VI SIMPÓSIO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA DO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN[1]

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VI SIMPSIO DE VENTILAO MECNICA O do d HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN

11 e 12 de setembro de 1998.

So Paulo - S.P.

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MODOS DE VENTILAO MECNICA:Assistncia ventilatria pode ser entendida como a manuteno da oxigenao e/ou da ventilao dos pacientes portadores de insuficincia respiratria aguda de maneira artificial at que estes estejam capacitados a reassumi-las. A melhora da oxigenao pode ser obtida artificialmente atravs da administrao de fraes inspiradas de oxignio superiores da atmosfera (FIO2 acima de 21% ) atravs de mscaras ( mscaras de venturi ou sistemas de CPAP) e ou catteres. As mscaras de Venturi e catteres tero bons resultados na melhora da oxigenao nas insuficincias respiratrias onde predomine o distrbio V/Q. J os sistemas de CPAP devero ser utilizados quando houver colabamento ou preenchimento dos alvolos com conseqente aumento do "shunt". A abertura das unidades alveolares com o auxlio do CPAP facilitar as trocas gasosas com melhora principalmente da oxigenao. Para a manuteno artificial da ventilao o paciente necessitar do auxlio de um sistema externo que fornea uma presso negativa ou positiva ao sistema respiratrio para expanso dos pulmes (ventiladores mecnicos) permitindo aps, a expirao passiva. Assim, haver movimentao de gs do sistema respiratrio para a atmosfera e vice-versa com conseqente troca do CO2 e O2. Os ventiladores mecnicos sero imprescindveis nas insuficincias respiratrias do tipo ventilatrio e nos distrbios V/Q graves onde normalmente observamos reteno de CO2. O uso destes ventiladores mecnicos na prtica clnica iniciou-se h cerca de 60 anos com os ventiladores presso negativa (nas epidemias de poliomielite). Posteriormente, as dificuldades em se ventilar pacientes com leses parenquimatosas graves levaram ao desenvolvimento de aparelhos que aplicavam uma presso positiva diretamente nas vias areas, os ventiladores presso positiva, pelos melhores resultados obtidos, tiveram seu uso difundido e acabaram por ganhar uma posio de destaque no tratamento da insuficincia respiratria. Mas apesar da utilizao destes ventiladores presso positiva a morbidade (especialmente barotrauma) e a mortalidade dos pacientes com insuficincia respiratria grave permanecia altssima (ao redor de 60-70%) Na ltima dcada, no entanto, o melhor entendimento da fisiopatologia das diversas causas de insuficincia respiratria e a comprovao em estudos experimentais em animais, de leses pulmonares associadas ao uso inadequado da ventilao mecnica tm levado a um questionamento das abordagens ventilatrias utilizadas at o presente. Em diversas situaes, pde-se demonstrar que uma ventilao mecnica inadequada capaz de causar leses pulmonares to ou mais graves que aquelas decorrentes do uso de altas fraes inspiradas de oxignio. Assim, se inicialmente as preocupaes se voltavam somente para a manuteno das trocas gasosas, estudos recentes sugerem que uma ventilao mecnica voltada preservao da microestrutura pulmonar poderia ter um papel fundamental no restabelecimento da funo pulmonar. Nos ltimos anos, os avanos tecnolgicos e o advento dos ventiladores mecnicos microprocessados propiciaram o desenvolvimento de uma ampla variedade de novos modos de ventilao e sofisticaram a monitorizao da ventilao mecnica. Nosso objetivo, neste captulo, ser o de transmitir uma viso sobre a ventilao mecnica a partir desses novos conhecimentos sobre os mecanismos de leso pulmonar, associado aos avanos tecnolgicos dos ventiladores mecnicos. Entendemos que uma adequada compreenso das novas tcnicas ventilatrias pode permitir no apenas a utilizao de opes cada vez mais apropriadas manuteno das trocas gasosas, mas

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sobretudo a utilizao de opes ventilatrias que permitam priorizar e preservar a microestrutura pulmonar, buscando-se uma recuperao mais precoce da insuficincia respiratria aguda. Alm disto, tentaremos voltar nossa ateno para as interaes complexas entre o doente e o ventilador mecnico. Atualmente, o atendimento s demandas ventilatrias do paciente tem se transformado numa das preocupaes prioritrias do suporte ventilatrio, considerando-se que a minimizao da sobrecarga de trabalho imposto musculatura respiratria pode ser uma das peas-chave no tratamento da insuficincia respiratria. Durante a ventilao mecnica, uma quantidade de gs deve ser ciclicamente transportada atravs do sistema respiratrio, desde as vias areas superiores at os alvolos.Didaticamente dividiremos a ventilao com presso positiva nas vias areas em quatro fases:

A. FASE INSPIRATRIA O ventilador dever insuflar os pulmes do paciente, vencendo as propriedades resistivas e elsticas do sistema respiratrio; ao final da insuflao pulmonar, uma pausa inspiratria, isto , uma interrupo do fluxo pelo fechamento da vlvula inspiratria poder ainda ser utilizada, prolongando esta fase de acordo com o necessrio para uma melhor troca gasosa. B. MUDANA DA FASE INSPIRATRIA PARA A FASE EXPIRATRIA O ventilador dever interromper a fase inspiratria (aps a pausa inspiratria, quando esta estiver sendo utilizada) e permitir o incio da fase expiratria; o que se chama de ciclagem do ventilador. C. FASE EXPIRATRIA O ventilador dever permitir o esvaziamento dos pulmes, normalmente de forma passiva para a atmosfera ou em ento, em certas situaes, o ventilador poder apenas retardar ou impedir parcialmente este esvaziamento pulmonar, caracterizando a PEEP. D. MUDANA DA FASE EXPIRATRIA PARA A FASE INSPIRATRIA O ventilador dever interromper a fase expiratria e permitir o incio da fase inspiratria do ciclo seguinte; esta transio pode ser desencadeada pelo ventilador ou pelo prprio paciente. VENTILAO CONTROLADA Normalmente o ventilador determina o incio da inspirao por um critrio de tempo, estipulado a partir do ajuste do comando freqncia respiratria. Na maioria dos ventiladores, quando se ativa o comando ventilao controlada (que pode corresponder, dependendo do ventilador em questo, a uma ventilao com volume controlado presso controlada, ou mesmo tempo controlado com escape de presso) no se permite um mecanismo alternativo de ciclagem (a sensibilidade do aparelho fica normalmente desligada). O tempo expiratrio (TE) ser determinado pela frmula: TE = 60/f - TI

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onde f freqncia em ciclos por minuto e TI o tempo inspiratrio em segundos. VENTILAO ASSISTIDA Neste caso, o ventilador determina o incio da inspirao por um critrio de presso ou de fluxo. Em ambas as situaes, o disparo deflagrado pelo esforo inspiratrio do paciente, que pode acionar um sensor de presso (capaz de detectar uma queda na presso expiratria dentro do circuito do ventilador) ou um sensor de fluxo (capaz de detectar uma pequena movimentao de ar em direo ao pulmo do paciente). Numa ventilao puramente assistida, a freqncia respiratria e, portanto, o tempo expiratrio ficam totalmente a cargo do drive respiratrio do paciente. A. SENSIBILIDADE DO RESPIRADOR Sempre que se utiliza uma ventilao assistida, o comando sensibilidade acionado, devendo-se optar por um valor dentro de uma escala fornecida pelo ventilador em questo. Em ltima anlise, o ajuste da sensibilidade consiste no controle do nvel de esforo inspiratrio capaz de acionar a fase inspiratria do ventilador. Normalmente, os ventiladores costumam fornecer escalas para este limiar de disparo que variam de -0,5 a -20cmHO. Quanto menor este valor (em valor absoluto, significando que menor ser o esforo inspiratrio capaz de disparar o aparelho), mais sensvel estar o ventilador. O ajuste da sensibilidade do ventilador pode ter grandes implicaes no trabalho muscular respiratrio durante a ventilao mecnica. Quanto mais sensvel estiver o aparelho e quanto mais rpida for a resposta do aparelho a este sinal (tempo de resposta do ventilador),ou seja, quanto mais precocemente se iniciar o fluxo inspiratrio em resposta atividade muscular inspiratria do paciente, menor ser o gasto de energia muscular. Na maioria das situaes clnicas em que a ventilao assistida se faz necessria, esta minimizao de trabalho muscular inspiratrio benfica e essencial ao paciente. Isto significa que, como norma geral, a sensibilidade deve ser ajustada em seu mnimo valor possvel, evitando-se porm o autodisparo do ventilador, ou seja, que o ventilador esteja excessivamente sensvel a ponto de deflagrar ciclos inspiratrios em resposta a turbulncias no circuito do aparelho, sem que o paciente tenha feito um esforo inspiratrio. Esta considerao especialmente importante em crianas e principalmente em neonatos. VENTILAO ASSISTIDA/ CONTROLADA Nesta situao, o ventilador permite um mecanismo misto de disparo da fase inspiratria, normalmente combinando um mecanismo a tempo com um mecanismo pressrico. Enquanto o disparo por presso ativado pelo esforo inspiratrio do paciente, o disparo por tempo deflagrado pelo aparelho, funcionando como um mecanismo de segurana que ativado apenas quando o ciclo assistido no ocorrer. Assim, por exemplo, se ajustarmos a freqncia respiratria do ventilador em 20 ciclos por minuto, o ventilador iniciar um ciclo controlado a cada trs segundos, caso o paciente no se manifeste. Por outro lado, se o paciente estiver fazendo um esforo inspiratrio a cada um segundo e meio, o ventilador disparar 40 ciclos assistidos por minuto e nenhum ciclo controlado ser ativado, a menos que o comando freqncia respiratria seja ajustado para um valor acima de 40/minuto. Habitualmente, quando um doente colocado em ventilao assistida/controlada, costuma-se ajustar a freqncia respiratria do ventilador

