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Conceito de Paidéia É na Grécia que começa a "História da Educação" com sentido na nossa realidade educativa atual. De fato, são os Gregos quem, pela primeira vez, coloca a educação como problema. Já na literatura grega se vêm sinais de questionamento do conceito, seja na poesia, seja na tragédia ou na comédia. Mas é no século V a. C., com os Sofistas e depois com Sócrates , Platão , Isócrates e Aristóteles que o conceito de educação alcança o estatuto de uma questão filosófica. É claro que os ideais educativos da Paidéia que vão ser desenvolvidos no século V a. C. se baseiam em práticas educativas muito anteriores. Como sublinha Werner Jaeger, grande estudioso da cultura grega, num célebre estudo justamente intitulado Paidéia "Não se pode utilizar a história da palavra Paidéia como fio condutor para estudar a origem da educação grega, porque esta palavra só aparece no século V" (Jaeger, 1995: 25). Inicialmente, a palavra Paidéia (p a i d e i a), (de paidos - p a i d o s - criança) significava simplesmente "criação dos meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu. Arete O conceito que originalmente exprime o ideal educativo grego é o de arete (arete). Originalmente formulado e explicitado nos poemas homéricos, a arete é aí entendida como um atributo próprio da nobreza, um conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como a bravura, a coragem, a força, a destreza, a eloqüência, a capacidade de persuasão, numa palavra, a heroicidade. Kaloskagathia O alargamento do ideal educativo de arete surgiu nos fins da época arcaica, exprimindo-se então pela palavra kaloskagathia (kaloskagathia).

I - Conceito de Paidéia

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Conceito de Paidéia

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Conceito de Paidia

Conceito de Paidia

na Grcia que comea a "Histria da Educao" com sentido na nossa realidade educativa atual. De fato, so os Gregos quem, pela primeira vez, coloca a educao como problema. J na literatura grega se vm sinais de questionamento do conceito, seja na poesia, seja na tragdia ou na comdia. Mas no sculo V a. C., com os Sofistas e depois com Scrates, Plato, Iscrates e Aristteles que o conceito de educao alcana o estatuto de uma questo filosfica.

claro que os ideais educativos da Paidia que vo ser desenvolvidos no sculo V a. C. se baseiam em prticas educativas muito anteriores. Como sublinha Werner Jaeger, grande estudioso da cultura grega, num clebre estudo justamente intitulado Paidia "No se pode utilizar a histria da palavra Paidia como fio condutor para estudar a origem da educao grega, porque esta palavra s aparece no sculo V" (Jaeger, 1995: 25).

Inicialmente, a palavra Paidia (p a i d e i a), (de paidos - p a i d o s - criana) significava simplesmente "criao dos meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra est muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu. Arete O conceito que originalmente exprime o ideal educativo grego o de arete (arete). Originalmente formulado e explicitado nos poemas homricos, a arete a entendida como um atributo prprio da nobreza, um conjunto de qualidades fsicas, espirituais e morais tais como a bravura, a coragem, a fora, a destreza, a eloqncia, a capacidade de persuaso, numa palavra, a heroicidade. Kaloskagathia O alargamento do ideal educativo de arete surgiu nos fins da poca arcaica, exprimindo-se ento pela palavra kaloskagathia (kaloskagathia).

Mais que honra e glria pretendem-se ento alcanar a excelncia fsica e moral. Os atributos que o homem deve procurar realizar so a beleza (kalos - kalos) e a bondade (kagatos - kagatos).

Para alcanar este ideal proposto um programa educativo que implica dois elementos fundamentais: a ginstica para o desenvolvimento do corpo, e a msica (aliada leitura e ao canto) para o desenvolvimento da alma. No fim da poca arcaica, este programa educativo completava-se com a gramtica.PaidiaMas, se at ento o objetivo fundamental da educao era a formao do homem individual como kaloskagathos, a partir do sculo V a. C., exige-se algo mais da educao. Para alm de formar o homem, a educao deve ainda formar o cidado. A antiga educao, baseada na ginstica, na msica e na gramtica deixa de ser suficiente.

ento que o ideal educativo grego aparece como Paidia, formao geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidado. Plato define Paidia da seguinte forma "(...) a essncia de toda a verdadeira educao ou Paidia a que d ao homem o desejo e a nsia de se tornar um cidado perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justia como fundamento" (cit. in Jaeger, 1995: 147).

