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MONICA LUISA RAPP SCHMIDT HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA SÃO PAULO 2008

HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

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Page 1: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

MONICA LUISA RAPP SCHMIDT

HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

SÃO PAULO

2008

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MONICA LUISA RAPP SCHMIDT

HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Monografia apresentada como quesito à conclusão do Curso de Homeopatia do Instituto de Cultura Homeopática (ICEH Escola de Homeopatia) para Médicos, orientada pela Profª. Dra. Maísa Misiara.

SÃO PAULO

2008

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Dedico esse trabalho a todos os Disléxicos. Que nós, médicos homeopatas, possamos ajudá-los a alcançar os mais elevados objetivos de suas existências.

III

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda equipe do Instituto de Cultura Homeopático que ao longo do curso

foi fundamental para a minha formação.

À minha orientadora, médica e amiga, Maísa Misiara, pelo seu apoio incondicional.

Aos meus pais, Hans e Ursula, por me ensinarem as primeiras lições da vida.

Ao meu marido Fabio, agradeço por todas as vezes que me apoiou, por toda a

verdade que me fez enxergar e por toda a alegria que trouxe para a minha vida.

Meu mundo é um lugar melhor por sua causa.

Ao meu filho Mauricio, razão desse trabalho, agradeço por podermos compartilhar

essa experiência juntos, aprendendo juntos o significado da palavra superação.

IV

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RESUMO Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica, caracterizada

pela dificuldade ao decodificar e soletrar as palavras. Essas dificuldades resultam

tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperada em

relação a outras habilidades cognitivas consideradas no grupo de mesma faixa

etária. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, 5-17% da população mundial é

disléxica. A maior parte desses disléxicos se encontra à margem da nossa

sociedade, cujo aprendizado é baseado na escrita e leitura. A ausência do

diagnóstico correto e tratamento adequado resultam na alta correlação entre Dislexia

e Depressão, Distúrbios da Ansiedade, Transtorno de Déficit de Atenção, Enurese

noturna e Encoprese, presentes com freqüência nos Disléxicos. O médico

homeopata, pela natureza de sua atividade e pela proposta da medicina que pratica,

reúne condições para o diagnóstico desta disfunção. Mas para isto deve estar

preparado para o adequado reconhecimento dos sintomas, segundo a sua

ocorrência no tempo. Não é infreqüente, na anamnese homeopática, a valorização

dos sintomas relacionados às comorbidades. Neste trabalho mostramos a relevância

do reconhecimento, diagnóstico e tratamento da Dislexia na infância e na idade

adulta. Baseados nas evidências científicas atuais, verificamos a dificuldade de se

obter na anamnese os sintomas primários de dificuldade da escrita e leitura.

Através da análise do caso clínico, mostramos como o tratamento homeopático pode

ser eficaz na melhora/cura de sintomas disléxicos. Não existe na literatura nenhum

tratamento para Dislexia que tenha sido tão eficaz, rápido e não exaustivo. Pelo

exposto acima sugerimos a homeopatia como uma proposta terapêutica a ser

considerada na abordagem da Dislexia.

V

Page 6: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

SUMARIO

INTRODUÇÃO.............................................................................. 07

Material e métodos........................................................................ 09

HISTÓRICO................................................................................... 10

EPIDEMIOLOGIA.......................................................................... 15

FISIOPATOLOGIA........................................................................ 17

DIAGNÓSTICO ANATOMICO-FUNCIONAL............................... 22

DIAGNÓSTICO CLÍNICO............................................................. 31

COMORBIDADES........................................................................ 39

TRATAMENTO............................................................................. 41

Programa de leitura....................................................................... 41

Acomodações................................................................................ 42

DISLEXIA E HOMEOPATIA......................................................... 48

CONCLUSÃO................................................................................ 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................. 68

Page 7: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

INTRODUÇÃO

A leitura é frequentemente a chave para a realização dos sonhos que um pai

tem para seu filho. Já muito cedo, as crianças são monitoradas, e seu futuro com

freqüência se determina no ambiente escolar. Na sala de aula, a leitura é

fundamental e essencial para o sucesso acadêmico. Os problemas de leitura têm

conseqüências para um indivíduo em todo o seu desenvolvimento, inclusive na vida

adulta. Por isso é tão importante identificar a Dislexia com precisão e precocemente,

tomando as atitudes adequadas para que a criança aprenda e goste de ler.

A maioria das crianças deseja aprender a ler e, de fato, o fazem rapidamente.

Para as crianças disléxicas, contudo, esta experiência é muito diferente. A leitura,

que outras crianças atingem sem esforço nenhum, é algo além de seu alcance.

Existem várias propostas para melhor definir a Dislexia. Dentre elas, a de maior

aceitação no nosso meio é a da “International Dyslexia Association (2002)”:

“Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade no reconhecimento e fluência corretos e por dificuldade na decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperada em relação a outras habilidades cognitivas consideradas no grupo (faixa etária).”

Para a Dra. Sally Shaywitz, neurocientista, pesquisadora, co-diretora do

Centro de Estudos do Aprendizado e da Atenção da Yale University e Membro do

Painel Nacional de Leitura dos Estados Unidos, que há mais de 20 anos vem se

dedicando ao estudo da Dislexia, pode-se suspeitar de Dislexia “em toda criança

que tem grande capacidade de expressar-se verbalmente, que é muito inteligente e

curiosa, mas não consegue ler e escrever como seria esperado para a sua idade”.

Tão nocivo quanto qualquer vírus que ameaçam tecidos e órgãos, a Dislexia

pode infiltrar-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa. Era frequentemente

descrita como uma incapacidade oculta, pois não havia evidencias de lesões

Page 8: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

estruturais. Na verdade, a Dislexia, só se oculta àqueles que não têm que viver com

ela e sofrer seus efeitos. No passado, as dificuldades de leitura eram entendidas

como parte de um processo sindrômico, com múltiplas possíveis causas e sem

possibilidade de caracterização de nenhum processo em especial.

Este fato ocorria pelo pouco entendimento dos processos de leitura e pelos

métodos diagnósticos, ainda não tão desenvolvidos. Atualmente já existem

instrumentos suficientes para se estabelecer o diagnóstico de Dislexia. Este

diagnóstico está baseado em uma avaliação multidisciplinar. Esta compreende

testes de leitura, de compreensão, de inteligência e avaliação psicológica. Além

destes testes são necessárias a avaliação oftalmológica e fonoaudiológica com

avaliação do processamento visual e auditivo, respectivamente. Recentemente, ao

se utilizar a Ressonância Nuclear Magnética Funcional, podem-se visualizar as

áreas cerebrais ativadas pela leitura. Nos disléxicos foi observado a não ativação

esperada das áreas próprias referentes à leitura. Este fato possibilita o diagnóstico

topográfico, portanto é possível localizar a manifestação da Dislexia no Sistema

Nervoso Central.

A Dislexia é um distúrbio complexo que tem suas raízes nos mesmos

sistemas cerebrais que permitem ao homem entender e expressar-se pela

linguagem. Por este motivo é entendida como um distúrbio de linguagem.

Hoje sabemos que 5 a 17% da população mundial são disléxicas1. Nos Estados

Unidos, segundo a pesquisadora Sally Shaywitz, da Universidade de Yale, uma em

cada cinco crianças, é disléxica2, o que nos leva a conclusão de que a Dislexia é

uma condição de alta prevalência.

Na literatura homeopática não encontramos estudos publicados sobre esse

tema. A literatura médica é rica na descrição de outros distúrbios de aprendizagem

Page 9: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

menos frequentes, como o Transtorno de Déficit de Atenção, pois para esta

condição está disponível tratamento alopático. Temos nas Matérias Médicas

Homeopáticas uma grande variedade de medicamentos que apresentam sintomas

de dificuldade de leitura e escrita/sintomas disléxicos. Certamente atendemos

pacientes disléxicos em nossos ambulatórios e consultórios. Muitos desses devem

apresentar a melhora ou a cura dos sintomas de dificuldade de leitura e escrita com

o tratamento homeopático. Não encontramos, até o presente momento, estudos

científicos demonstrando a possibilidade de melhora dos sintomas disléxicos com a

intervenção medicamentosa exclusiva.

Propomos com esse trabalho, o início de uma linha de pesquisa.

Material e métodos

Nosso trabalho baseou-se no levantamento bibliográfico e no estudo de um

caso diagnosticado como Déficit de atenção e distúrbio de hiperatividade publicado

em 2004, em uma monografia de conclusão de curso de Homeopatia3.

Iniciamos com o levantamento da literatura especializada sobre a doença e os

tratamentos convencionais. Pesquisamos através da BIREME e na Web, livros texto

e artigos sobre o assunto. Procedemos à tradução e a leitura minuciosa deste

material, buscando um aprofundamento de nossos conhecimentos sobre a definição

da doença, suas formas de apresentação e seu tratamento convencional.

Prosseguimos com a análise de um caso, de uma criança de 11 anos, do sexo

masculino, com diagnóstico de Déficit de Atenção e Hiperatividade, seguido no

consultório pediátrico da Escola Paulista de Homeopatia, de maio 2003 a outubro de

2003. Procedemos a re-análise do caso clínico, com base nos conhecimentos sobre

Dislexia.

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HISTÓRICO

O caso mais antigo de dislexia foi relatado por um médico alemão, Dr.Johann

Schmidt, em 1676. O Dr. Johann publicou suas observações sobre Nicholas

Cambier, homem de 65 anos que havia perdido a capacidade de ler, depois de um

derrame. À medida que o conceito evoluía, surgiam casos na literatura médica que

descreviam homens e mulheres, como Cambier, que liam normalmente e após um

derrame, tumor ou lesão traumática, perderam a capacidade de ler, condição

chamada de alexia adquirida.

Em 1877, Dr. Adolf Kussmaul deu-se conta que poderia existir uma total

cegueira para textos, apesar da visão, o intelecto e a fala estarem intactos. Fato que

o Dr. Kussmaul deu o nome de “ Wortblindheit” (cegueira verbal).

Uma monogarfia “Eine Besondere Art der Blindheit”, escrita por Dr. Rudolf

Berlin em 1887, apresentava seis casos que ele próprio acompanhou. Dr. Berlin

usou pela primeira vez o termo Dislexia para o que considerava uma forma especial

de cegueira verbal em adultos que perderam a capacidade de ler depois de uma

determinada lesão cerebral. Ele definiu que se a lesão fosse total, seguia-se uma

incapacidade absoluta de leitura, a alexia adquirida. Caso o problema fosse apenas

parcial, poderia haver apenas uma grande dificuldade em interpretar símbolos

escritos e impressos.

Na edição de 21 de dezembro de 1895 foi publicado no “The Lancet” o seguinte

relato do Dr. Hinshelwood4 sobre o caso de um senhor de 58 anos, de nível de

escolarização elevado, professor de francês e de alemão:

Em uma determinada manhã descobriu que não conseguia ler o exercício de francês que um aluno lhe dera para corrigir. No dia anterior, ele havia lido e corrigido os exercícios normalmente. Profundamente intrigado... e chamando a sua mulher, perguntou-lhe se ela conseguia ler o exercício, o que ela fez sem a menor dificuldade. Depois ele pegou um livro para ver se conseguia ler e descobriu que não conseguia ler uma palavra sequer. Ficou nessa condição até o dia em que fui vê-lo.

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Ao examinar sua acuidade visual com os caracteres tipográficos utilizados para testes, descobri que ele não conseguia ler nem as letras nos maiores tipos disponíveis. Disse-me que podia ver todas as letras com clareza, mas não conseguia me dizer o que elas significavam... Descobri mais tarde, ao examiná-lo com números, que ele não tinha a menor dificuldade em lê-los, sem cometer qualquer espécie de erro. Ele conseguia ler os números impressos na escala Jaeger No 1, a menor dos tipos utilizados nos testes. Com base em outros testes, ficou evidente que não havia nenhuma perda na acuidade visual... Depois de observado muito cuidadosamente, nenhum problema mental foi constatado. (Morgan, 1986)

O relato sobre a ‘cegueira verbal adquirida’, publicado pelo Dr. James

Hinshelwood, oftalmologista em Glasgow, desencadeou o artigo subseqüente do Dr.

Morgan.

Por volta de 1896 o Dr. W. Pringle Morgan, de Seaford foi o primeiro a

considerar o uso do termo “cegueira verbal congênita” (o termo Dislexia ainda não

era usado de maneira corrente) como uma disfunção de desenvolvimento que ocorre

em crianças saudáveis.

