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ALBERT ZAKI HYAR O PAPEL DO BRASIL NA UNIFIL Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: C Alte RM1 Antonio Ruy de Almeida Silva. Rio de Janeiro 2015

HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

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Page 1: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

ALBERT ZAKI HYAR

O PAPEL DO BRASIL NA UNIFIL

Trabalho de Conclusão de Curso -

Monografia apresentada ao Departamento

de Estudos da Escola Superior de Guerra

como requisito à obtenção do diploma do

Curso de Altos Estudos de Política e

Estratégia.

Orientador: C Alte RM1 Antonio Ruy de

Almeida Silva.

Rio de Janeiro

2015

Page 2: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

C2015ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Hyar, Albert Zaki.

Papel do Brasil no UNIFIL / Coronel de Infantaria do Exército Libanês Albert Zaki Hyar. - Rio de Janeiro: ESG, 2015.

65 f.: il. Orientador: C Alte RM1 Antonio Ruy de Almeida Silva. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2015.

1. Papel do Brasil. 2. Oriente Médio. 3. Líbano. I.Título.

Page 3: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

A todos os meus instrutores na ESG, que

souberam transmitir a importância de

pensar os destinos do Brasil e do Oriente

Médio e o valor da troca de experiências

e conhecimentos, tão essenciais para a

atividade de nossa vida militar.

Page 4: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

AGRADECIMENTOS

À minha maravilhosa esposa NADA e meus adoráveis filhos, que são minha

inspiração e minha vida. À minha querida instituição, o Exercito Libanês, por tudo

que foi ofertado durante o desenvolvimento de minha vida profissional.

Ao Senhor Comandante e Diretor, ao Subdiretor, aos Assessores, ao Corpo

Permanente e aos Estagiários da Escola Superior de Guerra, por seu apoio e

amizade.

Aos meus eternos amigos e companheiros de curso das Nações Amigas,

agradeço pelo apoio importantíssimo para a realização deste curso.

Page 5: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

As Nações buscam dirigir seus interesses para áreas específicas que venham ao encontro das suas necessidades políticas e estratégicas.

Theresinha de Castro

Page 6: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

RESUMO

O Brasil tem uma presença marcante no Oriente Médio devido ao seu antigo

relacionamento com os povos e países da região, caracterizada pela adoção de

soluções pacíficas e processos de negociação para a promoção e estabelecimento

da paz e da segurança. Esta presença de caráter político vem recentemente sendo

acompanhada por uma presença militar; principalmente por meio da participação do

Brasil na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL). Esta presença

brasileira reforça, assim, a sua influência política e militar na região, abrindo caminho

para uma maior cooperação econômica e comercial com os países que dela fazem

parte. O Brasil, por ser um país de grande importância econômica, industrial,

científica e tecnológica, pode contribuir para o desenvolvimento dos países do

Oriente Médio. Neste contexto, esta pesquisa destaca a estratégia e a política do

Brasil no Oriente Médio, especificamente no Líbano. Esta política deriva da política

externa brasileira e tem como objetivo promover a estabilidade global. Hoje, os

países do Oriente Médio precisam dessa estabilidade e desenvolvimento, após um

longo período de conflito e guerras, que ainda resultam em destruição e

subdesenvolvimento.

Palavras chave: Brasil. Oriente Médio. Líbano. UNIFIL.

Page 7: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

ABSTRACT

Brazil has a remarkable presence in the Middle East, because of its old relationship

with the peoples and countries of the region, aimed for pacific solutions and

negotiation process in order to promote peace and security. The Brazilian presence

has recently increased due to its military participation in the United Nations Interim

Forces in Lebanon (UNIFIL), enhancing its role and political influence in region,

opening a new path to increase economic and commercial cooperation with the

countries of the region. Brazil, as one of the most important global countries in

economic, industry, science and technology, can contribute to the development of the

Middle East countries. In this context, the research stresses the strategy and Brazil's

policy in the Middle East, especially in Lebanon. This policy derives from the

Brazilian external policy and has the aim to promote global stability. Today, the

Middle East countries need stability and development, after a long period of conflict

and wars that roamed destruction and underdevelopment.

Keywords: Brazil. Middle East. Lebanon. UNIFIL.

Page 8: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGNU Assembleia Geral das Nações Unidas

AIEA Agência Internacional de Energia Atômica

AJL Águas Jurisdicionais Libanesas

AMO Area of Maritime Operations (Área de Operações Marítimas)

ASPA América do Sul e Países Árabes

AUB American University of Beirut (Universidade Americana de Beirute)

CESAO Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental

CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas

ESG Escola Superior de Guerra

EUA Estados Unidos da América

EUROMARFOR European Maritime Force (Força Marítima Europeia)

FDI Forças de Defesa de Israel

FHC Fernando Henrique Cardoso

FTM Força-Tarefa Marítima

FSL Força do Sul do Líbano

LAF Lebanese Armed Forces (Forças Armadas Libanesas)

LAF-N Lebanese Armed Forces Navy (Marinha Libanesa)

MB Marinha do Brasil

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MRE Ministério das Relações Exteriores

MIO Maritime Interdiction Operations (Operações de Interdição Marítima)

OEA Organização dos Estados Americanos

OLP Organização para a Libertação da Palestina

ONU Organização das Nações Unidas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

UN United Nations

UNEF United Nations Emergency Force

UNIFIL United Nations Interim Forces in Lebanon (Força Interina das Nações Unidas no Líbano)

Page 9: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11

2 RELAÇÕES E INTERESSES MÚTUOS ENTRE BRASIL E LÍBANO ......... 13

2.1 RELAÇÕES BILATERAIS ............................................................................ 13

2.2 RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E POLÍTICAS ............................................... 15

2.2.1 Na diplomacia ............................................................................................. 15

2.2.2 Na política ................................................................................................... 17

2.2.3 Cooperação diplomática e política ............................................................ 17

2.3 RELAÇÃO CULTURAL ................................................................................. 18

2.3.1 Na literatura ................................................................................................. 18

2.3.1.1 Literatura libanesa no Brasil ......................................................................... 19

2.3.1.2 Influência na literatura brasileira ................................................................... 19

2.3.2 Na música e nas artes ................................................................................ 20

2.3.3 Cooperação cultural e educacional .......................................................... 21

2.4 RELAÇÕES ECONÔMICAS........ ................................................................. 22

2.4.1 Histórico ...................................................................................................... 22

2.4.2 Economia libanesa ..................................................................................... 23

2.4.3 Cooperação econômica bilateral............................................................... 24

3 A UNIFIL E A FORCA-TAREFA MARÍTIMA ............................................... 26

3.1 A RAZÃO PARA O ESTABELECIMENTO DA UNIFIL ................................. 26

3.1.1 A Primeira Guerra Líbano-Israel, em 1978 ................................................ 26

3.1.2 A Segunda Guerra Líbano-Israel, em 1982 ............................................... 27

3.1.3 Retirada israelense, em 2000 ..................................................................... 28

3.1.4 Fazendas de Xebá ....................................................................................... 28

3.1.5 Fronteira Quente ......................................................................................... 28

3.2 A RAZÃO PARA O ESTABELECIMENTO DA FTM ..................................... 29

3.2.1 A Guerra de 2006 ........................................................................................ 30

3.2.2 Resolução 1701........................................................................................... 31

3.2.3 O pedido do governo libanês .................................................................... 32

3.2.4 A posição brasileira durante a Guerra de 2006 ........................................ 32

3.3 PAISES QUE LIDERAM A FTM ................................................................... 33

3.3.1 Alemanha e EUROMARFOR lideram a FTM.............................................. 33

3.3.2 O BRASIL e liderança da FTM ................................................................... 34

Page 10: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

3.4 TAREFAS DA FTM ....................................................................................... 34

3.4.1 Operações de Interdição Marítima (OIM) .................................................. 35

3.4.2 Aumento da capacidade da LAF-N ............................................................ 36

3.5 PREPARO E DIFICULDADES ..................................................................... 36

3.5.1 Dificuldades enfrentadas pelo Brasil no comando da FTM .................... 37

3.5.2 Desafios enfrentados pelo Brasil no comando da FTM .......................... 37

3.6 PLANOS PARA O FUTURO ......................................................................... 38

3.6.1 Transferência da tarefa .............................................................................. 38

3.6.2 Continuação da realização da tarefa ......................................................... 38

4 POLÍTICA E ESTRATÉGIA BRASILEIRA NO ORIENTE MÉDIO ............... 40

4.1 POLITICA DO BRASIL NO ORIENTE MEDIO ............................................. 40

4.1.1 Política durante a Guerra Fria (1947-1989) ............................................... 42

4.1.2 A política durante o ano de 1990 ............................................................... 44

4.1.3 A política do Brasil desde os anos de 2000 ............................................. 44

4.2 ESTRATÉGIA ............................................................................................... 47

4.2.1 Estratégia de defesa ................................................................................... 47

4.2.2 Estratégia Econômica ................................................................................ 49

5 CONCLUSÃO............................................................................................... 51

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 54

ANEXO A - Entrevista com VA Luiz Henrique Caroli ............................... 61

Page 11: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

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1. INTRODUÇÃO

O princípio básico da Organização das Nações Unidas (ONU) é manter a

paz e a segurança internacionais (UN, 1945). Em 1978, foi estabelecida uma Missão

de Manutenção de Paz no Líbano, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano

(United Nations Interim Forces in Lebanon – UNIFIL).

A UNIFIL contribuiu para a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano,

bem como tem ajudado o governo libanês a manter a sua soberania. Logo após a

Guerra entre o Líbano e Israel, em 2006, a UNIFIL passou a contar com uma Força-

Tarefa Marítima (FTM). Estabelecida nas proximidades do litoral libanês, a FTM tem

duas tarefas específicas: conduzir as Operações de Interdição Marítima (Maritime

Interdiction Operations – MIO) para evitar a entrada ilegal de armas no Líbano e

treinar a Marinha Libanesa (Lebanese Armed Forces-Navy - LAF-N) (UNIFIL, 2015;

UN, 1978). Em 24 de fevereiro de 2011, o Contra-Almirante brasileiro Luiz Henrique

Caroli assumiu o comando da FTM. Hoje, mais de quatro anos depois, tal Força-

Tarefa continua sendo comandada por um almirante brasileiro, sendo composta por

sete navios, dentre eles um brasileiro (o navio capitânia), um alemão, um turco, um

grego, um indonésio e dois de Bangladesh (BRASIL, 2015a, 2015f; NAÇÕES

UNIDAS NO BRASIL, 2011).

As relações entre o Brasil e o Líbano apresentam-se muito além da esfera

militar. Essa forte ligação de amizade entre os países foi historicamente incentivada

a partir de uma visita realizada pelo imperador brasileiro D. Pedro II à Beirute, em

1876. Desde então, iniciou-se um grande movimento de imigração para o Brasil

(diáspora). Atualmente, cerca de oito milhões de libaneses e descendentes moram

no Brasil (BRASIL, 2010; COMUNIDADE, 2015; GASPARETTO, 2015; MANSUR,

2013).

O presente trabalho tem o objetivo geral analisar a atuação do Brasil na

UNIFIL, bem como vislumbrar uma atuação estratégica brasileira no Líbano. Dentro

desse escopo, o trabalho está estruturado em capítulos.

O primeiro capítulo discorrerá sobre a relação histórica entre o Líbano e o

Brasil, ressaltando os aspectos da grande imigração libanesa, a política, a cultura,

os laços de amizade, a diplomacia e os interesses econômicos e comerciais entre os

dois países.

Page 12: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

12

O capítulo dois analisará as razões para o estabelecimento da UNIFIL, a

criação da Força-Tarefa Marítima, o papel do Brasil no seu comando, bem como a

perspectiva de que a missão da FTM seja concluída, transferindo suas tarefas para

a Marinha Libanesa.

O capítulo três analisará a política e os interesses estratégicos do Brasil no

Líbano e no Oriente Médio, bem como potenciais oportunidades comerciais para os

dois países como, por exemplo, a exploração de petróleo e gás nas Águas

Jurisdicionais Libanesas.

Finalmente, o presente trabalho será encerrado com a conclusão.

A metodologia empregada se valeu de pesquisa bibliográfica e documental,

com utilização do método dedutivo. Foram consultados trabalhos sobre temas

correlatos, livros, matérias publicadas na mídia, fontes da Internet, além da

realização de entrevistas com representantes brasileiros e libaneses. Foram

analisados estudos científicos que confirmam a existência de reservas de petróleo e

gás nas Águas Jurisdicionais Libanesas e em território libanês, assim como foram

pesquisadas as capacidades de exploração brasileira de tais reservas.

Page 13: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

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2. RELAÇÕES E INTERESSES MÚTUOS ENTRE BRASIL E LÍBANO

O Brasil tem acolhido, desde o século XIX, fluxos de imigrantes vindos do

Líbano, que levaram à formação de uma importante comunidade libanesa no país.

Estima-se que entre 7 a 10 milhões de brasileiros tenham ascendência libanesa,

sendo esse vínculo um dos principais motivos do bom relacionamento bilateral entre

os dois países. A comunidade libanesa no Brasil é extremamente ativa, mantendo

instituições de grande relevância que reforçam as relações bilaterais e facilitam a

consecução de interesses mútuos (BRASIL, 2015e; COMUNIDADE, 2015).

2.1 RELAÇÕES BILATERAIS

A relação entre os libaneses e o Brasil é de longa data, que remonta antes

mesmo de ocorrer a independência brasileira. Quando a família imperial portuguesa

chegou ao Brasil em 1808, o libanês Antoun Elias Lubbos, um dos proprietários de

terras no Rio de Janeiro na época, ofereceu sua casa à D. João VI, vindo a tornar-se

a casa imperial brasileira, onde nasceu D. Pedro II e, posteriormente, foi

estabelecido o Museu Nacional da Quinta da Boa vista (BRASIL, 2008).

