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10/12/2017 Humor brasileiro reflete a nossa falta de identidade, diz historiador | VEJA.com https://veja.abril.com.br/entretenimento/humor-brasileiro-reflete-a-nossa-falta-de-identidade-diz-historiador/# 1/8 Por Rodrigo Levino As personagens Valéria (Rodrigo Sant'Anna) e Janete (Thalita Carauta), do quadro 'Metrô Zorra Brasil', do 'Zorra Total', da Globo. No programa, Janete sofre assédio e é encorajada pela transexual Valéria a aceitar: 'Aproveita, que você não pode escolher muito, sua estranha' (Renato Rocha Miranda/Divulgação/TV Globo/VEJA) Há um humor tipicamente brasileiro? Baseado em formatos importados e de história relativamente recente, o humor nacional não parece muito descolado de seus modelos estrangeiros. Mas ele tem, sim, as suas particularidades. De acordo com Elias Thomé Saliba, titular de teoria da história da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro As Raízes do Riso (editora Companhia das Letras, 366 páginas), que investiga a gênese do humor no Brasil, o cômico feito no país é impregnado da nossa cultura. Estão presentes nele duas características marcantes da sociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional – ou cordial, como diria Sérgio Buarque de Hollanda. “O humor brasileiro é reexo da nossa falta de identidade”, diz Saliba. Entretenimento Humor brasileiro reete a nossa falta de identidade, diz historiador Autor do livro As Raízes do Riso, sobre a gênese do humor no país, mostra como características culturais estão impregnadas no nosso jeito de fazer rir 4 nov 2011, 22h22 PUBLICIDADE Assine

Humor brasileiro reete a nossa falta de identidade, diz ... · Renascido como no vidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gêner o revelou uma nova leva de humoristas

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Por Rodrigo Levino

As personagens Valéria (Rodrigo Sant'Anna) e Janete (Thalita Carauta), do quadro 'Metrô Zorra Brasil', do 'Zorra Total', da Globo. No programa, Janete sofre assédio e éencorajada pela transexual Valéria a aceitar: 'Aproveita, que você não pode escolher muito, sua estranha' (Renato Rocha Miranda/Divulgação/TV Globo/VEJA)

Há um humor tipicamente brasileiro? Baseado em formatos importados e de história relativamente recente, o humor nacional não parece muitodescolado de seus modelos estrangeiros. Mas ele tem, sim, as suas particularidades. De acordo com Elias Thomé Saliba, titular de teoria dahistória da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro As Raízes do Riso (editora Companhia das Letras, 366 páginas), que investiga agênese do humor no Brasil, o cômico feito no país é impregnado da nossa cultura. Estão presentes nele duas características marcantes dasociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional – ou cordial, como diriaSérgio Buarque de Hollanda. “O humor brasileiro é re�exo da nossa falta de identidade”, diz Saliba.

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Humor brasileiro re�ete a nossa falta de identidade, diz historiadorAutor do livro As Raízes do Riso, sobre a gênese do humor no país, mostra como características culturais estão impregnadas no nosso jeito de fazerrir

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Segundo o historiador, foi na Belle Époque brasileira – período compreendido entre as duas décadas �nais do século XIX e o �m da 1ª. GuerraMundial, em 1918 – que surgiu esse humor, no esteio do jornalismo moderno e suas seções �xas de humor e de caricaturas. Mais tarde, no teatro,no rádio e no cinema, o humor fruti�cou. A partir do abrasileiramento de formatos ingleses e italianos já consagrados, surgiram programas hojeclássicos como o Balança Mas Não Cai, sucesso do rádio nos anos 1930 e 1940 que lançou personagens até hoje usados pela televisão comoOfélia e Fernandinho. E o cinema das chanchadas, da lendária produtora Atlântica, que mesclava musicais com o humor radiofônico. A partir dadécada de 1950, essas mídias forneceram para a televisão atores, diretores, textos e formatos.

Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e com a in�uência doMonthy Python, que na Inglaterra emparedou o conservadorismo político, no �nal da década de 1970, e aqui deu impulso a programas como a TVPirata e o Casseta & Planeta, levados ao ar entre o �m dos anos 1980 e o início dos 1990. Até hoje, pouco há de renovação nesses formatosconsagrados. Há um quê de humor de rádio em programas como Zorra Total e A Praça É Nossa, por exemplo. “Em algumas épocas, sobretudo asde forte censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu damera diversão”, diz Saliba.