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ligeiramente abaixo da freqncia espontnea do paciente, de tal forma que os ciclos controlados sejam a exceo VENTILAO MANDATRIA INTERMITENTE Alguns ventiladores permitem a combinao do modo volume controlado e/ou assistido ou mesmo presso controlada, com perodos de ventilao espontnea. A ventilao espontnea realizada dentro do prprio circuito do aparelho, atravs de um sistema de vlvulas de demanda, sendo intercalada entre os ciclos volumtricos. Estes ciclos espontneos podem ser auxiliados por alguns dispositivos que permitem uma ventilao muito similar ventilao em ar ambiente (por exemplo o flow by do ventilador Bennett MA-1 ou o continuous flow do ventilador Bear-5), ou mesmo serem auxiliados por um certo nvel de CPAP ou presso suporte, como no Servo-Siemens 900-C, 300, Bear-1000, Hamilton, Benett MA-1, Evita, Wave . Os ciclos volumtricos podem ser desencadeados por tempo (IMV intermittent mandatory ventilation significando que o intervalo entre estes ciclos volumtricos constante), ou disparados por um mecanismo misto presso/tempo (SIMV syncronized intermittent mandatory ventilation), onde os ciclos volumtricos ou em alguns ventiladores limitados a presso so do tipo assistido/controlado, dependendo da presena ou no de esforo inspiratrio do paciente .Obviamente, este ltimo mecanismo vantajoso em relao ao primeiro, evitando que o aparelho inicie um fluxo inspiratrio num momento em que o paciente poderia estar expirando num ciclo espontneo. PRESSO DE SUPORTE (OU PRESSO ASSISTIDA) A presso de suporte (PSV) um modo recente de ventilao mecnica, explorado intensamente na ltima dcada. O interesse crescente em suas aplicaes clnicas se deve ao reconhecimento de seus resultados promissores na melhoria do conforto e sincronia do paciente com o ventilador mecnico durante a ventilao assistida. Resumidamente, a presso suporte consiste no oferecimento de nveis predeterminados de presso positiva e constante na via area do doente, aplicada apenas durante a fase inspiratria. Diferentemente da presso controlada, o trmino desta fase inspiratria no ditado por tempo, mas sim por fluxo, de tal forma que o prprio doente acaba controlando o seu tempo inspiratrio (ver a seguir). O objetivo desta presso seria apenas o de aliviar uma inspirao muito trabalhosa (poupando a musculatura respiratria), mas ficando ainda a cargo do doente o controle do tempo, fluxo e volume inspiratrios, assim como da prpria freqncia respiratria. Apesar de uma definio aparentemente simples, este mtodo requer recursos sofisticados do ventilador mecnico, o que fica evidente quando se atenta s caractersticas e detalhes implicados nesta definio . 1) A PSV um modo obrigatoriamente assistido o que significa que o ventilador necessita reconhecer o incio de uma inspirao espontnea para ativar a presso suporte. Normalmente, isto feito atravs da deteco de uma pequena queda na presso de base em vias areas (disparo por presso) ou atravs da deteco de um leve fluxo de ar em direo s vias areas do paciente (disparo por fluxo, disponvel em alguns poucos ventiladores microprocessados). 2) No h controle do volume inspirado durante a PSV o volume corrente, assim como o fluxo inspiratrio, ser sempre uma conseqncia de quatro variveis: nvel de presso suporte empregado, nvel de auto-PEEP, impedncia do sistema respiratrio (complacncia e resistncia), e esforo muscular do doente.

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3) O fluxo inspiratrio na PSV livre e decrescente esta uma das caractersticas mais marcantes da presso suporte, e que a diferencia dos modos ciclados a presso (Bird Mark-7, por exemplo). Para que o ventilador seja capaz de gerar uma presso inspiratria constante (desenhando um plat de presso no traado grfico), necessria a liberao quase instantnea de um alto fluxo inspiratrio, suficiente no apenas para atender demanda inspiratria do doente, mas tambm para manter o circuito do ventilador pressurizado ao nvel da presso suporte. Isto significa que o ventilador tem que ser sempre capaz de gerar um fluxo inspiratrio ligeiramente maior ou igual ao solicitado pelo paciente a cada instante, necessitando de um sistema gil e automtico de retroalimentao de fluxos. No h qualquer sentido, portanto, em se predeterminar um valor fixo de fluxo inspiratrio para a presso suporte. Na maioria dos ventiladores, os comandos de fluxo inspiratrio e volume corrente so inativados ao se ligar o modo presso suporte. medida que o pulmo se enche, ou que o esforo da musculatura inspiratria diminui, as presses alveolares se aproximam da presso suporte, e o fluxo inspiratrio cai exponencialmente (a menos que o doente volte a ativar a musculatura inspiratria). No por outro motivo que a forma de onda do fluxo inspiratrio adquire sempre o carter decrescente, apesar de no ser prefixado. Alguns ventiladores mais modernos vem incorporando um comando especial para a "velocidade de ascenso da presso suporte" ( " pressure slope" no ventilador modelo Bear 1000 ou " inspiratory rise time" no servo 300- este ajuste automatizado no modelo WaveNewport)A. Atravs deste comando possvel se alterar a velocidade com que se alcana o plat de presso inspiratria, alterando-se a "reatividade" da resposta de fluxo gerada pelo sistema de demanda. Idealmente, qualquer sistema de demanda deveria sempre responder o mais rpida e instantaneamente possvel, prontamente igualando ou excedendo qualquer fluxo inspiratrio do paciente. Na prtica, porm, uma resposta muito rpida pode se acompanhar de um leve excesso de presses logo ao incio do plat ( overshoot- o sistema no rpido e perfeito o suficiente para desacelerar na velocidade necessria e s vezes se torna necessrio atenuar esta resposta. Respostas mais rpidas ( um "pressure slope" no mximo) so ideais para os pacientes com uma demanda respiratria muito aumentada. Os grandes esforos inspiratrios destes pacientes tendem a diminuir as presses em vias areas ao incio da inspirao, tornando necessria uma resposta rpida do aparelho para contrabalanar este efeito. Pelo contrrio, em pacientes muito obstrudos ou com pequeno esforo inspiratrio, uma resposta muito rpida poderia gerar um leve excesso de presses ao incio do plat inspiratrio, tornando-se necessrio "tamponar" o sistema de demanda. De forma geral, para um mesmo nvel de presso de suporte, quanto mais rpida for a velocidade de ascenso desta presso, menor ser o trabalho inspiratrio do paciente. Deve ser lembrado, todavia, que alguns pacientes obstrudos costumam ter um tempo inspiratrio muito prolongado, e um aumento do "slope" pode gerar um desligamento muito precoce da presso de suporte, resultando num aumento paradoxal do trabalho inspiratrio. Isto ocorre porque o aumento do "slope" traduz-se num maior pico de fluxo, que por sua vez implica numa maior precocidade do critrio de ciclagem (isto vlido para os ventiladores ciclados a 25% do pico de fluxo). Assim, apesar de ter sido muito bem "assistido" no incio da inspirao, o paciente term que terminar a inspirao praticamente sozinho. importante notar que a regulagem do "slope" no impe um fluxo inspiratrio pr-determinado ou um valor mximo de fluxo ( o fluxo continua sendo "livre"). Ele to somente altera a velocidade com que se alcana

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determinados valores de fluxo, os quais continuam a ser amplamente determinados pelo esforo do paciente, pela impedncia do sistema respiratrio, e pelo nvel de presso de suporte ajustado. 4) A PSV um modo de ventilao ciclado a fluxo para que o ventilador reconhea o momento em que o doente finaliza sua inspirao espontnea, desativando a musculatura inspiratria, convencionou-se interromper a presso suporte assim que o fluxo inspiratrio casse abaixo de determinados nveis crticos. Em alguns ventiladores, esta interrupo feita quando o fluxo inspiratrio cai abaixo de 25% do fluxo mximo alcanado ao incio da inspirao (Servo 900-C, Drager- Evita, Bird 6400/8400ST, Bear-3, Bear 1000, Hamilton Veolar) ou 5% do fluxo mximo (Servo 300). Em outros, a interrupo se d quando o fluxo inspiratrio cai abaixo de um valor prefixado, por exemplo 4 L/min (Adult-Star), 6l/min (Puritan-Bennett, Engstrom-Erika), ou 10L/min (Inter-7). Alguns ventiladores ainda incorporaram um sistema varivel de "desativao" de acordo com outras variveis respiratrias. O Newport-Wave, por exemplo, utiliza como critrio de ciclagem um fluxo = (pico de fluxo)0.6. (tempo inspiratrio. K)- onde K uma constante empiricamente determinada pela Newport. No ventilador Bear 5 , por exemplo, o fluxo de ciclagem varia de 20-27%, de acordo com o nvel de presso de suporte ajustado ( presses mais altas correspondendo a percentagens mais altas). Estas diferenas tcnicas teriam importncia terica em determinados grupos de pacientes, por exemplo nos DPOC, onde o critrio mais tradicional de ciclagem (25% do pico de fluxo) acarreta um desligamento precoce da presso de suporte. Estes pacientes poderiam se beneficiar de um volume corrente um pouco maior, caso a presso de suporte desligasse um pouco mais tardiamente. Por outro lado, a presena de fstulas ou vazamentos de ar ao redor do tubo orotraqueal ( principalmente em crianas) pode estabelecer uma situao onde o fluxo inspiratrio nunca cai abaixo de 25% do pico de fluxo, dificultando a ciclagem. Ventiladores com critrios variveis de ciclagem parecem estar, portanto, na direo mais apropriada, buscando contornar estas duas principais dificuldades. Excetuando-se as poucas situaes descritas acima, nveis adequados de presso de suporte costumam propiciar um final do tempo inspiratrio do aparelho coincidente com o final do esforo inspiratrio do paciente- o fluxo inspiratrio no circuito do aparelho costuma cair subitamente a partir deste momento, atingindo os critrios de desativao e ciclagem do aparelho. Quando se utiliza nveis excessivos de presso de suporte, entretanto, o final da inspirao pode ocorrer um pouco mais tardiamente, havendo uma certa insuflao pulmonar passiva ( semelhana de outros modos ventilatrios como a ventilao volumtrica assistida ou a ventilao com presso controlada). Portanto, desde que se utilize nveis adequados de presso suporte, portanto, fica quase impossvel ao doente brigar com o ventilador: caso o doente queira maiores volumes ou fluxos inspiratrios, o ventilador responder imediatamente com suplementao de fluxos; e caso ele decida subitamente exalar durante a inspirao, o ventilador j ter suprimido a presso suporte instantes antes, to logo a musculatura inspiratria tenha comeado a ser inativada (devido queda do fluxo inspiratrio com conseqente ciclagem do aparelho) .Como mecanismo extra de proteo, alguns ventiladores ainda incorporaram um sistema alternativo e reserva de ciclagem, desligando a presso de suporte sempre que a presso em vias areas exceder em 1.53.0 cmH20 o nvel ajustado de presso de suporte ( Adult-Star, Drger- Evita, Newport-

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Wave, Servo 900-C, Benett 7200), mesmo que o fluxo inspiratrio ainda no tenha cado abaixo de nveis crticos APLICAES CLNICAS DA PRESSO SUPORTE : Insuficincia respiratria aguda: altos nveis de presso suporte (acima de 20cmH2O), associada ou no a um certo nvel de PEEP, podem ser muito teis na insuficincia respiratria aguda. Como vantagens em relao ao volume assistido, poderamos citar: melhor sincronia com o aparelho, com diminuio do trabalho muscular respiratrio: esta caracterstica parece se dever presena de um fluxo livre e elevado no incio da inspirao, atendendo s demandas do paciente. Obviamente, quanto mais elevado for o nvel de presso de suporte , assim como a "velocidade de ascenso da presso de suporte" ("pressure slope"), menores sero os nveis de trabalho respiratrio. Deve se ter em mente que nveis mais altos de "pressure slope" normalmente se associam a maiores valores de pico de fluxo. Assim sendo, ventiladores com critrios de ciclagem tipo " 25% do pico de fluxo"( Bear 1000) podem desligar a inspirao mais precocemente quando se aumenta o "pressure slope". menor pico de presso inspiratria para um mesmo volume corrente: apesar de ainda no se ter demonstrado que esta caracterstica esteja associada a um menor risco de barotrauma, h algumas justificativas tericas para que este resultado seja esperado. Na experincia destes autores, esta caracterstica pode ser muito til em obstrues brnquicas agudas, tendo-se tido muito sucesso no manuseio de indivduos asmticos. diminuio do tempo inspiratrio devido aos altos fluxos inspiratrios alcanados: esta caracterstica pode ser muito til na presena de PEEP intrnseco indesejvel, ou em indivduos com grandes repercusses hemodinmicas causadas pela ventilao mecnica. A diminuio do tempo inspiratrio, com conseqente diminuio da presso mdia alveolar, pode trazer grandes benefcios nesta situao. Como desvantagens, entretanto, poderamos citar a possibilidade de deteriorao das trocas gasosas (possivelmente pela diminuio da presso mdia alveolar), e a impossibilidade de garantia de um valor mnimo de volume corrente ou freqncia respiratria em indivduos instveis( ver tpico sobre a VAPSV, abaixo). Em indivduos com grandes chances de colapso alveolar (SDRA, pneumonia, aspirao), torna-se quase obrigatrio o uso associado de nveis adequados de PEEP durante a presso de suporte, de forma a se contrabalanar os baixos nveis de presso mdia associados a esta modalidade. Desmame: possivelmente um dos usos mais difundidos no momento. J existem evidncias na literatura indicando que a presso de suporte, quando bem utilizada, pode abreviar o tempo de desmame, ou mesmo aumentar as suas chances de xito, quando comparada ao SIMV ou ao tubo T. Esta vantagem parece ser mais evidente em indivduos com DPOC e situaes adversas da mecnica pulmonar. Indivduos mais sadios e com altas chances de xito ao desmame parecem no ser influenciados significativamente pela modalidade de desmame. A presso de suporte permite uma transio muito mais gradual da ventilao assistida para a espontnea, quando comparada ao SIMV ou ao tubo T. Esta caracterstica pode ser muito til, por exemplo, no desmame de indivduos cardiopatas que no podem suportar a sobrecarga hemodinmica associada ao tubo T ou SIMV ( principalmente quando se trabalha com freqncias mandatrias abaixo de 8/min).

