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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Hospedeiros de Microorganismos Patogénicos: Detecção e Caracterização de Amibas de Vida Livre Rodrigo Mamede dos Santos Costa Mestrado em Biologia Humana e Ambiente 2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Hospedeiros de Microorganismos

Patogénicos:

Detecção e Caracterização de Amibas de

Vida Livre

Rodrigo Mamede dos Santos Costa

Mestrado em Biologia Humana e Ambiente

2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Hospedeiros de Microorganismos

Patogénicos:

Detecção e Caracterização de Amibas de

Vida Livre

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor António Pedro Alves de Matos

e pela Prof. Doutora Ana Amorim Ferreira

Rodrigo Mamede dos Santos Costa

Mestrado em Biologia Humana e Ambiente

2011

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Agradecimentos

Ao Doutor António Pedro Alves de Matos pela orientação, aconselhamento e sentido de

humor.

À Professora Doutora Ana Amorim Ferreira pela orientação, encorajamento e simpatia.

À Professora Doutora Filomena Caeiro pelos ensinamentos, acompanhamento e simpatia.

À Professora Doutora Filipa Vale pela disponibilidade e paciência.

À Vera Veloso pela boa disposição e ajuda.

Ao Bruno Matos e à Cristina Correia pela ajuda e ensinamentos.

À Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Ao Hospital Curry Cabral.

À Faculdade de Engenharia da Universidade Católica Portuguesa.

À Ciência.

Ao meu Pai, à minha Mãe e à minha Avó pelo apoio contínuo.

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Resumo

O interesse microbiológico e clínico pelas amibas de vida livre têm vindo a crescer nas últimas

décadas graças à demonstração da sua patogenicidade em indivíduos imunodeprimidos e do

seu papel como reservatório de microorganismos potencialmente patogénicos

(microorganismos resistentes às amibas) como por exemplo Legionella pneumophila e vírus da

família Mimiviridae. Estes são resistentes à destruição após serem fagocitados, existindo em

associação com a amiba hospedeira e com a qual podem desenvolver diversos tipos de

interacções que nalguns casos tem implicações na sua evolução e patogenicidade,

particularmente na selecção de características de virulência e resistência a antibióticos e

defesas celulares do hospedeiro animal. Esta associação facilita também a entrada dos

microorganismos no hospedeiro, na qual as amibas funcionam como “cavalos de Tróia”,

ocultando a presença dos microorganismos resistentes às amibas.

O presente trabalho teve como objectivo isolar, identificar e caracterizar, pela primeira vez em

Portugal, amibas presentes em meio hospitalar e marinho, e investigar a presença de

potenciais microorganismos resistentes às amibas nos isolados. No decurso da tese foi

desenvolvido um conjunto de metodologias que permitiram isolar, cultivar, identificar e

observar por microscopia óptica e electrónica amibas dos dois ambientes estudados. Isolaram-

se sete tipos morfológicos diferentes de amibas e identificaram-se molecularmente três delas

como pertencentes ao género Acanthamoeba. O isolado hospitalar foi identificado como

pertencente à espécie Acanthamoeba castellanii. Num dos isolados de amibas marinhas foi

detectada a presença de um microorganismo resistente às amibas.

Palavras-chave: Amibas de vida livre, microorganismos resistentes a amibas, isolamento,

cultura de células, microscopia electrónica

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Abstract

The microbiological and clinical interest for free-living amoebae has been growing in the last

decades due to the demonstration of their pathogenicity for immunocompromised individuals

and for their role as reservoir of potentially pathogenic microorganisms (amoeba resistant

microorganisms) such as Legionella pneumophila and Mimiviridae family viruses. These are

resistant to destruction after phagocytosis, living in association with the amoebal host with

which several types of interaction can develop, particularly in the selection of virulence traits

and resistance to antibiotics and the animal host’s cellular defences. This association also

facilitates the entry of the microorganisms in the host, with the amoeba acting as a Trojan

horse and hiding the amoeba resistant microorganisms.

The objective of this project was to isolate, identify and characterize, for the first time in

Portugal, amoebae present in marine and hospital environments, and search for potential

amoeba resistant microorganisms in the isolates. During the work we developed a set of

methodologies that enabled the isolation, cultivation, identification and visualization of the

amoebae from the two environments by optical and electron microscopy. Seven different

types of amoeba were isolated and three of them were molecularly identified as belonging to

the genus Acanthamoeba. The hospital isolate was identified as Acanthamoeba castellanii. In

one of the marine amoebae isolates we detected the presence of an amoeba resistant

microorganism.

Keywords: Free-living amoeba; amoeba resistant microorganisms; isolation; cell culture;

electron microscopy

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Índice

1. Estado da arte 7

1.1. Amibas de Vida Livre 7

1.2. Classificação de Amibas de Vida Livre 7

1.3. Patogenicidade de Amibas de Vida Livre 10

1.4. Amibas como Reservatório de Microorganismos 11

1.5. Microorganismos Resistentes às Amibas 12

1.6. Objectivos 14

2. Métodos 16

2.1. Colheitas 16

2.2. Culturas 17

2.2.1. Culturas Mistas 17

2.2.2. Culturas Axénicas 18

2.3. Microscopia Óptica 19

2.3.1. Colorações 19

2.4. Microscopia Electrónica 20

2.5. PCR e Sequenciação 21

3. Resultados 22

3.1. Culturas Mistas 22

3.1.1 Amibas 23

3.2. Culturas Axénicas 27

3.3. Microscopia Óptica 27

3.3.1. Colorações 28

3.4. Microscopia Electrónica 29

3.4.1. Microscopia Electrónica da Amiba T1 30

3.4.1. Microscopia Electrónica da Amiba T4 31

3.5. PCR 32

3.6. Sequenciação 33

4. Discussão 34

4.1. Culturas 34

4.2. Microscopia Óptica 34

4.2.1. Colorações 35

4.3. Microscopia Electrónica 35

4.4. PCR e Sequenciação 36

5. Conclusão 37

6. Bibliografia 38

Anexo I 45

Anexo II 47

Anexo III 48

Anexo IV 49

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1. Estado da Arte

1.1. Amibas de Vida Livre

As amibas de vida livre (AVL) são protozoários cosmopolitas, sendo capazes de colonizar uma

grande variedade de ambientes. São dos eucariotas com distribuição mais alargada, sendo

normalmente encontradas em biofilmes e nas interfaces água-solo, água-ar, água-planta, etc.,

onde se alimentam de bactérias, fungos, algas e outros protozoários. Os seus nichos ecológicos

são variados e a composição das espécies de um determinado local depende de vários factores

desde condições físicas e químicas à qualidade e disponibilidade de alimento e à história das

interacções entre espécies presentes (Smirnov, 2009; Rodriguez-Zaragoza, 1994).

Quando as condições são favoráveis ao desenvolvimento das AVL estas estão normalmente na

forma de trofozoíto, a forma vegetativa metabolicamente activa. O trofozoíto tem uma

locomoção por pseudópodes, alimentando-se por fagocitose e multiplicando-se por fissão

binária. Quando o alimento escasseia ou as condições ambientais são adversas (dessecação,

alterações de temperatura, pressão osmótica ou pH) algumas AVL têm estratégias alternativas

de sobrevivência: (i) a formação de quistos que lhes conferem resistência às condições

ambientais ou (ii) a produção de organismos menores e mais numerosos para procurar novos

locais ou fontes de alimento (Rodriguez-Zaragoza, 1994). A parede dos quistos tem geralmente

duas camadas, o ectoquisto e o endoquisto, existindo nalgumas espécies um mesoquisto

(Visvesvara et al., 1993). Os quistos podem resistir a substâncias biocidas utilizadas na

desinfecção de broncoscópios (Greub & Raoult, 2003a) e lentes de contacto (Zanetti et al,

1995; Hughes & Kilvington, 2001) e à clorinização e esterilização de sistemas de distribuição de

água (Sanden et al., 1992; Rohr et al., 1998). As amibas podem permanecer durante anos sob

esta forma e desenquistam quando as condições voltam a ser favoráveis. A formação de

organismos menores e mais numerosos é observada nalguns géneros que não formam quistos,

tais como Mayorella e Amoeba entre outros. Ao contrário do enquistamento esta estratégia

não permite a sobrevivência em períodos muito prolongados de escassez. Algumas amibas

aquáticas têm um estadio adicional em que apresentam uma forma flagelada apropriada ao

meio líquido (e.g. Naegleria sp.) (Rodriguez-Zaragoza, 1994).

As amibas de vida livre podem ser encontradas em zonas húmidas associadas à actividade

humana. São frequentemente encontradas em estações de tratamento (Corsaro et al., 2010) e

purificação de água (Hoffmann & Michel, 2001), jacuzzis, piscinas (Hsu et al., 2009), poços de

água, torneiras (Stapleton et al., 1991), canalizações de hospitais (Rohr et al., 1998; Lorenzo-

Morales et al, 2005), torres de arrefecimento de ar condicionado, entre outros. Algumas AVL

também podem habitar cavidades corporais de animais, tendo sido isoladas da nasofaringe e

da mucosa nasal e oral de humanos (Mergeryan, 1991 in Rodriguez-Zaragoza, 1994).

1.2. Classificação de Amibas de Vida Livre

Os protozoários, organismos eucariotas unicelulares, não são um grupo natural, tendo sido

agrupados por razões de conveniência. O esquema taxonómico clássico dos protozoários foi

desenvolvido no final do século XIX e era baseado principalmente nos organelos locomotores.

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Antes de serem desenvolvidos métodos moleculares, todos os protozoários com locomoção

pseudopodial (lobopodia, filopodia ou reticulopodia) ou por fluxo protoplasmático (i.e. amibas)

estavam agrupados na classe Lobosea dentro da superclasse Rhizopoda (Reino Protozoa, Filo

Sarcodina). A classe Lobosea estava separada em amibas nuas (subclasse Gymnamoebia) e

tecamibas, ou seja, encapsuladas por uma membrana ou “casca” à volta da membrana

plasmática (subclasse Testacealobosia). Embora este sistema tenha sido criticado com base em

estudos ultraestruturais, nenhuma alternativa foi proposta até ao aparecimento das filogenias

moleculares. Hoje em dia a superclasse Rhizopoda já não existe e os seus membros estão

dispersos por vários supergrupos de eucariotas. Com os dados moleculares percebeu-se que

diferentes tipos de organização da célula amebóide surgiram e evoluíram independentemente

em três grupos filogenéticos distintos: Lobosea, Rhizaria e Heterolobosea. Embora se saiba

claramente que estes grupos são filogeneticamente distantes, a filogenia de cada grupo ainda

é pouco conhecida (Levine et al, 1980; Patterson, 1994; Smirnov, 2009; Pawlowski & Burki,

2009).

