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I Jornada de Filosofia Política

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Resumos da Jornada de Filosofia Política da UnB

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I JORNADA DEFILOSOFIA POLÍTICA DA UnB

FILOSOFIA, POLÍTICA E ENGAJAMENTO

ISBN 978-85-67473-00-0

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I Jornada de Filosofia Política da UnB

Filosofia, Política e Engajamento (1. : 2013 : Brasília)

Resumos da I Jornada de Filosofia Política da UnB / realizado pelo

Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília / PPGIL-UnB

Brasília : Universidade de Brasília, 2013.

ISBN 978-85-67473-00-0

1. Filosofia Política 2. Filosofia Moderna Ocidental

Organizadores:

Prof. Dr. Alex Calheiros [UnB]

Prof. Dr. Cláudio A. Reis [UnB]

Prof. Dr. Gilberto Tedeia [UnB]

Profa. Dra. Maria Cecília Pedreira de Almeida [UnB]

Prof. Dr. Rodrigo Dantas [UnB]

Comitê científico:

Profa. Dra. Maria das Graças de Souza [Professora Titular/USP]

Prof. Dr. Ernani Pinheiro Chaves [Pós-Doutor/UFPA]

Prof. Dr. Sadi dal Rosso [Pós-Doutor/UnB]

Prof. Dr. José Jorge de Carvalho [Pós-Doutor/UnB]

Realização: Departamento de Filosofia da UnB [PPGIL - UnB]

Projeto gráfico, capa, ilustrações e editoração: Épocca Editoria

Pré-impressão, impressão e acabamento: Gráfica Semear

Brasília-DF, outubro de 2013

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Sum

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Adriana Delbó

A comissão da verdade sob o crivo do pensamento de Nietzsche

Adriano Correia

Política, liberdade e participação: considerações à luz de Sobre a revolução, de Hannah Arendt

Alex Calheiros

Teatro e Revolução

Ana Cláudia Lopes Silveira

O lugar do intelectual em Gramsci

Anderson Gonçalves

Do discurso à conversação moral: Seyla Benhabib e a reformulação interativa da ética do discurso

Andrei Álvaro Santos Arruda

O Contrato Social de Rousseau e o engajamento político do indivíduo

Arthur Bartholo Gomes

Carl Schmitt e a crítica ao romantismo em direção a um Decisionismo Político em Politische Romantik

Caio Gomes Macedo

Realismo político em Maquiavel e Espinosa: algumas teses

Claudio Reis

Sieyès: a invenção de um discurso como engajamento

Diego Damasceno

A democracia ateniense em oposição à política moderna a luz da filosofia de Castoriadis

Diego dos Santos Reis

Da palavra concreta ao concreto armado: as máscaras do poder e a filosofia

Douglas Rogério Anfra

Sob a sombra da bomba: a filosofia política durante a Guerra Fria

Edson Teles

As lógicas de governo e dos movimentos sociais: considerações sobre a ação política contemporânea

Erick Lima

Luta e modernidade política: sobre a herança hobbesiana em Hegel

Gilberto Tedeia

'Poder Soberano' de Hobbes e Rousseau à Revolução Francesa: a entrada em cena de uma ideia subversiva

Helder Castro

Drama, representação e espetáculo na obra Jogo de Cena de Eduardo Coutinho

Helena Esser dos Reis

Falar e agir: duas dimensões da política

Herivelto P. Souza

Do pacifismo à resistência: a “lógica pura dos engajamentos”, de Georges Canguilhem

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Sumário

Jacira Freitas

Reflexões sobre a desigualdade social no Brasil: educação e cultura

Johnatan Razen Ferreira Guimarães, Thiago Ferrare Pinto

Desobediência civil como luta por reconhecimento: um contraponto às concepções liberais

José Wilson

Platão: sobre as leis mal escritas

Juan Pablo Orellana de la Rosa

Las democracias totalitarias y el fracaso de la modernidad

Leandro da Silva Bertoncello

Governo, propriedade e resistência em Locke

Luan W. Strieder

O fenômeno da liberdade como ação política em Hannah Arendt

Lucas Moura Vieira

Universidade e engajamento – a UnB de Darcy Ribeiro

Lucas Rocha Bertolo

O espírito libertino e a crítica nos devaneios

Luciano Sousa Lira

Às margens da economia política em Michael Foucault

Luis Henrique da Cruz Sousa

Engajamento político enquanto ação universal em Sartre

Marcelo Mari

Urbe ordenada versus caos: Reflexões sobre a exposição Realidad Ciudad Brasil-Cuba

Marcio Gimenes de Paula

Cristianismo ou cultura clássica? Resolvendo um falso problema

Maria das Graças de Souza

Sobre o abismo entre filosofia e política em Hannah Arendt

Mariana Garcia de Souza

A “Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio” (1948) sob a visão de Hannah Arendt

Miguel Ivân

Bodei e o reencontro dos “eus”

Nádia Junqueira Ribeiro

Ação, perdão e promessa – redenção e responsabilidade pessoal

Nélio Borges Peres

Pensamento e vida: trabalho como criação e narrativa de resistência em Lúcio Cardoso

Osny Zaniboni Neto

O papel da polícia no Estado: violência e poderem Hannah Arendt

Paulo Jonas de Lima Piva

Luzes e democracia: o ateísmo engajado de Michel Onfray

Pedro Gontijo

Entre as manifestações de rua no Brasil e Deleuze: apontamentos para o pensar

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Pietro Cea Anfossi

Maquiavelo y la secularización. El concepto de hombre a partir de las teorías del Estado

Priscila Rufinoni

Mito e violência: “Cara de cavalo” assassinado com 52 tiros em Cabo Frio, 5 de outubro de 1964

Rafael Sousa Siqueira

Dialética e materialismo: uma controvérsia

Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo

Por que estudar Kant no séc. XXI? Algumas notas sobre a política kantiana

Rodrigo de Souza Dantas

Das lacunas em Marx à necessidade histórica de uma teoria marxista da transição

Rogério Alessandro de Mello Basali

Ensino de filosofia: educação, política e engajamento

Samuel José Simon Rodrigues

Engajamento nas ciências: o problema da objetividade científica

Sílvio Rosa Filho

Acompanhamento hegeliano da Revolução Francesa: vir-a-ser da filosofia da história e gênese de novas abstrações

Tales A.M. Ab'Sáber

Cultura política moderna, sujeito do consumo, 'carisma pop'

Tatiana Rotolo

Do marxismo crítico à crítica do marxismo: Castoriadis e os anos de Socialismo ou Barbárie

Thana Mara de Souza

Do engajamento literário ao engajamento político: desafios a partir do pensamento sartriano

Verrah Chamma

Atualizando Hegel: representação corporativa e associativismo civil

Vital Francisco C. Alves

Montesquieu e o fenômeno da corrupção política

Walquiria Pereira Batista

Dramaturgia e militância em Lessing: o papel político do teatro iluminista

Wanderson Flor do Nascimento

Entre o poder e a vida, a colonialidade

Willian Bento Barbosa

As dimensões políticas da amizade

William Costa

A sociedade do espetáculo: um ensaio filosófico acerca do terrorismo de estado na concepção de Agamben e Hannah Arendt

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os A comissão da verdade sob o crivo do pensamento de Nietzsche

Adriana Delbó

Entre as contradições do pensamento de Nietzsche à nossa época, podemos destacar neste momento relevantes elementos para uma análise psicológica das relações de poder na política. Domínio e ressentimento estão para além de opostas manifestações de forças. No caso da democracia brasileira, a Comissão da Verdade pode ser vista como um sinal de dizer “não” ao que não mais queremos para nossa história. A recusa também faz parte dos movimentos de criação. Trata-se do cuidado do futuro, ao invés de remoer o passado. Mais do que vítimas contando sua dor e pedindo o aparecimento de corpos, para trazer à tona uma verdade supostamente esquecida, o lugar para o “não” não equivale à voz do ressentido. Ao contrário, atende à exigência de contar a história para fazer uma nova história, não ignorando o passado, perdoando o que não foi admitido; não aceitando as delimitações traçadas pelo silêncio; não se acomodando às dores provocadas pelo controle da revolta. Torturados e perseguidos, lutas entre militares e revoltosos, estruturaram a violência da história da democracia brasileira. Desmontar isso significa mais do que computar mortos. Cabe enxergar as perdas nas vitórias da repressão e os sucessos nas derrotas operadas pelo silêncio. Aos quase já mortos, justiçar assassinos e receber compensações a dores sofridas são apenas modos de apoderamento da vingança, da fragilidade na política. A feitura de uma memória, daquilo que sequer já foi assumido, é requisito para a superação do passado. Longe de exigir consentimento ao sofrimento e defesa do lugar da vítima, a transformação da dor depende dos espaços para suas elaborações. Novos domínios à democracia requerem o dessilêncio. Repensar a mera e equivocada oposição entre frágeis e fortes se faz indispensável.

Política, liberdade e participação: considerações à luz de Sobre a revolução, de Hannah ArendtAdriano Correia [Professor da UFG]

A recepção da obra de Hannah Arendt no Brasil remonta ao início dos anos 1970. Para uma pensadora contemporânea, cuja obra filosófica foi concebida há pouco mais de sessenta anos, podemos dizer que essa recepção inicial já não é propriamente recente. Arendt foi inicialmente identificada, na escassez de matizes daqueles tempos, como uma pensadora liberal, fundamentalmente por ser uma crítica da assimilação marxista da política à economia, segundo seu juízo. É fato notável e benfazejo que a recepção atual, para além das legítimas objeções, e por várias razões, é muito mais policromática. Em minha apresentação examino um elemento fundamental de distanciamento entre Arendt e a tradição liberal: a relação inextricável entre liberdade e participação. No ensaio “O que é liberdade?” ela chega a afirmar que o liberalismo foi a teoria política que mais danos causou à noção de liberdade política. É em Sobre a revolução, entretanto, obra publicada há cinquenta anos, que ela sustenta que “ou a liberdade política significa participar diretamente do governo ou não significa coisa alguma”. Sustenta ainda que a formação para a participação só pode se dar na participação mesma. Ao mesmo tempo em que indica a fragilidade da Revolução Francesa, traduzida na incapacidade de converter libertação em liberdade, enfatiza a perda do tesouro revolucionário e da experiência da felicidade pública com a progressiva dissociação entre liberdade e participação nos desdobramentos da Revolução Americana. Nosso propósito é duplo: indicar, de um lado, a indissociação entre liberdade e participação na interpretação arendiana do fenômeno revolucionário e da política enquanto tal; de outro, aventar a hipótese de que o tesouro perdido da revolução foi perdido na federação americana pela sucessiva subjugação da liberdade à libertação mediante a prevalência da “busca da felicidade” como direito fundamental, em antagonismo com a noção de felicidade pública.

[Doutora em Filosofia, prof. da Faculdade de Filosofia da UFG]

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ResumosO lugar do intelectual em Gramsci

Alex Calheiros

Gramsci, filósofo italiano preso durante o período fascista, foi talvez um dos primeiros autores a investigar o lugar do intelectual na cultura ocidental. A preocupação do autor dos Cadernos do cárcere já aparece nas primeiras cartas que escreve a amigos e parentes. Parece que, para desenvolver a questão, Gramsci recorrerá a um estudo pormenorizado do Príncipe, de Maquiavel, delimitando aí este novo lugar. A comunicação visa dar conta desse lugar mediante cotejo das reflexões que Gramsci fez do célebre tratado escrito pelo autor fiorentino.

Do discurso à conversação moral: Seyla Benhabib e a reformulação interativa da ética do discursoAna Cláudia Lopes Silveira [Mestranda em Filosofia, Unicamp]

O trabalho apresenta a formulação do “universalismo interativo” proposto por Seyla Benhabib. O universalismo interativo é uma teoria ética que se pretende universalista, mas que entende a necessidade de fazer referência às particularidades dos contextos e ao problema da motivação moral. O cerne da comunicação é a formulação de um princípio de universalização nos termos de uma “conversação moral” guiada pelos princípios do respeito moral universal e da reciprocidade igualitária. Primeiramente, apresentamos uma breve recuperação do debate com base no qual qual Benhabib formula sua proposta. Em diálogo com as críticas de comunitaristas, pós-modernos, e, sobretudo, das feministas, a autora defende a importância do universalismo no tratamento de dilemas contemporâneos, ao mesmo tempo em que mostra os problemas que uma teoria pretensamente universalista deve enfrentar e aquilo que, do ponto de vista da tradição universalista, deve romper.Em seguida, recuperamos a formulação do princípio de universalização de Benhabib. Esta formulação, num primeiro momento, é feita retomando um debate travado com a ética do discurso formulada por Habermas. O objetivo não é responder pela correção ou incorreção das críticas de Benhabib à teoria habermasiana, mas procurar entender sua formulação dos princípios do respeito moral universal e da reciprocidade igualitária enquanto princípios dotados de conteúdo ético“forte”– em detrimento da proposta de Habermas, que parte de pressuposições formais. Por fim, abordamos o argumento de Benhabib de que seu princípio de universalização não incorreria nem em dogmatismo nem em circularidade. Com isso, reunimos alguns dos elementos que contribuem para uma investigação mais detida da proposta feita pela autora de um universalismo que responda às demandas por contextualização, motivação e sensibilidade às diferenças.

