faltava devido a guerra ou revolta na ndia, a regio de Lancashire para comprar os escravos produzia tecidos, cujo algodo vinha da mesma regio onde os escravos eram capturados. Depois da dcada de 1790, as plantaes escravistas do Sul dos EUA foram aumentadas para atender as fbricas de Lancashire, a qual pagou seu preo com a escravido estimulando-a; Entre 1750 e 1769, a exportao de tecidos britnicos de algodo aumentou mais de dez vezes. Em 1814 a exportao desses tecidos era maior que o consumo interno e em 1850 era j quase o dobro. Em 1820 a Europa, mais uma vez aberta as importaes britnicas, importou mais que as reas subdesenvolvidas. Contudo em 1840 a Amrica, fora os EUA, frica e sia importaram mais que o dobro que a Europa;51 Amrica Latina tornou-se quase totalmente dependente da economia britnica a partir das guerras napolenicas; A ndia foi sistematicamente desindustrializada e passou de exportadora a importadora de tecidos britnicos. E pela primeira vez o oriente passou a ter sua balana comercial deficitria em relao ao ocidente;

(Bruit. Imperialismo: A ndia, muito antes da chegada dos ingleses havia desenvolvido uma manufatura txtil a que satisfazia s necessidades internas. Mais tarde, j em contanto com os europeus, essa manufatura exportava um excedente que concorria com os tecidos europeus at que os ingleses e franceses proibiram a exportao. E a importao macia e o consumo forado de tecidos e produtos ingleses arruinaram as manufaturas do pas e desarticularam totalmente a economia agrria.61)Somente a China mantinha-se fechada, at que, entre 1815 e 1842, comerciantes ocidentais, auxiliados pelas canhoneiras, descobrissem uma mercadoria ideal que podia ser

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exportada em massa da ndia para o extremo Oriente: o pio;52 A indstria do algodo tambm beneficiou-se da relativa facilidade que o sistema colonial proporcionava para aumentar a rea cultivada e prover-se de mo-de-obra, devido s terras disponveis nas colnias e a possibilidade de compra de escravos;52 A partir de 1790, o algodo britnico encontrou seu suprimento nas colnias sulistas dos EUA;53 O processo natural de aumento de produo, at mesmo na Inglaterra, era o sistema domstico, e esse mtodo foi utilizado inicialmente na indstria algodoeira, mas como no foi possvel encontrar mo-de-obra suficiente, partiu-se para a mecanizao; At a dcada de 1830, a fbrica no sentindo moderno ainda restringia-se quase que exclusivamente as reas algodoeiras do Reino Unido. As outras indstrias empregavam muito menos pessoas, tinham uma capacidade de impulsionar a economia muito menor e seu peso no comrcio exterior no se comparava com a indstria algodoeira;54 As cervejarias, que eram em muitos aspectos um negcio tcnica e cientificamente muito mais avanado e mecanizado, e que se revolucionou muito antes da indstria algodoeira, pouco afetou a economia a sua volta, como pode ser provado pela grande cervejaria Guinness em Dublin; 54 A indstria algodoeira era quase que exclusivamente a nica indstria britnica em que predominava a fbrica;54 Mas com a expanso da indstria algodoeira, essa primeira fase for marcada por muita agitao revolucionria(entre 1811 e 1816 grupos de trabalhadores ingleses destruram mquinas, liderados por Ludd); Crises peridicas na economia eram bem conhecidas, nos sculo XVIII, geralmente refletiam uma catstrofe agrria, depois das guerras napolenicas, perodos de boom e depresso 1825-6;1836-7;1839-42;1846-8 - dominou a vida econmica da Gr-Bretanha. E por volta de 1830 e princpios de 1840 ocorrem grandes problemas de crescimento refletindo-se numa acentuada desacelerao da economia e uma queda na renda nacional britnica. Essa primeira crise geral do capitalismo no foi puramente britnica;55 Com a crise a revoluo social eclodiu na forma de levantes espontneos dos trabalhadores da indstria e das populaes pobres das cidades, produzindo as revolues de 1848 no continente e os amplos movimentos cartistas na Gr-Bretnha;55 Pequenos comerciantes e fazendeiros, excludos pelos grandes financistas, reclamavam por crdito fcil; Depois de 1815, a margem de lucros comeou a diminuir na indstria algodoeira. Para compensar a queda diminui-se o nico custo possvel de compresso: os salrios( um tecelo manual em Bolton ganhava em mdia por semana 33 shillings em 1795; 14 em 1815 e 6 em1829; Mais de 500 mil teceles manuais morreram em decorrncia da fome;58 Os fabricantes de algodo concordaram que o custo de vida era alto devido ao monoplio fundirio, piorado pelo protecionismo amparado pelas Leis de Trigo , aprovada pelo parlamento de proprietrios de terras aps as guerras; os fabricante ainda consideravam que tais tarifas protecionistas tambm dificultavam suas exportaes, na medida que os outros pases estavam impedidos de adquirir renda exportando seus produtos;58 O mundo de Manchester tornou-se o centro da oposio a essas leis, as quais foram abolidas em 1846; A indstria estava assim pressionada para mecanizar(diminuindo a mo-de-obra) e aumentar a produo. Mas embora a produo por trabalhador tivesse aumentado aps o perodo ps-napolenico, isto no se deu em uma escala revolucionria. O que ocorreria apenas na segunda metade do sculo;59 A indstria de base havia desenvolvido razoavelmente devido s guerras de 1756 a 1815 e alguns avanos tecnolgicos. Mas depois de Waterloo comeou a diminuir, pois o retorno nesse setor era lento e no interessava aos homens de negcio;59 A extrao do carvo na Gr-Bretanha correspondia a cerca de aproximadamente a 90% da produo mundial. Essa dianteira inglesa decorria em grande parte de ser esse

produto um importante combustvel domstico, devido a escassez de florestas na GrBretanha;60 a ferrovia filha das minas de carvo. Nas minas desenvolveram trilhos para extrair o carvo do fundo, mquinas foram sendo desenvolvendo para movimentar esses pequenos carros. E como o transporte a longa distncia deste carvo era muito oneroso, os donos de minas provavelmente perceberam que poderiam utilizar esse sistema de transporte a longa distncia. E na dcada de 1830, os trens j podiam atingir a velocidade de 96 Km/h;60 A primeira linha das modernas ferrovias ligava uma mina ao litoral;61 Nas duas primeiras dcadas da ferrovia, a produo de ferro aumentou 4 vezes e a de carvo 3 vezes, o que beneficiou o desenvolvimento da indstria;62 A razo para esta expanso rpida, imensa e de fato essencial das ferrovias estava na paixo aparentemente irracional com que os homens de negcios e os investidores atiraram-se na construo de ferrovias, cuja rentabilidade estava bem abaixo de outras atividades;62 O lucro que as indstrias renderam excedia as possibilidades de investimento na prpria Inglaterra, parte ento foi emprestada a governos estrangeiros, mostrando-se um pssimo negcio devido moratria e calote; Ento em vez de canalizar o capital acumulado em emprstimos exteriores e minas em outros pases. Investiu-se intensamente nas ferrovias;64 Antes da era da ferrovia e do navio a vapor era difcil importar grande quantidade de alimentos, apesar da Gr-Bretanha ter se tornado um livre importador de alimentos a partir da dcada de 1780; A revoluo agrcola que precedeu a revoluo industrial tornou possvel o aumento populacional e urbanizao. Mas essa revoluo no foi tecnolgica e sim social: com o fim das terras comunais, cultura de subsistncia e da velhas atitudes no comerciais em relao a terra, o que fez da Gr-Bretanha um pas de poucos proprietrios rurais, um nmero moderado de arrendatrios comerciais e um grande nmero de trabalhadores contratados. No mximo houve uma racionalizao e uso de conhecimentos j conhecidos no incio do sculo XVIII. Tecnologicamente avanos na engenharia agrcola foram vistos apenas na dcada de 1840;65 As leis do Trigo, posteriores a crise de 1815, era um manifesto contra a tendncia de tratar a agricultura como uma indstria igual a qualquer outra, mas foram derrotadas na onda do avano radical da classe mdia depois de 1830, pelo decreto dos pobres de 1834 e pela abolio das leis do trigo em 1846;65 Em termos de produtividade econmica, esta transformao social foi um imenso sucesso; em termos de sofrimento humano, uma tragdia, aprofundada pela depresso agrcola depois de 1815, que reduziu os camponeses a uma massa destituda e desmoralizada. Mas para a industrializao essas transformaes eram desejadas, pois forneciam mo-de-obra; Mas os homens se mostravam relutantes em abandonar seu modo de vida tradicional. Foi necessria uma catstrofe gigantesca como a fome irlandesa para produzir o tipo de emigrao em massa (um milho e meio, de uma populao total de 8,5 milhes em 1835-50). O desenvolvimento industrial francs foi dificultado pela estabilidade e relativo conforto de seu campesinato e de sua pequena burguesia;66 Esses trabalhadores rurais tinham enormes dificuldades para adaptar-se ao trabalho fabril: - Ritmo de trabalho contnuo; - Patres reclamavam que os trabalhadores tendiam a trabalhar at conseguir a renda suficiente para a subsistncia semanal, sem preocupar-se em uma renda extra. A resposta foram leis draconianas em favor do empregador para disciplinar a mo-de-obra. Mas acima de tudo pagar to pouco obrigando o operrio trabalhar incansavelmente para conseguir a renda mnima para a semana;67 - Nas fbrica em que a disciplina era fundamental, empregava-se dceis mulheres e crianas: nos engenhos ingleses em 1834-47, apenas 25% eram homens adultos; Na Gr-Bretanha, antes de 1789, havia se desenvolvido um reservatrio considervel de trabalhadores acostumados com a produo de txteis e metais, o que tornou mais fcil o desenvolvimento fabril. Mas tambm levou a uma negligncia na educao tcnica e geral neste