O filo Amoebozoa inclui as amibas lobosas nuas e tecamibas, juntamente com os grupos

Mycetozoa (e.g. Dictyostelium) e Archamoeba (e.g. Entamoeba, Pelomyxa) e alguns protistas

flagelados. As amibas nuas de vida livre deste filo (e.g. Acanthamoeba, Amoeba, Arcella,

Vannella, Vexillifera) são caracterizadas por terem projecções citoplasmáticas amplas e lisas

(lobopodes) orientadas por um citoesqueleto de actomiosina. Filogeneticamente distante do

filo Amoebozoa está o filo Cercozoa, dentro do sub-reino Rhizaria, o mais recentemente

reconhecido supergrupo de eucariotas que também inclui os filos Foraminifera e Radiolaria. O

filo Cercozoa inclui as amibas nuas e testadas com pseudópodes filosos (e.g. Nuclearia,

Vampyrella) e reticulados (e.g. Arachnula, Biomyxa). Este supergrupo foi estabelecido

exclusivamente com base em dados moleculares. Ainda mais distantes filogeneticamente

destes dois filos estão as amibas da classe Heterolobosea (e.g. Vahlkapmfia, Naegleria,

Tetramitus), dentro do filo Percolozoa (supergrupo Excavata) que também inclui zooflagelados

não amebóides. As amibas desta classe são caracterizadas por serem monopodiais com uma

locomoção eruptiva, ou seja, o citoplasma não flui de modo contínuo como nas amibas lobosas

do filo Amoebozoa mas sim em pequenas “erupções” na direcção geral do movimento. As

amibas da classe Heterolobosea são também conhecidas por terem formas flageladas. O facto

das Heterolobosea apresentarem cristas mitocondriais discoidais e não terem o complexo de

Golgi organizado em dictiossomas ajudou a distanciar esta classe de Amoebozoa e Rhizaria

antes do advento de métodos moleculares (Page & Blanton, 1985; Cavalier-Smith 1998;

Cavalier-Smith 2002; Fahrni et al. 2003; Cavalier-Smith et al., 2004; Cavalier-Smith & Nikolaev,

2008; Bass et al. 2009; Smirnov, 2009; Pawlowski & Burki, 2009; Smirnov et al. 2011).

Mesmo com estes desenvolvimentos, a filogenia molecular das amibas ainda é limitada, sendo

baseada principalmente nas sequências do gene que codifica o RNA da subunidade pequena

dos ribossomas (18S rDNA) e inclui apenas uma fracção das espécies conhecidas. Por isso

continuam em progresso as tentativas para construir um sistema morfológico e molecular

congruente e prático (Smirnov, 2009).

A análise morfológica de protozoários amebóides é difícil, pois os protozoários amebóides são

polimórficos, ou seja, uma única célula pode adoptar formas variadas, especialmente quando

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estacionária ou sem direcção de movimento definida. As preparações microscópicas de amibas

fixadas, desidratadas e coradas, muitas vezes também não são representativas da sua

morfologia natural. No entanto, a forma locomotiva da amiba (quando esta se encontra em

movimento direccionado) adquire uma conformação dinamicamente estável, permitindo a um

observador treinado distinguir uma série de características que definem géneros ou, nalguns

casos, espécies. Estas características da célula locomotiva são por exemplo o seu formato

geral, a presença de rugosidades ou dobras na face dorsal, a presença/ausência de

pseudópodes e subpseudópodes (projecções hialinas que normalmente não participam no

movimento da célula. e.g. acantopodes, dactilopodes), a organização do uróide (zona posterior

da amiba) e a posição do hialoplasma (citoplasma hialino sem inclusões visíveis). Ao conjunto

destas características que reflectem a organização do citoesqueleto, do glicocálice e da

interacção de cada amiba com o substrato, dá-se o nome de morfotipo. Algumas amibas

podem apresentar mais que um morfotipo dependendo de condições ambientais ou da fase de

movimento. A identificação de amibas baseada nestes morfotipos é mais fácil que a

identificação apenas com recurso a chaves dicotómicas (Smirnov & Goodkov, 1999; Smirnov,

2009; Smirnov et al. 2011). Na figura 1 vemos os principais morfotipos existentes.

Figura 1 - Morfotipos básicos de amibas nuas. (a) politáctico (b) ortotáctico (c) monotáctico (d) estriado

(e) rugoso (f) lanceolado (g) lingulado (h) leque (i) lenticular (j) flabelado (k) flamelliano (l) acantopodial

(m) mayorelliano (n) dactilopodial (o) ramificado. As amibas não estão à escala. (Retirado de Smirnov,

2009)

A microscopia electrónica também é uma ferramenta importante na distinção de géneros de

amiba uma vez que a sua ultraestrutura é variável. Como exemplo de características que

podem ajudar a diferenciar grupos de amibas, temos o número e estrutura do núcleo e

nucléolo(s), a presença de um ou mais vacúolos contrácteis no citoplasma, a conformação do

glicocálice, que pode ser muito variado (e.g. amorfo, filamentoso, com estruturas poligonais

denominadas glicoestilos, com escamas, etc.), a morfologia das mitocôndrias (na maior parte

das amibas as cristas são tubulares), e o complexo de Golgi, que estando organizado em

dictiossomas (empilhado) na maior parte das amibas, na classe Heterolobosea apresenta-se

como um conjunto de pequenas vesículas. (Smirnov, 2004; Smirnov, 2009; Smirnov et al.

2011).

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1.3. Patogenicidade das Amibas de Vida Livre

Embora as amibas de vida livre não sejam um parasita habitual do ser humano, algumas

espécies podem ser agentes patogénicos oportunistas, normalmente associadas a situações de

imunodepressão (SIDA, pacientes transplantados, etc.) existindo várias revisões sobre a

biologia e o potencial patogénico destas amibas (Ma et al., 1990; Marciano-Cabral & Cabral,

2003; Visvesvara et al., 2007)

As amibas de vida livre com patogenicidade reconhecida para o homem são algumas espécies

dentro do género Acanthamoeba e as espécies Naegleria fowleri e Balamuthia mandrillaris.

Mais recentemente foi descrito um caso de uma infecção por uma amiba do solo, Sappinia

diploidea, o que indica que poderão existir mais espécies de AVL potencialmente patogénicas

com possível interesse clínico dado o acréscimo de doentes imunodeprimidos (Visvesvara et

al., 2007).

As patologias causadas por estes protozoários são ligadas principalmente ao sistema nervoso

central mas também podem ser observadas em órgãos de outros sistemas. Amibas dos

géneros Acanthamoeba e Balamuthia podem causar encefalite amebiana granulomatosa, uma

doença crónica e com mortalidade elevada que afecta particularmente indivíduos

imunodeprimidos ou debilitados. Ambos os géneros causam também infecções dos pulmões,

fossas nasais e pele. Alguns membros do género Acanthamoeba são também conhecidos por

causar queratite amebiana, uma infecção da córnea associada a trauma da córnea ou

utilização de lentes de contacto em condições de higiene deficiente, podendo causar cegueira

no olho afectado (Visvesvara et al., 2007; Marciano-Cabral & Cabral 2003).

A Naegleria fowleri é a única espécie patogénica do género Naegleria que tem mais de 30

espécies. Esta amiba, comum em águas doces paradas e mornas, migra através dos nervos

olfactivos até ao cérebro após inalação de água contaminada, causando meningoencefalite

amebiana primária, uma doença que afecta crianças e jovens saudáveis e que sendo uma

infecção aguda hemorrágica e necrótica é habitualmente fatal (97% de mortalidade)

(Visvesvara et al., 2007; Marciano-Cabral & Cabral 2003; Da Rocha-Azevedo et al., 2009).

As doenças causadas por AVL são raras, nomeadamente as do foro neurológico, mas os

diagnósticos têm vindo a aumentar nos últimos anos e é possível que a aparente raridade seja

em parte devido a diagnósticos errados ou não reportados, uma vez que na sua maior parte

são feitos post-mortem e nem sempre se fazem autópsias. Em todas estas patologias o

diagnóstico precoce é a ferramenta mais importante para obter um tratamento com sucesso

(da Rocha-Azevedo et al., 2009).

Em Portugal, embora apenas exista um caso reportado de uma infecção fatal por Balamuthia

mandrillaris (Tavares et al., 2006), deve-se considerar a ubiquidade e o potencial patogénico

destas amibas como um risco para a saúde pública que não deve ser ignorado.

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1.4. Amibas como Reservatório de Microorganismos

As amibas de vida livre são predadoras dos vários microorganismos presentes nos habitats de

interface, alimentando-se maioritariamente de bactérias, fungos e algas por fagocitose e

digerindo-os dentro de fagolisossomas (vacúolos digestivos). As altas concentrações de

microorganismos em biofilmes proporcionam às amibas excelentes oportunidades de

predação, o que as torna num dos principais reguladores de populações bacterianas

associadas a esses habitats (Hilbi et al., 2007). Alguns destes microorganismos resistem à

acção das amibas, evitando a fagocitose ou utilizando as amibas como hospedeiros, onde

sobrevivem e se reproduzem até serem novamente libertados para o meio por lise das amibas

(Molmeret et al., 2005; Greub & Raoult, 2002) ou através da libertação de vesículas cheias de

microorganismos (e.g. Legionella pneumophila) e possivelmente inaláveis (Rowbotham, 1980;

Berk et al., 1998).

Estes microorganismos, no passado denominados endosimbiontes das amibas, não têm uma

relação necessariamente endosimbiótica e a sua permanência dentro das amibas ou a lise

destas depende de condições ambientais tais como a temperatura de incubação (Greub et al.,

2003b). Assim, os termos mais utilizados neste trabalho para este grupo de organismos são

microorganismos resistentes às amibas (MRAs), utilizado originalmente por Gilbert Greub e

Didier Raoult em 2004, ou endobiontes.