O Imperador D. Pedro II (1825-1891), grande admirador da cultura árabe,

esteve duas vezes no Oriente Médio. Em 1871 visitou o Egito e em 1876 o Líbano, a

Palestina e a Síria (a Terra Santa) (KHATLAB, 2015, p. 388). O Imperador

permaneceu no Líbano de 11 a 15 de novembro de 1876, acompanhado de sua

esposa, Dona Tereza Christina Maria, e de uma comitiva de cerca de 200 pessoas.

Nesse período, D. Pedro II visitou o colégio protestante (fundado em 1866), que

mais tarde se transformou na Universidade Americana de Beirute (AUB). No Colégio

Francês dos Jesuítas (fundado em 1875) e em outras instituições, teve encontros

com diversos intelectuais vinculados às ciências e às artes. O Imperador assistiu a

uma das aulas de Van Dyck (AUB), junto com Nemi Jafet, um dos pioneiros da

emigração libanesa. Depois de visitar o patriarca da Igreja Maronita Bulos Mass’ad,

em Bkerke, dirigiu-se à cidade de Chtaura, localizada no vale de Bekka. Após

atravessar Chtaura e passar pela cidade do Zahle e por outras cidades, chegou a

Baalbeck em 14 de novembro. No dia seguinte, visitou os templos de Baco, Júpiter e

Vênus. Durante a viagem, falou aos camponeses sobre o Brasil, onde já vivia um

pequeno número de libaneses (KHATLAB, 2015). A visita incentivou o fluxo

Page 14: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

14

imigratório de libaneses para o Brasil, estreitando os laços de amizade entre os dois

países.

Na segunda metade do século XIX, a marcha da imigração do Oriente Médio

para o Brasil se acelerou. Oficialmente, a imigração libanesa no Brasil começou em

1880, quatro anos após o imperador D. Pedro II ter visitado o Líbano. Segundo

Gasparetto:

O fluxo de libaneses aumentou em fluxo contínuo nos períodos seguintes, não eram destinados a uma região específica do Brasil, mas sim ao local que encontravam melhores condições para viver. [...] Ao contrário dos imigrantes europeus, libaneses não vieram para o Brasil com a perspectiva de trabalhar nas lavouras de café, mas sim para encontrar nas cidades as condições para o florescimento do comércio (GASPARETTO, 2015).

De 1880 a 1930 os libaneses entraram em grande número no país e foram

importantíssimos para o desenvolvimento do comércio nacional. Entretanto, como

aconteceu com todas as correntes imigratórias, o fluxo de libaneses se tornou

reduzido após Getúlio Vargas assumir a presidência, em virtude de sua política

restritiva sobre a imigração (SASAKI, 2012).

Nota-se a existência de quatro fases no processo imigratório libanês. Os

cristãos perfaziam a totalidade dos imigrantes das duas primeiras fases (1880-1920

e 1921-1940), enquanto os muçulmanos passaram a imigrar após os anos de 1950,

tornando-se importante componente do grupo imigratório libanês na terceira e quarta

fases (1941-1970 e 1971-2000) (GASPARETTO, 2015).

A grande maioria dos imigrantes libaneses se estabeleceu em São Paulo,

formando rapidamente uma próspera comunidade de comerciantes. Foram os

libaneses que fundaram a Rua 25 de março, hoje um dos maiores centros de

comércio do Brasil. O estado de Minas Gerais foi o segundo estado a receber o

maior número de libaneses. O antigo Distrito Federal, antiga Guanabara, ocupou o

terceiro lugar, seguido dos estados do Rio de Janeiro e do Amazonas. Na cidade de

Foz do Iguaçu, uma grande comunidade libanesa imigrou do vale do Bekka durante

a guerra com Israel, em 1967. Após esta data, chegaram do sul do Líbano

aproximadamente 40 mil libaneses que trabalham hoje entre Foz do Iguaçu e

Paraguai (BERNARDES, 2014).

As relações entre Brasil e Líbano vêm se estreitando ao longo dos anos e

das histórias de ambos os países, ganhando um cunho político e diplomático,

cultural e educacional, e até econômico.

Page 15: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

15

2.2 RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E POLÍTICAS

Como reflexo da visita de D. Pedro II à Terra Santa e o início do fluxo

imigratório de libaneses para o Brasil, o Estado brasileiro estabeleceu um consulado

em Beirute, em 1920. Apesar de o Líbano ter sofrido a dominação pelo Império

Otomano e, posteriormente, pelo Mandato Francês, as relações diplomáticas com o

Brasil foram mantidas. Os descendentes de libaneses, por sua vez, começaram a se

destacar na vida política brasileira, abrindo o caminho para intensificar ainda mais as

relações diplomáticas entre os dois países.

2.2.1 Na diplomacia

As relações diplomáticas entre Brasil e Líbano foram oficialmente

estabelecidas em 1945, dois anos após a independência do Líbano. No ano

seguinte, em 1946, o Consulado-Geral do Brasil no Líbano passou à categoria de

delegação. No ano de 1954, ocorreram três importantes eventos, como a visita ao

Brasil do Presidente da República do Líbano, Camille Chamoun, a abertura da

Embaixada libanesa no Rio de Janeiro e a abertura da Embaixada brasileira em

Beirute (BRASIL, 2015e).

Em 1961, ocorreu a transferência da Embaixada Libanesa do Rio de Janeiro

para a cidade de Brasília. Em 1975, início da guerra civil no Líbano marcou também

o começo da nova onda de imigrantes para o Brasil, com grande participação de

muçulmanos. Por conta da guerra civil no Líbano, quando a segurança no país se

encontrava comprometida, com a existência de milícias armadas em várias regiões,

a relação diplomática entre os dois países ficou prejudicada. Adicionalmente, o

Líbano se encontrava isolado do mundo, pois o aeroporto internacional e os portos

comerciais e turísticos não funcionavam. Após o término da guerra, o Primeiro-

Ministro Rafic Hariri e o Presidente Elias Hrawi visitaram o Brasil, respectivamente,

em 1995 e 1997. Em contrapartida, os Chanceleres Luís Felipe Lampreia e o Ex-

Presidente Lula e o Ministro Celso Amorim visitaram o Líbano, respectivamente em

1997 e 2003, retomando as relações diplomáticas entre os dois países (SILVA,

2003).

Em 2005, o Primeiro Ministro Najib Mikati visitou o Brasil, demonstrando

reciprocidade diplomática. No ano seguinte, o Ministro da Educação, Fernando

Page 16: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

16

Haddad (de ascendência libanesa) visitou o Líbano e, mais tarde, foi a vez do

chanceler Celso Amorim visitar o Líbano, no contexto de apoio humanitário durante

a Segunda Guerra do Líbano. Também visitaram o Líbano, em 2011, o Vice-

Presidente Michel Temer (de ascendência libanesa), acompanhado de uma

delegação de 36 pessoas, entre elas sua esposa Marcela Tedeschi Araújo, um

grupo de deputados brasileiros de origem libanesa, o Cônsul Honorário George

Samuel Antoine e um grupo de empresários brasileiros descendentes de origem

libanesa. A visita ocorreu de 18 a 22 de novembro, sendo considerada a mais

importante a nível presidencial. Estas visitas de políticos brasileiros ao Líbano

demonstram que os descendentes ainda possuem um elo de ligação com o país de

seus ancestrais, e que poderão tomar decisões que beneficiem o seu país de

origem. Durante a visita do Vice-Presidente Michel Temer foi inaugurado o Centro

Cultural Brasil-Líbano, com atividades e número de alunos em crescente expansão.

O Centro atende também a militares libaneses que são escolhidos para realizarem

cursos de especialização no Brasil. É o primeiro Centro Cultural brasileiro

estabelecido no Oriente Médio (BARBOUR, 2011). Também no dia 21 de novembro

de 2011, a Fragata União, navio capitânia da FTM da UNIFIL, atracada no porto de

Beirute, no Líbano, recebeu a visita oficial do Presidente da República do Líbano,

Michel Sleimen, e do Vice-Presidente da República do Brasil, Michel Temer. Esta foi

a primeira visita do Presidente Libanês a um navio da UNIFIL. O evento inédito na

história da UNIFIL recebeu destaque da imprensa local, que confirmou o prestígio do

Brasil no Líbano e comprovou a grande expectativa em relação à participação da

Marinha do Brasil na Missão (DONADIO, 2011).

Em 2011, o Vice-Presidente inaugurou um centro comercial, o Prime Center,

em Chtoura, Vale da Bekaa, empreendimento do Grupo Zaghbi, formado por Líbano-

brasileiros de São Paulo, que decidiram investir no Líbano e criar um ponto de

referência de produtos brasileiros para desenvolver o comércio entre os dois países

(TEMER, 2011).

Em 2012, no dia 21 de maio, o Ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim,

visitou Beirute e afirmou que o Brasil pretendia aumentar a cooperação militar com o

Líbano (BRASIL, 2012).

Page 17: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

17

2.2.2 Na política

A atmosfera de liberdade no Brasil incentivou os libaneses a se envolver na

vida política. Muitos descendentes libaneses conseguiram destaque na sociedade e

na vida politica brasileira. Entre as personalidades de origem libanesa destacam-se

os políticos Michel Temer (Vice-Presidente), José de Ribamar Fiquene (ex-

Governador do Maranhão), Jorge Hage (Ministro da Controladoria Geral da União),

Paulo Maluf (ex-Governador de São Paulo), Fernando Haddad (Prefeito de São

Paulo, ex-Ministro da Educação), Jorge Maluly Netto, Adib Jatene, Pedro Simon,

Antônio Salim Curiati, Paulo Abi-Ackel e Gilberto Kassab, os ex-ministros Ibrahim

Abi-Ackel e Alfredo Buzaid, os ex-Governadores Simão Jatene, Geraldo Alckmin,

Almir Gabriel, Paulo Souto e Espiridião Amin, os ex-secretários Hélio Mokarzel e

Dionísio Hage, o escritor Milton Hatoum, o publicitário Roberto Duailibi e o ex-

colunista social Ibrahim Sued, além de 73 deputados entre eles, Pedro Simon,

Fernando Gabeira, Jorge Bittar, Romeu Tuma, Gilberto Kassab, Mario Assad Junior,

Milton Temer, Alberto Hyar, Nabih Abi Chdid, entre outros (representando 8% do

parlamento brasileiro) (MANSUR, 2013). Além de ministros, embaixadores, cônsules

e outros cargos. Estes exemplos são um retrato da integração dos descendentes de

libaneses na vida política brasileira. Essa integração foi um processo fundamental

para a expansão da cooperação, que será mais aprofundada na seção seguinte.

2.2.3 Cooperação diplomática e política

A presença dos políticos de descendência libanesa influi positivamente

sobre a relação entre os dois países. Em 4 de dezembro de 2003, durante a visita do

então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Beirute, o governo libanês e o governo

brasileiro fecharam cinco acordos de cooperação nas áreas de turismo, de combate

ao tráfico de drogas, de meio ambiente e de comércio. Os dois países acertaram

ainda a criação de uma comissão bilateral de alto nível, buscando intensificar sua

relação comercial e política (LÍBANO, 2003).

Em fevereiro de 2004, o ex-Presidente da República do Líbano, Emile

Lahoud, veio ao Brasil em visita oficial com o objetivo de intensificar a cooperação

entre os dois países, fortalecendo o diálogo político e os vínculos econômicos e

comerciais. O presidente Emile Lahoud aproveitou ainda a visita oficial ao Brasil

Page 18: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

18

para formalizar o apoio do Líbano à candidatura brasileira a uma vaga permanente

no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas),

demonstrando o comprometimento e os elos de amizade entre os dois países

(PRESIDENTE, 2004).

Outra visita importante que simboliza o incremento da cooperação entre os

dois países foi a do Ministro das Relações Exteriores do Líbano, Gebran Bassil, ao

Brasil em 14 de julho de 2014. Durante sua estada, foram assinados atos normativos

entre os países para estabelecer consultas políticas bilaterais entre ambos. Também

esteve na pauta um acordo para facilitar a emissão de vistos para fins de turismo,

negócios, passaportes diplomáticos e de serviço (BRASIL, 2014). Estas relações

enfatizam a profundidade da cooperação bilateral entre os dois países, não só no

plano político e diplomático, mas também a nível cultural e literária. Na seção

seguinte será apresentada a cooperação cultural e literária entre os dois países, que

ocorreu com a fuga de cérebros e intelectuais libaneses para o Brasil.

2.3 RELAÇÃO CULTURAL

A imigração libanesa começou oficialmente no Brasil por volta de 1880,

quatro anos após a visita do imperador Dom Pedro II ao Líbano (GASPARETTO,

2015; KHATLAB, 2015). Entre vários imigrantes estavam também intelectuais,

escritores e poetas fugindo do Oriente Médio devido a perseguições políticas e

religiosas durante o domínio do império otomano e também em função de problemas

sociais e financeiros. O Brasil, na época, atravessava a sua primeira fase de

urbanização e industrialização, o que tornava propício os novos negócios. Os

pensadores e escritores se beneficiaram da atmosfera de liberdade disponível no

Brasil para expressar as suas opiniões na cultura e ciência para a sociedade.

2.3.1 Na literatura

O Brasil foi um dos centros do florescimento da, literatura árabe do

Renascimento Nahda1, onde, entre outros, brilhou Gibran Khalil Gibran, inicialmente

1 Nahda foi um renascimento cultural que começou no final do século XIX e no começo do século XX

no Egito, tendo depois se espalhado para regiões como o Líbano, Síria e outras. É considerado como um período de modernização intelectual e reforma (https://pt.wikipedia.org/wiki/Al-Nahda).

Page 19: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

19

nos Estados Unidos da América (EUA) e teve repercussão mundial. No Brasil,

brilharam também Michel Maluf, Chicrallah Jorr, al-Kurani e Neme Jafet. As obras

produzidas no Brasil tiveram boa aceitação nos países árabes pela moderação e

nacionalismo sincero.