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pas, cujo preo seria pago mais tarde;68 Na Gr-Bretanha no sculo XVIII, ao contrrio dos outros pases, no havia escassez de capital. Mas os seus portadores: proprietrios de terras, mercadores, armadores, financistas, etc. - relutavam em investi-lo nas novas indstrias, que portanto freqentemente tinham que ser iniciadas com pequenas economias ou emprstimos e desenvolvidas pela lavra dos lucros;68 A escassez de capital fez com que os primeiros industriais - especialmente os homens que se fizeram por si mesmos - fossem mais duros, mais vidos e seus trabalhadores mais explorados;68 Deste modo emprico, no planificado e acidental, construiu-se a primeira economia industrial de vulto. E a Revoluo industrial lanada nesta ilha estava transformando o mundo. Nada poderia det-la. Os deuses e os reis do passado eram impotentes diante dos homens de negcios e das mquinas a vapor do presente;69 3 - A REVOLUO FRANCESA A Frana deu o conceito do nacionalismo, os cdigos legais, inspirados no napolenico( fundamental para o desenvolvimento econmico posterior), o modelo de organizao tcnico e cientifica e o sistema mtrico de medidas para a maioria dos pases, fez suas revolues e deu suas idias;71 Os efeitos da revoluo francesa foram muito mais profundos que qualquer outro fenmeno contemporneo por trs motivos: - Em 1789, A Frana era o pas mais populoso da Europa; - Ela foi uma revoluo social de massa, e incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante comparvel; - Seus exrcitos partiram para revolucionar o mundo, suas idias de fato revolucionaram; A influncia da Revoluo Francesa foi mundial, foi o primeiro movimento da cristandade ocidental que influenciou o mundo islmico. Em meados do sculo XIX, a palavra turca Vatan, que antes significava apenas o lugar de nascimento ou de residncia, passa a ter um sentido parecido com ptria. A palavra que designava liberdade passa a expressar algo mais do que o oposto da escravido;73 No sculo XVIII, a Frana foi a maior rival poltica e econmica da Gr-Bretanha, seu comrcio externo multiplicou por quatro entre 1720 e 1780; seu sistema colonial foi em certas reas (como nas ndias Ocidentais) mais dinmico que o britnico(PAZZINATO DIZ QUE O COMRCIO EXTERNO FRANCS ENTROU EM DECLNIO NO SCULO XVIII EM VIRTUDE DA PERDA DE COLNIAS- COMO AS ANTILHAS, O CANAD E AS NDIAS. MAS LOGO EM SEGUIDA, AO FALAR SOBRE A CRISE ECONMICA S VSPERAS DA REVOLUO, PAZZINATO AFIRMA QUE A FRANA HAVIA PASSADO POR QUASE MEIO SCULO DE PROSPERIDADE, COM MELHORAS NA AGRICULTURA, COMRCIO INTERNO E O COMRCIO EXTERNO. EXPERIMENTARA UM GRANDE PROGRESSO, MAS QUE ESSE PROGRESSO NAO HAVIA BENEFICIADO A GRANDE MASSA); mas ainda no era uma potncia como a Gr-Bretanha, cuja poltica externa era substancialmente voltada aos interesses capitalistas. Em outras palavras, o conflito entre a estrutura oficial e os interesses estabelecidos do velho regime e as novas foras sociais ascendentes era mais agudo na Frana do que em outras partes;73 As propostas de racionalizao e abolio de privilgios j tinham similares aprovadas nos despotismos esclarecidos, contudo tais reformas praticamente no tiveram efeitos prticos devido aos interesses estabelecidos. Agora na Frana tais propostas fracassaram muito mais rapidamente. E as foras da mudana burguesa eram fortes demais para cair na inatividade. Elas simplesmente transferiram suas esperanas de uma monarquia esclarecida para o povo ou a nao;74 Foi a reao feudal que forneceu a centelha que fez explodir o barril de plvora da revoluo francesa;74 Nobreza 400 mil, 2%,(entre os 23 milhes de franceses) tinha iseno de vrios

impostos( mas o clero tinha ainda mais) e recebiam tributos feudais. Mas a monarquia absolutista, apesar de ser feudal no seu ethos, tinha destitudo os nobres de sua independncia poltica e reduzido ao mnimo suas instituies estados e parlements . E como eram guerreiros e no profissionais ou comerciantes estavam impedidos de ter uma profisso dependiam da renda de suas propriedades ou, se pertencem a minoria ainda menor da grande nobreza recebiam penses, presentes ou sinecura (emprego que quase no obriga ao trabalho) da corte. Mas como seus gastos para manter seu status eram muito altos e suas rendas caam e sua situao econmica deteriorava-se.75 Diante disso durante o sculo XVIII, eles invadiram os cargos que a monarquia preferia preencher com a classe mdia (mais competente e menos perigosa). Na dcada de 1780 dominavam completamente a administrao pblica. Ou ainda, principalmente a nobreza provinciana mais pobre, extorquia mais dinheiro(ou mais raramente servio) do campesinato, chegando-se a criar uma profisso a dos feudistas, especialistas que tentam reimplantar os direitos feudais que haviam cado em desuso, o mais famoso deles, Babeuf, viria a se tornar o lder da primeira revolta comunista da histria moderna, a conspirao dos iguais em 1796.;75 Campesinato: - 80% da populao; - em geral livres e 40% das terras j lhes pertenciam, mas a grande maioria no tinha terras ou tinha insuficientemente, situao piorada pelo atraso tcnico; - tributos feudais, os dzimos e as taxas aumentavam e inflao tirava o resto; - apenas uma minoria tinha um constante excedente para as vendas; - Situao havia agravado nos ltimos 20 anos; Bancarrota causada pela guerra de independncia americana foi a causa direta da Revoluo Francesa; Apesar das extravagncias de Versailles tenham sido constantemente responsabilizadas pela crise, em 1788, os gastos de corte representavam apenas 6% do total(PAZZINATO: 12% COBRIA A CORTE E MAIS AS PENSOES DOS NOBRES). A guerra americana e sua dvida, a qual consumia 50% do total da receita,(SEGUNDO PAZZINATO A DIVIDA FOI CONTRAIDA EM BANCOS ESTRANGEIROS) partiram a espinha dorsal da monarquia, o dficit chegou a 20%;76 A Revoluo comeou como uma tentativa aristocrtica de recapturar o Estado, eles se recusavam a pagar pela crise se seus privilgios no fossem estendidos. A primeira brecha do absolutismo foi uma assemblia de notveis, mas estes foram rebeldes a monarquia, em 1787. A segunda foi a convocao dos Estados Gerais, a velha assemblia feudal do reino, enterrada desde 1614;76 A revoluo Francesa no teve lideranas claras, nem um programa estruturado. O que existiu foi um consenso de idias gerais entre a burguesias, formuladas pelos filsofos e economistas sintetizadas no liberalismo clssico e difundidas pela maonaria e associaes informais;77 A revoluo teria ocorrido sem os filsofos, mas eles constituram a diferena entre um simples colapso de um velho regime e a sua substituio rpida e efetiva por um novo;77 A Declarao dos Direitos do homem e do cidado de 1789 reflete as exigncias burguesas, contrape-se contra a sociedade hierrquica de privilgios nobres, mas no um manifesto a favor de uma sociedade democrtica e igualitria. E a assemblia representativa que ela vislumbrava como o rgo fundamental de governo no era necessariamente uma assemblia democraticamente eleita, nem o regime nela implcito pretendia eliminar os reis. Uma monarquia constitucional baseada em uma oligarquia possuidora de terras era mais adequada a maioria dos liberais burgueses do que a repblica democrtica que poderia ter parecido uma expresso mais lgica de suas aspiraes tericas, embora alguns tambm advogassem esta causa; Mas uma concepo fortemente revolucionria foi a identificao do povo como nao . No existia mais um rei da Frana, mas sim um rei dos franceses. Sem dvida, a nao francesa no concebeu inicialmente que seus interesses pudessem se chocar com os de outros povos, mas, pelo contrrio, via a si mesma como inauguradora ou participante de um

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movimento de libertao geral dos povos contra a tirania. Mas de fato a rivalidade nacional (por exemplo, com os comerciantes ingleses) e a subordinao de outros povos estavam implcitas no nacionalismo ao qual a burguesia de 1789 deu sua primeira expresso oficial;78 O terceiro estado (95%) tinha lutado para conseguir uma representao igual a da nobreza e do clero juntos. Agora eles lutavam para que o voto fosse individual e no por estados; Quando o terceiro estado declarou-se em assemblia nacional com o direito de reformar a constituio, o absolutismo vacilava, conforme Mirabeau, um brilhante e desacreditado exnobre, disse ao rei: Majestade, vs sois um estranho nesta assemblia e no tendes o direito de se pronunciar aqui.

[Voltaire(didtico). Mirabeau: Quanto a Mirabeau, mais tarde confirmaram-se uma srie de suspeitas nas quais ele teria se vendido aos interesses da Corte. Marat, num artigo premonitrio no seu jornal O Amigo do Povo, em maio de 1790, dissera dele: "reduzido prostituio para viver (em certa poca da sua vida, Mirabeau ganhara uns trocados escrevendo literatura licenciosa), ele vender a sua conscincia ao o que oferecer mais. Que se pode esperar de um homem sem princpios, sem costumes, sem honra? Alma dos gangrenados, dos conjurados e dos conspiradores".] [BARSA. Mirabeau: O conde de Mirabeau usou seus dotes de poltico, escritor e orador admirvel para desempenhar o papel de moderador ante as tendncias extremistas na revoluo francesa, mas morreu antes de conseguir implantar a monarquia constitucional que almejava. Rejeitado pelo pai, pela esposa e pela sociedade, levou vida errante e empregou-se como redator e agente secreto. em 1791, foi eleito presidente da Assemblia Nacional, apesar da oposio da extrema esquerda. Pretendeu conciliar a manuteno de alguns privilgios da nobreza com as demandas populares num projeto de monarquia constitucional. Morreu em 2 de abril de 1791. Foi sepultado com todas as honras de um heri nacional.]O terceiro estado obteve sucesso porque representava no apenas as opinies de uma minoria militante e instruda, mas tambm foras bem mais poderosas: os trabalhadores pobres das cidades, e especialmente de Paris, e em suma, tambm o campesinato revolucionrio. O que transformou uma limitada agitao reformista em uma revoluo foi o fato de que a conclamao dos Estados Gerais coincidiu com uma profunda crise scio-econmica. M safra em 1788 e 1789 e um inverno muito difcil tornaram aguda a crise; A Bastilha era uma priso estatal que simbolizava a autoridade real e onde os revolucionrios esperavam encontrar armas. Em tempos de revoluo, nada mais poderoso do que a queda de smbolos.79 As revolues camponesas so movimentos vastos, disformes, annimos, mas irresistveis. O que transformou uma epidemia de inquietao camponesa em uma convulso irreversvel foi a combinao dos levantes das cidades provincianas com uma onda de pnico de massa, que se espalhou de forma obscura mais rapidamente por grandes regies do pas: o chamado Grande Medo, de fins de Julho e princpio de Agosto de 1789; Trs semanas aps o 14 de Julho, a estrutura social do feudalismo rural francs e a mquina estatal da Frana real ruam em pedaos. Os privilgios feudais foram oficialmente abolidos embora, quando a situao poltica se acalmou, foi fixado um preo rgido para o abandono dos privilgios. O feudalismo, de fato, foi finalmente abolido em 1793; Setores revolucionrios da classe mdia, amedrontados com o levante social comearam