No dia 7 de novembro 1896 o Dr. W. Pringle Morgan5 publicou o seguinte relato

no British Medical Journal:

Percy sempre foi um menino brilhante e inteligente, rápido nos jogos e em nenhum aspecto inferior aos colegas da mesma idade. Sua grande dificuldade foi – e permanece – sua incapacidade de ler. Está na escola ou sob a supervisão de alguém desde os 7 anos, e muito tem sido feito para ensiná-lo a ler, mas, apesar do treinamento trabalhoso e persistente, é só com dificuldade que ele consegue soletrar palavras de uma sílaba... Depois testei sua capacidade de leitura de números e descobri que fazia tudo com facilidade. Ele diz gostar de aritmética e não ter dificuldades com ela, mas que palavras impressas ou escritas ‘não tem significado para ele’, e o exame que fiz com ele me convenceu que sua opinião é correta... Ele tem o que Adolf Kussmaul (neurologista alemão) chamou de cegueira verbal. Eu poderia acrescentar que o menino é esperto e de inteligência média em seus diálogos. Seus olhos são normais...e sua visão é boa. O professor que lhe ensinou durante alguns anos diz que ele seria o menino mais bem preparado da escola se o ensino fosse totalmente oral. (Percy, 1896)

É fácil inferir o quanto Morgan, depois de ler o relato de Hinshelwood, ficou

empolgado quando encontrou a mesma série de sintomas e descobertas em seu

jovem paciente. Embora o relato de Hinshelwood se refira a um adulto que antes lia

perfeitamente, as similaridades entre as dificuldades experimentadas por Percy, que

jamais havia aprendido a ler, e o paciente de Hinshelwood eram impressionantes.

Page 12: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Ambos tinham os sintomas de “cegueira verbal” e não eram capazes de ler, mas,

como Morgan e Hinshelwood enfatizam, podiam ler números e realizar cálculos

mentalmente sem qualquer hesitação.

O atento relato de Morgan desencadeou grande número de novas publicações

descrevendo casos similares vivenciados por outros médicos, quase que

exclusivamente cirurgiões oculares, e em sua grande maioria na Grã-Bretanha, mas

também da Europa, da América do Sul e, finalmente, dos Estados Unidos.

Hinshelwood passou então a se dedicar à cegueira verbal congênita e após

anos de estudo e publicar vários casos, passou a defender a urgente necessidade

de uma identificação prematura das crianças com “cegueira verbal congênita”6.

É uma questão de maior importância identificar tão cedo quanto possível a verdadeira natureza deste problema, quando uma criança o tem, pois isso ajudará muito a não perder o nosso precioso tempo e impedir que a criança passe por um tratamento cruel. Quando uma criança manifesta grande dificuldade em aprender a ler e não consegue acompanhar seus colegas, a causa é geralmente atribuída à burrice ou preguiça, e nenhum método sistemático é aplicado no treinamento dela. Um pouco de conhecimento e uma análise do caso em pouco tempo deixaria claro que a dificuldade se deve a um defeito na memória visual que se tem das palavras e das letras; a criança seria assim avaliada corretamente como alguém que tem um defeito congênito em uma determinada área do cérebro, um defeito que ,contudo, pode ser tratado com perseverança e persistência. Quanto mais cedo se identifica a natureza do problema, maiores são as chances de a criança melhorar ... (Hinshelwood, 1902)

A Dislexia passou a ser cada vez mais percebida e relatada não apenas por

médicos da Grã-Bretanha, mas também da Holanda (1903), da Alemanha (1903) e

da França (1906). A consciência do distúrbio logo atravessou o Atlântico até a

América do Sul (Buenos Aires, 1903) e depois os Estados Unidos. No ano de 1909,

o Dr. E. Bosworth McCready, um médico de Pittsburgh descreveu 41 casos de

Dislexia e observou a associação paradoxal entre Dislexia, Criatividade e

Superioridade Intelectual. Psicólogos e educadores do início do século deram pouca

importância aos distúrbios específicos da linguagem, concentrando-se no aspecto

pedagógico da questão. Paralelo a isto, classe médica negligenciava o problema na

Page 13: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

sala de aula, o que contribuía para estabelecer uma grande lacuna entre a

recuperação das crianças e o seu problema.

Em 1925, teve inicio em Iowa, uma pesquisa sobre os motivos de se

encaminharem crianças para unidades de saúde mental. A dificuldade de ler,

escrever e soletrar surgiu como uma das principais causas.

Foi então que surgiu, como um grande interessado no campo do distúrbio do

aprendizado, Dr. Samuel Orton, psiquiatra, neuroanatomista, que fez vários estudos

post-mortem em cérebros humanos. Orton propôs várias hipóteses para a ocorrência

da Dislexia, bem como vários procedimentos para a redução das suas dificuldades.

Em continuação aos estudos de Orton, que atribuía a causa do problema a

distúrbios de dominância lateral, encontramos Penfield e Roberts (1959), Zangwill

(1960), Sperry (1964), Masland (1967), Miklebust (1954-71) e atualmente Alberta

Galaburda, que descreveu a Dislexia de forma mais complexa.

Em 1983, teve início na faculdade de Yale, o primeiro estudo longitudinal

prospectivo sobre Dislexia: Connecticut Longitudinal Study7. Esse estudo é

coordenado até hoje pela Dr. Sally Shaywitz. Nesse estudo foram selecionadas

crianças que estavam na pré-escola, em 24 escolas públicas aleatoriamente

escolhidas no estado de Connecticut. Especialistas em estatística acompanharam o

desenho e a execução desse estudo. Nesse estudo cada criança passou

individualmente por um teste de leitura e por um teste de inteligência. Usando essa

metodologia, demonstrou-se que 20% das crianças estavam lendo em nível inferior

à sua idade, série ou capacidade. Constatou-se também, que menos de um terço

das crianças que estavam lendo em um nível inferior à sua idade haviam sido

identificadas pelas escolas. Os participantes desse estudo têm sido monitorados até

hoje.

Page 14: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Em 2006 teve inicio na Europa, o Neurodys8 estudo longitudinal prospectivo,

com a participação de 9 (nove) países europeus. Os primeiros resultados desse

estudo serão divulgados em 2009.

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EPIDEMIOLOGIA

Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, de 5 a 17% da população mundial

é disléxica1. A grande variação nos números da prevalência pode ser explicada pela

particular natureza do diagnóstico da Dislexia. Embora tenha base biológica, a

Dislexia se expressa no contexto da sala de aula, o que faz com que sua

identificação dependa de procedimentos escolares. Portanto, para que se possa ter

uma idéia verdadeira da prevalência da Dislexia é necessária à existência de um

sistema educacional atento, com professores instruídos para o auxílio e diagnóstico.

Como sabemos esta não é a condição observada em uma série de países, incluindo

o Brasil, portanto encontramos uma notória sub-identificação das crianças com

dificuldade de leitura. Este fato é especialmente preocupante, pois, mesmo quando a

escola realiza a identificação da criança que apresenta problemas, tal identificação

ocorre relativamente tarde, na 3ª ou 4ª série, depois da melhor idade para a

intervenção. Além deste fato, outros fatores contribuem para as grandes variações

observadas na prevalência mundial, são eles: as diferenças culturais e

principalmente a construção de linguagem de cada idioma.

Entretanto, apesar dos fatores descritos acima, não resta dúvida de que nos

defrontamos com uma condição de alta prevalência e grande impacto na sociedade.

Os números da Dislexia são bem maiores, por exemplo, quando comparados com

outro distúrbio do aprendizado, como o Transtorno do Déficit Atencional. Este último

apresenta menor prevalência, e pode ser encontrado em 3 a 5%9, na população

mundial.

A Dislexia acomete igualmente homens e mulheres e é hereditária. Quando um

dos pais é portador de Dislexia, a probabilidade de seu filho ser disléxico está na

faixa de 40%.

Page 16: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Esse distúrbio da aprendizagem não é apenas muito comum, é persistente.

Segundo dados obtidos através do “Connecticut Longitudinal Study”7, determinou-se

de maneira bastante conclusiva que a Dislexia é uma condição crônica e que não

representa um atraso temporário no desenvolvimento da leitura.

Figura 1

Page 17: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

FISIOPATOLOGIA

As operações que ocorrem no sistema de linguagem são rápidas e

automáticas, e não temos controle sobre elas. Nos níveis superiores da linguagem

estão, por exemplo, os componentes presentes na semântica (vocabulário ou

significado das palavras), na sintaxe (estrutura gramatical) e no discurso (frases

encadeadas). No nível mais baixo da hierarquia, está o módulo fonológico, que se

dedica ao processamento dos diferentes elementos sonoros da linguagem. A

Dislexia envolve uma disfunção especificamente no nível do módulo fonológico. O

fonema é o elemento fundamental do sistema lingüístico, o elemento essencial de

todas as palavras, faladas ou escritas. Combinações de fonemas produzem dezenas

de milhares de palavras da língua portuguesa. Da mesma forma como as proteínas

devem primeiramente ser fragmentadas em aminoácidos antes de serem digeridas,

as palavras devem ser também “segmentadas/divididas” para serem processadas

pelo sistema lingüístico. A linguagem é um código, que é decodificado através do

código fonológico.

Tal código é importante tanto para a fala quanto para a leitura. Consideremos

primeiro a fala. Quando pretendemos falar a palavra tipóia, por exemplo, acessamos

o nosso “dicionário interno” ou léxico. De lá retiramos e ordenamos em série, os

fonemas adequados: t, i p, o i, a. Após este processo a palavra tipóia é verbalizada.

Nas crianças disléxicas os fonemas não são tão bem desenvolvidos. Elas terão

muitas dificuldades para selecionar o fonema de que necessitam, podendo, em vez

disso, selecionar um fonema cujo som é semelhante. Ao invés de tipóia, ela pode

dizer jibóia. A criança sabe exatamente o que quer dizer, mas não consegue buscar

a conjunção correta de fonemas para a formação da palavra certa, ao invés dela,

menciona outra, cujos fonemas são semelhantes.

Page 18: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

O disléxico pode também ordenar os fonemas incorretamente, e o resultado

pode ser, por exemplo: “As crianças martenal” (ao invés de maternal); ”Sabe mãe, o

problema não é o calor, é a humanidade” (ao invés de umidade); “Bem vindo a essa

agradável recessão”(ao invés de recepção). Em cada um dos casos a confusão foi

de caráter fonológico (baseada no som de uma palavra) e não refletiu uma falta de

compreensão do significado da palavra em questão. Infelizmente esses erros são

normalmente atribuídos a uma falta de discernimento de quem os comete. Tais

confusões sonoras são bastante comuns na linguagem falada dos disléxicos.

Ler é o processo inverso de falar. O trabalho de quem lê é converter as letras

em sons e considerar que a palavra é composta por segmentos menores. As

crianças e os adultos disléxicos têm dificuldades para desenvolver a percepção de

que, as palavras faladas e escritas são compostas por esses fonemas ou blocos

sonoros. A maior parte das pessoas é capaz de detectar os sons ou fonemas que

compõe uma palavra. As crianças disléxicas, entretanto, percebem uma palavra

como uma “mancha” amorfa, sem perceber sua natureza segmentada. Elas não

conseguem perceber a estrutura sonora interna das palavras.

O modelo fonológico nos diz quais as medidas exatas devemos adotar para

que uma criança passe de um estágio em que vê as letras como uma confusão de

formas rabiscadas a um estágio em que reconheça e identifique essas mesmas

formas como palavras.

A primeira descoberta que uma criança faz quando está aprendendo a ler é a

de que as palavras são compostas por partes. Rapidamente a criança percebe que a

palavra que ouve pode ser dividida em pedaços menores de sons e assim adquire o

que chamamos de consciência fonêmica. Ao adquirir a conscientização da natureza

segmentada da linguagem verbal, a criança passa a reunir os elementos básicos, ou

Page 19: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

seja, as partículas da linguagem verbal, fonemas e sons com os quais poderá

relacionar as letras adequadas. As letras conectadas aos fonemas passam então a

ter sentido, assim se dá à linguagem. Traduzidas em código fônico, as palavras

impressas são agora aceitas pelos circuitos neurais já preparados para processar a

linguagem verbal. Decodificadas em fonemas, as palavras são processadas

automaticamente pelo sistema de linguagem. O código de leitura está então

decifrado. Cerca de 80% das crianças aprendem a transformar símbolos impressos

em código fonético, sem muita dificuldade. Para as demais, contudo, os símbolos

escritos permanecem uns mistérios. Elas não conseguem converter imediatamente

os caracteres alfabéticos em código lingüístico. A criança pequena deve desenvolver

a consciência fonêmica para se tornar um leitor. Isso significa que ela deve entender

que as palavras verbalizadas são feitas de unidades menores de fala, os fonemas.