Há indicações que as AVL protegem microorganismos de antibióticos (Barker et al., 1995;

Miltner et al., 2000) e de substâncias biocidas (Barker et al., 1992), principalmente quando

enquistadas (King et al., 1988; Steinert et al. 1998). Sendo os quistos resistentes a estas e

outras agressões ambientais tais como stress osmótico, salinidade e pH (Rodriguez-Zaragoza,

1994), as amibas têm uma função natural como reservatório destes MRAs, permitindo a sua

persistência e distribuição no ambiente (Barker & Brown, 1994).

A capacidade de alguns microorganismos para sobreviver e crescer dentro de amibas não

significa apenas que estas possam servir de reservatório para esses microorganismos. O

crescimento intra-amebiano de bactérias pode induzir fenótipos consideravelmente diferentes

das espécies mantidas in vitro. Essas diferenças podem ocorrer ao nível da morfologia celular e

estado fisiológico, por exemplo expressão de lipopolissacáridos, ácidos gordos e proteínas de

superfície (Barker et al., 1993) ou ainda na sua capacidade de sobrevivência e infecciosidade

(Barker & Brown, 1994).

No decorrer da evolução da relação predador-presa com protozoários, as bactérias

desenvolveram mecanismos de defesa, como por exemplo a secreção de toxinas, a capacidade

de evitar a fusão fagossoma-lisossoma (Hilbi et al., 2007) e a resistência ao pH ácido do

lisossoma (Maurin et al., 1992). A co-evolução entre microorganismos fagotróficos e

microorganismos fagocitados originou assim espécies bacterianas que se tornaram

endosimbiontes obrigatórios e espécies que infectam e destroem os seus hospedeiros,

proporcionando a algumas espécies a capacidade de fazer o mesmo dentro de macrófagos

animais ou outras células hospedeiras (Brown & Barker, 1999; Weissenberger et al., 2007). A

infecção de amibas e macrófagos parece ter uma base molecular comum o que sugere que a

capacidade de algumas espécies de microorganismos para causar doenças pode estar

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relacionada com a selecção de características que lhes permitem sobreviver e crescer dentro

das amibas (Fields, 1996). Por outro lado, alguns autores referem que a própria

patogenicidade das AVL pode ser aumentada após infecção por MRAs (Fritsche et al., 1998).

Os dados obtidos até agora sugerem que as amibas de vida livre têm um papel ambiental

importante na manutenção, evolução e transmissão de microorganismos patogénicos para o

ser humano (Goebel & Gross, 2001; Brown & Barker, 1999), tendo sido apropriadamente

apelidadas “cavalos de Tróia” do mundo microbiano (Brown & Barker, 1994) e identificadas

como vectores desses microorganismos por vários autores (Winiecka-Krusnell & Linder, 1999,

Greub & Raoult, 2002, Greub & Raoult 2004).

A resistência de microorganismos à destruição por células predadoras também tem interesse

em termos evolutivos porque poderá contribuir para a compreensão dos mecanismos que

terão levado à origem de organitos na célula eucariota (Corsaro et al., 1999).

1.5. Microorganismos Resistentes às Amibas

Entre os MRAs, os mais estudados pertencem ao género Legionella, sendo a espécie L.

pneumophila um modelo para o estudo destas interacções. Esta bactéria gram-negativa é

responsável por um espectro de infecções respiratórias que podem culminar em pneumonia, e

que ocorrem em surtos ou casos isolados, sendo a sua presença associada a fontes de água

contaminada em ambientes públicos, particularmente em ambientes nosocomiais (Stout et al.,

1985). A infecção aguda mais severa é conhecida por Doença do Legionário enquanto a versão

menos grave da doença é a Febre de Pontiac, que tem sintomas análogos aos gripais (Fields at

al., 2002).

O estudo das interacções entre amibas de vida livre e Legionella pneumophila começou em

1980 quando Rowbotham infectou amibas com L. pneumophila em laboratório devido à sua

semelhança com macrófagos, rapidamente chegando à conclusão que as amibas eram os

hospedeiros naturais de L. pneumophila e que tinham um papel não só de reservatório mas

também de propagação das bactérias no ambiente (Rowbotham, 1980). Também se descobriu

que as AVL são responsáveis pela transmissão de Legionella para o ser humano, através da

inalação de amibas infectadas ou das suas vesículas que ao serem destruídas no tracto

respiratório inferior libertam as bactérias que vão infectar os macrófagos alveolares

(Rowbotham, 1980).

Uma vez que as AVL habitam naturalmente ambientes aquáticos e sistemas de

armazenamento e distribuição de água, sendo também resistentes a extremos de

temperatura, pH e osmolaridade quando enquistadas, a sua importância como reservatório de

Legionella é evidente, podendo também explicar a emergência da doença após a exposição de

humanos a aerossóis produzidos por equipamentos como sistemas de ar condicionado,

jacuzzis, chuveiros, etc. (Harb & Kwaik, 2000). Alguns estudos têm confirmado que as AVL não

só servem de reservatório mas são necessárias para a multiplicação de Legionella em biofilmes

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aquáticos, embora as bactérias possam sobreviver em estados de latência nos biofilmes sem as

amibas. (Murga et al., 2001).

Também foram analisadas as semelhanças entre as infecções de amibas e macrófagos por

Legionella. Tanto nas amibas como nos fagócitos humanos, as bactérias multiplicam-se num

fagossoma especializado que não se funde com lisossomas (Horwitz, 1993; Bozue & Johnson,

1996) e que se apresenta rodeado de retículo endoplasmático rugoso (Sinai & Joiner, 1997;

Gao et al., 1997). Foi demonstrado também que a proteína membranar Mip (macrophage

infectivity potentiator) potencia a infecção intracelular tanto nos protozoários como nos

macrófagos (Cianciotto & Fields 1992) e que L. pneumophila utiliza os mesmos genes para

poder crescer intracelularmente em macrófagos humanos e em amibas (Segal & Shuman,

1999). De facto, há dados consistentes que indicam que a entrada em monócitos e a virulência

de L. pneumophila aumentam significativamente após crescimento intra-celular em amibas

(Cirillo et al., 1994, Cirillo et al., 1997, Cirillo et al., 1999).

Para além de L. pneumophila, foram descritas outras espécies do mesmo género associadas a

Febre de Pontiac e pneumonias, tais como L. anisa, L. micdadei, L. jordanis e L. lytica entre

outras (Fields et al., 1990; Gobbo et al., 1986; Marrie et al., 2001; La Scola et al., 2003b).

Além destas espécies de Legionella também se têm vindo a isolar os denominados patogénicos

amebianos tipo Legionella (LLAP – Legionella-like amoebal pathogens). Embora não cresçam in

vitro em meio BCYE (buffered charcoal yeast extract), próprio para Legionella, e não

fluoresçam com marcadores específicos para o género, estes LLAPs podem ser isolados a partir

de amostras de expectoração e de amostras ambientais recorrendo a co-cultura com amibas

(culturas de amibas inoculadas com as amostras contaminadas), em que estas se alimentam

das bactérias que, resistindo à destruição, se multiplicam no seu interior (Rowbotham 1986;

Michel et al., 1998).

Os LLAPs têm sido isolados de doentes com pneumonia, havendo cada vez mais indicações que

estas espécies emergentes são responsáveis por casos de pneumonia de etiologia previamente

desconhecida. (Fry et al., 1991; McNally et al., 2000) O recurso a métodos moleculares para

caracterizar a filogenia destes LLAPs permitiu classificar a maioria como pertencentes ao

género Legionella, e para estas e outras espécies de microorganismos potencialmente

patogénicos a co-cultura é o único método viável para conseguir a sua multiplicação e

isolamento em laboratório (Greub & Raoult, 2004).

Recentemente foi publicado um estudo em que se cultivaram várias espécies de amibas de

vida livre obtidas de sedimento marinho e estuarino. Os ensaios de PCR demonstraram que

48% das culturas de amibas isoladas eram positivas para a presença de Legionella, tendo a

espécie L. pneumophila sido detectada em 4% das culturas. Estes resultados indicam que as

amibas capazes de crescer em ambiente marinho podem albergar no seu interior várias

espécies de Legionella potencialmente patogénicas e protegê-las do stress salino (Gast et al.,

2011).

Muitas outras espécies de bactérias resistentes a amibas têm vindo a ser isoladas a partir de

amibas de vida livre. Algumas foram encontradas naturalmente em amibas, enquanto outras

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apenas demonstraram ser resistentes às AVL in vitro quando obtidas em co-cultura (a possível

função das amibas como reservatório natural não foi estabelecida). Muitos dos MRAs isolados

têm patogenicidade reconhecida ou suspeitada (Greub & Raoult, 2004).

Para além de bactérias, já foram obtidos outros grupos de microorganismos a partir de amibas,

nomeadamente fungos (Cryptococcus neoformans - Bunting, 1979 in Greub & Raoult, 2004) e

protozoários (Cryptosporidium – Goméz-Couso et al.,2007). Também há indícios que as AVL

podem albergar vírus e enquanto alguns são apenas transportados e protegidos quando

adsorvidos à superfície das amibas (e.g. Enterovírus – Lo et al., 1976 in Greub & Raoult, 2004),

outros são internalizados e têm a capacidade de sobreviver, replicar-se e causar a lise das

amibas.

Um dos vírus de maior interesse é o Mimivírus, tanto pelas suas características biológicas

como pelo seu possível impacto na saúde pública. O Mimivírus é um NCLDV (Nucleo-

cytoplasmic Large Deoxyribovirus) relacionado com os Iridovírus, Poxvírus e Asfarvírus, entre

outros, que infecta naturalmente amibas. Juntamente com outros vírus recentemente

descobertos, está incluído na família Mimiviridae que contêm os maiores vírus conhecidos. O

mimivírus tem cerca de 1,2 milhões de pares de bases (La Scola et al., 2003a). Este vírus foi

várias vezes associado a pneumonia, tanto por isolamento de amostras do tracto respiratório

de pacientes de pneumonia como por detecção da infecção com testes serológicos (La Scola et

al., 2005; Raoult et al., 2006). A infecção por Mimivírus foi sugerida como sendo a quarta causa

mais comum de pneumonia noutro estudo de seroprevalência (Berger et al., 2006), embora

num estudo mais recente com cerca de 500 pacientes de pneumonia de vários locais não

tenha sido detectada a presença de Mimivírus por PCR (Dare et al., 2008).