Do significado original da palavra Paidia como criao dos meninos, o conceito alarga-se para, no sculo IV. a.C., adquirir a forma cristalizada e definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grcia clssica.

Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de Paidia a "todas as formas e criaes espirituais e ao tesouro completo da sua tradio, tal como ns o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Da que, para traduzir o termo Paidia "no se possa evitar o emprego de expresses modernas como civilizao, tradio, literatura, ou educao; nenhuma delas coincidindo, porm, com o que os Gregos entendiam por Paidia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teramos de empreg-los todos de uma s vez." (Jaeger, 1995: 1).

Na sua abrangncia, o conceito de Paidia no designa unicamente a tcnica prpria para, desde cedo, preparar a criana para a vida adulta. A ampliao do conceito fez com que ele passasse tambm a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para alm dos anos escolares. A Paidia, vem por isso a significar "cultura entendida no sentido perfectivo que a palavra tem hoje entre ns: o estado de um esprito plenamente desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).

A educao antiga

O Tesouro de AtenasA educao antiga no era um sistema desenvolvido nem rigidamente definido.Em geral, at aos sete anos, as crianas eram educadas no gineceu, na companhia da me e das outras mulheres da casa. Depois dessa idade, as raparigas continuavam em casa, onde aprendiam os trabalhos domsticos e msica.Para os rapazes, entre os 7 e os 14 anos, embora no houvesse um programa obrigatrio, o ideal era que fossem ocupadas na prtica da Ginstica (gymnastik) e da Msica (mousik).Para alm dos professores de ginstica ou paidotribs (paidotribes) e dos de msica ou kitharists (kitharistes), no final do sculo V a.C. surge a figura dos grammatists (grammatistes) para ensinar as crianas a escrever e a ler.

Todos estes professores eram contratados diretamente pela famlia o que faz com que a educao que cada criana recebia dependesse diretamente da vontade e da capacidade financeira da famlia.

Programa de estudos Nas palestras, os rapazes aprendiam a ler, a escrever, a contar e a recitar de cor os poemas antigos (principalmente Homero e Hesodo), cuja tradio herica encerrava um elevado contedo moral.

Estudavam msica, aprendendo a tocar pelo menos a lira e iniciavam-se nos exerccios atlticos. Os mais ricos tinham um escravo ao seu servio - pedagogo - que os acompanhava e, certamente, os ajudava ou mesmo obrigava a repetir as lies.

Um pedagogo acompanhando o seu pequeno discpulo palestraAproximadamente com 16 anos de idade, os rapazes ficavam livres dos cuidados do pedagogo e interrompiam os estudos literrios e musicais.

A educao da palestra era ento substituda pela do ginsio. A continuavam a cultivar a harmonia do corpo e do esprito. Diariamente, depois da educao fsica, passeavam nos jardins do ginsio, dialogando com os mais velhos e com eles aprendendo a sabedoria e a arte de discutir as idias.

Depois dos 20 anos, o jovem tinha dois anos de preparao militar, finda a qual se tornava cidado.

O dia de uma criana grega Mal o dia surgia, o rapaz acordava e o pedagogo que, com a sua lanterna, o ajudava a lavar-se e a vestir-se;

Aps a refeio da manh, o pedagogo acompanhava o rapaz palestra onde ia aprender msica e ginstica;

Depois de um banho, o rapaz regressava a casa para almoar;

tarde regressava novamente palestra para ter agora lies de leitura e escrita;

De regresso a casa, e sempre acompanhado pelo pedagogo, o rapaz estudava as suas lies, fazia os trabalhos de casa, jantava e ia deitar-se.

No existiam fins de semana nem frias, exceto os freqentes dias de festivais religiosos ou cvicos, que constituam bons dias de descanso para os jovens gregos (cf. Castle, 1962: 65).