Teatro e RevoluçãoAnderson Gonçalves [Doutor em Filosofia e professor de Teoria Literária e Literatura Comparada, FFLCH-USP]

De Lessing a Brecht, passando por Bernard Shawn e Ibsen, há um fio de continuidade que tece um teatro não-dramático. Em 13 de outubro de 1767, militando em prol de um teatro nacional, que não fosse servil às regras ossificadas pelo classicismo francês, tal como propagandeado por seus contemporâneos, Lessing pontua, não sem humor, o que, relativamente à forma (em sentido enfático), na Alemanha, será a ponta do combate moderno na dramaturgia e nas considerações sobre o teatro, a ponto de ser uma espécie de pressuposto histórico e teórico do teatro épico de Brecht. Ainda que cadenciado pelo docere et delectare, escrevia Lessing em polêmica: “O que se me dá se uma peça de Eurípedes não é nem inteiramente narração nem inteiramente drama?

[Professor de Filosofia, UnB]

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os Nomeemo-la, todavia, um híbrido; basta que esse híbrido me deleite e me edifique mais do que as

regradíssimas crias de vossos corretos Racines, ou que se os chame de outro modo. Porque a mula não é cavalo nem asno, é ela por isso menos do que algum dos animais de carga utilíssimos?”(Hamburgische Dramaturgie, Nº48). Por oposição ao híbrido, o de raça pura então. Na periodização costumeira entre os alemães o problema é estendido à história ocidental e, com isso, retorna-se inevitavelmente aos gregos. O juízo de Nietzsche, ainda moço, sobre Eurípides, por exemplo, é claro. O “declínio do drama musical” ali se expõe, diz o filósofo, como “renúncia ao efeito da tensão”, já que se trata de um drama que se inicia com um prólogo em que um personagem narra a ação que ocorrerá. Esse declínio se expressa, portanto, como uma platonização, ou pior ainda, uma socratização do drama: a sabedoria épica sova o destino trágico. Nessa oposição formal entre o não-dramático e o dramático cifra-se a Revolução como questão moderna.

O Contrato Social de Rousseau e o engajamento político do indivíduoAndrei Álvaro Santos Arruda [Graduando em Relações Internacionais, UnB]

“Não sendo o Estado ou a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus membros...” (Do Contrato Social, Livro II, capítulo IV). O Estado para Rousseau é uma pessoa moral, a qual possui vida e vontade. Se a vida do Estado subsiste sobre um substrato, deve-se questionar como essa vida se sustenta. O autor logo explica que a vida consiste na união de seus membros. A união do contrato é o ato de associação expresso no capítulo VI do livro I: “Imediatamente, esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembléia, e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade”. Portanto, o engajamento individual no projeto coletivo de um pacto social, que elimine as dissensões dos desequilíbrios no estado de natureza, gerará a vontade do Eu político, a qual é a da deliberação da vontade de todos representada nas decisões do corpo soberano. A existência do próprio soberano depende do engajamento do indivíduo que se despoja totalmente de si e confia no pacto social: “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.”A comunicação, portanto, expõe como o autor defende o engajamento político no Contrato Social e quais são os mecanismos que sustentam esse pacto.

Carl Schmitt e a crítica ao romantismo em direção a um Decisionismo Político em Politische RomantikArthur Bartholo Gomes [Mestre pela UnB, doutorando na UFG]

Apresentamos as críticas de Carl Schmitt à concepção do político sob o ponto de vista do chamado romantismo filosófico, tarefa levada a cabo por ele no livro Politische Romantik (Romantismo político), bem como apontamos a ideia de um decisionismo político em Politische Teologie (Teologia política) como a resolução da ideia romântica de subjetividade. Editado em 1919, o livro Romantismo Político aborda os aspectos políticos decorrentes das articulações de pensamento classificadas como românticas, no sentido de especificar as características metafísicas deste movimento do início do século XIX. Vinculadas com alguns aspectos da metafísica do séc. XVIII, tais características apontam, segundo a sua concepção, para um ocasionalismo político, que, associado a uma subjetividade esteticamente determinada, redunda, em última instância, na direção de um agir político inefetivo. Em oposição a este posicionamento, Schmitt formula as bases para uma ideia de política baseada no conceito de uma atividade decisória, que vai além da determinação meramente estética da realidade do contexto político. Tal atividade se funda num conceito de soberania que ultrapassa os liames da legalidade jurídica formal, e que se concretiza por meio de

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uma ação política que afigura na forma de uma decisão através da ideia de legitimidade não normativizada e expressada pela ideia de exceção.

Realismo político em Maquiavel e Espinosa: algumas tesesCaio Gomes Macedo [Graduação em Filosofia, UnB]

Com base na análise de alguns argumentos de dois importantes filósofos da modernidade, Maquiavel e Espinosa, apresentamos um estudo preliminar visando diagnosticar, observando os devidos cuidados, uma possível interlocução entre esses dois filósofos no que diz respeito ao modo como por eles é abordado o tema da política de um ponto de vista realístico. Para tanto, firmaremos nossa atenção nas obras O Príncipe (1513), de Maquiavel, Tratado Teológico-Político (1670) e Tratado Político (1677), de Espinosa. Por abordagem política de um ponto de vista realístico entende-se, grosso modo, tratar a política como ela efetivamente é e não como ela deveria ser. Considerada essa premissa, portanto, nos detemos na análise propriamente dita dos argumentos, buscando no que concerne ao tema da política nesses dois filósofos, promover entre eles uma possível interlocução.

Sieyès: a invenção de um discurso como engajamentoClaudio Reis [Professor de Filosofia, UnB]

A partir do exemplo de Emmanuel-Joseph Sieyès (mais especificamente, a partir de dois de seus escritos, Ensaio sobre os privilégios e O que é o terceiro estado?), a comunicação explora um tipo particular de engajamento, que consiste, grosso modo, na criação de um discurso. Tomando como referência a abordagem conceitual de ideologia proposta por Michael Freeden (Ideologies and Political Theory: A Conceptual Approach, 1996), o que se pretende é ilustrar, com o exemplo de Sieyès, a importância que a criação de um discurso (por meio da articulação de um conjunto de conceitos) eventualmente assume em dados momentos políticos – neste caso, nos momentos iniciais da Revolução Francesa.

A democracia ateniense em oposição à política moderna a luz da filosofia de CastoriadisDiego Damasceno [Graduação em Filosofia, Universidade Católica de Brasília]

A comunicação apresenta aspectos da democracia ateniense em oposição à atividade política moderna, e explicita tais aspectos no que tange ao surgimento de uma sociedade autônoma tal como era em Atenas e não o é nas sociedades contemporâneas. Isso será feito com base na filosofia de Castoriadis, a qual busca repensar o papel da política e das instituições sociais na vida do indivíduo contemporâneo orientado pela visão de uma democracia direta como agente ou evento constantemente transformador da realidade. Elucidamos os conceitos de política grega e política moderna em suas respectivas instituições sociais, e abordamos alguns apontamentos do próprio autor acerca da tríade que forma uma espécie de unicidade na Polis grega. O primeiro elemento desta tríade é “o povo em oposição aos representantes”, o segundo, “o povo em oposição aos experts”, e o terceiro, “a comunidade em oposição ao Estado”. Estes elementos contrastam visivelmente com os da democracia representativa na modernidade, a qual tem como característica a heteronomia e a alienação política por parte dos indivíduos.

Resumos

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os Da palavra concreta ao concreto armado: as máscaras do poder e a

filosofiaDiego dos Santos Reis

As recentes manifestações que tiveram [e têm] lugar no Brasil suscitaram uma série de reações por parte dos governos, das mídias, das instituições sociais, educacionais e políticas, que, desconcertadas, tentavam entender o que se passava. Por semanas, pulularam indagações mais ou menos insistentes de intelectuais e especialistas que, com seus microscópios analíticos e seu vasto repertório conceitual, se esforçaram por solucionar o enigma esfíngico do povo: “afinal, o que querem os manifestantes? O que dizem as vozes descontentes a bradar nas ruas? Quem ou quais são os alvos? Desordeiros-vândalos ou revoltados-engajados?”. A comunicação versa sobre as relações entre alguns aspectos do Levante de Junho de 2013, no Brasil, e algumas articulações possíveis entre ele e a filosofia crítica do presente, entre as possibilidades do pensamento e as formas de ação. Deste modo, não fornecemos uma grade geral de inteligibilidade dos fenômenos sociais e dos confrontos, tampouco explicamos analiticamente, em termos de causa/efeito as condições com base nas quais se tornou possível sua emergência. Antes disso, a comunicação traz algumas questões acerca dos conflitos e o modo pelo qual, neles, a racionalidade política contemporânea não deixou de ser contestada por vias diversas, em lutas frontais, transversais e oblíquas que reivindicam o direito à cidade, ao corpo, e à liberdade prometidos [e celebrados] pelas democracias liberais.

Sob a sombra da bomba: a filosofia política durante a Guerra FriaDouglas Rogério Anfra [Mestre em Filosofia, USP]

Valendo-nos de alguns fragmentos, voltamo-nos ao entrelaçamento entre a política militar e a civil responsável por alguns dos paradoxos políticos persistentes em nosso tempo. Inicialmente, começamos pelo problema levantado no discurso de despedida de Dwight D. Eisenhower,em 1961, que denunciou pela primeira vez o chamado “complexo militar-industrial”, um conglomerado de relações de poder crescente que entrelaçariam políticos, empresários, acadêmicos e militares numa mesma dança da morte. Este tema, que atraiu a reflexão de Herbert Marcuse em O Homem Unidimensional, conduziu à conclusão preocupante de que até mesmo a classe operária participaria da marcha do desenvolvimento econômico voltado para a destruição cujo termo pode-se constatar com o advento do dispositivo da “destruição mútua assegurada” tão bem satirizada por Kubrick em Doutor Fantástico, e que, curiosamente garantia que o mundo ao mesmo tempo “se ameaçasse” e “não se destruísse”. Posteriormente levantamos brevemente três figuras para além das teorias do imperialismo. O primeiro, Aron, tentou demonstrar a continuidade da política numa era da “diplomacia militarizada” e “dissuasão atômica”; a segunda é Arendt em debate com Engels em Da violência, que levantaria a questão da irracionalidade da política no contexto bélico nuclear irredutível ao aspecto econômico; por fim, vemos Castoriadis, libertário e ex-marxista, defender uma união contra a URSS em virtude do risco iminente de uma guerra atômica em Diante da Guerra. Seria, exceto na instância do Estado, o fim da política. No entanto, se a política continua a existir, a reflexão sobre este momento político não deve incidir sobre a identificação do limite em que se instaurou a responsabilidade política cruzada com a técnica e a razão de estado. Nosso problema deve ser outro, o de repensar o sentido da sociedade que produz tais armamentos para desvendar em que condições seria possível instaurar outra política.

[Mestrando em Filosofia, UFRJ, bolsista CAPES]

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Resumos

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As lógicas de governo e dos movimentos sociais: considerações sobre a ação política contemporâneaEdson Teles [Unifesp]

Experimentamos nos últimos meses as maiores manifestações populares dos últimos 20 anos. Estes acontecimentos ensejaram as mais variadas tentativas de apropriação ou denegação dos movimentos, os quais, a despeito disto, se alastraram por todo o país. Há, talvez como a maior conquista das manifestações de junho, a ampliação da ideia do que seja público. A relação política entre as ruas, em sua maior parte resultado da ação dos movimentos sociais, e os lugares instituídos de governo, sejam do Estado ou não, parece ser uma classificação possível para refletirmos sobre a atual democracia. As manifestações de junho De 2013 e meses seguintes não são, ao que tudo indica, nenhuma grande novidade em termos do que seja o contemporâneo. Contudo, elas nos colocam diante de certas características da ação que permite olhar para o campo de forças em choque na política de um modo diferente do tradicional, aquele sustentado pela ação representativa dos sindicatos, entidades de segmentos sociais e partidos. Não é a negação desta velha forma da política, mas a entrada em jogo de modos de ação que apontam para uma maior responsabilização ética do sujeito político com seus lugares de pertencimento e preenchimento. Para os manifestantes, a necessidade de consolidação de uma estrutura política elitizante entra em choque com a possibilidade de práticas livres. As necessidades e urgências do discurso de governo não legitimam mais, para os movimentos de junho, o acionamento de estados de exceção com a justificativa de manter a governabilidade e o caráter estável de um projeto autoritário de democracia.

Luta e modernidade política: sobre a herança hobbesiana em HegelErick Lima [Professor de Filosofia, UnB]

Seguindo a recente ressonância, tanto na teoria social quanto na filosofia política, de tópicos do pensamento hegeliano, a comunicação recupera aspectos sociopolíticos que presidem a crítica de Hegel à filosofia política moderna. Primeiramente, mostra que toda a crítica hegeliana ao contratualismo tem uma base socioteórica, a saber: a ideia, alcançada ainda em textos da juventude, de que a individualização – compreendida, quer em termos políticos quer em termos históricos, a partir do conceito de luta e de crime – tem uma base incontornavelmente societária. Em seguida, investiga como se pode entender, com base na discussão anterior, a assimilação crítica do conceito hobbesiano de “estado de natureza”, o que conduz a uma apreciação dos diversos tratamentos dados por Hegel ao problema da luta.

