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frutas, legumes e flores | Junho 2016 34 frutas, legumes e flores | Junho 2016 34 Neste número da Frutas, Legumes e Flores fomos ao campo conhecer a produção de hortícolas para a indústria. Os produtores mostram desagrado com o preço pago pelas empresas, mas salientam com satisfação a segurança de um contrato de pré-produção no qual ficam estipulados a quantidade adquirida e o valor a pagar. Do campo, partimos para a indústria. Percebemos o que acontece a brócolos, ervilhas, curgetes, pimentos e tomates plantados em regiões como Ribatejo e Alentejo. O produto já transformado tem peso também na exportação. Segundo a Associação da Indústria Alimentar pelo Frio, cerca de «80% da produção total, em volume, é para exportação». Nesta viagem ao mundo dos horto- -industriais ouvimos ainda falar da necessidade de mais indústria e de crescimento por parte dos produtores. Sara Pelicano Horto-industriais, um sector com potencial de crescimento

Horto-industriais, um sector com potencial de crescimento plano_horto-industriais.pdf · A média anual de produção é de 110 t, produzidas em 265 ha. João Geada vende a sua produ-ção

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frutas, legumes e �ores | Junho 201634 frutas, legumes e !ores | Junho 201634

Neste número da Frutas, Legumes e Flores fomos ao campo conhecer a produção de hortícolas para a indústria. Os produtores mostram desagrado

com o preço pago pelas empresas, mas salientam com satisfação a segurança de um contrato de pré-produção no qual 'cam estipulados a quantidade adquirida e o valor a pagar. Do campo, partimos para a indústria. Percebemos o que acontece a brócolos, ervilhas, curgetes, pimentos e tomates plantados em regiões como Ribatejo e Alentejo.

O produto já transformado tem peso também na exportação. Segundo a Associação da Indústria Alimentar pelo Frio, cerca de «80% da produção

total, em volume, é para exportação». Nesta viagem ao mundo dos horto--industriais ouvimos ainda falar da necessidade de mais indústria e de

crescimento por parte dos produtores.

Sara Pelicano

Horto-industriais, um sector com potencial de crescimento

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AgromaisA região do Ribatejo tem uma grande tradição na cultura de hortícolas para a indústria. Batata, pimento, brócolo, tomate, cebola, abóbora são alguns dos produtos que nascem nas terras do Vale do Tejo e lezíria de Vila Franca de Xira, o espaço geográ'co que percorremos nesta reportagem. De salientar que nos últimos anos também o Alentejo passou a produzir horto-industriais, sendo mais uma fonte de alimentação da indústria.A Agromais – Entreposto Comercial Agrícola tem actualmente 60 associados a produzir hortícolas para a indústria, que totali-zam 1.550 hectares (ha) de onde serão colhidas 100.000 tonela-das de produto. A área de hortícolas para a indústria aumentou face ao ano passado, quando foram cultivados 1.300 ha. «No Ribatejo, temos abóbora, alho, batata, beringela, brócolo, cebola, curgete, ervilha e tomate. Na região do Alqueva, esta-mos a produzir alho, brócolo, pimento, tomate e abóbora», explica Bruno Estevão.O coordenador dos horto-industriais da Agromais conta como é de'nida a área que a cada ano atribuem a estas produ-ções: «Junto dos nossos associados recolhemos as intenções de produção. Com essa informação falamos com a indústria,

que pode dizer três coisas: que não pode aceitar tanto produto, dada a plani'cação que eles têm; que aceita; ou que precisa de mais produto. Voltamos a falar com novos produtores e revemos as intenções sempre que neces-sário». O preço 'ca desde logo acordado entre todas as par-tes, assim como as caracterís-ticas que o produto deve ter. O aspecto exterior dos hortí-colas é menos valorizado pela indústria, que tem elevados

O PREÇO AO PRODUTOR ESTÁ «ESTAGNADO»

Produzir hortícolas para a indústria é assegurar o lucro, no início da campanha porque os contratos são feitos antes da produção. Contudo, os agricultores de horto-industriais consideram que os preços pagos estão «estagnados», enquanto o custo dos factores de produção aumenta. Neste périplo pela produção industrial, falámos com agricultores integrados em organizações de produtores como a Agromais, a Torriba e a PrimoHorta.

Rita Marques Costa e Sara Pelicano

padrões de exigência relativamente ao oBrix e cor. As empresas transfor-madoras têm um papel activo na contratação do produto e chegam mesmo a ser parceiras na procura de novas variedades. Bruno Estevão por-menoriza que «há uma indicação da indústria sobre o que pretende rece-ber, com nome de variedade. Temos também a componente dos ensaios. Através desses ensaios, procuramos variedades que se adaptem à nossa zona de produção e vão ao encontro das necessidades da indústria. Esta colabora porque tem interesse em ter melhor produto. Há muitos ensaios em parceria e há outros motivados só por nós, mas o resultado 'nal tem de ser aprovado por eles».Conversamos com o coordenador dos horto-industriais no espaço Hortejo – Centro Horto-industrial da Agromais. Aqui têm três câmaras para armazenar batata com capacidade até 4.000 toneladas e mais câmaras de frio para cebola com uma capacidade de 7.000 toneladas. Nestas instalações há ainda condições para descasque de cebola para indústria, prepara-ção do brócolo, enviando para as fábricas apenas o !orete, e preparação de pimento.

O preço é maior desafioPercorrer as estradas do Norte do Vale do Tejo é estar entre diversas culturas hortícolas e cerealíferas. Pimento, tomate, cebola, abóbora, brócolos são alguns dos produtos que os agricultores associados da Agromais plantam. Na maioria, escoam a sua produção através da cooperativa. Alguns têm contratos directos com a indústria. Junto a um campo de batata, onde o verde é salpicado com o lilás da !or da batateira, encontramos Francisco Marques.

› João Geada, produtor de tomate de indústria

› Joaquim Cartas, produtor de cebola

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Desde que se recorda que trabalha a terra, tirando dela o sustento. Come-çou nesta actividade com o pai, deu-lhe continui-dade e hoje já trabalha lado-a-lado com a 'lha, So'a Marques. «Temos 142 hectares. Fazemos pousio, batata, pimento, brócolo de Inverno e de Primavera, abóbora, couve-coração, milho e vamos experimentar batata-doce. A couve-