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Pode-se sustentar tambm que, do ponto de vista terico, desde que bem utilizada, seu efeito sobre o condicionamento do diafragma seja muito mais fisiolgico que aquele propiciado pelo tubo T ou SIMV, melhorando a endurance diafragmtica de forma mais efetiva. A regulagem da presso de suporte durante o desmame ser discutida no captulo --. Diminuio da sobrecarga de trabalho respiratrio associado ao tubo T, CPAP, ou SIMV: como se sabe, o trabalho resistivo imposto pelas prteses ventilatrias pode ser muito alto, freqentemente excessivo para o doente debilitado. Associado a isto, sabe-se tambm que as vlvulas de demanda dos ventiladores costumam solicitar muito do doente, principalmente durante os modos espontneos (CPAP, IMV e SIMV ver tpico anterior sobre trabalho respiratrio). Frente a isto, tem-se demonstrado que o emprego de nveis baixos de presso suporte (de 2 a 10cmHO) pode contrabalanar adequadamente esta sobrecarga, simulando a condio que o doente enfrentaria enquanto extubado. Na opinio destes autores, portanto, a utilizao de uma presso-suporte de pelo menos 5cmHO estaria sempre indicada durante o uso do CPAP ou SIMV (associada, obviamente, ao melhor nvel de sensibilidade possvel). VAPSV: VENTILAO COM PRESSO DE SUPORTE E VOLUME GARANTIDO A utilizao da PSV em doentes graves e instveis pode ser problemtica. Como se viu, o volume minuto e, portanto, a ventilao alveolar neste modo de ventilao so conseqncias de diversas variveis, entre elas o esforo muscular do doente e a impedncia do sistema respiratrio. Assim, situaes de instabilidade do drive respiratrio (pacientes com alterao do nvel de conscincia), ou de alteraes sbitas na impedncia do sistema respiratrio (crises de broncoespasmo ou isquemias cardacas recorrentes) ou mesmo situaes em que um rgido controle da PaCO necessrio (hipertenso intracraniana ou hipertenso pulmonar) so condies de uso limitado da PSV. Por outro lado, apesar da ventilao volumtrica no modo assistido/controlado ser capaz de garantir uma ventilao alveolar mnima e contornar estas deficincias da presso suporte, sua utilizao em indivduos com grandes esforos inspiratrios (hepatopatias, acidose metablica, edema pulmonar, etc.) tambm problemtica. Uma vez que o padro de fluxo inspiratrio imposto neste tipo de ventilao, freqentemente se observa um fluxo inspiratrio aqum da demanda do paciente (resultando num alto e intil gasto de energia por parte da musculatura inspiratria, ou, mais raramente, excedendo a demanda do doente (resultando, desnecessariamente, em altos picos de presso inspiratria). Muitas vezes, estes desbalanos ocorrem dentro de um mesmo ciclo respiratrio, observando-se um fluxo abaixo das necessidades do paciente ao incio da inspirao, porm excedendo-as ao final da inspirao. Em qualquer uma destas situaes, os prejuzos hemodinmicos decorrentes desta assincronia entre paciente e ventilador podem ser marcantes. Numa tentativa de se evitar estas deficincias inerentes a cada um desses modos, recentemente se desenvolveu uma tcnica de ventilao que combina a presso suporte e a ventilao ciclada a volume num mesmo ciclo respiratrio chamada VAPSV (de volume assured pressure support ventilation presente nos ventiladores Inter-7a). Funcionando atravs de um sistema de circuitos paralelos, ao mesmo tempo em que o paciente recebe uma presso suporte com fluxo livre por uma das vias do circuito, oferece-se um fluxo quadrado e fixo (garantindo a insuflao de um volume corrente

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predeterminado) pela outra via. Portanto, ao mesmo tempo em que se diminui a carga sobre os msculos respiratrios oferecendo-se um fluxo inspiratrio que se adequa demanda do paciente a cada instante pode-se estender as vantagens da PS a situaes clnicas instveis onde a ventilao ciclada a volume proporciona a segurana de uma ventilao alveolar mnima. Estudos preliminares em doentes com insuficincia respiratria aguda demonstram que esta forma de ventilao capaz de reduzir significativamente o trabalho respiratrio e o drive neuromuscular, reduzir o PEEP intrnseco (pelo aumento do fluxo inspiratrio e diminuio do tempo inspiratrio), e reduzir o pico de presso traqueal quando comparada ventilao com volume assistido (VVA) convencional. Estes resultados foram mais expressivos justamente naqueles pacientes com maior demanda respiratria e maior desconforto durante a VVA. Alguns ventiladores incorporaram a presso suporte no modo SIMV, numa tentativa de se assegurar uma ventilao alveolar mnima (intercalando ciclos assistido/controlados, com volume corrente predeterminado, entre os ciclos espontneos com presso de suporte). Apesar desta combinao ser til em algumas situaes, a falta de homogeneidade entre os ciclos pode ser responsvel por uma estimulao exagerada do centro respiratrio, com um trabalho respiratrio excessivo (ver tpico sobre trabalho respiratrio). A mesma crtica pode ser feita ao AMV (Bear-5) ou MMV (Drager-Evita), tcnicas que garantem um volume minuto mnimo. Neste sentido, a VAPSV seria uma maneira mais homognea e adequada de garantir a ventilao alveolar, proporcionando um maior repouso muscular. Numa situao intermediria, a VAPSV pode ainda ser intercalada ao SIMV com presso de suporte. Durante os ciclos do aparelho, um ciclo tipo VAPSV ativado, ao passo que durante os ciclos espontneos, apenas a presso-suporte estaria atuante. Esta tcnica garantiria uma homogeneidade maior entre os padres de fluxo inspiratrio, proporcionando uma menor estimulao ventilatria e um maior conforto ao paciente. Nem sempre a utilizao da PS requer uma garantia de volume, principalmente durante o desmame de pacientes estveis. Nestes casos, a garantia de volume proporcionada pela VAPSV poderia submeter estes doentes a presses inspiratrias desnecessrias. Por outro lado, sempre que se optar pela ventilao volumtrica devido s condies instveis do paciente, a VAPSV seria sempre uma opo mais adequada, permitindo um maior conforto ao paciente, alm das vantagens j comentadas aqui. possvel que esta forma de ventilao venha a substituir a ventilao volumtrica em quase todas as suas indicaes. VENTILAO COM ESCAPE DE PRESSO NAS VIAS AREAS: (AIRWAY PRESSURE RELEASE VENTILATION APRV) A ventilao mecnica com presso positiva, mesmo nas suas formas de aplicao mais refinadas, baseia-se na insuflao peridica dos pulmes, com conseqente aumento da presso nas vias areas e da presso intratorcica. Como se discutiu, este aumento intermitente da presso intratorcica pode ser responsvel pela hiperinsuflao de unidades pulmonares mais complacentes, ou com menores constantes de tempo, determinando leses estruturais do parnquima pulmonar. Alm disso, o aumento da presso intratorcica sempre pode ter importantes repercusses sobre o sistema cardiovascular, principalmente naqueles indivduos hipovolmicos. Com o intuito de se minimizar estas conseqncias inerentes ao uso da ventilao com presso positiva, um sistema aparentemente novo de ventilao artificial foi proposto nos ltimos anos: a ventilao com escape de presso (APRV).

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Concebida como uma tcnica a ser utilizada na insuficincia respiratria aguda desde que o paciente ainda consiga manter um bom controle ventilatrio a APRV utiliza um sistema modificado de CPAP, capaz de aumentar significativamente a ventilao alveolar. Ao invs de se adicionar ciclos intermitentes de sobrepresso positiva (acima dos nveis de CPAP, como quase todos os modos ventilatrios), a APRV utiliza perodos curtos e intermitentes de escape de presso nas vias areas do doente, permitindo um esvaziamento pulmonar cclico e passivo, responsvel por uma eliminao satisfatria de boa quantidade de CO. Assim, um nvel adequado de CPAP ajustado de maneira a melhorar as trocas gasosas ou a mecnica pulmonar, intercalando-se ento rpidos perodos de escape de presso ao nvel da presso atmosfrica (ou, simplesmente, ao nvel de um CPAP um pouco abaixo do original da a denominao BIPAP por alguns autores). Quando estes curtos perodos de escape terminam, a presso nas vias areas rapidamente retorna ao nvel original de CPAP, reinsuflando os pulmes com gs renovado. Durante qualquer um destes perodos, o paciente pode respirar espontnea e livremente atravs do circuito do aparelho, que se mantm pressurizado atravs de um sistema de realimentao de gases semelhana de um CPAP simples. Somam-se, assim, duas maneiras de eliminar o CO: uma delas atravs do prprio volume corrente espontneo do paciente, e outra pela eliminao peridica de uma quantidade de gs rica em CO a cada perodo de escape. Obviamente, o grau de assistncia ventilatria, ou, em outras palavras, o volume corrente determinado pela APRV a cada escape pressrico, vai depender da durao, nvel e freqncia do escape de presso; dos nveis de CPAP utilizados; da complacncia do sistema respiratrio; e ainda da resistncia ao fluxo areo do paciente e da vlvula de escape. Como os autores que aqui escrevem gostariam de salientar, esta nova tcnica de ventilao pode tambm ser compreendida como uma aplicao diferente da PC-IRV. A fase inspiratria da PC-IRV seria o nvel mais alto de CPAP original, enquanto a fase expiratria da PC-IRV eqivaleria ao perodo de CPAP mais baixo ou de escape atmosfrico (na PC-IRV tambm possvel se optar pela utilizao de um nvel de CPAP/PEEP externo durante a expirao). Alguns aparelhos que j permitem a utilizao da tcnica da APRV (Drager-Evita, Intermed-Inter-3) utilizam os mesmos princpios para ambas as tcnicas de ventilao. A diferena residiria simplesmente no fato de se permitir ao doente respirar livremente durante ambas as fases do ciclo respiratrio na APRV, o que no costuma ocorrer durante a PC-IRV. Na realidade, o doente no costuma respirar espontaneamente durante a PC-IRV simplesmente porque est sedado, ou porque a assistncia ventilatria proporcionada pelo ventilador capaz de abolir totalmente o estmulo ventilatrio espontneo do paciente. Assim, poderamos dizer, na verdade, que a APRV seria uma aplicao particular da PC-IRV, especificamente utilizada com baixos nveis de presso inspiratria, e aplicada a doentes pouco graves e no sedados. (Deve-se apenas lembrar que o aparelho Siemens 900-C, pioneiro na tcnica da presso controlada, no permite o acoplamento da tcnica da APRV, uma vez que sua fase expiratria no modo PCV no permite ocorrncia de ciclos espontneos.) A aplicao de um nvel de CPAP adequado para otimizao do volume pulmonar e melhoria das trocas gasosas essencial para o bom funcionamento da APRV. A melhora da mecnica pulmonar, propiciada por um nvel de CPAP capaz de melhorar a complacncia pulmonar, pode permitir ao paciente continuar ventilando espontaneamente, com o mnimo de trabalho muscular respiratrio. Por outro lado, o