Poder Soberano' de Hobbes e Rousseau à Revolução Francesa: a entrada em cena de uma ideia subversivaGilberto Tedeia [Professor de Filosofia, UnB]

A comunicação tem por objeto a noção de poder soberano e propõe um percurso intelectual a essa ideia centrando-se em dois momentos-chave da história das ideias políticas, a sua formulação hobbesiana e a sua retomada em Rousseau, a fim de repor o impacto de sua entrada em cena na história dos conflitos políticos, quando a Assembléia Nacional assume representar a vontade de todos e cada um da nação. A potência subversiva desse invento é recontada tendo-se por fio condutor a elaboração de dois aspectos importantes do contratualismo moderno, as noções de autorização e representação, tidos como premissas para o projeto de novas instituições políticas que consolidariam a originalidade, ruptura e estancamento do projeto revolucionário postas pela Constituinte no cenário pós-revolucionário.

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os Drama, representação e espetáculo na obra Jogo de Cena de Eduardo

CoutinhoHelder Castro

No filme Jogo de Cena, dirigido por Eduardo Coutinho, é produzido um encontro entre cineasta e entrevistados com uma abertura para que estes últimos, ao narrarem suas histórias de vida, elaborem uma fala criativa. A comunicação analisa esse dispositivo fílmico em comparação com obras anteriores do documentário brasileiro, mostrando posturas estéticas e políticas diferenciadas.

Falar e agir: duas dimensões da políticaHelena Esser dos Reis [Professora de Filosofia, UFG]

Como escritor e deputado, Tocqueville dedicou seus esforços para construir condições sociais e políticas democráticas, pois compreendia a política como o locus próprio da palavra e da ação de cada um junto com cada um dos demais. Sua atuação é reveladora do seu grande temor: o enclausuramento dos homens em suas próprias individualidades. Considerava que a preocupação dominante com os interesses individuais e cotidianos faz com que os cidadãos intrumentalizem a política vista de benefícios privados; neste caso o agir conjunto degrada-se em violência e opressão. A denúncia de Tocqueville encontra apoio no pensamento de Hannah Arendt, que afirma termos perdido a clareza acerca da especificidade própria da política e, com isso, o seu significado. A análise destes autores instiga-nos a repensar a política a partir daquelas ações que a caracterizam: o falar e o agir uns com os outros. Assim, nosso propósito neste texto será pensar a política a partir de Tocqueville e Arendt a fim de, ampliando a perspectiva estreita e imediata dos interesses e dos afazeres cotidianos, discutir acerca da responsabilidade dos cidadãos na construção da democracia.

Do pacifismo à resistência: a “lógica pura dos engajamentos” de Georges CanguilhemHerivelto P. Souza [Professor de Filosofia, UnB]

Trata-se de investigar as razões de uma peculiar virada no percurso intelectual do jovem Canguilhem, antes mesmo que ele viesse a se tornar o autor de uma das mais originais obras no campo da filosofia e história das ciências: a passagem da defesa de uma posição política pacifista, influenciada por Alain, e que tinha como pano de fundo a experiência da Primeira Guerra Mundial, para o reconhecimento da necessidade do engajamento político radical na resistência contra o avanço do nazismo. Estaria em jogo aí apenas uma mudança de avaliação acerca de uma conjuntura histórico-política, ou existem razões propriamente filosóficas subjacentes a tal inversão? A segunda opção parece mais correta, na medida em que é possível se perceber, através dos textos, um conjunto de reflexões que giram em torno da irredutibilidade da ação ao conhecimento, de onde se descortina uma concepção do julgar que é inseparável do agir. Mostramos como em um dos textos decisivos desse momento da experiência intelectual canguilhemiana – um panfleto de 1935 intitulado O fascismo e os camponeses – a ligação entre filosofia e engajamento encontra uma peculiar articulação.

[Graduando em Filosofia, UnB]

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Resumos

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Reflexões sobre a desigualdade social no Brasil: educação e culturaJacira Freitas [Professora de Filosofia, Unifesp]

A exposição que apresento retoma os principais elementos da crítica à civilização e à ideia de progresso que nos permitem delinear o tom defensivo que caracteriza toda a política rousseauniana a favor do meio-ambiente em detrimento do desenvolvimento das técnicas, e exprime um pensamento não manipulador da natureza, no qual a desigualdade social está associada aos resultados nefastos do processo desencadeado por aquele desenvolvimento. Retomo esses elementos - e alguns aspectos do pensamento de Marcuse - para tecer algumas considerações que se referem, principalmente, a situação atual do problema da desigualdade social e examinar e seu deslocamento para o âmbito das relações entre tecnologia e política. Com a forma e o poder adquiridos pela tecnologia atual as coisas se complicam: o espetáculo da civilização está entregue à forças transformadoras da razão, que tendem a preponderar sobre qualquer forma de controle. Se o multifacetado espectro das condições que constituem o mundo social tende a comprometer todo projeto de concretização prática de mudança ou reforma que vise superar e resolver definitivamente o problema da desigualdade, sobretudo nos países emergentes - particularmente no Brasil – quais as categorias político-filosóficas poderiam servir para pensar alternativas ou, ao menos, explicitar o que está na raiz da manutenção desse estado de coisas?

Desobediência civil como luta por reconhecimento: um contraponto às concepções liberaisJohnatan Razen Ferreira Guimarães [Mestrando em Direito, Direito, Estado e Constituição UnB] Thiago Ferrare Pinto [Graduando em Filosofia, UNB e bacharel em Direito, UniCEUB]

Concebida nos moldes da teoria política liberal, a desobediência civil justifica-se enquanto reafirmação dos pressupostos da legitimação do poder político: a atuação do Estado teria como fonte de validade o respeito aos direitos fundamentais, de modo que a violação de tais prerrogativas justificaria o descumprimento de medidas oficiais. O ponto a ser aqui asseverado diz respeito ao fato de que essa concepção de desobediência extrai seu fundamento da ideia segundo a qual o sujeito mantém com a ordenação jurídico-política um vínculo puramente externo. A mudança qualitativa na percepção de tal vínculo pode ser alcançada com base no conceito hegeliano de reconhecimento (Anerkennung). Isso porque tal conceito implica a centralidade da luta como requisito fundamental para a plena constituição do sujeito; em outras palavras, a individuação só se faz possível pela mediação de instâncias universais, segundo Hegel, a família, a sociedade civil e o Estado. Assim compreendida, a relação indivíduo/poder político deixa de ser algo a respeito de que o primeiro possa dispor sem prejuízo, de modo que a desobediência ao direito, ao invés de negação absoluta, adquire a forma de uma reafirmação critica da ordem vigente no sentido de expansão dos padrões de reconhecimento nela institucionalizados. Nos marcos desse modelo, torna-se possível pensar novas articulações em torno das pautas dos movimentos sociais emancipatórios, notadamente em face da necessidade de apreender a transformação social como um processo imanente, ou seja, um processo de ressignificação das normas universais que é engendrado sob o pano de fundo de um mundo da vida que oferece o sentido geral dos padrões de justiça a serem buscados no campo da luta política.

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os Platão: sobre as leis mal escritas

José Wilson

O pensamento de Platão em geral é objeto de múltiplas controvérsias. O grande filósofo ateniense causa, ao longo da história do pensamento racional, influência marcante nas ideias de todos os grandes pensadores posteriores: seja positiva, no sentido de elogiar ou herdar de alguma forma teses platônicas; seja negativa, no sentido de críticas profundas a sua filosofia. No campo dessas controvérsias, o espaço de maior expressão das querelas envolvendo Platão sem dúvida é a da política. A proposta política platônica suscitou, no século XX, o estabelecimento de um parentesco estrutural da sua constituição da cidade ideal com os partidos soviéticos e os regimes fascistas – um parentesco que passou a ser universalmente aceito por muitos estudiosos. Dado isso, pensar a ideia de engajamento e o pensamento político platônico parece ser uma leitura e conciliamento impossíveis de serem realizados. Não se trata de apresentar uma defesa de Platão contra estes leitores. Meu objetivo é apresentar algumas considerações platônicas sobre as leis mal formuladas. A questão platônica que pretendo formular é: devemos seguir cegamente todas as leis?

Las democracias totalitarias y el fracaso de la modernidadJuan Pablo Orellana de la Rosa [Tesista en Filosofía, Universidad de Concepción, Chile, adscrito al Grupo de Estudios sobre Filosofía Política y Violência]

Es innegable que una de las mayores preocupaciones de la Escuela de Frankfurt corresponde a un ajuste de cuentas con el proyecto emancipatorio que significaba la Ilustración. Es decir, revisar cuando – y debido a qué sucesos históricos – la humanidad ha dejado de progresar gradualmente para terminar hundiéndose en nuevas formas de barbarie. Recogeremos este análisis a partir de Herbert Marcuse; pues, frente a la tesis marxista que interpreta al proletariado como el Sujeto histórico, capaz de acabar con las estructuras de clase mediante un proceso revolucionario,nuestro autor, analizando la Sociedad Industrial Avanzada, afirmaría que en este tipo de sociedades, el antagonismo proletario –producto del modo de producción capitalista– se ha visto mermado por el creciente perfeccionamiento de la ciencia y la técnica. Bajo este paradigma entonces, el proletariado ha perdido el carácter histórico como agente revolucionario (en cuanto antítesis del progreso social) porque el capitalismo ha logrado integrarlo; si el fundamento de la antítesis que se hacía cuerpo en el trabajador era la violencia, hoy ya no lo es, piensa el filósofo frankfurtiano, puesto que la dominación se da ahora por medio de la creciente productividad de bienes y servicios, y, por la promesa de un nivel de vida cada vez más alto. De esta manera, la sociedad contemporánea lleva en su estructura la irracionalidad ya que se sustenta por el constante manejo de las necesidades, la permanente amenaza de debacles producto de guerras intestinas, y, porque a pesar del enorme poder productivo, la miseria se sienta en las mesas de gran parte de la población mundial todavía. Así, según el discípulo de Heidegger, estas “Democracias Totalitarias” no podrían tener otro sello que la irracionalidad, en cuanto han logrado reorientar el modo productivo, determinando no solamente ocupaciones, aptitudes y actitudes socialmente necesarias, sino también las necesidades y aspiraciones individuales, borrando de este modo la diferencia entre existencia privada y pública, entre las necesidades sociales e individuales.Desde esta síntesis que nos propone Marcuse, llevaremos adelante la reflexión que hoy nos debe pertenecer y convocar más que nunca, incluso más que a él mismo, ya que este tipo de sociedades, paridas por la razón, pero que van engendrando locura, en su época, correspondían recién a una nueva tendencia que se dejaba entrever y que por lo mismo no se podía traducir aún por entero a la realidad.

[Professor de Filosofia, UnB]

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Governo, propriedade e resistência em LockeLeandro da Silva Bertoncello Caxias do Sul]

O pensamento moderno destaca a razão individual como meio para o desenvolvimento da humanidade. Politicamente, a ênfase recai sobre o indivíduo, que passa a ser o fim para o qual a sociedade é estruturada. O interesse do indivíduo encontra na coletividade os meios de sua defesa, e o Estado passa a ter como papel a proteção do indivíduo e dos seus direitos fundamentais. John Locke insere-se entre os principais pensadores da modernidade. Conhecido como o pai do liberalismo político, Locke defendia que os interesses do indivíduo estavam acima dos da sociedade, e que cumpria ao Estado o papel de protegê-los. O principal dos interesses individuais era, para ele, a propriedade privada, meio pelo qual o sujeito garantia a sua cidadania.Com vistas à preservação da propriedade, os homens se reuniram num pacto social. O que fez os homens celebrarem o pacto social foi o inconveniente da possibilidade de violação da propriedade. Ocorre, porém, que nesse momento histórico, provavelmente nem todos os homens eram proprietários, dado o avançado estágio de acumulação. Locke não esclarece se os não-proprietários participaram do pacto social, e caso positivo quais foram os termos de seu pacto. A comunicação analisa a doutrina de John Locke no que tange à relevância dos direitos humanos fundamentais, e sua preferência pela propriedade; considera a formação da sociedade civil por meio do pacto social, em que os indivíduos se reúnem para buscar a proteção de suas propriedades; questiona a teoria liberal de Locke, demonstrando que nem todos são possuidores de propriedade e ainda assim merecem ter seus direitos respeitados; trata, por fim do direito de resistência, que surge quando o Estado não cumpre com seu dever de guardião da propriedade.