-coração é para fresco e para exportação. Pimento e batata para indústria», comenta Francisco Marques. De batata produz 2.250 t, de pimento 350 t e de brócolo 750 t. Para o produtor o maior desa'o está no preço pago pela indústria. Os valores estão «estagnados há vários anos».O mesmo sentimento tem Joaquim Cartas. Agricultor há mais de 30 anos, comenta que «já ganhou dinheiro, hoje está tudo estagnado e ganha-se para manter a actividade». Fala-mos junto ao seu campo de cebolas, que representa 30 ha dos 240 ha totais que explora, e nos quais produz batata, milho, pimentos, brócolos, alhos. Gosta de trabalhar com a indústria, a qual fornece com brócolos e pimentos, porque «o preço é mais seguro» do que na venda dos produtos em fresco. José Inverno produz diversos hortícolas, todos escoados para a indústria. Tem 10 ha de pimento, 30 ha de ervilha, 110 ha de tomate e uma parte também de brócolo. A área mais extensa está ocupada com cereais, 400 ha. «Faço todos os hortícolas para indústria porque as áreas são grandes e permitem mecanização. Se fosse para fresco, precisava de mais mão-de-obra», comenta José Inverno. O produ-tor entende que o «problema da indústria é a oferta e a procura. Às vezes, temos produtos com menos qualidade e valorizam espectacularmente, outras vezes temos produ-tos de grande qualidade e até recusam ou pedem descontos». A mais-valia é saber que o que produz em cada campanha já está vendido, no entanto o preço é um problema. «Cada vez temos de pro-duzir mais e mais barato. Mais quantidade e mais qualidade. Estamos a ser esprimidos de uma tal maneira pela indústria, que o dinheiro quase não é su'ciente para pagar o custo da cultura.»

› Luís Vasconcellos e Souza, presidente da direcção da Agromais

›So(a Marques ao lado do pai, Francisco Marques, no campo de batata

› José Inverno produz pimento para a indústria

«A nossa restrição

é a indústria» –

Luís Vasconcellos

e Souza, presi-

dente da direcção

da Agromais

No negócio da Agromais, qual o peso dos horto-industriais?Os horto-industriais, em termos de facturação, representam à volta dos 15%. Gostávamos que fosse mais. Os hortícolas em fresco representam 8%.

A produção de horto-industriais é preferível ao produto em fresco? Porquê?A questão dos horto-industriais é que dependem mais da indús-tria do que de nós. O que me parece interessante é arranjarmos ou mais indústrias ou que as indústrias actuais cresçam. Neste momento, em Portugal há um marasmo. Temos boas condições para produzir; produzimos bem em termos de quantidade e qualidade. A nossa restrição é a indústria. Não temos tradição industrial. O que o agricultor preza na agricultura industrial é estabilidade de preço. O mercado de fresco em Portugal, com o aumento desmesurado da capacidade negocial das grandes superfícies, passou a ser um negócio menos interessante. Esta-mos a correr o risco de o negócio de fresco se transformar num negócio industrial sem preço garantido, ou seja, a “indústria do fresco” passa a ser a grande superfície, pois compra grandes quantidades, mas não garante preço.

Há condições para criação de mais agro-indústria em Portugal? Ao nível nacional, os estímulos aos investidores estão a decres-cer. É uma questão política. Eu não acredito em distribuição de riqueza, sem formação de riqueza. A questão do desemprego

Na lezíria de Vila Franca de Xira, João Geada produz tomate para indústria desde 1998. A média anual de produção é de 110 t, produzidas em 265 ha. João Geada vende a sua produ-ção à Agromais, que tem os contratos com a indústria. «Esta valoriza a cor e o oBrix, sobretudo.» À semelhança dos seus colegas, João Geada considera que o preço pago ao produtor não tem acompanhado o aumento dos custos de produção. «Neste momento é complicado. A média por tonelada está nos 72 euros e o ideal seria 85 euros», refere.

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› O pimento que nasce ao ar livre no Ribatejo

vai agravar-se. Vai haver uma tendência do Estado em querer tomar sobre si a geração do emprego. Vamos assistir a uma fase má do ponto de vista económico no nosso País, em que, a bem da satisfação social do povo, vão ser criados novos custos. O problema deste País só se resolve com investimento estran-geiro, pois não temos capacidade 'nanceira nacional. Estamos quase sem banca e sem indústria.

A Agromais tem também produtores na região do Alqueva, onde ainda não há indústria hortícola. A distância geográfica às fábricas, localizadas na sua maioria no Ribatejo, é um entrave ao desenvolvimento daquela região alentejana?Aquilo que me parece importante é especializar a zona do Alqueva, especialização produtiva essa que tem de dar origem a uma especialização industrial e comercial. Mas isso não está a acontecer. O que existe de agro-indústria na região são laga-res, a menor industrialização. O Alqueva é uma zona única na Europa, que é competitiva e pode produzir, não coisas triviais, mas produtos de nicho. O Alqueva e o Douro são duas zonas agrícolas onde estão a acontecer fortes investimentos, feitos por agentes externos. A política portuguesa tem de facilitar esse caminho. Os investidores estrangeiros estão a gerar o desenvolvimento.

Como vê a evolução deste sector em geral?O sector vai mexer, está melhor do que há dez anos. A geração actual é mais inovadora. Embora produzir hoje em dia seja mais complicado e requeira mais especialização da parte dos produtores. A lógica pode ser ou ter várias culturas em rotação ou ser agricultor com diversas actividades. O que é importante é produzir bem e/ou prestar bons serviços.

A agricultura nacional é competitiva?Ao nível dos custos de explorações, só a mão-de-obra é mais barata quando comparada com os nossos concorrentes. Temos tractores, electricidade, factores de produção mais caros do que os nossos concorrentes quando indexados ao nosso poder de compra. Somos vítimas da pequenez do nosso mercado como clientes e somos ao mesmo tempo vítimas da consolidação do mercado como fornecedores. O que temos na verdade é um meio de negócio que nos é prejudicial.

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TorribaIgualmente no Ribatejo, a Torriba – Organização de Produto-res (OP) de Hortofrutícolas conta com a colaboração de 150 produtores e uma área total de 5.500 hectares, ocupados com diferentes culturas entre hortícolas e cereais. «Em números redondos, diria que temos 4.800 a 5.000 hectares de hortícolas. Para 2016, temos projectados 4.000 hectares para indústria», explica Rodrigo Vinagre, director da Torriba. A área dedicada pela Torriba aos horto-industriais «tem vindo a aumentar». Neste momento, o tomate de indústria é aquele que ocupa mais espaço, seguido da ervilha, batata, pimento, curgete, beringela, abóboras, favas. «Temos 250.000 toneladas de tomate; 7.000 t de ervilha; de batata, temos 25.000 t; de pimento estamos nas 7.000 t», pormenoriza Rodrigo Vinagre. No Ribatejo, têm localizada 90% da produção, mas já expan-diram a área de actuação para o Alentejo, nomeadamente Évora, Ferreira do Alentejo e Serpa. A mais-valia do Alqueva, para Rodrigo Vinagre, está no facto de haver nesta região alentejana uma menor incidência de doenças e pragas, logo menor necessidade de aplicação de 'tofármacos. No entanto, a distância daquela região à indústria «pode ser um entrave» à sua competitividade.