Até à data não foi feito qualquer estudo em Portugal sobre amibas de vida livre e

microorganismos associados.

1.6. Objectivos

O objectivo principal deste trabalho foi conseguir isolar, caracterizar e identificar AVL passíveis

de conter MRAs a partir de amostras ambientais. Para isso foi necessário desenvolver e

adaptar técnicas que permitissem a cultura das amibas, a sua observação e análise molecular.

Devido à variedade de ambientes em que as AVL podem ser encontradas (Rodriguez-Zaragoza,

1994) escolheram-se dois ambientes importantes mas significativamente distintos para a

recolha de amostras: O ambiente hospitalar e o ambiente marinho.

Escolheu-se o ambiente hospitalar devido aos vários casos reportados de doenças nosocomiais

causadas por amibas de vida livre e/ou microorganismos patogénicos associados. A presença

destas amibas patogénicas/vectores em ambiente hospitalar tem um risco associado

particularmente importante devido à habitual presença de indivíduos imunodeprimidos nestes

locais.

Quanto ao ambiente marinho, a presença de AVL passíveis de albergar microorganismos

patogénicos neste tipo de ambiente está pouco estudada e embora se saiba que a maior parte

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destes microorganismos são sensíveis à salinidade, já se estabeleceu que as AVL de ambientes

salinos podem transportar no seu interior uma grande variedade de microorganismos,

nomeadamente Legionella, protegendo-as desse stress (Gast et al., 2011). Este ambiente é

também propício para a pesquisa de membros da família Mimiviridae uma vez que de acordo

com estudos metagenómicos estes fazem parte dos vírus marinhos mais comuns (Monier et

al., 2008). Para obter amostras representativas destas condições foram feitas colheitas de

água do mar e de sedimento e água numa zona estuarina entre-marés. Além de representar

um ambiente marinho, a zona intertidal está sujeita a extremos de salinidade e temperatura

que poderão ser importantes na selecção de características associadas a virulência (Marciano-

Cabral & Cabral, 2003).

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2. Métodos

2.1. Colheitas

Ambiente Hospitalar - Como local representativo de ambiente hospitalar escolheu-se o

Hospital Curry Cabral em Lisboa. Foram colhidas amostras de biofilmes dentro de reservatórios

de autoclismo e amostras de pó em superfícies de áreas públicas, ambas com recurso a

zaragatoas.

Ambiente Marinho – Foram recolhidas amostras na zona entre-marés da margem direita do

estuário do Tejo, próximo da Ponte Vasco da Gama em Lisboa. Foram escolhidas quatro

estações situadas a diferentes cotas de maré. Foram colhidas amostras de sedimento

utilizando “corers” de Plexiglass com cerca de 20 cm de comprimento e 3,6 cm de diâmetro

interno. No laboratório os blocos de sedimento recolhidos foram seccionados e as secções

foram guardadas em frascos de plástico estéreis. Depois de processadas as amostras foram

armazenadas a 4°C.

Fez-se ainda uma colheita de

sedimento numa zona

permanentemente submersa

do estuário do Tejo utilizando

uma bomba de sucção manual

e uma colheita na Marina de

Cascais utilizando uma rede de

fitoplâncton com uma malha

de 10 μm.

Na tabela 1 estão descritos os

detalhes das colheitas e as

amostras resultantes. As

localizações das colheitas

feitas no estuário estão

representadas na figura 2.

Estação Coordenadas Tipologia Profundidade Referência

E1a1E1b1E1a2E1b2

E2a1

E2b1

E2a2

E2b2

E3a1

E3b1

E3a2

E3b2

Tabela 1: Locais de colheita e detalhes dos diferentes tipos de amostra.

As amostras não utilizadas estão assinaladas com um traço (-).

Água - Amostra de

rede (10µm)N/A AV

HospitalN 38° 47.012

Amostra de

pó/biofilmeN/A AH

W 9° 05.384

Estuário 3

Marina de

CascaisW 9° 25.503

0 - 2 cm

4 - 6 cm

0 - 1 cm

N 38° 41.257

1 - 3 cm

Sedimento - Vaza

intertidal (Lodo)

Sedimento - Vaza

intertidal (areia)

Sedimento - Limite

superior da zona

intertidal (Sapal)

N 38° 46.927Estuário 1

Estuário 2

0 - 1 cmN 38° 46.934

W 9° 05.475

W 9° 05.450

N° 38° 46.929

W 9° 05.466 1 - 3 cm

Estuário 4W 9° 05.384

E4N/A

Água - Limite

inferior da zona

intertidal

N 38° 47.012

Figura 2 – Locais de colheita na vaza intertidal

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2.2. Culturas

Os diferentes tipos de culturas de amibas utilizados para isolamento, caracterização

morfológica e caracterização molecular estão resumidos na tabela 2.

2.2.1. Culturas Mistas

Para isolamento inicial das amibas foram feitos meios de agar sem nutrientes (para limitar o

crescimento de bactérias) sobre placas de Petri de 12 cm.

As placas de agar foram feitas com 1,5% de agar (Agar nº1, Amersham) em água do mar

autoclavada para as amibas marinhas, ou em água destilada ou meio de Page (anexo I) no caso

das amibas do hospital. Depois de arrefecerem, estas placas de agar sem nutrientes foram

cobertas com uma camada de bactérias (Lactobacillus sp.) (anexo I). Após cerca de 15 minutos

o excesso de líquido foi removido e deixaram-se as placas a assentar 24 horas para permitir a

formação de uma monocamada bacteriana por crescimento limitado das bactérias.

Para inocular as amibas de origem hospitalar, o resíduo colhido com a zaragatoa foi

ressuspendido em 20 ml de meio de Page com o auxílio de um vortex, concentrado por

centrifugação a 2000 rpm numa centrífuga clínica e ressuspendido em 1 ml do mesmo meio.

No caso das amibas estuarinas ressuspenderam-se porções com cerca de 5mm3 das amostras

de sedimento em tubos de 1,5 ml com meio de Page, centrifugou-se a cerca de 500 rpm e o

sedimento resultante foi inoculado no centro das placas com camada de bactérias. As

amostras líquidas (E4) foram centrifugadas a baixa velocidade (200-300 rpm) em tubos de 1,5

ml, removeu-se com cuidado a maior parte do líquido sobrenadante, ressuspendeu-se num

vortex e pipetaram-se algumas gotas no meio das placas de Petri.

A amostra de rede da marina de Cascais foi colocada numa caixa de Petri estéril e posta numa

câmara de cultura com luz e temperatura controlada até as amibas serem visíveis no

microscópio invertido sobre a superfície da caixa. As amibas foram isoladas ao microscópio

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utilizando uma pipeta de vidro e inoculadas directamente numa placa de agar sem nutrientes

com uma cobertura de Escherichia coli (MC1061) mortas por autoclavagem.

As placas, identificadas de acordo com a origem do sedimento, foram seladas com parafilme e

deixadas à temperatura ambiente, protegidas da luz directa. As amibas, graças à sua

locomoção pseudopodial, são capazes de sair do inóculo e crescer à medida que se alimentam

das bactérias.

O crescimento das amibas foi acompanhado de 3 em 3 dias por observação directa dos halos

de crescimento, utilizando um microscópio invertido (Zeiss Axiovert 200), sendo feita uma

caracterização inicial das amibas encontradas com recurso a uma chave dicotómica de

identificação morfológica (Page, 1976).

Uma vez que algumas culturas apresentavam mais que um tipo de amiba (Figura 3, pág. 21),

para se fazerem culturas monoespecíficas ou, pelo menos, com apenas um tipo de amiba

visível, seccionaram-se quadrados com cerca de 5mm2 das zonas que ao microscópio

apresentavam apenas um morfotipo de amiba (preferencialmente na frente de crescimento) e

inverteram-se estes quadrados sobre novas placas de agar sem nutrientes com camada de

bactérias. Para minimizar contaminações, as subculturas subsequentes foram feitas com água

do mar artificial (Kester et al., 1967) ou água destilada (para amibas marinhas ou do hospital

respectivamente) e como alimento utilizou-se uma cultura de E. coli (estirpe MC1061). A

cultura de E. coli foi lavada duas vezes em PBS por centrifugação e as células mortas por

autoclavagem antes de se adicionar às placas de cultura de amibas. O crescimento das amibas

foi mais uma vez acompanhado de 3 em 3 dias. Foi atribuído um código a cada cultura

monoespecífica obtida.

2.2.2. Culturas Axénicas

As culturas axénicas foram obtidas em meio liquido a partir das culturas referidas em 2.2.1.

Escolheram-se zonas das placas de agar com amibas, ao microscópio óptico, e seccionaram-se

quadrados com aproximadamente de 3mm2 que foram colocados em poços de caixas de

cultura de 24 poços (Nunc Multidishes Nunclon™, 1 ml/poço)

Em cada poço aplicou-se 1ml de meio PYG (anexo I) esterilizado por autoclavagem ao qual se

adicionou antibiótico+antimicótico 2X (penicilina, 10.000 unidades; estreptomicina, 10.000

unidades, anfotericina B, 25 µg/ml) (Invitrogen). As caixas foram seladas com parafilme e

mantidas afastadas de luz directa e à temperatura ambiente. O crescimento das culturas foi

acompanhado pelo menos de 3 em 3 dias com um microscópio óptico invertido Zeiss Axiovert

200.

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2.3. Microscopia Óptica

A caracterização morfológica inicial das diferentes amibas foi feita por microscopia óptica com

recurso a um microscópio invertido Zeiss Axiovert 200 com contraste de fase e contraste de

relevo variável (VAREL), com objectivas de 10X, 20X e 40X e equipado com uma câmara Zeiss

AxioCam ligada a um computador com o software Zeiss AxioVision (v4.8.2). As imagens das

amibas foram obtidas e medidas com recurso a este software e posteriormente tratadas no

programa Microsoft Office Picture Manager (v12.0).z

2.3.1. Colorações

A observação inicial das amibas foi feita directamente nas placas de agar mas para estudar

mais detalhadamente as amibas e os MRA utilizaram-se dois tipos de coloração. A primeira foi

a coloração de Giemsa, que permite a coloração de estruturas que distinguem as amibas, com

ou sem a utilização adicional do corante May-Grünwald para aumentar o contraste. Ambos os

corantes tornam os núcleos rosa/roxo e o citoplasma azul (Drury & Wallington, 1980).