2.3.1.1 Literatura libanesa no Brasil

Segundo KHATLAB (2013), a literatura libanesa no Brasil teve seu apogeu

no final do século XIX e início do século XX, momento da grande imigração libanesa.

Os intelectuais, preocupados com a preservação da língua árabe que estava sendo

substituída pela língua turca durante o domínio do império otomano, iniciaram a

formação de grupos de pessoas que escreviam livros e fundavam jornais e revistas

em árabe. Assim, surge em 1933 a Liga Nova Andaluzia2, com o objetivo de

conservar a língua e a literatura árabe no Brasil (SANCHES, 2008). A Liga criou uma

revista com o mesmo nome, Al-Usbuat (Liga Andaluzia de Letras Árabes – 1933 a

1953), para publicar todo tipo de literatura árabe, que teve uma grande importância;

visto que os artigos e poesias publicadas representaram um rico acervo para a

literatura árabe publicadas no Brasil. Entre os escritos, surgem as poesias

românticas, mas também com cunho social (SANCHES, 2008).

2.3.1.2 Influência na literatura brasileira

A influência da literatura libanesa na cultura brasileira aparece nos escritos

do imperador D. Pedro II que em seu diário de viagem ao Líbano, em 1876,

escreveu sobre o Monte Líbano, o qual chamou de pico de neve-tampado. Vários

descendentes de libaneses se destacaram como escritores e autores e

influenciaram na literatura brasileira.

O Senador José Sarney, ex-Presidente da República do Brasil, em

companhia de sua esposa Senhora Marly Sarney, visitou o Líbano em maio de 1999,

como escritor, e lançou seu romance "O Dono do Mar", traduzido em língua árabe

pela editora Dar Al Farabi. José Sarney exprimiu a grande importância do

desenvolvimento das relações culturais entre os dois países. Em seu discurso de

2 Processo de construção e reconstrução da memória e resistência da intelectualidade árabe no Rio

de Janeiro (SANCHES, 2008)

Page 20: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

20

lançamento do romance, lembrou os grandes romancistas, poetas e filólogos, como

João Mehana, Mansour Chalitta e Houeiss, brasileiros de origem libanesa que

contribuíram na formação do povo brasileiro (AMARAL, 1999).

Hoje em dia, no Brasil, existem centenas de escolas, universidades,

instituições, associações, clubes, bibliotecas, revistas e jornais, igrejas e mesquitas

usando a língua árabe. Há mais de 1000 palavras árabes que são empregadas na

língua portuguesa, o que comprova esta influência (ZAIDAN, 2010).

2.3.2 Na música e nas artes

Os imigrantes libaneses também se destacaram na música e nas artes. Nas

artes, as odaliscas e as mil e uma noites, assim como os beduínos e mascates,

foram abordados por vários artistas, de formas diferentes. Na música, entre os

exemplos mais antigos de artistas de ascendência árabe, podemos citar Nássara e

David Nasser, que compuseram marchinhas de carnaval. Vale ainda lembrar de

descendentes de libaneses como Wanderléa da Jovem Guarda, da família Caymmi

e de músicos como Waly Salomão, João Bosco, Zeca Baleiro, Almir Sater e Frejat.

“Os libaneses se incluíram em todos os ritmos do Brasil. Eles se inseriram

naturalmente na sociedade brasileira e estão no samba, no rock, no instrumental”,

ressalta a historiadora Tambien (SANTOS, 2011).

Um grande exemplo de ator e artista descendente libanês no Brasil é

Ibrahim Sued, apresentador de televisão, colunista, crítico e jornalista. Outro libanês

que se destacou foi Aziz Nacib Ab'Saber, especialista em assuntos relacionados ao

meio ambiente e aos impactos ocasionados pela influência humana na natureza.

Dentre suas obras, destacam-se Ecossistemas do Brasil, Litoral Brasileiro e A Terra

Paulista. Outras personalidades artísticas também possuem descendência libanesa:

a atriz Tânia Calil Padis Campos (Tania Khalil), o diretor e ator de cinema e teatro

Fadlo Sabag (Fábio Sabag), o radialista, jornalista, poeta e escritor Alziro Abrahão

Elias David Zarur (Alziro Zarur) e até Sabrina Sato Rahal, atriz, modelo, humorista e

repórter brasileira. Mouhamed Harfouch é outro famoso ator brasileiro na televisão

nacional.

Na música, Roberto Frejat apresenta destaque como guitarrista, cantor e

compositor. Sobre a safra atual de cantores de descendência libanesa, destacam-se

ainda Mariana Aydar, Bruna Caram e Marina Elali. Estes artistas e músicos de

Page 21: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

21

origem libanesa misturavam arte e música oriental, com arte e música brasileira,

proporcionando um som agradável e de sucesso. Foram instalados no Brasil vários

estabelecimentos de café libanês, com musica ambiente típica do país de origem.

Na dança, destaca-se o interesse brasileiro pela chamada dança do ventre. Na

seção seguinte falaremos sobre a cooperação entre os dois países sobre a cultura e

a educação.

2.3.3 Cooperação cultural e educacional

Animados pelo desejo de desenvolver e fortalecer os laços de amizade e

confiança, com o objetivo de promover a cooperação bilateral nos setores da cultura,

educação e esporte, vários acordos de reciprocidade foram assinados entre o Brasil

e o Líbano, desde 1948. O Embaixador do Brasil no Líbano, Jorge Kadri afirmou que

havia um “longo caminho a percorrer” (SARRUF; CARRIERI, 2014). Ele pretendia

levar estudantes brasileiros para o Líbano por meio do programa Ciência Sem

Fronteiras, promovido pelo governo federal, que financia estudos de brasileiros no

exterior. Ele também pretendia ampliar a participação na área educacional militar,

pois havia somente 11 jovens militares das Forças Armadas Libanesas em

intercâmbio com a Marinha do Brasil (SARRUF; CARRIERI, 2014).

Como exemplo de cooperação entre os dois países, em 2010, foi assinado

um acordo entre o Arquivo Nacional do Brasil e o Instituto de Arquivos Nacionais do

Líbano, impulsionado pelo desejo de entender a história da imigração libanesa

(LÍBANO, 2010). Também ocorrerá a maior aproximação entre as cidades do Rio de

Janeiro e Beirute para aprofundar os laços de amizade e protocolo de cooperação

(BRASIL, 2009).

Além disso, em 2011, foi inaugurado, em Beirute, o Centro Cultural Brasil-

Líbano, que organiza palestras, exposições e aulas de língua portuguesa

(BARBOUR, 2011). Existem também outras organizações como a Fundação

Maronita3, que promove viagens de jovens entre 20 e 28 anos de origem libanesa ao

país árabe. O objetivo dessas viagens é conhecer a história local e dos maronitas

(FUNDAÇÃO, 2014).

3 A Igreja Maronita é uma igreja cristã, do rito oriental, em plena comunhão com a Sé Apostólica, ou

seja, reconhece a autoridade do Papa, o líder Igreja Católica Apostólica Romana. É tradicional no Líbano e os Maronitas são os Cristãos Católicos Orientais que devem seu nome a São Maron (disponível em http://www.igrejamaronita.org.br/conteudos/pgpadrao.asp?MDU6Mjg6NDd8MTQ=).

Page 22: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

22

Outras centenas de associações e instituições espalhadas em todas as

cidades brasileiras representam o intenso vínculo do Brasil com a cultura libanesa,

dentre elas a Federação das Entidades Líbano-Brasileiras do Estado do Rio de

Janeiro, o Clube Monte Líbano, a Câmara de Comércio, Indústria e Agricultura

Líbano-Brasileira do Estado do Rio de Janeiro, o Clube Sírio Libanês do Rio de

Janeiro, a Liga Libanesa do Brasil, a Igreja Maronita, a Missão Libanesa Maronita do

Brasil – Igreja N. S. do Líbano, a Sociedade Damas N. S. do Líbano, a Igreja

Ortodoxa, a Sociedade Ortodoxa de São Nicola, a Associação Ortodoxa de

Senhoras, o Lar Nossa Senhora da Glória, a Igreja Melquita, o Conselho Greco-

Católico Melquita, a Associação Beneficente de Senhoras São Basílio, a Associação

Cultural Líbano-Friburguense, o Clube Monte Líbano de Campos, o Clube Líbano-

Fluminense, a União Cultural Kataeb Líbano-Brasil – Seção Rio de Janeiro, a

Associação Cultural Gibran, a Associação Cultural Líbano-Goytacá (ACLIG) e a

Comunidade Libanesa de Campo Grande. Estas associações, instituições e clubes,

sem dúvida, contribuem para a consolidação da cooperação e intercâmbios culturais

e artísticos, tornando mais fácil a comunicação e a troca de experiências entre os

dois povos.

2.4 RELAÇÕES ECONÔMICAS

A presente seção apresentará o histórico sobre as relações econômicas

entre o Líbano e o Brasil, dados sobre a economia libanesa e as ações de

cooperação realizadas entre os dois países na área econômica.

2.4.1 Histórico

Diferente de outras correntes migratórias, os libaneses não vieram para o

Brasil com intuito de trabalharem em lavouras. Eles começaram a vida como

mascates4 e, com o tempo, se tornaram grandes varejistas e industriais. Espalhados

por todo país, se concentraram em maior parte na região sudeste, onde estavam

ligados a economia. O comércio funcionava como um local de hospitalidade para os

4 Mascates foi o nome dado no Brasil aos mercadores ambulantes e vendedores de "porta a porta",

também chamados de “turcos da prestação” (disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Caixeiro-viajante).

Page 23: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

23

imigrantes da primeira geração (GASPARETTO, 2015). Em São Paulo, eles

desenvolveram uma sociabilidade própria nessas áreas comerciais e estas regiões

se transformaram em lugares de identidade para o grupo. Próximo às lojas da rua 25

de Março e arredores começaram a surgir restaurantes libaneses, foi construída a

Igreja Ortodoxa da Anunciação a Nossa Senhora, além de muitas instituições

culturais e esportivas da comunidade.

Ainda hoje é comum, tanto na rua 25 de Março quanto no Brás, em São

Paulo, imigrantes e descendentes tomarem café e almoçarem juntos. Muitas lojas

recebem nomes de família ou alguma outra denominação que faça referência ao

local de origem. Elas também exibem imagens de santos cristãos e trechos do

Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. Mesmo quem não mora no local costuma ir

às igrejas e mesquitas, fazer compras de produtos árabes nestas áreas, como uma

forma de se reconhecerem e de se sentirem em casa (BERNARDES, 2014).

A exportação de produtos libaneses para o Brasil baseou-se principalmente

por alimentos, bebidas e vestuário. Em contrapartida, o Líbano passou a importar

vários produtos brasileiros, resultando, cada vez mais, em aumento no comércio

entre os dois países, como veremos a seguir.

2.4.2 Economia libanesa

O setor industrial libanês representa 22% de seu PIB. O setor de serviços

contribui com 71% do PIB libanês. O setor de maior destaque é a atividade

financeira e comercial. Os principais países fornecedores do Líbano são: EUA

(11%); China (9%); França (8%); Itália (7%); e Alemanha (6,3%). Em 2014,

máquinas e equipamentos elétricos representaram 20,8% das exportações do

Líbano, seguido de joias (12,9%), produtos químicos (10,6%) e alimentos (6,7%). As

exportações do Líbano foram destinadas, principalmente para: Emirados Árabes

Unidos; Suíça; Iraque; Síria; e Arábia Saudita. Em 2014, os combustíveis minerais

representaram 27,0% das importações libanesas, seguido por máquinas (12,2%),

equipamentos de transporte (12,1%) e farmacêutica (4,4%). O turismo no Líbano

mostrou novamente um dinamismo especial, e em 2008 ultrapassou a cifra de dois

milhões de turistas. Cerca de 70% do Investimento Estrangeiro no Líbano é

proveniente da Arábia Saudita, 20% dos Emirados Árabes Unidos, 7% do Qatar e

3% do Kuwait. O Líbano é membro do Fundo Monetário Internacional, da

Page 24: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

24

Organização Mundial do Comércio, do Grupo Banco Mundial, do Conselho de

Cooperação do Golfo, do Banco Islâmico de Desenvolvimento, da Comissão

Econômica e Social para Ásia Ocidental (CESAO), e da Grande Área de Livre

Comércio Árabe (FAZENDO, 2015).

Os dados citados acima mostram que a economia libanesa depende das

importações, o que ofereceu oportunidades para a entrada de produtos brasileiros

no mercado libanês. A importação de produtos brasileiros tem aumentado nos

últimos anos e é esperado que seja incrementado ainda mais, após a assinatura de

acordos entre os dois países para reduzir as taxas aduaneiras.

2.4.3 Cooperação econômica bilateral

Em 2003, durante a visita do ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da

Silva ao então Presidente do Líbano Michel Sleiman, foi criado o Conselho

Empresarial Brasil-Líbano e foram assinados cinco acordos de cooperação. O

objetivo era incrementar o comércio bilateral a partir de estímulos aos setores de

grãos, frutas secas, óleos e azeites. No mesmo ano, as exportações brasileiras para

o Líbano acumularam US$ 285,2 milhões em favor do Brasil. Em 2013, o Brasil

exportou US$ 338,45 milhões em produtos para o Líbano e importou US$ 26,3 milhões

(BRASIL, 2015d; GIRALDI, 2010; MERCOSUL, 2014).

Existe a possibilidade de que o comércio entre os dois países aumente ainda

mais. Há um grande desejo libanês de que seja assinado um acordo para a

promoção de investimentos e outro para evitar a dupla tributação, situação em que

um mesmo fato gerador de receita, como uma exportação, é tributado no país de

origem e no de destino. Este acordo facilitaria o Líbano e outros países da região,

pois seria mais barato a operação, estimulando o incremento comercial entre Líbano

e o Brasil (MERCOSUL, 2014).