Educao moral"Um dos principais fins da educao consiste em formar o corao da criana. Enquanto ela se faz, os pais, o preceptor, os parentes, os mestres fatigam-na com mximas habituais, cuja impresso tais educadores enfraquecem pelos prprios exemplos. Por vezes, as ameaas e os castigos afastam a criana das verdades que ela devia amar." (Barthlemy, s/d: 36). De fato, a educao moral do jovem grego resultava do contacto direto da criana com o pedagogo, do jovem com o ancio, do menino com o adulto. Todos os mestres se uniam para dar criana exemplo de dignidade de gestos e de maneiras, de polidez e elegncia na conduta, de respeito pelas leis da cidade e pelos mais velhos. Eles ofereciam-se como modelos vivos dos quais as crianas se deviam aproximar atravs da imitao consciente e inconsciente, favorecida pela convivncia constante.

Mesmo a ginstica e a msica tinham fins morais

A ginstica visava o domnio de si e a sujeio geral das paixes razo. O objetivo era desenvolver qualidades como a pacincia, a tolerncia, a fora, a coragem, a lealdade, a devoo e a considerao dos direitos dos outros.

"Eles (os mestres de msica) familiarizam as almas dos meninos com o ritmo e a harmonia, de modo a poderem crescer em gentileza, em graa e em harmonia, e a tornarem-se teis em palavras e aes; porque a vida inteira do homem precisa de graa e de harmonia." (Plato, cit. in Monroe, 1979: 49).

Ginstica

Acompanhando a educao literria, a ginstica era praticada desde muito cedo, a partir dos sete ou oito anos. O seu ensino era confiado ao paidotribs, que era muito mais do que um monitor de ginstica. Tratava-se de "um verdadeiro educador que, sua competncia desportiva, devia reunir profundo conhecimento das leis da higiene e de tudo o que a cincia mdica grega elaborara quanto a observaes e prescries relativas ao desenvolvimento do corpo, aos efeitos dos diversos exerccios, aos regimes convenientes aos diversos temperamentos." (Marrou, 1966: 196).

Quando o paidotribs no recebia um ordenado mensal da cidade, os pais pagavam-lhe diretamente o curso inteiro de educao fsica do filho (cf. Marrou, 1966: 197).

Note-se que, ao contrrio dos jovens, o paidotribs no est nu mas pomposamente coberto com um manto de prpura

A sua autoridade representada pela insgnia que tem na mo: "uma longa vara forquilhada que lhe serve menos para indicar ou retificar a posio de um membro do que para impor uma correo vigorosa no aluno desajeitado ou que, no decorrer de uma partida, trapaceia ou tenta um golpe irregular" (Marrou, 1966: 202).

No era apenas pelo exemplo e pela prtica que se ensinava a ginstica: "nesse, como em outros domnios, os gregos haviam-se elevado acima do puro empirismo. O seu gosto pelo pensamento claro exigia uma tomada de conscincia, uma anlise minuciosa dos diferentes movimentos postos em jogo pelos exerccios" (Marrou, 1966: 197).

Tal como no ensino literrio, tambm na ginstica o mestre dispensava ao discpulo uma teoria, sob a forma de um conjunto de instrues. No que se refere ao ensino da luta, por exemplo, o paidotribs ensinava sucessivamente as diferentes posies que o lutador teria de utilizar nos cursos de combate.

Se, como diz Marrou, " a ginstica permanece o elemento, seno preponderante, pelo menos caracterstico da formao do jovem grego, o gosto pelos desportos atlticos e pela sua prtica constitui, como na poca arcaica, um dos traos dominantes da vida grega, (...)" (Marrou, 1966:185).

Na verdade, desde a poca arcaica que a Grcia propunha concursos atlticos destinados s crianas. Nestes concursos, aparecem, por exemplo, os "seniors" em oposio aos "juniors" ou entre "crianas" e "crianas plenamente crianas".

No entanto, a partir dos 15 anos que a freqncia do ginsio ganha maior relevo. A os jovens passam grande parte de sua vida exercitando-se, fundamentalmente, na corrida, no salto e na luta.

Num dos grandes ginsios da Atenas, o Cynosarges, os jovens atenienses marcavam encontro para exercitar regularmente o corpo. Mas, se verdade que a maior parte da vida dos jovens era dedicada ao treino fsico, no entanto, importa perceber que "o desporto no para os gregos apenas um divertimento; algo de muito srio, que se relaciona com todo um conjunto de preocupaes higinicas e mdicas, estticas e ticas a um s tempo." (Marrou, 1966:185)

Atletismo

Entre as modalidades desportivas mais praticadas contavam-se a corrida, o salto, a luta, o lanamento do disco e do dardo. Estas cinco modalidades - o pentathlon - constituam um conjunto habitual nos jogos olmpicos. Mais tarde, passaram a fazer tambm parte das modalidades desportivas praticadas pelos gregos, o boxe e o pancrcio.