Todos os leitores - inclusive os disléxicos - devem seguir os mesmos passos. A

diferença é simplesmente o esforço envolvido e o tempo que se leva para dominar o

princípio alfabético.

Ainda hoje não se sabe como as crianças desenvolvem a consciência

fonêmica. Sabe-se que nas crianças disléxicas, uma falha do sistema de linguagem

observado no nível módulo fonológico, prejudica a consciência fonêmica e, assim, a

capacidade de segmentar a palavra verbalizada em seus sons subjacentes. Como

resultado desse problema, as crianças têm dificuldades para descobrir/dominarem o

código da leitura.

O processo de leitura consiste em dois grandes componentes. O primeiro deles

é a decodificação, que resulta no reconhecimento imediato das palavras, e o

segundo componente é a compreensão.

Page 20: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Uma deficiência fonológica do sistema de linguagem prejudica apenas a

decodificação. Todo o equipamento cognitivo, as capacidades intelectuais de ordem

superior necessárias à compreensão, ou seja, vocabulário, sintaxe, discurso

(compreensão de texto) e raciocínio estão intactos. Todos os processos que

envolvem a compreensão, formação de conceitos e para a compreensão do texto

escrito estão em plena capacidade funcional e não são afetados pelo déficit

fonológico. No entanto, a deficiência básica na decodificação das palavras bloqueia

o acesso à possibilidade de obter significado a partir do texto. Podemos então

compreender porque os disléxicos - normalmente dotados de uma inteligência

superior, vocabulário excelente e curiosidade ilimitada - não conseguem decifrar

mesmo a mais simples das palavras ou ler uma passagem em voz alta.

Os pesquisadores britânicos Lynette Bradley e Peter Bryant constataram que a

aptidão fonológica de um aluno na pré-escola indica como será sua leitura três anos

depois11. Mesmo para alunos do ensino médio, a consciência fonológica é o melhor

indicador da capacidade de ler as palavras com precisão e rapidamente12.

O fato, de a Dislexia ser o resultado de uma deficiência fonológica, faz com que

outras conseqüências desse funcionamento deficiente possam também estar

presentes. Há 10 anos, o trabalho do pós-graduando Robert B. Katz, documentava

os problemas que os leitores disléxicos tinham em nomear os objetos que viam em

figuras ou fotos13. Katz demonstrou que quando os disléxicos chamam um objeto

pelo nome errado, estas respostas incorretas tendem a compartilhar características

fonológicas com a resposta correta. Dar o nome errado a um objeto não é o

resultado de uma falta de conhecimento, mas da confusão dos sons da linguagem.

As capacidades fonológicas não estão relacionadas à inteligência e, na

verdade, são independentes dela. Muitas crianças com inteligência superior são

Page 21: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

disléxicas, enquanto outras com nível de inteligência muito mais baixo lêem com

relativa facilidade. O fato de que a consciência fonêmica, e não a inteligência é o

que indica a facilidade para leitura, surpreende boa parte das pessoas.

A memorização imediata e o acesso às palavras são também especialmente

difíceis para os disléxicos. Mesmo quando um disléxico conhece a informação, a

necessidade de ter de rapidamente reter e apresentar tal informação em geral

resulta na utilização de um fonema semelhante, tal como trocar umidade e

humanidade. Como resultado o disléxico pode parecer muito menos capacitado do

que é. Por outro lado, quando tem tempo e não é pressionado a dar respostas

instantaneamente, ele pode apresentar um excelente desempenho oral. Da mesma

forma, ao ler, os disléxicos frequentemente precisam recorrer ao contexto para

identificar determinadas palavras. Essa estratégia faz com que demore um pouco

mais e ajuda a explicar porque a disponibilidade de tempo extra como auxílio é tão

necessária para os disléxicos demonstrarem seus conhecimentos.

Page 22: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

DIAGNÓSTICO ANATÔMICO-FUNCIONAL

Em 1861, Paul Broca, estabeleceu claramente que a base da leitura, linguagem

e fala originava-se no lobo frontal esquerdo do córtex cerebral. Antigamente

pensava-se que a fonte lógica de nossa capacidade de falar fosse à língua. A

descoberta de Broca abriu as portas para que se aprendesse como o cérebro lê.

Broca estudava o cérebro de pacientes afásicos mortos, procurando as áreas de

tecido danificado e correlacionava essas áreas com os sintomas dos pacientes. A

identificação da área da broca, como um local fundamental para a linguagem, foi o

primeiro passo para a busca do mapa do circuito neural da leitura.

No inicio dos anos 80, foi possível aos cientistas, através da Tomografia de

Emissão de Positrons (PET), verem pela primeira vez, o cérebro de uma pessoa

normal em funcionamento.

Atualmente a Ressonância Nuclear Magnética Funcional é capaz de observar a

atividade cerebral desencadeada por uma determinada tarefa. Estudos sofisticados

feitos com a obtenção de imagens, por Ressonância Nuclear Magnética, durante o

processo de leitura permitem o rastreio e o registro da palavra impressa, quando ela

é primeiramente percebida como ícone visual, sendo depois transformada em sons

(fonemas) da linguagem. Este processo faz com que simultaneamente, ocorra a

ativação do seu significado, guardado no “dicionário” interno do cérebro.

Os primeiros estudos utilizando Ressonância Magnética Funcional

evidenciaram uma diferença surpreendente entre os padrões ativados para a leitura

nos homens e nas mulheres. Como aparece nas imagens cerebrais, os homens

ativam o giro frontal inferior esquerdo, ao passo que as mulheres ativam tanto o

direito quanto o esquerdo. Enquanto todos os homens ativam apenas o lado

esquerdo do cérebro, a maioria das mulheres ativa ambos os lados14.

Page 23: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Figura 2: Diferenças na organização do cérebro de homens e de mulheres no que diz respeito à linguagem. As áreas em preto indicam locais de ativação em homens e mulheres quando rimavam palavras sem sentido, demonstrando que os homens ativam o lado esquerdo do cérebro e que as mulheres ativam tanto o esquerdo como o direito. As figuras menores são as imagens obtidas por Ressonância Nuclear Magnética Funcional demonstrando as ativações cerebrais.

Isso representou a primeira demonstração de uma diferença visível entre os

sexos, no que diz respeito à organização cerebral da linguagem. Exatamente a

mesma região cerebral que demonstrou as diferenças entre os sexos, o giro frontal

inferior, estava também envolvido na leitura.

Os estudos feitos a partir das imagens cerebrais identificaram, pelo menos, dois

caminhos neurais da leitura: um para quem está começando a ler e para a

verbalização lenta das palavras e outro mais rápido para quem já lê bem. O exame

cuidadoso dos padrões de ativação cerebral revelou uma falha nesse último circuito

para os leitores disléxicos.

Quando lêem, os bons leitores ativam sistemas neurais altamente

interconectados que incluem regiões das partes posterior e anterior do lado

esquerdo do cérebro.

Page 24: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Figura 3: Sistemas cerebrais para a leitura.

Não é surpreendente que o circuito necessário à leitura, inclua regiões

cerebrais dedicadas ao processamento das características visuais (isto é, das linhas

e curvas que compõe as letras), à transformação das letras em sons da linguagem e

à compreensão do significado das palavras. A maior parte da região do cérebro

responsável pela leitura fica na sua porção posterior. O chamado de sistema de

leitura posterior é composto de dois diferentes caminhos para a leitura de palavras.

O primeiro, em posição mais alta do que o outro no cérebro, localiza-se

principalmente na região média do cérebro, a região parieto-temporal. O caminho

inferior passa próximo da base do cérebro, é o local em que dois lobos cerebrais o

occipital e o temporal se encontram, esta é a área occipito-temporal. Essa região de

intensa atividade atua como um núcleo para o qual as informações oriundas de

diferentes sistemas sensoriais convergem, e onde, por exemplo, todas as

informações relevantes sobre uma palavra, ou seja, sua aparência, seu som, e seu

significado, são reunidos e armazenados.

Page 25: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Esses dois subsistemas desempenham papéis diferentes na leitura, e suas

funções tem sentido à luz das necessidades variáveis dos leitores. Os leitores

iniciantes, em primeiro lugar, analisam a palavra. Já os leitores experientes,

identificam as palavras instantaneamente. O sistema parieto-temporal funciona para

o leitor iniciante. Lenta e analítica, sua função parece estar nos primeiros estágios

da aprendizagem de leitura, isto é, quando se começa a analisar uma palavra,

subdividindo-a e conectando suas letras aos sons. Ao contrário do procedimento

passo a passo do sistema parieto-temporal, a região occipito-temporal é uma via

expressa para a leitura, sendo utilizada por leitores experientes. Quanto mais

experimentado o leitor, mais essa região é ativada. Ela responde muito rapidamente

– em menos de 150 mil segundos - à palavra visualizada15; em vez de analisar a

palavra, a área occipito-temporal reage quase que instantaneamente à palavra

inteira como sendo um padrão único. Basta um breve olhar para que a palavra seja

identificada.

A criança, ao analisar e ler corretamente uma palavra, por várias vezes, forma

um modelo neural exato dessa palavra. Este modelo, caracterizado pela forma da

palavra, que reflete a ortografia, a pronúncia e o significado da mesma, é

permanentemente armazenado no sistema occipito-temporal. Após a conclusão este

processo, basta ver a palavra impressa para que o sistema e todas as informações

relevantes sobre a palavra sejam imediatamente ativados. Tudo acontece

automaticamente, sem esforço ou pensamento consciente.

Quando os leitores experientes lêem com grande velocidade, este processo se

dá em sua máxima capacidade e ocorre o reconhecimento instantâneo, uma palavra

depois da outra. Assim, há uma forte relação entre a capacidade de leitura e a

dependência dessa área ou região.

Page 26: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Um terceiro caminho de leitura, localizado na área da Broca - na parte frontal

do cérebro - também ajuda na fase de análise lenta das palavras. Há, portanto, três

caminhos neurais para a leitura: dois caminhos mais lentos e analíticos, o parieto-

temporal e o frontal, que são usados principalmente pelos leitores iniciantes, e uma

via rápida, a occipito-temporal, utilizada por leitores experientes.

Mapear os caminhos neurais nos bons leitores abriu a porta para o

entendimento da natureza da dificuldade dos leitores disléxicos. Quando lêem, os

bons leitores ativam a parte posterior do cérebro e também, até certo ponto, a parte

anterior. Ao contrário, os leitores disléxicos demonstram uma falha neste sistema,

ocorrendo a menor ativação de caminhos neurais na parte posterior do cérebro.

Conseqüentemente, eles têm problemas iniciais ao analisar as palavras e ao

transformar as letras em sons e, mesmo quando amadurecem, continuam a ler

lentamente e sem fluência.

Em todas as idades, os bons leitores demonstram um padrão consistente, ou

seja, grande ativação da parte posterior do cérebro, com menor ativação na parte

frontal. Ao contrário, as ativações cerebrais nas crianças disléxicas parecem mudar

com a idade. As imagens revelam que as crianças disléxicas mais velhas

demonstram uma ativação aumentada nas regiões frontais, de maneira que, quando

chegam à adolescência, demonstram um padrão de super-ativação da região de

Broca, isto é, passam a usar com freqüência cada vez maior o lobo frontal para a

leitura. É possível que esses leitores estivessem usando os sistemas da parte frontal

do cérebro, para compensar o problema da parte posterior.

O padrão de sub-ativação na parte posterior do cérebro apresenta uma espécie

de assinatura neural para as dificuldades fonológicas que caracterizam a Dislexia.

Page 27: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Figura 4: Mudança nos padrões de ativação cerebral de acordo com a idade: As crianças disléxicas mais velhas usam regiões frontais do cérebro. Estes mapas fazem correlações. As áreas em preto têm uma forte correlação com a idade. À medida com que as crianças crescem, estas áreas se tornam mais ativas. Na imagem da esquerda, os leitores normais demonstram pouca mudança na ativação do cérebro de acordo com idade, por isso há poucas áreas pretas. Ao contrário, na direita, as crianças disléxicas demonstram uma ativação crescente da região frontal do cérebro à medida que envelhecem como indicam as áreas em preto.

Essa assinatura parece ser universal, aplica-se aos disléxicos em todas as

línguas e de todas as idades. Mesmo alunos universitários de excelente

desempenho, com histórico de dislexia na infância e que são leitores precisos, mas

lentos, continuam a demonstrar esse padrão.

