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HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN SÃO PAULO, 19 DE DEZEMBRO DE 2009

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PAPF, 18 anos, estudante, natural e procedente de São Paulo, previamente hígido.

Procura o Pronto Atendimento em 12/09/09 com história de instalação aguda de febre e

dores abdominais discretas,

sem sinais de irritação peritoneal e discreta plaquetopenia no hemograma.

Recebe alta com medicações sintomáticas.

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Algumas horas depois retorna ao Pronto Atendimento com:

• temperatura 38,5ºC

• taquipneico

• hipotenso• com petéquias e placas em face, tronco e

membros,

• sem sinais meníngeos,

• sem déficts motores

• anúrico

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Hb 13,5 g/dl Plaquetas 10.000/μlLeucócitos 16.300

bastonetes 17%, segmentados 67%, eosinófilos 1%, basófilos 0%, linfócitos 11%, monócitos 4,0%presença de cocos gram negativos intracelulares

Proteína C reativa 157,3 mg/LFibrinogênio inferior a 70 mg/dl. TP superior a 160 seg. RNI superior a 10Creatinina 3,30 mg/dl. Uréia 54 mg/dlÁcido lático 132 mg/dl Ph 7.098 pCO2 28,9

pO2 48,7 BE -16,3 mEq/L HCO3 13,2 mEq/l

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Apesar da gravidade de sua situação

clínica, o paciente está consciente,

sereno e atento às explicações que o

médico que o atende lhe dá.

Consente ao ser informado que terá que

receber sedação para submeter-se a

intubação orotraqueal, pois sua

condição respiratória deteriora.

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Iniciado de imediato:

ceftriaxona ciprofloxacinohemodiálisedrogas vasoativasintubação orotraqueal comventilação mecânicasedação

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O paciente é o terceiro e último filho de um casal, que se encontra em viagem de férias no interior da Itália.

A mãe dona de casa e o pai engenheiro diretor comercial de uma importante empresa de engenharia em São Paulo.

Ambos nasceram em Minas Gerais e moram em São Paulo há vários anos.

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Seus dois irmãos são engenheiros. Por sinal engenharia é a profissão familiar, embora os irmãos trabalhem em atividades gerenciais em empresas de grande porte, são jovens de boa formação técnica e cultural em início de carreira.

O irmão do meio tem como noiva uma jovem que é médica recém formada e que é a pessoa da família que desempenha fundamental trabalho de contato entre a equipe médica e a família.

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PAPF é o primeiro filho que não seguirá a

formação do pai, faz curso preparatório para

curso de administração.

Tido como o filho mais próximo do pai,

afetivamente mais próximo do pai.

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Após 24 horas de evolução seu quadro clínico

se agrava com piora respiratória, renal e

hemodinâmica apesar de receber doses

máximas de drogas vasoativas.

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No terceiro dia de internação seus pais chegam a São Paulo.

O pai mantém contato com a equipe médica sempre acompanhado pelos outros filhos.

A mãe, na grande parte das vezes, não consegue presenciar os informes médicos.

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Ambos mantém-se quase o tempo todo na ante-sala da UTI, sem estabelecer visita direta ao paciente.

A equipe médica inicial é formada por infectologistas, hematologista, pneumologista, cirurgião-vascular, nefrologista.

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No quinto dia de evolução verifica-se o agravamento da perfusão dos membros inferiores e superiores por comprometimento vascular arterial e a família é informada da possibilidade de sequelas isquêmicas definitivas.

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No sétimo dia inicia-se a retirada das drogas vasoativas com estabilização hemodinâmica e respiratória.

Segue-se desmame ventilatório .

Não se observa comprometimento cognitivo.

O paciente é transferido para a unidade semi-intensiva.

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À equipe médica são incorporados: um Psiquiatra um Cirurgião Plástico

um Especialista em Dor um Ortopedista com Especialização em Reabilitação

Tendo em vista a complexidade da equipe que atende o paciente, a Diretoria de Prática Médica do HIAE acompanha a evolução do paciente, desde os primeiros dias organiza encontros periódicos com toda a equipe assistencial.

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O paciente expressa o desejo de assistir a um

show de Rock e indaga o médico que o

assiste se há possibilidade de recuperação

suficientemente rápida para poder assistir

ao show que será realizado no Estádio do

Morumbi, vizinho do HIAE.

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Durante a terceira semana de evolução há instabilidade hemodinâmica e respiratória com piora dos marcadores de sepsis.

O paciente retorna a UTI para sedação e reintubação orotraqueal.

Amplia-se o espectro de cobertura antibiótica com vancomicina, polimixina B e caspofungina.

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Constata-se o comprometimento necrótico de membros inferiores e superiores, definitivo e irreversível com necrose e mumificação das mãos e dos pés bilateralmente.

O nível de corte da amputação ainda não pode ser estabelecido. Nível de antebraço ou de braço e raiz da coxa, ou perna abaixo do joelho.

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A possibilidade de perda dos quatro membros

traz muita angústia familiar, especialmente

nos pais.

Há dificuldade no entendimento da doença por

parte deles, apesar de todo o esforço de

comunicação da equipe multiprofissional.

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Quando se detalha a fisiopatologia da doença há entendimento técnico por parte deles.

Algumas horas depois a angústia recorre.

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Alguns membros da equipe de enfermagem manifestam constrangimento no atendimento ao paciente.

Alguns relatam que é insuportável acompanhar o paciente com a perspectiva de perda dos quatro membros.

A Diretoria de Enfermagem prioriza a estabilidade da equipe assistencial com menor rodízio possível.

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Em início de outubro, apesar da mais

ampla cobertura antibiótica:

-paciente evoluiu com piora do estado

geral, febre de 40ºC, taquicardia e

instabilidade hemodinâmica.

Tem indicação médica de amputação dos

quatro membros necrosados.

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O pai manifesta-se sem condições de assinar o termo de consentimento cirúrgico,

que é feito pelo irmão.

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Em 11/10 foi realizada amputação bilateral das pernas em nível abaixo dos joelhos.

Em 13/10 foi realizada amputação bilateral de membros superiores com desarticulação dos cotovelos.

Constata-se necrose óssea completa da estrutura de ambos joelhos e amplia-se a amputação dos membros inferiores em nível de terço inferior das coxas bilateralmente.

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Há melhora gradual do quadro clínico.

Após 03 semanas iniciam-se enxertos de retalhos em cotos expostos.

Regressão completa do quadro febril com boa evolução clínica.

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Em 27/11 o paciente, acompanhado de equipe multiprofissional, assiste ao show de rock no Estádio do Morumbi, com papel relevante da diretoria do HIAE para propiciar as condições legais, técnicas e assistenciais para a logística de transporte do paciente ao estádio.

Em 14/11 o paciente é transferido para quarto onde aguarda transferência para clínica de reabilitação

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1. Devemos suspender todo o suporte vital desse jovem em sépsis que corre o risco de perder os 4 membros, como foi sugerido informalmente por alguns membros da equipe médica?

1. Devemos não proceder a amputação dos membros desse jovem por ser um procedimento mutilante com sequelas motoras graves e irreversíveis, como foi insinuado pelos pais?

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1. MÃE: Psicologicamente incapacitada, pois não suportava participar nem mesmo dos informes médicos na UTI.

2. PAI: Chegou a se declarar incapaz para assinar um termo de consentimento.

3. IRMÃOS: Não são os representantes legais.4. PACIENTE: Está momentaneamente sedado.

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1. Escolha do médico principal2. Reuniões com membros da Diretoria Médica

do Hospital3. Reuniões com Membros dos Comitês de

Ética ou Bioética.

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