A outra coloração testada foi a de Giménez, que cora de vermelho bactérias e alguns vírus no

interior de células eucariotas, que por sua vez ficam verdes. Esta coloração permite a detecção

de potenciais MRAs (Giménez, 1964).

Foram testados 2 métodos para obter lâminas com amibas para colorações.

O primeiro método testado foi a citocentrifugação. As amibas foram destacadas do agar por

raspagem com um pedaço de parafilme e suspendidas em meio de Page. A suspensão foi

centrifugada com uma citocentrífuga a 2000rpm durante 5 minutos e as lâminas resultantes

foram fixadas em etanol 95% e coradas com May-Grünwald (Merck) durante 20 minutos

seguido por Giemsa (Merck) 40 minutos e lavadas com água corrente.

O segundo método testado foi deixar as amibas aderir naturalmente ao vidro. Para esse efeito

fizeram-se círculos com cerca de 2 cm de diâmetro em lâminas de microscopia com uma

caneta hidrofóbica (abcam). Foram então pipetadas 2 ou 3 gotas de amibas em meio de Page,

obtidas pelo método referido anteriormente, para o interior do círculo e as lâminas foram

guardadas em câmara húmida (placa de Petri com papel de filtro humedecido com água

destilada) entre 3 a 24 horas à temperatura ambiente e protegidas da luz directa.

Para fazer a coloração de Giemsa nestas lâminas, fez-se uma fixação inicial por secagem das

lâminas ao ar seguida de uma fixação em metanol durante 5 minutos. Após isto as lâminas

foram introduzidas no corante (Giemsa, PBS e água destilada na proporção 1:1:8, pH 7,0)

durante 5 a 10 minutos. As lâminas foram então lavadas com água corrente, secas ao ar e

montadas em glicerol.

A coloração de Giménez foi feita de acordo com o método descrito pelo autor (Giménez,

1964). Esta coloração foi feita com duas soluções principais, uma com fucsina básica (Himed)

em fenol e a outra com oxalato de verde-malaquite aquoso (Harleco) (a descrição de como

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estas soluções são preparadas encontra-se no anexo II). Após a secagem ao ar das lâminas com

amibas preparadas previamente, cobriram-se as lâminas com a solução de fucsina básica

fenólica e deixou-se actuar entre 1 a 2 minutos. As lâminas foram lavadas em água corrente e

cobertas com a segunda solução, entre 5 a 10 segundos. Após este tempo foram lavadas

novamente, deixadas secar ao ar e montadas em glicerol.

2.4. Microscopia Electrónica

A ultra-estrutura das amibas foi estudada por microscopia electrónica de transmissão (TEM).

Além de permitir a análise da ultraestrutura das amibas, esta microscopia também permite a

detecção e caracterização de MRAs, como bactérias e NCLDVs (e.g. Mimivírus).

Para observação ao microscópio electrónico foram recolhidas amibas das placas de Petri por

raspagem que foram imediatamente fixadas em glutaraldeído a 3% em tampão cacodilato de

sódio 0,1M (pH 7,3), em vez de meio de Page. A suspensão obtida foi recolhida em microtubos

de 1,5ml e misturada num vortex. Deixou-se actuar o glutaraldeído entre 2 a 10 horas.

Após a fixação primária com glutaraldeído centrifugaram-se os tubos (2500 rpm, 5 minutos) e

fizeram-se 3 lavagens do pellet resultante com tampão cacodilato 0,1M. Ressuspendeu-se o

pellet no tampão, passando-se para cápsulas BEEM de ponta cónica (microtubos 0,5ml)

apropriadas para processamento para microscopia electrónica e centrifugou-se novamente.

Fez-se uma fixação secundária substituindo o tampão por tetróxido de ósmio 1% com 0,5% de

ferrocianeto de potássio em tampão cacodilato 0,1M durante uma hora. Seguiram-se 3

lavagens com tampão acetato (acetato-ácido acético 0,1M, pH 5,0), centrifugando-se os tubos

quando necessário sedimentar o pellet. Alguns pellets foram incluídos em agar (Amersham) a

2% e processados em fragmentos, para evitar as perdas de amostra resultante das

manipulações em suspensão.

Depois das lavagens em tampão acetato foi feita uma terceira fixação com acetato de uranilo

no mesmo tampão durante 1 hora. Após a fixação seguiu-se a desidratação das amostras com

concentrações crescentes de etanol (75% - 95% - 100%). Passaram-se as amostras em óxido de

propileno e de seguida embeberam-se em resina Epon-Araldite. As amostras foram

polimerizadas numa estufa a 70°C durante um mínimo de 48 horas e os blocos de resina

resultantes foram removidos e identificados.

Foram feitos cortes finos dos blocos num ultramicrótomo Reichert UM2 com recurso a facas

de vidro ou diamante e as secções recolhidas em grelhas de cobre para microscopia

electrónica. Os cortes foram contrastados com acetato de uranilo aquoso a 2% e com citrato

de chumbo (Reynolds, 1963), lavados em água destilada e guardados em cápsulas

identificadas.

As amostras foram estudadas e fotografadas num microscópio electrónico JEOL 100-SX.

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2.5. PCR e Sequenciação

Para se identificar molecularmente as amibas fizeram-se amplificações de fragmentos de DNA

por PCR (Polymerase Chain Reaction) que foram enviados para sequenciação. Utilizaram-se

primers (Invitrogen) específicos para 18S rDNA de Acanthamoeba (JDP1; JDP2)(Schroeder et

al., 2001) e da região ITS de Naegleria (ITS1; ITS2)(Pelandakis et al., 2000) (Tabela 3).

A extracção de DNA para PCR foi feita com o kit de extracção EasySpin® Genomic DNA

Minipreps Bacteria Kit (#SP-DBC). Foi pipetado 1 ml do meio líquido de cada cultura (com cerca

de duas semanas) para tubos de 1,5 ml, lavado com PBS-A e centrifugado, sendo depois

seguido o protocolo indicado pelo fabricante para tratar das amostras obtidas. Foi feita uma

quantificação do DNA obtido de cada amostra por fluorescência com o kit Qubit® dsDNA BR

Assay Kit.

As condições de PCR e a mistura de reacção podem ser consultados no anexo III.

Os produtos de PCR foram purificados com o kit illustra GFX™ PCR DNA and Gel Band

Purification Kit segundo as instruções do fabricante e o DNA obtido foi enviado para

sequenciação (STABVida).

As sequências de rDNA foram alinhadas com o software Bioedit (v7.0.9) e identificadas por

comparação com as sequências disponíveis na base de dados GenBank do NCBI

(www.ncbi.nih.gov) com o programa BLASTN (v2.2.26) (Zhang et al., 2000).

Tabela 3 - Primers utilizados nas reacções de PCR

Sequência (5' a 3')

Dimensão

esperada

fragmento

Forward - ITS 1 GAA CCT GCG TAG GGA TCA TTT

Reverse - ITS 2 TTT CTT TTC CTC CCC TTA TTA

Forward - JDP 1 GGC CCA GAT CGT TTA CCG TGA A

Reverse - JDP2 TCT CAC AAG CTG CTA GGG AGT CA

Primers

Primers

Naegleria ITS 400

Acanthamoeba 18S 423-551

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3. Resultados

3.1 - Culturas Mistas

Conseguiram-se isolar 9 culturas diferentes de amibas de vida livre e identificaram-se 7

morfotipos com base na classificação proposta por Smirnov e Goodkov (1999) e tentou-se

identificar o género com a chave ilustrada de Page (1976). Com o tempo algumas culturas (e.g.

T2 e T7) foram ficando contaminadas ou tornando-se inviáveis. A tabela 4 mostra as culturas

que se obtiveram durante o decorrer do trabalho.

3.1.1 – Amibas

Descrevem-se nas páginas seguintes os diferentes tipos morfológicos de amiba obtidos no

presente trabalho. Conseguiram-se obter amibas de quase todas as amostras (Tabela 3), sendo

as amostras de areia (E2) (Tabela 1) as únicas das quais não se obtiveram isolados viáveis.

Figura 2 - Microscopia óptica de uma cultura mista de amibas (E1a1). As amibas assinaladas com um asterisco têm uma morfotipo em leque característico do género Vannella. As restantes têm um morfotipo acantopodial. (200X, DIC, barra 50 μm).

Amiba Amostra Ø Morfotipoa Formação

Quistos

Observação

ME

T1 E1a1 20-50 μm Acantopodial Sim Sim

T2 E1a1 5-25 μm Eruptivo ? Não

T3 E1b1 20-60 μm Leque Não Não

T4 E1b2 15-50 μm Acantopodial Sim Sim

T5 E3a1 5-25 μm Eruptivo ? Não

T6 E3a2 5-25 μm Eruptivo ? Não

T7 E4 30-70 μm Eruptivo Não Não

M1 Marina 50-80 μm Dactilopodial Não Não

H1 Hospital 15-50 μm Acantopodial Sim Sim

Tabela 4: Culturas de amibas

Ø - diâmetro máximo dos trofozoítos

a - Segundo Smirnov (1999)

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T1 – Esta amiba, isolada a partir das amostras de superfície da vaza intertidal do estuário do

Tejo (E1a1), tem um morfotipo acantopodial característico do género Acanthamoeba, com o

trofozoíto medindo entre 15 e 50 µm (Fig. 4). O núcleo é grande e vesicular com um nucléolo

central denso que ocupa aproximadamente 30% da área do núcleo. Cresce muito

rapidamente, enchendo as placas de 12cm em cerca de 8 dias e iniciando o processo de

enquistamento pouco depois. Os quistos são poliédricos, tendo entre 3 a 5 raios. Foi,

juntamente com as amibas obtidas no hospital, uma das espécies que cresceu

satisfatoriamente no meio axénico utilizado.