A relação com a indústria de hortícolas é descrita como «boa». O preço é também uma questão sempre a pairar nesta relação. Rodrigo Vinagre diz que a evolução «nem sempre é favorável, mas é a lei do mercado. Estamos num mercado mundial, os nossos produtos estão a competir com várias origens e temos de nos adaptar à realidade que o nosso cliente nos apresenta. O preço nem sempre é convidativo, mas se temos um abaixa-mento de preço, temos de corrigir isso com oferta».Quanto à necessidade de existirem mais fábricas de processa-mento de horto-industriais, o responsável da Torriba questiona «se há necessidade por parte do consumidor 'nal de mais produtos horto-industriais? Se houver, então temos capacidade [de produzir mais]».

«A média por tonelada [no tomate de

indústria] está nos 72 euros e o ideal

seria 85 euros.» João Geada, produtor

«Estamos num mercado mundial, os

nossos produtos estão a competir com

várias origens e temos de nos adaptar

à realidade que o nosso cliente nos

apresenta.»

Rodrigo Vinagre, director da Torriba

› Rodrigo Vinagre, director da Torriba

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No âmbito do evento Monliz Convida, subordinado ao tema da Sustentabilidade,

temos o prazer de informar que se irá realizar a segunda edição do DIA DO AGRICULTOR MON-

LIZ,que terá lugar no próximo dia de Julho, a partir das , nas nossas instalações

na Zona Industrial - Rua E, em Alpiarça.

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Crescer é uma perspectiva sempre presente para a Torriba. O director da OP dá um exemplo de como estão abertos ao crescimento sempre que há solicitações: «Há uns cinco anos, começámos a produzir amendoim em 20 ha, hoje temos 500 ha». «Temos capacidade para dar resposta às solicitações do mercado e dos nossos clientes. Lutamos muito mais por cres-cimento sustentado do que crescimentos pontuais», explicita Rodrigo Vinagre, também ele produtor. Tem 500 hectares totalmente em regadio. Produz batata, cenoura (em fresco), ervilha, amendoim, girassol e tomate de indústria no Vale do Tejo, Salvaterra de Magos e Benavente. Em 2016, 50% da sua área está ocupada com horto- industriais.Nas contas da Torriba, a exportação tem peso de 15 a 20%. Os produtos para indústria que escoam para outros países são tomate, ervilhas e batata. É entre Almeirim e Alpiarça que José Roque Bento, produtor associado à Torriba se dedica ao cultivo de tomate (108 ha), brócolo (10 ha) e pimento (sete ha). Sobre aquilo que a indús-tria procura, o agricultor avança que «o tomate tem de ser um vermelho intenso» e o «grão da cabeça do brócolo tem de ser miúdo para não cair ao congelar». Em relação ao preço pago à produção, José considera que «podiam pagar um pouco melhor», mas compreende «a concorrência entre indústrias ao nível mundial». «Se não ganharmos dinheiro, também não conseguimos produzir», declara.

PrimoHorta No que toca à indústria, os 14 produtores associados à Pri-moHorta dedicam-se ao cultivo de batata e cenoura. As explorações estão espalhadas pela margem Sul do Tejo, em Alcochete, Montijo e Palmela. Este ano, a «produção reduziu», devido à rotação dos campos, conta Paulo Leite, gerente da organização de produtores. A maior parte da batata é utilizada para a transformação em batata frita. Os requisitos, diz Paulo Leite, são semelhantes aos apresentados para o consumo em fresco, ou seja, o produto deve estar «isento de resíduos». Em particular no negócio da batata de indústria, «ou se tem boa produção ou é complicado». Por isso, «tem de haver poder negocial por parte da produção». Paulo Bártolo é associado da PrimoHorta, mas tem contratos individuais com a indústria, a quem fornece batata (20 ha), ervilha (27 ha) e alho (10 ha). A batata que produz deve ser entregue «sem defeitos e com um calibre superior a 35». De resto, a indústria «não é muito exigente», a'ança o produtor. O preço pago à produção é «apertado». Quando o clima «não prega partidas, consegue-se», remata o agricultor.

› A Torriba conta actualmente com 150 produtores

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www.�frevista.pt

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Trabalham com quantos produtores, com que culturas, com que área e com que volume?Trabalhamos com cerca de 300 produtores. A área contratada para este ano é de 3.000 hectares e prevemos chegar às 40.000 toneladas de produto processado – cerca de 60.000 toneladas compradas a produtores –, que era a capacidade para a qual a fábrica foi dimensionada, tal como está agora. De acordo com a especialização que o grupo onde nos inserimos pretende para cada fábrica, trabalhamos sete produtos. Os mais importantes continuam a ser o pimento e o brócolo. Nessas duas culturas há potencial para crescer. E temos tentado, dentro do grupo, trazer para Portugal a produção de alguns produtos em que pensamos que temos condições para competir. A abóbora e a batata-doce são os últimos exemplos. Mas temos outros na calha. Tudo o que produzimos de matéria-prima destina-se ou à unidade de Alpiarça ou, em volumes muito mais pequenos, para exportação em fresco para o grupo.

Qual foi o volume de negócio em 2015?Ainda não fechámos o ano 'scal. No 'm de Dezembro ultra-passámos os 50 milhões de euros. Foi uma meta importante. Algum deste volume de facturação tem que ver com a conso-lidação operacional das duas unidades da Monliz: Portugal e Badajoz. Todo o volume produzido em Badajoz é transportado para Portugal e é embalado aqui.

Continuam a ter produção em Espanha?Espanha aparece em 2009, 2010 como forma de rapidamente rentabilizarmos o investimento que 'zemos na duplicação da fábrica. Socorrendo-nos só da estrutura produtiva e dos produtores em Portugal, não era possível duplicar num ano a área de produção. A área em Espanha tem vindo a reduzir cada vez mais. Neste momento, a matéria-prima que importamos de Espanha está abaixo dos 20%.

«O PRODUTOR É CRÍTICO PARA O NOSSO SUCESSO»

Em 2014 foi salientada a necessidade de mais produção em Portugal. Há mais produção?Todos os anos temos crescido. Isso é um indicador de que há mais produção. A área contratada em Espanha todos os anos tem diminuído. Estes dois factores mostram que as culturas que produzimos têm tido uma aceitação crescente. Sabemos que há condicionantes externas: o preço do tomate ou do milho in!uencia o que conseguimos contratar de algumas culturas. A maior parte do crescimento da contratação em Portugal vem do crescimento que alguns agricultores 'zeram e também da entrada de novos agricultores, mais na região do Alentejo, onde algumas culturas estão muito bem adaptadas. É uma área muito boa para produzir brócolo.

O que acha da capacidade de resposta dos produtores portugueses?Ao nível das capacidades técnicas, não temos limitação para produzir qualquer tipo de produto daqueles que processamos. Onde sentimos mais limitação é no número de produtores, nas áreas. Ao nível da mão-de-obra, temos algumas limitações. No último ano sentiu-se mais fortemente. As duas principais culturas da Monliz são colhidas à mão, incorporam muita mão- -de-obra. Isso limita também o interesse de alguns agricultores.