Adicionalmente, com o intuito de ampliar as relações comerciais entre os

países do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e as nações árabes, o Mercosul

assinou, em dezembro de 2014, memorandos de entendimento com o Líbano, para

discutir sobre produtos que poderão ser beneficiados futuramente por reduções de

alíquotas de importação em ambos os lados (MERCOSUL, 2014).

Há possibilidade de o Brasil investir, futuramente, na área de prospecção de

petróleo nas Águas Jurisdicionais Libanesas (AJL). Recentemente, foram

Page 25: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

25

descobertas reservas de petróleo e gás nas AJL, sendo que há uma controvérsia

entre o Líbano e Israel, em relação aos limites de fronteira marítima entre os dois

países. Em 2012, o então Presidente libanês Michel Sleiman requisitou ao então

Vice-Presidente brasileiro Michel Temer a possibilidade da Petrobrás fazer a

prospecção e a exploração de petróleo e gás em áreas ainda inexploradas do

Líbano, localizadas principalmente no mar. o que abriria caminho para uma

cooperação a longo prazo entre os dois países (BRASIL, 2012b).

Outra possibilidade de investimento futuro, segundo o Primeiro-Ministro

Najib Mikati, seria a aquisição de aviões executivos produzidos pela empresa

EMBRAER para demanda do mercado regional, inicialmente pelo Líbano e mais

tarde, por outros países do Oriente Médio, justificando a instalação de um escritório

da empresa, em Beirute (BRASIL, 2012b).

Esse bom relacionamento entre os dois países, inclusive na área comercial,

facilitou a decisão brasileira de participar da força de paz no Líbano, assumindo a

liderança da FTM da UNIFIL. A presença do Brasil no Oriente Médio demonstra o

seu interesse em resolver problemas de segurança e paz da região, firmando a sua

posição como um país que aspira entrar no clube das grandes potências globais. Na

seção seguinte será apresentado o que significa a UNIFIL, bem como o que

representa a presença militar brasileira nesta missão de paz da ONU.

Page 26: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

26

3 A UNIFIL E A FORÇA-TAREFA MARÍTIMA (FTM)

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) foi estabelecida em

1978 para confirmar a retirada das Forças Israelenses do sul do Líbano, bem como

para devolver a paz e a segurança internacional e assistir o Governo Libanês na

retomada da sua autoridade na região (UN, 1978a, 1978b). Em 2006, após a 2ª

Guerra do Líbano, ela teve seu mandato ampliado e foi reforçada por novos

contingentes. Atualmente, a UNIFIL conta com aproximadamente 13 mil militares de

35 países, posicionados ao sul do Líbano, entre o rio Litani e a fronteira com Israel e

ao longo do litoral (UNIFIL, 2013b, 2015a; UN, 2006b). A UNIFIL foi a primeira e

única Missão de Paz da ONU a contar com uma Força-Tarefa Marítima (FTM), que,

atualmente, é comandada pela Marinha do Brasil (BRASIL, 2015f; NAÇÕES, 2011,

SALEH, 2014; UNIFIL, 2015a).

3.1 A RAZÃO PARA O ESTABELECIMENTO DA UNIFIL

Depois de serem expulsos da Jordânia, em 1970, muitos palestinos se

refugiaram no Líbano. A partir de 1970, a Organização para a Libertação da

Palestina (OLP) começou a usar o sul do Líbano como base para seus ataques

contra Israel, o que levou Israel a realizar ataques e incursões armadas na região.

Dessas operações, a maior ocorreu em 14 de março de 1978. Em resposta à

invasão israelense, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou

duas resoluções. Na primeira (UN, 1978a), pedia o cessar-fogo e obrigava as Forças

de Defesa de Israel (FDI) a recuarem até a sua fronteira. Na segunda (UN, 1978b),

criava a UNIFIL, responsável por fiscalizar a retirada israelense e ajudar o governo

libanês a manter a paz e a ordem naquela parte do país (SILVA, 2006).

3.1.1 A Primeira Guerra Líbano-Israel, em 1978

A OLP realizou ataques a Israel, a partir do sul do Líbano, com o objetivo de

alcançar sua meta política de destruição do Estado de Israel, o que levou às Forças

de Defesa de Israel (FDI) a realizarem ataques e incursões armadas no território

libanês. Dessas operações, a maior foi em março de 1978, depois que ataque de

terroristas da OLP fez 38 vítimas civis em Israel. Como resultado, as forças armadas

Page 27: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

27

israelenses entraram no sul do Líbano, onde ficaram por cinco dias. O primeiro

ataque de grande envergadura no sul do Líbano, batizado de Operação Litani teve

como finalidade, segundo Israel, proteger o norte de seu território de combatentes

da OLP. Como resultado disso, a UNIFIL foi implementada (SILVA, 2006).

3.1.2 A Segunda Guerra Líbano-Israel, em 1982

Em 1982, o Líbano se encontrava em guerra civil há sete anos (1975-1982).

As milícias dos diferentes grupos lutavam entre si e com os palestinos. Em junho de

1982, o governo israelense lançou uma ofensiva militar oficial para expulsar as

forças da OLP do país. No dia 6 de junho de 1982, as tropas israelenses invadiram o

Líbano, em operação batizada de Paz na Galiléia. Após ter sitiado Beirute durante

dois meses, o Exército israelense forçou o chefe da OLP, Yasser Arafat, 11.000

combatentes palestinos e milhares de soldados sírios a deixar a capital libanesa. No

dia 15 de setembro, as forças israelenses entraram em Beirute. Depois de

alcançado o objetivo oficial, em 1982, os israelenses permaneceram no país sob a

alegação de que sua presença era necessária para evitar o retorno dos grupos da

OLP e o consequente reinício dos bombardeios ao norte de Israel (GUERRA, 2015).

Como reação à ocupação, nessa mesma época, surgiu o partido Hezbollah5.

Em junho de 1985, ocorreu a retirada de Israel. O Exército israelense mantinha o

controle de uma zona de segurança ao longo da fronteira com a milícia da força

israelense presente no sul do Líbano (Força Israelense do Sul – FIS) (GUERRA,

2015).

No período de 25 a 31 de julho de 1993, uma nova operação israelense

contra o Hezbollah, no sul do Líbano, deixou 132 mortos, em grande maioria civis,

provocando o êxodo de centenas de milhares de libaneses. Em 11 de abril de 1996,

Israel iniciou uma operação contra o Hezbollah, batizada Vinhas da Ira. Foram

seiscentos ataques aéreos israelenses em 16 dias. A invasão deixou 175 mortos no

lado libanês, a maior parte civis. Em 24 de maio de 2000, Israel se retirou do sul do

5 Hizbollah ou Hezbollah (“partido de Deus”, em árabe) é uma organização com atuação política e

paramilitar fundamentalista islâmica xiita, sediada no Líbano. É uma força significativa na política libanesa, responsável por diversos serviços sociais, além de operar escolas, hospitais e serviços agrícolas para milhares de xiitas libaneses. É considerado um movimento de resistência legítimo por grande parte do mundo islâmico e árabe. (disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Hizbollah)

Page 28: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

28

Líbano, pondo fim aos 22 anos de ocupação. O Hezbollah se apoderou da região

(GUERRA, 2015).

3.1.3 Retirada Israelense, em 2000

Desde os acordos de Taif, em 1989, que puseram fim à Guerra Civil (1975-

1990), o Líbano se encontrava em um processo de reconstrução e de

restabelecimento de suas instituições democráticas. A decisão de retirar as tropas

israelenses até julho de 2000 foi aprovada pelo gabinete israelense, em 05 de

março. No dia 17 de abril, a ONU foi formalmente comunicada da decisão, que

deveria ser cumprida seguindo o estabelecido na Resolução 425 (UN, 1978a). A

retirada israelense foi concluída no dia 25 de maio de 2000, o que foi confirmada

pelo Secretário Geral da ONU, em 16 de junho (UN, 2000).

3.1.4 Fazendas de Xebá

A retirada do exército israelense do sul do Líbano, no ano 2000, não foi

completa e Israel manteve sua tropas, nas Fazendas de Xebá, uma vila libanesa que

possui cerca de 35 km2, localizada na fronteira entre Líbano, Israel e Síria.

Consequentemente, o Líbano só consideraria completa a retirada israelense quando

as Forças de Defesa de Israel tivessem saído daquele local. O governo libanês

informou que a comissão de fronteiras dos dois países (Líbano e Síria) havia

incorporado as fazendas ao Líbano, em 1964. Para comprovar, em 15 de maio de

2000, enviou à ONU um mapa de 1966 que mostrava a região como parte do

Líbano. Como solução, o Secretário-Geral das Nações Unidas resolveu adotar a

linha de fronteira presente nos mapas de 1966, que o governo libanês usava nas

operações da força de paz há 22 anos. O grupo Hezbollah, por sua vez, lutou para

liberar o território libanês da ocupação israelense (SILVA, 2006).

3.1.5 Fronteira Quente

Depois de 2000, o exército israelense manteve as operações militares no

Líbano, bem como empregaram aeronaves invadindo o espaço aéreo, com o intuito

de forçar a retirada libanesa das Fazendas de Xebá.

Page 29: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

29

As Fazendas de Xebá são foco de tensão e preocupação. De acordo com

Silva (2006):

A leitura dos relatórios da UNIFIL revelou que se concentraram, nas Fazendas de Xebá, a maior parte dos combates entre o Hezbollah e as FDI, entre junho de 2000 a julho de 2006. Foi lá, em outubro de 2000, por exemplo, que o movimento libanês sequestrou três soldados israelenses. (SILVA, 2006)

Em 14 de abril de 2001, um soldado israelense foi morto no setor das

Fazendas de Xebá (sudeste) durante um ataque do Hezbollah, provocando uma

resposta de Israel, que bombardeou pela primeira vez desde 1982 as posições sírias

no Líbano, resultando em dois mortos. Em 21 de janeiro de 2003, houve um

bombardeio israelense contra as cidades do sul do Líbano e um ataque do

Hezbollah no setor de Xebá, resultando no primeiro civil libanês morto desde 2000

(SILVA, 2006).

Em 28 de dezembro de 2005, houve uma incursão israelense nos arredores

de Beirute, após disparos de foguetes contra Israel. Em 12 de julho de 2006, ocorreu

uma ofensiva terrestre e aérea israelense no sul do Líbano após a captura de dois

soldados israelenses pelo Hezbollah. O Hezbollah atacava alvos israelenses -

militares na grande maioria ou ainda civis. A resposta vinha sob a forma de

bombardeios aéreos ou de artilharia ou aeronaves israelenses rompendo a barreira

do som sobre o território libanês. A partir desta data, o CSNU decidiu, por

unanimidade, prorrogar o mandato da UNIFIL até 31 de agosto de 2006 (SILVA,

2006). Entretanto, durante este período, o ataque do Exército israelense no sul do

Líbano levou ao estabelecimento de uma Força-Tarefa Marítima na UNIFIL, o que

iremos abordar no parágrafo seguinte.

3.2 A RAZÃO PARA O ESTABELECIMENTO DA FTM

Após a eclosão da guerra em julho de 2006, a Marinha israelense impôs um

bloqueio naval aos portos libaneses, aparentemente para impedir a entrada de

armas ao Hezbollah, o que refletiu negativamente sobre a economia libanesa, que é

depende de importações transportadas pelo mar (SMITH, 2006).

Em 06 de setembro de 2006, o Primeiro-Ministro libanês Fouad Siniora

enviou uma carta ao Secretário-Geral da ONU Kofi Annan, solicitando o envio de

uma FTM ao Líbano, com o intuito de evitar a entrada de armas ilegais em seu país

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30

(UNIFIL, 2013b, 2015a). Assim, a FTM da UNIFIL foi criada, sendo inicialmente

formada pela European Maritime Force (EUROMARFOR), com o intuito de auxiliar a

Marinha do Líbano na prevenção do contrabando de transferências ilegais. Como

resultado da chegada da MTF ao Líbano, foi encerrado o bloqueio aos portos

libaneses, realizado por Israel (UNIFIL, 2015a).

3.2.1 A Guerra de 2006

Como toda história, esta também tem uma origem. Apesar de o sequestro de

dois soldados israelenses, no dia 12 de julho de 2006, ser considerado o estopim da

guerra, as causas do conflito são mais profundas. No contra-ataque para tentar

libertar os prisioneiros libaneses e palestinos de prisões israelenses, morreram cinco

soldados israelenses. A reação seguinte foi a invasão do sul do Líbano. No primeiro

dia, as tropas israelenses entraram seis quilômetros no interior do país. A Marinha

Israelense, por sua vez, iniciava o bloqueio dos portos libaneses. Ao mesmo tempo,

a aviação de Israel atacava pontes, estradas e aeroportos para evitar a saída dos

prisioneiros.

Neste contexto, o Hezbollah tinha dois objetivos, como disse o líder da

organização, xeique Hassan Nasrallah em entrevista coletiva (SILVA, 2006). O

primeiro objetivo era trocar os sequestrados por libaneses presos em Israel, ainda

na época da ocupação. O outro objetivo da organização era ajudar na luta dos

palestinos com Israel em Gaza (ARKIN, 2007). O líder do Hezbollah ameaçou atacar

tanto o norte quanto o centro de Israel se os bombardeios continuassem, o que

realmente fizeram (SILVA, 2006).