Corrida a p

As corridas que os gregos realizavam decorriam em pistas planas e retilneas. O corredor grego partia da posio de p, com o busto inclinado para a frente e os ps muito prximos um do outro. Quando o nmero de concorrentes era elevado, procedia-se a eliminaes e a finais.

Salto em extensoNo atletismo no se praticava salto em altura nem salto em profundidade ou salto com vara. Apenas se praticava o salto em extenso com impulso. O salto sem impulso constitua um exerccio preparatrio.

"O atleta arrancava sobre uma soleira firme (...), e caa num quadrado de cho aplainado (...); o resultado obtido s era validado quando a marca dos ps era nitidamente impressa no solo (...)" (Marrou, 1966: 191).

Lanamento do DiscoDesde o fim do sculo V que o disco era feito de bronze. O tipo do disco variava conforme os lugares, as pocas e as categorias dos atletas. Os discos pesavam entre 1 a 4 kg sendo, obviamente, os discos que as crianas lanavam mais leves que os dos adultos.

Lanamento do Dardo O dardo no constitua simplesmente um desporto mas tambm uma arma de uso corrente, quer na caa, quer na guerra. "O dardo desportivo, do comprimento do corpo e da espessura de um dedo, era sem ponta, lastrado extremidade, e parece ter sido extremamente leve." (Marrou, 1966: 193).

Luta

A luta era bastante mais popular que a corrida. "Testemunha-o, de maneira bastante ntida, o fato de a palavra p a l a i s t r a significar rea de luta, servindo para designar, de maneira geral, a praa de desporto ou a escola de educao fsica.

A luta propriamente dita, ou luta a p verificava-se, como o salto, numa rea arranjada; os atletas a se defrontavam aos pares, aps sorteio; o objetivo era atirar o adversrio ao solo, sem cair" (Marrou, 1966: 194).

PancrcioO pancrcio era o exerccio mais violento e mais brutal do atletismo grego: combinao de boxe e luta, em que podiam ser usados tanto as mos como os ps ou qualquer outro meio de derrotar o adversrio.

Em limite, "trata-se de pr o adversrio fora de combate, ou porque ele desfalecia, ou porque, levantando o brao, se confessava vencido. Para isso, todos os golpes eram admitidos" (Marrou, 1966: 195).

Cuidados com o CorpoOs atletas gregos exercitavam-se completamente nus, independentemente da sua idade. Segundo Marrou (1966), "Conservavam-se os ps nus, mesmo para o salto e a corrida (...). Cabea descoberta, mesmo sob o ardente sol de vero; alguns, delicados, protegiam-se das intempries com um curioso bon de pele de cachorro" (1966: 200).

Outra prtica caracterstica da ginstica grega a das frices com uno de azeite. "(...) friccionava-se o corpo inteiro antes de todo exerccio num compartimento tepidamente aquecido. Aps uma primeira frico moderada a seco, aplicava-se azeite (...) e friccionava-se com a mo nua, docemente de incio, depois de maneira mais enrgica (levando em considerao, bem entendido, o que podia suportar a idade da criana). frico preparatria opunha-se a frico apoteraputica, que encerrava todo exerccio e era destinada a descansar os msculos e afastar a fadiga, assim como a primeira havia servido para adestr-los." (Marrou, 1966: 201). Por essa razo, o jovem atleta transportava sempre consigo um pequeno frasco de azeite. O fornecimento de azeite constitua "uma das grandes despesas de manuteno com que havia de arcar todo bom gimnasiarca" (Marrou, 1966: 201). A finalidade destas frices era principalmente higinica. Poderia, no entanto ser-lhe reconhecida outra vantagem, nomeadamente a de, com o azeite, a pele se tornar escorregadia e, deste modo, ser dificilmente agarrada pelo adversrio durante o pancrcio. Todavia, "na realidade, esse uso combinava-se com outro, cujo efeito, neste sentido, era contraditrio: devidamente massajado, o atleta cobria-se com uma fina camada de poeira" (Marrou, 1966: 201). Mas tambm este uso tinha uma finalidade higinica: regular a transpirao.MSICA

Vimos que a educao antiga compreendia um duplo aspecto: "a ginstica (gymnastikh) para o corpo, e a msica (mousich) para a alma. No entanto, a msica tinha um sentido muito mais amplo do que dado pelo significado moderno do termo. Ela significava todo o vasto domnio das musas. A poesia, o drama, a histria, a oratria, a cincia eram includas na extenso do termo.