A Monliz é uma empresa portuguesa de produção de vegetais ultracongelados e embalamento, cujo capital é detido por dois grupos belgas de produtos ultracongelados (Ardo e Crop’s). A empresa tem vindo a crescer em produção e capacidade de processamento e Mauro Cardoso, director-geral, salienta que há potencial para continuar a crescer.

Carlos Afonso

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Já há muitos anos investimos na mecanização da colheita do pimento. Cerca de 10% da área de pimento que contratamos é colhida mecanicamente.

Que condições proporcionam aos produtores? Temos a garantia total de escoamento. O preço é acordado antes da sementeira. Temos um apoio técnico muito forte. Temos investido cada vez mais no nosso corpo técnico e refor-çámos o número de engenheiros agrónomos no departamento agrícola. Investimos muito tempo e formação na presença em campo. Depois, o método de trabalho que introduzimos já há bastantes anos, com os contentores metálicos e com o controlo total da logística do campo à fábrica, permite que o agricultor não tenha preocupação com a entrega do produto. E a possibilidade de crescimento é muito importante. Há muitas culturas que têm um potencial de crescimento enorme. Alguns produtores têm capacidade para produzir muito mais. E para os novos produtores é uma mais-valia saber que começam com uma área de teste, mas que podem expandir. Além de todo o apoio na parte 'nanceira, em termos de factores de produção, onde fazemos o adiantamento das plantas, a preços competitivos. Por negociar em conjunto, conseguimos preços para sementes e plantas que a maior parte dos agricultores não teria individualmente.

Queriam crescer em produção no Alqueva. Como está a correr?O núcleo principal de produção continua a ser o Ribatejo, com 70% da matéria-prima que contratamos. O Alqueva tem tido uma evolução positiva, mas lenta, como esperávamos. Temos como principal di'culdade a questão da mão-de-obra. Nalgumas explorações conseguimos ter um mix de produções em que, por exemplo, o brócolo no Inverno é extremamente interessante, porque compatibiliza com outras culturas em empresas agrícolas que já têm mão-de-obra. Mas temos ainda algumas empresas ou produtores a testarem diversas culturas. Gostaríamos muito de já estar a contratar toda a área de que precisamos em Portugal. Na nossa unidade de Espanha também estamos a crescer bastante. Temos investimento em curso este ano para aumento de capacidade de produção. Já estamos também a contratar, na Extremadura, mais área de pimento, brócolo, beringela e curgete para a unidade de Espanha. Era extremamente interessante termos no Alqueva uma zona de produção que pudesse servir também Badajoz. Todos os anos temos tido crescimento na área contratada. A última campanha correu extremamente bem. Prevemos que, com a consolidação da estrutura de produtores e com o alargamento das áreas desses produtores iremos ter um crescimento orgânico muito interessante nos próximos anos.

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A produção do Alqueva vai igualar a do Ribatejo? A nossa intenção é crescer. Não apenas no Alqueva, mas também no Ribatejo. Trabalhamos com produtos perecíveis, onde o tempo entre a colheita e o processamento é funda-mental para uma boa qualidade, e seguramente o Ribatejo será sempre a principal fonte de fornecimento à unidade de Alpiarça. No caso do brócolo de Inverno, o transporte e o tempo de processamento que advém dessa maior distância não é signi'cativo, não tem impacto na qualidade do produto. É uma cultura que se adapta muito bem à região do Alqueva. No brócolo pensamos crescer ainda mais na zona do Alqueva.

Vão manter a produção própria?A tendência será reduzi-la a zero. Não somos agricultores, somos agro-indústria. Tivemos que verticalizar a operação nalgumas culturas para conseguir os tais crescimentos rápi-dos. Mais do que duplicámos a produção em cinco anos, o que não é fácil.

O que representa a exportação no vosso negócio?A Monliz faz parte de um grupo, não existe per si. Toda a exportação é feita através do grupo, que tem uma estrutura comercial muito forte, baseada sobretudo na Europa, mas também com algumas delegações na Ásia, na América do Norte. A nossa estrutura comercial só se dedica ao mercado nacional, onde somos o braço comercial do grupo. Não comer-cializamos apenas os produtos processados nesta unidade. Dentro dos 100 vegetais que comercializamos e das mais de 30 ervas aromáticas, há uma parte muito importante de importação. A percentagem de exportação já ultrapassará os 80% das vendas. Daquilo que é produzido nesta unidade, mais de 90% é exportado, o que signi'ca que há importação de produtos de outras unidades para venda no mercado nacional.

Para quando a terceira fase de ampliação das instalações de Alpiarça?Algumas áreas de actividade da empresa estão ocupadas a 100%. Há um dé'ce muito grande de oferta de espaço de armazenamento a temperaturas negativas em Portugal. Alguns factores externos têm feito com que haja uma ocu-pação muito grande da pouca área que ainda existe. Temos capacidade para cerca de 33.000 paletes em Alpiarça. Em Badajoz teremos cerca de 10.000. E tanto uma unidade como a outra precisam de mais capacidade, o que implica o envio antecipado de produto para o Centro e Norte da Europa, para fazer lá o armazenamento. É natural que possam apa-recer investimentos a curto prazo para aumento da capaci-dade instalada de armazenamento nas duas unidades. Com o crescimento também temos feito algum investimento no acondicionamento dos produtos. A nossa unidade de acon-dicionamento de produtos trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana. Investimos cerca de um milhão e meio de euros no ano passado numa nova linha de embalamento. E continuamos a ter o nível de ocupação muito, muito alto. Tam-bém nessa área há necessidade de fazer mais investimentos

a curto prazo. Essa terceira fase está perto. Penso que é um sinal para os produtores de que os accionistas da Monliz continuam a acreditar na produção nacional, continuam a querer expandir a actividade.

A batata-doce pode ganhar dimensão na Monliz? Este ano produzimos já quantidades muito interessantes de batata-doce. Temos potencial para fazer muito mais. Esta-mos a enviar praticamente 100% da produção agrícola que fazemos para outras unidades do grupo. E os projectos que o grupo tem para este produto levam-nos a pensar que as áreas poderão duplicar a muito curto prazo. Portugal tem todas as potencialidades para poder desenvolver a cultura. Nota-se ainda alguma falta de preparação na estrutura de comercialização do produto. Sobretudo no armazenamento: há muito pouca capacidade. Isso leva a que não consigamos ser competitivos ou que não possamos usar todo o potencial do mercado fora das campanhas. Era importante o desenvol-vimento de estruturas de abastecimento e de armazenamento de produtos horto-industriais, que permitissem ao produtor um mix de venda e uma expansão das áreas de produção. Para que possamos ter mais tempo para escoar a produção e mais tempo para fornecer as unidades. Contratamos muita área de batata-doce noutros países e o factor mais diferenciador que encontramos é o armazenamento do produto e a sua disponibilização ao longo de todo o ano. Em Portugal ainda não conseguimos. Esse é um factor limitante também para a expansão da cultura.