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tempo do escape de presso tambm deve ser criteriosamente escolhido, uma vez que este tempo tem que ser suficientemente longo para permitir uma ventilao adequada, mas ao mesmo tempo suficientemente curto de tal forma a manter o efeito do CPAP e impedir o colapso alveolar quando este estiver iminente. Um tempo de um segundo e meio vem sendo utilizado com sucesso em alguns trabalhos clnicos, mas possivelmente esta varivel deva ser individualizada para cada paciente. A APRV ainda uma tcnica experimental com investigaes clnicas em andamento. Sua principal vantagem em relao tcnica do volume assistido/controlado seria a possibilidade de utilizao de um menor pico de presso em vias areas ( semelhana da PSV e da PC), mas sobretudo uma menor presso mdia em vias areas consequentemente com menores prejuzos hemodinmicos principalmente naqueles indivduos com insuficincia respiratria leve e capazes de manter alguma ventilao espontnea. Alguns estudos tm demonstrado, entretanto, que para a manuteno de nveis adequados de oxigenao e ventilao nos pulmes portadores de insuficincia respiratria grave, nveis elevados de CPAP e grandes presses intratorcicas tm que ser utilizados durante a APRV, minimizando ou abolindo a principal vantagem deste mtodo que seria justamente a possibilidade de uma menor presso mdia em vias areas, com reduzidos prejuzos hemodinmicos. Na verdade, a APRV estaria funcionando nestes casos muito mais como uma PC-IRV do que como um simples CPAP varivel, ilustrando um princpio fundamental durante a ventilao mecnica: independentemente do modo de ventilao que se utilize, uma presso mnima dentro dos alvolos sempre necessria para se obter a abertura alveolar durante a inspirao, ou pelo menos para se impedir o seu colapso durante a expirao. Um modo de ventilao que no permita se alcanar a presso crtica de abertura, ou pelo menos a manuteno da presso crtica de colabamento alveolar, est muito provavelmente fadado ao insucesso (ver tpico anterior sobre PEEP/CPAP). Resultados preliminares de um estudo multicntrico do uso da APRV (comparativamente ao modo volume assistido/controlado), em pacientes portadores de insuficincia respiratria moderada a grave, mostraram que a APRV capaz de manter a oxigenao e a ventilao alveolar, sem comprometimento hemodinmico, com a utilizao de 50% do pico de presso alcanado no modo volume assistido/controlado. A presso mdia de vias areas foi a mesma em 63% dos pacientes. Nos 37% restantes, a acidemia respiratria no pode ser corrigida com a APRV. Assim, o que se pode concluir at o momento que, semelhana da tcnica da presso controlada e da presso suporte, a principal vantagem deste mtodo seria a diminuio do pico de presso inspiratria. A diminuio da presso mdia de vias areas (e, portanto, o menor prejuzo hemodinmico) s seria possvel em casos leves em que, muito possivelmente, a ventilao convencional faria uso de presses desnecessariamente altas. importante ainda lembrar que o seu uso em pacientes portadores de insuficincia respiratria grave poderia ser muitas vezes contra-indicado por um outro motivo: estes pacientes normalmente necessitam do repouso da musculatura respiratria para diminuir o consumo de oxignio dos msculos respiratrios, poupando a oferta de oxignio para regies mais nobres do organismo. Qualquer modo de ventilao que, como a APRV, faa uso de ciclos espontneos, poderia ser prejudicial nesta situao. O papel da APRV na prtica clnica ainda est em aberto. O seu uso especfico em pacientes portadores de insuficincia respiratria leve com controle ventilatrio mantido, o seu uso no desmame, ou ainda a sua utilizao atravs de mscara de CPAP

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(BIPAP) em pacientes no entubados (por exemplo, DPOC agudizados) so alternativas que parecem muito promissoras. VENTILAO COM PRESSO CONTROLADA E RELAO TEMPO INSPIRATRIO/ TEMPO EXPIRATRIO INVERTIDA (PC-IRV) Com o intuito de se melhorar a oxigenao arterial na insuficincia respiratria refratria s abordagens ventilatrias convencionais, foi introduzido em 1986 o uso clnico da ventilao com presso controlada e relao I/E invertida (PC-IRV). Esta modalidade ventilatria se caracteriza pela manuteno de uma presso constante e predeterminada durante toda a fase inspiratria, a qual, por sua vez, finalizada por um critrio de tempo, independentemente do volume corrente ou fluxo inspiratrio alcanados. Fazendo uso de uma pausa inspiratria dinmica, esta tcnica ventilatria permite a explorao do uso de longos tempos inspiratrios durante a ventilao mecnica (um recurso pouco explorado pelos demais modos ventilatrios em funo dos riscos de hiperinsuflao pulmonar), propiciando assim uma estabilizao e reabertura de unidades alveolares dificilmente recrutveis pelas demais tcnicas ventilatrias. A insuflao pulmonar prolongada proporcionada pela PC-IRV parece ter dois grandes efeitos sobre as trocas gasosas. Em primeiro lugar, o recrutamento e estabilizao de diversas unidades alveolares parece diminuir consideravelmente o shunt pulmonar, permitindo a passagem preferencial do sangue capilar pulmonar por unidades de alta relaoV/Q. Neste sentido, a manuteno de elevados valores de auto-PEEP gerados pela utilizao intencional de um tempo expiratrio reduzido parece ser um requisito essencial desta tcnica, evitando de forma eficiente o colapso alveolar expiratrio (ver tpico anterior sobre auto-PEEP e PEEP/CPAP). Por outro lado, a manuteno de uma presso inspiratria constante durante um longo perodo de tempo parece tambm permitir uma ventilao mais eficiente de unidades alveolares com grandes constantes de tempo, melhorando a ventilao colateral e a troca do CO2 para um mesmo volume corrente. A inverso da relao I/E na presso controlada comumente operada atravs de duas manobras: a) aumento do tempo inspiratrio (aumento da pausa inspiratria dinmica) ou b) aumento da freqncia respiratria. A maioria das sries clnicas at o momento tem utilizado valores da relao I/E entre 2:1 e 4:1, chamando-se a ateno para o fato de que, quanto maior a inverso da relao I/E, teoricamente maior ser a oxigenao arterial (pelo aumento da presso capilar pulmonar), mas tambm maiores sero as chances de barotrauma e de prejuzos hemodinmicos. Como j comentado, a presso controlada faz uso de um fluxo inspiratrio livre, o que significa que ele , na verdade, apenas uma conseqncia do diferencial de presso entre a presso ajustada no ventilador e a presso alveolar. Assim, mesmo na presena de tempos expiratrios curtos e altos valores de auto-PEEP, este modo de ventilao tem se mostrado relativamente seguro, uma vez que h poucos riscos de hiperdistenso pulmonar ou de excessivas presses inspiratrias. Vale a pena lembrar que a utilizao da tcnica de volume controlado nestas mesmas condies poderia ser extremamente danosa, considerando-se que a insuflao forada de um VT prefixado sobre um pulmo j com elevados valores de PEEP intrnseco poderia causar uma perigosa hiperdistenso alveolar. Habitualmente, o padro de fluxo inspiratrio na presso controlada uma funo com decaimento exponencial. Assim, de acordo com o que se discutiu anteriormente (tpico sobre ciclo respiratrio e fase inspiratria), esta caracterstica costuma propiciar menores picos de presso inspiratria quando comparada ao padro

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de fluxo quadrado no volume controlado (desde que se utilize valores comparveis de VT). Apesar de ainda no se ter bem claro o significado real desta diminuio do pico de presso inspiratria na prtica clnica, podemos antever algumas vantagens tericas (ver a seguir). Duas sries clnicas utilizando ventilao com PC-IRV em pacientes com insuficincia respiratria grave foram publicadas recentemente. Estes pacientes apresentavam dificuldades ventilatrias importantes no modo volume controlado, sendo que a PC-IRV possibilitou uma reduo significativa do pico de presso inspiratria, do PEEP e do volume minuto, com manuteno de uma mesma ventilao alveolar. Ocorreu tambm um aumento da presso mdia das vias areas, com conseqente melhora da oxigenao arterial, possibilitando a reduo da FIO em muitos doentes. No houveram alteraes hemodinmicas considerveis. Os riscos de barotrauma no foram minimizados, mas, na opinio dos autores que aqui escrevem, estes trabalhos no fizeram um uso pleno das potencialidades desta tcnica. Em muitos casos, apesar da queda da PaCO, no houve nenhuma tentativa de se diminuir a presso inspiratria e, portanto, o volume corrente, uma manobra que poderia ter diminudo as chances de barotrauma em muitos casos. Efeitos precoces e tardios (duas, 12 e 48 horas) da PC-IRV (com relao I/E = 2:1) sobre a mecnica respiratria e sobre a hemodinmica de seis pacientes portadores de SARA graves foram avaliados em nosso servio e comparados aos dados obtidos na ventilao mecnica convencional. Verificou-se uma diminuio significativa do pico de presso das vias areas e uma melhora da oxigenao arterial. Houve manuteno da ventilao alveolar e no houve alteraes hemodinmicas considerveis no decorrer das 48 horas de uso da PC-IRV, apesar dos grandes aumentos da presso capilar pulmonar. Resumindo-se todas as evidncias coletadas at o momento, poderamos concluir que a PC-IRV apresenta pelo menos trs principais vantagens sobre a ventilao com volume controlado: menor pico de presso inspiratria para um mesmo volume corrente (devido ao padro de fluxo inspiratrio decrescente); menor volume corrente para uma mesma PCO (devido melhor ventilao de unidades com altas constantes de tempo; e melhora dos nveis de oxigenao arterial em algumas situaes clnicas, permitindo a reduo da FIO utilizada. Considerando-se os mecanismos de leso pulmonar propostos e discutidos aqui (ver tpico sobre uma abordagem mais atual da ventilao mecnica), estas trs vantagens parecem se adequar muito bem aos requisitos de uma ventilao mecnica pouco lesiva ao parnquima pulmonar. Possibilitando menores valores de VT e de pico de presso inspiratria para uma mesma ventilao alveolar (e para uma igual ou melhor oxigenao arterial), este mtodo de ventilao seguramente apresenta importantes vantagens tericas sobre a ventilao no modo volume controlado. No momento, estudos controlados e prospectivos esto sendo realizados para a avaliao do real impacto deste tipo de ventilao sobre o prognstico dos pacientes com SARA. Ao que tudo indica, a PC-IRV dever ser o modo ventilatrio de escolha nos pacientes portadores de SARA num futuro prximo. Vale a pena ainda observar que a presso controlada pode ser utilizada como um mtodo ventilatrio prprio, sem necessariamente estar associada inverso da relao