O fenômeno da liberdade como ação política em Hannah ArendtLuan W. Strieder [Graduando em Filosofia, UnB, bolsista PIBIC-CNPQ]

Como tema filosófico, a liberdade se instituiu historicamente como uma grande preocupação, tendo sido objeto de inúmeras reflexões por parte dos pensadores canônicos da filosofia ocidental. A forma dada a ela, bem como o âmbito metafísico no qual que é tratada frequentemente, entretanto, é passível de críticas. Segundo Hannah Arendt, a liberdade não teria sido um dos grandes temas da filosofia antiga, abrangendo dos pré-socráticos a Plotino. Teria, deste modo, somente aparecido em meio ao pensamento cristão, na experiência da conversão de Paulo, sendo problematizada filosoficamente pela primeira vez com Agostinho. Esta noção de liberdade surgida no medievo – e que mantém suas bases até pensadores contemporâneos – é, na maioria das vezes, pensada num âmbito metafísico e diretamente conectada ao livre-arbítrio, este afixado ao âmbito da recôndita interioridade humana e geralmente associado à vontade e à razão. É justamente neste sentido que Arendt direciona sua crítica: posicionar a liberdade como fenômeno exclusivamente dependente da mente humana é afastá-la do único domínio onde esta pode verdadeiramente aparecer, o da ação pública. Isto porque não podemos percebê-la, nem por meio de nossos cinco sentidos, nem por alguma autopercepção interna. Tratar a liberdade como tema metafísico é, portanto, uma transposição que acaba por distorcê-la do sentido que tem em seu campo originário, o da política, pois no âmbito desta, a liberdade tem um papel absolutamente crucial. Não se pode pensar a política sem admitir a liberdade, do contrário esta não teria sentido. Segundo Arendt, a liberdade é a razão pela qual os homens vivem conjuntamente em organizações políticas. Deste modo, a liberdade é a razão de ser da política, e é somente nesta que pode aparecer, por meio da ação, que, mais que pública, deve ser política para ser considerada livre.

[Bacharel em Direito, mestrando em Filosofia, Universidade de

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os Universidade e engajamento – a UnB de Darcy Ribeiro

Lucas Moura Vieira

A comunicação discute a possibilidade de se considerar como engajada a Universidade de Brasília tal como ela foi idealizada por Darcy Ribeiro (1922-1997). Para isso, partimos da exposição das ideias contidas no projeto de criação da Universidade de Brasília tendo como referência as obras Confissões (1997) e UnB – Invenção e Descaminho (1978), ambas de Darcy Ribeiro, buscando demonstrar em quais pontos este projeto se diferencia das universidades brasileiras tradicionais e, sobretudo, quais eram as ambições deste projeto de universidade. Após delimitar algumas ideias contidas nas obras supracitadas, em particular a de que a UnB teria como principais finalidades a “lealdade aos padrões internacionais do saber” e o foco em “pensar os problemas brasileiros”, coloca-se a pergunta: é possível afirmar que esta universidade, planejada para pensar os problemas nacionais, é engajada?

O espírito libertino e a crítica nos devaneiosLucas Rocha Bertolo [Graduando em Filosofia, Unifesp]

Investigamos a formação e o desenvolvimento da crítica presente na prosa poética d'Os devaneios do caminhante solitário, de Jean-Jacques Rousseau. Em primeiro lugar, analisamos o percurso de formação da prosa poética do devaneio que, sob a regência do discurso libertino, reflete sobre a política, as crenças e as tradições que compõem o tecido social. Tal reflexão, por sua vez, ao lançar-se ante tal tessitura, produz seu distanciamento e, ao mesmo tempo, sua crítica. Em suma, pode-se dizer que a crítica da sociedade presente na prosa dos devaneios se dá neste encontro com a negação dos princípios de pensamento do espírito libertino: a razão, a liberdade, a natureza e a autonomia. Prestes a realizar o seu acabamento, tal espírito se desenvolve, no organismo que constitui a obra do filósofo genebrino, sob a forma de uma crítica da não-liberdade na sociedade no interior de um gênero literário que se põe, de saída, como autônomo. De um lado, o sujeito moderno, ante a imagem da escravidão, enxerga-se diante da emergência da reflexão dos dispositivos sociais e políticos; do outro, o espírito libertino conduz o sujeito para uma reflexão acerca do estado de pura natureza e de sua condição originária de liberdade. Esboça-se, com tal quadro, o pensamento dos limites e dos alcances de tal crítica, e se, no interior de um gênero autônomo e autorreflexivo como o devaneio, o desenvolvimento da crítica da sociedade e da política não se revela como a alteridade do discurso libertino do Século das Luzes.

Às margens da economia política em Michael FoucaultLuciano Sousa Lira [Graduando em Filosofia, UnB]

Tendo-se por base os cursos ministrados por Foucault no Collège de France, em especial Segurança, Território e População (abril de 1978) e O Nascimento da Biopolítica (1978-1979), a comunicação analisa o que seja economia política para o filósofo francês, destacando o surgimento do chamado homo oeconomicus e do sujeito de interesse e a distinção desses em relação à ideia de um homo juridicus e de um sujeito de direito. O objetivo da comunicação é aproximar as relações intrínsecas entre política, economia e direito, refletidas através da leitura de A riqueza das nações (1976), de Adam Smith, e a forma como Foucault aponta o liberalismo como um empreendimento contra a racionalidade política que toma a forma de uma filosofia política.

[Graduando em Filosofia, UnB]

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Engajamento político enquanto ação universal em SartreLuis Henrique da Cruz Sousa

A comunicação toma como ponto de partida o texto O Existencialismo é um Humanismo, de Sartre, a fim de pensar o engajamento político segundo uma visada existencialista, e trabalhar uma concepção política que preserve, antes de qualquer coisa, a subjetividade. É importante entender que essa subjetividade, sobretudo na política, não é um fim em si mesma, mas um meio para um fim, que garante (por meio do agir individual) que uma ação individual possa se tornar universal, para todo o gênero humano. Quando trata da questão do fim, Sartre tem o cuidado de especificar que o homem é livre para fazer qualquer coisa – e a princípio não podemos julgá-lo por isso – com base na sua vontade, mas em alguns casos é possível sim colocar-se contra uma posição quando essa atinge os limites da individualidade de outros homens, gerando um problema que o autor denomina como 'má fé'. Nesse sentido, a comunicação expõe uma série de problemas atuais que podem ser pensados e, em certa medida, solucionados valendo-nos de Sartre, na medida em que defendemos ser importante não apenas que a Filosofia trate da ideia do engajamento político, como também que suas correntes filosóficas, ao invés de se satisfazer em teorizar sobre problemas políticos, também se volte à esfera da ação a procurar uma solução para o mesmo problema.

Urbe ordenada versus caos: Reflexões sobre a exposição Realidad Ciudad Brasil-CubaMarcelo Mari (UnB)

Acabou de acontecer no Rio de Janeiro, mais precisamente no Espaço Furnas Cultural, que fica no bairro de Botafogo, a exposição Realidad Ciudad Brasil-Cuba, novembro de 2012. Exposição coletiva realizada a partir de parceria curatorial entre a cubana Dayalís González Perdomo e o brasileiro Enock Sacramento. Essa exposição foi consequência quase que direta da investigação sobre o tema das cidades contemporâneas, seus destinos e desafios no século XXI, iniciada por Enock Sacramento em sua curadoria prévia na exposição Sete Vezes Cidade, realizada no espaço cultural da Caixa Econômica Federal, conhecido por Galeria Vitrine da Paulista, em comemoração ao aniversário da Cidade de São Paulo, de 19 de janeiro a 04 de março de 2012. Tanto a exposição Sete Vezes Cidade como Realidad Ciudad trazem a abordagem de temas candentes: a solidão nas metrópoles, a cidade insone e a cidade sonora, as multidões anônimas e os elementos insólitos urbanos.A novidade da exposição Realidad Ciudad Brasil-Cuba, além da participação de artistas cubanos, foi justamente a diversificação do meio expressivo – frente à predominância quase absoluta da pintura e da gravura - trazido pela dupla Célia Irina e Yunior Aguiar, com três vídeos: Dienteperro, Sin Título e Bojeo. No vídeo Sin Título, os artistas Celia-Yunior comentam a situação legal de cidadãos cubanos, que depois de saírem do País, regressam e passam a não existir mais legalmente, são invisibilizados pelo governo cubano; pode-se dizer que a força artística da exposição está nesse vídeo de 2006, que apresenta a narrativa através de legendas, sem imagem e sem som. Do ponto de vista social, as contradições no capitalismo são abissais e violentas em países, como o Brasil, muito embora hoje a realidade se revista de uma aparência soft e mui enganosamente agradável. Os artistas brasileiros, da exposição Realidad Ciudad, são: Fernando Ekman, G. Fogaça, Laura Michelino e ZèCésar, todos pintores e/ou gravadores. As obras de Laura Michelino e de Zècésar têm destaque e conversam entre si. Os trabalhos de Michelino, que são feitos na técnica denominada pela própria artista de aquagravura, têm como tema as megacidades contemporâneas (São Paulo, Paris, Nova York) e seu geometrismo incongruente parece muita vez forçado. A artista trabalha em suas gravuras com elementos repetitivos e seriados da geometria inscrita na arquitetura urbana e tenta mostrar suas

[Graduando em Filosofia, UnB]

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os incongruências na totalidade da observação do espaço figurado. A impressão que se tem com os

trabalhos de Laura Michelino é de que ela tenta compreender pelo desenho e pela incisão os elementos de ordem e de desordem inerentes às cidades e à infraestrutura urbana racionalizada delas. Michelino com seu olhar ordenador tenta encontrar a geometria possível das grandes metrópoles do mundo na tentativa de apreendê-las visualmente pela razão no espaço em que o caos cega. Laura Michelino e Zècesar não têm apenas em comum o fato de serem considerados gravuristas acima de tudo, eles também partilham – com as obras presentes – de um senso construtivo de ordenação espacial que serve de baliza para sua definição negativa na proliferação geométrica recalcitrante. O ritmo de seu geometrismo obedece à lei do impulso excesso ou da procura pela ordem que se reverte no seu contrário. É justamente como se o excesso de ordem produzisse seu contrário. Trata-se da proliferação de uma geometria teimosa, que não obedece a regras racionais de ordenação espacial. José César Teatini de Souza Clímaco reside em Goiânia e talvez venha daí, da luz local, a vivacidade e a beleza harmoniosa das cores nessas obras, que são tecnicamente definidas como resultado de pinturas e incisões sobre papelão. Há alguma coisa de precário nesses trabalhos. De fato, o uso comedido ou a ausência da cor na gravura foram postos à parte e a cor predominou em sua exuberância, em tons alegres e abertos. Realidad Ciudad é uma tentativa de investigar e mapear os olhares nela reunidos sobre a cidade, o fenômeno das territorialidades urbanas e sobre tudo cidades contemporâneas. Tarefa nada fácil, reunir tantos olhares sobre o foco da cidade, pois os trabalhos ali reunidos são a prova mais convincente possível de que as percepções, técnicas utilizadas e linguagens decantadas por cada um dos artistas ali inscritos não tem as mesmas predileções artísticas e nem ainda conseguem partilhar a mesma experiência de cidade. Essa fragmentariedade atual da experiência social e artística nos leva a pensar nas cidades contemporâneas como resultado do dinamismo entre a precariedade do vivido e a orientação da lógica mercadológica no mundo neoliberal, que no controle, atomiza os indivíduos.

Cristianismo ou cultura clássica? Resolvendo um falso problemaMarcio Gimenes de Paula [Professor de Filosofia, UnB]

A relação da cultura com o Cristianismo – e deste com a cultura – nunca foi algo nem simples e nem de fácil abordagem. Aliás, o próprio Cristianismo, desde os seus primórdios, também constrói uma cultura e, nesse sentido, a delimitação precisa a ser feita aqui é exatamente acerca da relação do Cristianismo com a cultura clássica do final da Antiguidade, época em que o Cristianismo se estabelece e forma as suas raízes, projetando-se tal como o conhecemos ainda hoje. Para tanto, a comunicação aborda dois polos dessa relação da cultura clássica para com o Cristianismo. O primeiro deles demonstra claramente a rejeição do Cristianismo pela cultura clássica, como se pode observar nas críticas dos filósofos pagãos Celso e Porfírio. Tais críticas, embora tenham chegado profundamente fragmentadas até os dias atuais, e talvez tenham sido mais conhecidas pelos seus combatentes do que por si mesmas, espelham uma concepção profundamente vigorosa do Cristianismo e, inclusive, podem ser percebidas nas abordagens de importantes autores do século XIX, como Feuerbach e Niezsche, por exemplo. Na outra ponta do debate entre a cultura clássica e o Cristianismo podemos observar o outro lado da questão, isto é, a rejeição da cultura clássica pelo Cristianismo, ou, ao menos, por uma de suas facções mais radicais. A biografia da pensadora Hipátia de Alexandria é exemplar para compreendermos tal contexto. A célebre filósofa, astrônoma e matemática, viveu exatamente num período de afirmação dos ideais do Cristianismo, no qual o paganismo – e boa parte da cultura clássica – parece enfrentar sérias dificuldades, perseguições e até mesmo a morte por intolerância, assim como ocorre com a filósofa. Tal debate, a rigor, estende-se fortemente até os dias de Agostinho e, segundo nossa compreensão, terá importância decisiva, chegando a ser melhor explicitado nas tese de Jaeger sobre a união insolúvel entre Cristianismo e helenismo, já no século XX. Em suma, a comunicação

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aborda a recusa do Cristianismo pela cultura clássica e a recusa da cultura clássica pelo Cristianismo, bem como articula, tal como parece demonstrar Jaeger, uma explicação onde não há mais separação entre ambos, como pretende propagar uma concepção radicalmente iluminista. Com efeito, trata-se de um projeto que almeja compreender as duas espécies de radicalismos, avançando para além deles.