T2 – Amibas pequenas de dimensão bastante variável, com o diâmetro entre 5 μm e 25 μm

nos trofozoítos maiores (completamente esticados), isolada das amostras de superfície da vaza

intertidal (E1a1) (Fig. 5). Quando a cultura entra numa fase estacionária, as amibas formam

grandes agregados e adquirem uma forma mais ou menos esférica, sendo estas formas

arredondadas possivelmente quistos. A locomoção destas amibas é aparentemente eruptiva.

Os organelos não são facilmente visíveis. Não foi possível identificar estas amibas

morfologicamente mas o morfotipo eruptivo indica que poderão pertencer à classe

Heterolobosea (Smirnov, 2004).

Figura 5 – Amiba T2, 5-40 μm, morfotipo eruptivo. A) Agregados de amibas. São visíveis amibas de

dimensão bastante superior à média. (VAREL, 200X, barra 50 μm). B) Trofozoítos com locomoção

eruptiva. (VAREL, 400X, barra 15 μm).

A B

Figura 4 – Amiba T1, 15-50 μm, morfotipo acantopodial. A) Trofozoítos. Distingue-se o núcleo vesicular

(um único nucléolo) com nucléolo central (seta) (DIC, 400X, barra 25 μm). B) Trofozoítos (T) e quistos

poliédricos (Q) (VAREL, 200X, barra 50 μm).

B A

T

Q

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T3 – Estas amibas, obtidas a partir das amostras em profundidade da vaza intertidal do

estuário do Tejo (E1b1), medem em média 30 µm, com um comprimento máximo dos maiores

trofozoítos na ordem dos 50 µm (Fig. 6). Têm forma de leque e apresentam uma separação

distinta entre o granuloplasma (citoplasma que contém inclusões opticamente visíveis) rugoso

na zona posterior e o hialoplasma liso na zona anterior. Não formam quistos. A análise

morfológica coloca esta amiba dentro do género Vannella.

T4 – Amibas com morfotipo acantopodial obtido a partir das amostras em profundidade da

vaza intertidal do estuário do Tejo (E1b2) (Fig. 7). Estas amibas são bastante semelhantes a T1,

sendo a única diferença uma maior prevalência de quistos com 5 ou 6 raios.

Figura 7 – Amiba T4, 15-50 μm, morfotipo acantopodial. A) Trofozoítos e quistos. Distingue-se facilmente

o endoquisto do ectoquisto. (VAREL, 200X, barra 50 μm). B) Trofozoítos. São visíveis núcleos vesiculares

(N) e vacúolos (V). (DIC, 400X, barra 10 μm).

A B

n

v

Figura 6 – Amiba T3, 20-50 μm, morfotipo leque. A) Frente de avanço das amibas. Esta frente é

geralmente visível a olho nu, representando a borda do halo de crescimento (VAREL, 200X, barra 50 μm).

No quadrado vemos a zona ampliada em B, onde são visíveis as inclusões do granuloplasma e em baixo o

hialoplasma. (VAREL, 200X, barra 20 μm).

A B

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T5 e T6 – As amibas presentes nestas culturas (Fig. 8) foram isoladas a partir de amostras no

limite superior de influência das marés do estuário do Tejo, numa zona colonizada por plantas

de sapal (E3a1 e E3a2). Têm um morfotipo eruptivo similar às amibas de T2 e formam

agregados de amibas da mesma forma. A verificar-se pertencerem à mesma espécie, a sua

detecção em níveis contrastantes da zona entre-marés sugere uma elevada tolerância a

variações de temperatura, salinidade e dessecação.

T7 – Esta amiba, proveniente de uma amostra de água do estuário do Tejo (T4), mede em

média 60 μm (Fig. 9). O movimento destas amibas é eruptivo. O núcleo vesicular é visível,

juntamente com várias inclusões citoplasmáticas escuras. A análise morfológica foi inconclusiva.

Figura 8 – Amibas com morfotipo eruptivo, 5-25 μm. A) Trofozoítos de T5. (VAREL, 400X, barra 25 μm). B)

Trofozoítos de T6. (VAREL, 200X, barra 40 μm). C) Formas agregadas (quistos?) de T6. (VAREL, 200X, barra

40 μm).

B

C A

Figura 9 – Amiba T7 com morfotipo eruptivo, 30-70 μm. ABCD) Sequência de imagens evidenciando a

formação de zonas hialinas (seta) por pequenas erupções de citoplasma que rapidamente é incorporado

(D). (VAREL, 200X, barra 40 μm). E) São visíveis núcleos vesiculares com nucléolos grandes (setas) e

restantes inclusões e vacúolos. (DIC, 400X, barra 20 μm).

A B

C D E

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M1 – Esta espécie foi isolada a partir de água do mar colhida na marina de Cascais. São as

maiores amibas isoladas durante este trabalho, com 50-80 μm (Fig. 10). Formam

subpseudópodes longos (dactilopodes) que em meio líquido podem ter até 2 a 3 vezes o

comprimento do trofozoíto, movendo-se rapidamente de um lado para o outro. As inclusões

concentram-se geralmente na zona anterior da amiba, junto aos dactilopodes. Não formam

quistos. A análise morfológica sugere que esta amiba poderá ser do género Vexillifera.

H1 – Amiba com morfotipo acantopodial isolada a partir de biofilmes do hospital (Fig.11).

Forma quistos que adquirem uma conformação circular em culturas líquidas (Fig. 12) e mais

poligonal nas culturas em agar. A análise morfológica coloca esta amiba dentro do género

Acanthamoeba.

Figura 10 – Amiba M1, morfotipo dactilopodial. A) Os dactilopodes são visíveis na zona anterior da célula

(setas). (VAREL, 200X, barra 80 μm). B) As inclusões maiores localizam-se na zona anterior da amiba perto

dos dactilopodes. (Contraste de fase, 200X, barra 40 μm).

A B

Figura 11 – Amiba H1, 15-50 μm. A) Frente de crescimento dos trofozoítos (limite do halo de crescimento)

sobre agrupamentos de bactérias (cima, direita). (VAREL, 200X, barra 50 μm) B) Quistos. (VAREL, 200X,

barra 50 μm).

A B

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3.2. Culturas Axénicas – Apenas dois dos isolados obtidos se adaptaram bem ao meio líquido

nutriente utilizado (T1 e H1). Na cultura T4 observou-se um crescimento reduzido inicial mas

as amibas rapidamente enquistaram. Todas estas amibas têm um morfotipo acantopodial

característico de Acanthamoeba. As restantes culturas não mostraram qualquer crescimento

(T3, T5, T7, M1) ou ficaram contaminadas (T3, M1), mesmo com a utilização de antibióticos.

3.3. Microscopia Óptica

Os métodos utilizados para observar as amibas ao microscópio óptico deram resultados

variados.

Microscopia directa nas placas de agar (Fig. 3 a 11) – É possível ver as estruturas de várias

amibas mas o alongamento de subpseudópodes é diminuído e outras estruturas, tal como o

uróide, adquirem por vezes conformações anormais. A espessura da camada de agar também

afecta negativamente a qualidade de imagem. Contudo, esta metodologia permite monitorizar

as culturas sem as perturbar, tornando-se indispensável para o acompanhamento do estado

das culturas e na selecção de material de interesse para fases ulteriores do trabalho, como por

exemplo obtenção de monoculturas.

Observação após adesão natural (Fig. 12, 14, 15) – Este método permite às amibas assentar na

lâmina e aderir naturalmente ao vidro, ou ao plástico (no caso das culturas axénicas),

facilitando depois uma visualização mais natural da morfologia dos trofozoítos. Nem todas as

Figura 12 – Cultura em meio PYG líquido axénico das amibas obtidas em ambiente hospitalar (H1). A

visibilidade é melhor em meio líquido. Vêem-se facilmente os acantopodes dos trofozoítos (setas) e

quistos arredondados com o endoquisto e ectoquisto bem distintos. (DIC, 200X, barra 20 μm)

ectoquisto endoquisto

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espécies de amibas aderem facilmente, podendo demorar mais tempo ou não aderir de todo.

A boa adesão das amibas é crucial para se obter uma coloração aceitável a partir deste

método.

Citocentrifugação (Fig. 13) – Testou-se também a citocentrifugação das amibas. As células

adquirem uma conformação mais ou menos arredondada e não se visualizam estruturas

importantes como subpseudópodes. As células também têm tendência para se agregar entre

elas e com os detritos (e.g. bactérias), dificultando a visualização (Fig. 13-B). Nalguns casos as

amibas rebentaram, possivelmente devido à velocidade da centrifugação (2000 rpm). O

método permite no entanto a obtenção de boas colorações.

3.3.1. Colorações

As diferentes colorações testadas nem sempre se revelaram eficientes na coloração das

amibas estudadas. Alguns dos problemas observados estão possivelmente associados ao

método de recolha das amibas, à osmolaridade dos meios utilizados e/ou à qualidade dos

reagentes, sendo necessário desenvolver trabalho de adaptação dos métodos a preparações

de amibas.

May-Grünwald/Giemsa – Este método tem por objectivo evidenciar as amibas e alguns

organitos, nomeadamente núcleos e nucléolos. Os resultados obtidos indicam que permite

uma boa coloração das amibas. Distinguem-se bem os vacúolos (brancos) e as estruturas

nucleares (Fig. 13).

Giemsa – Este método cora as estruturas do mesmo modo que a coloração May-Grünwald/Giemsa mas algumas amibas ficam mais escuras mesmo com uma exposição mais curta ao corante, não sendo possível observar bem as estruturas intracelulares (Fig. 14, pág, 29). No entanto, os acantopodes ficaram bem corados.

Figura 13 – Coloração May-Grünwald/Giemsa de amibas citocentrifugadas A) Amiba T1. Notam-se danos

nalgumas células (setas). B) Amiba T6. Vêem-se bem os núcleos e vacúolos. As células estão agregadas

com resíduos, dificultando a visualização.