Lio de Msica muito provvel que a criana grega deva ter recebido lies em dois locais distintos, um destinado gymnastik e o outro mousik. Embora qualquer estrutura conveniente ou espao aberto pudesse ser utilizado para o estudo da msica, alguns professores possuam palestras ou tinham acesso a estruturas especialmente construdas para servirem de salas de aula.Era com a msica que, desde a madrugada at ao pr do sol, a criana ateniense despendia a maior parte do tempo. Mas, alm de ensinar as crianas a tocar, o citarista tambm, ensina a ler e a escrever, porque para cantar os poetas preciso saber ler as suas obras.Na verdade, e par da aprendizagem de um instrumento musical, os primeiros anos da infncia eram destinados a decorar poemas homricos, poemas de Hesodo e, mais tarde, de poetas lricos e didticos. Alm desse trabalho de memorizao, as tarefas da palestra incluam a explicao do significado de palavras, frases e aluses obscuras A leitura, a escrita e o elemento literrio da educao estavam, desse modo, includos no trabalho da msica. A aprendizagem da leitura e da escrita fazia-se por processos que ns prprios usvamos, at h pouco tempo. Empregavam-se os mtodos comuns, alfabtico e silbico. No entanto, a leitura possua muito maior valor educativo do que entre ns. Como as palavras eram escritas sem nenhuma interrupo e como no existia pontuao, a leitura era um exerccio de elevada compreenso. Aps alguns anos de prtica, exigia-se uma leitura expressiva, preparatria para a declamao.

Lira

Ao fim de alguns anos dedicados ao domnio da leitura e da compreenso dos textos literrios, ensinava-se a criana a cantar poemas com acompanhamento da lira. "Possuindo algum conhecimento dos poemas de Homero, que muito cedo, sem dvida, se tornaram clssicos, o menino devia acumular, antes de tudo, um repertrio de poesias lricas, se quisesse tornar-se um dia capaz de participar honrosamente dos banquetes e de passar por um homem culto." (Marrou, 1966: 75).

Todavia, de salientar que, no sculo V, os jovens atenienses aprendiam a tocar os dois instrumentos essenciais arte musical antiga, a lira (figura esquerda) e o aulos (figura direita).

Mais tarde, o aulos perdeu prestgio em Atenas. Uma anedota clebre mostra-nos o jovem Alcibades que se recusa a aprend-lo sob o pretexto de que "a sua execuo deformava o rosto". Apesar disso, o aulos continuou a ser ensinado at que Aristteles o excluiu formalmente do seu plano de educao.

A partir dessa altura, o ensino da msica instrumental reduz-se lira de sete cordas. A lira heptacrdia era um instrumento como a nossa harpa, e cujos recursos eram muito limitados, pois possua poucas cordas, sendo estas tocadas ou com os dedos, ou com plectro de escama que equivale palheta do nosso bandolim.

Independentemente do tempo que fosse tomado pelo menino para aprender a tocar a lira, nunca se pretendia apenas destreza tcnica. A tarefa do menino era semelhante ao trabalho do velho bardo. Devia poder improvisar um acompanhamento em harmonia com o pensamento expresso no trecho recitado. Por esse motivo, exigia-se um profundo conhecimento e compreenso do poema. Assim se explica que, alm de desenvolver o sentido esttico e de expresso, o ensino da msica visasse desenvolver a harmonia da alma, correspondente harmonia do corpo obtida pela ginstica.

"A harmonia apreciada por aquele que inteligentemente se vale das Musas, no como se fosse dada para um prazer irracional, mas como uma aliada, com o propsito de reduzir o curso desarmnico da alma harmonia e concordncia consigo mesmo." (Plato, cit., in Monroe, 1979: 46).

