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1 I FÓRUM SOBRE ASPECTOS MÉDICOS E SOCIAIS RELACIONADOS AO USO DO CRACK Jane Lemos* INTRODUÇÃO Tendo em vista a promoção do I Fórum sobre aspectos médicos e sociais relacionados ao uso do crack pelo Conselho Federal de Medicina e a pedido da Diretoria do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco elaboramos esse documento para subsidiar participação dos nossos representantes no citado evento. O Fórum contará com duas mesas redondas que abordarão: I-Aspectos Técnicos e Éticos: epidemiologia, abordagens clinicas, dilemas ético- clínicos na assistência, acolhimento, medicina e interdisciplinaridade; II- Aspectos institucionais e Sociais: aspectos jurídicos, papel institucional do Estado, proposta do MEC para combate ao crack no sistema educacional e crack: visão da sociedade. A complexidade e gravidade da questão das drogas têm levado a sociedade a discuti-la em seus mais diversos aspectos numa perspectiva pluridimensional. Certamente, foi o que levou o Conselho Federal de Medicina, entidade cada vez mais presente e preocupada com os temas mais relevantes de nossa sociedade a propor uma discussão mais profunda sobre o uso do crack e suas nefastas conseqüências. Para elaboração deste texto contamos com a contribuição do Conselheiro José Francisco de Albuquerque, da Psiquiatra Jandira de Barros Saraiva e da Psicóloga Enildes Monteiro de Albuquerque Melo, todos com vasta experiência na área de Dependência Química.

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I FÓRUM SOBRE ASPECTOS MÉDICOS E SOCIAIS RELACIONADOS AO USO DO

CRACK

Jane Lemos*

INTRODUÇÃO

Tendo em vista a promoção do I Fórum sobre aspectos médicos e sociais

relacionados ao uso do crack pelo Conselho Federal de Medicina e a pedido da

Diretoria do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco elaboramos esse

documento para subsidiar participação dos nossos representantes no citado evento.

O Fórum contará com duas mesas redondas que abordarão:

I-Aspectos Técnicos e Éticos: epidemiologia, abordagens clinicas, dilemas ético-

clínicos na assistência, acolhimento, medicina e interdisciplinaridade;

II- Aspectos institucionais e Sociais: aspectos jurídicos, papel institucional do

Estado, proposta do MEC para combate ao crack no sistema educacional e crack:

visão da sociedade.

A complexidade e gravidade da questão das drogas têm levado a sociedade a

discuti-la em seus mais diversos aspectos numa perspectiva pluridimensional.

Certamente, foi o que levou o Conselho Federal de Medicina, entidade cada vez mais

presente e preocupada com os temas mais relevantes de nossa sociedade a propor

uma discussão mais profunda sobre o uso do crack e suas nefastas conseqüências.

Para elaboração deste texto contamos com a contribuição do Conselheiro José

Francisco de Albuquerque, da Psiquiatra Jandira de Barros Saraiva e da Psicóloga

Enildes Monteiro de Albuquerque Melo, todos com vasta experiência na área de

Dependência Química.

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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O USO DE DROGAS.

“Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de

dispensar os “paraísos artificiais”, isto é,... a busca de auto transcendência

através das drogas ou... umas férias químicas de si mesmo... A maioria dos

homens e mulheres levam vidas tão dolorosas- ou monótonas, pobres e

limitadas, que a tentação de transcender a si mesmo, ainda que por alguns

momentos, é e sempre foi um dos principais apetites da alma” .( Aldous Huxley)

Este texto de famoso autor inglês permanece até hoje muito atual com relação

ao complexo tema do uso e abuso de drogas cujo debate deve ser aprofundado

sempre numa visão pluridimensional.

Apesar do cotidiano de noticias na mídia nacional sobre drogas retratar a

gravidade da questão das drogas no país, do ponto de vista de saúde pública, os

estudiosos do tema consideram que há distorções em relação a real situação de

consumo. Por exemplo, entre as causas de óbitos relacionadas com drogas, mais de

95% são devidas a drogas legais, lícitas, como álcool e fumo; no entanto o foco da

mídia sempre se volta para as drogas ilegais, sobre narcotráfico e narcodólares,

violências supostamente decorrentes do uso de drogas-, estas mortes, quando

comparadas com mortes no trânsito ou com a mortalidade infantil, são ínfimas.