Quais os objectivos do Dia do Agricultor, que vão realizar a 9 de Julho?Tivemos a primeira edição em 2014. Vamos ter este ano a segunda edição e estamos a ter uma aceitação muito grande. Este evento nasceu da necessidade da 'delização do produtor à Monliz. Para que haja uma 'delização tem de haver conhe-cimento. Procurámos, com este evento, criar a oportunidade para desenvolver o conhecimento mútuo, mas também para fazer algo que sentíamos que fazia bastante falta em Portu-gal: a valorização do papel do produtor. O produtor é crítico para o nosso sucesso.

Qual é a sua opinião sobre o estado do sector horto-industrial em Portugal e o seu futuro?O sector tem crescido, tem-se desenvolvido e tem atraído novos produtores. O saldo é positivo. Sentimos por vezes é que a velocidade podia ainda ser superior. Deveriam existir meca-nismos que aumentassem a cobertura do risco da actividade do agricultor. Era fundamental que houvesse um trabalho das companhias de seguros, das entidades governamentais e das organizações do sector. Penso que o futuro do sector é risonho. Vemos um potencial enorme, que tem vindo a ser aproveitado. Temos condições concorrenciais interessantes, conseguimos oferecer produtos de alta qualidade, diferen-ciadores... Penso que isso nos garante também o sucesso. A velocidade podia ser maior.

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DO CAMPO À INDÚSTRIA

Legumes congelados: escaldados, fritos ou grelhados Camiões carregados de legumes diversos, fritadeiras a borbu-lhar e tapetes rolantes que guiam os hortícolas pelas diversas fases da sua transformação são alguns dos elementos que dão vida à 'lial portuguesa da Bonduelle.É em Santarém, a escassos minutos de explorações onde se produz cebola, curgete, pimento, tomate e outros hortícolas, que se encontra a fábrica. É lá que, todos os anos, entre 42.000 e 43.000 toneladas de legumes são processadas e congeladas. Uns são simplesmente escaldados. Outros são fritos e grelhados. A unidade portuguesa dedica-se «exclusivamente» à conge-lação, conta António Manso, administrador da Bonduelle em Portugal.  A fábrica transforma pimento, beringela, curgete, brócolo, ervilha, cebola, tomate, pimento padrão e algum milho doce, entre outros volumes menores. Entre 95 e 98% destes hortícolas são comprados em território nacional. O restante é adquirido

O périplo pelo sector dos horto-industriais termina na indústria, onde percebemos como funciona a transformação e o embalamento dos hortícolas.

Rita Marques Costa e Sara Pelicano

em Espanha, quando a produção portuguesa não responde às necessidades da indústria. Um dos exemplos é o brócolo, «porque esta é uma zona que, nos últimos tempos, tem sido complicada, devido à humidade e pluviosidade do Outono. O que nos obriga a dispersar um pouco e daí a chegada à Extre-madura espanhola». António Manso garante que «sempre que há alternativa local é muito melhor», uma vez que «o produto é tratado mais próximo da colheita e o tempo de espera é menor». «Não faz sentido termos aqui uma indústria e depois aprovisionarmo-nos a 500 ou 600 quilómetros», reforça.Quanto às características a que os legumes devem obedecer para serem transformados pela indústria, António Manso refere que «têm de estar no seu perfeito estado». «Têm de ter bom aspecto.»Na hora de congelar os alimentos, o processo é realizado o mais rápido possível, de modo que «se mantenham as características organolépticas do fruto». «Há produtos, como a ervilha, em que não há espera. Entre o 'm da colheita e o início da congelação pode haver uma hora, que é o transporte. Quando chega aqui é imediatamente processado. Não pode haver acumulação nenhuma», explica o responsável. Outros produtos, «como o pimento, a curgete ou a beringela, não têm problema nenhum em esperar, até porque também temos câmaras frigorí'cas positivas que permitem armazenar» os legumes que não vão ser transformados nesse momento.A Bonduelle chegou a Portugal há 27 anos e veio «con'rmar o potencial desta região e quais as culturas em que podíamos ser competitivos». Além disso, «veio introduzir algumas cul-turas», como a curgete, «que ainda não se fazia em termos agro-industriais», e a beringela, «que somos a única indústria que transforma». No Verão, o pico da actividade, emprega 250 pessoas e tem um efectivo médio anual de 170 trabalhadores.

› Curgete grelhada da Bonduelle

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Sopas como as lá de casaO processo de confecção das Sopas Graciete é semelhante ao adoptado por qualquer pessoa que decida fazer sopa em casa, mas a uma escala relativamente maior. Os hortí-colas entram na linha de preparação, são lavados por uma máquina, descascados manualmente pelos operadores da fábrica e separados em grandes baldes brancos, de acordo com a receita em que vão ser utilizados. Os recipientes são armazenados numa câmara frigorí-'ca para que, na manhã seguinte, possam ser cozidos e triturados. No primeiro andar, as panelas industriais fervem a água com os legumes durante cerca de uma hora, para depois serem transformados num puré. Passa pouco tempo entre a 'nalização do produto e o seu embalamento. O objectivo é fazê-lo o mais depressa pos-sível, para que a sopa possa ser arrefecida rapidamente, estendendo-se assim «o período de vida na prateleira», conta Vasco Vieira, sócio-gerente da empresa.Depois de acondicionadas em embalagens de 400 mililitros, de um quilo e de quatro quilos, as sopas são distribuídas por clien-tes espalhados por todo o País. A partir de Junho, a empresa começa a abastecer o Lidl em Espanha. Diariamente, preparam-se 6.000 litros de sopa, o que corres-ponde a 4.000 kg de batata e cenoura e a 200 kg de couves, espinafres e agrião. Ao todo, são 20 referências diferentes, preparadas quase todos os dias. Os hortícolas utilizados na confecção das Sopas Graciete não são exclusivamente nacionais porque «durante o ano, nem todos se conseguem arranjar em Portugal». Pelo que, por exemplo, vem batata de França, Espanha e Holanda. A empresa não exige muitas especi'cidades aos produtos que compra (todos frescos), à excepção do agrião, que «tem de ser de água, por-que vem mais limpo, não traz podres e é mais fácil de lavar».Nascida em 2004, pela mão de Vasco e Cláudio Vieira, a Sopas Graciete trabalha com a McDonald’s, para onde faz, além das suas referências próprias, duas receitas diferentes: o creme de legumes e de ervilhas. No ano passado, vendeu 300.000 litros

de sopa para a cadeia de restaurantes em Portugal, que Vasco Vieira descreve como um «bom cliente», em vários aspectos: «A logística, a forma de encomendar, os pagamentos».A fábrica, localizada em Évora, emprega cerca de 35 pessoas, que se dedicam à preparação e confecção das sopas. No futuro, Vasco Vieira confessa que as referências da Sopas Graciete passarão a integrar produtos biológicos.