Uma Lio de msica

Lio de msica. (Jarra autografada por Dris cerca de 490 - 480 a. C., Berlim.) Na figura acima, aparecem representadas cinco figuras: dois alunos, dois mestres e um pedagogo. Possivelmente por exigncia tcnica da pintura que o artista deu a cada menino um citarista. Na verdade, um nico mestre tinha vrios alunos, embora a maior parte da instruo, excepto a ministrada em coro, fosse individual. esquerda, est representada uma lio de lira: o mestre, barbudo e seu jovem aluno, sentados face a face, cada um cingindo, no brao esquerdo, uma lira de concha de tartaruga, heptacrdia. Na mo direita seguram o plectro, ligado lira por uma correia; com a mo esquerda, fazem vibrar as cordas. Mais direita, est representada uma lio de declamao ou de leitura: a criana, vestida, encontra-se de p repetindo uma parte de um poema diante do mestre, que segura um livro aberto. Na extremidade o pedagogo que acompanhava o menino ao citarista assiste lio (as pernas cruzadas, sinal de m educao, denotam que escravo) quer para o vigiar, quer para o auxiliar, quer simplesmente para o acompanhar de volta a casa. Na parede esto pendurados, da esquerda para a direita: uma jarra, uma lira com a correia de plectro, uma braseira, um estojo de aulos em pelica, uma lira e uma jarra.

DANA

A dana era a expresso da harmonia do pensamento por intermdio do movimento rtmico

O seu objectivo no era apenas o prazer individual. A maior parte das vezes, a dana era realizada em conjunto: em procisses cvicas, durante o treino militar, nas cerimonias do culto religioso.

Funes do Pedagogo

Entre os mestres que contribuem para a formao da infncia, encontra-se o pedagogo (p a i d a g w g o s)

Este um simples escravo ou servo, encarregado de acompanhar a criana nos trajetos quotidianos entre a casa e as palestras. Muitas vezes, "escolhia-se para este cargo algum que, devido idade, a ser aleijado, ou a sofrer de outros defeitos, fosse incapaz para os servios domsticos." (Monroe, 1979: 41). O pedagogo transportava a pequena bagagem de seu jovem amo e a lanterna que servia para iluminar o caminho. Por vezes at transportava a prpria criana, se esta estivesse fatigada.

Um jovem grego acompanhado palestra pelo seu pedagogo. (Figura retirada da pintura de um vaso) De modesto servidor, o pedagogo vai progressivamente adquirindo outras funes, nomeadamente ao nvel da responsabilidade moral e do cuidado geral sobre a criana.Na verdade, ao acompanhar a criana palestra tornava-se necessrio proteg-la contra os perigos da cidade. Porque passava com a criana grande parte do dia, o pedagogo exercia sobre o seu pupilo uma contnua vigilncia. No pois de estranhar que, pouco a pouco, lhe fosse confiada a educao moral do seu pupilo. Quer isto dizer que, apesar do seu carter servil e de pouco prestgio que muitas vezes lhe era atribudo, o pedagogo cuidava da educao moral da criana, das suas boas maneiras, do seu carter. A pequena lanterna que o pedagogo transportava e que servia para iluminar o caminho acabou assim por adquirir o estatuto de uma metfora.

Palestras e Ginsios

Durante a antiga educao ateniense, o local especfico de aprendizagem era designado, ora como palestra (palaestra), ora como ginsio (gymnasio). Estas duas palavras no so obviamente sinnimas, mas a sua distino tambm no muito clara. "Ope-se, s vezes, mas nem sempre, a palestra, escola para crianas, ao ginsio, onde se exercitavam efebos e adultos; ou ainda a palestra, escola privada, ao ginsio, instituio municipal." (Marrou, 1966: 202). At ao aparecimento dos grandes ginsios pblicos, era nas palestras que se processava a educao formal de uma criana em msica, educao fsica e gramtica. A grande maioria das palestras eram propriedade privada dos instrutores ou paidotribes (paidotribes). As crianas eram levadas a casa do paidotribs que as recebiam em sua casa, em palestras prprias arranjadas para o efeito. Assim que a criana se tornava adolescente continuava a receber treino fsico com o seu paidotribs, mas j num ginsio pblico. No entanto, a distino entre palestras e ginsios no assim to bvia uma vez que algumas palestras podero ter sido pblicas e que os ginsios pblicos tinham as suas prprias palestras. O ginsio propriamente dito "seria o conjunto formado pela reunio da palestra, do campo de exerccios cercado de edificaes diversas e do estdio, pista para corrida a p." (Marrou, 1966: 202).