Evidentemente, isto não diminui a extensão do problema do ponto de vista técnico,

ético e social.

DEPENDENCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.

À guisa de introdução é importante ressaltar ser consenso entre os estudiosos

do assunto, que os efeitos de uma droga dependem de três elementos:

1-Suas propriedades farmacológicas ( excitantes, depressoras ou perturbadoras);

2-A personalidade da pessoa que a usa, suas condições físicas e psíquicas, inclusive

suas expectativas;

3-O conjunto de fatores ligados ao contexto de uso dessa droga, tais como as

companhias, o lugar de uso (ambiente sócio/cultural) e o que representa esse uso

socialmente.

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USO, ABUSO E DEPENDENCIA.

Não existe uma fronteira clara entre Uso, Abuso e Dependência. O Uso pode

ser definido como qualquer consumo de substancias, seja para experimentar, seja

esporádico ou episódico; Abuso ou uso nocivo, como o consumo de SPA já associado

a algum tipo de prejuízo ( biológico, psicológico ou social); e, Dependência como o

consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário.

O estado de Dependência não constitui um estado do tipo “tudo ou nada”: trata-

se de um contínuo, de uma gradação entre um extremo e outro. Mesmo o estado de

dependência não constitui uma categoria homogênea, sendo mais adequado

pensarmos em termos de “graus de dependência”. Diferentes mecanismos levam as

pessoas a se tornarem dependentes. Assim, dependência é uma relação alterada

entre um individuo e seu modo de consumir uma substancia, sendo capaz de trazer

problemas para o usuário. No entanto, algumas substâncias psicoativas (SPA)

causam dependência mais rapidamente. O álcool, por exemplo, pode levar meses

para se instalar, já a cocaína e seus derivados, acontece após algumas vezes de uso.

COMORBIDADES

Sabe-se, que é comum o consumo de substancias psicoativas coexistindo com

outros transtornos mentais. De modo geral, o uso de SPA, mesmo ocasional e em

pequenas doses, nesta população pode gerar conseqüências mais serias que as

vistas em pacientes sem comorbidades. Ha poucos estudos realizados no Brasil

investigando a comorbidades entre uso abusivo ou dependência de SPA e transtornos

mentais graves.

DADOS EPIDEMIOLÓGICOS.

Região Nordeste- CEBRID – Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas

Psicotrópicas. Peculiaridades regionais e populações específicas-

Os objetivos dos estudos epidemiológicos nesta área são:

Diagnosticar o uso de drogas em uma determinada população;

Possibilitar a implantação de programas preventivos adequados à população

pesquisada.

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Os tipos de estudos

1- Levantamentos epidemiológicos (fornecem dados diretos do consumo de drogas):

Domiciliares

Com estudantes (alunos do ensino fundamental, médio e universitários)

Com crianças e adolescentes em situação de rua

Com outras populações específicas; por exemplo: profissionais do sexo;

trabalhadores da indústria; policiais; profissionais de saúde etc.

2-Indicadores epidemiológicos (fornecem dados indiretos do consumo de SPA de uma

determinada população).

Internações hospitalares

Atendimentos ambulatoriais

Atendimentos em salas de emergências

Laudos cadavéricos de mortes violentas

Apreensões de drogas feitas pela policia Federal, Estaduais e Municipais

Prescrição de medicamentos (benzodiazepínicos anfetamínicos)

Mídia

Casos de violência decorrentes do uso de drogas, tanto licitas como ilícitas.

Prisões de traficantes.

Drogas mais usadas no BRASIL, segundo uma ordenação decrescente:

Álcool, tabaco, solventes benzodiazepínicos, anorexígenos, xaropes,

estimulantes, barbitúricos - LÍCITAS

Maconha, Cocaína (pó);opiáceos; alucinógenos; crack; merla; heroína.- ILÍCITAS.