Figura 5: A marca neural da dislexia. Subativação dos sistemas neurais na parte posterior do cérebro. À esquerda, leitores normais ativam sistemas neurais que estão em sua maioria na parte posterior do cérebro (áreas sombreadas); à direita, leitores disléxicos subativam esses sistemas de leitura da parte posterior do cérebro e tendem a superativar as áreas frontais.

Page 28: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

A partir destas evidências, podemos concluir que a falha nas crianças

pequenas, indicativa da presença da alteração nos circuitos cerebrais, está presente

desde o início da leitura. Não é, portanto, o resultado final de anos de leitura

deficiente. Aprendemos que as crianças e os adultos disléxicos utilizam sistemas de

leitura compensatórios. Além de depender mais da área da Broca, os disléxicos

também usam outros sistemas auxiliares de leitura, localizados no lado direito e na

parte anterior do cérebro. Apresentam um sistema funcional, mas não automático.

Figura 6: Os leitores disléxicos usam sistemas compensatórios para ler. O leitor normal, à esquerda, ativa sistemas neurais que estão em sua maioria na parte posterior esquerda do cérebro; o leitor disléxico, à direita, ativa sistemas do lado direito e na parte frontal esquerda do cérebro.

Os fatos expostos acima, explicam o intrigante achado que temos de leitores

adultos disléxicos que melhoraram sua precisão de leitura, mas para quem ‘ler’,

continuava a ser uma atividade lenta e desgastante. A falha dos sistemas

posteriores impede o reconhecimento rápido e automático das palavras; o

desenvolvimento do lado direito e da parte anterior como sistema auxiliar, permite

que haja uma leitura precisa, ainda que relativamente lenta. Esses leitores disléxicos

têm de depender de um sistema “manual” em vez de um sistema automático de

leitura.

Page 29: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

O avanço das pesquisas, nesta área, indica que estamos prestes a conseguir

separar em dois grupos os leitores deficientes.

O primeiro, o grupo disléxico clássico, ou seja, aquele que nasce com uma

falha em seus sistemas de leitura posteriores. Esse grupo tem capacidades verbais

mais altas e é capaz de compensar o problema, melhora a precisão, mas continua a

ler lentamente.

O segundo grupo parece ter-se desenvolvido como resultado da experiência.

Pode ser o resultado de uma combinação de ensino deficiente de leitura na escola e

de um ambiente lingüístico problemático em casa. Neste segundo grupo, a conexão

dos sistemas de leitura posterior pode estar pronta, mas nunca foi adequadamente

ativada. Sem uma intervenção eficaz, os indivíduos deste grupo continuam sendo

maus leitores, lendo de maneira lenta e imprecisa.

Uma das aplicações mais interessantes das imagens cerebrais só agora está

sendo utilizada nos Estados Unidos: a avaliação direta dos efeitos de determinadas

intervenções de leitura sobre os sistemas neurais de leitura.

Em estudos realizados na faculdade de Yale, pela Dra. Sally Shaywitz,

usou-se a Ressonância Nuclear Magnética Funcional para estudar meninos e

meninas que tinham dificuldade em aprender a ler, que passaram por um programa

experimental de leitura por um ano. As imagens obtidas depois da intervenção

demonstraram que os sistemas do lobo esquerdo utilizados por bons leitores,

tentavam surgir e que também havia o desenvolvimento de caminhos secundários

de leitura no lobo direito. O conjunto final de imagens obtidas, um ano após o início

do estudo, foi surpreendente. Não apenas os caminhos auxiliares do lobo direito

eram muito menos proeminentes, como, havia maior desenvolvimento dos sistemas

neurais do lobo esquerdo.

Page 30: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Isso pode explicar porque as crianças que passam mais cedo por intervenções

eficazes, tornam-se leitores precisos e um pouco mais fluentes.

No Brasil não temos ainda a Ressonância Magnética Funcional para

diagnóstico e acompanhamento de intervenção, nem tampouco a intervenção

apropriada, ou seja, programa de leitura específico, validado para o tratamento de

leitores disléxicos.

Page 31: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

Na maior parte das vezes, as crianças verbalizam as suas primeiras palavras

por volta de 1 (um) ano de idade e as primeiras frases por volta de 1 ano e 6 meses

a 2 anos. As vulneráveis à Dislexia, talvez não comecem a pronunciar as primeiras

palavras antes de 1 ano e 3 meses de vida e talvez não pronunciem frases antes de

completar 2 anos. O atraso é modesto e os pais geralmente o atribuem a um

histórico familiar de começar a falar mais tarde. Portanto o primeiro sinal indicativo

da Dislexia pode ser um atraso na fala.

Ao iniciar a fala, a criança disléxica comete erros de pronuncia. As dificuldades

na pronúncia podem ocorrer no desenvolvimento normal de qualquer criança, porém

sua persistência, além do tempo normal, pode ser entendida como mais um sinal.

No desenvolvimento normal, por volta dos 5 ou 6 anos, a criança deve ter

poucos problemas para pronunciar a maioria das palavras corretamente. Tentativas

de pronunciar uma nova palavra pela primeira vez ou de verbalizar uma palavra

longa e complicada, podem revelar problemas relativos à articulação. É como se

houvesse um acúmulo de fonemas no aparelho articulatório, fato este que

compromete a linguagem verbal. Os fonemas se atropelam quando são

pronunciados. Excluir os sons iniciais de algumas palavras caracteriza uma das

pronúncias equivocadas típicas. São exemplos desta alteração a pronuncia paguete

ao invés de espaguete, ou lefante em vez de elefante. Além da exclusão, existe

também a inversão, ou seja, inverter os sons internos de uma palavra, como por

exemplo, aninal em vez de animal, ernegia ao invés de energia. Mesmo as crianças

maiores e os adultos não estão imunes a pronunciar as palavras de maneira

desordenada ou atropelada, quando tentam pronunciar palavras novas ou

complexas.

Page 32: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

As crianças disléxicas têm problemas quando tentam penetrar na estrutura

sonora das palavras sendo, portanto, menos sensíveis às rimas. Essa sensibilidade

é um indicador precoce de estar pronto para a leitura.

À medida que a criança cresce, ela pode utilizar palavras que necessitam de

precisão ou especificidade para cobrir suas dificuldades, isto é, usar palavras vagas

como coisa ou negócio em vez do nome verdadeiro do objeto. Ela sabe exatamente

o que quer dizer; a dificuldade está em encontrar a palavra correta. Essas

dificuldades de linguagem acompanham o amadurecimento da criança. Ela pode ser

quieta, parecer inarticulada ou experimentar dificuldades de expressão, o que é um

padrão freqüente, mas não invariável. Algumas crianças podem ser bastante

articuladas quando falam.

Os pais e os professores podem ficar irritados com a criança porque ela parece

inteligente, e não conseguem entender por que ela pronuncia a palavra errada.

Contudo, a frustração dos adultos não é nada se comparada à vergonha

experimentada pela criança quando diz a palavra errada. Á medida que a criança

disléxica passa à idade adulta, sua fala continua a dar provas das dificuldades que

tem para chegar à estrutura sonora das palavras. A fala está cheia de hesitações; às

vezes, há muitas pausas longas, ou ela talvez fique buscando a palavra certa,

usando muitas palavras indiretas, no lugar da palavra correta que não consegue

encontrar. Ela não é loquaz nem fluente na linguagem verbal.

Por vezes, o diagnóstico de Dislexia é estabelecido tardiamente, pois a criança

não demonstra um ou mais dos sintomas patognomônicos dessa disfunção. Um dos

mais duradouros equívocos é o de que a criança disléxica vê as letras e as palavras

de trás para frente e que escrever de maneira invertida é um sinal disso. Pelo fato de

Page 33: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

tais crenças sobre a Dislexia prevalecerem, muitas crianças que não fazem

inversões não são diagnosticadas.

Escrever com a mão esquerda, dificuldades na localização espacial, disfunções

práxicas, como ter dificuldade para amarrar os sapatos e ser desastrado são fatores

associados à Dislexia. Essas constatações não são certamente tão importantes ao

ponto de as encontrarmos na maioria das pessoas com Dislexia.

Em que pesem as características satélites do quadro da Dislexia, é importante

ter em mente que, a grande maioria da população de disléxicos compartilha uma

deficiência fonológica (cerca de 88%)16.

Segundo a Dra. Sally Shaywitz 2 , os sinais de Dislexia são:

a. Primeira infância

• Problema de aprendizagem de rimas infantis comuns;

• Falta de interesse pelas rimas;

• Palavras mal pronunciadas;

• Dificuldade em aprender (e lembrar) o nome das letras;

• Deficiência em saber o nome das letras em seu próprio nome.

b. Pré-escola e 1ª série

• Deficiência em entender que as palavras podem ser divididas em partes;

• Incapacidade de aprender a associar letras e sons, tais como aprender a

associar a letra b com o som “b”;

• Erros de leitura que não demonstram conexão nenhuma dos sons com as

letras, por exemplo, ao invés de pronunciar a palavra casa, pronunciar a

palavra faca;

Page 34: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• Incapacidade de ler palavras simples de uma só sílaba, ou de pronunciar

mesmo as palavras mais simples;

• Reclamação sobre o quanto é difícil ler; correr e esconder-se quando é hora

de ler.

c. A partir da segunda série

c.1. Problemas na fala:

• Discurso não fluente, com pausas ou hesitações freqüentes, muitos

“hummmm” durante a fala, pouca loquacidade;

• Uso de linguagem imprecisa, tais como a utilização da palavra coisa ou

negócio em vez da utilização do nome correto do objeto;

• Não ser capaz de encontrar a palavra correta, confundindo palavras que

tenham sonoridade semelhante, como umidade e humanidade;

• Necessidade de tempo para elaborar uma resposta oral, ou incapacidade de

dar uma resposta verbal rápida quando é questionado;

• Dificuldade de lembrar partes isoladas de informação verbal (memória

imediata) e problemas ao lembrar datas, nomes, números de telefone e listas

aleatórias.

c.2. Problemas de leitura:

• Progresso muito lento na aquisição das habilidades de leitura;

• Falta de estratégia para a leitura de palavras novas;

• Problemas ao ler palavras desconhecidas (novas, não-familiares), que devem

ser pronunciadas em voz alta; tentativa de adivinhar a palavra ao lê-la; falhas

na organização dos sons das palavras quando as pronuncia;

Page 35: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• Inabilidade para ler palavras funcionais, como entre, sobre, aquilo...;

• Tropeço ao ler palavras polissilábicas, ou deficiência ao ter de pronunciar a

palavra inteira;

• Omissão de partes de palavra ao ler; deficiência na decodificação das partes

que compõe uma palavra, como se alguém tivesse feito um buraco no meio

da palavra, degacia no lugar de delegacia;

• Medo acentuado de ler em voz alta; evita ler em voz alta;

• A leitura em voz alta é contaminada por substituições, omissões e palavras

mal pronunciadas;

• A leitura em voz alta é entrecortada e trabalhosa, não é fluente nem suave;

• A leitura em voz alta não tem inflexão e parece a leitura de uma língua

estrangeira;

• Dependência do contexto para compreensão do que lê;

• Melhor capacidade de entender palavras no contexto do que ler palavras

isoladas;

• Desempenho desproporcionalmente fraco em testes de múltipla escolha.