A B

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Giménez – Com este método, as bactérias presentes nalgumas das amostras (em culturas

mistas, possivelmente Lactobacillus) coraram de vermelho (Fig. 15). As amibas, embora

tenham aderido bem ao vidro (pseudópodes e acantopodes bem visíveis), ficaram muito

pouco coradas, apresentando-se apenas ligeiramente esverdeadas ou azuladas. Tentou-se

aumentar o tempo de exposição ao oxalato de verde-malaquite até aos 20 segundos (dos 3

segundos indicados por Giménez) sem sucesso. Este resultado pode dever-se à qualidade do

oxalato de verde malaquite disponível.

3.4. Microscopia Electrónica

Foram feitas preparações para microscopia electrónica de transmissão de todos os morfotipos

com excepção de T3 mas apenas se conseguiu visualizar e fotografar adequadamente as

amostras T1, T4 e H1, todas de morfotipo acantopodial, uma vez que as outras amibas ficaram

deformadas devido a osmolaridades inadequadas dos reagentes.

Fez-se uma caracterização das estruturas celulares destas amibas. Em todas as amibas

caracterizadas as mitocôndrias têm cristas tubulares características de Amoebozoa e Rhizaria.

(Figs. 16-B, 18-A e 19-B). O núcleo de todas as amibas é vesicular, com nucléolo central (Figs.

16-A e 19-A). Nalguns espécimens pôde-se observar o processo de fagocitose na sua fase

inicial (Fig. 20-B) e bactérias em diferentes fases de digestão dentro de fagolisossomas (Figs.

17-A e 21). Em T1 foram ainda detectadas bactérias com localização citoplasmática que serão

possivelmente MRAs (Fig. 18). Esta hipótese será investigada em trabalho futuro.

Figura 15 – Coloração de Giménez, após adesão natural das amibas (T4) ao vidro. São visíveis pontos

vermelhos/púrpura no interior das amibas (setas), possivelmente MRAs. Também são visíveis os

acantópodes.

A B

Figura 14 – Coloração de Giemsa com amibas (T1) que aderiram ao vidro. O citoplasma está muito

corado, possivelmente devido a uma fraca adesão ao vidro pelas amibas. A) Amiba T1. Observam-se

facilmente os acantopodes (setas). B) Amiba T4. Vêem-se pequenos subpseudópodes.

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3.4.1. Microscopia Electrónica da Amiba T1

Figura 16 - TEM de amiba da cultura T1. A) Núcleo vesicular (9000X, barra 2 μm). B) Mitocôndria (m) com

cristas tubulares e cisternas de retículo endoplasmático rugoso (setas). (9000X, barra 1 μm).

A B

m

Figura 17 - TEM de amiba da cultura T1. A) Dois vacúolos digestivos com Lactobacillus em várias fases de

digestão no interior. (8000X, barra 2 μm). B) Os acantopodes são visíveis como extensões do citoplasma

(setas). (9500X, barra 2 μm).

B A

Figura 18 - TEM de amiba da cultura T1. A) Duas mitocôndrias (m) com cristas tubulares características das

amibas e uma bactéria citoplasmática (b). (20000X, barra 0,5 μm). B) As bactérias resistentes podem-se

apresentar rodeadas de retículo endoplasmático rugoso, como a desta imagem (b). (30000X, barra 0,5 μm).

A B

m

m b

b

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3.4.2. Microscopia Electrónica da Amiba T4

Figura 21 - TEM de um trofozoíto da cultura T4. São visíveis muitos vacúolos

digestivos com bactérias em vários estados de degradação. (6000X, barra 2 μm).

Figura 20- TEM de amiba da cultura T4. A) Os acantopodes seccionados (setas) dão a aparência de estar

separados da amiba (cima, direita). (10000X, barra 2 μm). B) Fagocitose de uma bactéria. (6000X, barra 2

μm). Será formada uma vesícula digestiva à qual se associarão lisossomas. Alguns MRAs conseguem evitar

a fusão dos lisossomas com os vacúolos digestivos.

A B

Figura 19 - TEM de amiba da cultura T4. A) Núcleo vesicular com nucléolo denso. (8000X, barra 1 μm). B)

Mitocôndria com cristas tubulares (m) rodeada de cisternas de RER (setas). (10000X, barra 0,5 μm).

A B

m

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3.5. PCR

Foram feitos PCRs com primers para sequências de DNA ribossomal de Acanthamoeba para a

maior parte das amostras (Tabela 5). Às amostras que deram resultado negativo para

Acanthamoeba fez-se um PCR com primers específicos para DNA ribossomal de Naegleria.

Os PCRs com os primers JDP de Acanthamoeba originaram fragmentos da dimensão esperada

(~450bp) nas amibas T1, T4 e H1. Um dos PCRs feitos com a amiba M1 originou um fragmento

maior que o esperado (~800bp) mas como um PCR subsequente originou bandas inespecíficas

não se enviou esse produto para análise.

Nenhuma das outras amostras estudadas deu positivo para Naegleria.

Na figura 22 apresentam-se os resultados do PCR com primers para Acanthamoeba.

O PCR demonstrou que as amibas marinhas T1 e T4 e a amiba do hospital H1 pertencem ao

género Acanthamoeba, confirmando a análise morfológica.

Figura 22 – Produtos de amplificação com o par

de primers JDP1 e JDP2 para Acanthamoeba. Na

amiba T6 M1 é visível um fragmento com cerca

de 800 pares de bases. As bandas na zona

inferior da imagem são primers conjugados. A

electroforese foi feita a 100 V (~90 mA) durante

1 hora em gel de agarose (2%). A imagem foi

editada para remover amostras repetidas.

M = Marcador (100 bp DNA ladder) (-) = Controlo negativo.

Amiba PCR PCR Acanthamoeba PCR Naegleria Género / Espéciea Avaliação

T1 Sim Positivo - Acanthamoeba Confirmado

T2 Não - - ? -

T3 Sim Negativo Negativo Vanella? Por confirmar

T4 Sim Positivo - Acanthamoeba Confirmado

T5 Não - - ? -

T6 Sim Negativo Negativo ? -

T7 Não - - ? -

M1 Sim Negativo Negativo Vexillifera? Por confirmar

H1 Sim Positivo - Acanthamoeba castellanii Confirmado

a - Os géneros/espécies não confirmados foram apenas identificados pelas caracteristicas morfológicas e

estruturais.

Tabela 5: Resultados das reacções de PCR.

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3.6. Sequenciação

Os produtos obtidos por PCR para as amibas T1, T4 e H1 foram sequenciados com sucesso e as

sequências podem ser consultadas no anexo IV

Os resultados da análise das sequências alinhadas e submetidas no programa BLASTN estão na

tabela 6. As três sequências foram analisadas com sucesso.

Como as sequências são relativamente curtas (cerca de 480 pares de bases), as percentagens

de similaridade calculadas representam um pequeno número de nucleótidos diferentes.

A análise das sequências mostra que tanto T1 como T4 estão bastante próximas em termos

filogenéticos de Acanthamoeba polyphaga, uma amiba reconhecidamente patogénica. A

análise de T1 e T4 mostrou bastantes semelhanças entre as duas. É possível que as diferenças

encontradas sejam devido a uma menor qualidade das sequências da amiba T4. Sendo as duas

amibas provenientes do mesmo local (estuário), é difícil estabelecer apenas com estes dados

se são duas espécies diferentes.

A amiba H1 isolada no hospital Curry-Cabral é filogeneticamente próxima de Acanthamoeba

castellanii, apresentando um nucleótido a menos que a sequência presente na base de dados

do NCBI. Esta amiba também é possivelmente patogénica.

Score Identidade Cobertura

T1 Acanthamoeba polyphaga Nagington 846 99% 100%

T4 Acanthamoeba sp. FA03 850 99% 99%

H1 Acanthamoeba castellanii 857 99% 99%

Tabela 6 - Análise filogenética das sequências obtidas.

BLASTNNome da

CulturaSequência 18S Putativa

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4. Discussão

4.1. Culturas

Os métodos de cultura utilizados no isolamento de amibas do ambiente, nomeadamente as

culturas em agar com camada de bactérias, revelaram ser adequados para fazer crescer várias

espécies de amiba. Contudo, observaram-se alguns casos de insucesso, particularmente nas

amibas marinhas. Neste trabalho utilizou-se apenas um valor de salinidade de água do mar, o

que poderá ter reduzido o número de espécies cultiváveis. Em trabalho futuro seria

interessante testar diferentes salinidades à semelhança de outros autores (e.g. água

destilada/baixa salinidade, água salobra 50% e 75% e água do mar 100%) (Gast et al, 2011).

As culturas axénicas permitiram o crescimento de duas espécies de Acanthamoeba, não sendo

no entanto adequadas para o crescimento da maior parte das amibas marinhas. Por esta

razão, para se obterem culturas axénicas das outras espécies de amibas os métodos deverão

ser adaptados. A salinidade poderá ser um factor limitante, tal como nas culturas mistas em

agar. Outro factor passível de limitar o crescimento será a selecção de nutrientes. O meio PYG

simples poderá não ser suficiente, devendo-se desenvolver um meio nutriente mais completo,

com micronutrientes, ou adicionarem-se bactérias autoclavadas como alimento.

4.2. Microscopia óptica

A observação das amibas directamente sobre as placas de agar é aceitável mas perde-se

qualidade de imagem e algumas estruturas amebóides adquirem por vezes conformações

anormais. A observação directa sobre as culturas é essencial para acompanhar o crescimento e

para se fazerem subculturas.

Para se observarem as amibas com uma morfologia e locomoção natural parece ser suficiente

a observação microscópica das culturas axénicas líquidas, embora se perca detalhe na

observação de estruturas intracelulares (e.g. núcleos). Caso não se consigam isolar as amibas

em meio axénico ou se o objectivo for corar as amibas e possíveis microorganismos

intracelulares, é necessário extrai-las do agar e observá-las em lâminas.

A citocentrifugação “esmaga” as amibas e não se consegue ver a sua morfologia natural. O

melhor método para se observarem as amibas vivas sobre as lâminas e para se fazerem

colorações de células fixadas é deixá-las aderir naturalmente ao vidro em meio líquido. Isto

permite uma disposição mais natural das estruturas, facilitando a observação dos diferentes

morfotipos.

Para obter melhor visualização ao microscópio óptico deve-se tentar melhorar os métodos que

permitem a adesão das amibas sobre lâminas de vidro. Um método que poderá ser testado

para melhorar a adesão é utilizar água do mar artificial com diferentes níveis de salinidade

como meio, em vez de meio de Page.