As Principais Drogas Usadas no Nordeste, seu impacto Social e na Saúde

Pública.

Sinopse dos Principais resultados da Região Nordeste no I e II Levantamento

Domiciliar Sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil- CEBRID-

2001/2005

População Estudada-

Amostragem de 22 cidades com mais de 200 mil habitantes (1.644 entrevistas).

CIDADES- Maceió, Feira de Santana, Ilhéus, Vitória da Conquista, Caucaia, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Imperatriz, São Luis, Campina Grande, João Pessoa, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Petrolina, Recife, Teresina, Mossoró, Natal, Aracaju.

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Faixas etárias- de 12 anos a maiores ou igual a 35 anos. Homens de mulheres.

Grupos étnicos- predomínio de mulatos sobre os demais grupos.

Estado civil- 50% eram solteiros

Classes sociais- maior percentagem de respondentes nas classes C e D

Escolaridade- 1/3 da amostra é de analfabetos ou I grau incompleto.

Religião- 70,7% católicos.

DADOS ESPECÍFICOS-

% de Uso na Vida % de Dependentes

Álcool 68,4 Álcool 16,9

% de USO na Vida % de Dependentes

Tabaco 37,4 Tabaco 8,3

Orexígenos 11,2 Benzodiazepínicos 2,3

Solventes 9,7 Maconha 1,2

Benzodiaz. 5,3

Xarope (codeína) 3,2

Opiáceos 2,2

Estimulantes 1,7

Cocaína 1,4

Anticolinérgicos 1,3

Barbitúricos 0,6 Uso na vida de qualquer droga

Crack 0,4 (exceto tabaco e álcool) – 29%

ACHADOS RELEVANTES

1. Quase 1/3 da população estudada do Nordeste (29%) já fez uso na vida de alguma droga, exceto tabaco e álcool.

2. A estimativa de dependentes de álcool foi a maior do Brasil, com 16,9% , correspondendo a 1.537.000 pessoas.

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3. A porcentagem de dependentes de maconha (1,2 %) foi a segunda colocada , quando comparada às cinco Regiões brasileiras, porém a dependência dos benzodiazepínicos superou a de maconha, apresentando 2,3%, quase o dobro da maconha.

4. Os solventes tiveram o maior uso na vida comparado a todo o país (9,7).

5. O maior uso na vida de orexígenos (estimulantes do apetite) apareceu no Nordeste, com 11,2%.

O I Levantamento Domiciliar feito pelo CEBRID, mostra também dados

importantes em relação a:

A Maconha como a droga ilícita mais fácil de ser obtida pela população-53,3%

Cocaína, referida por 23,9% e o Crack por 19,9%.

Presença de pessoas “bêbadas” nas vizinhanças, nos últimos 30 dias- 66,0%

Pessoas que passaram por algum tratamento por causa do uso de álcool e/ outras drogas- 8,9%

Complicações Decorrentes do Uso de Álcool e de outras Drogas, que

foram pesquisadas.

Acidentes de trânsito- variando de 7,4% a 12% segundo a faixa etária.

Estar sob efeito de drogas no trabalho- 4,4% (faixa etária de 25 a 34 anos)

Quedas decorrentes do uso das drogas- 11,7% para os H e 3,4% para M.

Ferimentos ou agressões físicas sob efeito das drogas- de 5,4% a 13,5%.

Procura por traficantes para obter drogas nas vizinhanças- variando de 5,0% a 20,9%.

O sexo masculino teve mais complicações do que o feminino, em todas as faixas etárias.

São as Drogas licitas as que lideram os problemas no coletivo e na saúde

das pessoas.

No Levantamento de 2005, o Nordeste continua sendo a região de maior

prevalência na dependência de álcool, 14%, ou seja , em cada 100

nordestinos, 14 são dependentes de álcool ( alcoolistas). Houve aumento na

prevalência de dependência de Maconha, que superou os Benzodiazepínicos,

e aumento no uso do crack, principalmente nas regiões metropolitanas.