Os ginsios no eram apenas edifcios pblicos onde a populao dispunha da instruo da ginstica. Para alm dos paidotribs, nos ginsios atenienses existiam tambm os gymnasiarch (gymnasiarch), que davam instruo em ginstica de manuteno a jovens e adultos.Para alm do exerccio de crianas, dos jovens e dos adultos, nos ginsios atenienses fazia-se ainda o treino de atletas para o qual havia treinadores especiais: os gymnasts (gymnastes)e os seus mais variados assistentes (aleiptes).

Treino de atletas

Os ginsios pblicos tambm tinham funes militares, mais concretamente, os jovens do sexo masculino com idades compreendidas entre os 18 e os 20 anos faziam a o seu treino militar obrigatrio.Os instrutores do treino militar eram professores oficiais do estado. Os Kosmests (kosmestes) que davam preparao tcnica. Os sophronists (sophronistes) que ensinavam a coragem e a prudncia. Para terminar, gostaramos de referir que as palestras eram estruturas simples e muito numerosas. J os ginsios "eram edifcios elaborados, monumentais, e de que se contam apenas trs em Atenas durante o perodo clssico." (Patrick, 1996: 38): o Lyceum, o Cynosarges e a Academia.

Estes ginsios foram construdos fora dos muros da cidade. "So edifcios vastos, cercados de jardins e de um bosque sagrado" (Barthlemy, s/d: 61).

Entrando-se por um ptio de forma quadrada, cada ginsio "est cercado de prticos e de peas do edifcio. Trs dos lados so ocupados por salas espaosas, providas de assentos, onde os filsofos, os retricos e os sofistas renem os discpulos. No quarto lado esto os compartimentos do balnerio e doutros usos do ginsio." (Barthlemy, s/d: 61). "As palestras tm, sensivelmente, a mesma disposio dos ginsios. (...) divises designadas a todas as espcies de banhos; onde os atletas se despem; onde os esfregam com azeite para lhes dar mais flexibilidade aos membros; onde se rolam sobre areia para que os seus adversrios possam agarr-los sem que a mo escorregue." (Barthlemy, s/d: 72).Educao Espartana

Esparta, cidade conservadora, aristocrtica e guerreira, ocupa um lugar privilegiado na histria da educao grega. Segundo Marrou, "a educao do cidado espartano no a de um cavalheiro, mas a de um soldado; insere-se numa atmosfera poltica(Marrou, 1966: 36). O objectivo era dar a cada indivduo preparao fsica, coragem e hbitos de obedincia total s leis da cidade de forma a torn-lo um soldado insupervel em bravura em que o indivduo estivesse absorvido pelo cidado. "a educao espartana, no ter mais por fim seleccionar heris, mas formar uma cidade inteira de heris soldados prontos a devotarem a sua vida ptria" (Marrou, 1966: 36). No admira pois que o jovem espartano revelasse hbitos de obedincia e uma compostura que os outros gregos possuam em muito menor grau. Todavia, "conquanto os espartanos possussem um fino senso de humor e a sua vida activa no se ressentisse da falta de alguns prazeres naturais e simples, pouco havia no seu ideal da vida bela e feliz dos atenienses. Faltavam aos espartanos os sentimentos mais delicados e a sensibilidade dos atenienses para a harmonia na conduta e especialmente para as amenidades da vida, ou para o seu aspecto cultural" (Monroe, 1979: 34). Contudo, embora predominantemente fsica e moral, a educao espartana no ignorava as artes, em especial a msica. Esta assegurava a ligao entre os aspectos fsicos e intelectuais: atravs da dana, d a mo ginstica; pelo canto, veicula a poesia.

Governada aps Licurgo por uma assembleia democrtica constituda por todos os homens livres e por um senado aristocrtico, Esparta organizou um sistema geral de educao que era dirigido por um superintendente o paidonomos. Depois de um duro treino at aos sete anos de idade, em que ficava entregue aos cuidados de sua me, o menino era retirado do lar e colocado sob os cuidados do paidonomos e dos seus diversos auxiliares que cuidavam do menino em "casernas" pblicas, custeadas pelo Estado.