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A diversidade das espécies marinhas em particular está pouco descrita e são necessários mais

estudos que sirvam de base a uma classificação que permita a identificação das espécies

encontradas.

4.2.1. Colorações

As colorações de Giemsa e May-Grünwald/Giemsa são relativamente fáceis e adequadas para

corar as várias estruturas amebóides (subpseudópodes, etc.) mas diferenças nos resultados

das colorações indicam que o pH e os tempos de exposição aos corantes variam entre

morfotipos de amiba. Deverão continuar os estudos para se identificarem as condições ideais

para cada morfotipo.

A coloração de Giménez mostrou potencial na coloração de bactérias simbiontes e/ou

fagocitadas mas a coloração das amibas hospedeiras não foi satisfatória, possivelmente devido

ao grau de pureza do oxalato de verde-malaquite disponível (foi utilizado um corante com 88%

de pureza, sendo o ideal acima de 90%). Em alternativa poderá ser usado o azul-de-metileno. A

coloração de Giménez é um método rápido e útil para detectar a presença de bactérias no

interior de amibas.

A boa adesão das amibas às lâminas de microscopia é crucial para obterem colorações

aceitáveis.

4.3. Microscopia Electrónica

Apenas foi possível observar satisfatoriamente 2 espécies porque as técnicas utilizadas não se

adequam a todas as espécies, sendo visíveis nas células os efeitos da osmolaridade inadequada

dos reagentes utilizados no processamento. É necessária alguma experimentação com

diferentes concentrações dos tampões utilizados ou adição de sais. Talvez seja mais fácil

identificar as osmolaridades mais adequadas a cada amiba depois de se observar quais as

salinidades a que as amibas crescem melhor (ver 4.1).

A microscopia electrónica de transmissão revela-se uma ferramenta muito útil na

caracterização das amibas isoladas e na detecção e caracterização de MRAs. Presume-se que

com um conhecimento mais aprofundado da ultraestrutura dos vários morfotipos de amibas

este método seja bastante eficaz para identificar diferentes espécies de amiba e perceber

quais os efeitos da presença de MRAs no seu interior (já sabemos por exemplo que algumas

bactérias endobiontes se apresentam rodeadas por retículo endoplasmático rugoso).

É possível que a microscopia electrónica de varrimento (SEM) também seja uma ferramenta

útil para a caracterização de AVL.

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4.4. PCR e Sequenciação

As três amibas identificadas como Acanthamoeba sugerem que estes protozoários

potencialmente patogénicos e portadores de MRAs são comuns nas zonas estudadas.

A presença de Acanthamoeba castellanii no hospital Curry Cabral poderá representar um

problema sério. Este hospital tem uma unidade de transplantes (não amostrada) em que os

pacientes imunodeprimidos correm risco de infecção por estas AVL ou por MRAs patogénicos.

Sugere-se um rastreio da presença de AVL nesta unidade e caso sejam detectadas, será

prudente proceder a desinfecções com desinfectantes mais apropriados para eliminar

trofozoítos e quistos destas amibas, por exemplo soluções de peróxido de hidrogénio (3%)

(Hughes & Kilvington, 2001).

A identificação morfológica das amibas, tal como evidenciado neste trabalho, é muito difícil

dada a grande variabilidade morfológica observada numa mesma espécie em resposta a

condições ambientais e de observação. A amplificação de DNA de amibas por PCR e a

subsequente sequenciação e análise filogenética dos resultados é essencial para se identificar

as espécies de amibas e percebermos qual a sua distribuição.

Neste trabalho só se utilizaram dois pares de primers, ambos bastante específicos. Na

continuação deste trabalho será necessário utilizar primers mais genéricos que permitam a

análise a uma maior gama de géneros de amiba, por exemplo o par Euk A e Euk b que também

amplificam genes da subunidade 18S do rDNA (Medlin et al., 1988).

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5. Conclusão

Conseguimos isolar amibas de morfotipos diferentes, tendo 3 delas sido identificadas

molecularmente como pertencentes ao género Acanthamoeba. Este resultado indica que

existem várias espécies de amibas de vida livre em Portugal algumas das quais com

patogenicidade reconhecida. Muitas destas amibas poderão albergar microorganismos

potencialmente patogénicos para o ser humano.

O trabalho desenvolvido permitiu seleccionar e aperfeiçoar várias técnicas de captura, cultura,

isolamento, observação e identificação de amibas de vida livre, deixando ao mesmo tempo

várias possibilidades para o melhoramento de novas técnicas, particularmente de visualização

de amibas e das suas estruturas por microscopia.

A cultura em placas de agar, seguido por cultura em meio axénico, a observação das amibas e

de potenciais MRAs por microscopia óptica e electrónica, e a análise filogenética das amibas

são ferramentas de estudo que se complementam e permitem caracterizar com rigor as

espécies de amibas isoladas do meio ambiente.

O trabalho continua em curso mas as amibas já identificadas com sucesso são o primeiro passo

para se conhecer a diversidade destes organismos em Portugal e para se avançar para o

estudos dos MRAs.

A detecção de Acanthamoeba castellanii em ambiente hospitalar neste trabalho preliminar

sugere que seria interessante fazer um estudo mais abrangente sobre a variedade de AVL

presentes nomeadamente em unidades de cuidados intensivos e unidades de transplante ou

de infecto-contagiosas, com o objectivo de avaliar os riscos e propor medidas de prevenção e

de descontaminação.

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Anexo I

Meios e Culturas

Meio de Page (Greub & Raoult, 2002)

- NaCl 120 mg/l

- MgSO4 •7H2O 4 mg/l

- CaCl2 •2H2O 4 mg/l

- Na2HPO4 142 mg/l

- KH2PO4 136 mg/l

- Água destilada (dH2O)

Sementeira de bactérias de iogurte

1. Colocar 2,5 ml iogurte líquido num tubo de 50 ml; adicionar dH2O até 25 ml (1:9)

2. Agitar 10 min

3. Centrifugar 1500 rpm x 5 min

4. Rejeitar sobrenadante

5. Adicionar dH2O até 25 ml

6. Agitar bem e repetir passos 3, 4 e 5

7. Homogeneizar e aplicar sobre placas de agar. Após 10-15 min pipetar excesso e deixar

assentar entre 24 horas, a 4°C se necessário.

Meio PYG (Schuster, 2002)

- Peptona 15 g/l

- Extracto de levedura 5 g/l

- Glucose 10 g/l

- dH2O (amibas do hospital) ou água do mar artificial (amibas marinhas)

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Água do Mar Artificial (adaptado de Kester et al. 1967)

- NaCl 24.540 g/l

- Na2SO4 4.090 g/l

- KCl 0.700 g/l

- NaHCO3 0.200 g/l

- KBr 0.100 g/l

- H3BO3 0.003 g/l

- NaF 0.003 g/l

- MgCl2•6H2O 11.100 g/l

- CaCl2 •2H2O 1.540 g/l

- dH2O

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Anexo II

Colorações

Coloração de Giménez (1964)

Fucsina básica fenólica (Stock)

- Fucsina básica 10% (m/v) em etanol 95% 100 ml

- Fenol 4% (v/v) em dH2O 250 ml

- dH2O 650 ml

(Manter a 37°C durante 48 horas antes de utilizar)

Fucsina básica fenólica (solução trabalho)

- Fucsina básica fenólica (stock) 4 ml

- Tampão fosfato de sódio 0.1M, pH 7,45 10ml

(Filtrar com papel de filtro depois de feita a solução de trabalho e antes de cada

utilização)

Oxalato de Verde-malaquite aquoso (solução de trabalho)

- Oxalato de Verde-malaquite 0,8% em dH2O

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Anexo III

Condições de PCR

dH2O 9,70 μl

Tp 5X (MgCl2) 5,00 μl

Forward Primer (3,2 μM) 3,75 μl

Reverse Primer (3,2 μM) 3,75 μl

MgCl2 (25mM) 1,00 μl

dNTP (10μM) 0,50 μl

Taq (5U/μl) 0,30 μl

DNA 1,00 μl

Volume Final 25,00 μl

Mistura de Reacção

Alvo Par PrimersDesnaturação

inicialNº Ciclos Desnaturação Annealing Extensão Extensão final

NaegleriaITS 1; ITS 2

Pelandakis95°C, 5m 30 95°C, 60s 55°C, 60s 72°C, 60s 72°C, 5m

Acanthamoeba JDP1; JDP2 95°C, 5m 40 95°C, 60s 60°C, 60s 72°C, 60s 72°C, 5m

Condições de PCR

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Anexo IV

Sequências

Amiba Sequência

T1

GGCCCAGATCGTTTACCGTGAAAAAATTAGAGTGTTCAAAGCAGGCAGATTCAATTTTCTGCCACCGAAT

ACATTAGCATGGGATAATGGAATAGGACCCTGTCCTCCTATTTTCAGTTGGTTTTGGCAGCGCGAGGACT

AGGGTAATGATTAATAGGGATAGTTGGGGGCATTAATATTTAATTGTCAGAGGTGAAATTCTTGGATTTA

TGAAAGATTAACTTCTGCGAAAGCATCTGCCAAGGATGTTTTCATTAATCAAGAACGAAAGTTAGGGGAT

CGAAGACGATCAGATACCGTCGTAGTCTTAACCATAAACGATGCCGACCAGCGATTAGGAGACGTTGAAT

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T4

TGGCCCAGATCGTTTACCGTGAAAAAATTAGAGTGTTCAAAGCAGGCAGATTCAATTTTCTCGCCACCGA

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TATGAAAGATTAACTTCTGCGAAAGCATCTGCCAAGGATGTTTTCATTAATCAAGAACGAAAGTTAGGGG

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H1

TGGCCCAGATCGTTTACCGTGAAAAAATTAGAGTGTTCAAAGCAGGCAGATCCAATTTTCTGCCACCGAA

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TACAAAACACCACCATCGGCGCGGTCGTCCTTGGCGTCTGTCCCTTTCAACGGGGGCAGGCGCGAGGGCG

GTTTAGCCCGGTGGCACCGGTGAATGACTCCCTAGCAGCTTGTGAGAA