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COCAÍNA E SEUS DERIVADOS-

Levantamentos epidemiológicos e indicadores epidemiológicos, têm

evidenciado um aumento considerável das apreensões de cocaína, a partir dos anos

oitenta no Brasil.Em paralelo houve um aumento do consumo e com isso a cocaína

tomou o lugar dos medicamentos como o dextropropoxifeno ( Algafan) e derivados

anfetamínicos ( bolinhas; arrebites) na preferência do usuário.É freqüente o uso entre

os adolescentes para “alivio” do desanimo(sic). O Crack é a cocaína preparada para

consumo via inalatória (fumada). A rapidez e intensidade de seus efeitos, decorrentes

da intensa absorção ao nível dos pulmões, são fatores que favorecem a Dependência

dessa droga.

Vale assinalar que, em relação especificamente ao CRACK, o seu surgimento

no espaço da rua, introduziu mudanças profundas no consumo de drogas em situação

de rua por três razões: o produto é Ilícito, justificando a perseguição policial; detém

alto potencial aditivo e provoca dependência rápida e devastadora, além de levar às

perdas da capacidade relacional e da influencia socializantes que o crack acarreta,

tornando a criança ou o Jovem mais indiferentes ou mesmo hostil a propostas de

mudanças de vida ( Carlini, E.A., Napo e Galduroz)

O consumo de CRAK têm se expandido tanto em nosso meio, sobretudo em

cidades maiores ou de região metropolitana, que vem substituindo o consumo da

coca injetável. As razões para isso são:

Efeito rápido e intenso,

Menor custo, em relação ao pó, adequando-se ao perfil de baixa renda dos

consumidores;

Fácil utilização, dispensando a necessidade de seringa;

Tem maior aceitação social por ser consumida fumada e não-injetável, podendo ser

misturado com ao tabaco e à maconha (pistilo, mesclado)

Constitui uma alternativa ao uso das drogas injetáveis, com redução dos riscos de

ISR.

Considerando-se o crescente aumento do Consumo do crack, com seus

desdobramentos (tráfico, violências,roubos, mortes por problemas Clínicos como

pneumonia por crack, Infarto do Miocárdio, AVC, Estado de Mal epiléptico,mortes

violentas por assalto, homicídio, suicídio,AIDS, hepatite tipo C, episódios psicóticos

paranóides,aumento da prostituição e de pessoas com conflitos com a Lei) e o

envolvimento dos usuários com narcotraficantes, além do uso concomitante de álcool

e crack/cocaína, que leva a produção de uma terceira substância extremamente

tóxica para o fígado, o Cocaetileno, foi sendo cada vez mais premente a necessidade

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de intervenções planejadas, com abrangência nacional, respeitando-se as

especificidades de cada Estado e das populações –alvo.

O Decreto Presidencial 7.179, de maio de 2010 e a Medida Provisória 498 de

29/7/2010, assim como a Portaria 2841 de Setembro de 2010, institui o “Plano

Integrado de Enfretamento ao Crack e Outras Drogas, com propostas factíveis de

modificar o atual panorama existente no Brasil, desde que as Normatizações sejam

implementadas, com ênfase também nas Capacitações continuadas dos diferentes

atores que deverão se inserir nas ações preventivas, no tratamento e na reinserção

social.

As ações da saúde não podem deixar de buscar parceiros nas organizações

sociais da comunidade, incluindo-se as Igrejas, Escolas, Pastorais, Comunidades

Terapêuticas Religiosas, Policlínicas, Ambulatórios, Hospitais Clínicos e Psiquiátricos,

Grupos de Auto-Ajuda, Terapia Comunitária, enfim, quanto maior o leque de

diversidade a ofertar, as possibilidades também tenderão a uma resposta mais

satisfatória.

Quanto as abordagens terapêuticas é importante ressaltar que não existe um

uma única abordagem para envolver todas as características multidimensionais

das adições. Portanto, considerando a gênese multifatorial da dependência química,

a atenção deve ser direcionada às diversas áreas afetadas, tais como social, familiar,

física, mental, questões legais, qualidade de vida e enfocando estratégias de

recaídas. Deve-se ainda ressaltar alguns aspectos relevantes considerando a intensa

fissura desencadeada por essas drogas e a baixa adesão ao tratamento a

necessidade criar estratégias que facilitem o acesso dos usuários aos serviços de

assistência, que tendem a procurá-los em situação de maior crise e mesmo com risco

de morte.