ento a pensar que era hora do conservadorismo;80 Ento ai inicia-se uma mecnica que marcou todas as revolues burguesas que se seguiram: 1- classe mdia moderada mobilizando as massas contra os grupos conservadores; 2- As massas passando dos objetivos da classe mdia moderada, rumo as suas prprias revolues sociais; 3-Moderados se dividindo em dois grupos antagnicos: - um aproximando-se dos conservadores para conter as massas.; - E outro de esquerda para tentar completar os ideais perseguidos inicialmente pelos moderados e no alcanados, com o auxlio das massas, mesmo com o risco de perder o controle sobre elas. 4 - E assim por diante, com os moderados sucessivamente se dividindo, at que o grosso da classe mdia ligue-se ao grupo reacionrio (hiptese predominante), ou esse seja derrotado pela revoluo popular. 80 No sculo XIX, vemos de modo crescente (notadamente na Alemanha) como os liberais moderados tornaram-se relutantes em comear uma revoluo, preferindo um compromisso com o rei e a aristocracia; A peculiaridade da Revoluo Francesa que uma faco da classe mdia liberal estava pronta a continuar revolucionria at o, e mesmo alm do, limiar da revoluo antiburguesa: eram os jacobinos ;81 Os liberais posteriores tornaram-se ainda mais receosos das massas, pois carregavam a memria dos extremos da revoluo francesa;81 Os jacobinos podiam sustentar seu radicalismo porque ainda no havia uma classe que pudesse fornecer uma soluo alternativa para a soluo social, a qual apenas surgiria com a revoluo industrial, com o proletariado, ou, mais precisamente, com as ideologias baseadas nele;81 A nica alternativa real na poca para o radicalismo burgus eram os sansculotes, um movimento disforme, sobretudo urbano, de trabalhadores pobres, pequenos artesos e empresrios, lojistas, etc. Atravs de jornalistas como Marat, eles tambm formularam uma poltica, por trs da qual estava um ideal social contraditrio e vagamente definido, que combinava respeito a pequena propriedade, com hostilidade aos ricos, direitos aos pobres, uma democracia extremada, de igualdade e liberdade, localizada e direta;81 Na verdade os sanscullotes expressavam uma universal categoria poltica que defendia o interesse da massa de pequenos homens que fica em uma posio intermediria entre a burguesia e o proletariado, freqentemente mais prximo deste porque so pobres;81 Mas seu ideal de pequenos fazendeiros e artfices no perturbados por banqueiros e milionrios era irrealizvel; Entre 1789 e 1791, a burguesia moderada vitoriosa, atravs da Assemblia constituinte, tomou providencias para a racionalizao da Frana, a maioria dos empreendimentos duradouros da revoluo datam desse perodo. Suas perspectivas eram inteiramente liberais, relegando as massas populares, a nica medida popular foi a venda das terras da igreja (e da nobreza emigrada) A constituio de 1791: - rechaou a democracia; - monarquia constitucional; - voto censitrio(cidados ativos);82 A partir da tentativa de fuga do rei, o republicanismo tornou-se um movimento de massas; O aumento do preo do po foi acompanhado da agitao e militncia das massas; Cerca de 300 mil membros do clero e nobreza haviam emigrado e trabalhavam para instigar as outras monarquias contra a revoluo. A guerra levou a uma segunda revoluo em 1792. 4 meses aps ter sido declarada, a monarquia foi derrubada, a repblica estabelecida ( primeira repblica, segunda em 1848) e uma nova era da histria humana proclamada, com a instituio do ano I do calendrio revolucionrio, pela ao armada das massas sansculottes em Paris;83 Havia entre os revolucionrios, moderados e extremistas, uma paixo generosa e

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genuinamente exaltada em difundir a liberdade aos outros pases; A Guerra revolucionria de 1792-4 foi um episdio excepcional. Somente mtodos revolucionrios sem precedentes poderiam vencer uma guerra dessas. No decorrer da crise, a jovem repblica francesa descobriu a guerra total: a total mobilizao dos recursos para uma economia de guerra, a virtual abolio da distino entre soldados e civis;85 A repblica jacobina e o Terror de 1793-4 somente fazem sentido nos termos de um moderno esforo de guerra total; A expanso da guerra, principalmente quando ela ia mal, somente fortaleceu a esquerda, a nica que poderia venc-la. Um rpido golpe dos sansculotes derrubou a Gironda em Junho de 1793;86 As imagens, reforadas pelos conservadores, que se tem normalmente, quando se pensa na Revoluo Francesa, referem-se da ditadura e da histrica sanguinolncia do terror jacobino e seus lderes radicais. Os prprios nomes dos revolucionrios moderados que surgiram entre Mirabeau e Lafayette(1789) e os lderes Jacobinos(1793) desapareceram da memria geral. Mas pelos padres do sculo XX, e mesmo pelos padres das represses conservadoras contra as revolues sociais, tais como os massacres que se seguiram a Comuna de Paris de 1871, suas matanas em massa foram relativamente modestas (17 mil execues oficiais em 14 meses); Em Junho de 1793, 60 do 80 departamentos franceses estavam em revolta contra Paris. O exrcito alemo invadia o Norte e o Leste; os britnicos pelo Sul e pelo Oeste, o pas achava-se desamparado e falido. Mas ainda assim a Repblica Jacobina conseguiu o empreendimento sobrehumano de preservar o pas. 14 meses mais tarde, os invasores haviam sido expulsos e a moeda francesa encontrava-se razoavelmente estvel, em contraste com o passado e o futuro. Para estes homens somente havia duas opes: ou o Terror, ou a destruio da revoluo, e talvez at como havia acontecido com a Polnia, o desaparecimento do pas; A queda de Robespierre levou a uma epidemia de descontrole econmico, fraudes e corrupo que incidentalmente culminou numa inflao galopante e na bancarrota nacional de 1797; Os jacobinos: - Aboliram sem indenizao os direitos feudais remanescentes; - aumentaram a possibilidade do pequeno comprador comprar as terras confiscadas dos emigrantes; - aboliram a escravido nas colnias francesas; - aprovaram a primeira constituio genuinamente democrtica, todavia acadmica, de um estado moderno: sufrgio universal, trabalho ou subsistncia;87 O estabelecimento de um macio grupo de pequenos e mdios proprietrios camponeses e pequenos artesos e lojistas durante a Revoluo, retardou a transformao capitalista da agricultura e da pequena empresa, a condio essencial para um rpido desenvolvimento econmico, retardando tambm a urbanizao e a expanso do mercado domstico;88 O jovem Saint-Just no foi tambm um grande homem, e sim muitas vezes limitado. Mas o nico indivduo da Revoluo sobre o qual se desenvolveu um culto (com exceo de Napoleo); O regime jacobino era uma aliana entre a classe mdia e as massas trabalhadoras, mas voltado para a classe mdia. Por fim, as necessidades econmicas da guerra afastaram o apoio popular: Nas cidades, o controle de preos e o racionamento beneficiavam as massas, mas o correspondente congelamento dos salrios as prejudicava. No campo, o confisco sistemticos de alimentos afastou os camponeses;89 Por volta de Abril de 1794, tanto a direita quanto a esquerda(Hebertistas) tinham ido para a guilhotina, e os seguidores de Robespierre estavam portanto politicamente isolados, somente a crise de guerra os mantinha no poder, em Julho de 1794, um ms aps a vitoria sobre a ustria, ocorre o golpe nono Termidor, e no dia seguinte, Robespierre, Saint Just e seus companheiros so executados;90 As rpidas alternncias de regime que se seguiram: - Diretrio(1795-9); - consulado(1799-1804); - Imprio(1804-14);

- a restaurada monarquia bourbon(1815-30); - monarquia constitucional de Lus Felipe(1830-1848); Repblica(1848-51); - imprio(1852-70) Foram todas tentativas para se manter uma sociedade burguesa evitando ao mesmo tempo o duplo perigo da repblica democrtica jacobina e do velho regime;91 O exrcito napolenico( herana agora profissionalizada do exrcito revolucionrio jacobino, com todo seu impulso nacionalista) era marcado por uma coragem ofensiva ilimitada, mas seus comandantes, com exceo de Napoleo e pouqussimos outros, eram pobres(em geral os oficiais de Napoleo eram pessoas que haviam sido promovidos mais pela bravura que pela inteligncia, aproximando-se da imbecilidade). Mas o exrcito tornou-se uma carreira como qualquer outra aberta com a Revoluo burguesa, e os que neles tiveram sucesso interessavam-se na estabilidade interna. Foi o que fez do exrcito, apesar do jacobinismo embutido, em um dos pilares do governo Termidoriano, e de sue lder Bonaparte a pessoa ideal para concluir a revoluo burguesa;92 Em pouco tempo, Napoleo, que havia apoiado firmemente a ditadura jacobina, conseguiu estabilizar a situao na Frana: cdigo civil, concordata com a Igreja e banco nacional;93 Seu mito no pode ser adequadamente explicado nem por suas vitrias, nem por sua propaganda e tampouco por seu gnio indubitvel; Pois o mito de Napoleo se explica menos nos seus mritos do que nos fatos de sua carreira, sem paralelo: - Origem humilde, contrrio dos outros homens que abalaram o mundo, ascendeu pelo seu talento pessoal.(isto no foi estritamente verdadeiro), tornando-se um modelo para todos que queriam ascender; - Foi ainda um homem civilizado, racionalista, mas tambm discpulo de Rousseau o suficiente para ser tambm um homem romntico do sculo XIX; - O homem que trouxe estabilidade para a revoluo e estabeleceu ou restabeleceu os mecanismos das instituies francesas como existem at hoje: - Cdigo napolenico virou modelo para todo o mundo burgus, exceto o anglo-saxo; - A hierarquia dos funcionrios; - o exrcito, o funcionalismo pblico, a educao e o direito ainda tm formas napolenicas; Talvez todas suas idias j haviam sido idealizadas no Diretrio ou pela revoluo, sua contribuio foi faz-las um pouco mais conservadoras, hierrquicas e autoritrias, mas os seus predecessores apenas as previram, ele conseguiu realiz-las; Napoleo trouxe estabilidade e prosperidade para todos, exceto para os 250 mil que morreram nas guerras, mas aos seus parentes trouxe a glria; Em 1815 a maioria dos ingleses era mais pobre do que fora em 1800, enquanto a maioria dos franceses era quase certamente mais rica, embora a guerra civil da dcada de 1790 tenha provocado um significativo retrocesso econmico. Mas a eliminao temporria dos seus rivais e o virtual monoplio do mercado colonial tornaram possvel a Gr-Bretanha tornar-se a oficina do mundo durante duas geraes Napoleo destrura apenas uma coisa: A Revoluo Jacobina, o sonho de igualdade, liberdade e fraternidade, do povo se erguendo na sua grandiosidade para derrubar a opresso. Este foi um mito mais poderoso do que o dele, pois, aps sua queda, foi isto e no a sua memria que inspirou as revolues do sculo XIX, inclusive no seu prprio pas;94 4 - A GUERRA De 1792 a 1815, houve guerra quase que ininterrupta na Europa;95 Os EUA eram o nico pas com simpatias a ideologia da revoluo francesa, mas tenderam a neutralidade. De resto, os aliados ideolgicos da Frana eram grupos dentro de outros estados e no poderes estatais. Em geral em toda a Europa (inclusive Inglaterra),