O stand up, embora só agora tenha virado febre no país, já está por aqui desde a década de 1960, representado pelo recém-falecido humoristaJosé Vasconcellos. E não só com ele. Outros veteranos do humor experimentaram o gênero. Conhecidos principalmente por seus trabalhos natelevisão, como os já clássicos Chico City, Satiricom e Planeta dos Homens, nomes como Jô Soares e Chico Anysio já faziam uso do formatodesde os anos 1960. Na antiga TV Tupi, Anysio enfrentava a plateia munido de um microfone – e de verve.

Renascido como novidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gênero revelou uma nova leva de humoristas que, assim como sedeu no começo do século passado com o rádio e o cinema, migraram da web para a televisão. Na TV, o humor de clubes e pequenos palcosganhou amplitude nacional com os participantes do CQC, exibido pela Band, assim como o grupo em torno de Marcelo Adnet, que levou elementosdesse formato para a MTV. O movimento deu aos humoristas audiência, mas também limitações e riscos, além de críticas e debates sobre ostextos que criam ou improvisam. Piadas com teor de bullying são defendidas pelos autores como o sagrado direito ao politicamente correto,quando o que está em jogo é, na realidade, a qualidade artística do texto.

As discussões de hoje são, segundo o autor de As Raízes do Riso, um fato raro no Brasil, onde os debates em torno do humor se instalaram, maiscomumente, em períodos de crise política e institucional. Mais um exemplo do jeitinho brasileiro de lidar com as coisas, por certo. Con�ra abaixoos melhores momentos da entrevista de Elias Thomé Saliba.

Capa do livro 'As Raízes do Riso', de Elias Thomé Saliba

Capa do livro ‘As Raízes do Riso’, de EliasThomé Saliba (VEJA)

Em que contexto histórico o humor tomou corpo no Brasil? Os anos mais decisivos para o humor no país foram aqueles marcados pela introduçãoda imprensa moderna no Brasil. Nas duas últimas décadas do século XIX, surgem os primeiros grandes jornais diários e as primeiras revistassemanais ilustradas, com seções �xas de humor e de caricaturas, além de publicidade. Foi essa abertura proporcionada pela imprensa moderna –juntamente com a crise de expectativas gerada pelo advento da República – que possibilitou a criação de uma linguagem humorística nacional,feita a partir da mistura de poemas paródicos, música, anúncios publicitários, dança e marchinhas de carnaval.

Houve um momento, como o que se vê agora, em que o humor pautou um debate de proporção nacional? Em especial, nenhum momento. Emalgumas épocas, sobretudo as de forte censura (informal ou institucional), o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocaçãointrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão. É aí que a produção humorística atua como catalisadora dasinsatisfações e da impotência política da maioria da população. Um momento criativo, no Brasil, é aquele que vem logo após o império: é o quechamo de “humor da desilusão republicana”. Outro período muito criativo do humor nacional foi a época da campanha Civilista (1909-1910),quando se abriu a primeira grande crise na sucessão presidencial (São Paulo e Minas Gerais se viram em lados opostos na disputa, quebrando a

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política do café-com-leite). Outros momentos em que o humor serviu como instrumento de crítica política direta foram os períodos ditatoriais ouautoritários: a era Vargas (1930-1945) e a dos governos militares (1964-1979).

Qual o principal elemento do humor produzido no Brasil? A eterna confusão entre as esferas pública e privada e a nossa vocação – que temosesperança de superar – para tratar tudo de maneira emocional, reduzindo as distâncias sociais. Chamamos esta vocação para a cordialidade deSíndrome de Santa Terezinha. No Brasil, a santa francesa Thereza de Lisieux se transforma em Terezinha – ou seja, até os santos partilham denossa vida privada, tornando-se mais próximos de nós. Usamos de diminutivos para quebrar hierarquias e tornar tudo próximo, porque temoshorror às distâncias sociais, que são enormes.

E em relação ao papel social do riso, o que se pode dizer? O riso é arma social para os impotentes. No decorrer da história, o riso popular permitiuque se criasse, cada vez mais, uma cultura da divergência, ativa e oculta – o que mostra como o humor se tornou arma contra regimes repressivos.Se não se pode mudar a história real, muda-se o sentido dela. O riso, a piada é, essencialmente, reversão de signi�cado.

O humor brasileiro é, portanto, re�exo da nossa identidade? Da nossa falta de identidade. Somos uma sociedade mal costurada, que semprepraticou a exclusão. Brasileiros só se sentem brasileiros em momentos emocionais, rápidos e circunstanciais. O humor funciona como o carnavale o futebol para o brasileiro ter este momento efêmero e emocional de identidade. A piada é o paradigma do efêmero. Nas últimas décadas, issose acentuou, visto que as promessas trazidas pela redemocratização do país estancaram na corrupção crônica – institucionalizada pelaimpunidade -, numa política social remediadora e na tibieza dos partidos e organizações políticas.

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