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I/E. Temos observado que a utilizao de presso controlada com relao I/E = 1:1, ou menos (1:1,5), pode j trazer algumas vantagens considerveis em relao tcnica do volume controlado, em diversas patologias pulmonares. Curva Presso - Volume As alas de presso-volume (P-V) sempre foram muito estudadas no campo da fisiologia pulmonar. At a pouco tempo atrs, sua importncia restringia-se ao estudo das propriedades mecnicas do sistema respiratrio: a representao grfica das relaes entre volume e presso era utilizada como espelho das caractersticas fsicas do tecido pulmonar. Elastncia, resistncia, viscosidade, limites elsticos, histerese, foras de recolhimento causadas por tenso superficial, e propriedades dos surfactantes naturais e artificiais foram fenmenos estudados a partir das alas P-V. Mas este interesse fisiolgico primordial foi expandido. Alm de sua aplicao em estudos clnicos de funo pulmonar, a obteno da curva P-V passou a ser de interesse dirio para o intensivista. Esta mudana de perspectiva, ocorrida nos ltimos 5 anos, deveu-se aos recentes conhecimentos adquiridos na rea da micro-mecnica pulmonar e ao estudo das leses induzidas pela ventilao artificial. Algumas poucas descobertas foram suficientes para a mudana de paradigma. A demonstrao de enormes presses negativas no interstcio pulmonar com seus mecanismos de amplificao foi uma delas. Estas presses negativas - criadas e amplificadas durante a distenso do parnquima pulmonar - seriam responsveis por grandes presses transmurais nos capilares pulmonares (correspondendo diferena entre a presso capilar pulmonar e a presso do interstcio ao redor deste vaso), justificando vrios efeitos deletrios associados ventilao mecnica. West e colaboradores, por exemplo, demonstraram que a membrana basal e o endotlio dos capilares pulmonares podem sofrer enormes tenses radiais e ruturas quando o pulmo submetido a grandes variaes volumtricas, especialmente na presena de elevadas tenses superficiais (deficincia de surfactante) . Presses inspiratrias acima de 30 cmH2O ao nvel das vias areas, apesar de freqentes na prtica clnica, seriam mais do que suficientes para desencadear tais eventos. Num desenvolvimento paralelo, demonstrou-se que uma importante disfuno do sistema surfactante pode ser desencadeada por hiperventilao e hiperdistenso pulmonar mantidas durante alguns minutos. O decorrente aumento das tenses superficiais potencializaria a criao de presses negativas no interstcio pulmonar, gerando um verdadeiro crculo vicioso: aumento da tenso superficial maior trao radial sobre os capilares pulmonares aumento da presso transmural extravasamento de plasma para o interstcio e alvolo maior inativao do surfactante por protenas plasmticas novo aumento da tenso superficial.Numa avalanche de estudos experimentais nos anos seguintes, ficou claro que a ventilao mecnica nos modos tradicionais deveria ser reanalizada. Presses inspiratrias comumente empregadas na prtica clnica pareciam produzir efeitos nefastos em ratos, coelhos, ces, porcos e ovelhas, com evidente leso e desorganizao do interstcio pulmonar. Quadros indistinguveis de uma SDRA (sndrome do desconforto respiratrio agudo) podiam ser recriados aps apenas 20 minutos de ventilao mecnica sob condies adversas. Nossa crena no suporte oferecido pela ventilao mecnica passou a sofrer um forte abalo: a garantia de um volume corrente a qualquer custo, assegurada pelos modernos ventiladores, passou a dar lugar a uma preocupao crescente com a hiperdisteno do parnquima pulmonar.

Numa reao esperada, tentativas de se monitorizar a hiperdisteno pulmonar atravs do estudo da mecnica respiratria beira do leito passaram a receber crescente ateno.

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Por outro lado, uma srie de experimentos passou a demonstrar que as preocupaes no deveriam se concentrar apenas nos efeitos da hiperdistenso pulmonar. A presena de colapso alveolar, quer seja cclico (apenas ao final de expirao) quer seja durante todo o ciclo respiratrio, progressivamente passou a ser encarada como um potencializador de leses durante a ventilao mecnica. Mead e colaboradores, por exemplo, demonstraram que a interface entre zonas atelectticas e aeradas poderia sofrer grandes riscos de stress e fratura capilar durante tentativas de expanso do parnquima, devido a razes puramente geomtricas. Durante uma insuflao usual com 30 cmH2O, os septos pulmonares nesta zona de interface poderiam ser submetidos a presses equivalentes a uma insuflao plena com 140 cmH2O! Mais ainda, estudos na rea peditrica e com modelos de deficincia de surfactante demonstraram que colapsos cclicos, mesmo que restritos s zonas dos bronquolos terminais, poderiam tambm gerar grandes desarranjos. De acordo com recentes evidncias, quando paredes opostas de um bronquolo terminal se aproximam e colam sob efeito da alta tenso superficial do lquido em seu interior, sua reabertura torna-se sempre traumtica. Altas presses em vias areas sero necessrias para vencer e deslocar novamente a interface ar/lquido em direo s entradas dos alvolos. Assim, ao incio de qualquer inspirao com presso positiva, uma onda de presso em vias areas dever se deslocar ao longo das vias areas e ser sbita e integralmente absorvida pelo bronquolo terminal, logo acima do menisco ar/lquido Em condies normais, este bronquolo seria apenas um conduto de ar, permitindo a livre passagem da onda de presso a ser absorvida pelos alvolos. Mas na presena de colapso, como esta regio do bronquolo terminal no costuma ter cartilagem de suporte, sua parede freqentemente sofre alguma dilatao, causando tenso entre as diversas camadas que compem sua parede. Quanto maior a tenso superficial na interface ar/lquido, maior a presso necessria para deslocar o menisco, e maior o stress sofrido pelo bronquolo logo acima. Diferentes elasticidades das diversas camadas da parede bronquiolar produziriam expanses desiguais e foras de cisalhamento entre as diferentes estruturas. Finalmente, a membrana basal do epitlio bronquiolar poderia se destacar do tecido conjuntivo subjacente, com exposio da matriz extracelular e transudao do lquido extracelular para a luz brnquica. Formaes de membrana hialina poderiam se seguir, causando maior inativao do surfactante e maior tenso superficial no lquido presente. Tudo indica que a reiterao deste processo durante horas ou dias poderia levar formao de proeminentes tecidos de granulao dentro da luz brnquica com air-trapping, dilataes csticas dos bronquolos terminais, e um progressivo processo de simplificao alveolar (formao de grandes espaos e formaes csticas que perdem a capacidade de realizar trocas gasosas). Num desenvolvimento paralelo e consistente, estudos concomitantes demonstraram que a preveno do colapso alveolar e bronquiolar - prevenindo a criao das perigosas interfaces entre regies aeradas/atelectsicas, evitando o colabamento das paredes bronquilares - poderia atenuar o desenvolvimento de todos estes processos em modelos experimentais e mesmo em estudos clnicos . Tornava-se claro que a ventilao mecnica doravante deveria respeitar um importante compromisso: presses no muito altas durante a inspirao (evitando hiperdistenso) e presses no muito baixas durante a expirao (evitando o colapso). Mais uma vez, o estudo da mecnica pulmonar parecia fornecer alguns elementos para otimizar este compromisso. A exploso de interesse pelas curvas P-V aconteceu assim que se percebeu a possibilidade de se estabelecer alguma correlao entre as variveis extradas de seu traado grfico com os riscos de injria pulmonar.

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Mais especificamente, a partir de uma anlise matemtica da curva P-V, parecia ser possvel se identificar as mnimas presses expiratrias necessrias para se prevenir o colapso alveolar, assim como a mximas presses a serem alcanadas ao final da inspirao, sem incorrer em grandes riscos de hiperdistenso pulmonar. De certa forma, a curva P-V identificaria uma janela de presses, uma margem de manobra a ser utilizada durante a ventilao mecnica, procurando-se manter as presses alveolares dentro destes limites durante todo o ciclo respiratrio.

TEORIA DA CURVA P-V:Em termos gerais, a curva P-V sempre construda atravs da insuflao pulmonar com um volume de ar predeterminado, medindo-se logo aps a presso gerada no sistema - que ser uma funo da complacncia do sistema respiratrio. Em algumas tcnicas variantes, administra-se uma presso constante em vias areas, e mede-se o volume absorvido pelo sistema. Uma medida de presso com seu volume correspondente representa um ponto singular no grfico P-V. Este ponto permite o clculo da complacncia do sistema respiratrio para o volume em), mas no fornece uma idia completa da curva. Vrias medidas tomadas a diferentes presses e volumes criam um trajeto no grfico, constituindo a curva propriamente dita. Por exemplo, ao utilizar um ventilador no modo volume controlado, poderia administrar, em respiraes sucessivas, volumes correntes ao redor de 200, 400, 600 e 800 mL. A cada passo, poderia fazer uma pausa inspiratria, segurando o volume administrado por 1-2 segundos, e medindo a presso de plat a cada passo, assim como o volume efetivamente insuflado (descontando-se o volume compressvel do circuito). Quatro pontos poderiam ser plotados no grfico, onde o eixo X indicaria as presses de plat medidas a cada passo, e o eixo Y indicando o volume insuflado. Ligando-se estes quatro pontos no grfico, uma rude curva P-V poderia ser obtida. As medidas de presso so sempre tomadas ao nvel de vias areas, representando uma mdia do comportamento dos 300 milhes de unidades alveolares em paralelo, em conjunto com o comportamento da caixa torcica. Em algumas situaes, pode-se separar o comportamento mdio alveolar (a retrao elstica pura do parnquima) do comportamento mdio da caixa torcica (dependente da rigidez da caixa torcica e abdmen) atravs das medidas de presso pleural ou seu equivalente - a presso esofgica. Presumidamente, a presso esofgica deveria representar uma mdia das presses pleurais por sobre toda a superfcie pulmonar. Na prtica, porm vrias condies atrapalham esta perfeita correspondncia: o colapso alveolar em zonas preferencias prximas ao esfago, a paralisia artificialmente induzida com relaxamento total do diafragma e compresso do parnquima basal sob o peso das vsceras, e ainda a prpria posio supina favorecendo um certo descano do corao, apoiando seu peso sobre as estruturas mediastinais e esfago. Apesar destas limitaes, continua-se utilizando as presses esofgicas como uma estimativa razovel da presso pleural. Em pacientes obesos, ou pacientes politraumatizados com distenso abdominal, a separao dos componentes torcico/pulmonar pode ser de vital importncia para uma adequada interpretao da curva P-V. Por exemplo, uma caixa torcica mais rgida pode fazer com que o segundo ponto de inflexo da curva P-V (correspondendo a uma estimativa rude do incio da

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hiperdistenso pulmonar - ver abaixo) se desloque para presses muito altas, presses muitas vezes no exploradas durante a construo da curva P-V. H muito tempo se sabe que as curvas P-V inspiratrias so diferentes das expiratrias. Isto se deve a um propriedade fundamental do tecido pulmonar chamada histerese. Uma grande confuso cerca este assunto, sendo necessrio compreender a diferena precisa entre os ramos inspiratrio e expiratrio.