As cebolas portuguesas que agradam aos espanhóisEm Alqueva, há «a terra muito boa», o clima favorável e agricul-tores «muito pro'ssionais», nota José Burguillos, responsável pelas relações institucionais da Vegenat. É por isso que esta empresa espanhola dedicada à transformação de hortofrutí-colas em produtos desidratados contratualiza a produção de cebola a mais de duas dezenas de produtores 'xados na região.No total, são cerca de 300 hectares, espalhados por zonas como Beja e Serpa, que entregam, em cada campanha, entre 7.000 e 7.500 toneladas de cebola à empresa. Desde a plantação à colheita, o apoio dado pela Vegenat aos produtores é total. José Burguillos conta que o processo se desenrola da seguinte forma: «A primeira coisa que fazemos é levar-lhes a semente, que é uma variedade desenvolvida pela Vegenat e patenteada pela empresa. Temo-las protegidas ao nível europeu, para que ninguém as produza sem ser com a nossa autorização. Depois, colhemos o produto, que é levado até à nossa fábrica em Badajoz. Uma vez transformado, parte desse produto é enviado para a McDonald’s Europa e outra parte para a McDo-nald’s Portugal». Na fábrica, as cebolas passam por cinco fases diferentes: são lavadas, cortadas, desidratadas, classi'cadas e embaladas.A cebola produzida na zona do Alqueva obedece a duas carac-terísticas: um alto conteúdo de matéria sólida (entre 20 e 22%) e a cor branca.De momento, a Vegenat está em negociações com cooperati-vas da zona de Beja e Brinches de modo a construir armazéns para o armazenamento da cebola no Outono e, desse modo, conseguir aumentar a área contratualizada com os produtores portugueses.

› Armazém de cebola da Vegenat

› António Manso, administrador da Bonduelle em Portugal

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Valorizar a produção nacional utilizando-aA McDonald’s conta com 150 restaurantes espalhados por todo o País e tem abraçado a produção nacional como uma das suas bandeiras. Actualmente, traba-lha com 30 produtores portugueses, a quem compra azeite, maçãs, alface, tomate, ketchup, entre outros produtos. De facto, «o abastecimento proveniente de fornecedores nacionais é um projecto que tem vindo a ser desenvolvido em colaboração directa entre o departamento de Qualidade e o departamento de Compras da McDonald’s Portugal, para identi'cação e certi'cação dos fornecedores nacionais», diz André Santos, gestor de Qualidade e Compras da McDonald’s Portugal. Em 2015, «o volume de compras a fornecedo-res portugueses representou mais de 40% das nossas compras e a perspectiva é continuarmos a fazer evoluir este número», pormenoriza o responsável.

INFOGRAFIAO que compra a McDonald’s à indústria portuguesa (em quilogramas)Sopas (Unilever Food Solutions e a Sopas Graciete): 453.756Cebola picada (Vegenat): 41.813Ketchup (Italagro/HIT): 980.506(Valores relativos a 2015)

O QUE COMPRA A MCDONALD’S À INDÚSTRIA PORTUGUESA:(em quilogramas, valores relativos a 2015)

Sopas (Unilever Food Solutions e Sopas Graciete):

453.756

Ketchup (Italagro/HIT):

980.506

›Sopas Graciete

Cebola picada (Vegenat):

41.813

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Com quantos produtores nacionais trabalham actual-mente? A Sumol+Compal tem, desde sempre, procurado encontrar entre os produtores nacionais parceiros para o fornecimento de frutas e vegetais. Presentemente, trabalhamos com mais de 40 fornecedores, entre fruticultores e organizações de produ-tores portuguesas.

Qual a quantidade de fruta que necessitam para man-ter a fábrica em plena laboração? A Sumol+Compal transforma fruta durante a época de campa-nha que começa em Julho. Tem normalmente o pico em Agosto e prolonga-se até ao 'm do ano em quantidades inferiores. Para termos as linhas de fruta em plena produção precisamos de receber cerca de 1.200 toneladas por semana, sendo que o mínimo para podermos trabalhar são 150 toneladas numa semana. Na transformação de tomate, precisamos de cerca de 500 toneladas por semana.

O SUMO DA FRUTARita Godinho, directora de Matérias-Primas de Fruta da Sumol+Compal (S+C), conta como adquirem a fruta nacional para a produção dos sumos de fruta e vegetais. Por semana são necessárias 1.200 toneladas de matéria-prima.

Sara Pelicano

Entre aqueles produtos compostos com frutos que podem ser produzidos em Portugal, há capacidade da produção para vos abastecer ou têm de recorrer à importação? A Sumol+Compal privilegia o fornecimento a partir de Portugal sempre que possível, desde que haja disponibilidade de fruta e que não seja penalizante em termos económicos. Por isso, as frutas que processamos a partir de fruta fresca são maiori-tariamente de origem portuguesa. Em algumas frutas, como o pêssego, temos di'culdade em conseguir toda a quantidade em Portugal com as características que precisamos: com polpa e epiderme amarela. Assim, e dependendo do ano agrícola, temos de importar maior ou menor quantidade de fruta. Para resolver esta questão, a Sumol+Compal tem em curso vários acordos com pomares de pêssego de fruticultores portugueses. Nestes contratos com produtores nacionais, as variedades e a qualidade estão de'nidas e a produção total desses pomares é adquirida pela Sumol+Compal. Este projecto começou há

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alguns anos. Quando os pomares estiverem todos em plena produção e em anos em que a produtividade seja normal, deveremos conseguir a totalidade das nossas necessidades de pêssego com origem portuguesa. Outras frutas como a pêra ou a maçã são, na sua totalidade, produção portuguesa.

No seguimento da questão anterior, qual o volume que é abastecido em Portugal e qual a necessidade de fruta importada? No total da fruta, conseguimos adquirir nos últimos anos, em média, cerca de 65% em Portugal. O tomate, a pêra e a maçã são todos nacionais. No caso do pêssego, por exemplo, já tive-mos anos em que houve pouca disponibilidade da variedade de pêssego amarelo em Portugal e tivemos de adquirir cerca de 50% noutras origens. Há outras frutas, como a ameixa verme-lha, em que utilizamos quantidades muito menores e em que a disponibilidade depende dos anos. Um dos nossos objectivos é aumentar a utilização de fruta portuguesa, seja por transfor-mação directa nossa, seja pela parceria com empresas que têm outros tipos de processamento de fruta no nosso País. Por outro lado, com a inovação que é característica da Sumol+Compal, também temos conseguido levar ao consumidor novidades em sumo com fruta portuguesa.