• Incapacidade de terminar os testes no horário estabelecido;

• Substituição de palavras de mesmo significado quando não consegue

pronunciar, tais como carro no lugar de automóvel ou espinha no lugar de

coluna vertebral;

• Ortografia desastrosa, em que as palavras não são sequer parecidas com a

palavra original; algumas palavras não são identificadas pelo corretor

ortográfico;

• Problemas na leitura dos enunciados dos problemas de matemática;

• Leitura muito lenta e cansativa;

Page 36: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• Deveres de casa incompletos e intermináveis, necessitando com freqüência

da ajuda dos pais para ler os enunciados;

• Escrita à mão confusa, mas grande facilidade ao utilizar o editor de textos,

rapidez ao digitar;

• Extrema dificuldade para aprender uma língua estrangeira;

• Falta de entusiasmo em relação à leitura; evita ler livros ou mesmo uma frase;

• Leitura cuja precisão aumente com o tempo, embora permaneça sem fluência

e seja trabalhosa;

• Auto-estima em declínio, presença de sofrimentos nem sempre visíveis.

d. Em jovens adultos e em adultos

d.1. Problemas na fala:

• Persistência de dificuldades precoces da linguagem oral;

• Pronúncia equivocada de nome de pessoas e de lugares; ignora partes de

uma palavra;

• Dificuldade para lembrar nome de pessoas e de lugares e confusão quando

os nomes se parecem;

• Esforço para se lembrar de uma palavra; “estava na ponta da língua”;

• Falta de loquacidade, especialmente quando está em situação de destaque;

• Vocabulário expressivo, oralizado, que parece menor do que o vocabulário

receptivo, escutado. Hesitação ao pronunciar palavras que possam ser mal-

pronunciadas.

d.2. Problemas na leitura:

• Histórico infantil de problemas de leitura e de ortografia;

Page 37: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• A leitura pode se tornar mais precisa, mas continua lenta e exige um grande

esforço;

• Falta de fluência;

• Constrangimento causado pela leitura em voz alta. Evita grupos de estudo da

Bíblia, leitura durante a páscoa judaica ou ter de falar em público;

• Problemas ao ler e pronunciar palavras incomuns, estranhas ou singulares,

tais como o nome de pessoas, de ruas e de locais, nome dos pratos de um

menu (em geral, pede ao garçom o prato do dia ou então diz “vou querer o

mesmo que ele pediu”, para evitar o constrangimento de ter de ler o menu);

• Problemas persistentes na leitura;

• Substituição de palavras que não consegue ler por outras inventadas, como

pronunciar a palavra mitan, por exemplo, em vez de metropolitan. É incapaz

de reconhecer a palavra metropolitan quando ela aparecer de novo ou for

pronunciada em uma palestra no dia seguinte;

• Fadiga extrema depois de ler;

• Leitura lenta de tudo: manuais, legendas em filmes estrangeiros;

• Muitas horas utilizadas na leitura de material escolar ou de trabalho;

• Sacrifício freqüente da vida social para estudar e preferência por livros com

ilustrações, gráficos ou tabelas;

• Preferência por livros com menos palavras por página ou com grandes áreas

em branco entre os parágrafos;

• Falta de vontade de ler por prazer;

• Ortografia que permanece problemática e preferência por palavras menos

complexas ao escrever;

• Desempenho especialmente fraco em tarefas habituais de escrita.

Page 38: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Existem outros sintomas que podem acompanhar a Dislexia, mas que não

estão necessariamente presentes:

• Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pinturas etc.);

• Dificuldade na coordenação motora grossa (ginástica, dança etc.);

• Desorganização geral;

• Dificuldades visuais, com impacto na organização do trabalho no papel e na

postura da cabeça para escrever;

• Confusão entre direita e esquerda;

• Dificuldade em manusear mapas, dicionários;

• Dificuldade na memória de curto termo, como as que se referem às

instruções, dígitos, tabuadas, etc;

• Dificuldade em copiar de livros ou da lousa;

• Dificuldade na matemática e desenho geométrico;

• Grande desempenho em provas orais.

Page 39: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

COMORBIDADES

A Dislexia pode infiltrar-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa. A

sensação de frustração pode levar, em seu grau extremo, a distúrbios psiquiátricos.

Observamos uma alta incidência de distúrbios psiquiátricos nos indivíduos

disléxicos. É tão importante essa correlação, que atualmente grande parte das

pesquisas, diagnóstico e acompanhamento de pacientes disléxicos vem sendo

realizada por Psiquiatras.

Segundo Estudo Longitudinal de Mannheim17, conduzido pelo Psiquiatra

infantil, especializado em Dislexia, Dr. Gerd Schulte-Koerne, 43% das crianças

disléxicas apresentam algum sintomas psíquico aos 8 (oito) anos. Aos 18 anos o

número de sintomas psíquicos cai para 34%, mas continua muito elevado. Dos

sintomas psíquicos observados a depressão foi o mais freqüente. Esse pesquisador

observou que o tratamento do quadro depressivo com medicamento e/ou

psicoterapia, sem a intervenção no distúrbio da leitura, se mostrava ineficaz.

Vários estudos recentes mostram que dos alunos que receberam o diagnóstico

de “learning disabilities” (distúrbios da aprendizagem), 50% apresentavam quadro

depressivo. Desses, 80% eram disléxicos18.

Os índices de agressividade também são exageradamente elevados nessa

população. Em estudos realizados nos Estados Unidos, pela National Center for

State Court, demonstrou-se que 85% de todos os infratores juvenis apresentavam

problemas à leitura19. Um outro estudo, realizado na Inglaterra pelo “Learning and

Skills Unit” (LSC) em conjunto com “Offenders Learning and Skills Unit” (OLSU), com

o apoio do “The Dyslexia institute”, evidenciou que 20% dos detentos apresentavam

“Learning disabilities”. Desse grupo 68% eram disléxicos. Observou-se que a taxa de

reincidência de delitos diminui quando esses presos eram submetidos a programas

Page 40: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

de educação específicos, que os ensinava a ler20. Essa correlação entre Dislexia e

agressividade é tão evidente, que tem levado pesquisadores a estudar se há uma

explicação genética para esse fato.

Encontramos também uma associação positiva entre Dislexia e Déficit de

Atenção. Cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com Déficit de Atenção, tem

Dislexia, e se não forem apropriadamente tratados para sua dificuldade de

linguagem, permanecerão com baixo grau de alfabetização21, mesmo recebendo

medicação específica. Nesses casos, classifica-se o Déficit de Atencão como

secundário ao distúrbio de linguagem.

Existe ainda uma forte correlação entre Dislexia e enurese noturna e

encoprese17, mas não dispomos ainda de números confiáveis.

Page 41: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

TRATAMENTO

Não existe tratamento medicamentoso para a Dislexia, somente para seus

efeitos secundários como a depressão, déficit de atenção e agressividade, dentre

outros.

Segundo o estudo de meta-análise realizado por H. L. Swanson em 1999, a

única intervenção que se provou significativamente efetiva nos casos de Dislexia, foi

o trabalho fonoaudiológico apropriado22.

Programa de leitura

Atualmente, através dos estudos realizados pela Dra. Sally Shaywitz, utilizando

a Ressonância Magnética Funcional, mostrou-se que a aplicação de um programa

específicos de leitura é efetivo.

Os pontos essenciais desses programas de leitura são:

• A consciência fonêmica, ou seja, o treino de perceber, identificar e manipular

os sons da linguagem oral;

• Fônica, ou seja, perceber como as letras e os grupos de letras representam

os sons de linguagem;

• Pronunciar as palavras (decodificação);

• Ortografia;

• Leitura de palavras à primeira vista;

• Vocabulário e conceitos;

• Estratégias de compreensão de leitura;

• Prática na aplicação dessas habilidades na leitura e na escrita;

• Treinamento em fluência;

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• Experiências lingüísticas enriquecedoras: ouvir, falar sobre um determinado

assunto e contar histórias.

Os estudos mostram que a parte mais importante dessa intervenção, é o

trabalho da consciência fônica e da própria fônica, aliada ao ensino de como as

crianças devem aplicar esses conhecimentos à leitura e à escrita2.

No Brasil não dispomos desses métodos validados, no entanto, temos em São

Paulo, um grupo de fonoaudiólogas especializadas em Dislexia pela Universidade

São Paulo, que aplicam estratégias derivadas do método proposto acima.

O ensino da leitura para o leitor disléxico, deve ser ministrado com grande

intensidade23, de 4 a 5 vezes por semana. Uma criança, com problemas de leitura e

que não seja identificada cedo, pode exigir cerca de 150 a 300 horas de ensino

intensivo (pelo menos 90 minutos por dia todos os dias da semana por 1 a 3 anos)

para que a lacuna entre ela e seus colegas seja preenchida. Quanto mais tarde for

realizado o diagnóstico da dificuldade do ensino de leitura, maior será o esforço

necessário para que a criança possa se aproximar do nível de seus colegas1.

É importante salientar, que a aplicação desse método torna a leitura do

disléxico precisa, mas ela permanecerá lenta na grande maioria dos casos. A escrita

não se altera significativamente com essa intervenção.

Acomodações

Além do treino acima descrito, existem outras medidas que podem ajudar

muito, e são chamadas de ‘Acomodações’. Estas abrangem uma série de medidas a

serem propostas aos educadores e à escola. As principais acomodações a serem

sugeridas são:

Page 43: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• Tempo extra: Como explicado anteriormente, nos leitores disléxicos, as

características das palavras não foram todas integradas propriamente, sendo

assim, eles não desenvolvem a automaticidade da área de reconhecimento

imediato da palavra. A conseqüência é a de que devem recorrer a outros

sistemas cerebrais, para descobrir a palavra de maneira não automática e

chegar a seu significado. Esse processo toma muito mais tempo. Os adultos

disléxicos que são capazes de alcançar níveis médios de precisão têm de

fazê-lo por meio dessas rotas neurais secundárias, que são mais lentas. A

equação para os leitores adultos disléxicos é esta: Habilidade de pensamento

de alto nível + contexto + tempo extra = significado;

Figura 7: Pelo fato de o caminho direto para o significado não estar disponível ao leitor disléxico, ele deve aplicar sua inteligência, vocabulário e raciocínio ao contexto da palavra em questão para obter seu significado. Isso significa tomar um caminho secundário de leitura que exige tempo extra.

• Língua estrangeira: Pelo fato de os alunos disléxicos terem de aprender a

fonologia básica da língua materna, é com muita dificuldade que se tornam

proficientes em outra língua quando jovens. Logo, deve-se tentar obter uma

dispensa ou isenção dos exames de língua estrangeira. Essa é uma

acomodação que impede o sofrimento desnecessário, a perda de tempo e de

energia do aluno, sem deixar de lhe proporcionar oportunidade para que se

Page 44: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

concentre em disciplinas que tenha reais chances de dominar. Seria

adequado evitar que crianças disléxicas fossem expostas a uma educação

bilíngüe;

• Textos gravados: Além do trabalho escolar, a Dislexia compromete a própria

independência do adolescente que está amadurecendo. Os textos em fita

podem abrandar isso. As gravações podem ser o “passaporte” do aluno ao

mundo do leitor. Ouvir os livros e fitas, ou CD-ROM permite que participe de

cursos e estude em seu nível de compreensão, em vez de ser impedido de ir

adiante por causa de sua leitura lenta. É por essa razão que nos Estados

Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Nova Zelândia, Austrália, Japão

e outros, já existem livros escolares, livros de um modo geral, jornais e

revistas semanais na forma de áudio. Nos Estados Unidos, a biblioteca da

Recording for the Blind and Dyslexic (RFB&D) contém mais de 90 mil títulos

de uma ampla gama de assuntos, em todos os níveis acadêmicos, da pré-

escola até a pós-graduação. Se um determinado livro ou texto não tiver ainda

sido gravado, a Recording for the Blind and Dyslexic fará a gravação, caso

haja um pedido. Os cegos e os disléxicos se beneficiam muito dessa forma de

mídia. No Brasil temos pouquíssimos áudios livros, não temos nenhum livro

escolar com esse formato e muito menos jornais e revistas. A fundação

Corina Nowill, para cegos, disponibiliza algumas revistas, jornais e livros, mas

só para cegos. Logo, aqui no Brasil, o papel fundamental do áudio livro deve

ser desempenhado pelas mães ou qualquer pessoa que acompanhe os

estudos do aluno disléxico;

• Permitir a gravação das aulas;

Page 45: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

• Orientar o aluno a gravar os seus trabalhos e depois solicitar a alguém que os

transcreva;

• Os trabalhos escritos devem receber nota pelo conteúdo e não pela forma ou

problemas ortográficos;

• Se possível, realizar provas orais;

• Permitir a utilização de laptops em salas de aula e aceitar trabalhos escritos

realizados com o auxilio destes, incluindo uso de corretor de texto.

Essas acomodações deveriam começar por volta da 2ª ou 3ª série e seguir até

a idade adulta, abrangendo o ambiente de trabalho. A Inglaterra já possui leis

trabalhistas específicas para indivíduos disléxicos.

No Brasil temos ainda enormes obstáculos a ser transpostos quando falamos

de Dislexia. O primeiro é o diagnóstico, pois não possuímos profissionais

adequadamente treinados nas escolas. Além disto, muitas escolas não realizam

testes de leitura em sua rotina, como também não possuem fonoaudiólogos em seu

quadro de funcionários.

O segundo grande obstáculo ocorre na hora da intervenção. Ainda existe

grande desconhecimento por parte de médicos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e

pedagogos, a respeito do que é Dislexia e do que se mostrou ser eficiente no seu

tratamento. Isso se deve ao fato de os principais avanços na compreensão da

Dislexia terem ocorrido somente nos últimos 15 anos. Muitos profissionais

encontram-se ainda desatualizados. Este fato pode ser exemplificado na matéria

publicada no jornal de psicologia do CPR-SP, Psi, edição 155, de maio de 2008,

escrito pela psicóloga Beatriz Belluzzo, coordenadora da comissão de educação do

CRP-SP, cujo título é “Ciência e profissão. Quem procura acha” 24.