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praticamente todas as pessoas instrudas, esclarecidas e de talento simpatizavam com a revoluo, pelo menos at a ditadura jacobina, e muitas vezes bem depois dela;96 Em termos amplos, portanto, o valor militar do filo-jacobinismo estrangeiro foi principalmente o de um auxlio para a conquista francesa e uma fonte de administradores politicamente confiveis para os territrios conquistados. Mas em compensao grupos revolucionrios mobilizaram-se espontaneamente contra as tropas francesas; Nenhuma rea fora das fronteiras da prpria Frana manteve um governo jacobino por um momento sequer aps a derrota ou retirada das tropas francesas; A hostilidade francesa a Gr-Bretanha era um pouco mais complexa, mas a ascenso de uma burguesia com a revoluo intensificou o desejo de uma vitria final. O nico breve perodo de paz entre os dois foi entre1802-3. As outras potncias antifrancesas no estavam engajadas em um tipo de luta to assassina. A ustria era a principal rival, pois se somavam laos familiares com os Bourbons e a ameaa francesa em sua rea de influncia na Itlia e Alemanha (prncipes germnicos apoiaram Napoleo contra a ustria). Rssia foi intermitentemente antifrancesa. A Prssia ao mesmo tempo simpatizava com o grupo contra-revolucionrio, relutava em se aproximar da ustria, alm de ter interesses na Alemanha e Polnia, beneficiando-se de uma iniciativa francesa; Mesmo levando em conta as divises do lado antifrancs e o potencial de aliados que os franceses poderiam atrair, no papel as coalizes antifrancesas eram invariavelmente mais fortes, pelo menos no incio; Para todos os fins prticos, a lista de batalhas terrestres entre 1794 e 1812 uma lista de triunfos franceses praticamente ininterruptos; Tecnicamente os velhos exrcitos eram mais bem treinados e disciplinados, e onde estas qualidades eram decisivas, como na guerra naval, os franceses foram sensivelmente inferiores. Mas no que tange a organizao improvisada, mobilidade, flexibilidade e acima de tudo pura coragem ofensiva e moral de luta, os franceses no tinham rivais, e isso mesmo antes de Napoleo;104 Durante esse perodo de guerras, as fronteiras polticas da Europa foram redesenhadas vrias vezes. Em termos de geografia poltica, a revoluo francesa ps fim a Idade Mdia (enclaves estrangeiros que se achavam enraizados em alguns territrios de certos estados foram suprimidos). O mapa italiano e alemo foram significativamente racionalizados, mantendo-se divididos, mas agora em um nmero de territrios muito menor, diminuindo a fragmentao; Fora da Europa, a conseqncia foi a total anexao britnica das colnias de outros povos, assim como dos movimentos de libertao colonial inspirados pela revoluo Francesa (So Domingos); Igualmente importantes foram as mudanas institucionais introduzidas direta ou indiretamente pela conquista francesa. Uma parte considervel da Europa foi governada diretamente pela Frana e as instituies da Revoluo Francesa e do Imprio napolenico foram introduzidas: o feudalismo foi formalmente abolido, os cdigos legais franceses foram aplicados. Estas mudanas tiveram uma fora de continuidade muito maior do que as alteraes de fronteiras, onde o feudalismo foi abolido, no mais se restabeleceu;108 Nenhum estado europeu ao Sul da Escandinvia e a Oeste da Rssia emergiu dessas duas dcadas de guerras com suas instituies inteiramente inalteradas;108 Mas as alteraes de fronteiras e instituies tiveram um efeito menor do que a mudana da atmosfera poltica. Depois da Revoluo francesa, sabia-se que as naes existiam independentemente dos Estados, e os povos, independentemente dos governantes, sabia-se que a revoluo social era possvel e que a partir de ento era mais difcil dominar o povo. A revoluo de um pas podia transformar-se em um fenmeno europeu;109 Nas guerras de 1792-1815, nem mesmo na pennsula Ibrica, onde a selvageria foi maior, houve tanta devastao (apesar de seu custo financeiro ter sido demasiadamente alto) como na Europa central e oriental durante a Guerra dos 30 anos, ou na Sucia e Polnia no incio do sculo XVIII; Papel moeda era raro antes do final do sculo XVIII;112 Depois da bancarrota de 1797, os franceses tornaram-se preconceituosos em relao

a qualquer cdula por mais de 50 anos, j entre os britnicos havia mais confiana, apesar de que em 1817 a libra ter se desvalorizado em torno de 30 %, mas posteriormente revalorizouse;113 5 - A PAZ Aps os 20 anos de guerra, os governantes tomaram conscincia que mais um perodo assim poderia por fim aos velhos regimes. Tanto que, apesar de um perodo de rebelies e tenso, no houve nem um conflito entre mais de duas potncias de 1815 at 1914, exceto em 1854-6 a Guerra da Crimia, Ucrnia,(Rssia x Inglaterra, Frana, Turquia e Piemonte, em virtude da disputa por santos lugares entre ortodoxos, apoiados pelos russos, e catlicos), resultado ainda da Questo Oriental ( explosivos problemas internacionais aps as guerras napolenicas, relacionados s disputas entre ingleses e russos aliados com os ortodoxos, mas que acima de tudo almejavam uma sada para o Mediterrneo - desde 1820 para dominar o imprio turco que se dissolvia); Para manter a paz no se tentou aproveitar da derrota francesa, que saiu com um territrio ainda um pouco maior que de 1789, os Bourbons foram reconduzidos, mas as principais mudanas da revoluo foram mantidas, inclusive a constituio;119 O mapa da Europa foi redelineado tendo em vista o equilbrio das 5 grandes potncias: Rssia, Gr-Bretanha, Frana, ustria e Prssica, esses dois ltimos eram reconhecidamente muito mais fracos. A Prssia foi a que mais lucrou, devido s disputas entre a Rssia e GrBretanha e busca do equilbrio, e se tornou pela primeira vez uma grande potncia europia em termos de recursos reais;121 Fome de 1816-7 e depresses dos negcios mantiveram um vivo, mas injustificvel temor de revoluo social em toda parte;121 Para manter a paz, as potncias decidiram realizar congressos regulares, mas, no primeiro ataque de instabilidade e insurreio em 1820, as divergncias entre os interesses das potncias ficaram patentes, somente a ustria agarrou-se ao princpio de que todos estes movimentos deveriam ser imediata e automaticamente suprimidos em nome dos interesses da ordem social; Se algo protegeu a independncia dos latino-americanos foi a marinha britnica, no a doutrina Monroe de 1823; A expanso britnica conscientizou-se agora que economicamente era mais interessante a explorao das regies sem os custos de uma ocupao direta, exceo feita ndia. Ela era chave para a abertura do extremo oriente, para o trfico de drogas e outras atividades lucrativas. Assim, a China foi aberta na Guerra do pio de 1839-42; Uma clusula do acordo de paz internacional desse perodo era a abolio do trfico de escravos, por razes econmicas e humanitrias. Do ponto de vista ingls, principais defensores, a economia no dependia mais da venda de homens e acar; Os britnicos aboliram a escravido em suas colnias em 1834; Os franceses no a aboliram a escravido oficialmente at a revoluo de 1848;126 6 - AS REVOLUES Nunca o revolucionarismo foi to endmico e contagiante como no ps-1815, durante esse perodo o objetivo supremo de todas as potncias europias era evitar uma segunda revoluo francesa, ou ainda a catstrofe pior de uma revoluo europia generalizada; A Escandinvia e a Holanda apesar de pertencerem a zona no absolutista passaram um perodo de relativa tranqilidade fora dos dramticos acontecimentos que se desenrolaram no resto da Europa;136(revisar o livro) 3 ondas revolucionrias no mundo ocidental de 1815-1848: 1 onda revolucionria(1820-4): - Limitada ao Mediterrneo; - Epicentro: Espanha, Npoles, Grcia, nica no sufocada; Em 1822, a Amrica espanhola estava livre, San Martin, um homem moderado, de