As intervenções medicamentosas são de suporte, sintomáticas, objetivando a

redução dos desconfortos provocados e as comorbidades existentes.

Lamentavelmente, apesar das intensas pesquisas dos últimos anos, não há ainda

nenhuma medicação especifica aprovada para dependência de cocaína/crack.

O conhecimento de que o uso da cocaína causa aumento inicial na neuro -

transmissão de dopamina e serotonina relacionados aos efeitos prazerosos e

reforçadores da droga e, a hipótese de que a desregulação desses sistemas tem

importante papel na síndrome de abstinência, levou a inúmeros ensaios clínicos, com

intervenções farmacológicas voltadas para tais sistemas sem, no entanto, resultados

satisfatórios.

Na prática, assim como nos ensaios clínicos tem sido testados diversas

categorias de medicamentos como: Anticonvulsivantes (Carbamazepina,

Topiramato, Gabapentina, Lamotrigina, Valproato de sódio); Antidepressivos

(tricíclicos inibidores da recaptação de serotonina – ISRSs, Inibidores seletivos da

recaptação da Noradrenalina – ISRNs; antidepressivos de ação dual; Estabilizador

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do Humor (Lítio); Antipsicóticos; Antagonistas Opióides, Antagonistas dos

canais de cálcio e Agentes Aversivos. Não há, no entanto, qualquer evidência

científica comprovada ou experiência clinica consistente. Existe ainda em pesquisas

para ser utilizada em humanos uma vacina anticocaína que visa a produção de

anticorpos. (Laranjeira, R)

O conjunto de Ações para o tratamento a essas pessoas incluem entre outros:

Terapia Familiar; Terapia Cognitiva Comportamental (treino de habilidades sociais e

prevenção de recaída); Intervenções Motivacionais – (Motivational Interviewing) e

Gerenciamento de Contingências (uso de incentivos motivacionais) desenvolvidas nos

Estados Unidos; Identificação Dos Fatores de Risco e Proteção aos usuários e suas

Comunidades; Trabalhar estimulando a resiliência dos participantes e familiares;

Construção com os sujeitos envolvidos de um “Projeto de Vida”, sem intermediar com

as drogas; Abrigos ou Pensões protegidas para os usuários em situação de risco;

Hospitais com leitos para as intervenções clinicas; Leitos psiquiátricos para

atendimento aos pacientes em surtos psicóticos e as Comunidades Terapêuticas.

No que tange em relação as Comunidades Terapêuticas, que pese à sua

importância prática, vale a pena ressaltar que tem havido uma proliferação desses

serviços na área privada e, portanto com fins lucrativos.

Como não existem, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Federal de

Medicina, instrumentos normativos que os regulem tecnicamente, deve-se, no

mínimo, questionar quanto ao seu funcionamento e a necessidade do controle de

qualidade. Laranjeira, em um dos seus artigos comenta sobre o funcionamento

precário de alguns desses serviços, sem infra- estrutura e equipe capacitada para

lidar com os internos, ressaltando a falta de estudos relacionados ao tema assim

como ausência de identificador público de quantidade e qualidade. O mesmo autor

chama a atenção tecem considerações sobre os modelos de comunidades

terapêuticas que inspiram esses serviços e especialmente para a carência de

trabalhos na literatura científica nacional a cerca do tema, existindo apenas relatos de

experiência.

Em termos de normatização das Comunidades Terapêuticas existe apenas uma

normatização da ANVISA RDC 101/2001 que estabelece regulamento Técnico

disciplinando as exigências mínimas para o funcionamento de serviços de atenção a

pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas,

segundo modelo psicossocial, também conhecido como Comunidades Terapêuticas,

parte integrante desta Resolução. Parece- nos importante o estabelecimentos de

normas técnicas para esses serviços.