Nesta época, as FDI estavam envolvidas em operações militares para

pressionar o Hamas6 a devolver um outro soldado sequestrado. Os israelenses

pretendiam, quando a guerra começou, além de resgatar os dois soldados

sequestrados, expulsar o Hezbollah da zona de fronteira, desarmar o movimento

(como previsto pelas resoluções do Conselho de Segurança 1559 e 1680) e evitar o

rearmamento da organização (UN, 2004, 2006a). Com base em sua experiência, as

forças de paz da ONU não seriam a resposta adequada, sendo preferível o emprego

6 O Hamas (em árabe, “Movimento de Resistência Islâmica”) é uma organização palestina, de

orientação sunita, que inclui uma entidade filantrópica, um partido político e um braço armado. É o mais importante movimento fundamentalista islâmico da Palestina. (disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Hamas)

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31

da FDI (SILVA, 2006). Ainda no dia 12 de julho, o então Primeiro-Ministro israelense,

Ehud Olmert, responsabilizou o governo libanês pelo conflito, qualificando os

ataques não como atos terroristas, “[...] mas a ação de um Estado soberano que

atacou Israel sem razão e sem provocação” (HISBOLÁ, 2006). Ele declarou que a

intenção do ataque era desestabilizar a região e, como o Hezbollah era parte

daquele governo, o Líbano arcaria com as consequências. Após este episódio, a

aviação israelense bombardeou alvos civis por todo o Líbano, atacando à usina

termoelétrica de Beirute e, provocando assim, o vazamento de óleo combustível da

usina que poluiu o mar Mediterrâneo, atingindo, em especial, as praias. Os ataques

causaram ainda a morte de quatro soldados da UNIFIL (ONU, 2006).

Posteriormente, realizaram o ataque à Qana, onde morreram 28 pessoas, na maioria

crianças e mulheres que se escondiam em um prédio (SILVA, 2006).

Como consequência desta guerra, o CSNU aprovou a resolução 1701, que

será melhor detalhada na seção seguinte (UN, 2006b).

3.2.2 Resolução 1701

A Resolução 1701 nasceu em um momento de grande tensão, depois de

uma batalha diplomática feroz, e foi aceita apenas em função da necessidade de

uma solução para todas as partes do conflito. Após mais de um mês de conflito

violento, Israel e Hezbollah foram conscientes dos limites do seu poder militar e

relutantes em continuar as hostilidades. O Brasil apoiou a proposta francesa que

previa primeiro à cessação de hostilidade para depois discutir o que os americanos

chamavam de cessar-fogo durável. As divergências com relação à forma de

cessação das hostilidades, contudo, dividiram as posições dentro do Conselho de

Segurança da ONU (SILVA, 2006).

No dia 9 de agosto, o primeiro-ministro israelense concordou em retirar suas

tropas do sul do Líbano, à medida que 15 mil homens da UNIFIL ocupassem as

posições das Forças de Defesa Israelenses (FDI) (SILVA, 2006).

A decisão israelense era vista como uma condição positiva pelos franceses,

que visavam obter algum tipo de ganho com o governo libanês. Caso não fosse

feito, a diplomacia francesa temia o enfraquecimento do governo libanês e o

fortalecimento do Hezbollah. A resposta encontrada foi a retirada progressiva das

tropas israelenses, concomitantemente com a substituição pelas tropas da UNIFIL e

Page 32: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

32

do Exército Libanês (SILVA, 2006). Essa solução está presente na Resolução 1701,

do Conselho de Segurança da ONU, aprovada por unanimidade no dia 11 de agosto

(UN, 2006b).

Na resolução 1701 ficou estabelecido que a busca pelo cessar-fogo

permanente entre as duas partes deveria ser feito observando, principalmente, os

seguintes princípios: cumprir o estabelecimento de uma zona livre de armas entre a

fronteira Líbano-Israel e o rio Litani7; implementar medidas para prevenir a retomada

das hostilidades; retirar as forças estrangeiras que se encontram no Líbano sem a

permissão do governo; realizar o embargo a venda de armamento e material de

guerra para o Líbano, não autorizado pelo seu governo; e realizar a demarcação da

linha de fronteira entre os dois países, especialmente áreas incertas ou em disputa,

como as fazendas de Xebá. Para realizar suas tarefas, a UNIFIL foi autorizada

ampliação dos efetivos para 15 mil homens (UN, 2006b).

3.2.3 O pedido do governo libanês

Após o sucesso da diplomacia internacional para tomar a decisão de parar

as hostilidades, o Primeiro-Ministro Siniora enviou uma carta ao Secretário-Geral da

ONU Kofi Annan, pedindo o estabelecimento de uma FTM subordinada ao

comandante da UNIFIL (UNIFIL, 2013b). A FTM tinha como objetivo impedir a

entrada de armas ilegais no Líbano por via marítima, bem como realizar o

treinamento da Marinha Libanesa (Lebanese Armed Forces-Navy - LAF-N) (UNIFIL,

2013b).

Esta foi a primeira FTM criada para participar de uma missão de paz da

ONU (UNIFIL, 2015a). A moderação e imparcialidade da diplomacia brasileira

estavam relacionadas a este contexto, conforme abordado no parágrafo a seguir.

3.2.4 A posição brasileira durante a Guerra de 2006

Por ocasião do início das hostilidades, em 12 de julho de 2006, o Itamaraty

enviou uma nota à imprensa condenando os ataques ao norte de Israel e o

7 O rio Litani (em português “leões”) é um importante rio do sul do Líbano, que possui 140 km de

extensão. Nasce à oeste da cidade de Baalbek, no Vale do Bekka, e desemboca no Mar Mediterrâneo, ao norte da cidade de Tiro, localizada cerca de 30km da fronteira com Israel. (Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Litani)

Page 33: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

33

sequestro dos dois soldados, bem como pedindo o cumprimento das resoluções da

ONU referentes ao tema, que poderia agravar a frágil situação política e humanitária

da região (SILVA, 2006). Por isso, conclamava todas as partes a se conterem e

buscarem o diálogo para evitar novos enfrentamentos, cujas primeiras vítimas

seriam os civis, de ambos os lados.

No dia 15 de julho, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) brasileiro

comunicou a retirada dos primeiros 17 brasileiros do Líbano. Até o dia 2 de agosto,

cerca de 2,25 mil brasileiros tinham sido retirados do país pelo MRE, via Turquia, em

aviões da Força Aérea Brasileira (SILVA, 2006).

No campo político, o governo brasileiro entrou em contato com os principais

líderes. Ao mesmo tempo em que enfatizava “a importância de se encontrar uma

solução pacífica para o conjunto dos problemas”, os representantes brasileiros

davam prioridade a obtenção de um cessar-fogo o mais rápido possível, para evitar

mais mortes de civis (SILVA, 2006).

3.3 PAÍSES LIDERAM A FTM

Depois de ser tomada a decisão de criar uma FTM, era preciso procurar

quais países poderiam participar desta força. Era a primeira vez que a ONU decidia

criar uma força naval. Inicialmente, a FTM foi formada por meios navais da OTAN,

mais precisamente a EUROMARFOR, sofrendo alterações mais tarde. Seguindo

este passo, vários países componentes da força assumiram sua liderança, conforme

apresentado a seguir.

3.3.1 Alemanha e EUROMARFOR lideram a FTM

Em 15 de outubro de 2006, a EUROMARFOR foi liderada pela Alemanha

sob o comando da UNIFIL, sendo inicialmente formada, em 1995, por meios navais

da Alemanha, França, Itália, Portugal e Espanha. Em 29 de fevereiro de 2008, a

Alemanha passou o comando para Itália e, em seguida, a Itália passou o comando

para a França, no período de 1º de setembro de 2008 a 28 de fevereiro de 2009. Em

1º de março de 2009, a França entregou o comando da FTM para a Bélgica. Em 30

de maio de 2009, a Bélgica entregou o comando para a Itália. A Itália transferiu a

autoridade da FTM para a Alemanha, em 31 de agosto, e a Itália assumiu o

Page 34: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

34

comando novamente, em 1º de dezembro de 2009 (UNIFIL, 2015a). Em 2011, foi a

vez do Brasil assumir o comando da FTM, sendo que ainda exerce o comando

atualmente (setembro de 2015) (BRASIL, 2015f, 2015g; COMANDANTE, 2012;

NAÇÕES, 2011).

3.3.2 BRASIL lidera a FTM

Em 24 de fevereiro de 2011, o então Contra-Almirante Luiz Henrique Caroli,

assumiu o comando da FTM da UNIFIL, sendo a primeira vez que a FTM ficou sob o

comando de um país não integrante da OTAN (NAÇÕES, 2011).

Em novembro de 2011, o primeiro navio brasileiro, no caso a Fragata União,

chegou ao Líbano, assumindo a função de navio capitânia. Em 25 de fevereiro de

2012, o Contra-Almirante Wagner Lopes de Morais Zamith assumiu o comando da

FTM e, em 17 de maio de 2012, a Fragata Liberal substituiu a Fragata União. Em 19

de fevereiro de 2013, o comando da FTM foi entregue ao Contra-Almirante Joese de

Andrade Bandeira Leandro, a bordo da Fragata Constituição. Em 26 de fevereiro de

2014, o comando da FTM foi entregue ao Contra-Almirante Walter Eduardo

Bombarda, a bordo da Fragata Liberal. Em 26 de fevereiro de 2015, o comando da

FTM foi entregue ao Almirante Flávio Macedo Brasil (DONADIO, 2011; UNIFIL,

2012, 2013a, 2014, 2015b).

Além da relevante participação brasileira, outros 14 países contribuíram para

a FTM, dentre eles Bangladesh, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, França, Alemanha,

Grécia, Indonésia, Itália, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suécia e Turquia. A

UNIFIL - FTM é atualmente composta por um navio do Brasil, dois navios de

Bangladesh, um navio da Alemanha, um navio da Grécia, um navio da Indonésia e

um navio da Turquia (COMANDANTE, 2012).

3.4 TAREFAS DA FTM

A FTM foi estabelecida, por solicitação do governo libanês, com o intuito de

realizar duas tarefas principais. A primeira delas é realizar Operações de Interdição

Marítimas (OIM), a fim de coibir a entrada não autorizada de armas ou material por

mar, no Líbano, especialmente no seu mar territorial, até seis milhas náuticas da

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35

costa. A segunda tarefa é realizar o treinamento da LAF-N, a fim de que seja capaz

de realizar OIM por conta própria (UNIFIL, 2015a).

3.4.1 Operações de Interdição Marítima (OIM)

O raio de ação marítima, sob a responsabilidade dos militares brasileiros, é

de 205 km de costa, sendo estabelecida uma área de operações (Area of Maritime

Operations – AMO), cerca de quatro vezes maior do que o mar territorial libanês

(Territorial Water - TTW), e 25% menor que a zona econômica exclusiva (ZEE)

libanesa. Dentro da AMO, a FTM estabeleceu zonas para seus navios realizarem a

vigilância, com vista a maximizar um alerta precoce de movimento de navios de

entrada e de seu identificação antes de entrarem no mar territorial libanês. A figura 1

abaixo, apresenta a AMO e as zonas estabelecidas.

Figura 1 – Área de Operações Marítima da FTM (UNIFIL, 2013b)

Page 36: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

36

Para a realização das OIM, as seguintes atividades têm que ser realizadas

pelos navios da FTM, em coordenação com a LAF-N: busca e detecção de navios

na AMO, especialmente aqueles que se dirigem aos portos libaneses; indicar à LAF-

N os navios que devem ser inspecionados pelas autoridades portuárias, com o

intuito de evitar a entrada de armamentos ilegais; realizar treinamento com pessoal

da LAF-N embarcado, bem como realizar exercícios com navios libaneses (UNIFIL,

2013b).

Desde que a FTM foi criada, mais 63.000 navios foram interrogados, sendo

que mais de 6.000 foram inspecionados por autoridades libanesas (UNIFIL, 2015b).

3.4.2 Aumento da capacidade da LAF-N

A segunda tarefa da FTM é realizar o treinamento da LAF-N (UNIFIL,

2015b). As atividades da FTM incluem a formação de oficiais e da tripulação, bem

como o embarque de libaneses nos navios da FTM.

Segundo o Almirante Caroli (Anexo A), a FTM treina os instrutores libaneses,

o que permite aos militares da LAF-N conduzir os adestramentos. Em paralelo, a

MTF auxilia a LAF-N a criar normas e publicações para orientar seus adestramentos.

Em sua opinião, o pessoal da LAF-N estava bem preparado e pronto para assumir

as tarefas da MTF. O único impedimento para isso era a falta de navios com

capacidade para resistir a condições adversas de mar.

A LAF-N possui condições limitadas em suas bases navais para realizar a

manutenção e reparo de seus navios, o que acarreta uma baixa disponibilidade dos

meios navais.

3.5 PREPARO E DIFICULDADES

Como em qualquer missão, o início da missão brasileira no comando da

FTM foi muito difícil (CAROLI, 2015). O Comando anterior (Comando da Itália)

deixou a missão seis meses antes da chegada do Almirante Caroli e de seu estado-

maior. A estrutura de comando havia sido desativada e todos os documentos foram

levados. Segundo o CAlte Caroli, as dificuldades eram inúmeras, não havia

informações detalhadas e ninguém que pudesse ajudar (CAROLI, 2015).

Page 37: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

37

3.5.1 Dificuldades enfrentadas pelo Brasil no comando da FTM

A primeira dificuldade do estado-maior brasileiro a frente da FTM foi reativar

a estrutura de comando baseada nos documentos e procedimentos da OTAN.

Posteriormente, todas as normas operacionais tiveram que ser refeitas, para o

padrão da ONU. Vários documentos e mensagens padronizadas foram modificados.

Em paralelo, era preciso criar um senso de unidade nos diversos navios da FTM,

haja vista que eles atuavam como unidades isoladas, obedecendo às doutrinas

nacionais e se reportando diretamente ao Comandante da Força (CAROLI, 2015).

No que tange ao apoio logístico, ocorreram alguns problemas que foram

contornados após orientações dos responsáveis pelo apoio logístico da UNIFIL, não

afetando o cumprimento da missão pelo navio (CAROLI, 2015).

Já em relação a moral das tripulações dos navios da FTM, não foi observado

nenhum problema. Cumpre destacar a importância das licenças periodicamente

previstas pela ONU, para a manutenção da moral da tripulação (CAROLI, 2015).

Havia uma dificuldade de Comando e Controle, mais especificamente de

comunicação entre os navios da FTM, tendo em vista que não trafegavam entre si, de

forma segura (empregando criptografia). Assim, a FTM solicitou à UNIFIL a aquisição

de um sistema de comunicações codificados para que fossem empregados

exclusivamente pelos navios da FTM.