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grande viso e rara abnegao pessoal, deixou a tarefa a Bolvar e ao republicanismo e retirou-se para a Europa;128 2 onda revolucionria (1829-34): - Marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burgus na Europa Ocidental(apenas), - A classe governante nos prximos 50 anos seria a grande burguesia, aceita pela aristocracia que se apagou, mas ainda sem sufrgio universal; - Embora molestada por agitaes externas causadas por negociantes insatisfeitos ou de menor importncia, pela pequena burguesia e pelos primeiros movimentos trabalhistas; (revisar no livro) - Na Gr-Bretanha, Frana e Blgica, instituies liberais antidemocrticas. Contudo nos EUA a democracia, imposta durante o governo de Andrew Jackson(1829-37), aps 50 anos de hesitao e hostilidade, chama a ateno dos liberais da Europa para essa espantosa inovao;129 - Mas 1830 determina o aparecimento da classe operaria como uma fora poltica independente na Gr-Bretanha, com grande mobilizao, e na Frana(embora at 1848 sejam movimentos isolados, sem domnio sobre as massas), e dos movimentos nacionalistas em grande nmero de pases da Europa; - De todas as datas entre 1789 e 1848, o ano de 1830 o mais notvel, por trs destas grandes mudanas polticas estavam grande mudanas econmicas e sociais. 1830 determina o incio daquelas dcadas de crise no desenvolvimento da nova sociedade que se concluem com a derrota das revolues de 1848, e do gigantesco salto econmico depois de 1851; - Grandes mudanas nas artes, ideologia, industrializao, urbanizao, migraes, etc. - Toda Europa e EUA; - Frana, queda dos Bourbons estimula outras insurreies; - Blgica conquista independncia da Holanda; - Polnia, Alemanha e Itlia agitam-se; - Prevalece o liberalismo na Sua, pas bem menos pacfico naquela poca; - Guerras endmicas na Espanha e em Portugal; - Na Irlanda(nica vez que acontecimentos europeus foram acompanhados na Gr-Bretanha) garantiu-se a Emancipao Catlica(direito dos catlicos de participarem do parlamento), independncia de fato apenas em 1921. Alm de o governo britnico punir com selvageria um tumulto de quebra de mquinas que rapidamente se espalhou entre esfomeados do campo; 3 onda revolucionria(1848), a maior : - produto da crise iniciada em 1830; - Nunca houve nada to prximo da revoluo mundial com que sonhavam os insurretos do que esta conflagrao espontnea e geral na Europa; - 1789 foi o levante de uma nao, agora parecia a primavera dos povos de todo um continente;130 Ao contrrio das revolues do final do sculo XVIII, as do perodo ps-napolenico foram intencionais ou mesmo planejadas, pois j tinham o conjunto de modelos da Revoluo Francesa; A histria de 1815 a 1848 a histria da desintegrao da frente unida, que reunia todos os que tinham dio pelos regimes de 1815 e a monarquia absolutista, a Igreja e a aristocracia. Essa frente correspondia a trs tendncias: o liberal moderado(classe mdia superior e a aristocracia liberal), o democrata radical(classe mdia inferior e pequena nobreza) e a socialista,131 Durante o perodo da Restaurao(1815-30), no existiam socialistas ou revolucionrios conscientes, os dissidentes, quer fossem bonapartistas, moderados ou radicais, mal podiam ser diferenciados; Exceto na Gr-Bretanha, onde a tendncia proletria independente na poltica e na ideologia surgiu com o coopertivismo de Roberto Owen por volta de 1830(mas ainda no era

dominante) : - comeou de forma impressionante por volta de 1830 atraindo o grosso dos militantes da classe operria para suas doutrinas(que j vinham sendo difundidas desde 1820) - desejavam criar sindicatos gerais nacionais; - tentaram at estabelecer uma economia geral cooperativista s margens do capitalismo; - As ofensivas sistemticas dos empregadores e do governo destruram o movimento por volta de 1835; Mas o clmax do movimento de massa revolucionrio da Gr-Bretanha foi a Carta do povo que atingiu o clmax por volta de 1840, mas seu paradoxo era que ele era ideologicamente mais atrasado, embora politicamente mais amadurecido que o coopertivismo de Owen, em substncia, esse programa era compatvel com o radicalismo de reformadores da classe mdia com Betham e James Mill , ao basear suas reivindicaes em: - sufrgio universal; - voto secreto; - direito de representao parlamentar;132 - Mas, ao contrrio do continente, j era um movimento eminentemente da classe trabalhadora e preferiam ouvir o programa de pessoas que falavam a mesma lngua como Tom Paine;132 (Thomas Paine foi quem redigiu o panfleto do common sense antes da independncia dos EUA); - consideravam os liberais seus provveis traidores e os capitalistas seus inimigos; - Mas apesar de vasto, no conseguiu perturbar a ordem pblica( o governo britnico sofreu um pnico momentneo apenas em uma onda de quebra de mquinas por camponeses esfomeados em 1830); - Fracassou pela falta de habilidade para ao nacional e pela diviso, exceto para fazer grades peties; Fora da Gr-Bretanha, com algumas excees, a oposio poltica no continente estava limitada a um minsculo grupo de ricos e pessoas cultas. Os pobres que estavam conscientemente na esquerda aceitavam os slogans revolucionrios da classe mdia, ainda que da ala mais radical democrata prxima ao jacobinismo.;132 Enfim, durante o perodo da restaurao (1815-30), em toda Europa (exceto GrBretanha, onde j havia uma poltica de massa), as perspectivas polticas dos oposicionistas, e os mtodos para alcanar a revoluo eram quase os mesmos. Todos eles viam-se em luta contra um nico inimigo, a unio dos prncipes absolutistas. Todos tambm tendiam a adotar o mesmo tipo de organizao: as irmandades insurrecionais que floresceram no final do perodo napolenico, copiadas dos modelos manicos, como os carbonari; o que caracterizava a tendncia restritiva, dominada por uma elite revolucionria, com o povo afastado da preparao;133 Insurreies do tipo carbonrio ocorreram em 1820-1. Fracassaram totalmente na Frana, pois no tinham a nica alavanca eficaz de insurreio, um exrcito descontente. O exrcito francs, naquela poca e durante todo o sculo XIX, era uma parte do funcionalismo pblico, o que quer dizer que ele cumpria as ordens de qualquer que fosse o governo oficial;134 As revolues de 1830 mudaram a situao inteiramente. Como vimos, elas foram os primeiros produtos de um perodo geral de aguda e disseminada intranqilidade econmica e social e de rpidas mudanas. Marcaram-se devido: - Revolues de massa, como 1789, voltaram a tornar-se possveis, diminuindo a dependncia das irmandades(Bourbons so derrubados devido crise poltica e econmica, Paris permanentemente agitada, as barricadas tornaram-se os smbolos da insurreio popular em 1830, em 1789-94 no tiveram papel importante ); - o povo que se rebelava podia cada vez mais ser identificado com os proletrios, comeando a existir o movimento revolucionrio proletrio-socialista apesar de incipiente e fraco,

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Na Frana de 1830-48, no existia nenhum movimento significativo de massa dos trabalhadores pobres da indstria. Os vrios ramos do novo socialismo utpico(seguidores de Saint-simon, Fourier, etc.)no estavam interessados em agitao poltica, apesar de terem mobilizado ao de massa no incio das revolues de 1848;135 - Na Frana, as tendncia vindas do jacobinos e de Babeuf depois de 1830 tornaram-se comunistas, seu principal lder foi Blanqui, mas era fraco como o prprio operariado e incapaz de um movimento de massa, freqentemente fracassando como no levante de 1839;140 - Revolues de 1830 separaram os moderados(classe mdia superior) dos radicais(classe mdia inferior), dividindo o movimento no somente em vrios segmentos sociais mas tambm nacionais; - Incio da diviso entre os inimigos dos aliados do rei e da aristocracia, que apenas tomaria uma forma mais clara em 1848, na Gr-Bretanha esta diviso j ocorreu com o cartismo por volta de 1840; - nicas revolues vitoriosas: Frana, Gr-Bretanha e Blgica, triunfo do liberalismo; - Pennsula Ibrica(que distanciou-se das ondas revolucionrias, em face de suas endmicas guerras civis) e Sua: o liberalismo no triunfou completamente, oscilando com o conservadorismo; - Manteve-se o conservadorismo de antes de 1830 na Itlia e Alemanha, devido interveno austraca, e na Polnia, devido interveno russa; - No Oeste da Europa os liberais moderados, ao alcanarem o poder em 1830 pelos esforos dos radicais, que eram quem lutava nas barricadas, imediatamente os traam(comeando at a perseguir a esquerda radical), marcando o rompimento entre liberais e radicais; - No resto da Europa, nenhuma revoluo venceu. Com a diviso entre os radicais e os moderados e o surgimento de uma nova tendncia social revolucionria, os moderados depositavam suas esperanas em um governo reformista ou no apoio das novas potncias liberais( Na Alemanha alguns moderados olharam para a Prssica, na Itlia olharam para a Savia);137 Os radicais da classe mdia, ainda descontentes com os governos liberais moderados de 1830, dividiram-se ante a ameaa da revoluo social, cujo perigo era considervel devido o descontentamento dos pobres ser visvel em toda Europa. Na Gr-Bretanha os radicais dividiramse acerca do apoio ao movimento cartista e a liga contra a lei do trigo.142 O rompimento entre os radicais da classe mdia com a extrema esquerda ocorreria na Frana somente aps a revoluo de 1848;142 No resto da Europa revolucionria onde a baixa nobreza rural e os intelectuais descontentes eram o centro do radicalismo, o problema com as massas era mais srio. Pois as massas eram o campesinato, e normalmente um campesinato que pertencia a uma nao deferente da de seus senhores. A servido ainda persistia na ustria(1848), Rssia(1861) e Turquia, o que tornava necessrio concesses para atrair as massas. A situao tornava-se ainda mais delicada em razo dos camponeses tradicionalistas confiarem mais nos imperadores e nas Igrejas que nos prprios senhores de terra;143 Havia ainda uma extrema esquerda que concebia francamente a luta revolucionria de massas contra os governos estrangeiros e os exploradores domsticos, mas essa corrente era relativamente fraca; Os radicais da Europa subdesenvolvida, portanto, nunca resolveram eficazmente o seu problema, em parte em razo da relutncia dos que os apoiavam em fazer adequadas concesses ao campesinato, em parte por causa da imaturidade poltica dos camponeses. Na Itlia , nas revolues de 1848 a populao camponesa ficou inativa. E na maior parte da Europa oriental os camponeses subjugaram os revolucionrios magiares(hngaros) e alemes;144 O internacionalismo unificado a que aspiravam os revolucionrios durante a restaurao foi despedaado(em 1848 as naes sublevaram-se separadamente) em razo de: - Perda da confiana na Frana como a libertadora internacional; - Ao crescente nacionalismo na dcada de 1830;