Sobre o abismo entre filosofia e política em Hannah ArendtMaria das Graças de Souza [Professora de Filosofia, FFLCH-USP]

A conferência examina o tema da hostilidade entre a filosofia e a política em Hannah Arendt. Esta hostilidade encontra sua justificação, no pensamento da autora, num quadro no qual tem primazia uma certa noção do que é a filosofia e a atividade do filósofo, ou, mais precisamente, num quadro no qual a filosofia e sua história são consideradas no interior da matriz platônica. Os resultados desta escolha incidirão, de modo decisivo, na interpretação arendtiana da filosofia política moderna.

A “Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio” (1948) sob a visão de Hannah ArendtMariana Garcia de Souza [Graduanda em Relações Internacionais, UnB]

A comunicação analisa a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, e toma por fio condutor as análises de Hannah Arendt sobre os Direitos Humanos em Origens do Totalitarismo. Primeiramente, há a contextualização do cenário humanitário no período da elaboração da Convenção (1948), a fim de entender o motivo de sua criação. Em seguida, analisamos a Convenção e o que ela busca conter, com especial atenção às cláusulas que procuram manter ou estabelecer os direitos humanos. Passo seguinte, propomos uma leitura arendtiana de tais cláusulas, valendo-nos das observações da autora ao estado da questão no começo do século XX. Segundo Arendt, “a própria expressão 'direitos humanos' tornou-se para todos os interessados – vítimas, opressores e expectadores – uma prova do idealismo fútil ou de tonta e leviana hipocrisia” (p. 302). Por fim, após a reconstituição dos argumentos da autora, a comunicação se encerra avaliando em que medida a Convenção que trata do genocídio consegue lidar ou não com as questões problematizadas pela autora.

Bodei e o reencontro dos “eus”Miguel Ivân [Mestrando em Filosofia, UnB]

A comunicação analisa o primeiro capítulo da obra de Remo Bodei A Filosofia do século XX, aberta com o tópico “As filosofias do ímpeto” e subtópico “O tempo reencontrado” exatamente a partir da narrativa comparativa de Marcel Proust No Caminho do Swann e a falta de consciência de si, estágio crítico na qual se encontra a razão. Assim, como na narrativa proustiana do sujeito que acorda na “imobilidade das coisas” e “imobilidade de nosso pensamento perante elas” (PROUST, 1982, p. 9), “a razão, entregando-se ao sono, cancela todos os confins de tempo e de espaço. Não resta, ao despertar, mais que um elementar e indeterminado 'sentimento da existência, tal como pode fremir no fundo de um animal'” (BODEI, 2000, p. 11). O “sono” é o limite da percepção – e racionalização – da qual os humanos são solapados por si, impossibilitando a “revisão” da trajetória limite de cada época que, necessariamente, aguarda a sua superação dialética. Não há síntese sem superação. Não haverá “nova filosofia” sem reorganizar o traço racional ora

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os moribundo. Remo Bodei situa a filosofia no século XX na perspectiva da “saturação” oriunda do

“sono” em cujo caleidoscópio a razão adormece. Urge, portanto, proceder à crítica da racionalidade através do retorno à consciência de si, “mas para assumir a consciência de si é necessário recompor a ordem das coisas” e “cada coisa tem um helo de alteridade, movendo-se no seu estado fluido, é atravessada pela corrente do tempo” (BODEI, 2000, p. 11; 12). Uma vez “despertada” a consciência, o pensamento “solidifica”. Eis uma questão a ser investigada no pensamento de Remo Bodei: se o pensamento se solidifica na corrente do tempo, se o tempo é o espaço da dialética, restam quais operações cognitivas para superar o “sono”, o “tempo”? Quais as bases filosóficas para reencontrar o tempo? “Despertar” torna-se o momento da filosofia no século XX, pois – paradoxalmente – toda a taxonomia (de nomear a classificar) suprira a “alteridade interna, toda pluralidade de contorno, toda referência a nós” (BODEI, 2000, p. 12), gerando a aporia na linguagem porque se nominar é uma das formas de “conhecer” – portanto, de filosofar –, também esvaziamos em excesso os significados do “outro” e de “nós”, já que a taxonomia sobre o real expeliu a capacidade do “retorno a si”, pré-classificando-o. Bodei defende a possibilidade do “autêntico” e da “posse de si e das coisas”, desde que façamos o experimento (em solidão e silêncio) de “reproduzir duração pura, desfazendo as resistentes concreções do presente, intuindo para além do pensamento imobilizante e da linguagem classificatória, longe da multidão e da acossante vulgarização dos tempos” (BODEI, 2000, p. 12) embotantes do pensamento, da reflexão ameaçada ao desaparecimento. Cruzando a solidão, eis que o indivíduo pode sair do embotamento, não sob a força de uma espécie qualquer de “metamorfose”, mas superando os múltiplos “eus de reposição” (idem, p. 13) capazes de reformular “nossas paixões e nosso pensamento” sucumbidos e solapados pela pseudoconcretude da personalidade vigente. Trata-se, portanto, de superar (dialeticamente) os diversos “eus” construtores de couraças racionais cujo efeito final fora antagônico com a consciência filosófica formadora de nós mesmos: Cada um [eu] deles foi, no seu devido tempo, sepultado por um choque poderoso, provocando seu abandono, obrigando-nos a uma reinvenção de nós mesmos. O destino nos fornece, de resto, tantos “eus de reposição” com os quais podemos reformular nossas paixões e nosso pensamento. Nos seus confrontos, uma vez deixados para trás, experimentamos, no final, somente uma “ternura de segunda mão” (BODEI, 2000, p. 13). Remo Bodei suscita, enquanto possibilidade, a capacidade dialógica entre o “eu do presente” e o “eu do passado”, conservados das modificações psíquicas sucessivas, reencontrarem-se, provocando um “arco voltaico” (idem, ibid), unindo emoção e sentimento superando o “anacronismo que tão frequentemente impede o calendário dos fatos de coincidir com o dos sentimentos” (PROUST). Eis o que Remo Bodei (2000, p. 14) nomina “aroma de eternidade”. É no sublime encontro dos “eus”, sobreviventes do tempo, que reside o enigma da felicidade. É a superação da routine que nos proporciona “escapar da inexpressiva uniformidade de uma inteligência que nos esvazia de emoções e de matizes, empurrando-nos para uma routine esquecida do possível resgate do tempo” (Idem, p. 15). Pela lente de Henri Bergson, Bodei destaca que os significados atribuídos às coisas são “esquemas de uma influência exercitável sobre elas, os programas de possíveis manipulações” (idem, ibid) oriundas de séculos de civilizações alimentadas pela “inexorável pressão das necessidades práticas” (idem, ibid).

Ação, perdão e promessa – redenção e responsabilidade pessoalNádia Junqueira Ribeiro [Mestranda em Filosofia, UFG, bolsista Fapeg]

A ação, segundo Hannah Arendt, mais do que uma atividade natural dos homens – uma vez que se vincula à natalidade – exige certa coragem para que possa ser exercida. Essa coragem é necessária para que o homem possa assumir o caráter processual da ação, isto é, admitir sua incapacidade de desfazer o que foi feito ou de prever as consequências de suas ações. Esses riscos, isto é, a imprevisibilidade e a irreversibilidade, acabaram por afastar os homens do domínio dos assuntos humanos na era moderna, desprezando sua liberdade e se colocando como vítima diante da ação empreendida por suas próprias mãos. A ação é, assim, o que permite que os homens sejam livres,

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mas, ao mesmo tempo, o que inibe essa liberdade a partir dos processos desencadeados a partir das relações humanas. No entanto, em A condição humana, a autora indica que as redenções da irreversibilidade e a imprevisibilidade da ação são, respectivamente, o perdão e a promessa. A primeira faculdade serve para desfazer os atos do passado e abrir possibilidades para novos inícios. Já a segunda obriga os homens a fazerem promessas, servindo como ilhas de segurança em meio a um oceano de incertezas que é o futuro. O perdão, de acordo com Arendt, nos libera para que possamos continuar a agir no futuro; nos liberta dos limites impostos a uma única ação. Sem ele, os homens estariam presos às correntes das consequências de uma ação. O perdão, desta forma, abre espaço para o novo. A comunicação desenvolve a importância política da ação para Hannah Arendt e como a autora pensa o perdão e a promessa como ferramentas para redimir a irreversibilidade e imprevisibilidade da ação. Apresenta, ainda, o perdão e a promessa como elementos para construção da responsabilidade pessoal.

Pensamento e vida: trabalho como criação e narrativa de resistência em Lúcio CardosoNélio Borges Peres [Mestre em História, Unesp, professor de Teoria da História, UEG/UnU-Porangatu]

A comunicação apresenta pesquisa em andamento sobre a noção de trabalho em Lúcio Cardoso, e parte do problema contemporâneo de se considerar o trabalho como fator de identificação cujo valor da formação do indivíduo se concentra na aprendizagem de especialidades técnicas para a produção de riquezas materiais. Tal concepção advém tanto da tradição judaico-cristã quanto da Revolução Industrial, que concebe o trabalho como fim e o dinheiro obtido pelo labor como meio de vida. O ponto de partida encontra suas fontes de pesquisa nos Diários do romancista, escritos e publicados entre 1942 e 1962, e agora editados na íntegra por Ésio Macedo e publicados pela Civilização Brasileira, em 2012. A formação, que significa o conjunto de competências para interpretação do mundo e de si próprio, articula o máximo de orientação do agir com o máximo de autoconhecimento para a autorealização ou reforço de uma identidade. Tais competências relacionam-se simultaneamente ao saber, à práxis e à subjetividade. Formação é uma categoria didática que articula competências cognitivas (intuição e razão) e potências da vida prática (desejo e vontade). No contexto de uma história da literatura brasileira, quando o desejo do indivíduo encontra a “razão de Estado”, a vontade ou o poder são convocados a depor sobre a necessidade da disciplina e do controle social. No caso do trabalho de criação artística, a racionalidade científica é questionada ao longo da formação do pensamento de Lúcio Cardoso. Impelido a resistir ao policiamento ideológico do seu tempo tanto na escolha dos seus temas quanto no processo de composição da escrita de seus romances, o criador da Crônica da Casa Assassinada subverte seu pensamento a fim de lidar com o trabalho como ato de criação livre da racionalização produtiva.

O papel da polícia no Estado: violência e poderem Hannah ArendtOsny Zaniboni Neto [Graduando em Relações Internacionais, UnB]

Tendo-se como ponto de partida o texto de Hannah Arendt Da violência, a comunicação trata do papel da polícia no Estado, tendo-se como horizonte a temática posta por esse Congresso, Filosofia, Política e Engajamento. Dessa forma, à luz dos conceitos de violência e poder, polos da ação política na concepção arendtiana, propomos um balanço referente ao modus operandi policial, numa perspectiva essencialmente atual. Devido a movimentações recentes e recorrentes que põe em cheque a legitimidade da polícia (no Brasil, como em muitos outros casos no mundo), propomos uma reflexão filosófica (bastante necessária, embora escassa) acerca dessa questão.

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os Luzes e democracia: o ateísmo engajado de Michel Onfray

Paulo Jonas de Lima Piva

É sob os escombros e mortes do 11 de setembro, ainda presentes em 2005 quando o seu Tratado de ateologia é lançado, que Michel Onfray declara: “Meu ateísmo se ativa quando a crença privada torna-se assunto público e em nome de uma patologia mental pessoal organiza-se também para os outros o mundo que convém”. Esse engajamento de Onfray no debate ideológico contra o fanatismo religioso e suas consequências práticas se faz pela via e com as armas da tradição racionalista ocidental, mais precisamente, pelo resgate das luzes mais radicais do século XVIII, personificadas no ateísmo. Longe de ser um fundamentalismo ou uma intolerância de outro tipo, o ateísmo engajado de Onfray se faz militante, ocupando sem preconceitos todos os espaços públicos, do acadêmico ao midiático, em nome da liberdade de pensamento, crença, expressão, discordância e, sobretudo, em nome da tolerância. Num momento em que determinados setores da sociedade brasileira se organizam e se articulam cada vez mais por uma “jesuscracia”, discutir religião é vital para quem tem na democracia e na laicidade valores fundamentais. E as reflexões de Onfray sobre o assunto são bastante instigantes e úteis para nós brasileiros.