Além das dificuldades que surgiram durante a execução das tarefas,

também surgiram muitos desafios, que serão abordados na próxima seção.

3.5.2 Desafios enfrentados pelo Brasil no comando da FTM

A UNIFIL é a única missão de paz da ONU em ambiente marítimo composta

por navios e tripulações militares de vários países (UNIFIL, 2015b).

Segundo o Almirante Caroli, um desafio enfrentado durante seu comando foi

liderar um grupo de diferentes nacionalidades, onde as diferenças culturais,

religiosas e operacionais, que tem que ser respeitadas, exigia outras preocupações

além do desempenho operativo (CAROLI, 2015).

Outro desafio para a FTM, mais especificamente as tripulações dos navios,

era a presença de organizações terroristas e grupos extremistas no Líbano, o que

elevava a tensão. Exemplo disso durante o Comando do Almirante Caroli, foi a

Page 38: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

38

realização de três ataques a UNIFIL com Improvised Explosive Device8 (IED), o que

limitava os deslocamentos por terra (CAROLI, 2015).

Na opinião do Almirante Caroli, a participação militar brasileira em operações

como a UNIFIL, proporciona uma excelente oportunidade para as tropas serem

empregadas em missões reais, além de poderem operar com forças armadas de

outros países.

3.6 PLANOS PARA O FUTURO

Como mencionamos anteriormente, uma das tarefas principais da FTM é

treinar a LAF-N, até que as forças navais de segurança libanesas sejam capazes de

realizar essas tarefas por conta própria, especialmente no mar territorial libanês.

3.6.1 Transferência da tarefa

Para alcançar a transferência da tarefa, a FTM trabalhou para treinar e

equipar o LAF-N, para que esta pudesse realizar no futuro, com seu potencial

próprio, todas as tarefas necessárias. Neste contexto, a LAF-N recebeu ajuda de

países como a Alemanha, EUA, Reino Unido, Arábia Saudita, Emirados Árabes

Unidos e também do Brasil, incluindo o envio de barcos, navios e equipamentos

náuticos, além de treinamento e formação de seus oficiais e praças (CAROLI, 2015).

3.6.2 Continuação da realização da tarefa

Como é sabido, o equipamento náutico é muito caro e difícil de ser

comprado. Além disso, ele precisa de uma manutenção constante e de equipes

especializadas, o que não é possível de ser realizado pela LAF-N, atualmente. Por

esta razão, a FTM teve que continuar a execução de suas tarefas, bem como treinar

e equipar o LAF-N para o que, no futuro, viesse a realizar suas missões

satisfatoriamente.

8 O dispositivo explosivo improvisado é uma bomba fabricada e empregada de forma diferente das

ações militares convencionais. Pode ser construída a partir de explosivos militares, tais como de artilharia acoplada a um mecanismo de detonação. IED são comumente utilizadas como bombas de beira de estrada. (disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Improvised_explosive_device)

Page 39: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

39

Depois que explicamos neste capítulo a missão naval, falaremos no próximo

capítulo sobre a política e a estratégia do Brasil no Oriente Médio, mais

especificamente no Líbano. A participação militar do Brasil na UNIFIL tem muita

importância, por fortalecer e promover a segurança na região e por projetar o Brasil

no cenário internacional.

Page 40: HYAR, Albert Zaki. O papel do Brasil na UNIFIL

40

4 POLÍTICA E ESTRATÉGIA BRASILEIRA NO ORIENTE MÉDIO

Durante a ultima década de 2000, a política externa brasileira do governo

Lula era (ativa e altiva), juntamente com o ex-Ministro de Relações Exteriores, Celso

Amorim, que buscava, politicamente, por uma solução pacífica e negociada para as

questões da região (AMORIM, 2015). A participação do Brasil foi eficaz para auxiliar

a resolver a crise do programa nuclear iraniano, bem como o reconhecimento do

Estado da Palestina e de aproximação com os países árabes.

O Brasil participou de inúmeras operações de paz da ONU, desde 1948,

mas foi o governo Lula que estabeleceu essa nova política “altruísta” para projetar o

país no exterior (SANTOS, 2014).

As operações de paz tornaram-se uma política útil para o próprio Brasil.

Inicialmente, uma nova escola para formar militares aptos a participarem em

operações de paz. O ex-Presidente Lula explicou a estratégia brasileira no Líbano e

no Oriente Médio, em uma palestra na Assembleia Nacional libanesa, em dezembro

de 2003, em Beirute. O objetivo por trás da cooperação e da parceria entre o Líbano

e o Brasil, seria ter acesso ao Oriente Médio. A entrada do Brasil no Líbano facilitaria

a circulação de pessoas e de negócios, fortaleceria o comércio entre os dois países

e entre o Brasil e os países da região (SILVA, 2003).

Nas palavras do ex-Presidente Lula, o Líbano poderia contar com o Brasil

como um aliado na defesa de seus legítimos interesses nacionais e no

desenvolvimento do Oriente Médio. Por essa razão foi proposto, pelo presidente

Lula, a realização da Cúpula América do Sul­Países Árabes (ASPA), no Brasil, em

2004 (SILVA, 2003).

No presente capítulo serão analisados os aspectos políticos e estratégicos

que levam o Brasil a estar presente no Oriente Médio.

4.1 POLITICA DO BRASIL NO ORIENTE MÉDIO

Ao longo da história, principalmente a partir de 1970, quando o Brasil

começou a intensificar seus contatos com a região do Oriente Médio, a preocupação

do país foi de manter uma postura equilibrada entre as partes em conflito. Da

mesma forma, procurou respeitar os interesses e limites de cada uma destas partes.

Assim, o Brasil passou a ser reconhecido como uma das poucas nações que tentava

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41

não tomar uma posição a favor ou contra qualquer parte do conflito. A neutralidade

era sua principal característica (SILVA; PILLA, 2012).

Desde 1947, o Brasil tem mostrado interesse na questão Israel-Palestina,

caracterizado por uma política de não-alinhamento, e respeitando as resoluções das

Nações Unidas. Nos anos seguintes, e com Geisel na presidência do país, o Brasil

intensificou suas relações com os países árabes do Oriente Médio. Embaixadas

foram abertas e acordos econômicos foram assinados. As mudanças nas dinâmicas

internacionais, desde 1990, e o controle dos Estados Unidos sobre o Oriente Médio,

assim como a nova tendência da política externa brasileira no período, refletiram

essa abordagem sobre a presença brasileira na região (SILVA; PILLA, 2012).

Durante a Guerra do Golfo, um embargo imposto ao Iraque levou a uma

queda acentuada no comércio com os países árabes, e a estratégia do Brasil para o

Oriente Médio não estava clara. A aproximação com os países da região,

especialmente os árabes, foi testada apenas no final do segundo mandato do

Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando houve uma retomada das relações

comerciais entre os dois lados. Neste período, o governo manteve esta proximidade

econômica com o Oriente Médio e determinou uma série de medidas a fim de

estabelecer um diálogo político sem precedentes com os países da região. Assim,

foi criada a Cúpula América do Sul ­ Países Árabes ASPA foram realizadas

subsequentes reuniões sobre a possibilidade de esses países consultarem todas as

posições sobre diferentes temas, bem como de compartilhar experiências e

aprofundar seus laços comerciais (SILVA; PILLA, 2012).

A proximidade das relações entre o Brasil e o Líbano se alternava de acordo

com as circunstâncias até a primeira década deste século. A partir deste período,

estas relações se fortaleceram, na era de Lula (2003/2010), por meio de contatos

políticos e do ativo movimento econômico na região (SILVA; PILLA, 2012).

A política externa brasileira tem se mostrado engajada em utilizar sua

experiência diplomática para contribuir nas discussões sobre a problemática entre

israelenses e palestinos, para além do fórum das Nações Unidas, como também

ficou demonstrado na Conferência de Anápolis, de 2007. De acordo com Amorim

(2011) e Patriota (2011), o Brasil se mostra como um interlocutor importante e

necessário para os problemas da região, não só pelas suas credenciais de país

multiétnico democrático, em fase de desenvolvimento econômico e social acelerado,

capaz de compreender as particularidades dos processos políticos de diferentes

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42

regiões; mas também por sua tradição diplomática de soluções negociadas de

controvérsias (AMORIM, 2011; PATRIOTA, 2011; SILVA; PILLA, 2012).

4.1.1 Política durante a Guerra Fria (1947-1989)

No ano de 1947, durante os conflitos entre judeus e palestinos, na Palestina,

o Brasil se destacou durante as negociações na ONU pelo fato de que as sessões

da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) foram presididas por Osvaldo

Aranha, chefe da missão brasileira em Nova York. Após a retirada precipitada da

Grã-Bretanha da região, em maio de 1948, e a consequente declaração de

independência do Estado judaico, que resultou em uma guerra com os países

árabes vizinhos, a diplomacia brasileira continuou atuando no âmbito da AGNU para

que se obtivesse uma conciliação (SILVA; PILLA, 2012).

“As tensões na região médio-oriental continuaram presentes durante os anos

de 1950, mormente no Egito, onde a figura de Gamal Abdel Nasser logrou articular a

ideologia pan-árabe como nenhum outro líder regional”, segundo Silva e Pilla (2012,

p.113-114). A decisão de Nasser de nacionalizar o Canal de Suez e as restrições à

passagem de navios através do mesmo e do Golfo de Aqaba deterioraram a

situação, levando então a ataques ao Egito por parte da Grã-Bretanha, França e

Israel para forçar a reabertura do canal. O ocorrido levou o Conselho de Segurança

a reuniu-se e tomar a decisão de um cessar-fogo imediato e da liberdade de

navegação no Canal de Suez. O Brasil votou e aprovou uma resolução para o envio

de uma força de paz das Nações Unidas (United Nations Emergency Force – UNEF

I), cuja participação brasileira deu-se entre janeiro de 1957 a junho de 1967 (SILVA;

PILLA, 2012).

O governo de Kubitschek (1956-1961) enviou unidades militares para o Suez

na tentativa de reforçar a cooperação com os Estados Unidos e com a ONU, e em

função dos interesses brasileiros em tornar-se uma grande nação no bloco ocidental

(SILVA; PILLA, 2012). A Política Externa Brasileira procurou manter a equidistância

e o realismo diante do conflito entre israelenses e árabes.

Segundo Silva e Pilla (2012, p. 115-116), em 1967, Nasser enviou tropas

egípcias para a península do Sinai, pedindo que as forças das Nações Unidas se

retirassem da região. Os israelenses responderam com ataques ao Egito, a

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43

Jordânia, a Síria e a Cisjordânia e as Colinas de Golã. O Conselho de Segurança

aprovou a resolução 242 que determinava a retirada de Israel das regiões ocupadas

e a liberdade de navegação através dos canais internacionais. Neste contexto, o

Brasil manteve sua participação nas forças de paz.

O Brasil aproveitou a sua presença na região para promover as relações

econômicas com os países da região, intensificar suas relações políticas e assinar

acordos de cooperação técnica com os países do Oriente Médio (SILVA; PILLA,

2012).

Ainda segundo Silva e Pilla (2014, p.116) “em 1973, o Egito e a Síria

atacaram, de surpresa, Israel . Em resposta, Israel ordenou um contra-ataque, com

apoio de armas dos Estados Unidos. Os árabes tentaram usar o petróleo como arma

política contra o apoio norte americano. Entretanto, o Brasil intensificou as relações

econômicas e políticas com os países árabes, para manter a quota de petróleo, e

apoio contínuo para as questões árabes com a adoção de uma política para resolver

a disputa através do diálogo. O Brasil considerava, durante o período do governo de

Geisel (1974-1979), que a retirada de Israel de todos os territórios ocupados era um

pré-requisito para alcançar uma paz justa e duradoura no Oriente Médio (SILVA;

PILLA, 2012). O Iraque foi o mais proeminente do sistema de consumo de países

árabes bens e serviços brasileiros de engenharia (ROSA, 2000, p. 446-447).

Segundo Silva e Pilla (2012, p.117):

Nos anos seguintes, o Brasil buscou não apenas obter concessões para a Petrobras explorar petróleo no Oriente Médio, mas também reverter os déficits em sua balança comercial com a região, por meio de exportação de produtos primários e materiais bélicos produzidos.

Em 1975, durante a XXX Sessão da Assembleia Geral, o Brasil apoiou o

respeito pelos direitos do povo palestino à autodeterminação e à soberania como

uma condição prévia para alcançar uma paz justa e duradoura na região. O Brasil

deu continuidade, durante o governo de Figueiredo (1979-1985), a mesma política

do governo anterior, emitindo uma declaração conjunta com o Iraque para

estabelecer um escritório de representação da OLP, em Brasília. Apesar da pressão

israelense, o relacionamento contínuo com o Iraque permaneceu, por ser uma

importante fonte de petróleo (representavam cerca de 48% das importações da

Petrobras) (SILVA e PILLA, 2012, p.117-118).

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44

De acordo com Silva e Pilla (2012), “em 1982, o Presidente Figueiredo se

tornou o primeiro Chefe de Estado brasileiro a tomar a palavra no debate geral”. Ele

expressou a preocupação do Brasil em relação aos conflitos em curso no Oriente

Médio, em particular a Guerra entre o Irã e o Iraque. Ele enfatizou ainda o direito de

todos os Estados da região a viver em paz dentro de fronteiras reconhecidas. Em

função da chegada de José Sarney a presidência em 1985, ocorreram mudanças

políticas internas profundas no Brasil. A Guerra do Golfo levou a um declínio das

relações do país com Oriente Médio, em 1990, como veremos a seguir.

4.1.2 Política durante o ano de 1990

Segundo Silva e Pilla (2012, p. 119), “uma verdadeira mudança no padrão

de relacionamento do Brasil com a região do Oriente Médio ocorreu a partir do início

da década de 1990”. As relações entre o Brasil e os países árabes mudaram

significativamente neste período. A invasão do Kuwait pelo Iraque e a intervenção

militar dos EUA na região, fizeram com que o Brasil mudasse sua política no Oriente

Médio, distanciando-se e não interferindo na região (SILVA; PILLA, 2012).