A Sumol+Compal está agora também apostada em bebidas de vegetais. Os fornecedores são nacionais? Quais os volumes contratualizados? A marca Compal, enquanto líder de mercado tem a inovação no seu ADN, a vontade de abrir novos caminhos e conceitos, surpreendendo e indo além das expectativas. O recente con-ceito Compal Veggie é um dos eixos que reforça esta 'loso'a de constante inovação da marca Compal, considerando o que são os desejos e necessidades do consumidor. Neste enquadra-mento, Compal Veggie surge com o objectivo de responder a uma tendência de crescente preocupação dos consumidores com a saúde e a procura activa de incorporar mais vegetais na

sua alimentação diária. Uma gama de sumos 100% de fruta e vegetais sem adição de açúcar, composta por três sabores: tomate, beterraba-maçã e multi veg – que junta tomate, pepino, aipo, cenoura e beterraba.

Que resultados têm tido nesse segmento de bebidas de vegetais e qual o potencial de crescimento? Temos tido uma aceitação muito positiva do mercado, sendo que os dados de vendas estão de acordo com as nossas expectativas.

Que tipo de matéria-prima utilizam nos sumos: pri-meira escolha, segunda escolha? A Sumol+Compal é bastante exigente na qualidade da fruta a receber, uma vez que utilizamos o fruto na sua totalidade, excluindo caroços. Os nossos sumos dependem muito da quali-dade da fruta que está na sua origem. A fruta tem de estar no ponto certo de maturação, ter a cor de'nida, estar sã, limpa, isenta de pragas, não ter frutos podres, não ter resíduos de 'tofarmacêuticos, entre outras características. Assim, é fruta para indústria de primeira escolha.

Os agricultores portugueses dão resposta às exigên-cias da indústria? Nós privilegiamos relações estáveis e duradouras com os nossos fornecedores e eles têm respondido de forma positiva. Conhe-cem os requisitos de que precisamos e quando há questões a resolver ou alteração de exigências, analisamos em conjunto e de forma construtiva para chegar a uma solução.

Quais os países para onde comercializam o vosso pro-duto e que percentagem da produção exportam? A Sumol+Compal exporta regularmente para mais de 70 países todos os anos. O continente africano continua a ser o destino da maior parte das nossas vendas em mercados internacionais, mas também têm relevância alguns mercados europeus. A China, onde estamos a apostar, tem enorme potencial e tem dado sinais de crescimento. › Rita Godinho, directora de Matérias-Primas de Fruta da Sumol+Compal

› Na Sumol+Compal toda a matéria-prima é veri(cada

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A CERVEJA COM FRUTA

Sara Pelicano

O tempo quente e com muitas horas de luz começa a instalar-se. Condições meteorológicas que os portugueses gostam de

acompanhar com uma cerveja e petiscos. A Sagres, marca nacional, está muitas vezes presente numa reunião de amigos. À oferta de cerveja daquela marca juntam-se outras com sabores nacionais: a Sagres Radler Lima-Maçã de Alcobaça e a Sagres Radler Lima-Pêra Rocha. «A Sagres e as suas variantes têm no seu ADN a valorização

da portugalidade, dos seus valores e características», pormenoriza Nuno Pinto de Magalhães. O director de Comunicação e

Relações Institucionais da Sociedade Central de Cer-vejas comenta que o concentrado usado nestas bebidas é comprado «onde exista de forma cer-ti'cada a origem regional destes ingredientes». Estes sabores nacionais já chegam além-fronteiras, como declara o mesmo responsável: «Sagres Radler já é, hoje em dia, exportada para os principais mercados onde a cerveja Sagres se encontra dis-ponível, fazendo assim parte da nossa estraté-gia de expansão de portefólio». A este novo produto, a empresa junta um outro: a sidra Strongbow. Nuno Pinto de Magalhães explica

que, apesar de ser uma marca internacional, esta sidra tem uma receita «exclusiva para

Portugal», «mais adequada ao paladar do consumidor português». Questionado

sobre a possibilidade de existir sidra produzida com maçã nacional, o

nosso interlocutor esclarece: «A sidra é produzida através da fer-mentação dos sumos de maçãs especí'cas para o efeito e de maçãs culinárias. Nós gosta-mos de surpreender os nossos consumidores com as nossas inovações, por isso, aguar-demos para ver o que o futuro lhes reserva».

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HORTÍCOLAS CONGELADOS: 80% DA PRODUÇÃO É PARA EXPORTARCarlos Afonso

Fundada em 1975, a Associação da Indústria Alimentar pelo Frio (ALIF) representa, no sector dos horto-industriais, as indústrias Bonduelle, Dardico, Friopesca e Monliz. Segundo Dina Lopes, coordenadora-geral da ALIF, em 2015 foram produzidas cerca de 100.000 toneladas de hortícolas congelados, para o que foram processadas cerca de 142.000 t de matéria-prima. As importações de matéria-prima «não são expressivas e têm acontecido devido, essencialmente, a problemas de ordem climática no Outono/Inverno». Cerca de 80% da produção total, em volume, é para exportação, tendo como principais mercados a União Europeia (Espanha, Alemanha, França, Holanda, Reino Unido), os Estados Unidos da América e o Canadá. Dina Lopes a'rma que o sector dos hortícolas congelados em Portugal «tem tido crescimentos signi'cativos nos últimos anos e as perspectivas continuam favoráveis ao seu desenvolvimento futuro». «O aumento da produção nacional dependerá acima de tudo da evolução do mercado e da competitividade da 'leira agro-industrial, para o que será de primordial importância a existência de estruturas produtivas, agrícolas e industriais, tecnica-mente bem equipadas e empresários com formação e motivação.» A coordenadora-geral da ALIF conclui referindo que o sector bene'cia de algumas oportunidades: o potencial edafoclimático de Portugal para as culturas mediterrânicas; a mudança para dietas do tipo mediterrânico por parte dos consumidores europeus; a boa imagem de Portugal em termos de segurança alimentar no sector.

MATÉRIA-PRIMA DE HORTÍCOLAS

TRANSFORMADA EM PORTUGAL (t)

(Fonte: ALIF)42.0

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18.0

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Pimento

Beringela

Brócolo

Fava

Ervilha

Cebola

Curgete

Abóbora

Tomate

Outros

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Qual é a área de tomate que foi plantada para esta cam-panha?Penso que a área que está afecta ao tomate anda na ordem dos 19.000 hectares.

A produção poderá ser comprometida pelo mau tempo?Inevitavelmente. Qual é a dimensão do dano? Não sei. Para já, estamos francamente atrasados. Depois, há aqui um pro-blema. O ciclo vegetativo da planta deveria ser completado. Provavelmente, com tomate plantado depois de 15 a 18 de Maio, estamos a falar de tomate de Outubro e, hoje em dia, as pessoas esquivam-se a Outubro.

Como é que esta oscilação afecta os contratos com a indústria?Nós, indústria, fazemos contratos com as organizações de produ-tores em Fevereiro. Portanto, quando começam as plantações, em Março, a organização de produtores já sabe que quantidade contratou com cada a empresa. Quando fazem as plantações fazem-nas, em teoria, sabendo aquilo que os seus comprado-res lhes pedem. Temos hoje uma campanha estimada, muito similar à de 2015, e estamos todos muito inseguros em relação ao que vai ser o resultado destas condições climatéricas. Não é

só chuva. São as questões de temperatura e são as amplitudes térmicas. Estamos muito preocupados. É muito cedo para ava-liar o impacto, mas não é cedo para estarmos preocupados.