Entre as manifestações de rua no Brasil e Deleuze: apontamentos para o pensarPedro Gontijo [Professor de Filosofia, UnB]

A comunicação produz um discurso e, consequentemente, um sentido para pensar as manifestações de rua ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013. Tem como influência algumas leituras de Gilles Deleuze que delimitam perspectiva de abordagem sobre os eventos. Pretende-se, sobretudo, fazer um uso de conceitos como rizoma, máquina de guerra, acontecimento e outros presentes no trabalho de Deleuze para uma singular leitura dos fluxos que provocaram e que foram arrastados para o centro das mobilizações vivenciadas.

Maquiavelo y la secularización. El concepto de hombre a partir de las teorías del EstadoPietro Cea Anfossi [Licenciado en Educación mención Filosofía, magíster en Filosofía Moral, Universidad de Concepción, Chile]

Niccolò Machiavelli, a pesar de ser un moderno, es y de seguro, seguirá siendo uno de los principales pensadores políticos de la historia de la filosofía. Creador de la milicia profesional moderna, motivador del servicio militar obligatorio, y conocido por su realismo político, que traspasa la barrera de la ética, la moral y lo teológico.Quizás Maquiavelo es la expresión más clara del animal político de Aristóteles. Es por esto que a su persona se le atribuye un pensamiento frío y calculista que poco y nada tiene que ver con ética o moral, incluso pasando a llevar el sentido común. Sin embargo, no se puede dejar de reconocer, las malas interpretaciones que ha presentado su pensamiento, no considerando su contexto histórico, su coyuntura en el cual se desenvuelve. Lo que hace de este pensador florentino un tipo extremadamente interesante de analizar, sobre todo teniendo en cuenta sus influencias tan fuertemente marcadas en la política posterior a su vida y que hasta el día de hoy marcan un precedente importante. Por esta razón, y sumando a esto la conmemoración de los 500 años de la publicación de su texto más famoso, El Príncipe, es necesario hacer una revisión de al menos algunos conceptos que siguen marcando la política actual y marcaron un quiebre con la política medieval y antigua.

[USJT]

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Mito e violência: “Cara de cavalo” assassinado com 52 tiros em Cabo Frio, 5 de outubro de 1964Priscila Rufinoni [UnB]

Em 1964, o Jornal do Brasil, em meio a anúncios publicitários, noticiava a morte de “Cara de cavalo” e estampava a foto de seu corpo, uma mancha branca em forma de cruz. Tratava-se, segundo a notícia, de um fora da lei, executado por uma organização clandestina de combate ao crime. A mesma imagem reaparece em Bólide caixa 18 (1965-66), objeto artístico criado por Hélio Oiticica para o amigo morto. Os críticos não deixaram de notar o tom de paixão cristã evocado tanto na estrutura cruciforme da caixa que abriga a foto, quanto no tecido que a recobre à maneira de um sudário: uma exposição sacrificial evidente, quase chocante em sua franqueza de artifícios, em sua crueza retórica celebrativa e elegíaca. Em 1966, o regime de exceção ainda não evidenciara a violência que o constituiria – ou a violência mítica de sua origem. Talvez o artista tenha acabado por expor, nessa sacralização romântica do bandido, a inenarrável vivência do que estaria por vir; na imagem originária, o elo entre poder e violência se dá a ver em sua nudez primeira, anterior à consciência critica capaz de acionar uma reformulação narrativa externa e bem pensante. Dessa visada, na poética rude, sem sutilezas, os extremos originários se chocam no turbilhão da vivência de primeira hora: por meio da estrutura formal da própria arte, configura-se uma imagem da história em suas tensões suspensas. A proposta desta apresentação é compreender como a obra de Oiticica pôde explicitar a historicidade da qual emergiu; a partir da análise dessa obra e de sua história imanente, o texto busca também evidenciar, por contraste, as estratégias das novas imagens e alegorias que tentam dar conta de narrar à distância a situação política dos anos 60-70.

Dialética e materialismo: uma controvérsiaRafael Sousa Siqueira [Mestrando em Filosofia, UnB]

Não é de hoje que a dialética como crítica ocupa papel central nas discussões político-filosóficas em torno das patologias do capitalismo tardio. Tal discussão permanece, muitas vezes, na antesala por permanecer marcada por interpretações superficiais da tradição dialética, ainda influenciadas pela ortodoxia estalinista do século XX e pela rejeição do modelo dito “economicista”, “determinista”, “estruturalista”. Segundo a doutrina oficial, Marx, ao romper com a filosofia clássica alemã, convertendo-se ao materialismo, teria sido o fundador de duas novas ciências positivas: o materialismo dialético e o materialismo histórico. A comunicação– deixando de lado a discussão sobre a dialética propriamente dita – lutacontra esse fantasma. Com base em trechos de Marx sobre o modo de exposições da crítica à economia política, em O Capital e nos Grundrisse, criticamos a posição segundo a qual Marx rejeitaria a doutrina hegeliana do conceito por ser esta “idealista”. A insuficiência dessa oposição (materialismo-idealismo) para compreender a origem da dialética moderna é examinada, e propomos outra forma de compreensão da relação Hegel-Marx, marcada pela continuidade crítica. Marx não é dialético por uma opção por essa tradição. Pertence à natureza do objeto investigado por Marx – o sistema da produção burguesa – se constituir de maneira contraditória, sua verdadeira natureza gosta de se esconder. O êxito do projeto de Marx depende, portanto, não de uma negação de Hegel, mas da aposta na força da dialética do conceito em expor as mediações ocultas do conceito contraditório de capital. A superação da leitura criticada é o ponto de partida para a atualização da crítica (sobretudo a de Marx) no século XXI. Pretendemos, por fim, recolocar a questão: no que consiste a dialética materialista?

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os Por que estudar Kant no séc. XXI? Algumas notas sobre a política

kantianaRodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo

A comunicação reflete sobre a atualidade dos escritos políticos kantianos. O ponto de partida e centro das reflexões é alguns pontos contidos n'À paz perpétua, mas a proposta é articular vários textos da razão prática (Resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento?, Teoria e Prática, Como orientar-se no pensamento? e a Ideia Universal), tomando como fio condutor o vínculo entre liberdade, esclarecimento e autonomia. Durante muito tempo, as obras kantianas de direito e política ficaram relegadas a segundo plano (ofuscadas pela grande ênfase dada à epistemologia e à moral e restrita às suas grandes obras canônicas, as três Críticas), restando discutidas mais amplamente apenas entre especialistas. Nas últimas décadas do séc. XX, o cenário mudou e houve uma reapropriação do pensamento político kantiano. A ironia presente em alguns trabalhos, o estilo de escrita mais engajado ou mesmo algumas aparentes contradições valeram-lhe as pechas de obras menores, não críticas ou, no limite, afetadas pela idade avançada. Pretendemos focar especialmente no debate da ideia de Estados em uma comunidade internacional regulando-se uns aos outros com vistas a uma saúde universal e no direito cosmopolítico, tal como exposto n'À paz perpétua, bem como de qual maneira essas questões maiores se articulam com o indivíduo dentro do Estado (vínculo criado por meio dos demais textos políticos), daí seguindo para a reflexão do por que o caráter político kantiano tem sido retomado com força na Filosofia, no Direito e nas Relações Internacionais e qual a contribuição contemporânea que daí se pode extrair.

Das lacunas em Marx à necessidade histórica de uma teoria marxista da transiçãoRodrigo de Souza Dantas [Professor de Filosofia, UnB]

Desde 2008, vivemos a maior crise do capitalismo no pós-guerra, seguida desde 2009 pela maior onda de mobilizações desde a situação revolucionária mundial dos anos 1960-70. Diferentemente das crises e situações revolucionárias que se abriram desde a Revolução Russa, a primeira vaga mundial de mobilizações após a restauração do capitalismo nos países que expropriaram a burguesia ao longo do primeiro século da revolução social não possui até aqui quaisquer ligações, paradigmas ou referências comuns que sirvam de ponto de apoio à construção de uma alternativa estratégica ao domínio imperialista do sistema global do capital. Neste contexto, numa época em que a autorreprodução destrutiva do capital impulsiona a precarização das condições de vida da imensa maioria da população e a devastação das condições naturais da reprodução metabólica do gênero humano, torna-se uma necessidade histórica a retomada do debate estratégico sobre as condições que hoje nos permitiriam recolocar concretamente, no horizonte histórico da humanidade, a necessidade de “revolucionar de cima a baixo as condições da existência” (Marx). Passaram-se 130 anos de história desde que Marx nos legou as bases teóricas que, nas mais variadas condições e sob as mais divergentes interpretações, orientaram o movimento que fez do século XX o mais revolucionário da história até aqui. O objetivo deste minicurso é reexaminar o legado de Marx, as categorias históricas centrais de seu pensamento e sua teoria da transição ao comunismo à luz de uma releitura marxista da história da luta de classes e do desenvolvimento do sistema global do capital ao longo dos 130 anos que hoje nos separam da morte de Marx. O que hierarquiza esta releitura é a necessidade de elaborar uma compreensão estratégica do conjunto dialeticamente determinado de condições objetivas e subjetivas que, no curso do processo global de sua expansão imperialista, permitiram que o capital deslocasse suas contradições, antagonismos e limites estruturais de forma relativamente bem sucedida e, na mesma medida, impediram que o proletariado atuasse como classe revolucionária capaz de levar às últimas

[Mestrando em Filosofia, USP, bolsista Fapesp]

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consequências a necessidade histórica de ir além do capital. O objetivo deste curso não é historiográfico nem se delimita apenas pela necessária atualização teórica (marxista) das categorias históricas centrais do pensamento de Marx: o que nele se põe em jogo é a necessidade de retomar o debate estratégico em torno de uma teoria marxista da transição numa época em que a necessidade de salvaguardar nossas condições comuns de existência nos recoloca o desafio histórico de ir além do capital.

Ensino de filosofia: educação, política e engajamentoRogério Alessandro de Mello Basali [Professor de Filosofia, UnB]

No ensaio “A crise na educação” (1957), presente no livro de Hannah Arendt Entre o passado e o futuro, há elementos que podem ainda contribuir para problematizar a presença da filosofia nas escolas, assim como para evidenciar a importância de pensarmos acerca da formação de professores de filosofia, em termos capazes de ultrapassar os limites meramente pedagógicos. Nesse ensaio, além de apresentar críticas a determinadas orientações hegemônicas no campo da educação, a autora sinaliza para perspectivas que, não somente problematizam tais orientações e suas implicações, mas permitem conectar política e educação a outros registros, ressignificando certos conceitos vinculados às experiências políticas fundamentais. Tomamos como ponto de partida essa referência a Arendt para pensarmos o ensino de filosofia em suas experiências contemporâneas, no horizonte do engajamento e nos distintos segmentos educacionais aos quais se vinculam tais experiências, em busca de referências, tanto para o trabalho docente e formação de professores de filosofia, como também para exercitar novas possibilidades desse engajamento, nas fronteiras entre educação e política, visando experimentar o conceito arendtiano de ação. Para isso, a comunicação prioriza determinado conjunto de experiências recentes relacionadas ao ensino de filosofia e à formação de professores, numa aproximação entre as orientações para ensinar filosofia presentes no Programa de Avaliação Seriada (PAS), da UnB, e uma leitura de perspectivas destacadas no pensamento de Arendt. Sob essas perspectivas, nossa leitura do PAS focaliza aspectos relevantes para ampliar a compreensão da atual presença da filosofia nas escolas, tendo em vista as complexas implicações entre educação, política e engajamento, a fim de pensar o ensino de filosofia como possibilidade efetiva de intervenção filosófica na realidade.

Engajamento nas ciências: o problema da objetividade científicaSamuel José Simon Rodrigues [Professor de Filosofia, UnB]

Para que ocorra algum tipo engajamento deve haver a aceitação de uma comunidade em relação a um enunciado, ou conjunto de enunciados. Nas ciências, essa aceitação estaria subordinada à verdade dos enunciados ou ao fato de “salvarem os fenômenos” (ou de serem adequados empiricamente). No entanto, em que medida essa noção de engajamento se mostra aceitável, se consideramos que as teorias, expressas por esses enunciados, sofrem mudanças importantes em praticamente todos os domínios científicos? Ou seja, como caracterizar os enunciados científicos para que ocorra engajamento, tendo em vista a chamada mudança teórica? Examinando um caso bastante exemplar, os modelos cosmológicos, a partir do período clássico, mostramos que a objetividade surge com um critério fundamental para caracterizar enunciados científicos, particularmente nas ciências físicas. Com base nessa análise, pode-se perguntar em que medida a noção de objetividade é aplicável às ciências humanas. Nesse trabalho, tentaremos responder essa pergunta.