O Brasil preferiu ficar longe das questões do Oriente Médio, e do processo

de paz entre israelenses e palestinos. Também não participou na conferência de

outubro de 1991, em Madrid, sobre a autonomia para os palestinos nos territórios

ocupados. No Conselho de Segurança (1993-1994), a diplomacia brasileira não se

pronunciou sobre o processo de paz; embora os Estados Unidos tenham procurado

apoio do Brasil em uma possível intervenção militar contra o Iraque (SILVA; PILLA,

2012)

4.1.3 Política do Brasil desde os anos de 2000

Com o início do século XXI, o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC)

começou a reavaliar a direção da política externa brasileira. Assim, observou-se o

crescimento contínuo dos fluxos comerciais entre o Brasil e o Oriente Médio (SILVA

e PILLA, 2012, p.123).

Após os ataques terroristas contra os Estados Unidos, em 11 de setembro

de 2011, o Brasil ficou ao lado dos Estados Unidos. Com a retomada de Lula a

presidência em 2003, o Brasil restaurou seu papel histórico com o Oriente Médio,

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45

buscando articulações variadas com diversos países do mundo para fortalecer a

posição brasileira no contexto internacional (SILVA e PILLA, 2012, p.124). Em visita

do ex-Presidente Lula ao Egito, em dezembro de 2003, o Ministro das Relações

Exteriores da Autoridade Palestina, Nabil Shaath, sugeriu que o Brasil estabelecesse

um escritório de representação na cidade palestina de Ramalá, o que foi aceito e

concretizado alguns meses depois. Além disso, Shaath sugeriu ao Brasil que

enviasse um representante especial para o Oriente Médio, sendo escolhido o

Embaixador Affonso Celso de Ouro-Preto, o que fortaleceu ainda mais as relações

entre o Brasil e o Oriente Médio (AMORIM, 2011, apud SILVA e PILLA, p.125).

A evolução contínua do relacionamento entre o Brasil e os países da região

permitiu a realização da primeira Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA),

com o intuito de promover a aproximação junto ao Oriente Médio, principalmente na

área comercial. Segundo Celso Amorim, com aquela reunião “[...] estávamos

movendo as placas tectônicas da geopolítica mundial [...]” (AMORIM, 2011, p. 437).

Posteriormente, outras duas reuniões da ASPA foram realizadas, sendo a segunda

em Doha (Catar), em 2009, e a terceira em Lima (Peru), em 2012. A quarta reunião

de cúpula da ASPA está prevista para ocorrer em Riade (Arábia Saudita), em

novembro de 2015. De maneira concreta, essa aproximação alavancou um aumento

do comércio entre o Brasil e os países árabes, de US$ 5,48 bilhões em 2003, para

US$ 19,58 bilhões em 2010 (AMORIM, 2011; BRASIL, 2015c; SILVA; PILLA, 2012).

Apesar do sucesso que foi alcançado pela ASPA, surgiram críticas a

respeito do acordo. Entretanto, o Brasil e seus parceiros deram continuidade na

aplicação da agenda acordada para o desenvolvimento econômico, político e

cultural. Neste período, o Brasil discordou da resolução 1559 do CSNU, de 2004, a

qual apoiava a realização de eleições presidenciais no Líbano e condenava a

presença de tropas estrangeiras no país, bem como a ação de milícias. O Brasil

considerou que esta decisão era dirigida contra a Síria, por isso absteve-se de votar,

pela primeira vez, uma resolução sobre o Oriente Médio (SILVA E PILLA, 2012,

p.126).

Na Conferência Geral de 2007 em Anápolis, a postura brasileira apresentou-

se otimista, “talvez porque o país estava se mostrando mais abrangente do que os

seus antecessores” (SILVA E PILLA 2012, p.126). O país contribuiu para a

recuperação do Centro Hospitalar e Cultural da Sociedade do Crescente Vermelho

Palestino na Faixa de Gaza. Também participou do desenvolvimento de projetos

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com a Autoridade Palestina, como a construção de um centro esportivo em Ramalá,

e a formação de associações juvenis de esportes e técnicos. O Brasil também

assinou um acordo de livre comércio entre Israel e o MERCOSUL, estabelecendo o

diálogo político com Tel Aviv, com a primeira visita de um Presidente brasileiro ao

país, em 2010 (AMORIM, 2011; PATRIOTA, 2011 apud SILVA e PILLA, 2012,

p.126).

O Brasil buscou apoiar a investigação nuclear no Irã para fins pacíficos, da

mesma forma que agiu com a causa palestina. O país também contribuiu para

chegar a uma solução para a crise com a Agência Internacional de Energia Atômica

(AIEA), com ênfase nos direitos do Irã de desenvolver um programa nuclear pacífico.

Neste contexto, o Presidente Lula reuniu esforços para assinar um acordo entre Irã e

Turquia. As partes comprometeram-se a transferir 1.200 kg de urânio iraniano para a

Turquia, que seria responsável por estocar o material enquanto que França e Rússia

o enriqueceriam em 20%. Esta proporção não é suficiente para uso militar, mas

suficiente para fins pacíficos. No entanto, o acordo não foi assinado em função da

recusa dos Estados Unidos e de seus aliados (AMORIM, 2011; SILVA; PILLA,

2012).

Segundo Silva e Pilla (2012, p. 128), apesar do fracasso para se chegar ao

acordo nuclear, as relações comerciais entre o Irã e o Brasil continuaram e a

Petrobrás foi autorizada a explorar petróleo na região, em 2003. Os dois países

assinaram também um memorando de entendimento que previa a intensificação dos

contatos e do comércio entre ambos. O Brasil é o oitavo exportador para o Irã,

principalmente de carros, alimentos, minerais e medicamentos. O volume de

intercâmbio comercial entre os dois países cresceu em 2 milhões de dólares (SILVA;

PILLA, 2012).

Em relação ao primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff, constata-se

uma tentativa de manutenção do engajamento brasileiro diante dos países do

Oriente Médio. Entretanto, em 2011, a política do Brasil na região passou por um

declínio, provavelmente decorrente da Primavera Árabe na Tunísia, que também

atingiu a Líbia, o Egito, o Iraque e a Síria (SILVA; PILLA, 2012). Todo o contexto da

política do Brasil no Oriente Médio era baseado em resoluções de litígios por meios

pacíficos. O Brasil rejeitava a injustiça e buscava o direito ao respeito e ao

reconhecimento dos povos da região. Esta postura dá ao Brasil a oportunidade de

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desempenhar um papel ainda maior na política, futuramente. O país possui todas as

capacidades físicas, econômicas, tecnológicas e militares para tal feito.

4.2 ESTRATÉGIA

Como vimos nos parágrafos anteriores e através da avaliação da atividade

política dos governos brasileiros, não houve uma estratégia explícita para alcançar

objetivos políticos e econômicos no Oriente Médio.

A atuação do Brasil na região após a Segunda Guerra Mundial foi o

resultado de relações antigas com alguns países e povos da região, incluindo o

Líbano. Então, nesta seção faremos uma relação da estratégia de defesa e

econômica do Brasil no Oriente-Médio com as atividades políticas, militares e

econômicas.

4.2.1 Estratégia de defesa

A atividade política e militar do Brasil na região mostra alterações

associadas à política externa brasileira de sucessivos governos, desde a Primeira

Guerra Mundial até hoje.

A Estratégia Nacional de Defesa (END 2012) estabelece que as Forças

Armadas devem estar preparadas para desempenharem responsabilidades

crescentes em operações internacionais de apoio à política exterior do Brasil. A END

aborda, também, que deve ser buscado o incremento do adestramento e da

participação das Forças Armadas em operações internacionais, dando-se ênfase

nas operações de paz e ações humanitárias, integrando as forças de paz da ONU

ou de organismos multilaterais da região. De acordo com a END, o fortalecimento do

sistema de segurança coletiva é benéfico à paz mundial e à defesa nacional

(BRASIL, 2012a). O país sempre evitou envolver-se em conflitos ou em coalizões

militares, como aconteceu na Guerra do Golfo.

Esta estratégia Militar do Brasil no Oriente Médio visa:

a) Fortalecer a participação na ONU, em todos os organismos que

favoreçam seus interesses;

b) Mostrar a sua capacidade militar, o que o colocaria entre os principais

países com potencial para intervir em todas as regiões do mundo;

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c) Ampliar as relações diplomáticas internacionais;

d) Concretizar os mecanismos de segurança no Oriente Médio;

e) Ajudar o Líbano e os países da região a desenvolverem as suas forças

militares;

f) Participar na busca por soluções pacificas para os problemas da região;

g) Assinar um acordo de defesa conjunta com os países da região para a

paz;

h) Reaproximar os povos do Oriente Médio por meio do diálogo e do

entendimento;

i) Participar e ampliar sua atuação nessas missões. No caso da UNIFIL, foi

oferecido ao Brasil o Comando da MTF, cargo de destaque em uma das principais

missões da ONU;

j) Modernizar as armas e equipamento militar que aumente as capacidades

para realizar tarefas;

k) Pedir apoio dos países da região para que o Brasil venha a integrar o

Conselho de Segurança de forma permanente;

l) Aumentar a cooperação de segurança para combater o terrorismo;

m) Trocar experiências com os militares da região no domínio da formação e

implementação de missões de combate;

n) Cooperar com os países que participam nas missões de manutenção de

paz sob a égide da ONU;

o) Intensificar as reuniões militares, continuamente, e a troca de informações

entre as Forças Armadas, através dos adidos militares e delegações;

p) Proteger os interesses e negócios existentes entre os dois países, há

décadas; e

q) Apresentar as indústrias militares e incentivar a entrada de concorrência

no mercado.

Qualquer estratégia defensiva deve levar em conta a proteção do território e

da entidade nacional para defender e manter a sustentabilidade de seus interesses

econômicos. O parágrafo seguinte irá explicar a estratégia econômica do Brasil no

Oriente Médio por meio de sua presença militar no Líbano.

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4.2.2 Estratégia Econômica

A economia continua a ser a base sobre a qual um Estado torna-se forte e

eficaz. Sem ela, não é possível construir exércitos e, portanto, não há como proteger

a pátria. Sem uma economia forte não é possível construir uma sociedade instruída

e saudável que trabalhe para desenvolver e modernizar as suas capacidades.

Os Estados devem desenvolver suas estratégias de forma compatível com o

seu potencial econômico e de seus recursos naturais e localização geográfica,

aspectos os quais o Brasil é abençoado. Todos os recursos naturais básicos de sua

indústria permitem que o país desenvolva seus recursos humanos para se tornar um

dos maiores exportadores de tecnologia avançada. O Brasil pode competir com seus

avanços em suas capacidades científicas e industriais. Um exemplo é sua estratégia

econômica no Oriente Médio, que tem sido capaz de superar expectativas nos

últimos dez anos.

O Brasil baseia sua estratégia econômica em relações políticas e sociais de

confiança mútua de longa data. O Brasil foi capaz de construir essas relações

através de posições políticas claras que nunca foram alteradas.

Os seguintes aspectos determinaram a estratégia econômica brasileira no

Oriente Médio:

a) Aumentar o fluxo comercial e aprofundar a cooperação cultural, técnica e

educacional;

b) Criar uma parceria mais profunda e mutuamente proveitosa com o Líbano

e outros países;

c) Utilizar plenamente o potencial que o Líbano representa como porta de

entrada histórica para todo o Oriente Médio;

d) Reforçar as ligações marítimas e aéreas, facilitando o trânsito de pessoas

e de negócios;

e) Promover novas parcerias entre países em desenvolvimento;

f) Estabelecer uma agenda voltada para a cooperação econômica, política e

cultural;

g) Cooperação entre os bancos para facilitar a transferência de fundos, e

para o fluxo financeiro entre os milhares de Libaneses e árabes;

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h) A inscrição da Petrobrás na concorrência para fazer a prospecção e a

exploração de petróleo e gás em áreas ainda inexploradas do Líbano e outros

países de Oriente-Médio;

i) Abrir um escritório da Embraer em Beirute e outras fábricas brasileiras

para atender as necessidades dos mercados locais;

j) Configurar exposições para mostrar os produtos de todos os tipos e

marketing de consumo;

k) A conclusão de acordos bilaterais para facilitar a redução das alfândegas

e impostos, permitindo que os países exportar para o Brasil o que precisa do

mercado local e, assim, reduzir o déficit na balança comercial.

Todos os itens acima concluem que o movimento econômico pode ser

observado no berço de suas visitas diplomáticas, na presença política e militar do

Brasil no Oriente Médio. Acredita-se que o Brasil pode seguir um bom caminho para

implementar uma estratégia de sucesso, esta já confirmada pelos resultados

impressionantes e pelo progresso contínuo de suas relações comerciais. Parece

que, com o tempo, a demanda por produtos brasileiros irá aumentar, já que o Brasil

tem as matérias-primas necessárias para estas indústrias e emprega tecnologia

avançada.

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5 CONCLUSÃO

A relação entre o Líbano e o Brasil começou desde a visita do Imperador

Dom Pedro II, ao Oriente Médio, provocando a migração dos libaneses para o Brasil

(chegando, atualmente, a cerca de 10 milhões de libaneses e descendentes de

ascendência libanesa), onde as oportunidades de emprego estavam disponíveis

para todos. Esta relação evoluiu, no último século, para um ótimo relacionamento

entre os dois Estados, estreitando laços sociais, econômicos e culturais. Assim,

tornou-se necessário, após a segunda Guerra Mundial, o envolvimento do Brasil na

crise da região, através do envio de soldados para as forças de manutenção da paz

das Nações Unidas, que representavam seus esforços diplomáticos para reconciliar

as partes em conflito.