- conscincia das diferenas nos aspectos revolucionrios em cada pas; - Uma onda nacionalista que se encaixava no romantismo que tomou grande parte da esquerda aps 1830 manifesta-se nos movimentos: Jovem Itlia, Jovem Alemanha, Jovem Polnia, etc.:138 - As revolues de 1848 ocorreram separadamente de forma espontnea, mas o estimulo ainda veio da Frana; Todavia, embora agora divididos pelas nacionalidades e as classes, os movimentos revolucionrios entre 1830-48 continuaram tendo muito em comum, continuaram : - Mantendo um padro comum de procedimento poltico; - com um forte sentido internacionalista; - Predominncia de organizaes de classe mdia e intelectuais(quando elas estouravam o povo comum vinha a cena por si mesmo). Isto devido a: - falta de tradio de organizao de massas; - falta de jornais de grande circulao(exceto na Inglaterra); - em pases como a Frana e a Blgica organizaes de massa eram ilegais; Chegaria o momento, na Gr-Bretanha j havia chegado com o cartismo, em que os antigos aliados contra o rei e a aristocracia voltariam-se uns contra os outros, e conflito fundamental seria entre burgueses e trabalhadores. Mas antes de 1848 este momento ainda no tinha chegado em nenhum outro lugar. Mesmo os mais conscientes comunistas proletrios normalmente consideravam o empreendimento da repblica democrtico-burguesa a preliminar para o avano posterior do socialismo. O manifesto comunista de Marx e Engels uma declarao de guerra futura contra a burguesia mas - ao menos para a Alemanha - de aliana presente; A esquerda em geral na Europa partilhava uma viso comum de como seria a revoluo, inspirando-se nas revolues de 1789 e 1830: - Crise nos estados leva a insurreio; - atravs de barricadas toma-se as capitais; - Organizaria-se uma guarda nacional; - eleies democrticas par uma assemblia constituinte; - novo governo daria auxlio fraterno para as outras revolues, no resto da Europa; Entre os movimentos nacionalistas este internacionalismo tendeu a decrescer em importncia, medida que se conseguia a independncia; Mas entre os movimentos revolucionrios que aceitavam cada vez mais a orientao proletria, o internacionalismo aumentou sua fora. A internacional viria a se transformar em parte integrante dos movimentos socialistas j para o final do sculo;148 Exlio de militantes de esquerda aumentou o internacionalismo entre 1830-48. Poucas zonas de refgio: Frana, Sua, Gr-Bretanha e a Blgica. Garibaldi lutou pela liberdade de vrios pases latino-americanos; Nesses refgios, os exilados que nem sempre se aprovavam, mas se conheciam e sabiam que seu destino era o mesmo, preparavam-se e esperavam a revoluo europia, que veio - e fracassou - em 1848;149 7 - O NACIONALISMO Aps a Revoluo Francesa, acreditava-se que a Frana seria o motor da libertao do mundo. Confiava-se que de Paris irradiaria o movimento revolucionrio, confiar em uma Itlia ou Polnia, somente seria possvel para os italianos ou para os poloneses;152 Em 1830, iniciam-se movimentos nacionalistas independentes, simbolizados pelos movimentos jovens, inspirados por Giuseppe Mazzini: Jovem Itlia, Jovem Polnia, Jovem Alemanha, Jovem Frana e jovem Irlanda, ( apesar de sua importncia ser mais simblica, um marco, do que real);151 Contudo ainda eram muito semelhantes, at as bandeiras normalmente eram tricolores. E ainda tendiam a uma fraternidade entre si, justificando sua preocupao primordial com sua prpria nao, com a identificao dela como um messias de todos;152

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Esse nacionalismo em parte refletia o surgimento de uma classe mdia e o descontentamento dos pequenos proprietrios(Polnia e Hungria, nacionalismo contra dominao da Rssia e da ustria, devido a desejo de ocupar cargos, grandes proprietrios estavam ligados a Rssia e a ustria);152 Quase somente na Blgica os interesses empresariais(contra o domnio holands) foram o fator fundamental para o nacionalismo;154 O nacionalismo nessa poca fortalecia-se com o desenvolvimento educacional da classe mdia, foi o progresso(surpreendente, apesar de restrito a uma minoria) das escolas e universidades que dimensionou o nacionalismo.;154 A formao de um mercado unificado na Alemanha e Itlia era logicamente vantajoso para o comrcio, a unio aduaneira deu um senso de unidade nacional na Alemanha. Mas os armadores de Gnova(mais tarde principal apoio financeiro de Garibaldi) estavam mais interessados no mercado geral do Mediterrneo; A proeminncia revolucionria dos estudantes no perodo de 1848 torna difcil lembrar que em toda a Europa havia apenas 40 mil universitrios, apesar do nmero estar aumentando(em 1789, havia cerca de 6 mil estudantes na Universidade de Paris, que no tiveram papel independente na revoluo);154 Depois de 1830, publicaes em lngua nacional tenderam a aumentar(hngaro, alemo, romeno);155 Gr-Bretanha, Frana e Blgica tinham cerca de 50% de analfabetos em 1840, Portugal, Espanha e Itlia(exceto Piemonte e Lombardia) quase toda analfabeta; Mais alfabetizados eram EUA, Holanda, Escandinvia e Sua;155 Para as massas em geral a nacionalidade estava ligada a religio, o povo normalmente nem falava o idioma nacional e sim dialetos, quase incompreensveis. Alm disso o fato de o nacionalismo era representado pela classe mdia e pela pequena nobreza era suficiente para fazer o pobre ficar desconfiado;156 O desenraizamento(emigraes especialmente para os EUA), que toma fora depois da dcada de 1830, talvez seja o mais importante fenmeno do sculo XIX;156 Fora do moderno mundo burgus houve, entretanto, movimentos de revolta popular contra o domnio estrangeiro(i.e. Normalmente entendido como significando o domnio de uma religio diferente em vez de uma nacionalidade diferente), que as vezes parecem antecipar os movimentos nacionais posteriores;158 Na Luta de independncia grega(1821-30), foi a primeira vez que a luta dos pastores de ovelhas contra qualquer governo fundiu-se com as idias do nacionalismo da classe mdia e da Revoluo Francesa. Portanto a Grcia se tornou o mito inspirador dos nacionalistas e liberais de todo mundo;159 Fora da Europa, difcil falar de nacionalismo. As revolues latino-americanas foram obra de pequenos grupos de aristocratas, soldados e elites afrancesadas evoludas , deixando a massa passiva da populao branca, catlica e pobre, e dos ndios indiferentes ou hostil;161(revisar o livro) Apenas no Mxico a independncia foi conquistada pela iniciativa de um movimento de massa agrrio, isto , indgena; e por isso o Mxico trilhou um caminho politicamente mais avanado que o resto da Amrica Latina; O nacionalismo na sia, nos pases islmicos e, mais tarde na frica foi desenvolvido por uma classe mdia que, para se desenvolver, foi, paradoxalmente, ocidentalizando-se e afastando-se das massas, apesar da mitologia nacionalista freqentemente tente obscurecer esse divrcio;163 O nacionalismo no Oriente foi portanto um produto, enfim, da influncia e da conquista ocidental. O que fica evidente no pas plenamente oriental que viria a tornar-se o primeiro movimento nacionalista moderno das colnias: o Egito. Napoleo introduziu as idias, os mtodos e as tcnicas ocidentais, que foram reconhecidos por um ambicioso soldado local, Mohammed Ali, o qual iniciou um despotismo eficiente, no sem crueldade, e ocidentalizante com a ajuda tcnica estrangeira(principalmente francesa). Com a construo do Canal de Suez iniciou-se a dependncia fatal dos governantes egpcios a grandes emprstimos negociados por grupos competidores de trapaceiros europeus, que transformaram o Egito em um centro de

rivalidade imperialista e, mais tarde, de rebelio antiimperialista. Foi a ocidentalizao de Mohammed Ali, no suas aspiraes ou as de seu povo, que lanou base para o nacionalismo posterior; O nacionalismo, como tantas outras caractersticas do mundo moderno, filho da revoluo dupla; (TEXTO DO DARNTON)

CONTRADIO ENTRE AMAR A TODOS(OU TODO LUGAR), PARA NO AMAR A NADA. O cosmopolita abrangia a Europa toda em sua viso do mundo, s vezes at mesmo a humanidade toda. O termo podia ser usado pejorativamente, conforme indicado pelo dicionrio da Academia Francesa: "Cosmopolita: algum que no adota nenhuma ptria. Um cosmopolita no um bom cidado". Mesmo a "Encyclopdie" observava que "s vezes se usa esse termo em tom jocoso, para indicar um homem que no tem residncia fixa ou que no estrangeiro em parte nenhuma". Aventureiros como Casanova, Cagliostro e Mesmer conferiram m fama ao termo, pois fizeram grandes viagens nas quais sobreviveram de sua astcia e da credulidade ingnua de suas vtimas. Tendo percorrido a Europa a p, em sua juventude, na companhia desses "chevaliers d'industrie", Rousseau (1712-1778) condenou o cosmopolita, em "O Contrato Social" (1762), como algum que "faz de conta que ama o mundo inteiro para poder ter o direito de no amar ningum". Contrastando com ele nesse ponto, assim como em tantos outros, Voltaire personificava o cosmopolitismo de tipo positivo. Sua manso em Ferney, na fronteira entre Frana e Genebra, era a parada mais grandiosa em toda a grande tour. Ladeado por bustos de Locke e Newton, ele recebia visitantes vindos de todos os pontos do continente -e pelo menos 300 da Gr-Bretanha-, peregrinos seculares com fome de uma refeio ou de um "bon mot", tanto assim que ele se descrevia como "o estalajadeiro da Europa". Ele foi descrito, por outros, como o "rei no coroado da Europa", porque exercia um tipo novo de poder: a capacidade de influenciar a opinio pblica em escala europia. (So Paulo, Folha de so Paulo, 21 de julho de 2002 FRONTEIRAS IMAGINRIAS por Roberto Darnton) ARQUIVO: DARNTON, nacionalismo