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os Acompanhamento hegeliano da Revolução Francesa: vir-a-ser da

filosofia da história e gênese de novas abstraçõesSílvio Rosa Filho

Os leitores das Lições sobre a filosofia da história se lembram do momento em que Hegel lança um olhar retrospectivo e entusiasta sobre vinte séculos de história. Ao fazê-lo, não vê motivos para contestar as censuras que, então corriqueiras, incidiam sobre o vínculo entre as abstrações da filosofia e as abstrações da Revolução Francesa: é que os incitamentos da primeira, em sua veracidade, colaboraram para que a segunda tivesse lugar. A favor de ambas, de saída, o elogio desse acontecimento histórico-mundial vai muito além da captação da benevolência de seus ouvintes: antes de tudo, trata-se de reverter os reproches da reação numa espécie de solidariedade que permite a filosofia e revolução reunirem-se, ambas, num mesmo campo. Em seguida, porém, tal reversibilidade da censura em elogio parece transformar-se em reversibilidade segunda: a do elogio involuntário em nova censura, desta feita, nem conservadora, nem liberal. Nessas reversibilidades supletivas, a crítica hegeliana das abstrações sem determinação (entenda-se: sonho da filosofia transcendental) e das abstrações sem ideia (prática jacobina da Revolução Francesa) captura a reação conservadora de modo a inseri-la num conjunto de procedimentos específicos, todos eles voltados para atender às exigências de uma “compreensão concreta” (konkretes Begreiffen) da realidade efetiva em seu curso histórico-mundial. Importa, nesta exposição, aprofundar o exame dessa dupla reversão hegeliana da acusação conservadora, visto que ela trará – consigo e para o próprio estatuto do pensamento filosófico – os efeitos de um antídoto. O acompanhamento hegeliano desse acontecimento atesta que, se é preciso haver “continuidade” da revolução, ela não pode se dar pela desconsideração dos momentos essenciais a formação do Estado moderno, nem tampouco mediante a repetição desses momentos ad infinitum. Logo, nem sob o emblema do jacobinismo permanente, o que seria entrincheirar-se na impossibilidade de uma ruptura com a ruptura burguesa, nem por meio de uma reedição do papel que coube historicamente ao despotismo esclarecido, o que seria encastelar-se na instauração da igualdade apenas enquanto forma abstrata.

Cultura política moderna, sujeito do consumo, 'carisma pop'Tales A.M. Ab'Sáber [Professor do Departamento de Filosofia, Unifesp]

Na apresentação de Les temps modernes, em 1945, Sartre definiu as bases de um trabalho literário e conceitual em situação, por meio do qual, afirmando a dimensão de comprometimento necessário, engajamento, estabeleceu parâmetros para o entendimento do papel ativo do intelectual na vida de seu tempo e para o estabelecimento de uma cultura de orientação transformadora. Paralelamente a esta tentativa de convocação social da vida intelectual de modo a sintonizá-la com o movimento global virtualmente revolucionário do pós-guerra, uma outra facção do pensamento crítico europeu– que ia de Walter Benjamin e Theodor Adorno a Guy Debord – observava o desenvolvimento dos mecanismos de desmobilização política das massas trabalhadoras, pelo aprofundamento dos vínculos cognitivos e desejantes com os processos de produção de sentido regulados pela indústria cultural hegemônica, de modo a se orientara totalidade da vida para as práticas cotidianas do mercado liberal. Surgia no centro produtivo do capitalismo mundial a sociedade de massas de consumo. A situação contemporânea, que tenta reanimar a ideia de um sujeito da política portador de alguma razão pública, após o descarrilamento do projeto neoliberal hegemônico desde os anos 1990, coloca problemas tensos entre a natureza prática de uma vida em situação, aberta ao entendimento da política e ao direito à política, e uma vida concebida como realizada na plena satisfação imaginária de um sujeito do e para o consumo. Estas são as linhas de força histórico teóricas com que pretendo discutir a natureza de eficácia política e de dominação de um novo estatuto da imagem do homem público, e

[Professor de Filosofia, Unifesp]

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seu poder, que tem correspondência com o mundo da imagem da mercadoria, e que, estudando o caso da ascensão hegemônica do presidente Lula sobre a cultura brasileira de seu tempo, denominei de o fenômeno do carisma pop.

Do marxismo crítico à crítica do marxismo: Castoriadis e os anos de Socialismo ou BarbárieTatiana Rotolo [Graduada e mestre em Filosofia, doutora em Ciência Política, professora do Instituto Federal de Brasília]

A comunicação refaz o caminho intelectual de Cornelius Castoriadis no interior da tradição marxista desde seus primórdios, em 1946, com a sua chegada à França, até o momento de ruptura, em 1968, com a dissolução do Grupo Socialismo ou Barbárie. Tal caminho tem início com a militância trotskista, passa pela ruptura com as ideias de Trotsky, a fundação do grupo Socialismo ou Barbárie, que tem na crítica da burocracia seu tema principal, e que encontra na tentativa de redefinição do conteúdo do socialismo um de seus pontos altos. É justamente a partir deste período que Castoriadis chega aos impasses da revolução, o que acarreta na revisão brutal da teoria marxista e da teoria da história de Marx. Contudo, o que apontamos neste caminho tumultuado e nas suas críticas é a construção de um autor que, embora revisite aspectos fundamentais do marxismo, continua comprometido com um projeto revolucionário e emancipador.

Do engajamento literário ao engajamento político: desafios a partir do pensamento sartrianoThana Mara de Souza [Professora de Filosofia, UFES]

Partindo da noção de engajamento sartriano, associada intrinsecamente à literatura pela possibilidade de reconhecimento mútuo de liberdade em um mundo marcado pelo conflito das intersubjetividades; tentaremos pensar os elementos necessários a uma “conversão” moral, proposta mas não tratada por Sartre. Assim, partimos do ensaio Que é a literatura? a fim de mostrar como esse engajamento, na década de 40, tinha dois significados: o primeiro, mais amplo, que é o de reconhecer a liberdade do outro e, juntos, se unirem para a criação de uma obra (engajamento presente em todas as artes); o segundo, mais específico, de desvelamento do mundo através da palavra, que, sendo ato, constrange e obriga o outro a não mais fingir que ignora o que se passa. E, se como o próprio Sartre dirá depois em As palavras, não havia mais a ilusão literária; ao menos continuou a esperança de que, por meio da obra de arte, mais facilmente as liberdades se reconheceriam como tais; não eliminando o conflito, mas possibilitando a convivência a partir dele. Mas é necessário dar um passo além e pensar como essa “conversão” para a “autenticidade” seria possível no mundo real (sem passar pelo imaginário). A isso, Sartre apenas dá indícios em Cahiers pour une moral e, livro inacabado e publicado postumamente. No entanto, esses indícios são essenciais porque nos mostram justamente o que não pode ser esquecido nesse processo: nossa historicidade e intersubjetividade. E é a partir desses elementos que faremos a passagem do engajamento literário ao engajamento político.

Atualizando Hegel: representação corporativa e associativismo civilVerrah Chamma [Professora de Filosofia, Ufam]

Em sua obra política definitiva, a Filosofia do Direito, Hegel é radical em sua rejeição ao sufrágio

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os universal como mecanismo que melhor possibilitaria a participação política de indivíduos. Como

alternativa, ele propõe uma participação de corpo ou corporativa (compreendida em seu sentido pós-feudal, e, portanto, não antecipando o sentido que o termo adquiriu na primeira metade do séc. XX). Por esta modalidade de representação, os indivíduos adentrariam a esfera política não de maneira imediata, como particulares, consequência inevitável, para Hegel, do voto de indivíduos em outros indivíduos, tal como fora proposto na primeira Constituição Republicana da França, promulgada em 1793. Eles o fariam, inversamente, como membros de corpos profissionais, ou de “associações cooperativas”. Ora, a pergunta por qual é a melhor forma de representação implica necessariamente o questionamento sobre qual é a melhor mediação entre, de um lado, os indivíduos com seus fins e interesses privados e, de outro, a dimensão política, que se pretende pública porquanto comum e universal. Porque o fim particular das corporações e, evidentemente, também das associações civis, tem um alcance geral, coletivo, elas ocupam uma posição intermediária entre indivíduos considerados abstratamente, apartados de seus vínculos sociais e identidades coletivamente compartilhadas e o Estado como mera exterioridade. A proposta de representação política por meio da representação corporativa, que em sentido amplo e atualizado pode muito bem incluir também as experiências de organização coletiva das associações civis, tem por objetivo conferir não só um envolvimento mais efetivo dos cidadãos em relação à esfera público-política, mas também o reconhecimento de que esta esfera espelha os diferentes arranjos já existentes na sociedade.

Montesquieu e o fenômeno da corrupção políticaVital Francisco C. Alves [Doutorando em Ética e Filosofia Política, UFG ]

Desde a Antiguidade o problema da corrupção política apresenta-se como um fenômeno que assola vários regimes políticos e instiga inúmeras discussões filosóficas. Não obstante, é no regime republicano que ele surge como um fenômeno de extrema relevância e gravidade. Entre os pensadores da modernidade que o analisam sob uma perspectiva republicana, Montesquieu é um dos que mais se destaca pela primorosa análise que realiza acerca das razões pelas quais a corrupção política representa uma ameaça direta e constante à conservação da república. Em suas obras O Espírito das Leis e Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência, o Barão de La Brède, valendo-se da noção de distribuição do poder soberano, preconiza que a república demarca uma esfera de organização política e se destaca pela virtude dos cidadãos. A virtude em uma república pode ser notada, sobretudo, no valor dado à igualdade, à liberdade e à participação ativa dos cidadãos na vida pública. Além disso, ao examinar a república, Montesquieu consequentemente, enfrenta um problema crucial para o regime político republicano e que emana da degeneração dos princípios elencados: a corrupção. Em vista disso, cabe indagar: por que a corrupção representa um problema grave para o regime político republicano? Mesmo em uma república na qual os cidadãos são virtuosos, o advento da corrupção é inevitável? Eis alguns problemas a serem considerados. Assim, a fim de instaurar um debate e promover uma reflexão acerca do tema sugerido, a comunicação tem dois objetivos: em primeiro lugar, examinar o conceito de república e as noções de virtude e liberdade política em Montesquieu e, em segundo, investigar as prováveis causas da corrupção, segundo Montesquieu.

Dramaturgia e militância em Lessing: o papel político do teatro iluministaWalquiria Pereira Batista [Mestranda em Filosofia, UFG, professora da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG]

A comunicação discute a relevância política do teatro em Lessing, tendo-se por fio condutor sua

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coletânea Dramaturgia de Hamburgo. Como educador e político cultural, Lessing reivindica um teatro nacional que participe dos problemas da burguesia a que se liga, recusando-se a ver a literatura como um compartimento estanque. Sua luta pela emancipação dirige-se contra o classicismo francês, e contra o seu expoente alemão Gottsched, por este representar um teatro alheio, símbolo do espírito absolutista que impedia a eclosão das virtualidades nacionais. Sob o prisma iluminista de Lessing,o teatro é visto como um espaço privilegiado de discussões, como um fórum de debates onde a verdade é humanizada pelo discurso. Conselheiro de Hamburgo, o autor preocupa-se com o espectador, como aquele ser que representa o mundo, e concebe o teatro como um espaço mundano que surge entre o artista e os seus companheiros, ou seja, como um mundo comum a eles. Estudando os efeitos da arte trágica segundo Aristóteles, Lessing refuta os aspectos formais dos franceses, em nome da Poética clássica. À imitação mecânica de regras, busca sobrepor a meta da tragédia na catarse que, a seu ver, deve despertar compaixão e medo, não compaixão e terror. A valorização da compaixão como paixão trágica se relaciona à importância atribuída à amizade no sentido de partilhar o mundo com outros homens, ao exercício da vida política. Por sua vez, o temor é a compaixão aplicada a si mesmo, isto é, uma afecção em que se é afetado por si tal como se é afetado pelos outros. O efeito trágico em Lessing supõe a moderação desses dois afetos, permitindo àqueles que passam por essa experiência se situarem de forma mais serena e refletida em relação a si próprios e à sua inserção no mundo, mediante a intensificação da consciência de sua realidade.

Entre o poder e a vida, a colonialidadeWanderson Flor do Nascimento [Professor de Filosofia, UnB]

Uma das mais provocativas perspectivas políticas latino-americanas surgidas nos últimos vinte anos é o conjunto de investigações chamadas de “Estudos sobre a colonialidade”. Partindo da ideia de que a modernidade, quando vista desde a perspectiva da experiência colonial, instala um padrão de poder que se globaliza, estabelecendo uma particular relação com a economia, com a produção de conhecimentos, com a gestão da autoridade coletiva e com um sistema de classificação das populações mundiais, estes estudos trazem uma colaboração para pensar as relações entre poder, conhecimento, trabalho e Estado que problematizam as relações entre o poder e a experiência com a vida. Apresentar uma introdução a esta perspectiva, que tem como alguns de seus expoentes Enrique Dussel, Walter Mignolo e Aníbal Quijano, é a tarefa desta comunicação.