A produção recorde da campanha anterior pode afectar o escoamento do produto nesta campanha?Portugal teve, em 2014, um ano que, não sendo péssimo do ponto de vista histórico (porque apesar de tudo 1.200 tone-ladas é a nossa quarta maior campanha), foi mau em relação ao resultado comparado com as expectativas. O ano de 2013 já não tinha sido bom. Este é o ano em que precisávamos de sedimentar o nosso nível de produção e de pôr um foco muito signi'cativo sobre as questões qualitativas, nomeadamente a cor do fruto. O ano passado tivemos alguns problemas com a cor. Vamos ver o que se vai passar este ano. O meu receio é que isto [o mau tempo] possa impelir as pessoas a não deixarem concluir o ciclo vegetativo da planta.

Qual é o objectivo de um critério de cor à produção?A avaliação de que o tomate português é o melhor do Mundo é feita, no caso japonês, pelo teor de açúcar que o tomate tem. Pelo sabor, que pode ser subjectivo. Mas a cor não é como o sabor. A cor é mensurável. Durante muitos anos, a melhor cor

TOMATE DE INDÚSTRIA, UM ÊXITO INTERNACIONAL ALAVANCADO NA QUALIDADEMiguel Cambezes representa a Associação dos Industriais do Tomate há 25 anos. Em entrevista à Frutas, Legumes e

Flores fala da qualidade ímpar deste produto, dos receios para a campanha de 2016 e do impacto do Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP).

Rita Marques Costa

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era a portuguesa. Nós temos vindo a perder a cor, porque esta-mos a usar variedades de maior produção ou porque a equação produtiva não está totalmente balançada e equilibrada. Este é um elemento de distinção de venda. Em 2015, veri'cámos que o 'm de campanha foi bastante mau. Porque somos nós os clientes, tivemos de fazer uma intervenção no sentido de balançar melhor a equação produtiva, pondo a cor outra vez como um dos elementos da fórmula.

Os produtores são receptivos a este tipo de exigências?A relação entre as organizações de produtores (porque hoje já não há produtores a fazer contratos individuais) e os industriais é completamente transparente. É objecto de um contrato de onde consta tudo isto. É claro que o produtor, que está focado em obter o maior rendimento possível da sua exploração, não gosta destas necessárias correcções na equação produtiva. Porque, provavelmente, esta equação a que fomos obrigados signi'ca que temos de procurar variedades com maior cor e se calhar não tão produtivas. Neste, como noutros sectores, digo que vivemos a ditadura do consumidor. O consumidor não paga um tomate que é vermelho por fora e depois é branco por dentro. Cada vez que o consumidor puser o produto de lado e 'car identi'cado que é produto oriundo de Portugal, é todo um sector que 'ca em causa. Vamos ter de nos adequar.

Que trabalhos têm sido desenvolvidos no Centro de Competências para o Tomate de Indústria , no sentido de trabalhar questões como a cor do tomate?O Centro de Competências nasceu porque olhámos à nossa volta e começámos a perceber que havia certos indícios de que a indústria portuguesa estava a perder competitividade em sede externa. Assim, constituímos um centro de compe-tências com objectivos muito claros: diminuir em 10% o custo da campanha, aumentar em 10% a produtividade e estender a duração da campanha em 10%. Este era o desiderato do Centro de Competências. É claro que tem obrigação de, no momento em que detecta um problema, estudá-lo. O tomate para ter cor precisa de sol, precisa de calor em determinada altura, não pode ter grandes variações térmicas do dia para a noite, e, portanto, há aqui algumas questões que escapam ao controlo. Mas espero que aquelas que são controláveis pela mão humana venham a ser manejadas e geridas de forma inteligente. A cor, neste momento, é uma questão premente.

Quantos postos de trabalho é que a indústria do tomate gera?São 6.500 entre directos e indirectos. Tínhamos fábricas que trabalhavam com 200 pessoas e que hoje fazem a mesma coisa com 30. Fizemos investimentos gigantescos (diria que

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de competir com os americanos. Depois, há duas maneiras de encarar o consumidor: uma que é enquanto eu tiver dúvidas sobre um produto ou prática, não a torno disponível para o consumo; e a outra é que, até prova em contrário, a prática é segura. A primeira é europeia e a segunda é americana. O que eu digo é: primeiro, atenção ao desmantelamento da tarifa alfandegária; e depois, há que insistir na uniformização da legislação. A concorrência não é desleal porque não há práticas ilegais, mas é claramente adulterada. Há dois grandes sectores agro-alimentares que perdem com o TTIP, que são o tomate e a carne.

Que outros constrangimentos identificam na indústria neste momento?O constrangimento maior é o custo da energia, que é caríssimo em Portugal. Eu diria que em Espanha, dependendo das regiões, estamos a falar de 15 a 20% de diferença do preço. É muito sintomático que este ano as ofertas mais baixas que estão a ser feitas no mercado são oriundas de Espanha.

nos últimos anos foram 70 milhões de euros), em moderniza-ção, inovação e automação. Há 20 anos tínhamos mais de 20 fábricas e fazíamos 600.000 toneladas (t). Hoje, temos nove fábricas e fazemos 1.600.000 t.

Quais é que são os principais destinos da exportação do tomate português?Neste momento, a União Europeia é o nosso maior cliente. Mas exportamos para 42 países. O Japão é o segundo mercado de destino dos produtos portugueses. É o mercado mais exigente do Mundo em termos de qualidade e é o que melhor a remu-nera. Não sei o que se passou em 2015, mas em 2014, Portugal era o segundo fornecedor de produtos de tomate do Japão. O maior fornecedor era a China e o terceiro era a Califórnia. Isso, para nós, atesta a qualidade do tomate português. Quando um país é quali'cado para vender num mercado mais exigente, isso funciona como cartão de visita.

Que quantidades enviaram para o Japão em 2014?Em 2013, exportámos 31.000 t. De 2003 a 2013, triplicámos a exportação. Curiosamente, todos os outros foram perdendo posição relativa em favor de Portugal. Percentualmente, porque as quantidades são 'sicamente mais elevadas.

Como é que o TTIP pode afectar a posição da indústria portuguesa no mercado internacional?Na Europa, a produtividade média não chega às 80 t e os Estados Unidos da América continuam a fazer acima das 110 t, consistentemente. Porque são os mais avançados do ponto de vista tecnológico, têm a maior disponibilidade de terra em todos os produtores mundiais e a melhor qualidade de solo. Em cima disto, acontece que, no mesmo ano em que estamos a falar destes valores de produtividade, pagámos 82 euros por t e os californianos 67 euros/t. Sendo que a matéria-prima é 50% da nossa estrutura de custos. Não há a mínima possibilidade