SIGNIFICADO DAS DIFERENTES FASES DA CURVA P-VA)

RAMO INSPIRATRIO:

De acordo com nosso ponto de vista, 4 fases poderiam ser visualizadas em um ramo P-V inspiratrio, dependendo das circunstncias. Estas 4 fases representariam fenmenos e conceitos tericos muito distintos. Comeando a partir da origem, os primeiros pontos obtidos em uma curva P-V costumam desenhar uma linha de tangente muito pequena, representando uma situao de baixa complacncia no sistema. Relativamente, altas presses so necessrias para se deslocar um pequeno volume em direo aos alvolos. Ao que tudo indica, esta baixa complacncia do sistema o espelho de uma situao onde uma pequena porcentagem dos alvolos e vias areas est patente, compondo o que se chamaria de baby-lung. Muitas unidades estariam colapsadas, condensadas ou cheias de lquido, desviando todo o volume insuflado em direo a uma minoria de unidades previamente abertas, provavelmente localizadas nos planos mais superiores do tecido pulmonar. Na presena de abundante edema em vias areas, esta complacncia inicial (a tangente da curva) pode ser praticamente zero, uma vez que o baby-lung se resume ao volume compressvel nas vias areas. Uma transio abrupta marca a passagem para a segunda fase da curva, onde sua tangente aumenta subitamente. Este ponto ou zona de transio marca o momento em que um grande nmero de unidades so recrutadas, passando a participar da distribuio do ar inspirado. A primeira mudana de inclinao corresponderia presso crtica de abertura de vias areas, provavelmente localizadas em zonas no dependentes. Quanto maior a quantidade de unidades recrutadas simultaneamente, maior a mudana de inclinao da curva. Como representado na figura 10, a forma desta zona de transio depender da distribuio das presses crticas de abertura. Leses homogneas do parnquima pulmonar (por exemplo, modelos de lavagem pulmonar com salina, afogamentos e sndrome da membrana hialina em sua fase precoce) costumam apresentar uma distribuio muito estreita de presses de abertura, produzindo uma zona de transio bem definida. Por outro lado, leses heterogneas do parnquima pulmonar costumam produzir uma zona de transio muito suave, quase irreconhecvel. Esta zona de transio tem sido cunhada de ponto de inflexo ( PFLEX ) inferior da curva inspiratria. Uma certa confuso foi criada com a escolha deste termo, uma vez que, do ponto de vista matemtico, esta zona de transio corresponde ao ponto de mxima curvatura ou mxima concavidade. - e no ao ponto de inflexo definido matematicamente (que corresponderia ao ponto onde a concavidade da curva muda, passando de uma concavidade em relao ao eixo Y para uma convexidade, ou tambm o ponto onde a segunda derivada da presso contra o volume tem valor zero ). Em trabalhos mais antigos, a definio matemtica ainda pode ser encontrada, possuindo significado distinto.

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Aps esta transio ou PFLEX, uma fase de mxima inclinao pode ser observada na curva, compondo um segmento relativamente linear. Apesar desta aparncia linear, esta regio usualmente corresponde a uma avalanche de recrutamentos de diferentes unidades, representando, na verdade, infinitsimos pulos em direo a volumes maiores, cada vez que uma nova unidade recrutada. Num exemplo extremo, se todas as unidades fossem recrutadas mesma presso, a tangente deste seguimento seria infinita (uma reta perpendicular ao eixo X). Desta forma, a linearidade deste segmento pode ser enganosa, sugerindo uma falsa homogeneidade. Ela representa, na verdade, uma composio de expanso elstica das unidades j recrutadas, juntamente com a sbita e progressiva incluso de novas unidades alveolares com diferentes presses crticas de abertura, cada uma acrescentando capacitncia ao sistema. Provavelmente, as ltimas unidades a serem recrutadas sero aquelas correspondentes s regies de planos mais inferiores do parnquima, compondo o traado final deste segmento. Uma terceira fase passaria ento a ser visualizada, compondo uma zona de presses onde todas as unidades recrutveis estariam j alinhadas e patentes, acomodando o volume insuflado. A tangente da curva neste momento passaria a representar a pura expanso elstica de todas as unidades alveolares em paralelo, espelhando a complacncia propriamente dita do sistema. A tangente da curva neste momento maior que no segmento I (porque agora a complacncia do sistema maior, devido ao maior nmero de unidades elsticas em paralelo), mas menor que no segmento II. Deve-se lembrar que a grande inclinao do segmento II enganosa e se deve, na verdade, ao macio recrutamento de novas unidades, com pequenos saltos em direo a volumes maiores para uma mesma presso. Finalmente, uma quarta fase se segue, onde a tangente da curva volta a diminuir, representando os limites elsticos do tecido pulmonar. A partir deste momento, as fibras formando o esqueleto colgeno no tecido pulmonar passam a sofrer estiramento substancial, causando uma maior rigidez no sistema. Provavelmente, os riscos de rupturas estruturais aumentam significativamente a partir deste ponto. Alguns autores chamam esta transio da fase III para a fase IV de ponto de deflexo ou ponto de inflexo superior da curva P-V inspiratria. Como no caso de PFLEX, sua definio no precisa do ponto de vista matemtico. Em alguns estudos, os autores parecem ter utilizado o ponto de mxima convexidade em relao ao eixo Y como sua definio grfica. As vezes todas as quatro fases podem ser visualizadas em um paciente com SDRA. Isto porque as presses crticas de abertura possuam uma distribuio bastante homognea ou estreita (paciente era vtima de afogamento em gua doce). Na maioria dos casos, porm, apenas 2 ou 3 fases costumam ser identificadas beira do leito, uma vez que h uma verdadeira superposio de etapas. Esta superposio basicamente decorre de uma distribuio muito heterognea (ou alargada) das presses crticas de abertura, produzindo diferentes tipos de curvas. Em alguns casos, o recrutamento de novas unidades acontece de forma macia at presses muito altas, superpondo as fases II, III e IV. Nesta condio, a hiperdistenso de algumas unidades ocorrer simultaneamente ao recrutamento de novas unidades, e o momento de incio da fase IV poder ser atenuado ou apagado. Uma falsa impresso de que este pulmo no rompe seus limites elsticos - gerando uma perigosa segurana no manejo das presses inspiratrias - poderia ocorrer. Em outras situaes, a zona de PFLEX pode ser de tal forma suavizada por uma mistura de fases I, II e III, que seu reconhecimento se torna bastante problemtico.

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B) RAMO EXPIRATRIO:Quatro segmentos poderiam tambm ser teoricamente visualizados neste ramo, dependendo das circunstncias. Partindo das presses mximas alcanadas no ramo inspiratrio, um primeiro segmento de tangente pequena pode ser identificado, correspondendo ao alvio da hiperdistenso a que os elementos estruturais estavam submetidos. As presses caem vertiginosamente para pequenas alquotas de volume expirado. Prosseguindo na deflao pulmonar, uma retrao elstica de vrias unidades alveolares patentes e alinhadas em paralelo ocorre (em contrapartida ao segmento 3 do ramo inspiratrio), produzindo um segmento relativamente linear na curva. O final desta fase marcado por uma sbita inflexo da curva, com uma acentuada concavidade em direo ao eixo X, representando o incio do desabamento de algumas unidades mais instveis. A sbita perda de volume de algumas unidades, para pequenas variaes pressricas, ocorre assim que as presses em vias areas caem a nveis abaixo da presso crtica de fechamento de vrias unidades. Finalmente, um quarto segmento pode ser identificado, marcado por uma nova inflexo para esquerda, agora com concavidade voltada ao eixo Y. Esta nova inflexo marca o colapso macio de vias areas que - em contrapartida ao colapso alveolar - tende a preservar o volume pulmonar mesmo que presses negativas sejam produzidas em vias areas. Esta fase IV expiratria caracteriza a ocorrncia de um verdadeiro air-trapping1. Como no ramo inspiratrio, apenas 2 ou 3 fases distintas podem ser reconhecidas na maioria dos pacientes em terapia intensiva, sendo muito difcil a identificao das inflexes ou transies. Chamamos a ateno para o fato de alguns autores utilizarem a transio entre os segmentos III e IV do ramo expiratrio como um indicativo das presses crticas de fechamento das diversas unidades alveolares. Segundo nosso ponto de vista, esta conceitualizao errnea, uma vez que esta transio marcaria o colapso de vias areas, ocorrendo muito depois (ou seja, a presses menores) do incio do colapso das unidades alveolares mais instveis (o incio do colapso alveolar marcaria a transio entre as fases II e III - ocorrendo mais acima no trajeto expiratrio).

UTILIZANDO AS INFORMAES EXTRADAS DA CURVA PVComo se comentou acima, nosso objetivo ltimo ao construir uma curva P-V em terapia intensiva a identificao de uma janela segura de presses a serem utilizadas durante a ventilao mecnica. Em poucas palavras, queremos indentificar nveis mnimos de PEEP - suficientes para prevenir o colapso de unidades instveis durante a expirao - e nveis mximos de plat de presso inspiratria - necessrios para se evitar excessivo estiramento dos septos pulmonares.

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Como demonstrado em vrios estudos, esta fase usualmente corresponde fase IV da prova de lavagem (washout) de nitrognio em respirao nica. A transio entre as fases III e IV corresponderia ao volume de fechamento.

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Aqui entra um conceito inovador que gostaramos de transmitir. Como a PEEP mnima deve definir uma presso mnima necessria para se manter um recrutamento alveolar previamente obtido, sua determinao deveria se basear no ramo expiratrio da curva P-V, quando algum recrutamento j foi obtido. Por que ento comumente utilizamos a curva inspiratria para se determinar a PEEP ideal? A explicao simples mas no bvia: porque a localizao de PFLEX empiricamente corresponde transio entre as fases II e III do ramo expiratrio. Em outras palavras, as presses crticas de abertura das primeiras unidades alveolares a serem recrutadas (as mais estveis) grosseiramente correspondem s presses crticas de colabamento das unidades mais instveis (as primeiras a se fecharem na deflao pulmonar). O ramo inspiratrio da curva P-V possui tambm um grande vantagem em relao ao ramo expiratrio: seu traado muito menos sujeito a mudanas da histria pulmonar prvia, sendo de mais fcil reproduo. Alm disto, para se determinar precisamente a transio entre as fases II e III (do ramo expiratrio), seria necessrio a obteno do envelope mximo da curva, o que nem sempre vivel beira do leito. Desta forma, a determinao de PFLEX deve ser utilizada como uma estimativa das presses crticas de colabamento das unidades mais instveis. Portanto, os nveis de PEEP deveriam ser ajustados com base neste valor. Em alguns modelos experimentais com lavagem pulmonar (depleo de surfactante) esta estimativa pode estar claramente hiperestimada, resultando em nveis de PEEP acima do necessrio. Todavia, temos observado que na maioria dos pacientes com SDRA, a correspondncia bem razovel, resultando numa boa aproximao do PEEP ideal a ser utilizado para cada paciente em questo. Garantindo uma boa manuteno do recrutamento alveolar previamente obtido, a determinao da PEEP pelo PFLEX costuma resultar nos mnimos valores possveis de espao morto fisiolgico e valores de shunt pulmonar comumente abaixo de 20%. Muitas vezes, pode ser necessrio se aguardar 6 a 12 horas para se observar seus efeitos sobre a oxigenao arterial, uma vez que o recrutamento de algumas novas unidades pode requerer horas para se efetivar - e dependendo das presses inspiratrias utilizadas. A funo da PEEP neste caso seria apenas a de manter o recrutamento obtido durante a inspirao e, portanto, ela no poderia garantir uma boa oxigenao arterial de imediato. importante frisar que, apesar de comumente resultar numa tima troca gasosa, o ajuste da PEEP pelo PFLEX no tem por fim este objetivo. Sua funo primordial seria a proteo e manuteno da integridade do tecido pulmonar. Muitos autores tem utilizado a curva P-V para se estabelecer um limite seguro de presses inspiratrias (presses de plat), localizando-se, para tanto, a transio entre as fases III e IV do ramo inspiratrio. Em nosso modo de entender, esta tentativa seria vlida do ponto de vista terico mas esbarra em dificuldades prticas intransponveis. Como se viu acima, a disperso das presses crticas de abertura pode obscurecer este ponto de inflexo superior, produzindo resultados enganosos e uma superestimao de seu valor. Por outro lado, o fim de um recrutamento alveolar macio e obtido a presses crticas muito prximas umas das outras poderia produzir um ponto de inflexo superior subestimado. Nossa sugesto a este respeito, at novas informaes surgirem na literatura, a utilizao de uma regra prtica muito simples. Como norma geral, um limite seguro de presses de plat inspiratrio ficaria ao redor de 40 cmH2O. Pacientes jovens e magros deveriam ter este limite rebaixado para 35 cmH2O. Por outro lado, pacientes obesos, ou com disteno abdominal, ou ainda com presena de derrame pleural ou ascite importante deveriam ter este limite ampliado para 45 cmH2O. A lgica desta regra a

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considerao de que a presso transpulmonar a varivel mais importante na determinao dos riscos de ruptura dos septos pulmonares.