Page 46: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Abaixo, transcrição de algumas partes desse artigo:

Ao longo do último ano, vários projetos de lei com o objetivo de identificar e tratar clinicamente supostos portadores de Dislexia surgiu em diferentes partes do Brasil. Em São Paulo, a Assembléia Legislativa do Estado aprovou o projeto de Lei 832 de 2007..... Esses projetos têm sido estimulados por profissionais voltados ao diagnóstico e tratamento da Dislexia e ganharam impulso extra com a exposição de Clarissa, personagem na novela Duas Caras, da TV Globo, apresentada como portadora do distúrbio. O CRP - SP, lado a lado com outras entidades das áreas de Saúde e da Educação, tem combatido essas iniciativas. Não porque seja insensível às dificuldades de expressão ou de compreensão vividas pelas pessoas, mas porque acredita que o problema está distorcido e fora do lugar. “Nós questionamos desde o diagnóstico propriamente dito até o uso que vem se fazendo dessa questão para retirar da escola uma responsabilidade que lhe pertence”, afirma a conselheira e coordenadora da Comissão de Educação do CRP - SP, Beatriz Belluzzo. “O campo cognitivo, onde se situa a questão de Dislexia, é uma área de complexidade. Reduzir o seu entendimento à simples existência de um marcador biológico é insuficiente para explicar o que acontece” diz Wagner Rannã , médico (com formação em psicoterapia), pediatra docente da Faculdade de Medicina da USP, que atua há 40 anos na área de saúde mental da criança.”outros fatores inclusive sociais, podem contribuir para a explicação desse fenômeno.”... Para Maria Aparecida Moyses, Professora titular de Pediatria no departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, faltam dados palpáveis para se fazer um diagnóstico confiável, com o rigor que se deve exigir para os diagnósticos de uma doença neurológica. “A não exigência exames se deve à ausência de exames que reconhecidamente consigam fazer tal diagnóstico”.... Não é fácil a vida de alguém que precisa provar que não existe - algo que nunca ninguém provou que existe - como gosta de repetir a professora Maria Aparecida Moyses.... ... abordar crianças e jovens que enfrentam graves problemas na aquisição da leitura e da escrita como portadores de uma patologia é a melhor solução diante de um atendimento que é, em sua essência, pedagógico. ... a criança é levada a crer que ela tem um problema e que não pode evoluir da mesma forma que seus colegas, reforça suas chances de fracasso escolar e vê-se alijada de oportunidades futuras no mercado de trabalho.

Opiniões como estas, de especialistas brasileiros, estão em desacordo com o

que os pesquisadores do mundo todo têm provado sobre o diagnóstico e tratamento

da Dislexia. Os governos dos Estados Unidos e de vários países da Europa têm

investido milhões de dólares em estudos, uma vez que reconhecem o forte impacto

que essa alteração tem na alfabetização das crianças e conseqüentemente no seu

futuro profissional. Os estudos nesses países mostram que esses indivíduos ficam

dependentes do Estado, em parte pela alta prevalência de desemprego, e vivem à

margem da sociedade. Esta situação custa ao Estado milhões de dólares. Deduz-se

Page 47: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

que não é o diagnóstico da Dislexia que leva ao fracasso escolar, ou a perda das

oportunidades no mercado de trabalho, como sugerido no artigo supracitado, e sim a

não intervenção apropriada.

Não há intervenção farmacológica específica no tratamento desse distúrbio de

aprendizagem. Talvez por este motivo, também não haja grande interesse na sua

divulgação.

Page 48: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

DISLEXIA E HOMEOPATIA

A Dislexia é um distúrbio de aprendizagem. Apresenta alta prevalência,

provocando um forte impacto na vida diária de seus portadores. Apesar dos

avanços desta última década, no que se refere ao diagnóstico e ao tratamento,

pouco se divulga sobre esse distúrbio. Além disto, nas áreas de psicopedagogia e

psicologia ainda predomina a idéia de que a criança disléxica desenvolve o medo e

bloqueio relacionado à linguagem escrita.

Não é um tema abordado frequentemente, nos eventos médicos, alopáticos e

homeopáticos. Poucos são os casos descritos e raras pesquisas são realizadas

neste campo. Por estes motivos, a produção científica observada no nosso país não

é representativa. Portanto, os médicos formados em nossas universidades não

recebem adequada instrução a respeito desta disfunção, bem como não são

expostos a novas informações quando realizam seu processo de educação

continuada nos eventos médicos e ao assinarem revistas científicas. Estes mesmos

médicos serão aqueles que não irão reconhecer a Dislexia e por este motivo, a

grande maioria dos casos no Brasil não é diagnosticada. Uma das conseqüências

deste contexto é o elevado índice de evasão escolar. A outra, é a prescrição cada

vez mais freqüente de medicamentos específicos para déficit de atenção e

antidepressivos em crianças. Este fato certifica nossa pouca capacidade de realizar

intervenções com precocidade.

Os sintomas nucleares da Dislexia são aqueles que comprometem a leitura, a

escrita, e por vezes a fala. Estudos bem conduzidos mostram que os disléxicos,

melhoram a sua fluência à leitura quando submetidos a método específico de

alfabetização aplicado diariamente, por um prazo de no mínimo 1 ano. Este

compreende o treino da consciência fonêmica seguido da aplicação de um método

Page 49: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

de leitura apropriado. Apesar da melhora, nunca se alcança à fluência de um bom

leitor. A leitura sempre será muito cansativa para este paciente. Outro dado

importante evidenciado pelos estudos é que na área da escrita a melhora não é

relevante, ou seja, os erros persistem.

Temos na Homeopatia uma série de medicamentos que apresentam na sua

patogenesia sintomas disléxicos. Os sintomas de dificuldade de leitura e escrita são

antigos, raros, característicos, peculiares e intensos e devem ser valorizados para a

escolha do medicamento homeopático. Devemos acompanhar a sua evolução no

seguimento do caso.

Sabemos, no entanto, que a grande maioria dos pacientes que apresentam

esses sintomas não os relata. No consultório homeopático, frequentemente

avaliamos crianças com queixas de Déficit de Atenção, baixa auto-estima, Enurese

Noturna, Encoprese, agressividade e Depressão. Os questionamentos referentes ao

processo de leitura e a escrita dessas crianças devem ser realizados, pois este

hábito amplia nossa capacidade de investigação. Caso estejam em

acompanhamento fonoaudiológico ou psicopedagógico, será útil entrar em contato

com esses profissionais. Esta ação irá aprimorar nossa capacidade de modalizar os

sintomas encontrados.

Entre os adultos o relato espontâneo destes sintomas é ainda mais raro. Esses

pacientes se encontram nos consultórios homeopáticos com os diagnósticos de

alcoolismo, depressão, ansiedade, problemas de memória, isolamento social,

agressividade, etc. A grande maioria dos adultos disléxicos tem vergonha de admitir

as suas dificuldades de leitura e de escrita, perdendo-se desta forma, na consulta

homeopática, a oportunidade de reconhecer esses sintomas. O histórico de evasão

escolar, a constante mudança de emprego, o desemprego, a dificuldade para

Page 50: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

nomeação de objetos, pessoas e lugares, a ocorrência de erros ao falar, podem ser

indícios de distúrbios da leitura/escrita. Relatos como “Odeio ler” ou “Nunca gostei

de estudar”, podem servir de alerta para a suspeita diagnóstica.

A relativa desinformação a respeito da Dislexia atinge igualmente alopatas e

homeopatas. Entretanto, pela natureza de sua prática, o médico homeopata possui

maior possibilidade de conhecer os seus pacientes. A cura torna-se plausível

quando o homeopata alia o conhecimento ampliado, valorizando o sintoma primário

e não apenas os secundários, à ampla gama de medicamentos homeopáticos.

Podemos encontrar os sintomas característicos de Dislexia no repertório digital,

Dr. Ariovaldo Ribeiro Filho, como:

A. Sintomas da leitura:

MENTAL - confusão mental- lendo

MENTAL – confusão mental- lendo-entender (o que lê), se ele tenta

MENTAL – embotamento, lerdeza, dificuldade de pensar e compreender.

MENTAL – inquietude- lendo

MENTAL – Ler- incapaz de ler-crianças, em

MENTAL – memória- fraqueza de- letras- nome das letras, para os

MENTAL – memória- fraqueza de- letras- unir vária letras, sobre como

MENTAL – memória-fraqueza de-leu, para o que - acabou de ler, para o

que

MENTAL – memória- fraqueza de- letras- iniciais, letras.

B. Sintomas da escrita

MENTAL – erros- escrevendo

MENTAL – erros escrevendo- acrescenta letras

Page 51: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

MENTAL – erros- escrevendo-confunde letras

MENTAL – erros- escrevendo- erradas- figuras e letras

MENTAL – erros- escrevendo-erradas, palavras

MENTAL – erros- escrevendo-omite letras

MENTAL – erros- escrevendo-omite sílabas

MENTAL – erros- escrevendo-aversão a

MENTAL – erros- escrever-incapacidade para

MENTAL – escrever- incapacidade para

MENTAL – escrever- incapacidade para - aprender a escrever em crianças,

para

MENTAL – memória- fraqueza de – ortografia, para

MENTAL – erros- escrevendo- transpõe- letras

C. Sintomas da fala

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros ao falar

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E FALA – erros no falar- palavras-

pronuncia mal

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- erradas sílabas

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavras-

erradas, usando palavras

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavras-

erradas- usando palavras- nomes errados, chama as coisas pelos

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- soletrando

LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavras-

estranhas e são soletradas

MENTAL – fraqueza de – expressar-se para

Page 52: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Passaremos agora à transcricao de um caso clínico extraído de uma

monografia apresentada para conclusão de curso de homeopatia, no ano de

2004, cujo título é: “Hiperatividade e déficit de atenção com tratamento

homeopático”3. Esse caso foi atendido e tratado seguindo a técnica unicista, que

determina que a escolha do medicamento deve ocorrer através da valorização

dos sintomas raros, característicos, peculiares e intensos de cada paciente.

Através da análise desse caso, pretendemos exemplificar como podemos

aprimorar nossa semiologia homeopática e faremos uma reavaliação da

evolução do caso baseados nos conhecimentos sobre a Dislexia.

Descricao de caso

Nome: L. P. Z.

DN: 13/03/1992

Idade: 11 anos

Nome do pai: P. R. Z.

Nome da mãe: S. P. Z.

Procedência: Itatiba - SP

Naturalidade: Itatiba – SP

Data da primeira consulta: 24/05/2003

Motivo da consulta:

Meu filho é muito desatento

Page 53: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Relato de caso pela mãe

O L. P. Z., desde o jardim, começou com problemas emocionais e problemas

de fono. Tinha problemas de fala também, trocava letras ao falar (“R” com “L”). Os

problemas de fono ele conseguiu corrigir, o que está complicado é que ele está

muito disperso, fora que a leitura dele está muito ruim, e também ele é muito

inseguro. A professora solicitou que eu o levasse a um neuropediatra, e o mesmo

constatou que ele só tem problemas de dispersão, receitando o Tofranil. Tomou o

medicamento por 6 meses no ano passado e deu uma melhorada, porém agora

voltou a piorar e o médico disse que ele vai ter que tomar o remédio novamente,

mas eu não queria ficar dando este tipo de remédio para o meu filho. A professora

mandou uma avaliação, dizendo que ele é esforçado e dedicado, sempre apresenta

suas atividades em dia, é responsável, mas, ao mesmo tempo mostra-se

extremamente inseguro, sempre pergunta se está bom, leva tudo para ela ver se

está certo. Tem também dificuldade para escrever, se esquece de letras ou sílabas,

confunde fonemas, não pontua. Se recusa fazer exercícios oralmente, gagueja

bastante durante a leitura (fica nervoso, e a professora diz que é por insegurança

dele). Existem palavras que não consegue ler. Para apresentar trabalhos sem ler se

sai bem. O seu relacionamento com os colegas na sala de aula, é muito bom. Não é

difícil de fazer amizades. Outra coisa que a professora falou, é que ele não coloca

tudo o que sabe por insegurança. Antes das provas ele sempre vai pensando que

vai mal. E vai bem? Geralmente se sai bem, às vezes tira algumas notas baixas.