"O jovem espartano requisitado pelo Estado: at morte pertence-lhe inteiramente" (Marrou,1966: 42). Dividiam-se os meninos em pequenos grupos sob a direco de lderes escolhidos em grupos de meninos mais velhos. "Dos meninos de mais de 12 anos, os mais distintos de entre eles tornavam-se companheiros favoritos dos adultos; e os ancios frequentavam constantemente seus lugares de exerccio, observando as suas demonstraes de fora e de saber, no de passagem e precipitadamente, mas como pais, guardas, governantes, de forma que em nenhuma ocasio ou lugar lhes faltavam pessoas para os instruir ou castigar" (Plutarco, cit. in Monroe, 1979: 35). Na verdade, a educao do menino era pblica. Por esse motivo todo o espartano adulto era um professor, e todo o menino espartano tinha um tutor, escolhido sob o critrio da estima mtua. O professor e o aluno no estavam unidos por nenhuma relao econmica mas por laos de amizade e afecto. assim que, mesmo fora das horas do treino regular, o menino recebia educao dos mais velhos sobre justia, honra e patriotismo, esprito de sacrifcio, domnio de si mesmo e honestidade. Na caserna, os meninos comiam em mesas comuns, ajudavam no fornecimento dos alimentos caando os animais selvagens, participavam das danas, corais e cerimnias religiosas.

O restante do seu tempo era despendido em exerccios de ginstica que constituam o elemento principal de sua educao

Entre os 18 e os 20 anos, o jovem ireno dedicava-se instruo de meninos mais jovens e ao estudo srio das armas e das manobras militares sendo submetido a severos exames de 10 em 10 dias.

Dos 20 aos 30 anos o treino tornava-se muito semelhante aos servios da verdadeira guerra. Aos 30 anos o jovem tornava-se maior de idade, mas apenas para continuar com os seus servios inteiramente devotados ao Estado e aos treinos militares necessrios.

Treinador de boxe O jovem espartano era treinado mediante formas de exerccios regulares: corrida, salto, lanamento do disco, arremesso do dardo, exerccios militares combinados com dana coral, mas principalmente, por meio da luta. A caa, ocupao das horas de folga, era tambm uma importante forma de exerccio.

Lanamento do Disco

No que diz respeito ginstica, e contrariamente aos outros gregos, os espartanos no possuam ginsios e no colocavam, como finalidade importante da ginstica e o desenvolvimento fsico harmonioso do atleta. O seu principal objectivo era a formao do soldado "destro, perspicaz, cauteloso, com autodomnio, sem medo, sem piedade, experimentado em todas as fadigas, obediente ao comando, respeitador da autoridade, capaz de agir em unssono com seus companheiros, e tendo pela morte aquele desprezo que os atenienses consideravam uma insolncia e uma impiedade" (Monroe, 1979: 37).

No entanto, a preparao militar dava aos jovens espartanos uma elevada capacidade atltica. Assim se explicam as suas frequentes vitrias nos jogos pan-helnicos. A primeira grande vitria espartana conhecida a da 15 Olimpada. Dos oitenta e um vencedores, quarenta e seis eram espartanos.

Atleta nu a correr Segundo Tucdides, aos espartanos que devem ser atribudas duas inovaes que sero depois adoptadas por todos os gregos: "a nudez completa do atleta (...) e o uso do leo para embrocao" (cit. in Marrou, 1966: pag)

Outra caracterstica interessante da educao fsica espartana o facto de ela no estar reservada aos homens. Na verdade, o atletismo feminino ilustrado, a partir da primeira metade do sculo VI, por encantadoras estatuetas de raparigas em plena corrida, levantando com uma das mos a barra da saia.

Na verdade, em oposio a qualquer outro povo antigo, os espartanos davam s mulheres praticamente a mesma espcie de educao que aos homens. O seu fim era preparar mes de guerreiros. As raparigas eram alvo de uma formao na qual a msica, a dana e o canto desempenham um papel menos importante que a ginstica e o desporto.

Retirado do site:

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/paideia/index.htmbastante interessante, vale a pena!!!