As dimensões políticas da amizadeWillian Bento Barbosa [Mestrando em Filosofia, UFG]

A comunicação, dialogando com Arendt, discute as dimensões políticas da amizade como possíveis reconfigurações ao problema da crise política que se instaura até o presente. A amizade, enquanto condição necessária para a pluralidade e liberdade, estabelece o mundo comum, que é o vínculo entre todos os homens no mundo. Hannah Arendt concorda que a amizade é o laço político fundamental a uma comunidade; ninguém escolhe viver sem amigos, mesmo se possuir todos os outros bens. É através da amizade que se torna possível compreender a verdade inerente à opinião do outro. Nessa compreensão, em que se vê o mundo do ponto de vista de outro, podemos perceber a verdade inerente a cada interpretação ao mundo que aparece para cada um, é o tipo de insight político por excelência. O exercício da liberdade necessita que um mundo político seja constituído, espaço público na companhia de amigos. Um espaço destinado à espontaneidade por meio de palavras e atos. No mundo moderno, além da incapacidade de deslocar-se pelo mundo na compreensão da diferença, um dos reflexos da sujeição nos pretensos Estados de direito e na

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os despolitização das democracias contemporâneas é a liberdade suprimida para interioridade. A

condição de pertencimento ao mundo na companhia de amigos é transposta para o isolamento para si mesmo, possibilitando um desfrute da vida nua, vida dedicada ao consumo e à fruição das necessidades básicas, de uma felicidade supérflua. A ausência da possibilidade para relações francas entre iguais, a amizade, inibe a espontaneidade inerente à liberdade, tornando o homem previsível, normatizado, conformista, facilmente sujeitado à tirania. A amizade é o espaço de realização da política, consequentemente, da liberdade. Resta-nos reivindicar um lugar para a amizade na política, reconstituir sua dignidade e condição de possibilidade; restituir o vínculo entre os cidadãos e reconectar liberdade à ação, liberdade à amizade.

A sociedade do espetáculo: um ensaio filosófico acerca do terrorismo de estado na concepção de Agamben e Hannah ArendtWilliam Costa [Bacharel em Administração de Empresas e Graduando em Relações Internacionais, ESAMC, graduando em Filosofia, UFU]

A comunicação analisa o terrorismo de Estado valendo-se da concepção crítica de Giorgio Agamben e Hannah Arendt. No âmago das discussões, veem-se inúmeras inversões práticas e ideológicas ocorridas desde a instauração dos regimes totalitários (1933-1945) que ainda estão permeadas na sociedade e que apresentam características peculiares de um sistema legitimado pelo Estado de Direito, pela violência e pela dominação. Nesta perspectiva, recorre-se aos conceitos de estado de exceção, vida nua e vita activa apresentados pelos filósofos supracitados, a fim de expor a obscuridade que o terrorismo de Estado provoca sobre os homens e que os colocam em um enredo que substitui as críticas ontológicas às críticas ético-políticas. À vista disto, a comunicação se propõe a investigar se o Estado, cuja função é representar os anseios da sociedade, poderia promover o terror. Neste sentido, inicia-se o percurso dessa investigação com a noção de poder constituinte – forma em que o Estado legitima a ordem vigente com base em um povo abstrato que se submete à violência codificada sob o nome de direito – e, dessa maneira, gera a “cultura do medo” –; passo seguinte, propomos uma análise do poder (des)constituinte – forma em que é contestada a ordem vigente, rompendo com o sistema e protagonizada pelo conjunto concreto de sujeitos vítimas das injustiças propagadas; por fim, tratamos das relações Estado-indivíduo e Estado-sociedade. Todo este caminho exprime a desconfiguração da condição humana e a instauração da violência que, por sua vez, instaura uma sociedade fundada pela banalidade do mal que se deflagra como um espetáculo incessante, corruptível e obscuro. Sob esse horizonte, a comunicação recorre a alguns recortes filosóficos acerca do terrorismo de Estado e suas implicações, que não emergiram apenas recentemente, mas que, por séculos, perduram em sua rota de plena destruição.

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Programa

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Abertura

18h - Leitura dramática de Antígona de Sófocles

Grupo Douta Ignorância & Alunos do curso de Teatro da UnB

19h30 - As lógicas de governo e a dos movimentos sociais: considerações sobre a ação política contemporânea

Edson Teles [Professor Doutor/UNIFESP]

Debatedora: Maria Cecília Pedreira de Almeida [UnB]

21h - Mostra do cineclube Beijoca: Cinema & Engajamento

Curta-metragem O gigante nunca dorme. Dir. Dácia Ibiapina, Documentário (15min), DF, 2013.

Debate com a presença da diretora, Dácia Ibiapina e membros do

MPL – Movimento Passe Livre.

Coordenação: Raquel Imanishi [UnB]

Local: Auditório 2 Candangos - Faculdade de Educação da UnB

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9-12h - Mini-curso: Das lacunas em Marx à necessidade histórica de uma teoria marxista da transição

Rodrigo Dantas [Professor Doutor/UnB]

Local: Sala de Reuniões do Depto. de Filosofia - ICC Norte, subsolo, módulo 24

20h - Conferência: Política, liberdade e participação: considerações à luz de Sobre a revolução, de Hannah Arendt

Adriano Correia [Professor Doutor/UFG]

Debatedor: Gilberto Tedeia [UnB]

Local: Auditório do IH – ICC Norte, Subsolo

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9-12h - Mini-curso: Das lacunas em Marx à necessidade histórica de uma teoria marxista da transição

Rodrigo Dantas [Professor Doutor/UnB]

Local: Sala de Reuniões do Depto. de Filosofia - ICC Norte, subsolo, módulo 24

18h - Lançamento do livro de Vladimir Safatle

O dever e seus impasses, Martins Fontes, 2013.

Local: Auditório do IH - ICC Norte, Subsolo

Encerramento

20h - Conferência: Em torno da oposição arendtiana entre a filosofia e a política

Maria das Graças de Souza [Professora Titular/USP]

Debatedor: Alex Calheiros [UnB]

Local: Auditório do IH - ICC Norte, Subsolo

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Programa

|40| I Jornada de Filosofia Política da UnB

Comunicações

Sessão de Comunicações 1 Coordenador: Alex Calheiros [UnB]

8h30 - Miguel Ivân

Bodei e a ressignificação da política

9h – Luciano Sousa Lira

Às margens da economia política em Michael Foucault

9h30 – Luis Henrique da Cruz Sousa

Engajamento político enquanto ação universal – Jean Paul Sartre

10h – Caio Gomes Macedo

Realismo político em Maquiavel e Espinosa: algumas teses

10h30 –Intervalo

Sessão de Comunicações 2 Coordenadora: Thana Mara de Souza [UFES]

11h – Juan Pablo Orellana de la Rosa

Las democracias totalitarias y el fracaso de la modernidad

11h30 – Marcelo Mari

Urbe ordenada versus caos: Reflexões sobre a exposição Realidad Ciudad Brasil-Cuba

12h – Priscila Rufinoni

Mito e violência: "Cara de cavalo" assassinado com 52 tiros em Cabo Frio, 5 de outubro de 1964

Sessão de Comunicações 3 Coordenadora: Priscila Rufinoni [UnB]

14h – Marcio Gimenes de Paula

Cristianismo ou cultura clássica? Resolvendo um falso problema

14h30 – Adriana Delbó

A comissão da verdade sob o crivo do pensamento de Nietzsche

15h – Paulo Jonas de Lima Piva

Luzes e democracia: o ateísmo engajado de Michel Onfray

15h30 – Intervalo

Sessão de Comunicações 4 Coordenadora: Maria das Graças de Souza [USP]

16h – Walquiria Pereira Batista

Dramaturgia e militância em Lessing: o papel político do teatro iluminista

16h30 – Anderson Gonçalves

Teatro e Revolução

17h – Gilberto Tedeia.

"Poder Soberano"de Hobbes e Rousseau à Revolução Francesa: a entrada em cena de uma ideia subversiva

30/10/2013 [quarta-feira] Auditório do IH - ICC Norte, Subsolo

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aComunicações

30/10/2013 [quarta-feira] Sala B1 685/64

Sala do Mestrado em Filosofia - ICC Norte, Mezanino

Sessão de Comunicações 5 Coordenador: Gilberto Tedeia [UnB]

9h – Lucas Rocha Bertolo

O espírito libertino e a crítica nos devaneios

9h30 – Andrei Álvaro Santos Arruda

O Contrato Social de Rousseau e o engajamento político do indivíduo

10h – William Bento Barbosa

As dimensões políticas da amizade

10h30 –Intervalo

Sessão de Comunicações 6

Coordenador: Alex Calheiros [UnB]

11h – Lucas Moura Vieira

Universidade e engajamento – a UnB de Darcy Ribeiro

11h30 – Nélio Borges Peres

Pensamento e vida: trabalho como criação e narrativa de resistência em Lúcio Cardoso

12h – Wanderson Flor do Nascimento

Entre o poder e a vida, a colonialidade

Sessão de Comunicações 7 Coordenador: Erick Lima [UnB]

14h – Herivelto P. Souza

Do pacifismo à resistência: a "lógica pura dos engajamentos" de Georges Canguilhem

14h30 – Thana Mara de Souza

Do engajamento literário ao engajamento político: desafios a partir do pensamento sartriano

15h – Tales A.M. Ab'Sáber

Cultura política moderna, sujeito do consumo, "carisma pop"

15:h30 – Intervalo

Sessão de Comunicações 8 Coordenador: Márcio Gimenez de Paula [UnB]

16h – Douglas Rogério Anfra

Sob a sombra da bomba: a filosofia política durante a Guerra Fria

16h30 – José Wilson

Platão: sobre as leis mal escritas

17h – Rogério Alessandro de Mello Basali

Ensino de filosofia: educação, política e engajamento

17h30 – Helena Esser dos Reis

Falar e agir: duas dimensões da política

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Programa

Comunicações

Sessão de Comunicações 9 Coordenador: Rogério Basali [UnB]

9h – Osny Zaniboni Neto

O papel da polícia no Estado: violência e poder em Hannah Arendt

9h30 – Mariana Garcia de Souza

A "Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio" (1948) sob a visão de Hannah Arendt

10h – Luan W. Strieder

O fenômeno da liberdade como ação política em Hannah Arendt

10h30 –Intervalo

Sessão de Comunicações 10 Coordenador: Wanderson Flor do Nascimento [UnB]

11h00 – Nádia Junqueira Ribeiro

Ação, perdão e promessa – redenção e responsabilidade pessoal

11h30 – Willian Costa

A sociedade do espetáculo: um ensaio filosófico acerca do terrorismo de estado na concepção de Agamben e Hannah Arendt

12h – Helder Castro

Drama, representação e espetáculo na obra Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho

Sessão de Comunicações 11 Coordenador: Rodrigo Dantas [UnB]

14h – Diego Damasceno

A democracia ateniense em oposição à política moderna a luz da filosofia de Castoriadis

14h30 – Diego dos Santos Reis

Da palavra concreta ao concreto armado: as máscaras do poder e a filosofia

15h – Tatiana Rotolo

Do marxismo crítico à crítica do marxismo: Castoriadis e os anos de Socialismo ou Barbárie

15h30 – Intervalo

Sessão de Comunicações 12 Coordenador: Gilberto Tedeia [UnB]

16h – Rafael Souza Siqueira

Dialética e materialismo: uma controvérsia

16h30 – Pietro Cea Anfossi

Maquiavelo y la secularización. El concepto de hombre a partir de las teorías del Estado

17h00 – Alex Calheiros

O lugar do intelectual em Gramsci

31/10/2013 [quinta-feira] Auditório do IH - ICC Norte, Subsolo

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aComunicações

Sessão de Comunicações 13 Coordenador: José Wilson (UnB)

9h – Johnatan Razen Ferreira Guimarães, Thiago Ferrare Pinto

Desobediência civil como luta por reconhecimento: um contraponto às concepções liberais

9h30 – Arthur Bartholo Gomes

Carl Schmitt e a crítica ao romantismo em direção a um decisionismo político em Politische Romantik

10h – Vital Francisco C. Alves

Montesquieu e o fenômeno da corrupção política

10h30 – Intervalo

Sessão de Comunicações 14 Coordenador: Erick Lima [UnB]

11h – Ana Cláudia Lopes Silveira

Do discurso à conversação moral: Seyla Benhabib e a reformulação interativa da ética do discurso

11h30 – Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo

Por que estudar Kant no séc. XXI? Algumas notas sobre a política kantiana

Sessão de Comunicações 15 Coordenador: Gilberto Tedeia [UnB]

14h – Verrah Chamma

Atualizando Hegel: representação corporativa e associativismo civil

14h30 – Erick Lima

Luta e modernidade política: sobre a herança hobbesiana em Hegel

15h – Sílvio Rosa Filho

Acompanhamento hegeliano da Revolução Francesa: vir-a-ser da filosofia da história e gênese de novas abstrações

15h30 – Intervalo

Sessão de Comunicações 16 Coordenadora: Maria Cecília Pedreira de Almeida [UnB]

16h – Cláudio Reis

Sieyès: a invenção de um discurso como engajamento

16h30 – Jacira Freitas

Reflexões sobre a desigualdade social no Brasil: educação e cultura

17h – Pedro Gontijo

Entre as manifestações de rua no Brasil e Deleuze: apontamentos para o pensar

17h30 – Samuel José Simon Rodrigues

Engajamento nas ciências: o problema da objetividade científica

31/10/2013 [quinta-feira] Sala B1 685/64

Sala do Mestrado em Filosofia - ICC Norte, Mezanino

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