Nunca fomos de cobrar notas. Não gosta de estudar em casa, pois não tem

paciência. Só faz a lição se estou junto. Televisão, se o filme lhe interessa assiste

todo. Quando joga no computador ele acompanha o jogo com o corpo. Durante o

filme, fica dando pulinhos no sofá. Para comer só come se for à frente da televisão.

Page 54: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

- Como ele é? Ele é muito obediente, até demais. Ás vezes retruca um pouco, mas é

raro e acaba sempre aceitando, aceitando até demais. Faz tudo que os colegas

querem. Ele não é muito organizado com as coisas dele, larga o tênis, roupa, tudo

em qualquer lugar. É cuidadoso, não é de quebrar. Ele é muito sentimental, porque

se nós chamamos sua atenção, seus olhos se enchem de lágrimas. Não gosta de

tomar banho, tem preguiça, mas também quando entra, não quer mais sair.

- Medo? Não acho que tenha, é mais insegurança. Dorme sempre sozinho, com luz

apagada, não me lembro de nenhum medo.

- Sono? Dorme bem, sono pesado, às vezes reclama de pesadelo de monstro. Às

vezes comenta que não dormiu bem, mas acho que é coisa dele, porque dorme a

noite toda, e tem preguiça para levantar. Ele se mexe muito durante o sono. Posição

de lado e costas com mais freqüência, e se cobre até a cabeça.

- Como reage com a temperatura? Ele não gosta de frio, pois é friorento, se sente

melhor no verão.

- O que gosta de comer? Arroz, feijão, peixe. Não gosta de carne vermelha, nem de

frutas e nem de verduras. Não gosta de doces caseiros, só de chocolate.

- Sede? Bebe muito pouca água. Bebe muito suco na hora das refeições.

- Transpiração? Transpira muito na cabeça, no couro cabeludo, e tem muito chulé,

cheiro muito forte nos pés.

- Como funciona o intestino? Ele sempre foi muito ressecado, demora para evacuar

e tem as fezes sempre duras desde pequenininho.

- O que mais? O pé dele descasca um pouco.

- Antecedentes pessoais: Nasceu de parto cesárea, bem, com 3500g e 51 cm. Ele é

alérgico desde pequeno, teve bronquite asmática até os 5 anos, e também dermatite

Page 55: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

atópica. Já teve catapora, roseola e rubéola. O leite piorava sua pele por isso dei

muito tempo leite de cabra.

- L. P. Z.: Lembro-me de um sonho quando era pequeno, que acabava a luz, eu subi

no quarto para pegar uma vela, e quando desci novamente não tinha mais ninguém

e então eu fiquei sozinho. Não gosto de tomate nem de carne vermelha. Não tenho

muita sede.

Exame físico:

Peso: 50.700g Estatura: 1,57 m.

Otoscopia e orofaringe: sem anormalidades Ap. CV: Bulhas rítmicas normofonéticas

sem sopros. Abdômen: sem alterações. Axilas com cheiro forte. Pés com leve

descamação. Restante do exame físico sem anormalidades.

A – Síndrome mínima de valor máximo

A1 – MENTAL – Complacente; disposição dócil; obediente

Paciente – “Ele é muito obediente, até demais”! Ás vezes retruca um

pouco , mas é raro e acaba sempre aceitando, aceitando até demais.”

A2 – Sensível; hipersensível

Paciente – “Ele é muito sentimental, porque se nós chamamos a sua

atenção, seus olhos se enchem de lágrimas.”

A3 – MENTAL – Erros leitura

Somado com;

MENTAL - erro escrevendo

Paciente - “Fora que a leitura dele está muito ruim”. “Recusa-se a fazer

exercício oralmente, gagueja bastante durante leitura.” “Existem palavras

Page 56: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

que não consegue ler.” “Tem também dificuldades para escrever, se

esquece de letras ou sílabas, confunde fonemas, não pontua.”

A4 – BOCA – linguagem; fala; gagueira

Paciente – “Se recusa a fazer exercícios oralmente, gagueja bastante

durante a leitura.”

A5 – RETO – Constipação; difícil evacuação

Somado com:

FEZES – Fezes duras

Paciente – “Ele sempre foi muito ressecado, demora para evacuar, e tem

as fezes duras desde pequenininho.”

A6 – BEBIDAS – ALIMENTOS – leite agrava

Paciente – “O leite piorava a sua pele, por isso dei muito tempo leite de

cabra.”

A7 – BEBIDAS – ALIMENTOS – Carne de vaca; aversão

Paciente – “Não gosta de carne vermelha.” “Não gosto de tomate nem de

carne vermelha.”

A8 – BEBIDAS – ALIMENTOS – frutas; aversão

Paciente – “Não gosta de carne vermelha nem de frutas”

A9 – CABEÇA – Transpiração de couro cabeludo

Paciente – “Transpira muito na cabeça, no couro cabeludo”.

A10 – EXTREMIDADES – Odor de pés; repugnante sem transpiração

Paciente – “Tem muito chulé, cheiro muito forte nos pés.”

B – Diagnóstico clínico:

B1 – Clínico – Transtorno do desenvolvimento da fala e da linguagem

(Dislalia: troca de letras ao falar e Gagueira)

Page 57: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, com

predomínio de desatenção

Constipação intestinal crônica

Bronquite asmática

Dermatite atópica

B2 – Miasmático – Etapa secundária da psora, segundo Masi Elizalde

B3 – Lesionabilidade – paciente funcional

B4 – PCD – Melhora sem agravação

B5 – Medicamentoso – Silicea terra

C – Conduta:

Silicea terra: LM2; LM3; LM4; LM5. Tomar 1 gota uma vez ao dia, quinze dias cada

frasco.

Retorno em 2 meses.

Avaliação da escola:

L. P. Z. é um garoto esforçado e dedicado. Sempre apresenta suas atividades

em dia, é responsável. Ao mesmo tempo mostra-se extremamente inseguro. Todas

as atividades que efetua traz para que eu as veja, perguntando se está bem feita.

Apresenta muitas dificuldades para redigir, se esquece de letras os sílabas, não

reconhece os “rr”, confunde fonemas, não pontua. Ás vezes, quando é solicitado

para fazer um exercício oralmente, se recusa a faze-lo, não o forço. Na leitura

gagueja bastante e há palavras que não consegue ler. Quanto à oralidade (sem

texto em mãos para ser lido), se sai muito bem. Apresentou um trabalho sobre a

linha do tempo para a classe e o fez muito bem, sem gaguejar, sem confundir-se. O

Page 58: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

seu relacionamento com os colegas, na sala de aula, é muito bom. (Professora

Denise Zanatta)

Avaliação neurológica:

L. P. Z. apresenta uma predominância de Déficit de Atenção, porém preenche os

requisitos que o enquadram como portador de TDAH. Predominam a desatenção,

dificuldade em concentrar-se, problemas relacionados com o desenvolvimento da

linguagem escrita e falada e uma leve ansiedade.(Dr. Carlos Alberto Lemos CRM

66.674 – Neurologista)

1º Retorno: 26/07/2003

- Como está L. P. Z.? Mãe: Acho que está mais alegre , mais brincalhão. Ontem

teve reunião de pais na escola, e as professoras disseram que já teve melhora. Foi

na fonoaudióloga e esta também achou que a sua interpretação está bem melhor, e

também achou ele bem mais atento. Voltaram algumas lesões de pele, nas flexuras

dos braços, que ele tinha quando menor, ele sempre teve dermatite atópica.

- Quanto tempo após o início da medicação? Aço que mais ou menos 20 dias após

(estava no 5º dia do LM3 ), mas logo melhorou.

- Usou alguma coisa? Não. Ele também não reclamou mais dos pesadelos. Na

escola a professora acha que ele está mais solto e está entendendo melhor os

textos. Está comendo melhor e está indo mais animado para as aulas.

- L. P. Z.: Eu acho que estou menos ansioso, não estou tão preocupado. Melhorou

bem meu desempenho em relação aos outros colegas. Estou conversando mais e

colocando mais as coisas. Nas apresentações dos trabalhos, estou ficando menos

tenso, estou me sentindo melhor na leitura, mais à vontade. Ainda estou gaguejando

nas leituras porém bem menos. Não estava tendo mais pesadelos, até que um dia

Page 59: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

quebrei o braço, e logo após a redução da fratura tive um sonho: Estava em um

lugar onde havia um cachorro, que foi crescendo. O lugar parecia uma garagem,

onde as portas se fecharam quando tentei fugir do cachorro, e isso me deu medo.

Outro dia também sonhei que estava andando de bicicleta, quando veio um cachorro

grande atrás de mim, e eu quase caí, e eu então entrei na casa do meu amigo.

- O que representa o cachorro? Tenho medo, mas não sei o que é.

- O que você acha que precisa melhorar? Gostaria que melhorasse ainda mais

minha concentração, porque às vezes ainda vôo quando a professora fala.

Exame físico:

Peso: 54.200g. Est.: 1,59m.

Pele um pouco ressecada, restante sem anormalidades.

Discussão:

O paciente apresentou melhoras significativas no seu estado mental (mais

alegre, mais brincalhão, mais solto, mais atento, menos ansioso, menos tenso); no

intelecto (sua interpretação está melhor); no seu apetite. Houve retorno de sintoma

antigo (voltaram algumas lesões de pele). Não estava mais tendo pesadelos, até

que surgiu um noxa (fraturou o braço).

Conduta:

Mantido Silicea terra: LM6; LM7; LM8; LM9.

Retorno em 2 meses.

2º Retorno: 24/09/2003

- Como está L. P. Z.? Mãe: Diminuiu muito a ansiedade dele, está ficando bem

menos irritado e melhorou muito o medo de ficar sozinho. Não esta mais trocando

Page 60: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

tanto as letras na hora de escrever. Está bem mais tranqüilo na hora de assistir

televisão.

- Como assim? Não fica mais inquieto no sofá como ficava antes do tratamento.

- Sono? Tranqüilo, só que vai dormir tarde e para acordar cedo é um sacrifício.

Apetite continua o mesmo, e também a desorganização. O intestino melhorou bem,

as fezes já não estão tão ressecadas e não sangrou mais. Continua mais solto,

alegre e brincalhão. Acho que a pele também melhorou bem.

- E você L. P. Z., o que tem a dizer? Acho que estou bem menos nervoso e quase

não estou mais gaguejando na hora da leitura na escola. Também quase não troco

mais letras. Minha sede continua a mesma, não bebo muita água. Não lembro de

nenhum sonho, mas também não tive pesadelos.

- O que mais? Mais nada a dizer.

Exame físico:

Peso: 56 kg Estatura: 1,62 m.

Leve escoriação em flexura de braço esquerdo. Restante do exame físico sem

anormalidades.

Discussão:

O paciente continua melhorando o seu estado mental (menos irritado, diminuiu o

medo de ficar só, a troca de letras na hora de escrever e a inquietude na hora de

assistir televisão. Quase não está mais gaguejando na hora da leitura.) Houve

também melhora dos sintomas gerais e locais (intestino funcionando melhor, fezes

menos ressecadas, pele menos seca). Não apresentou mais pesadelos.

Page 61: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Conduta:

Silicea terra: LM10; LM11; LM12.

Retorno em 45 dias.

3º Retorno: 7/11/2003

- Como esta L. P. Z.? Mãe: Está mais tranqüilo. Semana passada teve provas na

escola e não ficou nervoso e ansioso como ficava antes. A própria professora fala

que ele está bem mais tranqüilo e atento.

- E você L. o que acha? Realmente, dessa vez não fiquei tão nervoso para fazer as

provas. Durante as leituras não estou mais gaguejando, mas acho que gostaria que

ainda melhorasse mais a minha atenção. Estou dormindo bem, meu intestino está

funcionando bem, nunca mais prendeu meu intestino.

Mãe: Não está mais tendo problemas de leitura, esta conseguindo colocar melhor as

idéias. Acho que está mais independente, se virando melhor. A pele também

melhorou bastante. A professora o tem elogiado muito.

L. P. Z.: Estou me achando mais desinibido, mais solto. Não estou mais ficando

nervoso antes das provas.

Exame físico:

Peso: 58.500 g. Estatura: 1,64 m.

Pele bem hidratada sem lesões. Suor com cheiro forte nas axilas. Restante do

exame físico sem anormalidades.

Discussão:

Paciente mantendo melhora do seu estado mental (diminuiu a ansiedade por

antecipação, mais atento, menos inibido, mais solto, não esta gaguejando durante

as leituras, mais independente), do seu intelecto (conseguindo colocar melhor as

Page 62: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

idéias), e dos sintomas gerais (melhora da obstipação intestinal e do ressecamento

da pele).