QUAL MTODO SEVE SER EMPREGADO BEIRA DO LEITO?Basicamente, 4 mtodos tem sido utilizados na realizao de curvas P-V beira do leito: a) volumes aleatrios; b) super-seringa; c) fluxo contnuo e d) PEEPs progressivos. Cada um destes mtodos tem suas vantagens e desvantagens, devendo-se escolher o mtodo mais apropriado para cada UTI. Deve-se lembrar que todos eles teriam o mesmo objetivo: estimar as presses mnimas suficientes para prevenir o colapso expiratrio de unidades instveis. Os 3 primeiros mtodos reconstroem diretamente o ramo inspiratrio da curva P-V. Portanto, assume-se que PFLEX - obtido no ramo inspiratrio - guarda uma boa correspondncia com a transio entre as fases II e III do ramo expiratrio. O quarto mtodo baseia-se numa diferente observao, tambm de carter puramente emprico: desde que se use valores apropriados de volume corrente (4 - 5 mL/kg), a PEEP que resulta na melhor complacncia situa-se prxima zona de PFLEX. Deve-se notar que o mtodo do fluxo contnuo no uma tcnica propriamente esttica nem semi-esttica, um vez que as presses no sistema so medidas em condies de fluxo no-zero. Todavia, ao se utilizar um fluxo to baixo quanto 1 L/min as presses resistivas se tornam desprezveis, podendo-se assumir que representam medidas semi-estticas. Porque a preferncia por tcnicas semi-estticas? A razo pode ser buscada na dependncia temporal do recrutamento pulmonar. Como a abertura de novas unidades no um processo instantneo, sendo necessrio o movimento de um menisco de lquido em direo ao alvolo, a sua progresso pode estar lentificada em condies de grande viscosidade das secrees. Inspiraes muito rpidas poderiam vencer o limiar de presso crtica de abertura de algumas unidades, mas no disporiam do tempo necessrio para efetivar o recrutamento. Assim, o recrutamento de novas unidades tende a ser menos intenso nas curvas dinmicas, obscurecendo a transio entre as fases I e II (inspiratrias) descritas acima. A identificao de PFLEX torna-se prejudicada. Sempre que possvel, portanto, a realizao de tcnicas semi-estticas deve ser prefervel.

CONSIDERAES PRTICAS: Teoricamente, todas as curvas devem ser precedidas por uma homogeneizao da histria pulmonar. Por exemplo, um CPAP de 35-40 cmH2O aplicado durante 10-15 segundos, seguido de uma longa expirao durando pelo menos 6-10 segundos. O no respeito a esta norma pode fazer com que se inicia a insuflao pulmonar partindo de volumes absolutos muito diferentes. Por exemplo, uma expirao mais curta aps o recrutamento poderia fazer com que a CRF inicial estivesse aumentada, alcanando-se a fase IV (hiperdistenso) mais precocemente, ou seja, com menores volumes inspiratrios. Tanto a manobra de recrutamento empregada quanto o tempo de apnia ps-recrutamento so muito importantes. Perodos excessivamente longos, ou recrutamentos excessivamente curtos podem resultar numa condio inicial de

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colapso alveolar excessivo (em oposio ao colapso exclusivo de vias areas, que normalmente requer uma menor presso crtica de abertura), levando a uma hiperestimao dos valores de PFLEX O doente deve estar sedado e curarizado, com volemia e presso arterial estabilizadas As conexes devem ser testadas contra vazamentos e o balo do tubo orotraqueal provisoriamente reinsuflado para evitar qualquer vazamento A hipercapnia transitria durante qualquer uma das manobras muito freqente. De preferncia, o doente no deve ter qualquer contra-indicao hipercapnia (por exemplo, insuficincia coronria desestabilizada). Se este for o caso, pode-se ainda realizar uma das duas tcnicas rpidas (super-seringa ou fluxo contnuo), precedidas de um breve perodo de hiperventilao.

A)

VOLUMES ALEATRIOS PRODUZIDOS PELO VENTILADOR:

Utilizar sempre FIO2 = 100 %; ZEEP; e freqncia respiratria 10 ciclos/min.

Escolher uma seqncia de volumes-teste com volumes altos alternando com volumes baixos, compondo aproximadamente 20 pontos. Como sugesto inicial, adotamos freqentemente a seqncia (em mL): 50, 1000, 100, 900, 80, 850, 120, 700, 180, 600, 250, 550, 300, 500, 750, 150, 450, 200, 800, 350. Aps a manobra de homogeneizao da histria pulmonar, proceder a 5 a 10 respiraes com volume corrente de 12 mL/kg (com pausa inspiratria 0.5 seg.) antes da primeira respirao-teste. Aps a primeira respirao teste, intercalar outras 5 a 10 respiraes de mesmo padro (V T = 12 mL/kg; pausa inspiratria 0.5 seg.) antes da nova respirao-teste2, e assim sucessivamente. Aplicar apenas um ciclo com o volume-teste, adotando uma pausa de pelo menos 1 segundo neste ciclo em particular. Anotar as presses de plat a cada volume-teste, com o seu correspondente volume medido no ventilador ou, de preferncia, num ventilmetro conectado vlvula exalatria.

B) SUPER SERINGA: Utilizar uma seringa de um litro ou uma seringa de 50-60 mL acoplada a uma torneira de 3 vias. Providenciar conexes apropriadas da seringa com a entrada do tubo orotraqueal.2

A funo destas respiraes intercaladas seria uma nova homogenizao da histria pulmonar, uma vez

que, por exemplo, o ciclo que se segue a uma respirao com 50 mL poderia estar em desvantagem, iniciando-se na vigncia de uma grande populao alveolar colapsada. Pelo contrrio, os ciclos seguintes s respiraes com 1000 mL contariam com uma grande patncia alveolar incial. Idealmente, toda a manobra de homogenizao da histria pulmonar descrita nas pginas anteriores deveria ser feita entre cada respirao-teste. Obviamente, este procedimento tornaria todo o processo muito demorado e perigoso. Esta intercalao com volumes de 12 mL/kg uma soluo aproximada e prtica para este problema.

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Providenciar para que o contedo da seringa seja sempre preenchido com oxignio puro. Conectar um manmetro de presso digital ou analgico (com preciso de pelo menos 0,5 cmH2O) a uma entrada em T com a seringa ou com o tubo orotraqueal. Proceder homogeneizao da histria pulmonar, desconectar o paciente do ventilador e iniciar a insuflao pulmonar. Insuflar o pulmo com alquotas progressivas de 50 mL, no permitindo a expirao pulmonar entre elas (a torneira de 3 vias serve a este propsito). Anotar o volume infundido e as presses de equilbrio (medidas no manmetro) a cada passo. Considerar que a somatria dos volumes medidos na seringa a sucessivos passos real, desde que a manobra de inflao pulmonar no se prolongue por mais de 1 minuto

C)

FLUXO CONTNUO:

Obter um fluxmetro de parede, conectado a uma fonte de presso de pelo menos 4 atmosferas (de preferncia 6-7 atmosferas). A necessidade de uma fonte de alta presso a garantia de um fluxo constante mesmo ao final da inspirao, quando as elevadas presses em vias areas tendem a diminuir o fluxo inspiratrio. Utilizar um fluxo contnuo de 0,8 a 1,5 L/min. Checar o seu valor num espirmetro de campnula tipo Vitatrace. Obter um traado grfico da presso em vias areas em funo do tempo, capaz de registrar um intervalo longo de 60-90 segundos. Proceder homogeneizao da histria pulmonar, desconectar o paciente do ventilador e iniciar a insuflao pulmonar com este fluxo baixp e contnuo. Aps obter um registro grfico das presses em funo do tempo, inverter os eixos do grfico, considerando que o tempo pode ser transformado em volume uma vez que o fluxo contnuo e sua magnitude foi previamente determinada. Por exemplo, se sua magnitude medida foi de 1 L/min, 60 segundos sero transformados em 1 L, 30 segundos em 500 mL, e assim sucessivamente. Considerar que o registro de presses em vias areas representa as presses semiestticas do sistema, uma vez que o componente de presses resistivas desprezvel. Considerar que o volume calculado a partir do tempo decorrido real, desde que a manobra de inflao pulmonar no se prolongue por mais de 1 minuto. Para tempos maiores do que 1 minuto, este volume estar superestimado devido ao consumo de oxignio pelos alvolos.

D)

PEEPS PROGRESSIVOS:

Utilizar ventilao controlada volumtrica, com VT = 4 -5 mL/kg; Utilizar pausa inspiratria de 1,0 a 1,5 segundos; e freqncia 12 ciclos/min FIO2 = 100 %, fluxo inspiratrio de 30 L/min Proceder manobra de homogeneizao da histria pulmonar e, logo a seguir, iniciar a ventilao nos moldes acima com PEEP = 0 cmH2O. Aumentar progressivamente os nveis de PEEP, em pequenos passos de 2 cmH2O, aguardando 1 minuto em cada novo nvel de PEEP.

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Medir a complacncia no ltimo ciclo de cada patamar. Interromper o processo quando os valores de complacncia comearem a despencar vertiginosamente a cada novo incremento de PEEP, ou quando as presses de plat excederem 45 cmH2O. O PEEP correspondente melhor complacncia deve ser considerado como uma razovel estimativa de PFLEX. Quando valores muito prximos de complacncia se repetirem em nveis sucessivos de PEEP, o maior valor antes da complacncia claramente despencar deve ser escolhido. Observao: A utilizao de volumes correntes maiores que 5 mL/kg sempre resulta numa subestimao de PFLEX. O volume a ser empregado e sugerido acima deve ser rigorosamente respeitado, apesar de freqentemente resultar em considervel hipercapnia durante o procedimento.