Parte II RESULTADOS 8 - A TERRA19

O que acontecia a terra entre 1789 a 1848 determinava a vida ou a morte da maioria dos seres humanos;167 Para a primeira escola de economia, a fisiocracia, a terra era a nica fonte de riqueza, e cuja transformao revolucionria todos concordavam era a pr-condio e conseqncia necessria da sociedade burguesa. Trs mudanas eram necessrias: - A terra tinha que transformar-se em mercadoria; - deveria pertencer a homens com esprito empreendedor, dispostos a desenvolver sua capacidade produtiva; - a massa da populao rural deveria transformar-se em alguma forma de trabalhadores assalariados, com liberdade de movimento, para as necessidades urbanas; Ento fazia-se necessrio quebrar os vnculos e outras proibies de venda ou disperso que se aplicavam as propriedades nobres e, portanto, o proprietrio tinha que estar sujeito a penalidade salutar da bancarrota em caso de incompetncia econmica, o que permitiria os compradores economicamente mais competentes assumir a situao. Ante a resistncia dos camponeses e proprietrios tradicionais a uma adequao ao padro capitalista, uma revoluo poltico-legal dirigida contra os proprietrios e os camponeses tradicionais era necessrio;170 Nos pases catlicos e muulmanos(nos protestantes j havia sido feito h muito tempo), as terras eclesisticas tinham que ser tomadas e abertas ao mercado(na Espanha os governos liberais intermitentes conseguiram por volta de 1845 vender mais da metade das terras da Igreja), bem como com as terras coletivas. E no poderia haver dvida que os compradores seriam os empresrios fortes e sbrios;170 Era indispensvel que qualquer tradio feudal remanescente fosse abolida. E entre 1789-1848, isso foi alcanado do Gilbaltrar a Prssica Oriental. Na Rssia e na Romnia na dcada de 1860;171 Na Gr-Bretanha, no era necessrio expropriar as grandes propriedades, j integradas aos princpios burgueses; A Lei dos pobres de 1834, na Gr-Bretanha, foi projetada para tornar a vida to intolervel para os pobres do campo que eles se vissem forados a abandonar a terra em busca de qualquer emprego que lhes fosse oferecido;172 Mas, mesmo onde os camponeses realmente receberam a terra ou tiveram confirmada a sua posse, como na Frana, em partes da Alemanha ou na Escandinvia, eles no se transformaram automaticamente, como se esperava, na classe empreendedora de pequenos fazendeiros;176 As solues mais radicais para o problema agrrio foram as: - Britnica: grande concentrao; - americana: fazenda comercial cujo ocupante era o prprio proprietrio, que compensava com mecanizao intensiva a falta de mo-de-obra(soluo essa devido condio nica de: disponibilidade ilimitada de terras e ausncia de tradies feudais, tendo como nico obstculo os indgenas) ; Na Prssia, a soluo no foi a menos revolucionria, transformou-se os proprietrios feudais em fazendeiros capitalistas e os servos em trabalhadores contratados;169 Na segunda metade do sculo XIX, a misria dos camponeses que no encontravam empregos na Noruega, Sucia e, menos, na Dinamarca(depois da eliminao das terras comunais e a diviso da terras entre os arrendatrios com tcnicas mais avanadas) levou ao que foi proporcionalmente o maior movimento de emigrao do sculo(principalmente para o meio-oeste americano);172 Na Frana, a abolio do feudalismo foi obra da revoluo. A presso camponesa e o jacobinismo levaram a reforma agrrio alm do ponto ideal segundo os princpios burgueses. A Frana tornou-se em grande parte de vrios tipos de proprietrios camponeses sem esprito comercial, o que retardou o desenvolvimento industrial na Frana;173 Na Alemanha Ocidental, Pases baixos, Sua e na maior parte da Europa latina a abolio do feudalismo foi obra dos exrcitos franceses(ou de liberais nativos que cooperaram com eles) dispostos a proclamar imediatamente a abolio dos dzimos, do feudalismo e dos direitos senhoriais;173

Entretanto, a Revoluo Francesa no foi a nica fora que impulsionava por uma revoluo total das relaes agrrias, o uso racional da terra e o aumento da produtividade j havia impressionado os dspotas esclarecidos. Jos II em 1780 j havia abolido a servido e secularizado as terras(contudo na ustria o vnculo legal do campons a gleba foi abolida definitivamente apenas em 1848); Durante a primeira metade do sculo XIX, a rea cultivada cresceu em bem mais de umtero e a produtividade em 50%. A populao rural excedente cresceu rapidamente, e j que as condies rurais eram bem ruins - a fome de 1846-8 foi provavelmente pior na Alemanha do que em qualquer outra parte, exceto na Irlanda e na Blgica -, esse excedente teve bastante incentivo para emigrar;175 Os passos legais para os sistemas burgueses de propriedade da terra avanavam com as vitrias do liberalismo e eram retardados com a recuperao dos velhos regimes. Na Espanha, o triunfo temporrio da revoluo liberal em 1820 trouxe uma nova lei de desvinculao que permitiu aos nobres vender suas terras livremente; a restaurao do absolutismo anulou-a em 1823; a nova vitria do liberalismo reafirmou-a em 1836, e assim por diante; No antigo sistema tradicional, havia fomes peridicas e o peso do trabalho fazia com que os homens se tornarem velhos aos 40 anos de idade e as mulheres aos 30, mas isto eram entendidos como atos de Deus e ainda havia ao menos uma certeza social. A revoluo legal no deu ao campons nada exceto alguns direitos. Por exemplo na Prssia, com a emancipao os camponeses conseguiram: - um pouco mais da metade da terra que ele j cultivava; - libertao do trabalho forado e de outras obrigaes; mas formalmente lhe tomou: - Direito de usar as terras do senhor como pasto; - Direito de retirar ou comprar combustvel barato nas terras do senhor; - Possibilidade de reivindicar assistncia ao senhor feudal em tempos de colheita ruim e mais direitos consuetudinrios( passando a ser explorados por empresrios rurais, muito mais insensveis e descompromissados com os camponeses); O mercado livre de terras significava que ele provavelmente teria de vender sua terra; Exceto a revoluo camponesa na Frana de 1789( e nem toda ela foi anticlerical ou antimonrquica), virtualmente todos os movimentos camponeses importantes nesse perodo que no foram dirigidos contra um rei ou igreja estrangeiros o foram ostensivamente a favor do sacerdote e do governante em defesa do velho sistema consuetudinrio;177 ...as propriedades eclesisticas eram, s vezes, senhores mais tolerantes do que o leigo vido...178 Foram os padres que lideraram os camponeses espanhis em sua guerra de guerrilha contra Napoleo;178 Tudo o que os camponeses precisavam para passar de uma agitao formalmente legalista para uma formalmente esquerdista era a conscincia de que o rei e a Igreja tinham-se passado para o lado dos ricos locais, alm de um movimento revolucionrios de homens como eles, que falassem sua prpria linguagem. O radicalismo populista de Garibaldi foi talvez o primeiro destes movimentos. O marxismo e o bakuninismo seriam ainda mais eficazes, a passagem da rebelio camponesa da direita para esquerda apenas tomaria fora depois de 1848, a falta de apoio dos camponeses aos jacobinos e liberais condenou o fracasso os movimentos de 1848; Na ndia as terras pertenciam a uma coletividade autogovernada(tribos, cls etc.), e o governo recebia uma porcentagem da produo, no havia colonos britnicos desejando terras na ndia, ento a alterao no sistema de posse visava a coleta de tributos. Foi sua combinao de ganncia e individualismo legal do liberalismo que produziu a catstrofe. A beno da propriedade privada foi concedida ao campesinato indiano. Os britnicos levaram a ndia a paz, grande desenvolvimento nos servios pblicos, um governo sem corrupo nos altos escales. Mas, economicamente, epidemias de fome gigantescas e mortferas, cada vez piores. Para essa mudana agrcola levou-se a ndia a uma desindustrializao. Entre 1815 e 1832, as exportaes de produtos de algodo da ndia caiu em mais de 90%;183 De 1787 a 1848, a invaso do mercado mundial no setor agrrio foi incompleta, como se pode medir pelas modestssimas taxas de emigrao. A criao de um mercado mundial

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agrcola apenas comearia a se formar com as ferrovias e navios a vapor no final do sculo XIX. Os novos mtodos agrcolas eram lentos para penetrar em aldeias. Apesar do acar de beterraba, o milho e a batata fizessem surpreendentes avanos; A Irlanda havia sido desindustrializada pela poltica colonialista britnica. As terras eram administradas por arrendatrios, que pagavam rendas a proprietrios de terras que na maioria viviam no exterior. A batata possibilitou um aumento da populao, mas que vivia ainda em condies miserveis. As ms colheitas da dcada de 1840 apenas vieram executar um povo j condenado. A grande fome irlandesa de 1847, que foi, de longe, a maior catstrofe humana da histria europia do perodo que focalizamos. Por volta de 1 milho(de um total de 7 milhes) morreu de fome e outro tanto emigrou da ilha entre 1846 e 1851; Mas a situao dos trabalhadores nas fazendas na Inglaterra tambm era pssima. Tendo piorado depois da dcada de 1790. Varias manifestaes do trabalhadores ocorreram desde 1820, em fins de 1830, uma epidemia de rebelio se difundiu por inmeros condados e foi selvagemente reprimida. O liberalismo econmico para solucionar o problema dos trabalhadores forou-os a encontrar trabalho a um salrio vil ou a emigrar. A nova lei dos pobres de 1834 deu aos trabalhadores o auxlio pobreza somente dentro das novas Workhouses(uma casa quase de deteno, onde eram abrigados os desempregados separados de sua famlia para evitar a procriao);186 A situao do trabalhador auto-suficiente era bem melhor que o contratado. Um pas campons como a Frana foi menos afetado que qualquer outro pela depresso da agricultura depois de 1815; 9 - RUMO A UM MUNDO INDUSTRIAL Em 1848, apenas Inglaterra efetivamente industrializada, por isso dominava o mundo; na dcada de 1840, EUA e uma boa parte da Europa Ocidental j estavam comeando a tornar-se industrializados;187 A crise de 1857 foi a primeira crise econmica mundial, no decorrente de fatores agrrios, indicando o avano na industrializao; De 1789 a 1848, as mudanas econmicas foram pequenas comparadas com os padres posteriores, mas as mudanas fundamentais estavam acontecendo: Mudana demogrfica: - A populao dos EUA passou de 4 para 23 milhes entre 1790 a 1850;189 - O extraordinrio aumento populacional desde 1750 naturalmente estimulou muito a economia, mas, ao mesmo tempo, foi uma conseqncia do desenvolvimento econmico, pois sem ele esse crescimento demogrfico no poderia ser mantido por um perodo to longo( por exemplo, na Irlanda, onde no foi suplementado por uma revoluo econmica, no foi mantido);189 mudana das comunicaes: - As estradas foram mais do que duplicadas na Europa principalmente entre 1830 - 1850(nos EUA como de costume mais gigantesco, as estradas foram multiplicadas por 8); - Em 1822, navios a vapor j ligavam a Gr-Bretanha a Frana; - Em 1848, as ferrovias ainda estavam na infncia, embora j tivessem considervel importncia pratica na Gr-Bretanha, EUA, Blgica, Frana e Alemanha;189 - Multiplicaram-se os correios; mudana no volume do comrcio e na emigrao: - Entre 1816 e 1850, 5 milhes de europeus emigraram(80% para a Amrica); - as migraes internas tambm aumentaram muito; - entre 1780 1840, o comrcio internacional multiplicou-se mais de 4 vezes, o que era extraordinrio para poca, embora para os padres posteriores esse nmero fosse modesto;191 O que mais relevante que depois de 1830 o ritmo de mudana social e econmica acelerou-se visvel e rapidamente;191 Durante o perodo da revoluo e suas guerras, apenas a Gr-Bretanha e EUA avanaram. O navio a vapor, o descaroador de algodo e o desenvolvimento da produo em srie com