Conduta:

Silicea terra LM13; LM14; LM15; LM16

Reavaliação do caso considerando a dislexia

A partir do exposto nesse trabalho, faremos uma reavaliação do caso transcrito,

usando os conhecimentos atuais sobre os Distúrbios da fala e da linguagem.

1. O diagnóstico de “Transtorno do desenvolvimento da fala e da linguagem”, dado

pelo neurologista, é um diagnóstico sindrômico, que compreende, entre outros, a

Dislexia. Os sintomas característicos de Dislexia apresentados pelo paciente eram:

a. sintomas da fala

- “começou com problemas emocionais e problemas de fono no jardim “

b. sintomas da leitura

- “leitura ruim”

- “gagueja bastante durante a leitura”

- “existem palavras que não consegue ler”

- “se apresenta trabalhos sem ler se sai bem”

- “não compreende o que lê”

c. sintomas da escrita

- “dificuldade para escrever, se esquece de letras ou sílabas, confunde

fonemas”

-“ apresenta dificuldade para redigir, se esquece de sílabas, não reconhece

Page 63: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

o rr, confunde fonema, não pontua”

d. outros

- “insegurança”

- “sempre pensa que vai mal nas provas”

- “ansiedade”

O diagnóstico de déficit de atenção é uma das possibilidades diagnósticas. Os

sintomas acima são suficientes para concluir o diagnóstico de Dislexia. Segundo

dados obtidos através do “Connecticut Longitudinal Study”7, a dificuldade para ler e

escrever ocorre tanto nos pacientes com Déficit de Atenção como nos pacientes

com Dislexia. A natureza da dificuldade nos permite distinguir claramente os dois

grupos. Os portadores de Déficit de atenção apresentam dificuldade para ler e

compreender, pois pulam palavras, pulam linhas inteiras, mas quando solicitados,

conseguem ler as palavras isoladamente. O segundo grupo, formado pelos

portadores de Dislexia, comete erros de natureza fonêmica à leitura e à escrita.

Dentre estes, os mais freqüentes são: inclusão ou exclusão de letras ou sílabas,

confusão de fonemas, incapacidade de ler ou compreender uma palavra conhecida;

2. O relato da professora e do paciente foi bastante preciso, fato não muito comum.

Este relato auxiliou na repertorização do caso e conseqüente escolha do

medicamento adequado;

3. Os sintomas da linguagem, utilizados para compor a Síndrome Mínima de Valor

Máximo, poderiam ter sido melhores pesquisados e modalizados. O sintoma

gagueira, parece ser relacionado à dificuldade de leitura, pois somente se manifesta

quando o paciente lê. Não ocorre em outros momentos da vida diária. Talvez tenha

havido um engano na compreensão deste sintoma;

Page 64: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

4. O paciente apresentava sintoma de troca de fonemas, troca de letras ou sílabas ,

dificuldade para ler algumas palavras e dificuldade de compreensão de textos.

Esses ocorrem devido à deficiência do sistema neural, responsável pela consciência

fonêmica, localizado na área occipito-temporal esquerda, segundo dados

consistentes obtidos através do Connecticut Longitudinal Study7, com o recurso da

Ressonância Magnética funcional. Após 6 meses de tratamento homeopático houve

melhora da velocidade de leitura e da compreensão de texto. O paciente parou de

gaguejar ao ler e parou de cometer erros escrevendo.

Essa melhora substancial, não encontra explicação na grande maioria dos

estudos realizados até os dias de hoje. Esses estudos mostram que a dificuldade de

escrita permanece sempre, independente das intervenções para melhorar a fluência

à leitura. A velocidade de leitura e a compreensão do material lido podem

apresentar melhora. Esta só ocorre com a aplicação diária de métodos de leitura

específicos para Dislexia, por um período de 1 a 3 anos.

Quando analisamos os distúrbios da fala e da leitura a partir dos

conhecimentos atuais obtidos através da neurociência, podemos concluir pelo

exposto acima, que a evolução desse caso foi uma evolução inesperada. O

tratamento homeopático atuou melhorando a consciência fonêmica e

consequentemente a leitura e a escrita. Houve melhora do humor, melhora da

ansiedade e do Déficit de Atenção apresentados pelo paciente. As evidências

científicas mostram que a melhora na leitura e escrita levam a melhora espontânea

dos sintomas secundários como Depressão, Déficit de Atenção, agressividade, e

outros.

Entendemos, baseados no exposto acima, que a Homeopatia pode ser uma

opção para o tratamento da Dislexia. Com um medicamento único, podemos tratar a

Page 65: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

totalidade sintomática do paciente disléxico, com eficácia superior aos tratamentos

não medicamentosos preconizados atualmente.

Page 66: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

CONCLUSÃO

A Dislexia é o mais prevalente distúrbio da aprendizagem. A partir dos avanços

da neurociência, que tem mostrado como o cérebro lê e processa a linguagem,

podemos compreender como a Dislexia se manifesta na estrutura cerebral, e quais

métodos de intervenção são efetivos e necessários para a adaptação dos indivíduos

disléxicos à sociedade alfabetizada. Os estudos mostram hoje, de forma bastante

conclusiva, que os pacientes disléxicos podem melhorar sua habilidade lingüística,

porém essa melhora só ocorre quando são submetidos a treinamentos específicos.

Quando o diagnóstico e a conseqüente abordagem terapêutica são realizados com

prontidão, podemos diminuir a incidência de uma série de comorbidades e

alterações de comportamento, freqüentes nos disléxicos.

A queixa de dificuldade na leitura e escrita é raramente citada no atendimento

homeopático, em especial pelos adultos. A ênfase recai quase que exclusivamente

nas conseqüências destas alterações. Mesmo quando citados, não são relevados,

pois não estamos treinados para modalizar esses sintomas. O reconhecimento

desses sintomas e a sua modalização poderão nos permitir uma melhor escolha do

medicamento a ser dado.

No caso pesquisado e reavaliado, os sintomas de dificuldade de leitura e

escrita foram relatados na anamnese e usados para compor a Síndrome Mínima de

Valor Máximo e posterior escolha do medicamento, sendo observado uma melhora

da fluência na leitura e uma melhora na escrita, decorridos 6 meses de tratamento

homeopático.

Essa melhora na fluência ao ler só é observada nos indivíduos disléxicos

quando submetidos a um programa de leitura diário por no mínimo 1 ano. A melhora

na escrita não ocorre na maioria dos casos.

Page 67: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

O fato acima nos permitiu concluir que o tratamento homeopático foi

responsável pela evolução positiva do caso, nos encorajando a recomendar que

esse trabalho dê início a uma nova linha de pesquisa na medicina homeopática

visando:

- Promover a realização de patogenesias com os medicamentos que apresentam

sintomas disléxicos e proceder a Ressonância Magnética funcional antes e durante

a experimentação. Este estudo seria realizado com a finalidade de demonstrar se

ocorrem mudanças nos padrões de ativação da Ressonância Magnética funcional

nos experimentadores que desenvolveram sintomas disléxicos. Esse estudo

demonstraria a ação do medicamento homeopático;

- Realizar estudos com crianças disléxicas que tenham sido submetidas à

Ressonância Magnética funcional. Rever o padrão desse exame funcional após o

tratamento homeopático. Este estudo teria a finalidade de observar o impacto do

tratamento homeopático e a correlação entre a evolução dos sintomas disléxicos e

alteração nos padrões observados à Ressonância funcional;

- Realizar estudos em parceria com a Associação Brasileira de Dislexia observando

a evolução dos sintomas disléxicos, pré e pós tratamento homeopático, dos casos

de Dislexia diagnosticados nessa instituição.

Page 68: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Atenção com tratamento homeopático. São Paulo, 2004, 120pg.,

Monografia apresentada como conclusão de curso de Homeopatia, Escola

Paulista de Homeopatia.

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25. RIBEIRO FILHO,A. REPERTÓRIO DE HOMEOPATIA DIGITAL, 2006. 1CD-

ROM, 1 manual. Programa eletrônico para repertorizacao.

Page 72: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

Ficha de avaliação de Monografia – cópia aluno

Monica Luisa Rapp Schmidt Homeopatia, uma Proposta Terapêutica Para a Dislexia

2.3 DESENVOLVIMENTO

Tópicos de análise Conceito:

Ótimo Bom

Médio Regular Fraco

2.3.1. O tipo de pesquisa é caracterizado do ponto de vista metodológico

1. DA ESCOLHA DO TEMA (30% DO PESO) PESQUISA DE CAMPO (SE FOR O CASO)

1.1. O tema selecionado é coerente e adequado à área de estudo

2.3.2. A área de abrangência do estudo é delimitada e explicada

1.2. Corresponde às necessidades e expectativas da prática profissional

2.3.3. A população e amostra são bem definidas

2. DA ESTRUTURA OU CORPO

ORGANIZACIONAL DO TRABALHO ( 50% DO

PESO)

2.3.4. A amostra (sujeitos) é bem descrita e caracterizada

2.1. O trabalho explica claramente: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO, de forma conexa e integrada

2.3.5. Os instrumentos de coleta de dados apresentam coerência de elaboração, validação e aplicação

2.2. INTRODUÇÃO 2.3.6. As etapas metodológicas da pesquisa são descritas com precisão

2.2.1. Explica a justificativa ou razões do estudo, mostrando sua importância e significado

2.3.7. Os materiais e recursos orçamentários (se for o caso) são definidos e coerentes

2.2.2. Aborda a problemática de forma ampla, apresentando os problemas gerais que envolvem o tema

2.3.8. Se for o caso (pesquisa de campo), os dados são apresentados e analisados com técnicas precisas, permitindo a confirmação ou não, da(s) idéia(s) sustentada(s) (hipótese e/ou pressupostos)

PESQUISA TEÓRICA

2.2.3. Delimita e especifica claramente a ou as questões específicas que pretende investigar

2.3.9. O pesquisador apresenta as etapas de levantamento e seleção de material bibliográfico

2.2.4. A ou as questões abordam especificamente o ponto investigatório da pesquisa

2.3.10. As fontes (bibliografia pertinente) são exploradas em sua amplitude e necessidade

2.2.5. Uma idéia ou um conjunto de idéias é claramente explicitado(a) em forma de hipóteses ou pressupostos, salientando aquilo que o pesquisador pretende comprovar ou rejeitar. A tese é explícita.

2.3.11. As teorias, princípios, fundamentos e conceitos são explorados com propriedade

2.2.6. As variáveis (para pesquisas quantitativas) ou pressupostos (para pesquisas qualitativas) são claras (os) e determinadas (os)

2.3.12. As idéias são trabalhadas com características precisas e criativas, permitindo a organização de um “corpus teórico” e não apenas a justaposição (mosaico) do que foi extraído da leitura

2.2.7. Os termos básicos são definidos com clareza e precisão

2.3.13. A linguagem é clara, correta e adequada

Page 73: HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA

2.4. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS E JULGAMENTO FINAL DO AVALIADOR: (caso necessite de maior espaço, utilize as costas da folha)

2.4.1. A conclusão retoma (retrospectiva) os problemas, as hipóteses e/ou pressupostos, bem como os objetivos e fundamentos metodológicos e teóricos, dando uma visão de todo trabalho

2.4.2. A partir de tópicos do item anterior, a pesquisa apresenta conclusões claras, precisas e coerentes com as idéias (hipóteses e/ou pressupostos) que pretende sustentar

2.4.3. A pesquisa apresenta sugestões para outros estudos e abre novos pontos a serem aprofundados

3. DA FORMA E APRESENTAÇÃO (20% DO

PESO)

3.1. A datilografia (digitação) é realizada com precisão, revisão e estética

3.2. A datilografia (digitação) segue os padrões de folha guia, margens, separação de sílabas, espaçamento, títulos e enumerações

3.3. Autores e obras são citados de acordo com as normas da A.B.N.T.

3.4. A referência bibliográfica é precisa e de acordo com as normas da A.B.N.T.

3.5. Capa, folha de rosto, sumário, gráficos, tabelas e anexos são apresentados de acordo com as normas da A.B.N.T. e da EPH (em situações em que a A.B.N.T. é omissa)

3.6. A organização (e os tópicos) do trabalho permite a compreensão da estrutura do mesmo, facilitando o entendimento de seu conteúdo

Critério para a nota

Ótimo = O Bom = B

Médio = M Regular = R Fraco = F

3.7. O trabalho usa folhas de sulfite A4 brancas

O conceito para aprovação será uma média de BOM e ÓTIMO. Avaliador: Núcleo de Metodologia Científica Avaliação final: _____ (__________)