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Evidentemente que todas essas articulações perpassam e irão confronta-se

com os modelos existentes na sociedade brasileira, se fazendo também fundamental

o questionamento e a superação dos fatores que facilitam e reforçam o uso de SPA.

Anexo a este texto, encontram-se: contribuição da Dra. Jandira Barros Saraiva

sobre a rede de atenção aos usuários de drogas do Estado de Pernambuco e do

Conselheiro do CREMEPE e Professor de Psiquiatria da UFPE sobre a Experiência

do NEDEQ – Núcleo Especializado em Dependência Química do Hospital das

Clinicas da UFPE.

Anexo – Decreto 7.179/2010, Portaria 480 e 481 do Ministério da Saúde

*Psiquiatra, Conselheira do CREMEPE e Presidente da Associação Médica de

Pernambuco.

Referências Bibliográficas.

- CEBRID- Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas- II

Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil-2005 –

Brasilia – SENAD,2006 – Disponível em URL: HTTP: www.cebrid.epm. BR

Decretos e Portarias Ministeriais – disponíveis no site do Ministério da Saúde –

www.saude.gov. br

-Diehl, A; Cordeiro, D; Laranjeira, R – Tratamento Farmacológicos para Dependência

Química – Da evidencia Científica à Prática Clinica – Porto Alegre - Artmed – 2010

-Figlie, NB; Bordin, S; Laranjeira, R – Aconselhamento em Dependência Química – São

Paulo -Editora Roca Ltda, 2004.

Gigliotti, A; Guimarães, A – Diretrizes Gerais para Tratamento da Dependência

Química – Rio de Janeiro – Editora Rubio/ABEAD – 2010.

-Projeto Diretrizes – Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina,

2002

-Revista Debates- Psiquiatria Hoje – Associação Brasileira de Psiquiatria, Ano 2 – Nº3

– maio/junho de 20010

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-

REALIDADE DA REDE DE TRATAMENTO AOS USUÁRIOS ABUSIVOS OU

DEPENDENTES DE SPA EM PERNAMBUCO.

Jandira Barros Saraiva*

Até o momento atual não há uma abordagem única para pacientes que fazem

uso problemático de álcool e /outras drogas (SENAD, CEBRID). A rede deve ser

diversificada com um leque de opções. A rede de atenção é ainda insuficiente e não

dá conta da demanda existente no Estado e Municípios. Parte desses pacientes estão

sendo atendidos em Hospitais Psiquiátricos, que vão receber aumento de 31% em

suas diárias, repassado pelo Ministério da Saúde ( vide portaria).

Recife e área metropolitana.

Conta com um (1) CAPS ad por Distrito Sanitário (06 CAPS ad) e dois Albergues para

usuários que sejam considerados em situação de alto risco.

Outros Municípios-

Camaragibe- 1 CAPS ad, funcionando os 2 turnos; Jaboatão, 1 Caps ad; Cabo, 1 Caps

ad; Paulista 1 CAPS ad. Olinda- 1 Caps ad

Ambulatórios da Justiça Terapêutica também oferece atendimento e encaminhamentos

quando necessário. ( VEPA)

Leitos de Desintoxicação-

Hospital da Mirueira, em Paulista, com 52 leitos para alcoolismo, e que atende a todo

ESTADO de Pernambuco. As enfermarias foram transformadas em Unidades de

Desintoxicação há cerca de 8 anos atrás.

HUP- Hospital Ulysses Pernambucano - Desintoxicação também em condições

precárias, geralmente transferindo os pacientes para outras unidades.

Hospital Geral de Jaboatão- 6 leitos para desintoxicação, mas, na emergência-

Segundo a GASAM- Gerência de Atenção à Saúde Mental/SES/PE, há outros leitos

conveniados em Hospitais Gerais, mas, que não são Hospitais de Referencia ad,

segundo as portarias de normatização do Ministério da Saúde Há leitos em

Policlínicas do Interior (sic), perfazendo mais 9 leitos .