A presença efetiva dos descendentes libaneses na vida política, econômica

e social no Brasil foi fundamental para a construção de uma espécie de afinidade do

Estado ao povo libanês, bem como aos seus direitos. Esta proximidade levou à

intervenção militar das forças navais brasileiras efetivamente sob os auspícios das

Nações Unidas (UNIFIL) para a segurança e estabilidade na região.

Conclui-se que a principal razão para a formação desta força naval, à pedido

do governo libanês, foi a retirada do bloqueio naval imposto por Israel na costa

libanesa durante a guerra de julho de 2006. Também se compreende que a

participação brasileira nesta força veio como um resultado do desejo do Brasil em

atender o chamado da Organização das Nações Unidas. Esta postura representava

seus interesses, políticos e econômicas, como o de ocupar um assento permanente

no Conselho de Segurança da organização. O país queria voltar à cena política e

participar através de soluções para as divergências internacionais no Oriente Médio.

Economicamente, esta postura interessava ao Brasil na medida em que o

permitia entrar nos mercados do Oriente Médio, promovendo assim o comércio com

os países da região e o estabelecimento de alianças econômicas. Estas relações

tornavam o Brasil uma força econômica efetiva e não estão sujeitas ao domínio dos

EUA.

Em relação a participação brasileira na Força-Tarefa Marítima da UNIFIL,

primeira e única força naval de uma operação de paz da ONU, percebe-se que a

Marinha do Brasil (MB) teve que reorganizar as unidades sob seu comando. A

doutrina de combate e os documentos normativos foram refeitos, em substituição

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aos planos regulamentares que tinham um foco para unidades da OTAN. entre as

unidades navais de diferentes países foram comandadas por um país não

pertencente à OTAN. Isso mostra como a experiência e o profissionalismo do

Almirante Caroli, primeiro comandante da FTM-UNIFIL não pertencente aos países

da OTAN, bem como de outros oficiais da MB permitiram que a missão

desenvolvesse este trabalho e instalasse um controle naval eficaz na região. A

Marinha do Brasil desempenhou um papel fundamental no treinamento e formação

da Marinha Libanesa, permitindo que esta se prepare para, futuramente, ser capaz

de executar todas as tarefas que lhes serão exigidas.

A política brasileira para com o Oriente Médio alterna-se de acordo com as

circunstâncias políticas na região, como a guerra entre os estados árabes e as

intervenções militares dos EUA nos anos 1990. A hegemonia dos EUA e a ausência

da Rússia no Oriente Médio fizeram com que o Brasil relutasse em intervir,

especialmente por ocasião do envolvimento militar dos EUA contra o Iraque.

Entretanto, as razões do recuo diplomático brasileiro não são provenientes apenas

de eventos externos. A situação política interna também influencia na tomada de

decisão. Os governos do Brasil de 1985 a 2000 não mostraram qualquer interesse

em estabelecer relações com os países do Oriente Médio. Esta distância foi mantida

até a era do Presidente Lula.

Desde 2000, temos visto um retorno forte e eficaz da política brasileira na

região, onde as autoridades têm intensificado visitas, fortalecendo os acordos

políticos e comerciais, o que refletiu positivamente no volume de intercâmbio

comercial com o Líbano e com os países locais. É claro que a relação entre o Brasil

e os países da região na época de Lula foi bem sucedida. A estratégia de defesa e

econômica alcançou objetivos políticos definidos e as relações comerciais

testemunharam um crescimento considerável.

O relacionamento entre o Brasil e o Líbano demonstra uma convergência e

harmonia em objetivos políticos. O Brasil precisa definir um ponto de apoio para

reaproximar-se da região. O Líbano, por sua vez, precisa construir um pilar

internacional e imparcial e aceitável para todas as partes libanesas, com o intuito de

proporcionar segurança em seu país, para poder estimular a sua economia.

O Líbano historicamente vincula o Oriente ao Ocidente. Assim, o Brasil

queria fazer do Líbano uma ponte para a construção de um forte relacionamento

com os países do Oriente Médio. O desejo do Brasil de participar na extração de

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petróleo e gás no Líbano e, provavelmente, nos países vizinhos, é acompanhado por

um desejo recíproco libanês.

Neste pensar, então, concluímos que a missão militar na região suporta os

objetivos econômicos e políticos do Brasil, mas também beneficia o próprio Líbano.

Os resultados apresentados podem ser a resposta para algumas perguntas

levantadas durante o desenvolvimento deste trabalho. Entretanto, ainda há uma

série de questões e tópicos em aberto que podem ser respondidos futuramente.

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54

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ANEXO A - Entrevista com o Vice-Almirante Luiz Henrique Caroli

1 – Por quê o Brasil decidiu participar da UNIFIL?

R. de VA CAROLI: O Brasil tem por princípio constitucional contribuir com a paz

mundial. Como decorrência, a Política de Defesa Nacional estabelece como um de

seus Objetivos de Defesa a participação em missões de paz. Nesse sentido, o país

tem buscado ampliar sua atuação nessas missões. No caso da UNIFIL, foi oferecido

ao Brasil o comando da MTF, cargo de destaque em uma das principais missões da

ONU. Adicionalmente, existem laços históricos entre os dois países (Líbano e

Brasil), fato que muito provavelmente contribuiu para a decisão brasileira de integrar

a missão.

2 – Como descreveria o trajeto da vossa missão como Comandante da Força-Tarefa

Marítima (FTM) da UNIFIL, comandando várias unidades navais de diferentes

países, sendo que as doutrinas são às vezes diferentes?

R. Como qualquer missão, o início foi muito difícil. O Comandante anterior (ITÁLIA)

deixou a missão seis meses antes. A estrutura de comando havia sido desativada e

todos os documentos foram levados. Não dispúnhamos de informações detalhadas

e ninguém que nos ajudasse. O primeiro desafio foi reativar a estrutura de comando

baseada nos documentos e procedimentos da NATO. Posteriormente, tivemos que

reescrever todas as normas operacionais específicas para a ONU. Vários

documentos e mensagens padronizadas foram alterados. Em paralelo, era preciso

criar um senso de unidade nos diversos navios da FTM, haja vista que eles atuavam

como unidades isoladas, obedecendo às doutrinas nacionais e se reportando

diretamente ao Force Commander.

3 – Como se desenvolve a coordenação entre o Comando da FTM da UNIFIL e a

Marinha Libanesa? Houve algum problema/dificuldade no nível da comunicação e da

transmissão?

R. Normalmente, os contatos entre a UNIFIL e a LAF eram realizados através do

Liason Officer do Force Commander. Mas a MTF possuía uma ligação técnica com a

LAF-Navy, uma vez que uma de suas tarefas era adestrar a Marinha Libanesa para

que ela assuma, num futuro breve, a missão da MTF. Assim, os contatos eram

permanentemente realizados pelos N-7 (training), a fim de executar os

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adestramentos e exercícios programados. Ademais, havia reuniões regulares entre

os Comandantes e seus Estados-Maiores, onde eram discutidos assuntos de

interesse comum. Essas reuniões eram chamadas de “Flag Talks” e eram realizadas

em diferente locais.

O relacionamento entre a LAF-Navy e a MTF era excelente. Ao longo de meu

Comando as duas partes estabeleceram uma relação de cooperação e confiança

que facilitou em muito o cumprimento de nossa missão. Considero que a integração

entre as duas foi perfeita e que ao longo do tempo ela se transformou em amizade

pessoal entre os Comandantes e Oficiais de EM.

4 – A composição da FTM era suficiente para concretizar as tarefas que lhe foram

atribuídas ou precisou pedir apoio adicional em alguma situação?

R. Sim. Durante meu comando, a composição da FTM variou de 5 a 9 navios, sendo

um deles um Tender da Marinha Alemã que não executava Maritime Inderdiction

Operations (MIO). Essa quantidade de navios nos permitia, normalmente, cumprir

nossa meta que era de manter uma média diária de três navios no mar. Esses três

navios eram suficientes para controlar toda nossa Área de Operações Marítimas

(AMO). Eventualmente, pelas condições adversas de mar, avarias ou mesmo por

feriados religiosos, não conseguíamos guarnecer a área com três navios, o que não

era comum ocorrer. De qualquer forma, nunca precisamos pedir apoio adicional para

o cumprimento da missão.

5 – Houve alguma influência a distância entre Líbano e o Brasil durante vossa

missão, no que diz respeito ao apoio logístico ou ao moral da tropa?

R. No que tange ao apoio logístico, ocorreram alguns pequenos problemas que

foram contornados e não chegaram a afetar o cumprimento da missão pelo navio.

Essas questões foram logo resolvidas, após nosso pessoal ter sido orientado pelos

responsáveis pelo apoio logístico da UNIFIL.

Quanto ao moral da tropa, não observamos nenhum problema. Cumpre destacar a

importância das licenças (leave) para a manutenção do moral da tripulação.

6 – Quais melhorias na coordenação/execução das operações ocorreram durante o

vosso Comando?

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R. Não fizemos mudanças na execução das operações. Elas seguiam o mesmo

padrão que era adotado pelos ex-comandantes da MTF. As mudanças introduzidas

foram na coordenação das operações. Os comandantes anteriores, por serem

europeus, utilizam as normas e publicações da OTAN. Por isso, precisamos criar

normas e procedimentos da ONU. Para tal, tivemos que alterar as publicações e

formatos de mensagens. No que diz respeito ao Comando e Controle (C2),

solicitamos à UNIFIL a aquisição de um sistema de transmissão de dados e voz

codificados para que fossem empregados exclusivamente pelos navios da MTF.

Infelizmente, essa solicitação não foi atendida durante o meu comando.

7 – Quais foram os óbices/dificuldades enfrentados durante o vosso Comando?

Aconteceram situações perigosas de ataques/situações desconfortáveis durante

vossa missão? Existe a possibilidade das unidades navais responderem a ataques?

R. A principal dificuldade foi a necessidade de alteração dos documentos

empregados pelos navios para o cumprimento de suas tarefas.

Durante meu comando, a UNIFIL foi atacada por três vezes com Improvised

Explosive Devices (IED), o que limitava nossos deslocamentos por terra.

As Regras de engajamento (ROE) adotadas pela MTF dão aos navios a autorização

para autodefesa. Portanto, caso eles fossem atacados, eles responderiam aos

ataques.

8 – Como a Marinha libanesa tem sido treinada pela FTM, quais seriam os

empecilhos encontrados que impedem a Marinha Libanesa de executar tal missão

por conta própria?

R. A MTF treinava o pessoal da LAF-Navy. Entretanto, devido às normas de rodízio

adotadas pela LAF, o pessoal que era treinado, após algum tempo, regressava aos

contingentes terrestres. Isso obrigava a MTF a reiniciar o treinamento

frequentemente. Durante meu comando, a MTF passou a treinar os instrutores

libaneses, o que permitiu aos militares da LAF-Navy conduzir os adestramentos. Em

paralelo, a MTF auxiliou a LAF-N a criar normas e publicações para orientar seus

adestramentos.

Em minha opinião, o pessoal da LAF-N estava bem preparado e pronto para assumir

as tarefas da MTF. O único impedimento para isso era a falta de navios com

capacidade para resistir a condições adversas de mar.

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9 – O que faria diferente caso fosse nomeado novamente como Comandante da

FTM?

R. As dificuldades que encontramos foram decorrentes da falta de informações

durante a fase de preparação para a missão. A única mudança que faria seria levar

um número maior de oficias e praças brasileiros. Ao longo de meu comando,

apresentamos à MB a proposta de aumentar o número de oficiais e praças brasileiros

no EM da MTF, o que foi aceito e executado no comando do então CA Zamith.

10 – O que a FTM pode fazer para auxiliar na questão do impasse da fronteira

marítima entre Líbano e seus países vizinhos a demarcacao da fronteira maritima,

tendo em vista a existência de recursos naturais na região (petróleo e gás)? No

futuro, seria possível incluir no mandato da FTM a proteção de plataformas de

petróleo na Zona Econômica Exclusiva Libanesa?

R. Esta questão é muito delicada. Segundo a Convenção da Jamaica (UNCLOS), o

assunto deve ser objeto de um acordo entre as duas partes. No entanto, antes disso

é preciso que a fronteira entre os dois países seja estabelecida. Só depois, seria

possível definir a fronteira marítima.

Acredito que a proteção de plataformas não pode ser incluída no Mandato da MTF,

uma vez que, para tal, a UNIFIL deixaria de ser imparcial e passaria a defender um

dos países envolvidos.

11 – Qual é a vossa previsão (visão futura) de término da FTM (transferência das

tarefas para a Marinha Libanesa)? O senhor acredita que o Brasil vai ampliar a sua

participação na UNIFIL, especificamente com Forças terrestres?

R. Como disse anteriormente, acredito que a Marinha Libanesa poderia assumir as

tarefas da MTF se tivesse navios capazes de resistir a condições adversas de mar.

No entanto, é difícil prever quando isso acontecerá.

Sobre o aumento da participação do Brasil com tropas terrestres, é possível que

ocorra desde que haja uma redução do contingente brasileiro no Haiti. As duas

missões ao mesmo tempo exigiria um grande esforço logístico de ambas as Forças

(MB e EB).

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12 – Qual a visão estratégia sobre a participação do Brasil no Líbano, no âmbito das

expressões Política, Militar (Segurança e defesa) e Econômica/Desenvolvimento?

R. Sou favorável à participação do Brasil na UNIFIL, haja vista os fortes laços

culturais que existe entre os dois países. Do ponto de vista político e de relações

internacionais, essa participação dá uma grande visibilidade ao País e demonstra a

intenção do Brasil DCE contribuir com a paz e segurança internacionais. Na visão

militar, é uma excelente oportunidade para as tropas serem empregadas em

missões reais, além de poderem operar com forças armadas de outros países. Nos

aspectos econômicos, isso serve para aumentar as relações comerciais entre o

Líbano e o Brasil.

Coronel Albert Hyar – Exército Libanês

Rio de Janeiro, 23 de março de 2015.