APS PLOTAR OS PONTOS, COMO CALCULAR PFLEX?Quando no se dispe de recursos de computao, a regra mais simples imaginar que o ramo inspiratrio composto por apenas 3 partes: parte I (insuflao do baby-lung- correspondendo fase 1 descrita acima); parte 2 (expanso elstica e recrutamento de novas unidades - correspondendo a uma composio das fases 2 e 3 descritas acima) e parte 3 (correspondendo fase 4 descrita acima, quando h predomnio da hiperdistenso estrutural). A parte 3 deve ser ignorada e duas retas devem ser traadas sobre os pontos obtidos, uma tentando descrever a regio de melhor complacncia (parte 2) e outra tentando descrever a insuflao do baby-lung (parte 1). O encontro destas duas retas corresponde a PFLEX Quando se dispe de recursos matemticos mais avanados, PFLEX pode ser definido como o encontro das duas retas de regresso que melhor descrevem o comportamento bifsico da curva antes de chegar na fase 3, numa tima composio onde a somatria dos mnimos quadrados de ambas as retas pode ser minimizada, ou ainda maximizando-se o produto dos coeficientes de correlao (r1 x r2) das duas retas Erro! A origem da referncia no foi encontrada.. Como regra prtica, temos indicado o ajuste do PEEP sempre 1-2 cmH2O acima do valor calculado de PFLEX, numa garantia de que as presses em vias areas nunca caiam abaixo das presses crticas de colabamento, mesmo durante a respirao assistida. AUTO-PEEP OU PEEP OCULTO OU PEEP INTRNSECO Num paciente submetido ventilao mecnica com presso positiva se o tempo expiratrio for muito curto, ou se a resistncia ou a complacncia do sistema respiratrio estiver muito aumentada, ou ainda, se alguma atividade da musculatura inspiratria estiver presente durante a expirao, a presso alveolar poder permanecer com valor positivo e superior das vias areas ao final da expirao. Uma vez que esta presso alveolar residual no pode ser normalmente detectada pelos manmetros de presso dos ventiladores mecnicos (que habitualmente revelam apenas a presso das vias areas em sua poro proximal), esta presso residual tem sido denominada PEEP oculto, auto-PEEP ou ainda PEEP-intrnseco.

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Diversos trabalhos clnicos tm chamado a ateno para uma freqncia indesejada de fenmenos de auto-PEEP durante a ventilao mecnica. Apesar de sua ocorrncia silente, algumas manobras podem ser utilizadas, beira do leito, para uma estimativa adequada de seu valor nos diversos modos de ventilao mecnica. Por exemplo, o emprego de uma pausa expiratria prolongada (ocluso da vlvula expiratria logo antes do incio da prxima inspirao com abortamento do ciclo respiratrio seguinte) permite o equilbrio entre a presso alveolar e a presso das vias areas, propiciando a leitura de seu valor diretamente no manmetro de presso dos ventiladores. Em algumas situaes clnicas, a deteco deste PEEP oculto pode ser de vital importncia no manuseio de pacientes submetidos ventilao mecnica. Qualquer paciente apresentando deteriorao hemodinmica quando submetido ventilao mecnica, deveria ser avaliado quanto presena de um PEEP-intrnseco indesejvel. Como o auto-PEEP no pode ser normalmente detectado no manmetro do ventilador, sua ocorrncia silente , muitas vezes, a explicao para a aparente dissociao entre uma repercusso hemodinmica exagerada e as baixas presses observadas no manmetro do ventilador. Mais ainda, pacientes apresentando dificuldades para disparar o ventilador no modo assistido, ou mesmo pacientes tolerando mal o processo de desmame (principalmente quando trabalhando com freqncia respiratria elevada), tambm deveriam ser investigados quanto presena de PEEP-intrnseco. Em ambas as situaes citadas, a persistncia de uma presso alveolar residual significa uma sobrecarga de trabalho musculatura inspiratria, considerando-se que os msculos respiratrios devero exercer um trabalho extra para que a presso alveolar caa abaixo de zero e o fluxo inspiratrio (ou o disparo do ventilador) se inicie. Em outras palavras, a ocorrncia de um PEEP-intrnseco de 5cmHO poderia deixar um doente em ventilao mecnica to desconfortvel quanto um doente submetido a uma diminuio da sensibilidade do aparelho de -0,5cmHO para -5,5cmHO. Deve-se ainda lembrar que qualquer paciente com obstruo de vias areas se constitui num forte candidato para a ocorrncia deste fenmeno. Muitas vezes, os altos picos de presso inspiratria alcanados durante a ventilao mecnica no so somente decorrentes de uma resistncia elevada de vias areas, mas to somente o resultado de um tempo expiratrio muito curto, com o conseqente aprisionamento de ar ao final da expirao. Para que, na inspirao seguinte, o volume de ar corrente (VT) possa atingir os alvolos, ser necessrio que a presso nas vias areas exceda inicialmente o valor do auto-PEEP, resultando numa Paw bastante elevada e determinada pela frmula: Paw= Volume corrente/complacncia + fluxo x resistncia + Auto-PEEP. Neste caso, a simples diminuio da freqncia respiratria (aumento do tempo expiratrio), poderia proporcionar uma queda substancial do auto-PEEP e do pico de presso inspiratria, permitindo uma estimativa aproximada do valor do auto-PEEP (a diferena entre os valores de picos de presso inspiratria a cada ajuste de freqncia representaria exatamente a diferena entre os valores de auto-PEEP em cada situao, uma vez que VT e fluxo so mantidos). Aqui, a presena de auto-PEEP est diretamente relacionada ao risco de barotrauma, causando uma hiperinsuflao desnecessria das unidades alveolares. Finalmente, existem situaes em que o PEEP-intrnseco explorado intencionalmente como medida para se prevenir o colapso alveolar, buscando-se uma melhor troca gasosa. Nestas condies, o auto-PEEP normalmente obtido por um encurtamento do tempo expiratrio (aprisionamento de ar), que por sua vez pode ser obtido por um prolongamento da pausa ou do tempo inspiratrio (ver tpico sobre

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PC-IRV e sobre PEEP, adiante), ou ainda atravs de um aumento da freqncia respiratria. Nestes casos, a monitorizao do auto-PEEP torna-se essencial para uma estimativa das trocas gasosas, ou ainda para uma avaliao dos possveis efeitos cardiovasculares associados a esta manobra. VENTILAO MECNICA DO PACIENTE COM DPOC AGUDIZADA: O suporte ventilatrio mecnico no invasivo e invasivo na DPOC vai se tornar necessrio durante as fases de exacerbao ou agudizao da doena na qual ocorrer hipoxemia grave no corrigida com administrao de oxignio e nos casos de hipoventilao alveolar com acidemia. Fadiga muscular poder ocorrer durante estes perodos de exacerbao da doena, pois estes pacientes utilizam a musculatura respiratria continuamente para respirar contra uma resistncia aumentada de vias areas. A descompensao aguda do paciente com doena pulmonar obstrutiva crnica caracteriza-se por uma deteriorao aguda da funo respiratria, que j estava cronicamente comprometida, por fatores pulmonares e ou extrapulmonares. Dentre os fatores pulmonares os mais importantes so: 1. Infeco respiratria, 2. Tromboembolismo pulmonar, 3. Pneumotrax, 4. Deteriorao da prpria doena de base. Dentre os fatores extra-pulmonares: 1. Isquemia miocrdica, 2. Arritmias 3. Uso de sedativos e outras drogas , 4. Cirurgias abdominais e torcicas, 5. Aspirao de contedo gstrico. 1. A infeco respiratria se constitui na principal causa de agudizao em pacientes com DPOC. Na maioria dos casos as caractersticas tpicas de infeco tais como: febre, leucocitose e alteraes evidentes na radiografia de trax no esto presentes e no so necessrias para o incio de antibioticoterapia. A principal caracterstica das infeces agudas, em geral restrita s vias areas superiores, uma alterao no aspecto e/ou na quantidade de secreo eliminada que passa de mucosa para purulenta e em maior volume. Os agentes etiolgicos mais comuns so: o Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus influenzae e os vrus respiratrios. 2. Outra condio clnica relevante na descompensao dos portadores de DPOC o tromboembolismo pulmonar. Normalmente estes pacientes levam uma vida sedentria, so poligloblicos (conseqncia da hipoxemia crnica) e apresentam edema de membros inferiores (freqentemente associado insuficincia ventricular direita), condies estas que propiciam o episdio tromboemblico. Este de difcil diagnstico, pois seu quadro clnico sobrepem-se ao da DPOC descompensada. Sempre dever ser suspeitado de tromboembolismo pulmonar em uma descompensao aguda da DPOC sem um causa evidente. A realizao do mapeamento de ventilao/perfuso poder ser til se encontrarmos defeitos segmentares de perfuso correlacionados a uma boa ventilao, assim como a realizao de um ecocardiograma. Nos casos de dvida dever ser realizada arteriografia pulmonar

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3. A suspeita da presena de pneumotrax deve ser feita nas pioras clnicas rpidas e graves. Vrias condies tais como: hiperinsuflao pulmonar, aprisionamento de ar e destruio do septo interalveolar, podem explicar uma freqncia aumentada de pneumotrax nos portadores de DPOC. Este dever ser diagnosticado atravs da radiografia de trax e providenciada a drenagem adequada. 4. A deteriorao da doena de base deve ser diagnosticada nos casos de piora lenta e progressiva na qual se observa uma piora na funo pulmonar e na gasometria arterial do paciente. Estes casos so de pior prognstico e o investimento intensivo deve ser bem discutido em vista do custo beneficio para estes pacientes. Dentre os fatores extrapulmonares:1. A maior parte dos pacientes portadores de DPOC so idosos, fumantes, hipoxmicos e por isso tem uma chance aumentada de apresentarem insuficincia coronariana. Assim, nas descompensaes agudas dever sempre ser solicitado um eletrocardiograma e nos casos de dvida monitorao das enzimas cardacas e ou ecocardiograma.

2. As anormalidade do ECG so comuns. Freqentemente encontramos sinais de hipertrofia das cmaras direitas, com desvio do eixo para a direita e complexos de baixa voltagem. As arritmias porm, se constituem nos achados mais freqentes, as arritmias supraventriculares so comuns, principalmente o marcapasso atrial mutvel e a fibrilao atrial. Normalmente essas alteraes no trazem qualquer comprometimento hemodinmico para o paciente, no sendo necessrio o uso de anti-arrmicos, exceo nos casos de freqncia ventricular muito elevada (acima de 150) que justifica o uso de digital ou de amiodarona. Na maior parte das vezes assim que o fator que desencadeou a agudizao for controlado o ritmo cardaco volta sua condio prvia. 3.Muitas drogas tm o potencial de exacerbar a DPOC. Os bloqueadores betaadrenrgicos, que so usados em cardiopatias e no controle da hipertenso arterial, esto associados a broncoconstrio e piora da funo pulmonar nestes pacientes. Opiides, barbitricos e benzodiazepnicos tm o potencial de deprimir o volume-minuto e a ventilao alveolar efetiva, favorecendo a acidose respiratria. A administrao de fraes inspiradas excessivas de O2, pode levar a uma piora nas trocas gasosas e hipercarbia nestes pacientes. A nutrio, com sobrecarga de carbohidratos, levam a um aumento na produo de CO2 pelo organismo, esta alterao metablica pode levar a uma reteno de CO2 nos pacientes que no consigam excretar esta carga adicional de CO2. 4. Os ps-operatrios de cirurgias abdominais e torcicas de pacientes portadores de DPOC devem ser muito bem monitorados pois nestas ocasies ocorrem freqentemente descompensaes devido s mudanas da mecnica da caixa torcica, infeces e TEP. Dever ser iniciada fisioterapia respiratria precoce e aco