esteira so avanos americanos desse perodo;191 De 1815 a 1830 foi um perodo de lenta recuperao e at reveses, at 1828 a populao cresceu no mesmo ritmo da urbana, poucos julgariam que outro pas alm dos EUA e a GrBretanha estivessem no portal da Revoluo Industrial;192(revisar no livro) Depois de 1830 a situao mudou rpida e dramaticamente. Entre 1830 a 1848 nasceram as reas industriais que at hoje tem fora, mas elas ainda estavam apenas no seu comeo(exceto a Blgica e, talvez, a Frana que conseguiram j nesse perodo uma industrializao macia); Na Gr-Bretanha, txteis e s vezes alimentos, deflagaram a 1 revoluo industrial, mas ferro, ao e carvo j eram mais importantes em 1846; Tanto na Gr-Bretanha como no continente, o tpico centro industrial era uma cidade provinciana pequena ou de tamanho mdio;194 No continente, diferentemente da Gr-Bretanha, o governo tinha um controle muito maior sobre a indstria, no apenas porque estava acostumado, mas tambm porque tinha que fazlo(ausncia de acumulao primitiva de capital, as guildas ainda eram um obstculo). GrBretanha at hoje o nico pas em que as ferrovias foram construdas totalmente por particulares;195 O desenvolvimento econmico deste perodo contm um gigantesco paradoxo, A Frana possua: - Instituies adequadas ao desenvolvimento do capitalismo; - empresrios mais inventivos, primeiros a desenvolver as grandes lojas de departamento e a propaganda; - Supremacia nas cincias, inventaram: a fotografia e outras inovaes; - Reservas de capital e financistas mais inventivos; Ainda assim o desenvolvimento econmico francs era mais lento do que o de outros pases. No final da dcada de 1840, detinha o maior poderio industrial da Europa, mas estava para perder terreno para a Alemanha; Esse lento desenvolvimento deu-se devido estabilidade do campesinato que tinha terras e vinha muito lentamente para as cidades, no havendo mercado para os produtos baratos que iniciaram o desenvolvimento industrial. Havia reserva de capital mas essa destinava-se a produo de artigos de luxo ou indstrias no exterior;197 No extremo oposta da Frana estava os EUA que: - no possua capital, mas importava-o na maioria da Gr-Bretanha; - possua pouca mo-de-obra, mas da Gr-Bretanha e da Alemanha emigravam milhes, aps a grande fome de meados de 1840; - No possuam trabalhadores tcnicos, mais importavam-nos; Toda instituio da nova repblica incitava a acumulao, a engenhosidade e a iniciativa privada. Uma vasta populao nova exigia bens e invenes, sendo atendidas pelos inventores americanos do: - Navio a vapor(1813); - Revlver (1835); - mquina de fazer parafusos(1809); - mquinas agrcolas, de costura, de escrever, etc.; Nenhuma economia expandiu-se tanto nessa poca como a do EUA, apesar de a arrancada decisiva apenas ocorrer aps 1860; Somente havia um obstculo para os EUA, o conflito entre: o norte industrial que: - beneficiava-se do capital, mo-de-obra e tcnicas, notadamente britnicas; - mas como uma economia independente; - Protecionista; Sul semi-colonial, dependente da Gr-Bretanha e a favor do livre comrcio, para importar mercadorias baratas da Gr-Bretanha;198 O Norte e o Sul ainda competiam pelas terras do Oeste. O Sul para estender as plantaes escravocratas e o Norte para matadouros de grande porte;199 O Sul da Europa teve seu desenvolvimento industrial retardado pela escassez de

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carvo;199 Uma parte do mundo saltou na dianteira do poderio industrial, enquanto outra ficava para trs, at mesmo porque era muito difcil competir com as indstrias daqueles; Onde a economia estava nas mos dos grandes proprietrios de terra, tornava-se natural essa diviso internacional que lhes encarregava de produzir alimentos ou minrios e importar industrializados, mas onde os donos da manufatura tinham influncia resistia-se com protecionismo, como fez a Alemanha e os EUA; Onde no havia independncia poltica, no havia como optar pela industrializao, como nas colnias. A ndia estava sendo desindustrializada. O Egito que passava por um processo de transformao numa economia moderna e industrial, com Mohammed Ali. Foi obrigado pela conveno Anglo-turca de 1838 a acabar com o seu monoplio no comrcio externo e a reduzir seu exrcito, desincentivando a industrializao. E esta no foi a primeira nem a ltima vez que as canhoneiras do Ocidente abriram um pas ao comrcio;200 De todas as conseqncias econmicas da poca da revoluo dupla, esta diviso entre os pases adiantados e os subdesenvolvidos provou ser a mais profunda e duradoura. E esses atrasados ficaram sob a presso militar das canhoneiras e dependncia econmica do Ocidente. At que os russos tivessem desenvolvido, na dcada de 1930, meios de transpor este fosso entre atrasado e adiantado, ele permaneceria imvel. Nenhum outro fato determinou a histria do sculo XX de maneira mais firme;201 10 - A CARREIRA ABERTA AO TALENTO A Revoluo Francesa ps fim a sociedade aristocrtica, mas no a aristocracia, nem a sua influncia, a cultura aristocrtica foi assimilada pela classe ascendente. Como a Revoluo russa preservou o bale clssico; Mas a restaurao dos Bourbons no restaurou o velho regime, ou melhor, quando Carlos X tentou faz-lo foi deposto. A sociedade da Frana ps-revolucionria era burguesa em sua estrutura e em seus valores. A sociedade do perodo da restaurao foi a dos capitalistas e carreiristas de Balzac e no a dos duques emigrantes que retornaram. Metade da nobreza francesa em 1840 tinha sido gente do povo em 1789;205 A realizao crucial das duas revolues foi, assim, o fato de que elas abriram carreiras para o talento ou, pelo menos, para a energia, a sagacidade, o trabalho duro e a ganncia. Mas sem um recurso inicial era difcil entrar na auto-estrada do sucesso. At nos pases que adquiriram um sistema pblico de ensino, a educao primria era negligenciada; e, mesmo onde ela existisse, estava confinada, por razes polticas, a um mnimo de alfabetizao, obedincia moral e aritmtica. Mas seria de grande orgulho para uma famlia pobre ter um padre, um clrigo, bem como um funcionrio pblico, professor e nos casos mais maravilhosos, um advogado ou mdico;211 A ascenso atravs dos negcios era ainda menos freqente, pois havia ainda a barreira cultural para as famlias tradicionais. Uma sede geral de educao era muito mais fcil de ser criada do que uma sede geral de sucesso individual os negcios. O homem instrudo no se voltaria automaticamente para dilacerar seu semelhante da mesma forma desavergonhada e egosta com que o faria o comerciante;212 A revoluo francesa criou os exames admissionais, colocando a educao nos moldes da competio individualista, prpria da sociedade burguesa; Os servios pblicos tambm adotaram seleo por exames, tendo grande aceitao exceto em sociedades mais arcaicas ou mais democrticas como os EUA, preferindo a eleio; Grupos antes proibidos de ascender socialmente, no somente por no serem bemnascidos, mas por sofrerem uma discriminao saudaram a abertura das carreiras. Os protestantes franceses atiraram-se a vida pblica. Antes os judeus que enriquecessem ainda tinham que ficar restritos a guetos e evitar a celebridade. Agora eles podiam ser vistos como ricos. E se antes eles estavam restritos aos negcios, agora era surpreendente seu florescimento nas artes, cincias e nas profisses, apesar de ainda modesto para os padres do sculo XX;218 Mas essa sociedade no facilitava o ajustamento, os que aceitavam as evidentes bnos

da civilizao da classe mdia e das maneiras da classe mdia podiam gozar de seus benefcios livremente; os que as recusavam ou no eram capazes de obt-las simplesmente no contavam;219 O perodo que culminou por volta da metade do sculo foi, portanto, uma poca de insensibilidade sem igual, no s porque a pobreza que rodeava a respeitabilidade, sem igual, da classe mdia era to chocante que o homem rico preferia no v-la, deixando que seus horrores provocassem impacto apenas sobre os visitantes estrangeiros, mas tambm porque os pobres, como os brbaros do exterior, eram tratados como se no fossem seres humanos. Se seu destino era o de se tornarem trabalhadores industriais, eles eram simplesmente massa que deveria ser modelada pela disciplina atravs da pura coero, sendo a draconiana disciplina fabril suplementada pelo Estado(o Cdigo britnico de Patres e Empregados, de 1823, punia os trabalhadores com a priso por quebra de contrato e os empregadores com modestas multas, se tanto); XI - OS TRABALHADORES POBRES O alcoolismo em massa, companheiro invarivel de uma industrializao e de uma urbanizao bruscas e incontrolveis, disseminou uma peste de embriaguez em toda Europa; O crescimento desordenado das cidades gerava uma falta de limpeza nas ruas, fornecimento de gua, servios sanitrios, para no mencionarmos as pssimas condies habitacionais da classe trabalhadora, sua conseqncia mais patente foi o reaparecimento de epidemias, como a clera e a tifo. Cidades europias dividiam-se em Oeste, para os ricos, e Leste, para os pobres. Apenas depois de 1848, quando as epidemias comearam a chegar nos bairros ricos e a ameaa da revoluo social comeou a assustar tomou-se providencias para uma reconstruo urbana sistemtica;225 Alm do alcoolismo havia outros sinais dessa desmoralizao: infanticdio, prostituio, suicdio, demncia, criminalidade, difuso de seitas apocalipticas e violncia despropositada que era uma espcie de ao pessoal cega contra as foras que ameaavam engolir os elementos passivos; 225 A revoluo de 1848 era conseqncia direta e inevitvel da condio miservel dos pobres; que os levaria aos movimentos trabalhistas e socialistas; A pobreza verdadeira era ainda pior nos campos, e especialmente entre os trabalhadores assalariados que no tinham propriedades e entre os camponeses pobres ou os que viviam da terra infrtil. Uma m colheita trazia a verdadeira fome;226 Mas, de fato, a misria que chamava a ateno, to prxima da catstrofe total como a misria irlandesa, era a das cidades e das zonas industriais onde os pobres morriam de fome de uma maneira menos passiva e menos oculta;227 A partir de 1815, os salrios comearam a cair, enquanto os ricos tornavam-se mais ricos; A pior alimentao e pssimas condies de trabalho tornavam a qualidade de vida dos operrios muito pior que a dos trabalhadores rurais. A expectativa de vida em Manchester