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TRATAMENTOS EXISTENTES NA COMUNIDADE, EM PERNAMBUCO:

Os Grupos de Auto-Ajuda: Alcoólicos Anônimos (AA); Al-anom (para familiares e

amigos);Amor Exigente; Narcóticos Anônimos ( NA); Pastoral da Juventude da Igreja

das Graças; Grupo de Terapia Comunitária para usuários, familiares e pessoas da

comunidade – reuniões quinzenais na Igreja do Espinheiro, pela manhã; Grupos de

Terapia Comunitária na Igreja do Pátio de Santa Cruz, nas segundas-feiras.

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS RELIGIOSAS. Sem fins Lucrativos

Foram identificadas em Pernambuco no ano de 2007/2008, 14 (quatorze

estabelecimentos, em diferentes Municípios, entre eles: Recife, Jaboatão, Paulista;

Cabo; Caruaru; Garanhuns; Igarassu. Possivelmente já houve aumento das CTR, só

que não foram cadastradas pela GASAM - Gerência de Atenção à Saúde

Mental/SES/PE. Nos últimos tempos tem surgido as comunidades terapêuticas com

fins lucrativos, cujo funcionamento ainda não se conhece o suficiente para uma

avaliação do seu funcionamento inclusive sem normatização técnica pelo Ministério

da Saúde.

Psiquiatra do ASSISTA.

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EXPERIÊNCIA DO NEDEQ (NÚCLEO ESPECIALIZADO EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA

DO HC/UFPE.)

José Francisco de Albuquerque*

O NEDEQ faz parte da Unidade de Saúde Mental do HC/UFPE. Foi implantado no ano

de 2000 e atende a população do SUS que procura o HC. É um projeto de extensão

da UFPE, contribuindo como campo de treinamento para estudantes de graduação

e pós-graduação e profissionais voluntários com interesse de atuação na área.

O atendimento é essencialmente ambulatorial, sendo prestado por uma equipe

constituída por : psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes

sociais (docentes, funcionários do HC ou voluntários)

Em amostra constituída por 576 pacientes atendidos pelo serviço, no período de 2000 a

2008, evidenciou-se um perfil com as seguintes características:

sexo masc . – 89%

Substâncias mais utilizadas: álcool – 66%, maconha- 22% e o crack aprox. 7% dos

pacientes.

Início do uso:

< 15 anos – 29%

15 a 20 anos – 49%

21 a 30 anos – 11%

outros.....

A maioria daqueles que utilizavam substâncias ilícitas, apresentavam história de

dificuldades em várias esferas (estudo, trabalho, família, convivência social).Alguns

com envolvimentos com tráfico, assaltos, etc.

Importante ressaltar que essa amostra descrita acima foi até o início do ano de 2008. Nos

dois últimos anos estamos verificando que o perfil da nossa população atendida,

vem se modificando, ou seja: o percentual de pacientes com uso do crack passou

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dos 7% para aproximadamente 40 a 45% dos atendidos. Predominam adolescentes

e adultos jovens.

Correspondem a dois grupos:

1º.-Mais freqüente – antigos usuários de outras substâncias, que passaram a usar o

crack

2º.-Jovens sem história importante de uso de substâncias, com vida relativamente

organizada, que iniciaram o uso do crack

Aspecto mais importante a realçar: a rápida intensidade, desorganização pessoal nas

duas situações após início do uso do crack, com o registro crescente de

envolvimento com o tráfico, registro de violência doméstica e de rua, além da

grande dificuldade de aderir ao tratamento.

Maiores dificuldades enfrentadas na condução dos casos:

Escassez ou quase ausência de leitos de desintoxicação na rede

Ausência de leitos na rede pública para internamentos por maior tempo após a desintoxicação (dispomos apenas de leitos para alcoolismo)

Ausência de integração entre os diversos serviços da rede

Necessidades fundamentais:

Uma política pública para a área, com possibilidade de estimular e promover ações a curto, médio e longo prazo para o atendimento a essa população, que possa contemplar:

1. Ações preventivas, de orientação, conscientização, envolvendo recursos da comunidade nas escolas, nas instituições de saúde , e outras instâncias da sociedade organizada;

2. Investimento na formação de recursos humanos especializados, atendendo aos padrões regionais.

*Professor de Psiquiatria da UFPE/Conselheiro do CREMEPE.